Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 1 A INSTRUMENTALIZAÇÃO DA RELIGIÃO POR PE. ANTONIO VIEIRA NO SERMÃO DE SANTO ANTONIO1 Joalbe Bernardo dos Santos2 INTRODUÇÃO A Igreja, enquanto instituição moralizadora, é detentora de uma relação de poder. Um poder que é efetuado e que funciona como um agente regulador dos comportamentos humanos fundamentais para o bom desempenho das estruturas sociais. Essa institucionalização também contribui para a realização das ideologias do Estado. O Estado se aproveita para configurar seu domínio político oligárquico, como é percebido na colonização brasileira. Nesse caso ouve a instrumentalização da religião para justificar a fundação do Estado brasileiro. No caso de Pe. Antonio Vieira, ele era oposto às vontades dos colonizadores e exploradores, o que direciona o seu sermão. Daí o motivo de sua eloqüência para fins benéficos. Por isso existe a instrumentalização da religião através dos sermões de Vieira, uma instrumentalização que acaba agradando os interesses do Estado. Vieira tem um estilo conceptista, estabelece comparações com passagens bíblicas por meio de uma grande profundidade de raciocínio. Era um discurso moralizador que disciplinava o homem para uma boa conduta social e cristã. Com isso, podemos afirmar que o sermão de Santo Antonio trás 1 Orientado pelo professor Ricardo Araujo da disciplina Literatura Brasileira I turma D0 (Universidade Federal de Sergipe) ano 2008/2. 2 - Graduando do curso de Letras Português (Universidade Federal de Sergipe). E-mail: [email protected] Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 2 um pouco do pensamento ideológico marxista, por extrair do sermão muitas das vezes uma explicação social. O discurso moralizador rende fundamentos suficientes para uma abordagem das ideologias que condicionam todo poder da oratória de Vieira, pois as pessoas que tomam as doutrinas e exemplos dos princípios cristãos se tornam indivíduos de maior flexibilização social. Tudo isso por meio de uma visão espiritual que o Cristianismo pregado por Vieira propõe. Isso tem uma aplicação social que confirma um sinal bastante claro do pensamento marxista, o que não quer dizer que Pe. Antonio queria mudar a cultura dos homens a partir de um pensamento materialista, mas sim socializante. A forma com que elaborava sua retórica a partir das comparações, pois, para Vieira, o que define o pregador é a sua vida, e que é necessário três instrumentos para haver a evangelização: os olhos, um espelho e a luz. Os olhos para enxergarem, o espelho para ver a si mesmo e a luz para garantir essa visibilidade, ou seja, o indivíduo é peça fundamental para a implantação de uma cultura de paz e amor pregada pela Igreja, sendo importante para o Estado. A aquisição dessa virtude que proporciona um bom desempenho na sociedade em que o individuo vive, só seria possível com a adesão ao Cristianismo. Essa característica de concretizar as ações dá significação a seu sermão e faz com que exista uma interlocução necessária para uma atitude responsiva ativa. Como afirma Bakhtim: A compreensão de uma fala viva, de um enunciado vivo é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa (conquanto o grau dessa atividade seja muito variável) toda compreensão e prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra forçosamente a produz: o ouvinte torna-se locutor (Bakhtim, 1997). Vieira preocupava-se com a elaboração de suas mensagens, objetivava atingir a inteligência dos ouvintes através dos argumentos lógicos e simbólicos expressados por meio Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 3 dos exemplos de Cristo e de Santo Antonio. A exemplaridade posta por Vieira propiciava que o ouvinte fizesse a projeção do “eu” nos fatos sociais ali apresentados. Havido essa projeção acontecia a integração necessária para o seguimento das ideologias por parte dos ouvintes. O momento sociocultural em que Pe. Antonio Vieira estava inserido foi o que orientou e justificou a elaboração dos seus sermões. Foi um período que aguçou suas reflexões, era o período da Contra-Reforma, a Igreja Católica reagiu às Reformas Protestantes, os novos valores humanistas chocaram-se com os valores teocêntricos representados pelo clero e, em Portugal, existia o domínio espanhol. Em São Luiz do Maranhão, local onde pregou o Sermão de Santo Antonio, ocorria a escravatura. Toda essa conturbação social serviu de alimento que nutriu o seu sermão, ou melhor, os seus sermões. Uma Igreja ameaçada, uma nação ultrajada por outro país, a desvalorização do sagrado e os direitos de um povo ameaçado. Tudo isso reveste de uma ideologia a ação de Vieira, que busca consolidar a unificação de um povo que se encontra numa diversidade de conceitos religiosos e desestrutura política. Apesar de possuir um discurso instrumentalizado em favor do cristianismo, não deixa de favorecer o bem-estar social do Estado. Porém era opositor dos interesses