O Caminho da Graça
Que enfermidades em nós são para a morte?
Caio Fábio
Primeiramente vamos ler no evangelho de João, capítulo 11, versos 1 a 11:
“Estava enfermo Lázaro, de Betânia, da aldeia de Maria e de sua irmã Marta. Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava
enfermo, era a mesma que ungiu com bálsamo o Senhor e lhe enxugou os pés com os seus cabelos. Mandaram, pois, as
irmãs de Lázaro dizer a Jesus: Senhor, está enfermo aquele a quem amas. Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta
enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado. Ora,
amava Jesus a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. Quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois
dias no lugar onde estava. Depois, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia (onde ficava Betânia, o lugar
onde esses três irmãos moravam). Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e
voltas para lá? Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz
deste mundo; mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz. Isto dizia e depois lhes acrescentou: Nosso amigo
Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo.”
Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e por
vossa causa me alegro de que lá não estivesse, para que
possais crer; mas vamos ter com ele.
É interessante que aqui se diz que os
amigos de Jesus mandam informar a ele
que Lázaro, a quem ele amava tanto, com
quem tinha uma relação íntima de amizade
– bem como com as suas irmãs – estava
enfermo, e Jesus, sabendo dessa notícia,
permaneceu mais dois dia no lugar onde
estava. E quando as irmãs de Lázaro
mandaram a notícia, fizeram questão de
mencionar o vínculo de amor do qual elas
tinham certeza. Não de um amor universal,
mas de um amor que criara processo de
particularidade, de singularização de
amizade entre Jesus e aquela casa, Jesus e
aquele homem: Senhor, está enfermo
aquele a quem amas. E Jesus, ao receber a
notícia, disse: Esta enfermidade não é para
morte. Embora o verso 14 afirme que Jesus
teve que lhes dizer claramente: Lázaro
morreu.
“Esta enfermidade não é para morte”. Mas
“Lázaro morreu”. O que isso quer dizer? Um
intérprete literário e histórico iria dizer: ora,
Jesus disse que aquela enfermidade não
era para a morte e depois acrescentou que
Lázaro morreu, apenas porque ao dizer que
a enfermidade não era para morte ele tinha
em mente o fato de que ressuscitaria
Lázaro da morte. Mas isso não explica o
fato de que Lázaro morreu. Se Lázaro foi
ressuscitado – como foi, depois de quatro
dias morto, putrefato, absolutamente mal
cheiroso e em franco e insuportável
processo de decomposição – foi
ressuscitado porque morreu. E se morreu,
morreu. Mas Jesus disse: Esta enfermidade
não é para morte.
Ora, se Jesus disse: esta enfermidade não e
para morte, mas Lázaro morreu, Jesus não
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No
prosseguimento,
os
discípulos
pensaram que Jesus havia dito que Lázaro
tinha entrado num sono, num estado de
hibernação. Não tinham entendido que
Jesus falara que Lázaro morrera. E o verso
14 acrescenta:
O Caminho da Graça
ressuscitado Lázaro de entre os mortos. Ele
poderia não ter ressuscitado Lázaro de
entre os mortos e continuaria valendo o
que ele disse aqui: “Esta enfermidade não é
para morte” embora Lázaro, depois, tivesse
morrido. Porque aqui Jesus está nos
dizendo que as enfermidades que matam o
corpo não são as que matam o homem.
Nosso amigo Lázaro está enfermo, mas esta
enfermidade não é para morte. Lázaro
morreu, mas não morreu daquilo que mata
o homem.
