Publ i c a ç õ e s d a F u n d a ç ão R o b inso n
ISSN
1646-7116
Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe
New Inhabitants | Euterpe Musical Society
17
Publ i caçõ e s d a F u n d ação R o b i n s o n
Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe
New Inhabitants | Euterpe Musical Society
17
Publicações da Fundação Robinson n.º 17
Robinson Foundation Publications no. 17
A correspondência relativa a colaboração,
permuta e oferta de publicações deverá ser dirigida a
All correspondence to be addressed to
Novos Habitantes | Sociedade Musical Euterpe
New Inhabitants | Euterpe Musical Society
Portalegre, Junho de 2012 Portalegre, June 2012
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Projecto Identidades Colectivas, Portalegre 2010 (p. 7);
BRAVO, Aurélio Bentes – “Portalegre 1888. As fotografias
de Paino Perez”. Publicações da Fundação Robinson 13. Portalegre:
Fundação Robinson, 2007, pp. 20 e 23 (p. 13);
Sofia Lopes, 9 de Julho de 2010 (p. 78).
As imagens e fotografias utilizadas nesta publicação, e que aqui não foram
mencionadas, fazem parte do acervo documental da Sociedade Musical
Euterpe / The images and photos used in this publication, which were not
here mentioned, are part of the Euterpe Musical Society archives.
tradução
translated by
David Hardisty (inglês) (english),
Jorge Maroco Alberto (espanhol) (spanish)
revisão
editing
Célia Gonçalves Tavares, António Camões Gouveia,
Jorge Maroco Alberto, Luís Nogueiro
Impressão
printed by
Gráfica Maiadouro
Jorge Maroco Alberto
dep. legal 353 280/12
issn 1646­‑7116
Na capa, fotografia do
Acervo documental da Sociedade Musical Euterpe
Cover photograph from
Euterpe Musical Society archives
4
Euterpe e Portalegre, uma história de cento e cinquenta anos
Euterpe and Portalegre, a hundred and fifty years history
Euterpe e Portalegre, una historia de ciento cincuenta años
Presidente do Conselho de Curadores | Chair of the Council of Curators
6
A Banda e a Cidade
A História da Sociedade Musical Euterpe
da sua Fundação à Actualidade
The Band and the City
The History of the Euterpe Musical Society
from its Foundation to the Present Day
La Banda y la Ciudad
La historia de la Sociedad Musical Euterpe
de su fundación hasta la actualidad
Renato Pistola
52
«Que a voz da cidade não se deixe de ouvir»
A «velhinha Euterpe» – uma Banda do século XIX
com os olhos postos no século XXI
“Let the voice of the city be heard”
“Euterpe the Old Lady” – a nineteenth century
philharmonic band with its eyes on the twenty first century
“Que la voz de la ciudad no deje de oírse”
La “ancianita Euterpe” – una Banda del siglo XIX
que mira hacia el siglo XXI
Sofia Lopes
104
Notas finais
Final remarks
Notas finales
Renato Pistola | Sofia Lopes
110
Síntese: resumos e palavras­‑chave
Abstracts and key­‑words
Resúmenes y palabras clave
Euterpe e Portalegre, uma história de cento e cinquenta anos
Euterpe and Portalegre, a hundred and fifty years history
Maria Adelaide de Aguiar Marques Teixeira
presidente da câmara municipal de portalegre
e presidente do conselho de curadores da fundação robinson
Mayor of the Municipality of Portalegre and Chairwoman
of the council of curators of the Robinson Foundation
Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 4­‑5, ISSN 1646­‑7116
4
Não são todos os Concelhos que se podem orgulhar
de ter entre os seus agentes de Cultura um com a idade
de 150 anos e com a dimensão humana, mérito institu‑
cional e qualidade musical da Sociedade Musical Euterpe.
Por isso, primeiro que tudo, importa deixar aqui os
Parabéns, extensíveis a um enorme agradecimento, de
toda a Cidade e Concelho alargado aos territórios do
Alentejo e transfronteiriços, por todo o esforço, capa‑
cidade criativa e formativa, assim como pela constante
integração na comunidade e dedicação centenária à sua
melhoria de saber e de gostos musicais.
Hoje, no início do século xxi, um novo desafio se apre‑
senta à Sociedade Musical Euterpe, participar e apren‑
der a conviver com outros parceiros, com outras ideias e
outros equipamentos de Cultura no Espaço Robinson em
construção, ser um Novo Habitante desse Espaço.
Apesar de todos os receios que, legitimamente, as
mudanças sempre criam e suscitam, estamos certos que
a qualidade e a dinâmica cultural que a partir dali se vão
gerar, vai trazer ao de cima na Sociedade Musical Euterpe
todos os seus atributos centenários numa contribuição
crítica e formativa ao crescimento do projecto, em bene‑
fício de todos os Portalegrenses e de todos os Visitantes
que cada vez mais nos procurarão.
Not every Council can be proud of having amongst its Cul‑
Portalegre, 1 de Dezembro de 2011, no encerramento da come‑
Portalegre, 1 December 2011, at the closing ceremony to mark the one
moração dos cento e cinquenta anos da Sociedade Musical Euterpe.
5
tural bodies one which has existed for 150 years and with the
human dimension, institutional merit and musical quality of the
Euterpe Musical Society.
Therefore, and first and foremost, it is important to record
here our deepest congratulations and an enormous vote of
thanks, from everyone in the City and the Council extending
throughout the Alentejo and neighbouring regions, for all the
efforts, creative ability and training, as well as for its constant
integration within the community and its century­‑long dedica‑
tion to improving musical knowledge and tastes.
Nowadays, at the start of the 21st century, the Euterpe
Musical Society faces a new challenge, that of participating and
learning to exist with other partners, other ideas and other Cul‑
ture facilities within the Robinson Space which is under con‑
struction, so as to be a New Resident in that Space.
Despite all the concerns that changes always justifiably cre‑
ate and nurture, we are certain that the quality and cultural
dynamics which being there will engender, will bring out the
best qualities in the Euterpe Musical Society which have been
present throughout its hundred years to make a critical and
informed contribution to the project’s growth, to the benefit of
all the inhabitants of Portalegre and all the Visitors who increas‑
ingly seek us out.
hundred and fiftieth anniversary of the Euterpe Musical Society.
A Banda e a Cidade
A História da Sociedade Musical Euterpe
da sua Fundação à Actualidade
The Band and the City
The History of the Euterpe Musical Society
from its Foundation to the Present Day
Renato Pistola
Doutorando em História Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Mestre em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Investigador, CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias/ Universidade de Lisboa)
PHD Student of contemporary History in the Faculty of Letters of the University of Lisbon.
Master in Contemporary History by the Faculty of Social and Sciences and Humanities of the New University of Lisbon
Researcher, CLEPUL (Center for Lusophone and European Literatures and Cultures/ University of Lisbon)
Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 6­‑51, ISSN 1646­‑7116
Conhecemos a Sociedade Musical Euterpe, fundamen‑
talmente, como uma banda e como uma escola de música.
Todavia, aquando da sua formação e durante um longo perí‑
odo, a sua história assemelha­‑se ao papel de dois instru‑
mentos musicais que, embora distintos, se complementam
na representação de uma sinfonia. Esta realidade, concre‑
tizada no pulsar de uma associação mutualista1 – o Monte
Pio Euterpe Portalegrense – e no desenvolvimento de uma
banda musical, marca os 150 anos de existência da Euterpe.
E entender esta evolução é assistir, primeiro à metamorfose
de uma colectividade de recreio para uma associação mutua‑
lista semelhante às mais de 700 surgidas no país na segunda
metade do século xix2, e depois na sua cristalização numa
Banda e numa escola de música, as mesmas que actualmente
ocupam o espaço cultural de Portalegre.
A riqueza da documentação encontrada nos arquivos da
Euterpe é surpreendente e permitiu­‑nos revelar uma ver‑
tente menos conhecida da Associação na actualidade mas
que marcou uma grande parte da sua existência. Referimo­
‑nos ao facto de ter sido criada como uma associação mutua‑
lista pensada para prestar assistência aos seus sócios.
We know of the Euterpe Musical Society, essentially,
as a philharmonic band and as a music school. However,
when it was set up and for a long period of time its history
took on the role of two musical instruments that, although
separate, are complemented within a symphony. The phil‑
harmonic band was given its impulse to form by a mutual‑
istic association1 – the Monte Pio Euterpe Portalegrense – and
the Euterpe has now been in existence for 150 years. Under‑
standing this evolution involves witnessing firstly its met‑
amorphosis from a recreational collective to a mutualistic
association similar to more than 700 which arose in Portugal
in the second half of the 19th Century2, and then its crystalli‑
sation into a Philharmonic Band and a music school, which
nowadays form part of the cultural landscape of Portalegre.
The wealth of documentation found in the archives
of the Euterpe is surprising and has allowed us to reveal a
lesser known aspect of the Association during the present
day but which marked much of its existence. We are refer‑
ring to the fact that it was set up as a mutual association
designed to provide assistance to its members.
In this sense, our main goal will be to show how the
relationship between the two aspects which the Euterpe
Espólio documental da Sociedade
Musical Euterpe.
possessed from the outset – the mutualistic and the cul‑
Euterpe Musical Society archives
tural – and the organization’s umbilical connection with the
city of Portalegre, a city which had also undergone major
changes in its profile since the mid-nineteenth century, was
affirmed in an association that not only survived the many
crises it met, and also how it developed along with the city
in which it saw the light of day. This was due in great part to
the efforts of its governing bodies – who always knew how
to adapt the Association to the various problems it encoun‑
tered throughout its existence. One can therefore state,
and stress the fact that the Euterpe has, throughout its 150
7
Neste sentido, o nosso principal objectivo será mos‑
trar como da relação entre as duas vias que preencheram a
Euterpe desde o início – a mutualista e a cultural – e da cone‑
xão umbilical da organização com a cidade de Portalegre, uma
cidade que sofreu igualmente grandes transformações no seu
perfil desde meados do século xix, se afirmou uma Associação
que não só sobreviveu às diversas crises que conheceu, como
se desenvolveu na mesma medida da cidade que a viu nas‑
cer. Para isso em muito contribuiu o esforço dos seus corpos
dirigentes – que sempre souberam adaptar a Associação aos
diversos acasos encontradas ao longo da sua existência. Pode­
‑se assim afirmar, vincando o facto e descontando­‑se as devi‑
das dimensões, que os anos de existência da Euterpe se con‑
fundem, há 150 anos, com a própria história de Portalegre.
E como a Euterpe é também uma banda, com uma histó‑
ria e com pulsar próprio das faculdades da música, elas mere‑
cerão a atenção de Sofia Lopes na segunda parte desta obra.
years of existence, within its own space been interconnected
with the development of the history of Portalegre itself.
And as the Euterpe is also a philharmonic band with its
own history in line with the rhythm of music colleges, they
have merited the attention of Sofia Lopes in the second part
of this work.
From the Philharmonic to the Montepio
(1860-1866)
The history of the Euterpe began on 1 December 1860
when a group of residents of Portalegre founded an associa‑
tion “small in resources”3 to commemorate another anniver‑
sary of the Restoration of Independence for Portugal from
Castile on 1 December 1640.