dos colonizadores. O objetivo desse artigo é mostrar que a ação do homem no meio social em que vive é regada de ideologias que fazem com que haja uma instrumentalização proposta pelo interesse maior, assim como afirma Karl Marx: “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o ser social que inversamente, determina a sua consciência” (Marx, 1983, p. 24). Portanto a Igreja é um aparelho ideológico configurado a partir dos interesses de uma coletividade, que interpreta as escrituras, traduz em ações, ou, faz menção dela para divinizar o seu discurso. Os representantes da Igreja gozam da liberdade de instrumentalizar os sermões Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 4 por meio de normas que garantem punição, expulsão e seleção. Aí se estabelece uma relação de dominação. Vieira com toda a autoridade legal de sacerdote usa em favor da elaboração dos seus discursos. A instrumentalização da religião por Pe. Antonio Vieira no Sermão de Santo Antonio Toda sociedade exerce alguma forma de controle social sobre seus membros por meio de sanções postas em forma de castigos. As Instituições religiosas também estabelecem o controle social de suas comunidades através de repreensões morais e espirituais. Padre Antonio Vieira, como representante de uma instituição, almejava a prevenção da transgressão, por meio da adesão aos valores pregados por ele. A utilização da função pedagógica do céu e inferno é alvo condicionante de estímulo à vivência das virtudes para um bom desempenho social, e tida como de fundamental importância para que se tenha um fim positivo. A denominação do sermão remete ao episódio vivido por Santo Antonio, quando foi mal recebido numa pregação em Arimino. Não tendo quem ouvisse as suas pregações se dirigiu ao mar e pregou aos peixes e, milagrosamente, estes colocaram as cabeças fora da água e ficaram a ouvir. Também usa o evangelho bíblico de São Mateus “Vois sois o sal da terra...” (VIEIRA, 2006, apud BIBLIA SAGRADA, 2006) a breve citação de um versículo bíblico serve de instrumento para a inicialização do seu sermão e extrair toda exegese. Através de comparações, ele instrui o homem por meio de uma visão espiritual regada de significações. Ele não se atou simplesmente a exemplariedade bíblica, foi muito além das homilias de fundamentação espiritual. Vieira instrumentaliza o seu sermão para explicar e denunciar atitude destrutiva das relações humanas. Um mundo regrado pela inveja, ódio, ganância e corrupção, sentimentos e ações que assolam e implicam na forma de ser. Retratado no sermão através do exemplo dos peixes do mar, “os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 5 ser como os peixes, que se comem uns aos outros” (VIEIRA, 1996). A Igreja, como porta voz dos emudecidos e protetora dos direitos mínimos do homem, visa estabelecer a unidade entre os fiéis e não fiéis. Por isso o plano divino funde-se com o plano humano e a disciplina, que é fundamental para a vida do fiel na Igreja, é propícia para o Estado, ou seja, torna-se instrumento da classe dominante, e esta, como detentora do poder, é favorecida através da aceitação da realidade que a organização religiosa prega e da igualdade, que é de fachada. Pois, no contexto social, de ontem e de hoje, não existe essa igualdade. Em algumas partes do sermão, a Igreja acaba sendo uma grande aliada do Estado. Coisa que poderia ser diferente, se Vieira fizesse uma instrumentalização fundamentalista e contrária ao Estado. Em um outro momento do sermão, Vieira age por meio da repreensão, num discurso carregado de ideologias e tido como instrumento de repreensão de erros que são inadmissíveis numa comunidade Cristã. “... se tenho fé e uso da razão, só devo olhar diretamente para cima, e só diretamente para baixo: para cima, considerando que há céu, e para baixo, lembrando-me que há inferno” (Vieira, 1996). O bem e o mal são caminhos que servem como instrumento de doutrinamento que fomenta todas as doutrinas da Igreja de todo mundo. Seria a medida punitiva que o Estado usava através dos aparelhos ideológicos de repreensão: a polícia, os tribunais, os presídios, o exército e os ministérios. As repreensões que o sermão aponta são a punição espiritual abordada através do medo de ir para o inferno, como também ensinando a viver e cultivar, mesmo quando seja impossível de se revestir de alguma virtude. Quando Vieira comenta sobre o famoso episódio do Dilúvio da Arca de Noé, ele apresenta o exemplo típico da diversidade cultural que compõe uma sociedade. As diferentes raças de animais, do mais dócil ao mais perverso, passam a conviver num mesmo espaço e compartilhar da mesma comida, tudo isso para garantir a sobrevivência, mas com isso foi necessário adquirir uma Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 6 virtude que sirva de força para essa vivência. Essa interpretação significativa de relações humanas. Essa submissão à realidade social é alimentada