Fica
absolutamente
claro
que
é
exatamente isso que Jesus está querendo
dizer, quando nós viramos a página e
lemos no verso 25, quando Jesus disse a
Marta, irmã de Lázaro: Eu sou a ressurreição
e a vida. Quem crê em mim, ainda que
morra (morra no corpo, e continue morto
no corpo, e seja sepultado no corpo),
viverá. Viverá não porque ressuscitará
imediatamente. Ressuscitará um dia, mas
ainda que morra, por mais que esse estado
de morte o transforme em poeira ou em
cinzas jogadas sobre o Projac, “se crê em
mim, ainda que morra, viverá”, não sofrerá
descontinuidade, entrará na vida, não
saberá que morreu, será um ignorante
acerca da morte. Porque só saberá da vida,
não da morte. Saberá da vida, da vida; da
vida que é, da vida com a qualidade do que
é vida. Vai entrar na vida. Na vida com a
qualidade eterna, na vida absolutamente
imersa em amor, em entendimento, em
compreensão, em infinitudes crescentes e
eternas no conhecimento de Deus, de si
mesmo e da natureza de todas as coisas; e
numa relacionalidade absolutamente digna
da Trindade, digna do amor do Pai pelo
Filho, do Filho pelo Espírito, do Espírito
pelo Pai como Jesus disse que seria: Para
que eles estejam em nós e nós neles, e o
meu amor, o nosso amor seja neles
aperfeiçoado; para que eles provem a
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estava se referindo ao fato de que tiraria
Lázaro da morte. Ele estava sendo
extremamente mais sutil ao dizer que
aquela enfermidade da qual Lázaro viria a
morrer e da qual Jesus o tiraria ressurreto
de entre os mortos, não era o tipo de
enfermidade que matava. Não era aquilo
que matava qualificadamente com o
conceito de morte que Jesus designava
como sendo morte. Por isso ele disse: esta
enfermidade não é para morte, mas Lázaro
morreu. Porque Lázaro não morreu do que
matava. Jesus iria ressuscitá-lo, mas iria
ressuscitá-lo de algo que não havia matado
Lázaro; apenas tinha feito Lázaro morrer,
mas não havia matado Lázaro. Matara uma
dimensão de Lázaro, matara o casulo de
Lázaro, matara a corporificação de Lázaro,
matara o organismo de Lázaro, matara o
corpo de Lázaro, matara os aparatos de
natureza espaço-temporal de Lázaro. Mas
não matara Lázaro. Assim como o
Evangelho tem esse conceito anunciado e
repetido por Jesus toda hora: de que se o
teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o,
lança-o de ti, porque é melhor entrares
inteiro na vida do que tendo dois olhos
seres deixado fora; se a tua mão direita te
faz tropeçar, corta-a, lança-a de ti, porque é
melhor tu entrares maneta, na vida, mas
com a tua interioridade inteira, do que com
a corporalidade plena estares amputado, tu
mesmo no teu eu, da possibilidade de
entrares na vida. Se a tua perna te faz
tropeçar, ele diz a mesma coisa: corta-a,
porque essa amputação não te destituirá
do teu eu, da tu plenitude, daquilo que
qualifica a vida segundo Deus; será uma
amputação que não te amputará.
Igualmente, no texto que lemos ele diz:
Nosso amigo Lázaro morreu; mas essa
enfermidade que fez Lázaro morrer não é
enfermidade do tipo que Jesus classifica
como mortal. Não porque ele tenha
O Caminho da Graça
Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.
E todo aquele que, vivendo no corpo, crê
em mim (todo aquele que esteja
apresentando atos de volição, de vai e
vem), esse, quando morrer, não morrerá,
eternamente. Crês isso? No primeiro caso, o
que ele está dizendo é: Se você encontrar
alguém que crê em mim, e ele tiver
morrido, saiba: nada morreu, exceto o
casulo. Porque ele viverá; e viverá em
seguida, e viverá continuamente. E um dia
ressuscitará em plenitude, na integração de
todas as dimensões da natureza, num
único corpo glorificado, segundo o corpo
do Jesus ressuscitado. E no segundo caso o
que ele diz é: todo aquele que estando vivo
hoje, e crê em mim, saiba: esse não morrerá
jamais, não conhecerá, eternamente,
qualquer que seja a experiência da morte.
Agora, alguém poderia perguntar: Mas essa
não é uma conversa extremamente
adequada para UTI, para hospital, para
clínicas geriátricas ou para gente de idade
avançada? Vira essa boca para lá, porque
eu não gosto de falar neste assunto, Caio.
Mas eu tenho de lhe dizer é que é
justamente o contrário. O ideal é que esse
tema da morte fosse resolvido cedo, na
existência humana. Nossas crianças não
pensam na morte, porque não têm nem
condição psicológica de imaginar a morte,
de tão idílico, de tão mágico, de tão
fantasioso, de tão imortal e de tão lúdico
que é o mundinho psicológico delas; vindo
elas apenas a constatarem a morte quando
um pai, ou uma mãe, ou um irmão ou um
vovô queridíssimo morre dentro de casa, e
elas levam aquele susto, do contrário elas
não têm nem estrutura filosófica para essa
construção. E nesses dias de ascetismo e de
assepsia familiar em relação a varrerem, a
limparem a ideia da morte na cabeça das
crianças, elas vão ficando muito mais
abobalhadas
em
relação
a
essa
necessidade de consciência, muito para
além do tempo normal. Até que chega a
adolescência e se começa a ter notícias de
mortes, de mortes, além da própria
mudança hormonal, que vai fazendo o
indivíduo virar aquele ser estranho e
complexificado: crescem coisas esquisitas
nele, e pelos, e caroços, e acontecem
mudanças, alongamentos, mudanças de
voz, seios doem, e outras partes também, e
sangra, e outras coisas mais; e além disso
vêm as convenções sociais, que começam a
dizer: olha, menino, você tem três anos
para passar nesse vestibular, tem dois, tem
um – começam contagens regressivas de
natureza de convenção social.
