FERNANDA
MARIA DE CASTRO PAULA
A FOTOGRAFIA COMO INSTRUMENTO DE RESGATE ETNICO-SOCIAL
COMUNIDADES AFRO-DESCENDENTES
DO FEIXO E DA RESTINGA
MUNICIPIO DA LAPA
Curitiba
2008
NAS
NO
FERNANDA
MARIA DE CASTRO PAULA
A FOTOGRAFIA COMO INSTRUMENTO DE RESGATE ETNICO-SOCIAL
COMUNIDADES AFRO-DESCENDENTES
DO FEIXO E DA RESTINGA
MUNICIPIO DA LAPA
NAS
NO
Monografia apresentada como requisito parcial para
obtenyao do grau de Especialista em Historia e
Cultura Africana e Afrobrasileira, Educayao e Ayoes
Afirmativas no Brasil pela Universidade Tuiuti do
Parana - UTP em parceria com Instituto de Pesquisa
da Afrodescendencia - IPAD.
Orientador: Prof. Mestre Geraldo Luiz da Silva
Curitiba
2008
AGRADECIMENTOS
Aos Professores
do curso.
Ao grupo de trabalho CI6vis Moura.
E em especial as comunidades
do Feixo e da Restinga.
e
8em
passado,
impossivel
a
uma
sociedade entender e lapidar 0 rosto do
presente e projetar 0 futuro.
Fernanda Maria de Castro Paula
RESUMO
o
presente trabalho teve por objetivo analisar 0 produto do projeto "Comunidades do
Feixo e da Restinga: heranya dos afro-descendentes
da Lapa", na qual se realizou
uma pesquisa etnografica e uma oficina de fotografia para os adolescentes.
Para
tratar desse processo integrado elaborou-se um referencial te6rico a partir do
conceito de Antropologia,
Antropologia
Visual e Fotografia em consonancia
ao
processo hist6rico e cultural dos afro-descendentes.
A partir da observayao
participante, 0 projeto visou proporcionar aos alunos um olhar para 0 passado e 0
presente e com isso pensar 0 futuro de sua vida social. 0 projeto teve no primeiro
momenta a percepyao de que a comunidade e constituida por afro-descendentes
e
com isso desenvolveu ay6es afirmativas que se traduziu na sequencia de aulas
sobre a hist6ria da comunidade,
cultura africana, interpretayao
de imagens e
tecnicas fotogn'ificas. Nesse contexto 0 material produzido assume uma linguagem
comunicativa em sincronia com as comunidades do Feixo e da Restinga 0 que
possibilitou a analise e ediyao das fotografias.
Palavras-chave:
Visual
Comunidades
- Afro-descendentes
- Fotografia
- Antropologia
SUMARIO
1. INTRODU<;AO..
2. FUNDAMENTA<;AO
TEORICA
2.1. OS MOVIMENTOS
PARA UMA CONSCIENCIA NEGRA
2.2. A FORMAC;;AO DE UMA CLASSE MEDIA
3. ANTROPOLOGIA
3.1. ANTROPOLOGIA VISUAL
3.2.0 OLHAR FOTOGRAFICO
3.3. 0 OLHAR SOCIAL PARA AS PESSOAS NEGRAS
4.FOTOGRAFIA - DOCUMENTO E ARTE
4.1. TECNICAS FOTOGRAFICAS
5. PROJETO COMUNIDADES DO FEIXO E DA RESTINGA: HERAN<;A
AFRO-DESCENDENTES
DA LAP A
5.1. PLANO DE ATIVIDADE
5.2. OFICINA DE FOTOGRAFIA
5.3. AVALlAC;;Ao DO TRABALHO REALIZADO
CONSIDERA<;OES FINAlS
REFERENCIAS
10
12
14
16
19
22
25
27
30
31
DOS
34
36
38
41
51
53
10
1. INTRODUC;;AO
o
fotogratico
presente
trabalho
desenvolvido
tem por objeto fazer a leitura
junto as Comunidades
e analise
de afro-descendentes
do projeto
do Feixo e da
Restinga no municipio da Lapa, Estado do Parana.
Para que tal proposta se efetive sera preciso situar a importancia
na vida comunitaria
historica-critica,
e seus valores
no contexte
da evolu9ao
sobre a forma em que a comunidade
com suas caracteristicas
social,
evoluiu,
da imagem
por analise
porem permanece
culturais.
o desenvolvimento
de um trabalho com base em identidade
e fotografia
tem
por principio a analise de fatores intervenientes
no processo de inclusao social que
passou 0 povo africano
no pais e tambem
orienta9ao
de profissional
e seus descendentes
a pratica fotografica,
tanto no tocante
ter por base a
ao equipamento
como olhar analitico para 0 objeto a ser fotografado.
o primeiro
principios
aspecto sintetizado
nas possibilidades
e tra90s identitarios - notadamente
de apreensao
aqueles de natureza
dos valores,
etno-cultural
intermedio da fotografia e, nisso, 0 dialogo entre a fotografia e a antropologia
o
segundo
aspecto trata do apego dos jovens participantes
suas tradi90es, independente
dos apelos veiculados
por
visual.
do projeto as
pelos meios de comunica9ao
de
massa.
o ate
de se reconhecer
parte de uma comunidade
esta na liga9ao afetiva e
ao prazer de conhece-Ia historicamente
e fazer parte de seu presente e futuro. Neste
senti do, pode-se avaliar a importancia
do trabalho
realizado junto as comunidades
do Feixo e da Restinga da Lapa em luta con stante pelo direito de viver em terras
11
herdadas
viva
0
e dar continuidade
sentimento
Assim,
fotografias
elucidativa
que ao longo do tempo manteve
de liberdade e dignidade humana.
se taz
produzidas
necessario
por uma
do desenvolvimento
Sao
a uma comunidadt
esses
observar
6tica
as
quest6es
metodol6gica,
sobre
entendendo-a
a
leitura
como
das
forma
social.
aspectos,
elaborayao do presente trabalho.
entre
outros,
que
encontram
relevancia
para
a
12
2. FUNDAMENTAC;:.1i.O
TEORICA
A historia do Brasil se construiu
adotar a escravidao
humana
sob princfpios
como mao-de-obra
colonizador
portugues
langa
mao
julgamento,
0 qual seja, escravizar
civilizatorios
para a produgao.
de um expediente
pessoas
excludentes
que
ao
Para tanto, 0
0 livra
de qualquer
de etnias e cultura diferentes
e neste
caso 0 africano pareceu ser 0 ideal, de boa saude e resistentes ao esforgo ifsico.
o cerceamento
do direito
a liberdade
nem sempre e uma coisa simples, pois
os grupos de africanos vendidos no Brasil como mao-de-obra
principalmente
nas fazendas
e mineragao
possuiam
para
cultura
0
trabalho bragal,
e organizagao
social,
alem de uma historia milenar.
A primeira etapa para
a extinguir
quaisquer
lagos
condicionamento
0
afetivos
que
foi a separagao familiar de maneira
poderia
remeter
a alguma
forma
de
organizagao.
Em seguida foi
a
religiosos e a consequente
Para 0 Cristianismo
condigao
religiosa,
ao ter que assumir
nomes
proprios
perda da identidade dada pelo nome proprio e de familia.
esse fato foi importante,
possibilitando
0 aumento
de almas
cristas.
Assim,
Cristianismo,
sua
religiosidade
portugues
segundo
incompreensao,
entender
0
colonizador
Pereira
depreciando
organizagao
desse povo".
(2000)
preocupado
"difundiram
a cultura
e os valores
e, portanto,
acreditando
com
uma
a
ideologia
do africano,
num
expansao
caos
calcada
do
na
sem procurar
e ausencia
de
13
Finalmente,
controle
com
utilizou-se
e constituiyao
Ferreira
(2002)
de estrategias
violentas
de urn padrao humano
"a
colonizayao
e exclude!ltes,
considerado
brasileira
loi
visando
desejavel.
marcada
por
0
De acordo
concepyoes
enraizadas na busca da ordem e na eliminayao da ambivalencia".
o resultado
dessas ayoes empreendidas
para controle do povo alricano em
solo brasileiro permitiu no inicio do seculo XX, a disseminayao
assimilayao.
de uma ideologia
de
Essa ideologia segundo Munanga (2004),
Difundiu a ideia de que os descendentes dos africanos e os indios so poderiam ascender
socialmente na condi(:ao de se apropriarem dos valores dominantes, isto e, incorporando
elementos da tradi(:ao europeia, em detrimento da propria cultura, numa busca pelo
embranquecimento.
Eo preciso entao observar
1888 liberta
alricanos
devolvem a identidade,
cultura e organizayao
e seus
que a assinatura
descendentes
da escravidao,
contudo,
nao
social das quais ouviram falar somente em historias.
toma-se
que sem memoria de sua real ancestralidade
brasileira
determina
0 termo
uma soluyao para 0 afrodescendente
e marcado pela condiyao
negro como sin6nimo
de escravo.
de povo sem
cultura, religiao e identidade.
Assim, a cor da pele assume uma nova lunyao
que e destacar a inlerioridade
social das pessoas.
A discriminayao
Ihes
ate porque 300 anos de cativeiro pouco Ihes restava de uma
A ideia de embranquecimento
E a sociedade
da Lei Aurea em 13 de maio de
pela cor e percebida ern frases populares,
social
tais como: "negro
de alma branca"; "ele e preto mais e born". Alem de que 0 torn da pele passa por
uma gradayao, ou seja, negro ou preto, pardo, mulato, "cor de jambo", "cor de burro
quando loge" ou ainda pessoa de cor.
14
o branqueamento
do povo antes escravo torna-se urna questao politic3. pois
o pais nao quer ser reconhecido
como urn pais de constituic;;ao rnestic;;a e por isso
ocultar toda uma populac;;ao de cor torna-se evidente.
Ao fim da escravidao
negra fortalece-se
negac;;ao de valores e elementos
a capoeira e
o
0
a ausencia
culturais desenvolvidos
de identidade
corn a
no Brasil, como exemplos,
Candornble, coisas de negros desocupados.
ideal de embranquecimento
ffsico nao deu tanto resultado,
mas corno cita
Munanga (2004),
A ideologia proveniente desse processo hist6rico foi mantida no imaginario coletivo brasileiro,
tanto daqueles considerados negros quanto dos brancos e mesti<;os, de maneira que todos
compartilham dos mesmos estere6tipos; prejudicando 0 ideal dos movimentos sociais na
busca pela produ<;ao critica de uma identidade afrodescendente.
2.1. OS MOVIMENTOS
As questoes
PARA UMA CONSCIENCIA
sobre a rnestic;;agem no Brasil extrapolarn
que, de forma velada sernpre ocorreram,
urn pais de preconceito
econ6rnico
ernbora 0 Brasil nao tenha assumido
racial e que haveria
so mente
ser
uma diferenc;;a de poder
as diferenc;;as.
fato e que os acessos a empregos
bloqueados
conseguidos
terrninavam
aos rneios sociais
e por que os negros nao erarn afeitos ao trabalho ou aos estudos e que
se estabeleceram
o
NEGRA
ao Iongo da historia
sernpre
estavam
e escolarizac;;ao forarn discretarnente
do povo brasileiro
na linha
de cor negra.
da subserviencia
Os empregos
e na escola
poucos
as series iniciais.
Os enfrentarnentos
as dificuldades
surgirarn at raves de rnovirnentos
que se iniciaram para ern ac;;oes coletivas trac;;arem levantamentos
negros
historicos sociais
15
de um povo que ja teve sua propria identidade e que necessitaria
ser resgatada
para
que ent8.o as novas geragoes dela se valessem.
A identidade
permite
que 0 indivfduo
se perceba
como
tom an do posse da sua realidade individual e, portanto, consciencia
A identidade
depende
da diferenciag8.o que se faz entre
sujeito
unico,
de si mesmo.
0
"eu" e
0
"outro".
Passa-se a ser alguem quando se descobre 0 outro porque, desta forma, e possfvel
adquirir
termos
de comparag8.o
que
permitem
0
destaque
das caracterfsticas
proprias de cada um e conseqOente valorizag8.o.
Os primeiros movimentos
culturais com enfoque na busca de uma identidade
negra surgiram no infcio do seculo dezenove em pafses das Americas,
Estados
Unidos
da America,
uma
busca
e revalorizag8.o
africanas, crioulas e populares. Esses movimentos
foram suscitados
Revolug8.o Francesa (1789) de liberdade, fratemidade
o
associa-se
movimento
das
Haiti, Cuba e
rafzes
pelos termos da
e igualdade.
cultural que inicia uma nova vis8.o sobre as questoes
ao trabalho reivindicativo
culturais
de um grupo de estudantes
negras
africanos em Paris
(1930), sendo dentre eles Aime Cesaire, da Martinica, escritor e poeta que cunhou 0
termo Negritude (Garrido, 2000).
Negritude tornou-se
um conceito,
0
qual seja "conjunto
mundo negro" e de acordo com Garrido (2000) caracterfsticos
de novos valores do
do homem negro:
homem negro Eo essencialmente religioso e cultural, ritual e celebrante, porque para ele
existe um ente supremo, 0 "sagrado", que e 0 verdadeiro real; - 0 homem negro e simb6lico,
porque 0 seu mundo e 0 mundo das imagens e do concreto, todas as realidades materiais,
visiveis e imediatas sao anunciadoras e portadoras de outras realidades. 0 homem negro e 0
hom em de cora,ao, porque, para alem do corpo, da for,a vital, da habilidade, do
entendimento e de todas as outras qualidades humanas, e ainda pelo cora,ao que 0 homem
se define, que 0 homem vale e e julgado; para usar a categoria de um proverbio africano: "0
cora,ao do homem e 0 seu rei".
- 0
o
negro, portanto,
tem alma, sensibilidade
igualmente como pessoa independente
e racionalidade
0 que 0 define
da cor, do grau de escolaridade
ou
16
financeira.
Com isso "Negritude"
ra<;:as tinham
movimento
lugar
neste
teve tambem
foi um movimento
universo
capital
civilizacional
importancia
humanista,
de
porque
inspira<;:ao do
para a Africa,
todas
as
homem.
0
po is motivou
a sua
descoloniza<;:ao.
No Brasil os movimentos
houve passeatas
Estados
de negritude nao obtiveram
ou enfrentamento
Unidos da America
forma ate silenciosa
policial como os de Martim
na decada
construiu-se
espa<;:o na mfdia e nem
de sessenta
do seculo
Luther
xx.
King nos
Contudo,
de
uma pressao social, tanto no mundo do trabalho
como nos direitos a escolariza<;:ao e a dignidade.
2.2. A FORMAC;Ao
DE UMA CLASSE MEDIA
A classe media e um nivel socioecon6mico
presente no capitalismo
fruto do processo da industrializa<;:ao que se convencionou
de um poder aquisitivo,
se formas variadas
pertencimento
sustentam
tratar como possuidora
de um padrao de vida e de consumo
nao apenas suprir suas necessidades
de sobrevivencia
de lazer e cultura.
as classes superiores
necessariamente
razoava, de forma a
como tambem a permitirem-
Evidentemente
que nao se trata ainda de
com alto poder aquisitivo,
pelo trabalho.
modemo
A ideologia
ou seja, que nao se
da classe
media
esta na
condi<;:ao de oferecer aos filhos um presente e um futuro melhor que 0 passado em
um contexto historico que
A partir da decada
sensivel
aumento
0
sujeito avalia (wikipedia, 2008).
1990 a sociedade
de ascensao
negra
brasileira
a classe
media
patroes; na decada de 1980 os negros representaram
representam
se defronta
representando
22%
dos
10% dos patroes. Atualmente,
um tergo da classe media do pais, movimentam
por ana e 35% possuem nivel superior (Veja, 1999).
com indices de
50 bilhoes
de reais
17
Em entrevista
a Revista Veja (18/ago/1999)
63 an os comenta sobre as dificuldades
carreira destinada
a elite brasileira.