Conceived initially as a philharmonic, it came about
due to the initial efforts and persistence of Francisco José
Perdigão, José Maria Mourato, José Augusto Soares, João
Da Philarmónica ao Montepio (1860­‑1866)
Dionísio Caldeira Serejo, José Maria Malato, Joaquim Pedro
Gonçalves, Frederico Augusto Bolou, Joaquim Manuel Dias
A história da Euterpe inicia­‑se a 1 de Dezembro de 1860
quando um grupo de portalegrenses funda uma associação
“pequena de recursos”3 para comemorar mais um aniversá‑
rio da Restauração da Independência de Portugal, que tinha
sido conseguida face a Castela.
Pensada inicialmente como uma filarmónica, a sua cons‑
trução saiu, numa fase inicial, do esforço e da persistência de
Francisco José Perdigão, José Maria Mourato, José Augusto
Soares, João Dionísio Caldeira Serejo, José Maria Malato,
Joaquim Pedro Gonçalves, Frederico Augusto Bolou, Joa‑
quim Manuel Dias Guerra, João Carvalho, Benigno José
Lopes e Manuel Marques Pereira. Foram eles que trilharam
os caminhos iniciais da jovem associação, à qual se chamou
Guerra, João Carvalho, Benigno José Lopes and Manuel
Marques Pereira. It was they who took the first steps of
the infant association, which was called the Portalegre
Euterpe Philharmonic (Philarmónica Euterpe Portalegrense),
and thought of the best way to improve it. But these first
steps were not easy, and great persistence was needed to
overcome the demands required of a new organization. The
group, which would naturally be among the founder mem‑
bers, dedicated themselves to resolving the various prob‑
lems that would arise. First were the simpler gaps of a logis‑
tical nature, with these founder members of the Montepio
Euterpe ending up taking their own chairs, tables and other
furniture from their house which were needed for the asso‑
8
Registo do sócio n.º 1 da Euterpe.
Registration of Euterpe member no. 1.
Philarmónica Euterpe Portalegrense, e pensaram na melhor
forma de a fazer progredir. Mas os primeiros tempos não
apresentaram facilidades, sendo necessária grande persis‑
tência para ultrapassar as exigências inerentes à afirma‑
ção de uma nova organização. O grupo, que viria natural‑
mente a figurar entre os sócios fundadores, empenhou­‑se na
transposição dos diversos problemas que iam surgindo. Pri‑
meiro as lacunas mais simples, de carácter logístico, tendo
os impulsionadores da Euterpe chegado a levar das próprias
casas as cadeiras, as mesas e o restante mobiliário necessá‑
rio ao seu funcionamento. Mais complexas foram as exigên‑
cias de cariz financeiro. Urgia solver as exigências mais pre‑
mentes, tendo­‑se revelado proveitosa nesta fase inicial a
representação do drama O Ermitão da Serra de Sintra, cuja
receita reverteu para a recentemente constituída Philarmónica. A representação da peça de teatro, sublinhe­‑se, terá
certamente constituído um objecto sedutor para o público
ilustrado da cidade, cativando­‑o e apresentando­‑lhe a nova
Associação cuja vertente musical estava entregue a Fran‑
cisco Perdigão, o mentor e regente da Banda durante um
grande período da sua existência4.
Apesar deste esforço inicial, e até 1862, a vida da Asso‑
ciação parece ter sido pautada por alguma inactividade.
Este facto é referido numa reunião ocorrida a 18 de Maio
de 1862 pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral,
Gaudêncio José Rodrigues da Costa. Na mesma sessão, e
em consequência dessa mesma inércia, José Maria Mou‑
rato, sócio fundador, afirma a necessidade de se eleger uma
nova Direcção. Para a precipitação destas resoluções contri‑
buiu o abandono repentino do anterior Presidente da Direc‑
ção, José Paiva5. Para o novo elenco directivo, formado a 7
de Junho de 1862, saiu eleito Presidente Frederico Augusto
Bolou, obtendo 10 votos, enquanto Manuel Marques Pereira
9
ciation to function. More complex were the demands of a
financial nature. The more pressing demands needed to be
solved urgently, and one profitable means used in this ini‑
tial stage came from the performance of the play O Ermitão
da Serra de Sintra, the revenue from which reverted to the
recently formed Philharmonic. The performance of the play,
it should be noted, would certainly have been an alluring
object for the learned public of city, captivating them and
presenting the new Association to them, the musical side of
which was handed over to Francisco Perdigão, the mentor
and conductor of the Philharmonic band during a consider‑
able period of its existence4.
Despite this initial effort, until 1862, the Association’s
life seems to have been determined by a lack of activity.
foi eleito Vice­‑presidente, João Dionísio Caldeira Secretário
e José Augusto Alves Vice­‑secretário, havendo ainda dois
Vogais.
Neste período, no qual as reuniões da Associação ocor‑
rem quase mensalmente, são escassas, na documentação da
Euterpe, as referências à secção filarmónica. Este facto não
significa, no entanto, que a Banda se encontre inoperante,
até porque se encontram algumas menções na imprensa a
concertos realizados pela Euterpe em diversos locais de Por‑
talegre. Na verdade, esta ausência de alusões à Banda pode
ser justificada com a preocupação dos sócios em realizar o
objectivo maior que terá dirigido a criação da Associação
desde o início. De facto, e não obstante a omissão sobre este
facto nas fontes consultadas, a Associação poderá ter sido
pensada desde o momento da sua fundação não só como
uma organização associativa cujo fim único era a actividade
musical, mas com um campo de actuação muito mais vasto.
Os seus contornos parecem não estar claramente defini‑
dos no seio do grupo fundador. Pensou­‑se, primeiramente,
numa associação recreativa. Foi nesse sentido que se cons‑
tituiu, em 1863, uma comissão destinada a elaborar os esta‑
tutos de “uma associação recreativa para as classes laborio‑
sas”6. Esta comissão, composta por Nunes de Paiva, Caetano
Silvestre de Almeida e Gaudêncio Costa, Presidente da Mesa
da Assembleia Geral na época, apresentou o resultado do seu
trabalho a 29 de Novembro de 1863 perante “um grupo de
cidadãos da cidade”, de entre os quais se destacava António
Joaquim de Campos, o chefe administrativo do Concelho.
Mas estes estatutos não constituiriam a versão final que se
pretendia fazer aprovar. Na verdade, ainda que não nos seja
possível esclarecer ser este um objectivo que já dirigia alguns
sócios desde o início, à ideia inicial de se formar uma asso‑
ciação de perfil essencialmente recreativo sobrepôs­‑se, de
This fact was referred to in a meeting held on 18 May 1862
by the Chairman of the General Meeting, Gaudêncio José
Rodrigues da Costa. In the same session, and as a result of
that inaction, José Maria Mourato, founder member, spoke
of the need to elect a new Board. These resolutions were
brought to a head by the sudden abandonment of the previ‑
ous Chairman of the Board, José Paiva5. The composition of
the new Board was chosen on 7 June 1862, with the Chair‑
man being Frederico Augusto Bolou, with 10 votes, while
Manuel Marques Pereira was elected Deputy Chairman,
João Dionísio Caldeira Secretary and José Augusto Alves
Deputy Secretary, along with two other Board Members.
During this period, Association meetings occurred
almost at a monthly rate, and there are few references in
the Euterpe documentation to the Philharmonic section.
This does not mean, however, that the Philharmonic Band
was idle, because there are some mentions in the press
of concerts given by the Euterpe at various locations in
Portalegre. In fact, this lack of references to the Philhar‑
monic Band can be explained as being due to the concerns
of the members, who from the outset had been focused
on achieving their greater objective, the founding of the
Association. In fact, notwithstanding the omission of this
fact in the sources consulted, the Association can from
the moment of its foundation be conceived not only as an
associative organization whose sole purpose was musical
activity, but an entity with a much broader field of activity.
Its contours did not seem to be clearly defined within
this founding group. It was thought of, at first, as a recrea‑
tional association. It was in this sense that in 1863 a com‑
mittee was formed to draw up the statutes for “a recreational
association for the working classes.6” This committee, com‑
posed of Nunes de Paiva, Caetano Silvestre de Almeida and
10
forma célere, o impulso da criação de uma sociedade de cariz
mutualista, seguindo­‑se uma tendência que caracterizava o
movimento associativo português em meados do século XIX,
onde germinavam diversas associações mutualistas.
O percurso para a legalização de uma organização com
‑se, todavia, longo e trabalhoso,
esse fim apresentava­
destacando­‑se a obrigatoriedade da realização de estatutos
e obedecendo estes a a um quadro legal específico e também
à sua aprovação pelo Rei. Mas os fundadores da Euterpe
mostravam­‑se decididos. Prova­‑o a celeridade com que foi
constituída uma nova comissão, eleita a 25 de Outubro de
1865 para apresentar um projecto de estatutos “que deve‑
riam submeter­‑se à aprovação do Governo de Sua Majes‑
tade”7. Foram nomeados para o efeito, Emílio Larcher,
Rochoso Costa e Silva, Rodrigues da Costa e Caetano Silves‑
tre de Almeida.
Do seu trabalho resultaram os Estatutos da Associa‑
ção que viriam a ser aprovados pelo Alvará Régio de 29 de
Janeiro de 1866, assinado por D. Luís I. Concretizava­‑se,
dessa forma, a vertente assistencial da Sociedade Recreativa
Euterpe que dava assim lugar, a partir de 1866, ao Monte
Pio Euterpe Portalegrense. Refira­‑se que a sua Direcção inte‑
rina foi entregue, até o Montepio estar legalmente consti‑
tuído, a Emílio Larcher, Mouzinho de Albuquerque, José da
Costa e Silva e Augusto Firmo Estácio. Como primeira tarefa
decidiu­‑se analisar o seu estado financeiro tendo em vista a
liquidação de dívidas pendentes.
Do conjunto dos sócios que se constituíram como funda‑
dores da Associação Mutualista (ver Anexo 1), e gizando aqui
uma breve análise do seu perfil socioeconómico, importa des‑
tacar, sobretudo, que o Montepio surgiu sob o impulso de
vários pequenos proprietários das diversas oficinas que pre‑
enchiam as ruas de Portalegre, mas também de carpinteiros,
11
Gaudêncio Costa, Chairman of the General Assembly at the
time, presented the results of their work on 29 November
1863 before “a group of citizens of the city”, including, and
in particular, António Joaquim de Campos, the administra‑
tive head of the Municipality. However, these statutes would
not be the final version that they wished to have enacted. In
fact, although it was not possible to clarify whether this was
a goal that some members had had from the outset, the ini‑
tial idea of forming an association with an essentially recre‑
ational profile quickly became overlapped with the desire to
set-up a mutualistic-oriented society, following a trend that
characterized the Portuguese association movement in the
mid-nineteenth century, when various mutualistic associa‑
tions had evolved.
The steps to legalize an organization of this kind, how‑
ever, were long and laborious, especially the mandatory
drawing up of the statutes and encapsulating these within
a specific legal framework and also obtaining their approval
from the King. But the founders of the Euterpe showed their
determination in this area. Proof of this was the speed with
which a new committee was formed, elected on 25 October
1865 to present the draft statutes “which were to be sub‑
mitted for the approval of the Government of His Majesty”7.