Aí, dependendo da sociedade e da família,
a pessoa (o jovem, a jovem)começa a olhar
para aquilo tudo e inicia-se um processo
forçado de contagem regressiva: que ela
tem que ir atingindo alvos, alcançando
metas que são estabelecidas como
progresso e evolução na vida, mas que
psicológica
e
inconscientemente
funcionam como uma contagem regressiva
para a morte. De modo que, enquanto a
juventude diz: “eu tenho que progredir”, há
um mecanismo inconsciente que diz:
“corre, corre, corre, corre, senão você vai
morrer!”. Aí é quando o indivíduo que
tomar todas, provar todas, beijar todas, sair
com todas, se sacudir em todas, ver tudo, e
obter tudo. Porque inconscientemente
surge essa sofreguidão que nós apelidamos
de vontade de viver, mas, de fato, deveria
ser designada psicologicamente como
fobia latente do morrer: “vai acabar, e eu
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relacionalidade conosco, e uns com os
outros, e com eles próprios, com a
qualidade com a qual eu e o Espírito, Pai,
contigo provamos. Esse é o amor, essa é a
experiência, essa é a vida que eu quero que
eles provem.
O Caminho da Graça
No entanto, Jesus nos diz que ele veio ao
mundo para destruir aquele que tem o
poder da morte na nossa vida. Conforme
está dito em Hebreus, capítulo 2, versos 14
e 15. Era a isso que eu me referi quando,
inicialmente, afirmei que esse tema da
morte, ao contrário do que pensam alguns,
não deveria ser tema de UTI, de hospital ou
da velhice, mas deveria ser muito
previamente resolvido, na existência
humana. Porque Hebreus 2:14 e 15 diz que
além de vir a este mundo para construir
milhões de coisas, Jesus veio também para
destruir, dentre outras coisas, aquele que
tem o poder da morte na vida da gente, o
poder de nos tiranizar com o medo da
morte, e que usa a fobia da morte, o medo
da morte, para nos emular nessa
sofreguidão
angustiada,
que
vai
destroçando o nossa vida, que vai
corrompendo a nossa vida, que vai
promiscuindo a nossa vida, que vai nos
fazendo vender a alma, que vai nos
fazendo negociar valores, que vai nos
fazendo atropelar amigos, que vai nos
fazendo matar a consciência para obter
coisas, que vai nos fazendo correr atrás do
vento de modo cada vez mais alucinado.
Porque esse tirano nos tange com essa
vara, com essa espada. E Jesus veio destruir
esse poder dele sobre nós, quando venceu
a morte, quando nos diz: esta enfermidade
mata o corpo, mas não mata o homem; ou:
esta enfermidade não é para morte; ou:
aquele que crê em mim, ainda que morra,
viverá, e todo aquele que vive e crê em
mim não morrerá, eternamente. Quem crê
nisso fica livre desse fustigamento, desse
desespero; para essa contagem regressiva,
essa sofreguidão angustiada de dizer “eu
estou perdendo vida”. Porque inverte-se a
ampulheta: você não está perdendo vida,
você está andando, todo dia, para a vida; e
não andando para a morte! Muda-se tudo
na compreensão, quando entra em nós a
verdadeira consciência de Jesus e do que
Jesus chama vida, do que o Evangelho
ensina; e quando esse crer em Jesus não é
crer em um nome, não é crer em uma
figura histórica, não é crer em uma
historinha sobre alguém divinamente
fabuloso que passou por aqui, mas é crer
de fato na palavra dele e viver conforme a
palavra e o ensino dele, aprender com ele.