Medicina do Triangulo
em cancerologia
0 cirurgiao
que enfrentou
Foi
0
plastico Odo Adao de
por ser negro e almejar uma
primeiro negro a estudar na Faculdade
de
Mineiro. E foi um dos primeiros negros a fazer especializa9ao
no exterior (Houston, Estados Unidos da America).
A constata9ao
da exist€mcia de uma classe media negra demonstra
possivel mudar 0 cenario socioeconomico
que e
brasileiro que ate 0 ana 2000 apresenta
a
seguinte situa9ao.
Tabela 1 - Distribui9ao das familias por classe de rendimento
per capita,segundo a cor do chefe (em %) Brasil - 1999
medio mensal familiar
Familias segundo a cor do
chefe
Classes de Rendimento
Branca
Preta
Parda
Ate 1/2 salario minima
12,7
26,2
30,4
Mais de 1/2 salario minima
20,0
28,6
27,7
Mais de 1 a 3 salarios
minimos
37,3
31,1
27,7
Mais 3 a 5 salarios
minimos
11,1
4,3
4,4
14,1
3,4
3,2
Mais de 5 salarios minimos
Fonte: IBGE. Sintese de Indicadores Sociais, 2000. Elabora<;ao: DIEESE
A realidade socioeconomica
demanda investimento
o sistema
ao ensino
demonstra
que a ascensao
dos negros no Brasil
na educa9ao e trabalho.
de cotas criados no pais para os afro-descendentes
superior,
embora
tenha
recebido
exemplo, "tirar vagas de quem tem competencia
criticas
das
mais
terem acesso
diversas,
e condi90es de estudar',
como
ou "todos
sao iguais", entao para que cotas. 0 fato e que houve maior incentivo as carreiras de
nivel superior e maior aceita9ao do trabalho das pessoas negas.
18
Outro ato politico de repercussao
janeiro de 2003 que inclui no curriculo
moral foi
a
promulgayao
da Lei 10639 de
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade
da tematica "Historia e Cultura Afro-Brasileira".
Com isso
0
continente
africano deve
ser estudado nao somente como 0 local de onde vieram os escravos como tambem
as nayoes
africanas
com
suas
historias
milenares
subjugado e dividido por interesse colonialista
o Art.
representativa
da resistencia negra
no seculo
XIX foi
europeu.
79-B da Lei determina que 0 calendario
novembro como "Dia Nacional da Consciencia
e que,
escolar inclua 0 dia 20 de
Negra". Data que reverencia a figura
a escravidao
por Zumbi dos Palmares.
As politicas afirmativas trayadas pelo Govemo visam possibilitar
social de uma populayao que ate entao lutou so e silenciosamente
a inclusao
por seus direitos
de cidadania.
A compreensao
construyao
dos fatores que motivaram a escravidao
de um povo e a
de uma nova etnia em solo brasileiro passa necessariamente
visao antropologica
do processo de construyao
por uma
de valores em uma sociedade.
19
3. ANTROPOLOGIA
o
condi9ao
surgimento
humana
de uma nova ciencia a Antropologia
do povo africano
toma possivel
avaliar a
no final do SElcUlo XIX com a partilha de seu
territ6rio entre os povos europeus e poe fim a soberania africana.
As a<;:oes dos pesquisadores
que
se transforma
0
neste novo cenario de ocupa<;:ao colonial em
proprietario
representa<;:ao primitiva
em
servi<;:al e ainda
da ra<;:a humana,
passivel
recebeu
0
designa
Os te6ricos
deste periodo
regra basica da etnografia
(GAMBINI,
estavam
do seculo XIX entendem
A pesquisa
0
que
teoria que
1988)
em seus laborat6rios
a observa<;:ao presencial,
coletados e escritos por viajantes ou administradores
trabalho administrativo
como
por ser
tinham por objeto a evolu<;:ao dos povos nao europeus,
nome de evolucionismo.
sem seguir uma
na realidade analisavam
dados
(Pessoal europeu destinado
ao
nas novas colonias).
etnogratica
transforma
a antropologia
particulares
caracteristicas
evolucionista
0
de ser pesquisado
ancestral do homem civilizado. Alias os pesquisadores
seus trabalhos
mais
de classificar
cientifica
adotada
em uma ciencia
por Malinowski
em estudar
as 16gicas
de cada cultura. Com isso ha um rompimento
com a tese
culturas
presas no tempo com credos
como
religiosos
preocupada
in Saiman(1995)
selvagens
pagaos
ou primitivas.
passiveis
de exterminio
serem cat6licos. Contudo, imaginar tambem que uma sociedade
ser, pois suas institui<;:oes cumprem
0 papel
de satisfazer
De pessoas
por nao
e boa quanta pode
as necessidades
e no
minima utopia.
Os primeiros
pass os da Antropologia
as pessoas tin ham de tentar compreender
0
dao a dimensao
diferente e
0
da necessidade
pior de rejeita-Io.
que
20
A rejeiyao do diferente ou daquilo que supoe-se diferente por preconceito
prepotencia
social fez com que 0 movimento
ser humano, com a escravidao,
subjugayao
colonial se degradasse
ou
ao maximo 0
ffsica e a destruic;:ao de sua identidade
cultural.
No Brasil colonia os jesuitas, segundo Gambini (1988) "nao salva ram a alma
do indio ao promovem
a catequizayao,
mas destruiram
sem sentido. A aculturac;:ao ou evoluyao
abandonar
toda
sua estrutura
social determinavam
de vida, ou seja,
morar
resultado
total indigencia
disso foi pouco satisfatorio;
vivendo
entre sua ancestralidade
de esmolas do govemo
e "costumes
em palavras
que 0 indio deveria
e vender
sua
hoje se ve tribos aculturadas
em
produc;:ao com isso mudou-se os codigos de sociabilidade
o
seu espirito"
em casa
na tribo.
e da propria sociedade,
dos brancos".
divididos
E mesmo com todo 0 discurso
de inclusao social ainda sao vistos como "coisas" raras. 0 interessante
disso
e
que
os brasileiros nao se dao conta da propria historia etnica miscigenada.
A compreensao
da propria
outra, ou seja, a identificayao
identidade
e sempre
identidade
acompanha
a resultante
social
vincula-se
a diferenciayao
de um processo
na relayao
na medida
no interior
com
em que a
de uma situayao
relacional,e pode evoluir se a situac;:ao relacional mudar( CUCHE, 1999).
As situayoes
relacionais
afirmayao ou por imposiyoes
no Brasil passam
de identidades.
de uma cultura preexistente.
tinham
estabelecida,
convivio
com a natureza
estranheza.
crenyas
incompreensivel
processos
Isto porque a colonizac;:ao territorial
deu por subjugayao
uma cultura
por constantes
de
se
Os indios viviam em sociedade
e valores,
habitos
para os europeus
alimentares
que os olharam
e um
com
21
o
trabalho
a principio
destinado
fazer laboral e com isso novamente
com isso sofreram
exterminio,
0
a esse povo demonstrou
foram definidos
a inaptidao
como selvagens
ao
indolentes
e
alias uma situac;:ao 6bvia ja que nao serviam para
nada.
Neste ambiente
de hostilidade
as diferenc;:as 0 negro africano
ao trabalho, mas de forma diferente dos imigrantes
e submetido
brancos que para a terra brasilis
tambem acorreram em busca de trabalho.
Os imigrantes,
cultura
e
0
trabalho
embora brancos, solreram
em terras
Contudo, nao loram espoliados
comunitarios
tao diferente
com a diversidade
em sua estrutura
em suas identidades,
de exposic;:ao cultural e puderam
ao contrario
cUltua-las
de uma nova
daquela
nativa.
criaram espac;:os
livremente,
ate mesmo
0
culto protestante loi acolhido em solo Cat61ico Apost61ico Romano.
A comparac;:ao no tratamento
visualizar
as
contradic;:6es
nomenclaturas:
se
dominante/dominado;
inciuidos/excluidos.
trabalhadores
que
as etnias que se instalaram
No entanto,
assalariados
ope ram
em
classe
as pessoas
sociedade
baixa;
que recebem
que perdem a dignidade
no pais permite
sob
diversas
populac;:ao
carente;
tais classilicac;:6es
luncional
sao
por serem aviltados
pel a ma divisao de rendas.
A ma divisao
processo
territoriais.
de rendas,
em geral, se observa
Colonial em que a tonica explorat6ria
em paises
de
loi a extrac;:ao dos bens materiais
Neste sentido, a espoliac;:ao ten de a estigmatizar
ou seja, uma identidade negativa. (CUCHE, 1999)
originarios
os grupos minoritarios,
22
A defini9ao
referencia
como diferentes
"que os majoritarios
em rela9ao
constituem,
a
referencia
segundo
os minoritarios
0 autor e a
reconhecem
para
si
apenas uma diferen9a negativa."
As comunidades
ligadas
a
a
aceita9ao e
outros. A identidade
etnicas
com identidade
interioriza9ao
negativa
identifica9ao
constata-se
e vergonhosa
e rejeitada
0 trabalho
por
em maior ou menor grau
as diferen9as
antropol6gico
estao
no poder
se estiver
investiga9ao de identidade etnica e possivel se utilizar de mecanismos
3.1. ANTROPOLOGIA
e sao
de diferen9a negativa.
que em sociedade
e, por conseguinte
sao dominadas
de uma imagem de si mesmos construida
como uma tentativa de diminuir os estere6tipos
Assim,
negativa
voltado
de
a
visuais.
VISUAL
Contar
a hist6ria
Ocupa90es de estudiosos
da
interessados
obras naturais e daquelas construidas
e com isso e preciso
humanidade
considerar
nos misterios
tem
sido
uma
de homem.
das
As leituras
pelo homem foram exaustivamente
que a vida do homem
grandes
das
revisadas
pode ser visto ate em
pequenos detalhes. Por isso nao somente 0 texto escrito foi capaz de retratar a vida
social e sua evolu9ao, mas principalmente
o
problema
que fatos sejam interpretados
Jeca Tatu representando
a arte desvendou
hist6rias do passado.
esta na forma como as classes
e perpetuados
0 caboclo indolente,
dominantes
desejam
no imaginario
da na9ao. A imagem do
pregui90so
e com vermes, fez parte
da cultura brasileira.
o
negro acorrentado
ao tronco, imagem simbolo
viva na cultura brasileira principalmente
da escravidao
permanece
quando se observa que os salarios de
23
trabalhadores
negros
ainda
sao
populac;:ao branca que trabalhava
menores
que
tinha rendimento
os dos
brancos.
1999 a
"Em
medio de cinco salarios minimos.
Pretos e pardos alcanc;:avam menos que a metade disso: dois salarios" IBGE (2008).
Essas
significativa
informac;:6es confirmam
desigualdade
a existencia
de renda entre brancos,
e a manutenc;:ao
pretos e pardos
de
uma
na sociedade
brasileira.
o
problema
e quando
se usa uma imagem
repressao como expressao verdadeira
o
tratamento
emprestado
atualidade
0
comumente
observador
ser icone
aos
elementos
visuais
descolado
de
nao mais se envolve total mente com
0
do observador.
meio ambiente,
silvicola ou quilombola
sua vida com a natureza.
externo sao detalhes que nao seriam nem notados,
vivem em centros urbanos de caracteristicas
Se um pesquisador
como
necessario
po is
busca a interac;:ao
Para tanto,
precisa fazer as leituras e observar os detalhes que 0 cerca para proteger-se.
de
Na
lida apenas com partes do esquema que estuda.
total com seu ambiente de forma a harmonizar
pessoas
uma
visual.
visual pode facilitar a visao de conjunto
Um indivfduo de uma comunidade
observador
de
de um povo: todo negro e escravo.
realidade dificulta a propria aceitac;:ao da antropologia
A antropologia
que deveria
determinada
Para 0
afinal em geral as
diversas.
que pretenda fazer considerac;:6es sobre a identidade
comunidade
se
a utilizac;:ao de equipamentos
expressao facial e aspectos f1sicos.
aceita
perante
que registrem
seu
em
detalhes,
torno
e
faz-se
por exemplo,
24
o
reconhecimento
de multimeios
a
como complementos
Etnografia
tem-se
firmado nos meios cientrficos. Contudo, segundo Samain e Solha (1987) multimeios,
a monografia
ainda assumem papel coadjuvante
Dentre os equipamentos
a fotografia
do pesquisador.
tem side uma parceira
antrop610gos e como coloca Loyola (1987) "0 fotografo,
constante
de
como um artista, trabalha
com a imagem e com a emoyao; 0 antrop610go como um cientista, com a palavra e
com a razao."
A definiyao,
Fotografia
e uma
por conseguinte
de Edwards
(1995)
publicayao que contempla a significancia
de que "Antropologia
e
e relevancia das imagens
fixas."
o
etnogrcifica
pesquisa,
trabalho
fotografico
se 0 projeto
um
elementos
temporal
de fotografias
em suas duas dimensoes:
A dimensao
ter
papel
significativo
em que 0 visual
ou paisagfstica
na
pesquisa
seja a tonica
e com isso revelar
da
aos
detalhes que poderiam passar despercebidos.
A interpretayao
vincula-se
contiver
seja ela comparativa
olhos do pesquisador
pode
segundo Edwards (1995) depende do contexte
a intelectual e a polftica.
intelectual
a
relaciona-se
ao poder que se estabelece
percepyao
na comunidade
do outro
pesquisada.
da vida social nas relayoes de poder. A percepyao do contexto
E
e a polftica
a verificayao
e fundamental
para a
analise de fotografias no trabalho antropol6gico.
A fotografia ao ser utilizada na Antropologia
com as diferentes
culturas.
0 problema
analftica quando se avalia a fotografia
o que
e fotografavel.
e
deve ser interpretada
compreende-Ia
uma parcialidade
de acordo
em sua complexidade
cultural, um conceito sobre
25
E a
problematica
tambem
Edwards
se
fotografia
que segundo
presente."
Ela preserva um fragmento
apresenta
no
rnovimento
"13 do passado,
(1995)
temporal
contudo
tambem
do passado que 13 transportado
da
13 do
em aparente
totalidade para 0 presente.
Para Barthes (1984)
uma vez: a fotografia
"0
repete
que a fotografia
a infinidade
reproduz
mecanicamente
0 que jamais
ocorreu apenas
poderia
ser repetido
existencialmente."
De qualquer
forma, sendo passado
ou presente
ao aprisionar
0 tempo
a
lotografia espelha a verdade como uma analogi a da realidade. E esta 13 uma de suas
potencialidades
diluido
num
destacarem
vasto
transcendencia
um aspecto
campo
de visao,
particular
da realidade
explicitando
assim
que se en contra
a singularidade
e a
de uma cena.
3.2. 0 OLHAR FOTOGRAFICO
Em um projeto
que se pretende
utilizar
a fotografia
como
13 preciso ter alguns cuidados com a tecnica fotografica,
hist6rico
Napolitano
(1995) "a lotogralia
13 tanta
da toto
que
transforma
passamos
representac;:ao, como se f6ssemos
em cena
a conduzir
legitimados
0
documento
po is conforme
que vivemos: a eficacia social
nossas
vidas
na
lembranc;:a da
pelo registro do acontecimento".
A
foto passa a ser a garantia final de que um fato realmente aconteceu.
Um procedimento
momentos
recolocando
inicial para a utilizac;:ao de fotografias
de vida, ou seja, mostrar as caracteristicas
como registro de
das mensagens
fotograficas,
suas condic;:6es de produc;:ao tecnica, seu objeto de referencia,
seu
26
veiculo original, a intencionalidade
que esta por tras do documento
e seu impacto
socio-historico.
Quando se com poe uma cena, tem que se ter em conta 0 ponto de vista, a
forma da imagem, a zona de maior interesse, que tipo de objetivo deve se ampliar.
"Fazer" uma Fotografia
nao e
mesmo que "tirar" uma fotografia.
0
mais nada, 0 fotografo que "faz" fotografia
e um fotografo-autor,
ou nao na instantaneidade
de uma fotografia;
suas imagens. (DESILETS,
1971).
Fazer
uma fotografia
supoe
Antes de
que pode acreditar
por isso ele criara integral mente as
que se visa
e que se dispara
intervenyao ffsica por parte do fotografo que se transforma
sem
em testemunha
outra
visual da
cena.
As qualidades essenciais de quem faz fotografia consistem,
possuir uma grande sensibilidade
para tudo
0
que
0
entre outras, em
rodeia, sentir a emoyao
do
momento, estar alerta para reagir a cenas diferentes.
Assim, um projeto que tenha por foco a fotografia
participante
ao realizar suas tomadas fotograiicas
seu olhar fotografico que determinara
0
e importante
enquanto
ex ito de um olhar critico.
de imagem fotograiica
lanyar um olhar para 0 passado numa busca da genealogia
ayao humana, desencadeadora
as relayoes
decorrentes
que se impoe um sentido
Para uma tentativa de compreensao
de transformayoes
mundo e 0 ser, entre a natureza e sua admirada
como
do homem
diversidade
e a tecnica/tecnologia
de reflexoes admirativas
0
de seu objetivo tematico, po is sera
Sao os diferentes niveis de produyao da fotografia
a mensagem fotografica.
devera instrumentalizar
da imagem
e percepyoes
e movimentos.
e seus
usos
entre 0
Assim
e desusos,
ou mesmo criticas sobre a imagem tecnica e
27
mesmo
seus antecedentes
representacionais
como 0 desenho
e pintura,
contendo paradoxos sentidos, inten~6es e desinteresses.
A compreensao
de elementos
da fotografia depende tambem do conhecimento
basicos da alte fotografica
nao somente sobre tecnicas,
sobre efeitos de acordo com a tematica que se pretende demonstrar.
se faz necessario
salientar a forma de olhar colonizador
que se tem
mas tambem
Neste sentido,
em rela~ao aos negros no
Brasil.
3.3.0
OLHAR SOCIAL PARA AS PESSOAS
Entre a imagem
mentais psicologicas,
e 0 imaginario
que fabricam
NEGRAS
estabelecem-se
sentido, verdades
Cunha (2000) "0 quadro de Pedro Americo
reproduzido
Brasil determina a verdade do ato da Proclama~ao
Eo
vestimentas
deste
imaginario
que
se
construiu
rela~6es
imagem
no
rotas feitas de saco, muitos de torso nu e musculosos,
trabalho brayal e carregador de sacas.
como cita
nos livros de Historia do
da Independencia
a
e correla~6es,
e meias verdades,
do Brasil."
negro
escravo,
proprios para
0
28
lIustral<ao 1: Negros escravos
no Seculo XIX
As imagens de negros veiculados
do papel do negro na sociedade
seus donos e cayadores
em livros didaticos demonstram
brasileira
ao trabalho
Os period os que sucedem
acentuadas
por conseguinte
0 que transforma
em her6is nacionais, em pessoas homenageadas,
em que a voz de toda uma gerayao afro-descendente
a mudanyas
escravo,
a reduyao
a libertayao
nao foi ouvida.
dos escravos em 1888 nao assistiram
na imagem do negro, ainda nao considerado
sem cidadania.
ser visto em subempregos,
Este perfil amorfo 0 transforma
sem direitos.
periodo
E mesmo
formal seu salario seria menor que de seu colega
quando
branco.
brasileiro
e,
em paria social e vai
conseguia
emprego
A vida das gerayoes
libertas assumiu carater de luta elo direito a cidadania.
Monteiro Lobato escritor do Sitio do Picapau Amarelo perpetua a imagem da
negra submissa e "abobada" que embora nao seja mais escrava permanece
"par
29
amor" servindo aos patroes. Interessante
que na obra nao ha
e sim de servidao por op<;:aona figura de tia Anastacia
As Comunidades
do Feixo e da Restinga, da Lapa, Estado do Parana, foram
Porem, poucas familias conseguiram
nao mais perde-Ias.
exercer
0
contexto de trabalho
(CUNHA, 2000).
criadas por escravos libertos que tiveram a oportunidade
filhos cultivarem.
0
de deixar terras para seus
registra-Ias em seus nomes e
Isto porque a toda uma imposi<;:ao legal para que possam nao
direito a propriedade
como aconteceu
com os brancos
imigrantes
que
receberam terras do govemo ja documentadas.
Essas comunidades
relatam que a quantidade
de terras que Ihes restaram
nao permite a sustento da familia e por isso sao obrigados
a trabalharem
em outras
terras.
A heran<;:a deixada,
no entanto,
tern feito com que as Comunidades
se
mantenham vivas nas suas tradi<;:oes, como a Con gada de Sao Benedito.
A Congada
de Sao Benedito
constru<;:ao da identidade da comunidade
vai alem de ser uma tradi<;:ao e a propria
afro-descendente
e, a nivel pessoal reflete
urn constructo interne (SILVA, 2002).
A luta do Rei do Congo contra a Rainha Ginga em que deixa a mensagem
de bon dade e do perdao
esta alem de simples
representa<;:ao teatral,
resignifica<;:ao de uma imagem que se pretende seja entendida e valorizada.
mas e a
30
-
I
........... r.:t:J
••••••••••
.l~~~tt
lIustra\iao
E
possivel
observar
2: Congada
que a roupagem
rompe
com a imagem
escravo e surge 0 negro em luta que tem uma patria simbolizada
Uma sociedade
valores depreciativos
economicas.
escravocrata
sentido
de alma
reconhecido
branca;
acaba
por contaminar
0 imaginario
ele e negro,
mas e muito
social
0 que
em varias expressoes:
legal".
Ou seja,
"ele
mesmo
ainda assim nao e um igual.
Ao considerar
a importancia
da imagem
no que tange a identidade
grupo social e que se idealizou 0 projeto nas Comunidades
4. FOTOGRAFIA
- DOCUMENTO
Todo um contexte
nova dimensao.
Havia,
de um
do Feixo e da Restinga.
E ARTE
novo gerado
pela revolu<;:ao industrial
alem do aparecimento
de objetos
deu a vida uma
industrializados,
acelera<;:ao da produ<;:ao, uma acelera<;:ao da vida em si, que gerava
compreensao
e
grupos etnicos por atender suas necessidades
dificulta a recomposi<;:ao de imagens positivas, traduzida
e negro
na bandeira.
se utiliza de recursos que impoem conceitos
a determinados
E nesse
do negro
do mundo. A inven<;:ao e 0 desenvolvimento
da fotografia
uma
uma nova
foi um
31
acontecimento
cultural marcante.
A fotografia
do ponto de vista da perspectiva
sistematizac;:ao do olhar, uma tecnica para transcrever
fotografia
introduziu
imagem visualizada.
um procedimento
quimico
e a
sobre um suporte da visao. A
que permitiu
fixar um espectro
Surgida em 1830, de acordo com Napolitano
da
(1995),
Ainda limitada por aspectos tecnicos, a fotografia abriu uma nova era na assimila<;ao social
das imagens. Inicialmente, limitada ao registro de objetos inertes, 0 desenvolvimento tecnico
da fotografia, exigindo menos tempo de exposi<;ao luminosa das chapas, permitiu a difusao
das fotografias de pessoas, de individuos ou pequenos grupos, sob a forma de retrato.
Em 1885 surge a primeira fotografia estampada
s6 na virada do seculo a difusao
de fotografias
num jornal peri6dico.
sobre os eventos
Porern,
cotidianos
em
jomais se tomara comum.
Do
ponto
completamente
imprensa
de
vista
da
a assimilac;:ao e
e um fen6meno
0
experiencia
registro
de capital
dos eventos.
irnportancia:
entao 0 homem comum s6 podia visualizar
hist6rica,
a
fotografia
rnudou
A introduc;:ao da foto na
muda a vi sao das massas.
os acontecimentos
Ate
que ocorriam na sua
rua ou no seu povoado.
De acordo com Barthes
que
in Adorno
autonomia
estrutural
acompanha
as fotos de imprensa.
As fotografias
partilha
acabaram
com
et.al. (1990) a fotografia
outros
sen do delatoras
elementos
como
de manifestantes
e dotada
0
texto
de
que
reconhecidos
e
provas irrefutaveis de seus feitos contestat6rios.
4.1. TECNICAS
FOTOGRAFICAS
Em um projeto que se pretende utilizar a fotografia
e preciso ter alguns cuidados
(1995) "a fotografia
transforma
com a tecnica fotografica,
em cena 0 que vivemos:
corno expressao
pois conforme
artfstica
Napolitano
a eficacia social da foto e
tanta que passamos a conduzir nossas vidas na lembranc;:a da representac;:ao, como
32
se f6ssemos
legitimados
pelo registro
do acontecimento".
A foto passa
a ser a
garantia final de que a imagem representa 0 belo.
Um procedimento
estabelecer
inicial para a utiliza9ao
uma tipologia,
recolocando
de fotografias
ou seja, as caracteristicas
suas condi90es
de produ9ao
veiculo original, a intencionalidade
tecnica,
enquanto
das mensagens
seu objeto
arte e
fotograficas,
de referencia,
que esta por tras do documento
seu
e seu impacto
social.
Quando se com poe uma cena, tem que se ter em conta 0 ponto de vista, a
forma da imagem e a zona de maior interesse. Isto porque segundo Desilets (1971),
"Fazer" uma fotografia nao e 0 mesmo que "tirar" uma fotografia. Antes de mais, 0 fotografo
que "faz" fotografia
um fotografo-autor, que pode acreditar ou nao na instantaneidade duma
fotografia; por isso ele criara integral mente as suas imagens.
e
o
projeto
fotograficas
devera
instrumentalizar
0
aluno
ao
realizar
de seu objetivo tematico, pois sera seu olhar fotografico
suas
tomadas
que determinara
o exito da analise critica sobre 0 objeto.
o ate
de tirar fotografia tomou-se
a9ao ludica na sociedade
tendo em vista a profusao de maquinas digitais que facilitaram
ha mais a necessidade
melhores.
qualquer
0 telefone
ambiente.
possibilita
de se programar
celular
vem com camara
de fotografias
as tomadas,
as lentes para a obten9ao
acoplada
Alem de que esta nova tecnologia
a impressao
contemporanea,
ampliadas
de imagens
e possibilita
integrada
sem a necessidade
pois nao
fotos
em
ao computador
de revela9ao
quimica.
As facilidades
tecnologicas,
no entanto, nao substituem
e sendo assim, esta e a li9ao a ser ensinada.
0 olhar do fotografo
33
o
projeto elaborado junto as comunidades
Restinga teve por meta demonstrar
fotografico
afro-descendentes
que e posslvel
auxiliar as pessoas no reconhecimento
atraves
do Feixo e da
do exercfcio
do olhar
de suas ralzes e reconstruir
sua
identidade a partir das imagens dos locais e de pessoas que tecem a sua vida.
A questao
que envolve
as comunidades
afro-descendentes
registro de identidade pode ser analisada at raves da antropologia
compreensao
do estudo realizado na comunidade
o projeto se desenvolveu.
no tocante
ao
visual. Assim, para
faz-se necessario
conhecer
como
34
5. PROJETO COMUNIDADES
AFRO-DESCENDENTES
DO FEIXO E DA RESTINGA:
DA LAPA
HERAN<;:A DOS
Titulo:
Comunidades
do Feixo e da Restinga: heran<;:a dos afro-descendentes
da Lapa.
Apresenta<;:ao:
o
Projeto pretende
registrar fotograficamente
fazer uma leitura das fotografias
o registro
fotografia
fotografico
ministrada
a vida dessas comunidades,
produzidas e promover uma exposi<;:ao fotografica.
sera realizado por jovens que participarao
por Fernanda
Maria de Castro
Paula,
Jorge
da oficina de
Ota e Miriam
Assanorne.
o
resultado do trabalho sera demonstrado
cotidiano das comunidades
ern urn livro. Tendo por ternatica
0
enfocadas.
Justificativa:
A Lapa, antigamente
chamada Vila Nova do Principe, urna das mais antigas
cidades do Parana (1872), ainda nao mereceu urn tratarnento
a sua historicidade.
paranaense
Tern urna importancia
especial
do Estado no tocante
na constitui<;:ao da historia
como urn polo de forrna<;:ao historica do Parana e da regiao Sui. Trata-
se de uma regiao tradicional
com uma historia
que teve inicio em 1541 com a
passagem de D. Alvar Nunez Cabeza de Vaca pelo territorio.
A cidade
entreposto
ficou
conhecida
entre 0 sui e Sorocaba
por fazer
parte
do
caminho
dos
Tropeiros
em Sao Paulo. Em 1893/94 foi palco de urn dos
episodios mais tragicos da Revolu<;:ao Federalista - 0 Cerco da Lapa.
35
vasta expressao
A regiao apresenta
cozinha
regional
arquitetonicos
e folclore
como
0
cultural: mitos, religiao ( A Gruta do Monge),
como
a Congada
da Lapa.
Preserva
Teatro Sao Joao, a Casa do Coronel
ainda
Joaquim
valores
Lacerda,
a
Casa de Camera e Cadeia, dentre outros.
Existem
africanos
no
municfpio
que remontam
da
Lapa
duas
ao SE3cUloXIX: a da Restinga
criadas por escravos libertos, antes da promulgagao
1888. Estes ganharam
familias
comunidades
esse territorio
descendentes
e a do Feixo. Elas foram
da Lei Aurea, de 13 de maio de
as terras de seus donos, ali passaram
e transformaram
de
a viver, constituiram
num pedago de sua terra natal, inclusive
exercendo costumes d'alem mar.
A cultura transmitida
de geragao em geragao venceu os tempos e, mais de
um seculo depois, mantem-se
de comportamento
viva, embora tenha sofrido modificagoes
e influencias
atraves dos anos.
A raiz, contudo,
mantem-se
perene, com suas manifestagoes
vivas, como a Congada, cuja representagao
historia tendo como personagens
ainda muito
atraves da danga e canto, conta uma
centrais representantes
dos reinos do Congo e de
Angola.
A fotografia
Estes elementos
e um registro e tambem uma manifestagao
sao indissociaveis.
Partindo
reflexao sobre a historia das comunidades
veiculo
que
se adapta
simultaneamente
Ao focar
a essa
da arte da imagem.
desta otica, sera possivel
fazer uma
do Feixo e da Restinga. A fotografia
intengao,
pois
consegue
fixar
0
e um
momenta
e
manter um discurso que vai alem da mera imagem exposta.
comunidades
afro-descendentes
raizes brasileiras e 0 reconhecimento
busca-se
a identificagao
dessa raga na sua composigao.
0 destaque
das
36
ao papel dos afro-descendentes
tambem na colonizac;;ao do Sui do pais concede ao
presente projeto uma re-memorizac;;ao de sua importancia
na constituic;;ao da historia
sulista.
o
projeto contara com oficinas de fotografia
aperfeic;:oar os participantes
com a finalidade
de capacitar e
para um olhar critico e desenvolvimento
estetico
das
imagens produzidas.
Objetivos:
Efetuar uma breve revisao bibliografica
quanto da fotografia,
partir
disso
participantes
propriamente,
analisar
no senti do de estabelecer
0 projeto,
das oficinas
tanto na area da antropologia
assim
como
em seu potencial
0 material
enquanto
percepc;;ao e aumento dos niveis da auto-estima,
resgate e fortalecimento
0 substrato
produzido
instrumento
visual,
teorico e a
pelos
jovens
para a auto
noc;;ao de pertencimento
etnico e
dos trac;:os identitarios.
5.1. PLANO DE ATIVIDADE
o plano
de atividade estabelecido
duas etapas com
0
intuito de possibilitar
para
0
Projeto em questao foi dividido em
aos participantes
conceito de sua historica condic;;ao social associada
com isso auxiliar no reconhecimento
A Fotografia
camara
obscura,
nao nasceu
da oficina de fotografia
0
as imagens que iraQ produzir e
de sua identidade.
de uma invenc;;ao subita,
cujo aperfeic;:oamento
permitiu
estender
pois e originaria
a automatizac;:ao
da
ate a
propria inscric;;ao da imagem.
A produc;;ao fotografica
depende
imagem at raves da luz. A imagem e
0
de tecnicas
opticas
registro de um fragmento
para formac;;ao da
do mundo visivel,
37
resultante
do impacto
dos ra:os luminosos
emitidos
pelo objeto
fotografado
ao
passar pela objetiva.
Aquele ou aquilo que e fotografado
visfvel que foi colocado
impossivel
diante da objetiva,
e 0 alvo, 0 referente
da fotografia,
algo
sem 0 qual nao have ria fotografia.
negar que esse algo, de fato, esteve la. Por isso, a referencia
Eo
real e a
ordem fundadora da fotografia.
Embora
espelho,
seja
um
reflexo,
embora seja mimetica",
que ela registra,
principios
segundo
Santaella
isto e, apresenta
(2007)
"uma
uma similaridade
especie
com 0 objeto
a foto e antes de tudo um trago do real, marcado
que tem sido colocados
em relevo pelos estudiosos
de
por quatro
da fotografia,
como
coloca a autora:
1. conexao fisica: 0 objeto fotografado, de fato, estava fisicamente diante da objetiva
no momento do clique;
2. singularidade: 0 instante que 0 clique capturou
unico, singular. Mesmo que 0 ate
se repita, 0 momento de cada tomada
singular;
3. designa9ao: mais do que quaisquer palavras, mais do que quaisquer outros tipos
de imagens desenhadas ou pintadas, a foto designa, indica 0 referente, funcionando quase
como um dedo que aponta para algo da realidade;
4. testemunho: como nao se pode negar que 0 objeto fotografado esteve la - diante
da camera - a fotografia da testemunho de sua presen9a naquele dado tempo e espa90, 0
que gera 0 poder documental da fotografia.
e
e
A realidade visfvel e vasta. 0 enquadre
objeto ou a situagao fotografada
da fato a recorta e fragmenta.
podem ser testemunhados
pontos de vista. Qual foi 0 ponto de vista escolhido?
para cima, lateral, frontal?
guilhotina
vista
assumido
fotografia.
pelo fotografo,
constitui-se
de
De cima para baixo, de baixo
0 exame do enquadramento
a duragao, 0 fluxo e a continuidade
de uma multiplicidade
0
que recorta
0
visfvel e
do tempo, assim como 0 ponto de
em
mola
mestra
para
a leitura
da
38
A leitura de uma fotografia
depende do conhecimento
e da interpretac;;ao de
cad a pessoa sobre a cena observada.
A oficina de fotografia que se elaborou tem em si a natureza da imagem e a
alfabetizac;;ao do olhar daqueles que a produzirao.
5.2. OFICINA DE FOTOGRAFIA
A oficina de fotografia
programada
da Restinga e do Feixo, desenvolveu-se
para atender os jovens das comunidades
por metoda e cronograma,
conforme segue.
METODO DE TRABALHO
Os conteudos
oficina. Para
0
apresentados
participante
era de todo desconhecido,
o importante
da oficina
serao desenvolvidos
0
contexto socio-historico
pois vivem em comunidades
foi a possibilidade
no decorrer
de combinar
historia e vida cotidiana
em que atraves das imagens ser-Ihe-a posslvel
sentimento
em tomo da propria vida em comunidade.
da oficina de fotografia
forma que cada um dos ministrantes
de sua etnia nao Ihe
oriundas de Quilombos.
Fotogratica
Os conteudos
das aulas de
revelar
serao ministrados
0
Mas
com a Arte
pensamento
e
em parceria de tal
atenda as equipes participantes
a cada quinze
dias.
Para que ficasse evidenciada
participantes
a otica do autor da fotografia
que, cada foto fosse acompanhada
A legenda complementa
foi solicitado aos
por legenda.
a imagem e, conforme
artigo da revista Veja em
sala de aula (1999),
A boa legenda tem de ser complemento efetivo da fotografia, nao uma simples duplica9aO
dos fatos descritos, nem uma etiqueta de identifica9ao. Nao deve dizer coisas que aparecem
claramente na fotografia. Deve, sim, ajudar 0 leitor a compreender e apreciar 0 fato,
esclarecendo as duvidas e chamando sua aten9aO para pequenos detalhes interessantes que
39
Ihe podem ter escapado. Sua finalidade
a fotografia com maior aten,ao.
Para cada sequencia
participantes,
e interessar
de fotografias
de forma a contemplar
0
leitor 0 suficiente para que volte a olhar
foi estabelecido
0 periodo
um prazo junto com os
de atuagao
com 0 equipamento,
solugao de problemas, tiragem das fotografias.
Ap6s a realizagao
da coleta de imagens e informagoes,
elaborar, de maneira criativa, uma atividade
de sensibilizagao
cad a grupo devera
que envolva
tratado na linha do tempo, de forma a expor os conhecimentos
adquiridos
0
tema
e emitir
suas conclusoes.
Todo 0 processo
participante,
de construgao
pois ele esta
extremamente
expressiva
Essa leitura complexa
aprendendo
e convincente,
das atividades
uma
nova
linguagem,
no agir do
nao-verbal,
no sentido de ser a expressao
requereu uma agao metodol6gica
se privilegie 0 conhecimento
estara centrado
mas
da verdade.
s6cio-interacionista,
em que
previo dele e seu olhar critico sobre 0 local em que
reside e das pessoas que fazem parte de seu cotidiano.
o
participa
projeto
se completa
no processo
do fazer e proporciona
agao se concretiza
construtivista
em uma agao sinergetica
na exposigao das fotografias
de acordo
com cronograma
visualizarem
a sociedade
relagoes nelas existentes.
em que toda a turma
de atividades
onde vivem,
na aprendizagem.
feitas pelos participantes
em que possibilitou
tendo
por intengao
Tal
da oficina
as comunidades
a interpretagao
das
40
Quadro 1: Contextualizayao
Metodologia
Conteudo
Conceito
etnias
A luta negra
liberdade
de
por
Lei
10639
de
janeiro de 2003
A heranya cultural
e econ6mica nas
comunidades
do
Feixo e Restinga
Carga
HOrllria
1h
Recursos
Exposiyao oral e de
imagens de
quilombos
Leitura do texto da lei
1h
Imagens fotograficas
1h
Texto de lei
Exposiyao
alunos
1h
Contayao
de
fatos
e
historias; material historico
familiar.