pela certeza de sua existência e salvação espiritual, como já foi citado anteriormente. É a busca pela unidade que irá contribuir para a aceitação da realidade. No sermão, os peixes são metáforas dos homens. A partir disso, notemos que não foi preciso um casal de cada tipo peixe. Estes são criaturas abençoadas a ponto de sobreviver a uma catástrofe, porém aqueles que não se assemelham aos peixes terão de se revestir de uma virtude para sobreviver às dificuldades postas pelo mundo. Vieira vê a necessidade de discursar não apenas para o seguimento das doutrinas de sua Igreja, mas para as relações sociais fundamentais para uma vida de paz. Os peixes são utilizados por configurarem a explicação mística da dependência de Deus. Os peixes possuíam virtudes naturais como: não se domesticavam, não eram domados, enfim, são abençoados. Mas para isso tudo foi preciso ação de Deus, eles foram as primeiras criaturas criadas por Ele; as primeiras criaturas nomeadas pelos homens; os mais numerosos e maiores. Quando Santo Antônio pregara as estes, eles demonstraram respeito e devoção. Essas virtudes apresentam a necessidade da dependência de Deus. O Catolicismo reveste o Padre de toda autoridade, e o Padre utiliza-se dela para ir além de uma simples pregação de pontos dogmáticos. A característica de ler tudo a partir da sociologia faz com que Antonio Vieira apresente uma pregação diferente das tradicionais pregações que buscavam simplesmente atingir a dimensão bíblica catequética. Ler tudo a partir da sociologia é um sinal forte da ideologia marxista. O Padre soube muito bem ir além da dimensão citada anteriormente e atingir a dimensão humana através dos conhecimentos sociológicos. Isso é um ponto forte no sermão de Padre Antonio Vieira. Assim o Padre atingiu o coração dos ouvintes com os exemplos de retidão, como também, denunciava os péssimos comportamentos humanos. Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 7 A relação de poder é algo a ser observado no sermão de Vieira. As orientações de vida postas por um sacerdote a uma multidão de fiéis. Sua postura de representante de Deus condiciona a adesão por natureza aos ditames do seu discurso, concretizando assim uma dominação legítima de caráter tradicional, baseada na crença cotidiana na santidade, das tradições vigentes desde sempre, e na legitimidade das autoridades; e de caráter carismático, baseado na veneração extra-cotidiana da santidade do poder heróico ou de caráter exemplar de uma pessoa e das ordens por esta revelada ou criada. A boa retórica bem instrumentalizada, junto com os carismas religiosos do Pe. Antonio Vieira, fizeram com que houvesse essa aceitação que configura Padre Vieira como um líder que convence não apenas a Igreja, mas também as universidades, transformando-se em objeto de estudo social e literário. Literário por ser um contexto carregado do sobrenatural, de figuras de linguagem, enfim de alguns recursos estilísticos. Há uma expansão dos sentimentos fugindo da realidade. Vieira observa o comportamento dos homens tem uma impressão dele e por meio dos seus sermões tenta configura-los para ensinamentos de vida. É factível de um estudo social por conta dessa relação que envolve o humano e o divino transfigurado numa relação de poder e dominação. Como já afirmado, existe dominação por encontrar obediência para ordens especiais de um grupo de pessoas, o que diverge de um poder ou influência sobre pessoas, pois não há a crença na legitimidade. A legitimidade é o motivo central para que haja a dominação. Os tipos mais comumente encontrados nos sermões de Vieira, mais especificamente no sermão de Santo Antonio, são a dominação racional, por seguir estatutos legais, e a dominação carismática, porque se tem um líder, herói, profeta religioso que condiciona a aceitação da vida como ela é. Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 8 A configuração do seu discurso é uma exímia ferramenta de influência comportamental. Veja-se o que ele diz num dos trechos do sermão de Santo Antonio: “Deus não quer roncadores e que tem particular cuidado de abater e humilhar aos que muito roncam” (Vieira, 1996). A ação efetiva do indivíduo no meio em que vive é incitada pelo Padre, contando com uma punição àqueles que nada produzem, e uma punição vinda de Deus. Quais fieis não temeriam? Ou quem não se perturbaria com tal afirmação punitiva? O sentimento de medo pregado no seu discurso é um agente impulsivo da ação do indivíduo. O que pode confirmar essa ideologia é uma outra a seguir apresentada também no sermão de Santo Antonio: (...) os que queriam tirar a vida a Cristo menino, eram Herodes e todos os seus, toda a sua família, todos os seus aderentes, todos os que seguiam e pendiam da sua fortuna. Pois é possível que todos estes morressem juntamente com Herodes?! Sim: porque morrendo o tubarão, morrem também com ele os pegadores: defuncto Herode, defuncti sunt quarebant animam