Crer nele é incorporá-lo. Crer nele é
aprender que o amor é a alma e o espírito
de tudo o que Deus chama vida; é aprender
que o perdão é a terapia que nos qualifica
para tudo o que Deus chama vida; é
aprender que não odiar é o que nos salva
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tenho que experimentar!”. E o pretexto que
a gente dá é: “daqui a pouco vai ficar fora
de hora, daqui a pouco eu serei forçado a
casar, senão eu não chego na etapa dos
trinta com isso resolvido; daqui a pouco eu
terei que gerar filhos, porque isso faz parte
de uma programação convencional, de
expectativas de pais, de amigos, de
familiares”. Todas essas coisas vão se
transformando em temas da nossa procura
de alcance de alvos. E antagonicamente, ou
mesmo paradoxalmente, ou, ainda,
ambivalentemente, com esse progresso se
estabelece, de maneira latente e
inconsciente, uma contagem regressiva,
uma fobia do morrer, uma virada da
ampulheta; uma sensação de que vai
passar e que vai chegar a hora em que
muitas das coisas que a gente define como
direito de viver vão estar restringidas pelas
imposições sociais, pelas impossibilidades
relacionais, ou pela inadequação da nossa
faixa etária àquele tipo de experiência ou
de expectativa, pois grande seria o
julgamento dos outros, ou o julgamento
que faríamos acerca de nós mesmos, acerca
do nosso atraso em relação à vida. Por isso
a ansiedade e a sofreguidão.
O Caminho da Graça
“Quem crê em mim, ainda que morra,
viverá; e todo o que vive e crê em mim não
morrerá, eternamente”. Quando isso se
instala em nós é destruído esse poder do
tirano, essa vara do diabo que de dia e de
noite nos fustiga: o que é isso, menina, tá
perdendo tempo; pega, vai, prova, sente
isso! E a pessoa pergunta: Mas para quê? E
ele diz: Para sentir! Vai ficar sem sentir isso,
para saber como é? Vai lá, vai lá, porque a
morte está chegando, vai! Aí, todo mundo
dá a cordinha e vai, como um boneco:
tenho que ir, tenho que ir, tenho que ir! E
vai. E vai largando os pedaços, vai se
atropelando, vai se arruinando. É uma
desgraça.
Jesus veio para destruir aquele que tem o
poder da morte, a saber: o diabo. E para
livrar aqueles que estavam sujeito à
escravidão por toda a vida, pelo pavor, pelo
pânico da morte. A síndrome do pânico é a
síndrome do desamparo, mas a síndrome
do pânico mais essencial é a síndrome do
pânico do morrer, que essa está na base de
todos os pânicos humanos, é o medo de
um desamparo absoluto. E Jesus veio
destruir isso.
“Quem crê em mim, ainda que morra,
viverá; e todo o que vive e crê em mim não
morrerá, eternamente. Crês isto?”. Mas esse
“mim” de Jesus, esse “eu” de Jesus não é
um objeto, não é uma crença, não é fazer o
sinal da cruz, mandar beijinho para Jesus.
Não é isso. Quem crê nele crê na palavra
dele. E a palavra dele diz: Ame o seu
inimigo, ore pelo que persegue você, não
se vingue; seja a sua palavra sim, sim, não,
não; reconcilie-se com o seu irmão
enquanto você está com ele a caminho;
não jogue suas pérolas aos porcos; viva
com sinceridade tudo o que você for viver,
viva diante de Deus, com transparência e
verdade; erga sua vida na rocha das minhas
palavras; não se impressione com as
aparências, ande segundo a reta justiça;
aprenda que o sábio é o humilde, que
aprende, aprende, aprende e não se deixa
acabar jamais, no processo de aprender; o
que herda tudo é o manso; o que tem
prazer em manter a mente limpa é o que vê
a Deus; o que busca reconciliar pessoas é o
genuíno filho de Deus; o que não negocia a
sua alma com nada, e que é perseguido
quando pratica a justiça, mas não fica
amargurado, esse já é habitado pelo reino
dos céus, e quando é perseguido
injustamente e não se autovitima, antes
ergue a cabeça e considera um privilégio
estar vivo para viver a alegria da verdade
em amor, esse é o feliz, que ainda que
morra, viverá. E o que vive assim não vai
conhecer o que é morte, nem morrendo.
Vai deixar uma carcaça para que chorem
em cima aqueles que gostavam dele, mas
ele mesmo não vai dizer: Ih, morri! Ele vai
dizer: Ih, vida! (nós sempre pensamos que a
pessoa que morre diz: Ih, morri! Quem diz
isso é quem não creu nele; mas quem crê
nele diz: ah, vida, vida, vida, vida!). Vai dizer
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de tudo aquilo que Deus chama morte.
Crer nele é aprender que não viver ansioso
de coisa alguma é aquilo que nos coloca no
caminho da confiança, que nos mergulha,
dia a dia, na certeza do cuidado do amor de
Deus; e por inferência nos faz entrar cada
dia mais profundamente na consciência do
cuidado de Deus por nós, arrancando de
nós a força de milhões de neuroses, de
pânicos e de medos instalados; parando os
processos de contagens tiranicamente
diabólicas que nos empurram na direção
das conquistas mundanas que afundam a
nossa alma na ansiedade de um ter que nos
destitui o ser e que não nos deixa ter paz
para viver, enquanto nós largamos os
pedaços de nós mesmos no caminho.
O Caminho da Graça
No entanto, não é sobre isso que eu quero
falar aqui, mas, sim, sobre essa primeira
afirmação de Jesus: “Esta enfermidade não
é
para
morte”.
Porque
existem
enfermidades que são para morte. E em
geral elas não dão em gente que está
doente. Elas atingem, especialmente, gente
que se sente muito saudável – o indivíduo
está ali numa plenitude de todas as suas
forças, e Jesus está dizendo: Puxa, esta
enfermidade é para morte! Mas ele não
precisa ser diagnosticado com mal nenhum
no corpo; ele está sadio de morte. Está
absolutamente sarado de morte.
Que enfermidades são essas, segundo
Jesus, de acordo com essa lógica do
Evangelho – que é diferente da lógica do
mundo? A lógica do mundo é a lógica da
pedagogia do diabo, que quer que a gente
creia do jeito que o mundo nos apresenta o
conceito de vida e de morte: que morte é o
que mata o corpo, e vida é o que prolonga
e dá longevidade. Mas para Jesus morte é o
que mata o espírito, a consciência; e vida é
o que mantém a consciência em estado de
amor, de graça, de perdão, de alegria, na
certeza de que passou da possibilidade da
morte para a vida; e tenta, enquanto está
existindo no corpo, viver a vida com a
qualificação do amor de Deus. Porque Deus
é amor. Amor é vida. Vida, segundo Deus, é
amor. E quem quer que queira viver a vida
de Deus, ama. Aquele que ama tem a vida
de Deus. Aquele que não ama não tem a
vida de Deus, porque Deus é amor. E o que
não for assim é engano maligno, e não é
Evangelho.
Mas se a enfermidade de Lázaro não era
para morte, e Lázaro morreu, eu fico me
perguntando sobre aquelas enfermidades
para morte que fazem a pessoa continuar
vivendo no corpo; enganadamente
saudável, andando para a morte. Quais são
essas enfermidades que matam realmente?
Nenhuma das que matam o corpo mata o
espírito. Se alguém morrer de Aids, qual é,
imediatamente, o vaticínio do pastor
bruxo, do púlpito, numa igreja maluca
dessas religiosas, por aí? “Morreu de Aids?
Eu tenho uma pergunta a fazer: ele
levantou a mão, na UTI, para receber a
Jesus como único Senhor e Salvador? Foi
batizado? Fez a confissão?”. Se alguém
disser que não, ele diz: “Então, coitado, está
no inferno!”. Ou mesmo se alguém morrer
de outras coisas. Se morrer de gripe, mas
morrer desviado da igreja, foi de gripe para
o inferno. Que é também um outro
conceito do inferno, do diabo, entre nós; é
o que a religião usa para assustar as
pessoas e afastá-las do significado da vida
em Cristo e do conceito do que é morte,
que é não estar vivendo a vida com a
qualidade da vida de Deus enquanto se
vive, enquanto existe; e depois da
existência atual, é continuar no mesmo
estado, para sempre.
Portanto, de acordo com Jesus, de acordo
com o Evangelho – por exemplo, a 1a
epístola de João, capítulo 3 verso 15 – todo
aquele que odeia a seu irmão é assassino, e
que o assassino não tem a vida eterna em si
mesmo. Então, essa é uma doença que
mata. O indivíduo pode estar pulando na
olimpíada, salto à distância, mas cheio de
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“vida” eternamente; “morte”, nunca.
Porque a morte já morreu para ele. Ainda
que morra, viverá. E todo o que vive crendo
nisso não morrerá, eternamente; não sabe
o que é morte, nunca mais. Agora, imagine
que poder maravilhoso é esse! Quando isso
deixa de ser um conjunto de palavras e
passa a ser a convicção mais entranhada do
nosso ser, a revolução absolutamente
poderosa e libertadora que isso causa na
existência de um ser humano.
O Caminho da Graça
Abrindo em Gálatas 5 você também verá as
enfermidades que matam para morte. São
todas aquelas que nós chamamos de
direito do viver.
Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição,
impureza, lascívia,idolatria, feitiçarias, inimizades,
porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,
invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a
estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já,
outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus
os que tais coisas praticam.
