A CONTRIBUIÇÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
AO PROCESSO DE PROJETO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Luiz Antonio do NASCIMENTO
Mestrando pela Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, travessa 2, n° 83, CEP 05508-900 São
Paulo (SP) Brasil - Correio eletrônico: [email protected]
Eduardo Toledo SANTOS
Doutor, Eng., Professor da Escola Politécnica da USP. Av. Prof. Almeida Prado, travessa 2, n° 83, CEP
05508-900 São Paulo (SP) Brasil - Correio eletrônico: [email protected]
RESUMO
A indústria da Construção Civil considerada tradicional e conservadora, com a popularização da
Internet, a globalização e com o aumento da competitividade no setor tem procurado inovar para
obter maior produtividade, qualidade e redução dos custos. Com os avanços tecnológicos nos
últimos anos, principalmente em Tecnologia da Informação, trouxeram mudanças no setor. Neste
artigo as principais mudanças ao longo do tempo são delineadas com vistas a mostrar um
panorama atual e as tendências do uso de Tecnologia da Informação no processo de projeto de
empreendimentos do setor da Construção Civil.
1. CONCEITOS BÁSICOS
1.1 Definição de projeto
O termo projeto pode ser definido de várias maneiras de acordo com o contexto em que está
inserido. Projeto pode ser definido como a idéia que se tem em executar ou realizar algo de forma
que atenda da melhor maneira possível as necessidades dos clientes em conformidade com seus
requisitos. Para Nobre (1999) projeto é definido em várias acepções como:
•
Acepção popular: intenção de realizar algo.
•
Acepção em economia: conjunto de informações internas e/ou externas à Empresa, obtidas
com o objetivo de analisar uma decisão de investimento.
•
Acepção na Construção Civil: conjunto de informações (desenhos, especificações, etc.) que
instruem a implantação de um empreendimento.
Em Tzortzopoulos (1999) projeto é definido em diferentes contextos por vários autores como em
Cross (1994) que entende que qualquer coisa a nossa volta que não seja parte da natureza foi
projetada por alguém. No mesmo trabalho, menciona-se que projeto foi definido por Lawson
(1983) como a produção de uma solução (ênfase no produto) e também como a resolução de
problemas (ênfase no processo). Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (1992) define
a palavra projeto como intento, desígnio, empreendimento e, em sua acepção técnica, um
conjunto de ações caracterizadas e quantificadas, necessárias a concretização de um objetivo;
Conforme a NBR 13.531 (ABNT, 1995), a elaboração de projeto de edificação se entende como a
determinação e representação prévias dos atributos funcionais, formais e técnicos de elementos
de edificação a construir, a pré-fabricar, a montar, a ampliar, etc., abrangendo os ambientes
exteriores e interiores e os projetos de elementos da edificação e das instalações prediais.
De maneira geral o ciclo de vida do processo de um projeto possui uma evolução típica conforme
a figura 1 onde I é Planejamento, II é Programação, III Execução, IV Verificação e V Manutenção.
Consumo de
recursos
I
II
III
IV
V
Tempo
Figura 1 - Ciclo de vida de um projeto. Adaptado de Nobre (1999)
1.2 Definição de tecnologia de informação
Tecnologia da Informação (TI) é o termo usado para o conjunto dos conhecimentos que se
aplicam na utilização da informática envolvendo-a na estratégia da empresa para obter vantagem
competitiva. Segundo Laurindo (1995) o termo trata das relações complexas entre sistemas de
informação, o uso e inovação de hardware, sistemas de automação, software, serviços e usuários.
Scheer et. al. (2001) mencionam as aplicações da TI abrangem as atividades da sociedade, onde
a interação do cidadão com o meio ambiente passa a ser intensivamente mediada por
computação e comunicação das informações. TI pode contribuir para a solução de problemas
empresariais, gerando informação efetivamente oportuna ou conhecimento e tendo como
objetivos o auxilio aos processos de tomada de decisão da empresa, determinar fatores
diferenciais de negócio e proporcionar lucratividade e competitividade (Rezende et.al, 2000).
2. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
A indústria da Construção Civil apesar de ser constituída de uma gama heterogênea de atividades
que vão desde o tipo fabril (edificações) até as terciárias de prestação de serviços (consultoria e
projetos) e quase financeiras (incorporações), possuem automatização com características
semelhantes. De forma geral vários autores de diversos paises e segmentos da Construção Civil
estimaram que com o uso de TI pode-se reduzir 30% do custo de projetos, (Micali, 2000). O
mesmo autor destaca que uma grande vantagem do uso da TI é na integração dos diversos
agentes da Construção Civil.
