O que é um eco-‐doppler? O eco-‐doppler, ultrassonografia vascular ou triplex-‐scan é um método de imagem que se baseia na emissão e reflecção de de ondas de som (ultra-‐sons). Através deste exame é possível obter imagens em tempo real 2-‐D ou modo B (imagem bi-‐dimensional onde se visualizam os vasos e o seu conteúdo) e doppler pulsado que consiste na análise espectral da velocidade do sangue. Do ponto de vista hemodinâmico é possível estudar as características quantitativas e qualitativas da circulação do sangue, nomeadamente velocidades, débitos, perfis de fluxo e existência de refluxos ou turbulencias patológicas. Em caso de estreitamento no vaso iremos obter um fluxo turbulento. Caso não haja qualquer tipo de obstrução teremos um fluxo laminar. Nos casos de ausência de fluxo poderemos inferir que se trata de uma oclusão do vaso. Através da análise espectral poderemos ainda avaliar a competência vascular. Por exemplo nas varizes dos membros inferiores o problema subjacente é o deficiente encerramento das válvulas a nível das veias do sistema venoso que não coaptam adequadamente, permitindo o refluxo de sangue venoso (fig. 1). Este refluxo pode ser medido através do eco-‐doppler. Temos assim um exame não invasivo, indolor, com relativa facilidade e rapidez de execução, ainda assim de baixo custo, que permite a visualização das artérias e veias bem como detecção das alterações presentes nestes vasos. É a junção da informação hemodinâmica acerca da velocidade e fluxo de sangue no segmento vascular e a informação morfológica que permite fazer um diagnóstico adequado. Tipos de eco-‐doppler De acordo com a região anatómica estudada, poderemos obter eco-‐doppler arterial dos membros inferiores, venoso dos membros inferiores ou carotídeo –vertebral (artérias do pescoço). Em que situações se deve realizar um eco-‐doppler arterial dos membros inferiores. -‐ Todas as situações em que há suspeita de doença arterial periférica. A doença arterial periférica é uma manifestação de aterosclerose a nível dos membros inferiores e os sintomas associados mais frequentes são a presença de claudicação intermitente (dor a nível das pernas desencadeada pela marcha), dor constante nos membros inferiores com arrefecimento dos mesmos e/ ou presença de úlceras nos dedos que não cicatrizam. Este exame permite avaliar a gravidade da doença arterial, ajuda a definir o potencial de cicatrização das úlceras e é indispensável no diagnóstico diferencial dos doentes com sintomas atípicos. -‐ Avaliação da circulação em doentes com factores de risco cárdio-‐vasculares (ex: diabetes, HTA, dislipidemia...) ou outras manifestações de doença cárdio-‐vascular (EAM, aneurismas da aorta abdominal ou doença carotídea). -‐ Doentes submetidos a revascularização arterial dos membros inferiores como forma de obter um controlo não invasivo e preventivo de estenoses de bypass que possam pôr em risco a sobrevida das pontagens. -‐ Doentes com suspeita de lesão iatrogénica pós-‐cateterismo arterial. Os doentes submetidos a intervenção vascular (cardíaca ou outra) podem ter como complicação presença de falso aneurismav(fig. 2). A avaliação e até tratamento desta complicação pode ser realizado de uma forma simples e pouco invasiva atavés deste método imagiológico. Quanto tempo demora a realização de um eco-‐doppler arterial dos membros inferiores? O tempo de duração de um eco-‐doppler arterial dos membros inferiores é variável com a indicação e com os achados detectados a nível do mesmo. Para orientação pode considerar-‐se como valores de referência um intevalo entre 15 a 40 minutos. É necessário alguma preparação especial para realizar um eco-‐doppler arterial dos membros inferiores? Como foi referido, este é um exame não invasivo, indolor e realizado com um aparelho de ecografia. Deste modo não requer preparação específica ou jejum. O doente deve trazer uma roupa confortável, deita-‐se numa marquesa onde deverá retirar calças, sapatos e meias e mede-‐se a pressão arterial a nível de um dos membros superiores e de ambos os membros inferiores. Eco-‐doppler carotídeo-‐vertebral Em que situações se deve efectuar um eco-‐doppler carotídeo-‐vertebral? Este exame permite a avaliação da circulação carotídea extra-‐craneana. Cerca de 80% dos AVC têm como causa falta de irrigação cerebral e em 2/3 dos casos o mecanismo subjacente é a trombose da circulação carotídea (extra e/ou intra-‐craneana). As placas aterocleróticas encontram-‐se frequentemente nas bifurcações carotídeas (vasos do pescoço) e levam a um aperto progressivo com oclusão final do vaso (fig. 3). Alternativamente, a placa pode romper e enviar embolos para o cérebro. O objectivo de investigar os vasos do pescoço é identificar os indivíduos em risco de terem um AVC e consequentemente, serem tratados preventivamente. O eco-‐doppler carotídeo tem elevada sensibilidade e especificidade na detecção de estenoses significativas. Actualmente o estudo ultrassonográfico deve ser o primeiro exame na avaliação do doente com suspeita de doença vascular cerebral. De uma forma sumária, as principais indicações para se realizar um eco-‐doppler carotídeo – vertebral sao: -‐ Doente com história de AVC (acidente vascular cerebral) ou AIT (acidente isquémico transitório). -‐ Presença de sopros cervicais -‐ Controlo pós –revascularização dos vasos carotídeos -‐ Pré-‐cirurgia coronária, arterial dos membros inferiores ou da aorta -‐ Oclusão da carótida interna contra-‐lateral -‐ Manifestações de aterosclerose noutros