Vá lá no bar Garota de Ipanema e leia esta
lista de Gálatas, que todo mundo vai dizer:
“é natural, cara, o sujeito estava vivo; essa é
a coisa mais humana que existe!”. Dê uma
chegada num dos bares bem filosóficos de
Paris, dos dias de Jean-Paul Sartre, Simone
de Beauvoir, e leia esta lista. O pessoal vai
dizer: “olha, a moçada aqui toda praticava
esse negócio, porque, afinal de contas, a
gente está vivo, meu amigo; isso é um
direito do viver”. Vá onde você queira e leia
esta lista, que todo mundo vai designar
essas coisas como “condição humana”. Mas
que Paulo chama de obras da carne, obras
do mamífero, do animal humano, terreno,
animal demoníaco expressando o seu
espírito predador, o seu culto egolátrico, a
sua fome devoradora e devastadora, e
dizendo: “essas pulsões são minhas, e
porque são minhas eu tenho direito a
exercê-las; quem não as sente, não as
sente; quem as sente, as viva, e quem for
politicamente correto, adapte-se, porque
elas são direito do viver, do existir”. E
quando existem pessoas que viveram de
acordo com isso que Paulo chama aqui de
obras do boneco de carne, do ser pulsional,
do ser almático, que viveu para extravasar –
ainda que poeticamente – em todas as
direções a sua animalidade descontrolada,
outros dirão, muitas vezes: “que pena que
ele viveu pouco, porque, de fato, viveu
bem, viveu intensamente; se degradou
numas coisas, morreu aos quarenta e três
anos, mas a gente tem que reconhecer que
viveu com uma intensidade maravilhosa,
uma sofreguidão que, somados os
acontecimentos da experiência dele (ou
dela), ele teria trezentos e noventa anos de
experiência!”. Mas morreu para morte.
As obras da carne são conhecidas – todo
mundo conhece, está para todo lado. E são:
Prostituição – a menor de todas é a da
faminta, com filhos em casa, e que vai para
a esquina rodar uma bolsinha, com um
shortinho cavadinho, mostrando tudo. Essa
é a menor prostituição. Mas há outras
terríveis, como a daquela promiscuidade
pela promiscuidade; ou aquela prostituição
que eu conheço em vários lugares, da
pessoa que diz: “vou ficar com ele porque
ele tem grana”. Impureza – aquela entrega
mental e psicológica à sofreguidão de
todos os experimentos possíveis. É a isso
que se chama de impureza. Lascívia – é o
que acontece no estado mental que vive
lambendo tudo aquilo que no pensamento
o indivíduo possa, porque, muitas vezes, do
lado de fora ele não tem a coragem de se
expor nesse nível, mas a mente dele é
absolutamente lasciva e cobiçosa.
Idolatria – que significa não apenas
idolatrar objeto, mas, sobretudo, começa
no culto ao ego. É, em primeiro lugar, a
centralização de todas as coisas em mim. E
em segundo lugar significa a inversão de
valores e significados das coisas, atribuindo
significados absolutos àquilo que não tem
valor: do dinheiro até qualquer outra coisa,
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ódio. Pode ser um Phelps na natação,
dizendo: eu vou ganhar por ódio! E está
nadando para a morte, com uma saúde
extraordinária. Porque se odiar, está
sofrendo de uma enfermidade que mata
para a morte, mesmo.
O Caminho da Graça
Inimizades – que a pessoa diz: “eu tenho
direito a essa inimizade, já fui ofendido
demais, não sou Cristo!”. É o último
argumento do santo que sucumbe ao ódio:
“Deus me perdoe, mas eu não sou Jesus;
essa inimizade eu tenho direito de nutrir, já
fui ofendido e humilhado demais, agora
não cedo mais, não tenho sangue de
barata, em mim eu tenho é o sangue do
Cordeiro!”. Não, meu filho, minha filha, é
sangue de bode que está aí em você.
Porfias – disputas, competições: quem é
que chega primeiro, quem é que aparece
primeiro, quem é que é mais bem visto,
quem é que é mais bem encarado, quem é
que é mais admirado, quem é que ganha
mais, quem é que consegue mais, quem é
arregimenta mais. Porfias.
Ciúmes – a pessoa diz: “isso é meu, e
ninguém tasca”. Quem possui, possui,
possui. Sanguessuga da alma do outro,
proprietário do outro, que surta pelo outro,
não dando liberdade ao outro de ir se
quiser ir e não quiser ficar com a pessoa.
Iras – de todos os tipos, desde subitezas
atrás de subitezas iradas, até àquelas iras
crônicas. Discórdias – são os corações em
desacordo
permanente,
mantendo
compromisso com a dissonância do
coração contra o próximo. Dissensão – que
é a busca pelo desacordo mental, para
estabelecer a discussão, a confusão, a
gritaria, ou o silêncio sepulcral. A Facção –
que divide, que parte, que bota uns contra
os outros. As invejas – quando a pessoa
não para de admirar adorativa e
diabolicamente o que o outro seja, possua
ou consiga.