Exposiyao oral
dos
Imagens fotogrci.ficas
Quadro 2: Tecnicas Fotogrci.ficas
Aula 1
14 -17 h
Aula 2
14 -17 h
Aula 3
Tema: apresenta9ao do Projeto da equipe para os
partieipantes
Importaneia dos aeervos pessoais (hist6rias, doeumentos e
fotos)
Apresenta9ao do programa
o que e a fotografia
Usos da fotografia
Tema: Hist6ria da fotografia e Pinhole
Imagens da inven9ao da fotografia
Proeesso de forma9ao da imagem na Camara Fotografiea
Cameras - varios modelos
Fotografia Pinhole - prepara9ao para ofieina
Camera pinhole
Tema: Fotografia de Latinha
10- 12 h
14 -17 h
Fotografia Pinhole
Proeesso de forma9ao da imagem no Pinhole
Camera Pinhole
Montagem do laborat6rio
Prepara9ao das Cameras
Safda para fotografar
Revelac;;aodas imagens
41
Aula 4
14 -17 h
Tema: Fotografia digital
Processo de forma<;:aoda imagem na camera digital
Funcionamento das cameras digitais
Cameras - varios modelos
Trabalho: 0 que fotoqrafar e por qUe?
roduzidas
Tema: Edi<;:ao- equipe 3
Recolhimento das maquinas - equipe 2
Tema: Estudio Fotografico
Aula 7
10-12h
14-17 h
Hist6ria do Retrato
No<;:6esde enquadramento
Montagem do estUdio
Apresenta<;:ao dos equipamentos
Prepara<;:ao dos modelos
RealizaQao das fotoqrafias
Recolhimento das maquinas - equipes 1, 2 e 3
roduzidas
Conclusao
5.3. AVALlAQAO
Tema: Exposi<;:aoFotografica
DO TRABALHO
REALIZADO
Ao termino da primeira fase do projeto, ou seja, das aulas ministradas
prodUl;:ao das fotografias feitas pelos participantes,
e da
foi posslvel a sele<;:ao de varias
42
imagens
e em conjunto
Comunidades
de
Feixo
com
entrevistas
e da
Restinga
realizadas
foi
junto
possivel
aos
moradores
a edic;:ao de
das
livro
pela
coordenac;:ao do projeto em 2007.
Avaliar
identidade
as fotografias
de uma comunidade
jovens fotografos
que
feitas
pelos
alunos
afro-descendente
e
constatar
e comprovar
a importancia
que
0
da
olhar dos
estao fixos naquilo que 0 tempo nao destroi, ao contrario,
amplia
e a vida.
As fotografias
a compreender
melhor
alocadas estarao seguidas de comentario
0
contexto da vida dessas comunidades.
avaliativo
de forma
43
Ilustrac;:ao 3: Tempo
Dona Ana Caetano da Cruz (90 anos).
ritual de sempre.
0 "paieiro" em suas maos denota
0
44
lIustra<;ao 4: Heran<;a
Elpidio Fagundes Ferreira (68 anos) e Terezinha Ten6rio Ferreira (70 anos)
o
sentimento
de pertencimento
se faz presente no relato de dona Terezinha
"meu avo era dono de grande extensao de terras que foram repartidas entre os filhos
quando
ele morreu.
Cad a um tinha seu pedayo
nada. lam se respeitando
de terreno
pelas divisas e nunca deu encrenca,
do meu avo Francisco Gonyalves Ten6rio e seus irmaos."
sem documento
sem
(...) tudo isso aqui era
45
Eu quero
t()I'\hecer\\l
lIustral(ao 5: Nova geral(ao
As crianyas no centro de convivencia
Vencer-Feixo,
E a imagem de Nossa Senhora Aparecida,
em festa de aniversario.
protetora do Brasil.
46
lIustrac<ao 6: Benzimento
Dona Terezinha Pavao Batista benze
aneta
espirituais.
Kauane. A religiosidade
mfstica inicia a crianc;:a na fe dos misterios
47
lIustra930 7: A Senhora e seu jardim
Dona Maria Augusta Martins - Comunidade
da Restinga
48
lIustra!;ito 8: 0 dia de fazer 0 pito.
Preparar a massa, fazer 0 fogo no forno (Iocalizado no quintal da casal. Tudo
pronto. Retira-se as brasas do forno e coloca-se a fornada de paes para assar.
49
lIustrac;ao 9: Batismo
A tradiyao religiosa marca 0 infcio de mais uma nova vida e 0 crescimento
familia que gradativamente
da
assume as tradiyoes da comunidade.
50
A sequencia
comunidade
de fotografias
segmentos
fotograficos
pretendeu
foi
perceberam
selecion·3.das teve a inten<;:ao de marcar
0 tempo
e sua evolu<;:ao a partir do movimento familiar. Evidentemente
passar
que mereceriam
0 carater
a mesma aten<;:ao. No entanto,
antropologico
no decorrer das aulas de fotografia
proprio mundo.
que
os participantes
e da importancia
da
ha outros
0
do
que se
projeto
do olhar para seu
51
CONSIDERA90ES
o
FINAlS
Projeto
necessidade
sobre
as Comunidades
de registro da memoria
do Feixo
e da
dos afro-descendenles
especifica proxima a cidade da Lapa. Para tanto, utilizou-se
pratica em fotografia com enfoque na antropologico
A fotografia
pode ser explorada
possibilitando
a compreensao
possibilidades
de representa<;:ao.
Restinga
de metodologia,
teoria e
visual.
em trabalhos
de sua linguagem,
de pesquisa
antropologica,
de sua fun<;:ao e das diferentes
realidade, propiciou aos participantes
a possibilidade
sobre estetica,
da fotografia
a historia
da
do Parana em regiao
Nesse senti do, a escolha da fotografia enquanto instrumento
identificar
surgiu
de concretizar
de produ<;:ao da
conhecimento
0
e sua importancia
na Historia
contemporanea.
A abordagem
importancia
do
sobre fotografia
retrato
desenvolvimento
no
cenario
enquanto
documento
socio-polltico
e
historico
econ6mico
demonstra
ac
Icngo
a
do
da humanidade
A heran<;:a historica da imagem e seu papel social perpetuam-se,
pois e um
recurso politico, ja que a imagem muitas vezes vale mais que "mil palavras",
como
se evidenciou nas sequi'mcias fotograJicas.
Nesse
sentido,
a fotografia
pode toma-se
tambem
manipula<;:ao de massa e, portanto, passlvel de analise.
fotografia
pas sou a ser um instrumento
das comunidades
um instrumento
E e nesse contexlo
de
que a
para 0 resgate dos valores reais da historia
do Feixo e Restinga.
Melodologicamente,
a elabora<;:ao das alividades
fotografia leve por enfoque a percep<;:ao dos participantes
descrilas
no Irabalho com
no Projelo sobre a sua
52
comunidade,
seu modo de vida, destacando
aspectos culturais significativos,
tais
como, batizado, benzimento, formaturas, aniversarios, dentre outros.
Posto que 0 processo de desenvolvimento
integracionista
que esta em olhar
0
do projeto requereu uma postura
participante no projeto como
0
Ser central do
processo.
o
descobrir
participante como investigador em seu proprio espayo de vida, tende a
seus direitos
e deveres
e, assim,
Evidente, tambem, que a fotografia
exercer
seu direito
de cidadania.
como uma atividade de informayao
passado, presente e futuro da humanidade,
0
sobre 0
que contribui para a compreensao das
relayoes sociais.
A
atuayao
caracteristica
dos
ministrantes
no
curso
em projeto, pois eles deixaram
educadores,
funyoes
nem sempre
possibilidade
de obselVarem os participantes
produyao, alem de contribuirem
conjuntas.
de
fotografia
assumiu
de ser obselVadores
Nesse
sentido,
nova
para serem
tiveram
a dupla
no tocante a sua inseryao social e
para despertar uma nova ayao na comunidade.
0
uso da fotografia na modalidade de olhar para 0 tempo.
o
exercicio do fazer fotografia pode se transformar
para as pessoas, ja que as vezes as brincadeiras
cultural que nem sempre esta explicita.
sao
0
em um ate prazeroso
delinear da identidade
53
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Credito
das fotografias
lIustrac;;ao 3, pg. 42 - Fernanda Maria de Castro Paula
lIustrac;;ao 4, pg. 43 - Fernanda Maria de Castro Paula
Ilustrac;;ao 5, pg. 44- Alysson Batista dos Anjos
Ilustrac;;ao 6, pg. 45 - Tatiane da Coneic;;ao Batista
lIustrac;;ao 7, pg. 46 - Fernanda Maria de Castro Paula
lIustrac;;ao 8, pg. 47 - Roque Jose Pinheiro Batista
Ilustrac;;ao 9, pg. 48 - Maria Deonice Ferreira Barbosa
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