leitos arteriais ou com factores de risco cárdio-‐ vasculares. Quanto tempo demora a realização de um eco-‐doppler carotídeo-‐vertebral? O tempo de duração de um eco-‐doppler carotídeo-‐vertebral é variável, mas deve considerar-‐se uma duração previsível de 20-‐30 minutos. É necessário alguma preparação especial para efectuar um eco-‐doppler carotídeo-‐vertebral? Como foi referido este é um exame não invasivo, indolor e realizado com um aparelho de ecografia. Deste modo não requer preparação específica ou jejum. O doente deve trazer uma roupa confortável, deita-‐se numa marquesa onde os vasos do pescoço serão avaliados por sonda vascular. Eco-‐doppler venoso dos membros inferiores Em que situações se deve efectuar um eco-‐doppler venoso dos membros inferiores? O objectivo da avaliação venosa por eco-‐doppler é determinar a presença de fluxo vascular a nível das veias, e no caso positivo se existe insuficiência valvular (fig. 4). O eco-‐doppler é presentemente o exame de eleição em caso de suspeita de trombose venosa profunda. A trombose venosa profunda consiste na obstrução parcial ou total de uma veia do sistema venoso profundo sendo este quadro responsável por dor a nível da perna com edema e empastamento da mesma. A avaliação clínica por si só falha o diagnóstico em 50% do casos. É assim essencial a existência de um exame rápido, fácil e não invasivo que auxilie no dignóstico diferencial desta entidade. Este exame é o eco-‐doppler venoso dos membros inferiores que permite avaliar com elevada sensibilidade e especificidade a presença de trombo no interior do vaso, se o trombo é recente ou antigo, a extensão do mesmo e complicações vasculares associadas (refluxo). A outra grande indicação para efectuar um eco-‐doppler venoso é a presença de varizes e/ ous sintomas de insuficiência venosa crónica nos membros inferiores. Os sintomas da doença venosa são muito inespecíficos, pelo que a realização exclusiva de um exame objectivo é insuficiente na obtenção de um diagnóstico adequado. Este exame permite definir o mapeamento venoso, identificar se existem veias atingidas pela doença, qual a localização da doença e assim estabeler o plano de tratamento mais adequado para o doente em causa. Quanto tempo demora a realização de um eco-‐doppler venoso dos membros inferiores? O tempo de duração de um eco-‐doppler venoso dos membros inferiores é variável, mas deve considerar-‐se como intervalo de referência 20 a 30 minutos podendo variar de acordo com a indicação e morfotipo do doente. É necessário alguma preparação especial para realizar um eco-‐doppler venoso dos membros inferiores? Como foi referido este é um exame não invasivo, indolor e realizado com um aparelho de ecografia. Deste modo não requer preparação específica ou jejum. O doente deve trazer uma roupa confortável. O exame é realizado idealmente, com o doente em pé e as veias vão sendo avaliadas em toda a extensão deste a virilha até ao tornozelo e na face posterior da perna. Ocasionalmente é requisitado ao doente que tussa ou é submetido a manobras de compressão muscular a nível dos músculos da perna. O que é a escleroterapia? A escleroterapia ou secagem dos derrames consiste na injecção de uma substância a nível das veias inestéticas (derrames e pequenas varizes) tendo por objectivo que o sangue deixe de passar através destes vasos (fig. 5). Assim estas veias deixam de se ver. Os derrames nas pernas são classificadas de acordo com o diâmetro em aranhas vasculares (telangiectasias) ou varizes reticulares. As telangiectasias são veias superficiais de pequeno calibre (< 1 mm) geralmente visíveis em aglomerado nas faces externas e internas das coxas. As varizes reticulares são veias visíveis azuis, com diâmetros entre 1 e 4 mm (frequentes atrás dos joelhos) que podem “alimentar” as telangiectasias ou surgir isoladamente. Quanto tempo demora a realização a escleroterapia? O tempo de duração é variável, mas deve considerar-‐se uma duração de cerca de 20-‐30 minutos. É necessário alguma preparação especial para realizar escleroterapia? Antes de se iniciar o tratamento o doente deve ter sido avaliado em Consulta de Cirurgia Vascular e deverá realizar um eco-‐doppler venoso para excluir a presença de refluxo superficial ou profundo. Pois em caso de varizes os tratamentos de escleroterapia poderão ser ineficazes sem o tratamento prévio da patologia venosa. O doente deve vir com roupa confortável e trazer consigo meias de contenção elástica para utilizar após o procedimento. As meias deverão ser utilizadas por um período mínimo de 5-‐7 dias. Este tratamento é feito em ambulatório, não requer anestesia e habitualmente é muito bem tolerado. As contra-‐indicações absolutas são: -‐Gravidez e amamentação. -‐ Imobilização prolongada. -‐ Isquemia dos membros inferiores. -‐ Alergia à subtância esclerosante. -‐ Estados de hipercoagulabilidade. Quais os efeitos adversos? Numa pequena percentagem de doentes poderão surgir efeitos adversos associados ao tratamento. Entre estes, os mais frequentes são: hiperpigmentação, flebite, necrose cutânea, “mating” e muito raramente reações alérgicas. A maior parte destes efeitos é reversível, porém os doentes deverão ser alertados para a possibilidade destes ocorrerem e quais os métodos para os minimizarem. Fig. 1: Insuficiência valvular. Fig. 2: Falso aneurisma da artéria radial. Fig. 3: Bifurcação carotídea com placa no bulbo carotídeo. Fig.4: Crossa da veia safena interna. Refluxo valvular. Fig. 5: Escleroterapia de telangiectasias.