O setor tem sido forçado a inovar devido à globalização e à grande competitividade, apesar de
ainda haver grande atraso tecnológico em relação à outras industrias, decorrente principalmente
do conservadorismo e da lentidão em que ocorrem as mudanças na Construção Civil. Outro
problema na introdução de TI na Construção Civil segundo Toledo et. al. (2000) é que os riscos
em inovações tecnológicas são grandes comparados com outros setores, principalmente pelo fato
que eles são patrocinados pelo consumidor final, que terá que incentivar e ter um
comprometimento com a inovação.
Em Villagarcia et. al. (1999) a Tecnologia da Informação é classificada em 3 três categorias:
•
Comunicações:
abrangendo
telecomunicações...
•
Acessibilidade aos dados: abrangendo Eletronic Data Interchange (EDI), Computer Aided
Design (CAD)...
•
Sistemas comuns de processamento de dados: abrangendo sistemas especialistas,
conferencia eletrônica ...
redes
de
computadores,
correio
eletrônico,
Para Love et. al. (1998), os impactos da TI na indústria da Construção Civil, dependendo da
estratégia da empresa, pode:
•
aumentar a centralização do gerenciamento da empresa porque aumenta a capacidade do
processamento de informações de gerentes, permitido então centralizar mais decisões;
•
aumentar a descentralização porque reduz o custo de comunicação e coordenação,
enquanto permite decisões serem compartilhadas;
•
diminuir a hierarquia organizacional da empresa automatizando algumas funções da
empresa e facilitando a comunicação entre os níveis;
•
permitir aumentar a profundidade das hierarquias da empresa pela redução das demoras e
distorções proporcionadas pelo fluxo de informações entre os níveis;
•
ocasionar grande melhoria na coleta, armazenamento, análise e transmissão da
informação.
3. MUDANÇAS NO PROCESSO DE PROJETO DA CONSTRUÇÃO CIVIL COM O USO
DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
A divisão clássica do projeto em etapas seqüenciais com níveis de detalhamento crescente tem
mudado nos últimos anos com o uso ferramentas da Tecnologia da Informação. Neste texto foram
analisadas as contribuições que a TI deram no processo de projeto na Construção Civil. As
épocas não são exatamente iguais comparadas com outros setores da indústria. A análise é feita
a partir da década de 80 pois consideramos que não houve contribuições significativas da TI no
processo de projeto em épocas anteriores (com a utilização principalmente de rotinas
administrativas e financeiras com computadores de grande porte em grandes empresas e
eventualmente cálculo estrutural).
A partir da década de 80 com a utilização da micro informática houve uma contribuição no
processo de projeto com a automatização de tarefas especificas. Estas automatizações tornavam
as atividades já existentes do processo de projeto mais rápidas e eficientes além de permitir um
aumento do fluxo de informações a serem processadas. No começo essas ferramentas eram
genéricas como planilhas eletrônicas, sistemas de banco de dados e editores de texto.
Posteriormente foram utilizadas ferramentas especializadas para ajudar no desenvolvimento de
desenhos (CAD), na elaboração de orçamentos e no gerenciamento de projetos. Foram criadas
então as chamadas “ilhas de automação” onde diversas ferramentas eram utilizadas de forma
independente em departamentos ou em empresas distintas.
Na década de 90 as contribuições da TI no processo de projeto da Construção Civil permitiram
que vários sistemas começassem a se integrar. Sistemas CAD, por exemplo, eram comunicáveis
através de um formato neutro (DXF). Os softwares genéricos também possuíam opções de
vinculação e incorporação de objetos (OLE-Object Linking and Embedding) onde, por exemplo,
um editor de texto poderia incluir partes de um arquivo de planilha eletrônica e gráficos criados em
programa gráfico. Os departamentos foram comunicáveis através de redes de computadores e
sistemas cliente/servidor. Neste estágio os vários intervenientes do processo de projeto podiam
trocar mais facilmente seus dados. Algumas empresas implantaram projetos de reengenharia
onde ao invés de se apenas informatizar os processos, elas abandonavam a forma como vinham
operando e recriavam-lo completamente a fim de melhorar o processo utilizando a TI de forma
eficaz.
Atualmente com os avanços na área de comunicações e computação distribuída e a
popularização da Internet, os vários sistemas operacionais, administrativos e de gerenciamento,
são integráveis e colaborativos. Com isso pode-se aplicar a engenharia simultânea no processo
de projeto onde os sistemas permitem a troca e o gerenciamento das informações dos diversos
parceiros e diminuição no tempo de projeto com desenvolvimento de trabalhos em paralelo por
vários agentes. Com essas tecnologias há um grande aumento no nível de comunicação entre os
agentes ficando assim mais fácil integrar o projeto ao processo de produção pois podem ser
discutidos antecipadamente todas as etapas e elementos do ciclo de vida da construção, desde o
conceito inicial do projeto, tendo em vista qualidade, tempo e os requisitos dos clientes finais.
Neste contexto não é necessário terminar uma etapa para começar outra e apesar de evitadas, as
mudanças nos projetos podem ser feitas de acordo com as circunstâncias na obra. Para isto, é
necessária a ênfase no planejamento, controle, e no trabalho em equipe, para possibilitar o
desenvolvimento de atividades interdependentes e conduzidas por diferentes disciplinas. Desta
forma, o empreendimento deve ser desenvolvido de forma simultânea e iterativa, objetivando-se
integrar áreas separadas no espaço e no tempo.
4. PERSPECTIVAS DO USO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NA CONSTRUÇÃO
CIVIL
Acreditamos que uma das contribuições da TI será nos processos de Gestão do Conhecimento
nas empresas. Sendo que a Gestão do Conhecimento não é uma tecnologia e sim uma filosofia
de trabalho que deve estar ligada à estratégia da empresa a partir de algum programa existente
(TI, Qualidade, Reengenharia, etc.). O apoio da Tecnologia da Informação poderá ajudar na
coleta, armazenamento e distribuição do conhecimento. Acreditamos ainda que será popularizado
e consolidado a utilização de extranets de Projetos para o gerenciamento eletrônico dos agentes
do processo de projeto através da Internet e acreditamos também que será pratica mais comum a
utilização de e-marketplaces e e-procurements.
As extranets de Projetos são sistemas que fornecem uma memória construtiva para toda a cadeia
e não apenas para a construtora, podendo ainda padronizar o relacionamento entre os agentes e
retroalimentar o desenvolvimento de projetos futuros. As extranets possuem vários recursos que
ajudam na comunicação, coordenação e tomada de decisão rápida e oportuna. Estes sistemas
são baseados em tecnologias Business to Business que viabilizam a realização de transações
comerciais entre empresas através da Internet, prestação de serviços, troca de informações
estratégicas e a substituição de práticas como as de tirar fotocópias, envio de fax e uso de correio.
Nestes sistemas, os documentos de projetos e o fluxo de trabalho são gerenciados,
compreendendo desde suas etapas iniciais de verificação de viabilidade até o término da obra,
proporcionando informações aos intervenientes vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana. O funcionamento do sistema está baseado no fato de existir um ambiente exclusivo para
o projeto, onde tanto o gerenciador quanto os vários intervenientes multidisciplinares (arquitetos,
engenheiros, fornecedores e construtores), poderão armazenar, visualizar e alterar arquivos
relacionados ao projeto. As extranets de projetos são meios que permitem centralizar, administrar,
controlar o fluxo de informações e tornar acessível, via navegador de web sites, o resultado do
trabalho dos diversos profissionais e empresas envolvidos no processo. As extranets permitem
integrar empresas com clientes, parceiros e fornecedores e permitem uma redução no tempo e
esforços necessários para a transferência de informações através da aproximação virtual dos
intervenientes do processo. Resolve o problema dos longos períodos de espera por informações
durante o processo de projeto que pode ser atribuído ao fato que, algumas vezes, o produto de
cada subprocesso é enviado ao próximo subprocesso em grandes lotes. Resolve também os
problemas das perdas ao longo do processo pela incompatibilidade entre as ferramentas
computacionais utilizadas por diferentes projetistas que causam transtorno entre agentes pela
necessidade de adequação manual de dados causando perda de tempo e retrabalho. Nas
extranets é possível a visualização e alteração de vários tipos de arquivos.
O e-marketplace é um mercado virtual criado a partir de um portal na Internet que funciona como
ponto de encontro entre fornecedores e empresas de um mesmo segmento, que podem competir
entre si e agregar valor aos negócios. Nos e-marketplaces toda a cadeia produtiva fica reunida em
um mesmo ambiente virtual facilitando e agilizando as transações entre parceiros.
O e-procurement é parecido com o e-marketplace porém é focado em fornecedores. Neste
sistema através dos serviços de um site na Internet é eliminada a grande quantidade de papelada
e ligações telefônicas nos processos de compra permitindo a cotação de vários produtos e
serviços na Web pelas melhores condições e preços.
Outras tecnologias que acreditamos que sejam aprimoradas e que tenha seu uso intensificado em
um prazo mais longo são a robótica, o CAD Inteligente (sistema paramétrico e variacional),
modelagem 4D, e-business intelligence, redes neurais, lógica fuzzy, sistemas especialistas,
Machine Learning, Data Warehouse e Data Mining.
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a contribuição da tecnologia da informação ao - EESC