pueri. (Vieira, 1996). Aqueles que vivem da dependência, da bajulação de um indivíduo nada terão, pois o mesmo, sustentador dos demais, morrendo, nada terão, nada produzirão. Seria uma espécie de fonte sustentável que deixasse de existir. Daí prova o poder de coerção dos fatos sociais presente não só no sermão de Santo Antonio, como também nos demais sermões. Os fatos sociais possuem idéias, valores, ou seja, coisas exteriores, como maneira de agir, de pensar e de sentir que delimitam um toque coercitivo numa sociedade onde as crenças, as tendências comuns no coletivo refratem-se nos indivíduos. Vieira instrumentaliza esses fatos sociais para atingir o seu intento. Seria conforme a teoria durkheimiana, apresentada por GALIANO (1987) que afirma que os fatos sociais que se constituem a base da vida classificam-se de morfologia social, que é a forma como as sociedades estão organizadas, e também a maneira de ser, que é a fisiologia. A trama que se desenvolve na base, nas regras Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 9 legais, nos dogmas religiosos, em toda essa relação coletiva, que é a junção dos pensamentos individuais que, por serem comuns exercem uma força na sociedade. A relação entre as maneiras de ser e maneiras de fazer tornam-se comuns por conta do sistema que os une. Padre Antonio, com sua oratória, tenta unir fé e vida. Destarte, classificamos os fatos sociais como reguladores das ideologias do sermão de Vieira. Quando Pe. Antonio fala da não-usurpação dos bens dos náufragos ele tira não só esse ensinamento de boa conduta como também faz aquilo que Cristo nos ensinou: “dai a Cezar o que é de Cezar...”. Confirma quando fala do peixe que engoliu uma moeda de um navio que naufragou e morreu com ela atravessada na garganta. A pessoa que o encontrou tirou a moeda e pagou um tributo. Daí conclui-se a flexibilidade do seu sermão: a advertência à nãousurpação e a obediência às normas de uma sociedade, o pagamento do tributo. O Padre levou em consideração as normas comuns ao coletivo, a morfologia de uma sociedade, e sua ação foi condicionada pela consciência individual que imerge aqueles indivíduos. Por isso, Pe. Antonio soube articular bem as suas pregações, sem deixar de lado as questões políticas. CONSIDERAÇÕES FINAIS No eloqüente sermão de Santo Antonio, Vieira não se destaca apenas como religioso, mas como um diplomata, conselheiro dos pobres, combatente das injustiças, teólogo, profeta e defensor dos cristãos. Percebe-se que o viés norteador do seu discurso foi o ser social; o ser social foi o que determinou a consciência que gerou o sermão. A partir dos pressupostos, há o uso da palavra evangelizadora para a contenção dos relacionamentos humanos daquela época. Vieira visava à doutrinação adequada através do medo de não ser salvo, e não fazer parte da comunidade Cristã. Nesse momento, o Padre faz do seu sermão um instrumento de Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 10 repreensão. A figura de representante de Deus reveste-o de toda autoridade necessária para que se estabeleça dominação legitimada pelos ouvintes, que o consideram como profeta e líder religioso. Encontra-se uma aplicação social para as passagens bíblicas citadas pelo Padre, sendo um indício de que há o pensamento hierárquico. Vieira pretendia implantar uma nova forma de viver em paz consigo e com o mundo, que fosse além da comunidade Cristã. A metodologia norteadora do seu sermão objetiva a interlocução por meio da realidade apreciada pelos ouvintes; as conseqüências que os exemplos apresentados proporcionam, e por fim a forma de como viver inserido no contexto relatado. Seu discurso no sermão de Santo Antonio pode ser analisado sob dois ângulos: um panegírico e outro político. Isso é o que confirma a instrumentalização da Igreja. Essa característica de ser são conseqüências da sua vida, como ele próprio já afirmou em outros sermões, que o que define o pregador é a vida. No Brasil, no Estado do Maranhão, onde ele também assumiu uma corajosa defesa contra os interesses escravocratas dos colonos portugueses. Pe. Antonio Vieira, no sermão de Santo Antonio, faz uso das palavras de Cristo: “Dai a Cezar o que é de Cezar e dai a Deus o que é de Deus”. Com essa citação, Vieira pede para os cristãos não confundirem a religião e a política. Porém, ele não deixará de fazer da fé um instrumento de crítica a algumas ações do Estado. Esse viés é configurado pela alegação da defesa do critério ético geral, o humano. Mas, até que ponto a Igreja pode falar ou calar? Anais do Seminário Nacional Literatura e Cultura Vol. 1, agosto de 2009 – ISSN 2175-4128 06 e 07 de agosto de 2009 UFS – São Cristóvão, Brasil 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparatos ideológicos de estado (notas para uma investigação). IN: ZIZEK, Slavoj. Um mapa de Ideologia. RJ: Contraponto, 1996. AZEVEDO, Pe. Paulo Ricardo. 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