Those nominated to undertake this were Emílio Larcher,
Rochoso Costa e Silva, Rodrigues da Costa and Caetano Sil‑
vestre de Almeida.
Their work resulted in the Articles of Association that
would be approved by Royal Charter on 29 January 1866,
signed by D. Luis I. Thus in this way was created the welfare
side of the Euterpe Recreational Society which thus, from
1866 onwards, gave way to the Monte Pio Euterpe Portalegrense. It should be noted that its interim direction, until the
Montepio was legally constituted, had been handed over to
sapateiros, serralheiros, pedreiros ou domésticas. Mas note­
‑se que grande parte da classe operária estava enquadrada,
porventura, noutras associações mutualistas que existiam na
cidade8.
Para se entender a emergência e a necessidade de cria‑
ção da Associação Mutualista em meados do século XIX em
Portalegre, importa atender a ausência de protecção social
que caracterizava as classes trabalhadoras portuguesas no
período, até porque o primeiro esboço de previdência esta‑
tal surgiria apenas com a instauração da República, no início
do século XX. Neste sentido, estruturar e elevar uma asso‑
ciação mutualista constituía uma forma única das classes
mais desfavorecidas, as classes trabalhadoras, procederam à
sua própria protecção social em caso de doença e de morte.
Pode­‑se assim afirmar que a criação do Montepio Euterpe
foi o resultado das preocupações com a assistência, comuns
aos trabalhadores das pequenas oficinas que se encontra‑
vam distribuídas pelas ruas da cidade e, ainda que seja difí‑
cil esta diferenciação, a muitos dos proprietários dos mes‑
mos estabelecimentos.
Na verdade, o surgimento de mais de 700 associações de
cariz mutualista surgidas em Portugal no século XIX, como
anteriormente referido, é indissociável da emergência de
muitas organizações congéneres constituídas por toda a
Europa a partir do final do século XVIII. Estas procuram dar
resposta ao crescente problema da pobreza que se propagava
em função, sobretudo, do crescimento demográfico e urbano
e do modelo de produção industrial que deixava à mercê da
miséria largas faixas das classes trabalhadoras. Das diversas
organizações desse tipo – as mais difundidas na Europa no
período eram as frendly societies – as que conheceram uma
maior aprovação e difusão em Portugal foram os monte‑
pios9. A emergência destas organizações relaciona­‑se com a
Emílio Larcher, Mouzinho de Albuquerque, José da Costa
e Silva and Augusto Firmo Estácio. As its first task it was
decided to analyse its financial status with a view to settling
outstanding debts.
When considering the members who helped found the
Mutualistic Association (see Annex 1), and the brief anal‑
ysis of their socio-economic profile, it is worth emphasis‑
ing, above all, that the Montepio arose as a result of the
wishes of many smallholders from the various workshops
which filled the streets of Portalegre, along with carpen‑
ters, shoemakers, blacksmiths, masons and housemaids. It
should however be noted that much of the working class was
by chance involved in other mutualistic associations that
existed in the city8.
To understand the emergence and need to set up the
Mutualistic Association in the mid-nineteenth century in
Portalegre, it is important to consider the absence of wel‑
fare cover that characterized the Portuguese working classes
in the period, because the first form of any welfare state
provision would only appear with the establishment of the
Republic in the early twentieth century. In this sense, form‑
ing and creating a mutualistic association constituted a
unique way for the lower classes, the working classes, to cre‑
ate their own social welfare in the event of illness or death.
We can thus say that the creation of the Montepio Euterpe
was the result of concerns about welfare common to work‑
ers in the small workshops that were spread throughout the
city streets and, although it is difficult to differentiate this,
many of the owners of these establishments.
Indeed, the emergence of more than 700 associations
of a mutualistic nature in Portugal in the nineteenth cen‑
tury, as previously mentioned, is inseparable from the emer‑
gence of many similar organizations established throughout
12
Europe from the late eighteenth century onwards. These
Portalegre, 1888.
Fotografias de Paino Perez
sought to address the growing problem of poverty which
Portalegre, 1888. Photos by Paino Perez.
was spreading due mainly to urban population growth and
the model of industrial production that left large sections
of the working classes at the mercy of misery. Out of sev‑
eral such organizations – the most widespread in Europe
in the period being the friendly societies – those that experi‑
enced a greater adoption throughout Portugal were the montepios9. The emergence of these organizations related to the
need to look at the problem of poverty from another per‑
spective, to favour the concept of self-help. This idea was
closely linked to the affirmation of liberal thought, espe‑
cially the classical economic argument of the concept of sav‑
ing and temperance, considered two routes to prosperity,
by limiting vices such as alcoholism and gambling, the capi‑
tal necessary to safeguard the future. Briefly, the passage of
the eighteenth century to the twentieth century was over‑
lapped with a prior means of fighting poverty – that of assis‑
tance – the thesis that argued that the lower classes, only
joined together to engage in and build their future, could
create mechanisms that prevented them falling into pov‑
erty should any negative events befall them. It was believed
that the poor were thus responsible for their own destiny
and could avoid such hardship through a welfare associa‑
tion. This thinking included many European philanthro‑
necessidade de olhar sob outra perspectiva o problema da
pobreza, privilegiando agora o conceito de auto­‑ajuda. Esta
ideia estava estritamente ligada à afirmação do pensamento
liberal, mormente à defesa pela economia clássica do con‑
ceito de poupança e de temperança, consideradas duas vias
para a prosperidade, limitando de vícios, como o alcoolismo
e o jogo, o capital necessário para salvaguardar o futuro.
Sinteticamente, na passagem do século XVIII ao século XX
13
pists who belonged to the European elites of the eighteenth
century, and expanded to Portugal in the nineteenth cen‑
tury through individuals such as Alexandre Herculano, giv‑
ing rise to organizations like the Montepio Euterpe.
As such, besides the working classes, who mainly filled
the list of members of the Mutualistic Association, the list of
members setting up the Montepio also included representa‑
tives of the elite of Portalegre, and given a special member
sobrepõe­‑se à anterior forma de combate à pobreza – a via
assistencial – a tese que defende que as classes mais desfa‑
vorecidas, apenas unidas e empenhadas na construção do
seu futuro, poderiam criar mecanismos que impedissem a
sua queda na miséria em caso de eventualidades negativas.
Acreditava­‑se assim que os pobres eram responsáveis pelo
seu próprio destino e que podiam despistar a miséria atra‑
vés de um associativismo solidário. Este pensamento mobi‑
lizou, inclusivamente, muitos filantropos europeus que per‑
tenciam às elites europeias do século XVIII, e expandiu­‑se a
Portugal no século XIX através de homens como Alexandre
Herculano, dando origem a organizações como o Montepio
Euterpe.
Entende­‑se assim também que além das classes trabalha‑
doras, que preenchem globalmente o quadro dos sócios da
Associação Mutualista, na formação do Montepio não dei‑
xem de estar representadas as elites portalegrenses, enqua‑
dradas numa segunda diferenciação de sócios, os sócios
protectores. Estes eram escolhidos, como o próprio nome
indica, para socorrerem a associação em caso de necessidade.
category – member (patron). These were chosen, as the name
indicates, to help the association in case of need. The group
of four initial patrons included George William Robinson,
the priest Francisco António Barrogueiro and the pharma‑
cist António Ferreira Baptista, and, later, Thomaz Frederick
Robinson – brother of George William Robinson and uncle
of George Wheelhouse Robinson –, Joaquim de Avillez and
the Viscount Reguengo, who were given the status of hon‑
orary member (patron). Besides the founder members and
the (honorary) patrons, there were also ordinary/full mem‑
bers, a classification which came into being for members who
signed up after the Association had been formed, and who,
naturally, became the largest group of members as the Mon‑
tepio grew. It should be noted also that they had a profile
completely similar to the founder members with the same
recruitment logic being for the most part followed. The main
exception was that of members who lived outside the district
of Portalegre and who constituted a small minority.
The administrative structure of the organization was
divided between the General Assembly, consisting of all
members of the Association, which dealt with the major deci‑
sions, the Board elected by the General Assembly with func‑
George Robinson, um dos sócios
protectores da Euterpe.
tions to manage day-to-day operations of The Euterpe and an
George Robinson, one of the (patron)
members of the Euterpe.
Accounts Committee, followed by an Audit Committee to do
the accounts and record the minutes of the Board.
During the period in which the Mutualistic Association
was legalized, the activity of the Philharmonic Band was not
recorded very often in the documentation consulted from
the Euterpe archives. However, once formed, the Montepio
made a more melodious statement of its musical side as part
of the cultural activity of Portalegre. This was, however, a
path which encountered some resistance. Echoes of these
barriers are, as an example, to be found in the minutes of
14
Do grupo dos quatro sócios protectores iniciais destaca­‑se
George William Robinson, o padre Francisco António Bar‑
rogueiro e o farmacêutico António Ferreira Baptista, tendo
surgido posteriormente, Thomaz Frederick Robinson –
irmão de George William Robinson e tio de George Whe‑
elhouse Robinson –, Joaquim de Avillez e o Visconde do
Reguengo, estes dois últimos já com a designação de sócio
protector/honorário. Além dos fundadores e dos protec‑
tores/honorários, havia ainda os sócios ordinários/efecti‑
vos cuja classificação se referia aos membros que se tinham
inscrito depois de a Associação estar constituída, os quais,
naturalmente, passam a formar o maior grupo de sócios do
Montepio à medida que este vai crescendo. Note­‑se ainda
que eles têm um perfil em tudo semelhante aos sócios fun‑
dadores obedecendo, em grande parte, à mesma lógica de
recrutamento. A principal excepção diz respeito apenas aos
sócios que viviam fora do distrito de Portalegre e que consti‑
tuem uma pequena minoria.
Já a estrutura administrativa da organização distribuía­
‑se entre a Assembleia Geral, constituída por todos os sócios
da Associação e na qual eram referendadas as principais
decisões, a Direcção eleita pela Assembleia Geral com fun‑
ções de dirigir o dia­‑a­‑dia da Euterpe e uma Comissão de
Contas, primeiro, e Conselho Fiscal, depois, destinados a
escriturar as contas e os actos da Direcção.
Durante o período em que se legalizou a Associação Mutualista, a actividade da Banda apresenta­‑se pouco retratada na
documentação consultada no arquivo da Euterpe. Mas uma
vez constituído, o Montepio promoveu uma mais afincada
afirmação do seu ramo musical no quadro cultural de Por‑
talegre. Tratou­‑se, todavia, de um percurso que conheceu
algumas resistências. Ecos desses entraves encontram­‑se, a
título de exemplo, na acta que reporta à sessão da Assem‑
15
the General Assembly session of 18 March 1866. The epi‑
sode concerned the warning made to Perdigão by people out‑
side the Association, for the philharmonic band “not to be
involved, under penalty of proceedings (...) in a Funeral Pro‑
cession (Procissão do Enterro do Senhor) due to the other phil‑
harmonic band in this city having been invited”10. The epi‑
sode, which earned the indignation of the General Assem‑
bly, was nothing more than a misunderstanding. There was
in fact an agreement between the conductor of the Euterpe
and the Board of the Philharmonic Band of Infantry Regi‑
ment No. 22, commonly known as Band 22, not to play at
an event when the other band had already been invited. The
Philharmonic Band marked its territory in the town.
