V Domingo da Páscoa (Ano A) Texto – Jo 14,1-12 1 2 3 4 5 6 7 Não se perturbe o vosso coração. CREDES EM DEUS; CREDE TAMBÉM EM MIM. Em casa de meu Pai há muitas moradas. De contrário, eu vos teria dito, porque eu vou preparar-vos um lugar. E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, voltarei e vos levarei para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, estejais vós também. E, para onde Eu vou, vós sabeis o CAMINHO». Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o CAMINHO?» Disse-lhe Jesus: «Eu sou o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA. Ninguém pode ir até ao PAI, senão por mim. Se me conheceis, conhecereis também o meu PAI. Desde agora O conheceis e O vedes». 8 Disse-lhe Filipe: 9 Disse-lhe Jesus: 10 11 «Senhor, MOSTRA-NOS O PAI, e isso nos basta!» «Há tanto tempo que estou convosco, e não me conheceste, Filipe? Quem me viu, viu o PAI. Como é que dizes, então, ‘MOSTRA-NOS O PAI’? Não CRÊS que EU ESTOU NO PAI E O PAI ESTÁ EM MIM? As coisas que Eu vos digo não as falo por mim: o PAI, que permanece em mim, faz as suas obras. CREDE-ME: EU ESTOU NO PAI E O PAI ESTÁ EM MIM; 12 CREDE, ao menos, por causa dessas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem CRÊ EM MIM também fará as obras que Eu faço; e fará maiores do que estas, porque Eu vou para o PAI. Breve comentário O texto deste Domingo é o início do primeiro dos discursos de despedida de Jesus, durante a última Ceia com os seus discípulos. Nos discursos de despedida presentes no Antigo Testamento e na literatura intertestamentária há alguns traços característicos. O que está para morrer despede-se dos seus familiares ou de todo o povo, recordalhes a conduta que devem ter (habitualmente serem fiéis à Lei), algumas vezes confiando-lhes uma missão particular. Há dois textos bíblicos que estão por detrás deste discurso de Jesus: todo o livro do Deuteronómio que mais não é que o discurso de adeus pronunciado por Moisés antes da sua morte, e o salmo 42-43, que fala de perturbação e afastamento, de desejo de permanecer em comunhão com Deus. Tomando este modelo literário, João pode falar do futuro. Depois da ressurreição de Jesus todos aqueles que crêm nele poderão entrar em intimidade com o Pai e continuar a sua missão no mundo. Por isso, o discurso de «adeus» torna-se num discurso de «até já». Judas tinha acabado de sair. Os discípulos estão tristes, assustados pela partida iminente do Mestre. Jesus sabe que esta situação constitui um perigo para a sua fé. Por isso, a exortação: «Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim». A fé em Deus é a mesma fé depositada em Jesus porque o Pai se revela no seu Filho. Neste ponto, Jesus garante aos discípulos que essa confiança está firmemente estabelecida: «Na minha casa de Pai há muitas moradas». Existe uma casa de família grande, para onde Jesus vai à nossa frente. Para ele, na verdade, morrer não é cair em um abismo sem fundo, mas «passar deste mundo para o Pai» (Jo 13,1). Por isso, promete aos seus um lugar cuidadosamente preparado para cada um, na perfeita comunhão com o Pai e com Ele. «Voltarei e vos levarei para junto de mim». No entanto, para viver em comunhão com o Pai é necessária uma relação com Jesus. Os discípulos devem, eles mesmos, começar uma viagem. O caminho, contudo, é novamente o próprio Jesus. Ele tinha dito: «Eu sou a porta» (Jo 10,7.9). Agora apresenta-se como o Caminho, a Verdade e a Vida. Tal como é «a porta», Jesus é o único caminho para o Pai: «Ninguém vai ao Pai senão por mim». É a única maneira para o Pai, porque é a única verdade, a única vida. A «verdade» significa revelação. Jesus não é o único que revela Deus como Pai, mas em tudo − diz ele − em tudo que faz, é a revelação de Deus. Não é uma revelação parcial de Deus, mas a revelação completa, total e definitiva do Pai porque Jesus é o filho único e, em tudo o que diz e faz, revela-se como o Filho num perfeito relacionamento de amor com o Pai. Ele é a «vida», isto é, através da união com Jesus, o Filho, temos a união com Deus, o Pai, e depois a vida eterna, que é a própria vida do Pai. Como Jesus é o Filho único gerado de Deus, só Ele é a porta e o caminho para o Pai, em que o homem encontra a auto-realização e definitiva felicidade perfeita. O equívoco típico do evangelho de S. João surge na pergunta de Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!». A resposta de Jesus é clara: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me conhecestes, Filipe? Quem me viu, viu o Pai». O Pai e o Filho estão mutuamente ligados por uma união perfeita. Isso significa que, quando Jesus fala, fala o Pai, quando Jesus faz um gesto, é o Pai quem faz. Essas obras são os milagres de Jesus, as suas acções, toda a sua existência, que manifestam a sua relação filial com o Pai e o amor do Pai por meio dele que salva os homens. Por isso, quem olhar com fé para o Filho, vê nele e através dele, o Pai. A consequência é que aqueles que crêem em Jesus vão fazer o que Jesus fez, isto é, continuar a amar como Jesus amou e agir como Jesus agiu. Com efeito, a existência e as actividades daqueles que pela fé estão unidos a Cristo continuam a revelar o Pai e levar os homens a Ele. De facto, Jesus acrescenta que os discípulos farão obras «maiores»: neles continuará, para sempre, a tarefa de Jesus de manifestar o amor do Pai. P. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro