AVALIAÇÃO DAS LESÕES DECORRENTES DA COLOCAÇÃO DOS BRINCOS DE RASTREAMENTO EM BOVINOS EM DIFERENTES ESTAÇÕES DO ANO Ana Clara Canto Souza1; Lais Fernanda da Silva2; Luiz Álvaro Monteiro Jr.3 1. Aluna do IFC – Campus Camboriú, Curso Técnico em Agropecuária, turma AB10, [email protected] 2. Aluna do IFC – Campus Camboriú, Curso Técnico em Agropecuária, turma AB10, [email protected] 3. Professor Orientador do IFC – Campus Camboriú, [email protected] 1 INTRODUÇÃO Os brincos de rastreamento (SISBOV) são uma forma de identificação de rebanhos, indivíduo por indivíduo, por meio de números, com um sistema que permite que todos os dados relevantes do animal sejam registrados e controlados, do nascimento ao abate (Rezende & Lopes, 2004). Essa tecnologia de rastreamento passou a ser utilizada como forma de assegurar a integridade dos produtos de origem animal, fazendo um melhor controle da ocorrência de doenças e outros problemas sanitários (VITO, 2001; KAWANO, 2003; ALLFLEX, 2008). A colocação destes brincos acarreta seguidamente em lesões nos animais, que causam estresse, perda em produtividade, além de aumentar o tempo de manejo para o produtor, e pensando em maior escala, no Brasil, a produção bovina representa boa parte de nosso comércio internacional, visto que possuímos o maior rebanho comercial do mundo, com cerca de 205 milhões de cabeças (Correio do Brasil, 2010). Assim sendo, neste estudo pretende-se determinar a diferença em número de ocorrências e grau das lesões de acordo com a mudança de temperatura no decorrer do ano. Durante as épocas mais quentes do ano, as altas temperaturas e a umidade favorecem a reprodução de diversos insetos, incluindo a mosca Cochliomyia hominivorax, que é a mosca causadora das chamadas miíases, que ocorre muito frequentemente na região onde está localizado o brinco de rastreamento. Veríssimo C. J. em: “Morte de Ruminantes Devido a Infecção na Orelha Consequente à Miíase Causada Por Cochliomyia Hominivorax” relata a ocorrência da morte de dois animais causada pela ocorrência de miíase no local da orelha durante o verão, que causaram graves inflamações no conduto auditivo, além da constatação de que no rebanho haviam diversos outros animais com inflamações crônicas no ouvido, e maior suscetibilidade a insfestações por parasitos nesse local (Coquerel, 1858; DIÁRIO CATARINENSE, 2011). Mesmo após o processo de cicatrização no local da aplicação do brinco, o animal pode gerar uma nova lesão devido o contato do brinco com cercas, ou movimentação brusca do animal, que causará uma sensibilização no local, e dessa forma, criando um ambiente propício para a colocação dos ovos de C. hominivorax, que é o que se pode observar quando essas lesões surgem repentinamente em animais de idade mais avançada. Durante o desenvolvimento deste estudo de campo, foram observados 30 animais de diferentes idades que tiveram seus brincos colocados ou recolocados variando entre o período de estações quentes e frias com o objetivo de comparação entre dados. 2 OBJETIVOS O projeto visa estabelecer uma relação entre a estação do ano e a maior ocorrência de lesões em bovinos após a colocação do brinco, demonstrando a necessidade de maiores cuidados com o manejo, analisando sempre o rebanho e as variações climáticas anuais a fim de gerar uma conscientização sobre a influência destas variáveis em uma produção animal. 3 MATERIAIS E MÉTODO Foram analisados trinta e um animais do campus que durante o decorrer do ano tiveram seus brincos de rastreamento colocados ou recolocados. Na medida do possível tentou-se fixar o brinco entre nervuras das orelhas como forma de evitar sangramento, atrofia ou facilitar a deposição dos ovos de C. hominivorax, observando-se que o posicionamento é fator determinante sobre ocorrência ou não de me cicatrização. Após cada colocação é feito o acompanhamento do processo de cicatrização através da observação macroscópica para o diagnóstico de lesão. Tabulando-se os dados de animais, de acordo com a presença ou não de lesão e a época da colocação do brinco. Pode-se chegar a resultados, em porcentagem, que mostram a predominância das lesões para a estação úmida. O tratamento das lesões foi realizado de acordo com os padrões da instituição, não incorrendo em nenhum custo ao projeto, assim como a estrutura, manutenção dos animais e equipamentos para brincagem que já estavam disponíveis a realização do mesmo (VICENTIN, 2010). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a tabulação dos resultados (Tabela 1), feita a porcentagem e o gráfico (Figura 1) podemos observar que na estação quente a ocorrência de lesão é o dobro em relação à estação fria, apesar disso, mais da metade dos animais não teve nenhum tipo de lesão, finalizando o processo de cicatrização normalmente. Tabela 1- Ocorrência de lesões de acordo com a estação do ano, expressas em valores absolutos e em porcentagem. Ocorrência de Lesões Número de Animais Porcentagem Verão 10 32% Inverno 5 16% S/ Lesão 16 52% Figura 1- Gráfico representando a porcentagem de ocorrências de lesões após a colocação dos brincos de rastreamento. A partir destes resultados podemos levantar a questão do período reprodutivo natural da mosca C. hominivorax ocorrendo a ovoposição e eclosão de seus ovos justamente nessa época, aumentando assim as chances da ocorrência da lesão. Além disso, as condições de calor e umidade da nossa região permitem que se crie um ambiente ainda mais favorável aos insetos, e naturalmente são fatores dificultantes do processo de cicatrização da pele. É preciso ainda observar a importância do posicionamento do brinco em relação às nervuras e vascularização da região da orelha, pois as portas de entrada para uma miíase poderão ser pequenos sangramentos no momento da colocação ou rasgos e atrofias posteriores que darão origem a ferimentos de maior gravidade ou perda total da orelha e funções auditivas como ocorre em Veríssimo C.J. em “Morte De Ruminantes Devido A Infecção Na Orelha Conseqüente À Miíase Causada Por Cochliomyia Hominivorax”. No caso de animais mais velhos em que o primeiro furo foi comprometido, o brinco precisa ser colocado em local menos apropriado, o que facilita a ocorrência de problemas de diversas naturezas com os brincos. A perda destes brincos descartados pela má colocação ou lesão representa um custo para o estado e uma dificuldade, custo e mão de obra para o produtor, que poderia ser evitado pela conscientização de importância destes detalhes que facilitam o manejo e o bom andamento do rebanho. 5 CONCLUSÃO Sem duvida, a estação quente é onde predomina a ocorrência de míases e lesões ao local da colocação de brincos em bovinos, primeiramente pela época reprodutiva do inseto causador da míase, seguidamente da maior dificuldade de cicatrização de ferimentos nos climas úmidos e quentes. Além disso, pode se destacar que o produtor precisa estar atento ao posicionamento do brinco na orelha do animal, que é onde pode ocorrer o sangramento ou um decorrente dano a orelha abrindo uma nova porta de entrada ao inseto. É através da combinação destes fatores que se pode observar os resultados apresentados no gráfico. A ocorrência de lesões na estação fria permanece, porem em menor proporção ao observamos o fator posicionamento do brinco e a umidade também típica do clima regional que persistem neste período. 6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS LOPES, M. A.; REZENDE, E. H. S. Identificação, certificação e rastreabilidade na cadeia da carne bovina e bubalina no Brasil. Lavras: UFLA, 2004. (Boletim Técnico, 58). Disponível em: <http://www.editora.ufla.br/BolTecnico/pdf/ bol_58.pdf> Acesso em: 20 jul. 2010. SCHMDECK, et al. Identificação- boas práticas de manejo, 2008, Funep Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/manual_de_identificacao.pdf > Acesso em 11 jun 2010. VITO, Elias S. Pecuária de Precisão. Departamento de Zootecnia, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2001 KAWANO, et al. CERTIFICAÇÃO ANIMAL: As implicações da rastreabilidade do gado bovino de corte. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo grande, 2003 ALLFLEX identificação animalmanejo, 2008, Disponível em: < http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:xj0sBdxeEDsJ:www.allflex.com.br/p t/identificacaoanimal/manejo.php%3Fpri%3DIden%26sec%3DMane+infec%C3%A7%C3%B5es+causadas +pela+m%C3%A1+coloca%C3%A7%C3%A3o+de+Brincos+em+bovinos&cd=10&hl=ptPT&ct=clnk&source=www.google.com > Acesso em: 11 jun 2011 DIÁRIO CATARINENSE, Brincagem para identificar animais livre da aftosa pode ter causado infecções em Santa Catarina, 2010 Disponível em: < http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:xLt9gw2Pe_EJ:www.clicrbs.com.br/ diariocatarinense/jsp/default.jsp%3Fuf%3D2%26local%3D18%26section%3DGeral%26news ID%3Da2923822.xml+infec%C3%A7%C3%B5es+causadas+pela+m%C3%A1+coloca%C3 %A7%C3%A3o+de+Brincos+em+bovinos&cd=5&hl=ptPT&ct=clnk&source=www.google.com> Acesso em: 11 jun 2011 VICENTIN, Carolina. Rebanho Controlado: Brasil se prepara para testar a segunda geração de chips de identificação de gado produzidos com tecnologia nacional. Além de melhorar o sistema de acompanhamento dos animais, o produto representa grande economia para os produtores. Correio Brasiliense. Brasília, p. 20, 22 dez 2010 CORREIO DO BRASIL. Rebanho brasileiro é o segundo maior do mundo. Disponível em: < http://correiodobrasil.com.br/rebanho-bovino-brasileiro-e-o-segundo-maior-domundo/192661/> Acesso em: 10 jun 2011 VERÍSSIMO, C.J. Morte De Ruminantes Devido A Infecção Na Orelha Conseqüente À Miíase Causada Por Cochliomyia Hominivorax. Disponível em: <http://www.biologico.sp.gov.br/docs/arq/V70_2/verissimo.pdf> Acesso em: 13 jun. 2011