However, the relationship between the band and the
Board of the Mutualistic Association was not always finely
tuned in these early years. Tension arose from an antithesis
between the need to establish the credibility of the Monte‑
pio, showing its seriousness in action, and the lighter pro‑
file that characterized the musical groups of the time11.
As an example, this was illustrated by the new regulation
”concerning the philharmonic section”12, dated 30 October
1863, and also at the meeting of 9 November 1863, which
displayed the Montepio’s desire to discipline the musical
side through the Board demanding that the Philharmonic
Band not give a concert without its conductor. This ten‑
sion became a thing of the past in 1865. At that time, both
the meetings of the Association and the Philharmonic Band
rehearsals began to take place in a new location, since the
Association had been forced to leave the Portalegre Club,
which until then had been its headquarters. The new loca‑
tion, presented at the meeting of 19 October 1865, was the
Theatro Portalegrense , with the Board noting that the “pro‑
visional granting of its use seemed to be straightforward”13,
bleia Geral de 18 de Março de 1866. O episódio diz respeito
à advertência efectuada junto de Perdigão, por pessoas exte‑
riores à Associação, para a Banda “não concorrer, sob pena
de procedimento (...) à Procissão do Enterro do Senhor por
ter sido igualmente convidada a outra philarmónica que
existe nesta cidade”10. O episódio, tendo merecido a indigna‑
ção da Assembleia Geral, não passou de um mal entendido.
Existia, na verdade, um acordo entre o regente da Euterpe e
a Direcção da Banda do Regimento de Infantaria 22, vulgar‑
mente conhecida como Banda do 22 para que não concor‑
ressem a um evento quando a outra banda já o tivesse feito.
A Banda conquistava o seu espaço na cidade.
Mas a relação entre a Banda e a Direcção da Associação
Mutualista nem sempre se apresenta afinada nestes primei‑
ros anos. A tensão nasce de uma antítese entre a necessidade
de firmar a credibilidade do Montepio, mostrando seriedade
na acção, e o perfil mais ligeiro que caracterizava as ban‑
das musicais neste período11. Tal facto é ilustrado, a título
de exemplo, no novo regulamento “relativo à secção philar‑
mónica”12, datado de 30 de Outubro de 1863, e também na
reunião de 9 de Novembro de 1863, na qual é demonstrado
o desejo do Montepio em disciplinar o ramo musical atra‑
vés da exigência da Direcção para que a Banda não fizesse
um concerto sem o seu regente. Esta tensão encontrava­‑se
já ultrapassada em 1865. Nessa altura, quer as reuniões da
Associação quer os ensaios da Banda passam a ocorrer con‑
juntamente num novo espaço, dado que a Associação fora for‑
çada a abandonar o Clube Portalegrense, que tinha sido até aí
a sua sede. O novo espaço, apresentado na reunião de 19 de
Outubro de 1865, foi o Theatro Portalegrense, sublinhando
a Direcção que a “cedência provisória se lhe afigurava fácil”13,
embora se aludisse a que o local necessitava de algumas remo‑
delações. Estas seriam efectuadas com o esforço dos artistas
although it alluded to the fact that the place needed some
renovations. These would be carried out with the effort of
the artists who “would certainly be willing to use their skill
and other members with donations corresponding to the
specific requirements, all in a healthy proportion for the fin‑
ishings of the aforementioned hall”14. The Euterpe in this
way managed to find its headquarters for a number of years.
Under the dominance of the Montepio
(1866-1884)
On 8 April 1866, Honório Fiel Lima, one of the most
important industrialists of the city, presented, as the Chair‑
man of the General Assembly, the report of the interim
Audit Committee, which had finished its work. It particu‑
larly highlighted “the increase in revenues of the society”15.
This date also saw the selection of the first Board of the
Montepio Euterpe, with the election of Emílio Larcher, José
Joaquim Bichoso, Augusto Firmo Estácio, António Bernardo
Tavares and José Maria Mourato. Emílio Larcher, it should
be noted, was given the task by his colleagues of constitut‑
ing the Montepio Euterpe, and it was proposed that he be
nominated Honorary President.
The Montepio quickly attained a prominent position
in Portalegre society of the period, the season, a relevance
mainly achieved through the assistance it provided to its
members. Almost all revenues were channelled towards this
assistance. These revenues were obtained either from fees
or by holding shows. Three brilliant recitals were held on 3,
4 and 5 April 1866 by the musician Francisco Alves da Silva
Taborda aimed at increasing the revenue and prosperity of
the welfare organization, which received the help and soli‑
darity of most of Portalegre’s artists.
16
Livro de Escrituração de Entradas
e Saídas. Fundo Permanente.
Dual Entry Bookkeeping Ledger.
Permanent Fund.
que “de certo se apresentariam de bom grado a concorrer com
o seu trabalho e os demais sócios com os donativos nas diver‑
sas espécies precisas, tudo em proporção saudável para o aca‑
bamento do mencionado salão”14. A Euterpe conseguiu assim
uma sede para vários anos.
Sob a predominância do Montepio (1866­‑1884)
A 8 de Abril de 1866, Honório Fiel Lima, um dos mais
importantes industriais da cidade, e na qualidade de Presi‑
dente da Assembleia Geral, procedeu à apresentação do rela‑
tório da Comissão de Contas da Direcção interina, que termi‑
nara o seu trabalho. Destaca, sobretudo, “o estado de aumento
das receitas da sociedade”15. Nessa data decorreu, igualmente,
a escolha da primeira Direcção do Montepio Euterpe, tendo
sido eleitos Emílio Larcher, José Joaquim Bichoso, Augusto
Firmo Estácio, António Bernardo Tavares e José Maria Mou‑
rato. A Emílio Larcher, sublinhe­‑se, foi atribuída pelos seus
pares a iniciativa da formação do Montepio Euterpe, sendo
proposto que ele fosse nomeado Presidente Honorário.
O Montepio atingiu rapidamente uma posição de desta‑
que no seio da sociedade portalegrense da época, uma rele‑
vância conseguida, sobretudo, através da ajuda prestada aos
seus sócios. Para a assistência eram canalizadas quase todas
as receitas. Estas eram obtidas quer através da quotização
quer através da realização de espectáculos. Enquadram­‑se aí
os três recitais abrilhantados a 3, 4 e 5 de Abril de 1866 pelo
músico Francisco Alves da Silva Taborda e que pretendiam
aumentar a receita e a prosperidade da organização de bene‑
ficência, tendo conhecido a participação e a solidariedade de
grande parte dos artistas de Portalegre.
Quando olhamos para as formas de sustentação finan‑
ceira do Montepio importa abrir um parêntese. Não é o
17
When we look at the financial support mechanisms of
the Montepio it is important to make a parenthetical remark.
It is not the aim of this study to carry out a profound analy‑
sis of the accounts of the Mutualistic Association, which can
be found in the accounts books of The Euterpe. This docu‑
mentation will deserve greater attention in a more com‑
parative profile study with other similar associations; it is
merely important to mention that the capital management
of the organization, like other Portuguese mutualistic asso‑
ciations, among which we highlight the Montepio Geral, was
carried out through a fund that sought to increase this capi‑
tal through use in various applications, such as government
bonds or Portuguese or discounted bills, for example.
Despite the need for further study, it is possible to
conclude that the capital management of The Euterpe
objectivo deste estudo efectuar uma análise profunda das
contas da Associação Mutualista, as quais podemos encon‑
trar nos livros de contas da Euterpe. Essa documentação
merecerá uma maior atenção num estudo de perfil mais
comparativo com outras associações congéneres; importa
expor apenas que a gestão do capital da organização, à seme‑
lhança de outras associações mutualistas portuguesas, de
entre as quais destacamos o Montepio Geral, era efectuada
através de um fundo que se procurava aumentar através do
emprego desse capital em diversas aplicações, como títulos
de dívida pública portuguesa ou o desconto de letras, a título
de exemplo.
Não obstante a necessidade de efectuar um estudo mais
aprofundado, é possível concluir­‑se que a gestão do capital
da Euterpe é efectuada com alguma indefinição. Sobretudo
porque, contrariamente a algumas organizações congéneres,
ainda que de dimensões distintas como o Montepio Geral, as
Direcções do Montepio Euterpe depararam­‑se sempre com
uma grande dificuldade em gerir o equilíbrio entre as receitas
e o que seria exigido nas despesas futuras. Esta complicação
decorre sobretudo das modalidades assistenciais prestadas
pelo Montepio Euterpe, porventura demasiado direccionadas
para a assistência na saúde, mormente, na ajuda à obtenção
de medicamentos, mas também do financiamento de banhos
e da assistência à família em caso de morte, modalidades que
estavam assim demasiado sujeitas a conjunturas de crise,
sobretudo a surtos epidémicos. Acresce aqui a ausência de
cálculos actuariais que permitissem às Direcções da Associa‑
ção Mutualista estruturar a assistência presente e futura em
função da receita gerada. Refira­‑se que as organizações con‑
géneres que obtiveram maior sucesso e longevidade, como o
Montepio Geral, estabeleciam mecanismos mais precisos de
equilíbrio financeiro que passavam, por vezes, pelo repensar
was carried out in an uncertain manner. Especially since,
unlike certain other similar organizations, albeit with dif‑
ferent dimensions to the Montepio General, the Boards of
the Montepio Euterpe always found it difficult to manage
the balance between revenue and expenditure that would
be required in the future. This complication arose primar‑
ily due to the forms of assistance provided by the Monte‑
pio Euterpe, perhaps too targeted towards health care, espe‑
cially in helping to obtain medication, but also the financing
of baths and assistance to the family in the event of death,
forms that were greatly subject to moments of crisis, espe‑
cially epidemic outbreaks. Moreover, there was an absence
of actuarial calculations that would enable the Boards of
the Mutualistic Association to structure its present and
future assistance as a function of the revenue it generated.
It should be noted that the similar organizations that had
greater success and longevity, such as Montepio Geral, set
up more precise mechanisms of financial balance which
sometimes led to the rethinking of the forms of assistance
offered, although in this case this balance has to be attrib‑
uted in large part to the existence of its Savings Bank16.
Thus, the financial situation of the Montepio Euterpe
was characterized throughout its existence by several imbal‑
ance crises in its accounts. An example of these difficul‑
ties is evident in a report by the Board dated 6 December
1868 which recognized that “the society has no assets and
has struggled with some difficulties because it now has the
task as laid down in its statutes to help its members and
carry out other acts of kindness”17. The report shows a def‑
icit of 49,697$000 reis “which occurred through having to
pay the prescriptions for the Pharmácia Limpo”18. This fact
was presented with a degree of alarmism. The Board elected
for the year 1869, composed of Manuel Joaquim Costa,
18
das modalidades de assistência oferecidas, embora neste caso
o equilíbrio se fique a dever em grande parte à existência da
sua Caixa Económica16.