As bebedices – que não têm a ver com a
quantidade de alguma coisa que você
bebeu, mas têm a ver com a sua
necessidade de alterar a sua consciência,
de amortecer a sua lucidez, de tirar de você
o senso da verdade; de fazer com que os
sentidos e os sensores dos significados da
realidade se amorteçam em você pela sua
covardia de encarar a realidade. E as
glutonarias – que são uma vida
concentrada do prato à boca, ou da
genitália à boca: é o hedonismo em todos
os seus sentidos, em toda perspectiva de
autossatisfação idolátrica.
E Paulo conclui: “e coisas semelhantes a
estas”. Coisas que nós chamamos de direito
de vida, que estão defendidas na
Constituição, cada uma delas: Todo
homem é livre; para isso aqui. E coisas
semelhantes a estas, a respeito das quais
eu vos declaro, como já, outrora, vos
preveni, que não herdarão a vida; que
quando morrerem, mortos ficarão. Porque
essas enfermidades são para morte. Essas
matam. O câncer não mata; mata apenas o
canceroso que no coração não creia em
Jesus. E não crer nele não significa não crer
no Jesus da História, ter uma informação
histórica de Jesus e do Evangelho. Porque
tem gente nas ilhas mais distantes, nos
lugares mais alienados, nas tribos mais
perdidas, que nunca ouviram falar no nome
“JESUS”, mas no coração, misteriosamente,
carrega a fé na vida segundo Deus, na vida
segundo Cristo. Porque aquele que ama é
de Deus, conhece a Deus, é nascido de
Deus, porque Deus é amor. E quem não
ama, esse pode dar aula na escola
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até à idolatria afetiva. Feitiçarias – que vão
das casas de poções e de tentativas de
manipular o mundo e a mecânica espiritual
para alterar a vida de pessoas com tais
poderes, à tentativa de sedução, do
charme, de manipulação, de mentira, de
tudo aquilo que seja poção de natureza
psicológica ou de qualquer outra influência
que aja alterando o caminho humano. Até
o marketing.
O Caminho da Graça
Enfermidade para
morte é
ódio;
enfermidade para morte é a egolatria
hedônica; enfermidade para morte é a
opção que a gente faz por promiscuir o ser,
por dissolver a essência da gente de modo
que ela não tenha mais a capacidade do
foco do amor, e a gente se dissolva indo em
todas as direções do que signifique apenas
objetização do outro, num desvalor total
da nossa vida, num desamor pela própria
vida, a nossa e a do outro. Enfermidade
para morte é esse culto à impureza, ao
desejo mais inconfessavelmente louco, que
vai tomando espaço na nossa mente sem
freio, estimulada pelo culto àquilo que a
gente chame de prazer da nossa própria
vida, ainda que seja um desgosto
horroroso para a existência dos demais. São
aquelas coisas que só habitam onde o amor
não habita, essas são as enfermidades para
a morte. Porque onde existe o amor não há
prostituição, onde existe amor não existe
lugar para impureza, onde existe amor não
existe espaço para ira, discórdias, facções,
porfias, ciúmes, invejas; onde existe amor
não há o lugar da acumulação para
glutonaria, existe, sim, o espaço da
solidariedade que compartilha. Por isso é
que essas coisas matam. Porque onde elas
estão não há amor, porque onde há amor
elas não podem existir. É tão simples de
entender, por que é que você quer fugir da
verdade? Crês tu isto?
Hoje nós vamos participar da mesa do
Senhor. Tem gente aqui que pode até estar
doente de alguma coisa fisicamente.
Temos várias, aqui, que sofrem de algum
diagnóstico médico, de coisas pequeninas
ou grandes. Mas essa enfermidade não é
para morte. Você não vai morrer disso
nunca, ainda que eu sepulte você. Veja
como Jesus fez questão de banalizar essa
enfermidade que não era para morte,
ficando mais dois dias onde estava,
andando mais dois dias para o lugar onde o
defunto estava, chegando lá com quatro
dias já que a pessoa estava morta. Porque a
enfermidade não era para morte. Mas as
que são para morte ele tem uma pressa
enorme em socorrer: Para com isso, que
isso mata.
E eu quero falar especialmente a você, que
sofre de um diagnóstico médico: Jesus
amava
aquele
enfermo.
E
ainda
permaneceu mais uns dias onde estava,
antes de ir. E deixou o amigo morrer.
Porque a amizade de Jesus conosco não é
qualificada pelos nossos impedimentos de
ficarmos enfermos, ou pela pressa dele em
não permitir que alguém morra. Pois estava
enfermo a quem ele amava e ele disse:
“Nosso amigo Lázaro adormeceu”. Porque
para Jesus essa morte física é um soninho,
um cochilo do casulo até a ressurreição.
Porque não mata o ser que é. E nem é algo
que grite diante de Deus que se não for
curado Deus está sinalizando que não nos
ama. Porque Deus ama a milhões de
pessoas que hoje estão morrendo de
doenças que não matam, aqueles que
morrem para a vida! A angústia de Deus é
por aqueles que estão vivendo para a
morte e por aqueles que estão morrendo
para a morte, porque existem naquilo que
mata.
Lendo em Efésios, nos capítulos 4 e 5, nós
vemos Paulo falando a mesma coisa: longe
de vós toda ira, e ódio, e gritaria, e
chocarrices, e torpeza interior, e impureza,
e maldade, e malícia, e perversidade, e
antipatias. Porque essas são as realidades
que nos imergem nas trevas. E ele conclui
dizendo que o grito de Deus é equivalente
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dominical, ser catedrático de seminários,
saber tudo sobre o Jesus histórico, mas está
doente de uma enfermidade para morte.
O Caminho da Graça
Hoje, meu amigo, minha amiga, em
qualquer lugar, eu quero que você se
pergunte: Quais são as enfermidades da
morte que estão presentes na minha vida,
no meu coração?
Lázaro morreu sem conhecer a morte,
ressuscitou sem saber o que era a morte. A
última pessoa para você, observando, saber
como é morrer, era Lázaro. Se você pudesse
entrevistá-lo e perguntar: Lázaro, como é
morrer? Ele iria responder: Eu não tenho a
menor ideia, eu só sei como é viver. Você
quer saber é daquele tempo em que eu
estava com aquela febre, me sentindo
muito mal? É um horror, mas disso você
também sabe. De repente, eu vi Jesus, em
um outro lugar – estranho, porque ele
estava aqui, não é? Mas eu encontrei com
Jesus, quando eu estava doente; ele está
aqui e está lá! Se fosse a Globo a entrevistar
Lázaro naquele tempo, Lázaro ia ficar num
dilema terrível de comunicação: Eu acho
que este é mundo dual. Minhas irmãs
dizem que Jesus estava aqui, mas eu me
encontrei com ele lá! Eu me encontrei com
ele lá, mas, de repente, eu ouvi a voz dele e
saí. E ele estava aqui! Então, morte eu não
sei o que é; eu só sei o que é Jesus – Jesus
aqui e Jesus lá. Porque, se vivemos, para o
Senhor vivemos; se morremos, para o
Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou
morramos, não existe morte, somos do
Senhor.
Olhe para o coração e veja o que é
enfermidade para morte, em você. E
quando você comer do pão, beber do
vinho, diga: Senhor, em teu nome hoje eu
vou ser curado daquelas coisas que matam.
E não brinque disso, porque às vezes a
gente diz: eu amo tanto a tanta gente, que
ganhei o direito de odiar uns dois. Mas isso
mata, meu amigo. Mata. Você não precisa
ter metástase no corpo inteiro, basta ter
um ponto desgraçado no fígado, no
pulmão. Mata. Não brinque com o que
mata. Em nome de Jesus.
Mensagem ministrada em 01/04/2012
Estação do Caminho - DF
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ao que Jesus fez chamando o corpo morto
de Lázaro da tumba. Só que no caso de
Lázaro, chamava o corpo morto à vida;
trazendo para a continuidade da vida um
espírito que não tinha morrido, apenas um
corpo é que morrera: “Lázaro, vem para
fora!”. Mas no nosso caso, a voz de Deus
nos grita hoje, enquanto nós estamos vivos
no corpo e mortos no espírito – conforme
Paulo diz também em Efésios 2: que Deus
nos deu vida estando nós mortos em
delitos e pecados –; andando por aí
segundo o curso deste mundo, pra lá e pra
cá, exercendo aquelas coisas que nós
chamamos de direitos de viver, e nos
matando em tais direitos de viver. Andando
segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe da potestade do ar, que é o
espírito que agora atua nos filhos da
desobediência. Andando como filhos da
ira, até que a graça de Deus intervenha e
nos estupre com o amor divino (criando
sabe Deus que circunstâncias para que
acordemos), e nos diga: “Desperta, ó tu que
dormes, levanta-te de entre os mortos, e
Cristo te iluminará”.
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Que enfermidades em nós são para a morte?