Assim, a situação financeira do Montepio Euterpe é carac‑
terizada ao longo da sua existência por diversas crises de
desequilíbrio nas contas. Um exemplo dessas dificuldades
está bem patente num relatório da Direcção datado de 6 de
Dezembro de 1868 no qual se reconhece que “a sociedade não
possui bens de raiz e tem lutado com algumas dificuldades
porque agora tem como encargo segundo os seus estatutos
o socorro aos sócios e outros actos de beneficência”17. Há no
relatório um défice de 49.697$000 reis “que se contraiu por
se ter que pagar receituário na Pharmácia Limpo”18. Esta reali‑
dade era apresentada com algum alarmismo. A Direcção eleita
para o ano de 1869, composta por Manuel Joaquim Costa,
José Maria Mourato, José da Costa e Silva, João Dionísio
Caldeira Serejo e Joaquim António Castelo referiu, inclusive,
apenas aceitar o cargo se o amparo aos sócios fosse suspenso
por dois meses e se procedesse a uma reforma dos Estatu‑
tos no sentido de se alterar as condições em que essa assis‑
tência era prestada. José Maria Mourato refere, a propósito,
“que dessas duas circunstâncias depende a vida ou a morte do
Montepio”19. A Assembleia suspendeu os socorros, mas não
os prestados aos sócios já doentes, e aprovou também uma
alteração dos Estatutos.
Mas apesar da percepção de que as modalidades assis‑
tenciais prestadas aos sócios provocavam um desequilíbrio
nas contas do Montepio, nunca seria efectuada nenhuma
reforma profunda dos Estatutos com o intuito de resolver
o problema. Será inclusivamente no desequilíbrio entre a
capacidade de aumento de capital e o compromisso de con‑
ceder protecção aos sócios que residirá uma das vias mais
decisivas para o declínio do Montepio Euterpe.
19
José Maria Mourato, José da Costa e Silva, João Dionísio
Caldeira Serejo and Joaquim António Castelo stated that it
would only accept the posts if assistance to members was
suspended for two months and if a reform of the Statutes
was undertaken in order to change the conditions under
which such assistance was provided. José Maria Mour‑
ato mentioned, in regard to this, “that these two circum‑
stances would determine the life or death of Montepio”19.
The Assembly suspended assistance, but not that given to
members who were already ill, and also approved an amend‑
ment to its Statutes.
But despite the perception that the forms of assistance
provided to members caused an imbalance in the accounts
of the Montepio, no radical reform of the Statutes would
ever be carried out in order to solve the problem. The imbal‑
ance between the ability to increase capital and the commit‑
ment to provide assistance to members was one of the key
factors which led to the decline of the Montepio Euterpe.
If assistance to its members was in fact the main concern
of the Board of the Mutualistic Association, one can see how
the Philharmonic Band evolved more slowly. It was occasion‑
ally directly affected by the difficulties which formed part of
the Montepio. In May 1868, during one of these episodes,
the musicians were even stripped of their instruments so
that the debts of the Montepio could be paid20.
Notwithstanding these difficulties, the Euterpe sur‑
vived the difficulties of the first years of its existence and
was able to accompany, from the early 1860s, the transfor‑
mations that Portalegre underwent at that time. The work of
António Ventura has been drawn up to provide help with this.
The inhabitants of the city rose from 6433 in 1860 to 7039
in 1878 and 10,538 in 1890. Due to these changes, when
viewed from one of its highest points, that of the Robinson
Se a ajuda aos sócios constituía de facto a principal pre‑
ocupação da Direcção da Associação Mutualista, percebe­‑se
assim que a Banda evoluísse de forma mais lenta. Algumas
das vezes chegou a ser prejudicada directamente pelas difi‑
culdades inerentes ao próprio Montepio. Em Maio de 1868,
num desses episódios, os músicos foram mesmo despojados
dos seus instrumentos para que fossem pagas as dívidas do
Montepio20.
Não obstante estas dificuldades, a Euterpe sobreviveu às
dificuldades dos primeiros anos da sua criação e pôde acompa‑
nhar, desde o início da década de 1860, as transformações que
Portalegre sofria nessa altura. Para as conhecer socorremo­
‑nos da pesquisa de António Ventura. Constatamos que a
cidade passou de 6.433 habitantes em 1860, para 7.039 em
1878 e 10.538 em 1890. Em função dessas modificações,
quando observada de um dos seus pontos mais elevados, a
partir da Fábrica Robinson, Portalegre agrupava nas suas anti‑
gas ruas de traço medieval e nas novas artérias que se foram
abrindo, um conjunto de actividades de perfil artesanal com‑
posto por alfaiates, sapateiros, carpinteiros, chocalheiros, ces‑
teiros, entre outros. Com eles cruzavam­‑se os inúmeros ope‑
rários – corticeiros na sua maioria – que trabalhavam e viviam
em Portalegre e que, no seu conjunto, “conferiam à cidade um
cunho marcadamente industrial”21. O comércio, por sua vez,
estendia­‑se pela Rua da Cadeia (actual Rua do Comércio), Pra‑
cinha, Rossio, Rua do Mercado e dos Canastreiros. Muitos des‑
tes “actores” de Portalegre formavam, como vimos, o núcleo
de sócios do Montepio. É verdade que a cidade continuava a
manter a sua antiga dialéctica entre esta população urbana –
que se distribuía, sobretudo, pelo interior do espaço amura‑
lhado – e a população rural, dispersa pelos diversos lugares e
povoações que a rodeiam. Esta última dedicava­‑se sobretudo à
agricultura. Mas ainda que paulatinamente, a cidade mudara,
Factory, Portalegre could be seen grouped into its ancient
streets of medieval origin, as well as new arteries that were
opening out, which contained artisanal activity made up of
tailors, shoemakers, carpenters, basket weavers, etc. Cross‑
ing these were the countless workers – mostly cork workers
– who worked and lived in Portalegre and who, as a whole,
“gave the city a distinctly industrial slant”21. Trade, in turn,
extended through Rua da Cadeia (the present-day Rua do
Comércio), Pracinha, Rossio, Rua do Mercado e dos Canas‑
treiros. Many of these Portalegre individuals made up, as we
have seen, the core group of members of the Montepio. It is
true that the city continued to maintain its ancient dialectic
between this urban population – which was mainly distrib‑
uted inside its walled space – and the rural population spread
out over various hamlets and villages that surrounded it. The
latter were devoted mainly to agriculture. But even if gradu‑
ally, the city had changed, and it was this demographic and
economic growth which was clearly identifiable in 1890 that
had generated “a certain worldly and bohemian life”22 that
mirrored a particular social and cultural environment which
was more urban when compared with the beginning of the
1860s and which certainly established better conditions –
that is, more members and a larger public – for the devel‑
opment of the city’s associative movements and the expres‑
sion of cultural activities. It was this urban expansion of Por‑
talegre that would provide sustainability to the Montepio and
the Euterpe Philharmonic Band until the 1890s.
From the Montepio to the Philharmonic Band
(1884-1908)
The start of the 1890s brought many changes. The
Decree of 28 February 1891, referring to the right of associ‑
20
e foi este crescimento demográfico e económico já claramente
identificável em 1890 que gerou “uma certa vida mundana e
boémia”22 que espelhava um determinado ambiente social e
cultural de perfil mais urbano face ao início da década de 1860
e criou, certamente, melhores condições, leia­‑se, mais sócios
e mais público para o desenvolvimento dos movimentos asso‑
ciativos da cidade e para a afirmação de diversas actividades
culturais. É esta expansão urbana de Portalegre que providen‑
ciará a sustentabilidade do Montepio e da Banda Euterpe até
à década de 1890.
ation, forced the statutes relating to mutual assistance to be
amended and re-submitted for Government approval. These
legislative alterations led to a change in the relationship
between the Montepio and its musical section, leading to
the establishment of a music school to be organized through
a specific fund and a special regulation that was approved on
26 December of that year. Indeed, by force of law, this paved
the way for a new activity, which would keep its umbili‑
cal connection to the Philharmonic Band: a music school.
The new statutes of Montepio were approved, it should be
noted, by the Royal Charter of 22 August 1894. The school
Do Montepio à Banda (1884­‑1908)
and the Philharmonic were, respectively, given the name of
Escola Musical Euterpe Portalegrense and Filarmónica Euterpe
O início da década de 1890 traz consigo diversas muta‑
ções. O Decreto de 28 de Fevereiro de 1891, referente ao
direito de associação, obrigara a que os estatutos de socor‑
ros mútuos fossem alterados e novamente submetidos à
aprovação do Governo. Estas mutações na legislação leva‑
ram a que se promovesse uma alteração na relação entre
o Montepio e a sua secção musical, impulsionando a cria‑
ção de uma escola musical que deveria ser organizada com
um fundo específico e com um regulamento especial que
viria a ser aprovado a 26 de Dezembro desse ano. Na ver‑
dade, pela força da lei, aplanou­‑se o caminho para uma nova
via cuja ligação umbilical a tornaria inseparável da Banda:
uma escola musical. Os novos estatutos do Montepio seriam
aprovados, refira­‑se, pelo Alvará Régio de 22 de Agosto de
1894. A escola e a filarmónica ficaram, respectivamente,
com a designação de Escola Musical Euterpe Portalegrense
e Filarmónica Euterpe Portalegrense. Da direcção das duas
ocupou­‑se Francisco Perdigão.
A 15 de Dezembro de 1892, contando a Associação Mutualista com 136 sócios, ocorre uma nova mudança de instalações
21
Portalegrense. Francisco Perdigão was on the board of both.
On 15 December 1892, the Mutualistic Association,
with its 136 members, underwent a change of premises
when the Montepio leased from the Municipality of Por‑
talegre, for an annual rent of 12 thousand reis, a space that
had belonged to the former Seminary and which would be
used for the Philharmonic Band’s rehearsals. The place and
the rent were divided with the Montepio Fraternidade, another
mutualistic association existing in the city who remained in
the same location as the Euterpe for a number of years.
This period was not, however, conducive to the expan‑
sion of the Euterpe. With regards to its mutualistic activity,
the members of the Montepio between 1895 and 1896 were
afflicted by a number of diseases, not managing to avoid the
outbreak that affected the entire city. The increased need for
assistance by members due to the growing number of cases of
influenza, measles and smallpox, in addition to pneumonia,
largely overloaded the finances of the Montepio, as stated in
a report by the Board dated 3 January 1896, which stated
that “the year 1885 was, without doubt, the cruellest of all
Alvará Régio de aprovação dos
estatutos do Montepio Euterpe
Portalegrense, século XIX.
Royal Charter approval of the statutes
of Montepio Euterpe Portalegrense,
nineteenth century.
quando o Montepio arrenda à Câmara Municipal de Portalegre,
por 12 mil reis anuais, um espaço que pertencia ao antigo Semi‑
nário e que se destinaria aos ensaios da Filarmónica. O lugar e
a renda foram divididos com o Montepio Fraternidade, outra
associação mutualista existente na cidade e que se manteria
durante bastantes anos no mesmo espaço da Euterpe.
O período não era, todavia, propício à expansão da
that our Monte Pio could remember during its long exist‑
ence (...) since many of our fellow members were dragged
through pain into their beds where they remained, tortured
by extremely serious diseases”23. The situation appears to
have continued and a new report, dated 3 December, men‑
tioned that “the poor sanitary condition of our city contrib‑
uted in a major way to the worsening of our finance which
22
Euterpe. Na vertente mutualista os membros do Montepio
são afligidos, entre 1895 e 1896, por uma série de doenças,
não fugindo ao surto que atingia toda a cidade. O aumento
da necessidade de assistência na saúde pelos sócios devido
ao crescimento do número de casos de gripe, de sarampo
e de varíola, além das pneumonias, vem sobrecarregar, em
grande medida, as finanças do Montepio conforme expõe
um relatório da Direcção datado de 3 de Janeiro de 1896.
Aí é referido que “o ano de 1885 foi, sem a menor contesta‑
ção, o mais cruel de todos quantos o nosso Monte Pio possa
contar durante a sua já longa existência (...) pois que a mui‑
tos dos nossos consócios arrastou para o leito de dor onde
os conservou torturados por doenças gravíssimas”23. A situ‑
ação parece prolongar­‑se e um novo Relatório, datado de 3
de Dezembro, refere que “o mau estado sanitário da nossa
cidade contribuiu de forma poderosíssima para o agra‑
vamento das suas finanças já muito abaladas na anterior
gerência”24. Na verdade, o aumento do número de enfermos
agravou bastante o estado financeiro da Associação. Neste
were already under great strain during the previous manage‑
ment”24. In fact, the increase in the number of sick consider‑
ably worsened the financial condition of the Association. In
that year, 72 of the 141 members requested assistance. They
asked, essentially, for assistance with medication. It was the
experience of these difficulties which probably led the Mon‑
tepio Board chaired by José Rosa and elected for the year
1896 to take a few extraordinary measures aimed at increas‑
ing the revenues of the Mutualistic Association. The most rel‑
evant consequence for the philharmonic band was certainly
the sale of its musical instruments and other objects belong‑
ing to the philharmonic section of the Montepio, a fact that
seems to mark a period of change in the preponderance of
the Philharmonic Band within the Mutualistic Association.
The assets of the Band were also enriched with the pur‑
chase in April of new works for the Philharmonic. The finan‑
cial difficulties that the Montepio went through also caused
the Board elected for the year 1898, and chaired by António
Sebastião Rodrigues e Silva, to envisage new paths for the
Mutualistic Association. A new means of enabling the Mon‑
Anúncio à actividade da Euterpe
no jornal O Distrito de Portalegre,
9 de Julho de 1890.
tepio to survive was inaugurated, with the project to set up a
Announcement to Euterpe activity
in the newspaper O Distrito de Portalegre,
9 July 1890.
mutualistic pharmacy in Portalegre. During this period, and
related to this, negotiations with the Montepio Operário and
the Montepio Fraternidade took place to carry out a study to set
up a pharmacy in Portalegre run by the three organizations.
It was at this time that an important episode concerning the
relationship between the Board of the Montepio and the
Philharmonic Band took place in May 1898. Perhaps want‑
ing to obtain more available time to solve the problems of the
Mutualistic Association, the Board gave Perdigão, the con‑
ductor of the Philharmonic Band, a wide remit “to hereinaf‑
ter accept invitations for the band to attend any acts or func‑
tions, with he being the person most competent to resolve
23
ano, 72 dos 141 sócios pediram auxílio. Solicitavam, essen‑
cialmente, a requisição de medicamentos. Terão sido as difi‑
culdades aí sentidas que levaram provavelmente a Direc‑
ção do Montepio liderada por José Rosa e eleita para o ano
de 1896 a tomar algumas medidas extraordinárias tendo
em vista o aumento das receitas da Associação Mutualista.
A consequência mais relevante para a Banda foi, segura‑
mente, a venda dos instrumentos musicais e outros objec‑
tos até aí pertencentes ao Montepio à sua secção filarmó‑
nica, um facto que parece marcar um período de mudança da
preponderância da Banda no seio da Associação Mutualista.
O património da Banda foi igualmente enriquecido com a
compra, em Abril, de novas obras para a Filarmónica. As
dificuldades financeiras que o Montepio sentia terão levado
também a sua Direcção, eleita para o ano de 1898 e presi‑
dida por Sebastião António Rodrigues e Silva, a perspectivar
novos caminhos para a Associação Mutualista. Inaugura­‑se,
assim, como nova via de sobrevivência do Montepio, o pro‑
jecto da instalação de uma farmácia mutualista em Porta‑
legre. Foram mantidas, nesse sentido, negociações com o
Montepio Operário e com o Montepio Fraternidade para um
estudo para estabelecer em Portalegre uma farmácia gerida
pelas três organizações. Foi nesta conjuntura que a relação
entre a Direcção do Montepio e a Banda conhece, em Maio
de 1898, um importante episódio. Querendo, porventura,
obter maior disponibilidade de tempo para resolver os pro‑
blemas da Associação Mutualista, a Direcção confere a Per‑
digão, o regente da Banda, amplos poderes “para de ora em
diante aceitar os convites para a banda assistir a quaisquer
actos ou funções por ser ele o mais competente para resolver
quaisquer obstáculos que possam dar­‑se e bem assim esta‑
belecer as gratificações que a banda deve receber, tanto den‑
tro como fora da cidade”25. Foi já com esta autonomia que
any obstacles that may occur as well as determining any
financial compensations that the Band would obtain, both
inside and outside the city”25. It was with this autonomy that
Perdigão would coordinate all the activities carried out at the
turn of the nineteenth and the twentieth century. In January
1901, when the Montepio had about 119 members the news‑
paper Distrito de Portalegre declared on its front page that “the
people have taken to the streets” for the “Celebrations of the
New Century.”26. The Euterpe, as was its tradition, animated
the streets of the city. The century had changed but the year
followed the normal rhythm of performances and partic‑
ipation in the most important moments of the city. It was
mainly marked by the inauguration of electric street light‑
ing in Portalegre that until then used oil. The celebrations
were boosted by the Commercial Association of Portalegre,
the most significant names of which being George Wheel‑
house Robinson, Boaventura da Costa and António Augusto
Niny. Of the various infrastructure created for the event by
the artist José Maria dos Santos the new gazebos and vari‑
ous ornamentations stood out, giving life to the party. Two
pavilions were also erected, the Pavilion House of the Indus‑
tries of the Robinson House and the Bazaar Pavilion. The lat‑
ter functioned as the true centre of the party. Five philhar‑
monic bands were invited, which marched through the city
streets. Along with the Euterpe, on 12 September 1901,
were the 22 Infantry Band, the Band of Marvão, the Band
of Gáfete and the Band of the 41st Infantry of Badajoz. The
inauguration of electric lighting itself occurred at six o’clock
in the afternoon, when the bazaar was also opened. Then, at
night, before “a light that was lively, clear, without any flick‑
ering”27, the Euterpe played on the bandstand of the Public
Park while the band of the 22 Infantry and the Marvão band
played on the bandstands that flanked the Bazaar pavilion.
24
Perdigão terá coordenado todas as actuações efectuadas na
viragem do século XIX para o século XX.
Em Janeiro de 1901, quando o Montepio contava com
cerca de 119 sócios o jornal Distrito de Portalegre coloca na
primeira página que “o povo sai à rua” para os “Festejos do
Novo Século”26. A Euterpe, como é tradição, animou as ruas
da cidade. O século mudou mas o ano seguiu o ritmo normal
nas actuações e na participação nos momentos mais impor‑
tantes da cidade. Foi marcado, sobretudo, pela inauguração
da iluminação eléctrica de rua em Portalegre que até aí era
efectuada a petróleo. Os festejos foram impulsionados pela
Associação Comercial de Portalegre que era composta, nos
nomes mais relevantes, por George Wheelhouse Robinson,
Boaventura da Costa e António Augusto Niny. Das várias
infra­
‑estruturas criadas para o evento pelo artista José
Maria dos Santos destacavam­‑se os novos coretos e as diver‑
sas ornamentações que deram vida à festa. Construíram­
‑se, igualmente, dois pavilhões, o Pavilhão das Indústrias da
Casa Robinson e o Pavilhão do Bazar. Este último funcionava
como o verdadeiro centro da festa. Foram convidadas cinco
bandas que percorreram as ruas da cidade. Acompanhavam
a Euterpe, em 12 de Setembro de 1901, a Banda de Infanta‑
ria 22, a Banda de Marvão, a Banda de Gáfete e a Banda do
41 da Infantaria de Badajoz. A inauguração da iluminação
eléctrica propriamente dita ocorreu às seis da tarde, altura
em que também é aberto o bazar. Já à noite, perante “uma
luz que se mostra viva, clara, sem oscilações”27, a Euterpe
toca no coreto do Jardim Público enquanto a banda de
Infantaria 22 e a de Marvão tocam nos coretos que ladeiam
o pavilhão do bazar. Os festejos, refira­‑se, continuaram nos
dias 13, 14, 15 e 16.
Acontecimentos igualmente marcantes terão sido a par‑
ticipação nas comemorações do 15.º aniversário da subida
25
The festivities, as already mentioned, continued on the 13th,
14th, 15th and 16th.
Events equally significant were its participation in the
celebrations of 15th Anniversary of the election of Pope Leo
XIII, in March 1902, and the expressions of appreciation
prepared for the visit of King D. Carlos to Marvão railway
station in December of the same year. In the following year,
in January, George Wheelhouse Robinson threw a party at
the former Fábrica Real to celebrate the coming of age of
his son George Milner Robinson. At the event, attended by
1600 guests, the band carried out a street procession from
its headquarters, in Rua do Seminário until the Fábrica Real,
with the key moment being when Perdigão offered George
Milner Robinson an anthem written by him, in front of the
Robinson’s residence.
Some months earlier, in June 1901, Francisco Perdigão
had informed the Board of the Montepio that the Associ‑
ation was going to move premises to a place “which until
recently had housed an official boys’ primary school from
the Parish of S. Lourenço. The Philharmonic and the Mon‑
tepio could be located there without any obligation to pay
rent until 31 December 1904 when the current town coun‑
cil would terminate its term of office”28. He also mentioned
that there was space available for the Montepio Fraternidade
Portalegrense.
The day-to-day operations of the Euterpe in the early
twentieth century thus did not undergo any major changes.
The Philharmonic Band work was filled with a succession of
rehearsals and concerts alternating with special occasions
at the level of the city and even the country. These included
the acclamation of the new king, D. Manuel, in 1908. For the
occasion, Francisco Perdigão conducted a Te Deum celebrated
in the Cathedral. Also in June of the same year, the Euterpe
Participação da Euterpe nas festas
de inauguração da iluminação eléctrica
em Portalegre. O Distrito de Portalegre,
n.º 851 (18 de Setembro de 1901).
Euterpe participation in the inauguration
of the electric street lighting in Portalegre.
O Distrito de Portalegre, no. 851,
(18 September 1901).
Participação da Euterpe nas
comemorações da maioridade
de George Milner Robinson.
O Distrito de Portalegre, n.º 1012
(11 de Janeiro de 1903).
Euterpe participation in the celebration
of the coming of age of George Milner
Robinson. O Distrito de Portalegre,
no. 1012 (11 January 1903).
26
de Leão XIII a Papa, em Março de 1902, e nas manifestações
de apreço preparadas aquando da passagem do rei D. Car‑
los pela estação de Marvão, em Dezembro do mesmo ano.
Já no ano seguinte, em Janeiro, George Wheelhouse Robin‑
son deu uma festa na antiga Fábrica Real para comemorar a
maioridade do seu filho George Milner Robinson. No aconte‑
cimento, presenciado por 1600 convidados, a Banda fez uma
arruada desde a sua sede, na Rua do Seminário até à Fábrica
Real, destacando­‑se o momento em que Perdigão ofereceu a
George Milner Robinson, em frente da habitação dos Robin‑
son, um hino de sua autoria.
Alguns meses antes, em Junho de 1901, Francisco Per‑
digão comunicara à Direcção do Montepio que a Associação
iria mudar de instalações para a casa “em que até há pouco
funcionava a escola primária oficial do sexo masculino da
Freguesia de S. Lourenço. Para ali se instalarem filarmónica
e montepio sem obrigação de pagamento de renda até 31
de Dezembro de 1904 quando terminar a regência da actual
vereação”28. Refere também que há espaço disponível para o
Montepio Fraternidade Portalegrense.
O dia­‑a­‑dia da Euterpe não conhece assim, no início do
século XX, grandes alterações. A Banda mantém­‑se preen‑
chida pela sucessão de ensaios e concertos que são alterna‑
dos, em momentos singulares, por eventos de maior dimen‑
são da cidade ou até do país. Conta­‑se aí a aclamação do
novo rei, D. Manuel, em 1908. Para a ocasião, Francisco Per‑
digão dirige um Te­‑Deum celebrado na Sé. Ou em Junho do
mesmo ano, quando a Euterpe irrompe nas ruas da cidade
com a alvorada que inaugura as festividades comemorativas
dos 100 anos da expulsão dos franceses aquando das Inva‑
sões Francesas. O cenário, instalado no Passeio Público para
o concerto da Euterpe, da Banda de Infantaria 22 e da Filar‑
mónica dos Bombeiros pretende sublinhar o perfil festivo do
27
performed in the city streets on the dawn opening the fes‑
tivities to commemorate the 100th anniversary of the expul‑
sion of the French during the Napoleonic wars. The scenery
mounted on the Public Promenade for the concert involv‑
ing the Euterpe, the 22 Infantry Band and the Fire-fighters
Philharmonic sought to emphasize the festive nature of the
event, especially in its composition, with a triumphal arch
with blue and white electric lamps forming the letters VIP,
meaning “Long live the independence of Portugal” (“Viva a
Independência de Portugal” and the cascade that showed VP at
the bottom, to spell out “Viva Portugal”. Despite this regu‑
lar daily routine, the period was actually one of profound
changes both for the Philharmonic Band and for the Monte‑
pio. At that time the latter had about 100 members and had,
despite its difficulties, survived the difficult years of the last
decade of the nineteenth century.
Setbacks, Perseverance and Regeneration:
the turn of the Philharmonic Band (1908-1926)
The work carried out by Perdigão during the years of
his Management, both in terms of his directorship, and his
training of many musicians certainly prevented a feeling of
abandonment upon his death on 21 January 1909. There
was thus no inactivity and new items of news about the phil‑
harmonic band appeared in the Portalegre press soon after‑
wards in September 1909. The pretext was the contest to
mark the first anniversary of the Fire-fighters of the Rob‑
inson Corporation and Robinson and this would have been
one of the first major public appearances of the Philhar‑
monic Band with their new conductor, José Augusto Lavara,
who had taken up his post in March.
Despite these changes, 1910 was for the Euterpe a year
evento, destacando­‑se, na sua composição, um arco triunfal
com lâmpadas azuis e brancas de luz eléctrica com as letras
VIP, significando “Viva a Independência de Portugal” e na
cascata que se mostrava ao fundo VP, significando “Viva
Portugal”. Não obstante este quotidiano regular os tem‑
pos eram, na realidade, de profundas mudanças quer para a
Banda, quer para o Montepio. Este contava nessa data com
cerca de 100 sócios e tinha, não obstante as dificuldades,
sobrevivido aos anos difíceis da última década do século XIX.
filled with performances. In April it participated in the entry
into the city of the new Bishop António Moutinho and in the
centennial celebrations of Alexandre Herculano, playing the
anthem dedicated to this author through the streets of the
city. But this year was marked mainly by the celebrations of
the 50th anniversary of the Association. The festivities took
place, as always, on 1 December. The winter’s day did not
stop the wintry dawn celebration taking place in the Munic‑
ipal Hall nor the traditional street procession of the band to
play the anthem of the Restoration, as always, by marching
Contrariedades, Perseverança e Regeneração:
a vez da Banda (1908­‑1926)
through the streets of the city. The celebrations were also
marked by the holding of a solemn commemorative session
entitled “The Golden Anniversary of the Euterpe”. The only
O trabalho desenvolvido por Perdigão ao longo dos mui‑
tos anos na sua Direcção, quer na regência, quer na for‑
mação de muitos músicos impediu, certamente, um senti‑
mento de orfandade aquando da sua morte, a 21 de Janeiro
de 1909. Não houve assim qualquer período de inactividade
e novas notícias sobre a Banda surgem na imprensa porta‑
legrense logo em Setembro de 1909. O pretexto foi o con‑
curso efectuado por ocasião do primeiro aniversário dos
Bombeiros da Corporação Robinson e terá marcado uma das
primeiras grandes aparições públicas da Banda com o seu
novo regente, José Augusto Lavara, que tinha sido escolhido
desde Março.
Apesar destas mutações, 1910 constitui para a Euterpe
um ano preenchido de actuações. Em Abril participa na
entrada na cidade do novo bispo D. António Moutinho e
nas comemorações do centenário de Alexandre Herculano,
tocando o hino dedicado a este autor pelas ruas da cidade.
Mas este ano ficou marcado, principalmente, pelas comemo‑
rações dos 50 anos da Associação. Os festejos ocorrem, como
sempre, a 1 de Dezembro. O dia invernoso não impediu a
surviving found member at that time, João Dionísio Serejo
offered a painting which included all the founder members,
in the room of the headquarters of the Euterpe. The ses‑
sion included speeches from the patron and member George
Wheelhouse Robinson, the same individual who had in the
month before offered protection to the Euterpe by helping it
when it had lost the location for its headquarters, helping it
to lease new premises, at the home of the teacher of the city’s
high school.
In 1910 Portalegre got to know, along with the rest of
the country, the news of the official proclamation of the
Republic. But in Portalegre the festive procession only took
place, as reported in the Distrito de Portalegre “after the rep‑
resentatives of the people had made, in the Constituent
Assembly (...) their cry for freedom.”29. The Euterpe partici‑
pated, alongside the 22 Infantry Band and the Band of Vol‑
unteer Fire-fighters, by playing A Portuguesa and A Maria da
Fonte. It should be noted that the Philharmonic Band hence‑
forth started to participate in the commemorative events
held annually to celebrate the establishment of the Republic.
28
In 1910 the Town’s Festivities were held on 13, 14, 15
Partituras do acervo documental
da Euterpe.
and 16 September, a date which served to inaugurate the
Sheet music from the Euterpe
Musical Society archives
town council’s water services. Some changes took place
in this period in the cultural and sporting areas. Above
all there was the emergence of the importance of football
and cycling, or, rather, the “bicycle races”, as mentioned in
the programme of festivities for that year. Portalegre thus
assimilated the changes occurring in activities that filled the
cultural and recreational time of the Portuguese, many of
these driven by the new Republican regime. The Euterpe, as
usual, resisted and survived these changes, adapting to its
new requirements. A trend does stand out, however, in this
adaptation: the streets of Portalegre as a privileged point of
activity.
The Mutualistic Association, as opposed to its band,
was passing through less brilliant times. The year 1910 had
started well enough. On 29 November 1910 the Distrito de
Portalegre announced that the pharmacy of the three mon‑
tepios, Euterpe, Fraternidade and Operário Artístico Portalegrense, would finally open in the city, finalizing a project that,
as we have seen, had been thought of as far back as 1898. It
was to be called the “Pharmácia Mutualista”. Notwithstand‑
ing this episode, the importance of the Montepio in the city
was decreasing. In fact, the Montepio reflected the difficult
times that the Country was experiencing with, for example,
the number of its members decreasing. In 1912 there were
alvorada ocorrida nos Paços Municipais nem a tradicional
arruada, com a Banda a entoar o Hino da Restauração, como
sempre, fazendo uma arruada pelas ruas da cidade. As cele‑
brações ficaram igualmente marcadas pela realização de uma
sessão solene comemorativa intitulada “As bodas de Ouro
da Euterpe”. O único fundador vivo na altura, João Dioní‑
sio Serejo ofereceu, na sala da sede da Euterpe, um quadro
29
in fact only 78 members. It continued to also suffer due to
the increasing expenditure on the provision of mutual aid for
the various diseases afflicting the population of Portalegre
during this period. The situation was becoming worse and in
December 1913 a group of 15 members, headed by Manuel
Eduardo Semedo and José Cara d’Anjo Júnior presented a
proposal in the General Assembly to wind up the Montepio
onde figuravam todos os seus fundadores. Na sessão toma‑
ram a palavra, entre outras personalidades de Portalegre, o
sócio protector George Wheelhouse Robinson, ele que pre‑
cisamente no mês anterior protegera a Euterpe prestando­
‑lhe socorro quando esta ficou sem a sua sede, ajudando­‑a
no arrendamento das suas novas instalações, a casa do pro‑
fessor do liceu da cidade.
Em 1910 Portalegre conhece, juntamente com o resto
do país, a notícia da proclamação oficial da República. Mas
em Portalegre o cortejo festivo só decorre, conforme relata
o Distrito de Portalegre, “depois dos representantes do povo
afirmarem, na Assembleia das Constituintes (...) o grito e
liberdade”29. A Euterpe participa, ao lado da Banda da Infan‑
taria 22 e da Banda dos Bombeiros Voluntários, tocando
A Portuguesa e A Maria da Fonte. Sublinhe­‑se que a Banda
passa a participar, doravante, nas comemorações realizadas
anualmente para celebrar a implantação da República.
Em 1910 as Festas da Cidade realizaram­‑se a 13, 14, 15
e 16 de Setembro, uma data que serviu de inauguração dos
serviços municipalizados da água. Neste período algumas
mudanças ocorrem no campo cultural e desportivo. Destaca­
‑se, sobretudo, a emergência da importância do futebol e do
ciclismo, ou melhor, das “corridas de bicicletas”, conforme a
referência no programa das festas desse ano. Portalegre assi‑
mila assim as transformações ocorridas nas actividades que
preenchiam o quadro recreativo e cultural português sendo
muitas delas, refira­‑se, impulsionadas pelo novo regime repu‑
blicano. A Euterpe, como habitualmente, resiste e sobrevive
a estas transformações, adaptando­‑se às novas exigências.
Nesta adaptação destaca­‑se, todavia, uma tendência: as ruas
de Portalegre como local privilegiado de actuação.
A Associação Mutualista, ao invés da sua Banda, conhe‑
cia tempos de menor brilhantismo. O ano de 1910 até come‑
Euterpe Portalegrense. The city was scared of the idea of los‑
ing its Philharmonic Band and the Mutualistic Association.
The Distrito de Portalegre of 7 December mentioned in this
respect, “our heart trembles for a resolution and Portalegre,
our land, trembles at so much shame. They do not wish
this!”30. The proposal was, in fact, a form of pressure since
the Montepio had stopped its financial subsidy and the con‑
tinuity of the Philharmonic Band was not in question here.
But for the Montepio this was merely the prelude to the end.
Moreover, it should also be added, as already noted, that
these years marked the establishment in Portugal of a social
security system sponsored by the state, a competitive real‑
ity to the mutualistic associations which endangered their
existence.
The harshness of this period would be accentuated in
the city. The Distrito de Portalegre on 2 April 1916 ran the
headline “To the People of Portalegre. The Patriotic Com‑
mission hereby announces the entry of Portugal into the
Great War”, stating that it had learnt of Portugal’s entry into
the First World War. This started another difficult period
for the Euterpe and Portalegre.
Even so, in May, on the occasion of the entrance into
the city of its new bishop, D. Manuel Mendes da Conceição
Santos, it still tried to break what the local press called the
”sad monotony of the city”31, with the holding of the Flower
Festival. But until the end of the war, and then throughout
the 1920s, a period marked by severe economic difficulties
and major political crises , the Philharmonic Band and the
Montepio Euterpe resigned themselves to surviving with‑
out any especial vitality. In the Montepio, the imbalance of
the accounts which we have already referred to, persisted
throughout the second half of the 1920s. On 15 March 1926,
at a meeting of the General Assembly, it was decided to alter
30
the value of the subscriptions due to “the large number of
sick individuals who have lately been taking advantage of the
Montepio”32. But in the Philharmonic Band the deterioration
of the instruments, the calling up of the musicians for mili‑
tary service and the hardness of the times did not prevent it
continuing to be present at the key moments that occurred
in Portalegre.
Under the sign of Corporatism (1926-1960)
On 5 June 1928 the Philharmonic Band participated
in the reception given by the city to the President of the
Republic, General Carmona, the leader of the Military Dic‑
tatorship established in 1926. With the military dictator‑
ship the path was levelled for the establishment of the
Estado Novo of Salazar. This system, which was officially
inaugurated in 1933, had created a new perspective on
association life and welfare in Portugal, constructing con‑
trol mechanisms over many associations that had previ‑
ously existed. The corporatism of the Estado Novo actually
followed paths which the associations should have trod‑
den. And the new path contradicted the profile of many
Portuguese associations of this period, especially those
guided from a perspective of freedom. As far as mutual‑
ism was concerned, the pretext given by the new regime
to take greater control over these associations and to wind
up many of them was to compel the associations with a
reduced dimension to merge into larger organizations.
As it was, both the autonomous route that had char‑
acterised the Montepio Euterpe Portalegrense, and its small
number of members, and a situation exacerbated by its poor
financial state, led to the path to its extinction being a short
Participação da Euterpe nas Festas
da Cidade de 1910.
one.
Participation in the Town’s Festivities, 1910.
31
çara bem. A 29 de Novembro de 1910 o Distrito de Portalegre anuncia, finalmente, que vai abrir a farmácia dos três
montepios existentes na cidade, Euterpe, Fraternidade e
Operário Artístico Portalegrense, concretizando­‑se um pro‑
jecto que já vinha sendo pensado desde 1898, como vimos.
Designar­‑se­‑á “Pharmácia Mutualista”. Não obstante este
episódio, a importância do Montepio na cidade vai dimi‑
nuindo. Na realidade, o Montepio reflecte os tempos difíceis
que marcavam o país diminuindo, por exemplo, o número
dos seus sócios. Em 1912 estes eram apenas 78. Continuava
a sofrer, igualmente, com o aumento da despesa com a pres‑
tação de socorros mútuos em função das diversas doen‑
ças que afligiam a população portalegrense neste período.
A situação foi­‑se agravando e em Dezembro de 1913 um
grupo de 15 sócios, encabeçados por Manuel Eduardo
Semedo e José Cara d’Anjo Júnior apresenta, em Assembleia
Geral, uma proposta para extinguir o Montepio Euterpe Por‑
talegrense. A cidade assusta­‑se com a ideia de perder a sua
Banda e a Associação Mutualista. O Distrito de Portalegre de
7 de Dezembro refere a este respeito, “o nosso coração estre‑
mece pela resolução e Portalegre, a nossa terra, treme de tal
vergonha. Não queiram!”30. A proposta constituía, na ver‑
dade, uma forma de pressão dado que o Montepio deixara
de pagar o subsídio pecuniário e a continuidade da Banda
não esteve aqui em causa. Mas para o Montepio foi apenas o
prelúdio para o fim. Acresce também, como já referimos, que
estes anos marcam a instalação em Portugal de um regime
de previdência social patrocinado pelo Estado, uma reali‑
dade concorrencial às associações mutualistas e que fazia
perigar a sua existência.
‑se acentuando na cidade.
A dureza deste período ia­
O Distrito de Portalegre, a 2 de Abril de 1916, e sob o título
“Ao Povo de Portalegre. A Comissão Patriótica anuncia a
The solution presented by the Estado Novo to the Montepio Euterpe Portalegrense forced it to merge with the Montepio Fraternidade, and the Montepio Operário Portalegrense,
the most important mutualistic association in the city.
The reports by J. Rose in the Distrito de Portalegre tell us of
the pressure exerted to achieve this end. On 14 October
1934 he wrote that “by not being able to continue having
an independent existence, it appears to us that the Montepios Euterpe and Fraternidade will merge with the Montepio
Operário. We find this to be optimal idea, especially as the
former two Montepios have not yet fallen in line with the
current law in force and therefore need to carry out this
merger”33. J. Rosa, it was mentioned, had been the leader of
the Montepio Operário and argued, in the “Mutualistic Week”
held in Lisbon, organized by the “O Século” newspaper in
the early 1930s, that the Montepio Euterpe and the Montepio Fraternidade should merge with the Montepio Operário so
that “in the lands of the province, in particular, there would
be only one Association providing Mutual Support, for its
greater vitality and common interest”34. It can also be seen
that he congratulated himself on the pages of the Distrito de
Portalegre of 4 November 1934 due to that same merger hav‑
ing become a reality. With the mutualistic association hav‑
ing disintegrated, the Philharmonic and The Euterpe Por‑
talegrense School – - the name by which the Association was
called after the extinction of the Montepio, with the name
later being changed to the Euterpe Musical Society (Sociedade Musical Euterpe) – a month later, on 1 December 1934,
celebrated its 74th anniversary with a concert in the society’s
hall and a ball for members and their families.
The Philharmonic Band during this period had around
40 members (see Appendix 2), and it was led by Luís Pathé.
Henceforth, during the whole period of the Estado Novo, the
32
entrada de Portugal na Grande Guerra”, anuncia que teve
conhecimento da entrada de Portugal na Primeira Guerra
Mundial. Inaugura­‑se mais um período difícil para a Euterpe
e para Portalegre.
Ainda assim, em Maio, por ocasião da entrada na cidade
do novo bispo, D. Manuel Mendes da Conceição Santos,
ainda se tenta quebrar o que a imprensa local chama de
“triste monotonia da cidade”31, com a realização da Festa
da Flor. Mas até ao final da guerra, e depois durante toda
a década de 1920, um período marcado por grandes dificul‑
dades económicas e por profundas crises políticas, a Banda
e o Montepio Euterpe resignam­‑se a sobreviver sem grande
vitalidade. No Montepio, o problema do desequilíbrio das
contas a que já fizemos referência, persiste na segunda
metade da década de 1920. A 15 de Março de 1926, em reu‑
nião da Assembleia Geral, decide­‑se alterar o valor das quo‑
tas devido “ao elevado número de doentes que ultimamente
se tem aproveitado do Montepio”32. Mas na Banda a degra‑
dação dos instrumentos, a captação dos músicos para o ser‑
viço militar e a dureza dos tempos não impediram que con‑
tinuasse a estar presente nos principais momentos que
ocorriam em Portalegre.
band would be reduced in its importance when compared
with the corporate institutions of the regime. The 80th
Anniversary was, in this sense, a paradigmatic example of
the new reality that was the Euterpe’s. The day of the anni‑
versary, 1 December, corresponded to the Youth Festivals
(Festas da Mocidade) in Portalegre. Instead of the traditional
dawn procession through the streets of the city, the Philhar‑
monic Band joined in with these celebrations following, in
a secondary fashion, a path determined by the Portuguese
Youth (Mocidade Portuguesa). Corporatism thus ran the cul‑
tural life of the city for a number of years. As an illustration
of this reality, the opening on 5 June 1944 of the Exhibition
of the Corporate Life of the Portalegre District can be noted.
It was held at the Fábrica Real and one of the high points
was its reception, including the presence of Trigo de Negrei‑
ros , Under Secretary of State for Corporations and Social
Security. In a festive atmosphere, as testified to by the var‑
ious representatives of the press, the lively elements of the
town were present. The party was enlivened by two philhar‑
monic bands from the city, the Euterpe Band and the Band
of the Volunteer Fire-fighters, besides the bands of Castelo
de Vide and Alegrete.
This period also saw an attempt to transform the pro‑
Sob o signo do Corporativismo (1926­‑1960)
file of festivals held in the municipality of Portalegre. The
Diocese of Portalegre held control and drew up its “Rules
A 5 de Junho de 1928 a Banda participa na recepção feita
pela cidade ao líder da Ditadura Militar instaurada em 1926,
o Presidente da República, General Carmona. Com a Dita‑
dura Militar estava aplanado o caminho para a instauração
do Estado Novo, de Salazar. Este regime, oficializado em
1933, elevou uma nova perspectiva sobre o associativismo
e sobre a previdência em Portugal, construindo mecanismos
de controlo sobre muitas associações que existiam anterior‑
33
for festivities for the Diocese of Portalegre from 1 August
1944”, which was published in the Distrito de Portalegre of 29
July 1944. Henceforth, the festivities had to be “purely reli‑
gious, and so when parish priests request a licence for some
event they must declare that no folk festival or other form of
profane amusement will take place as part of the same fes‑
tivity”. Furthermore, “it is forbidden to incorporate music
bands into any procession, with the exception of dos Passos
mente. O corporativismo do Estado Novo trilhava, na ver‑
dade, as vias para onde as associações deveriam prosseguir.
E o novo caminho contrariava o perfil de muitas associações
portuguesas deste período, sobretudo as que eram pautadas
por um perfil de liberdade. No quadro do mutualismo, o pre‑
texto apresentado pelo novo regime para efectuar um maior
controlo sobre estas associações e para a extinção de mui‑
tas foi o de obrigar as associações de reduzida dimensão a
fundirem­‑se em organizações maiores.
Ora, quer o percurso de autonomia que marcara a exis‑
tência do Montepio Euterpe Portalegrense, quer a sua
pequena dimensão em número de sócios, quer uma situação
agravada pelo seu mau estado financeiro levaram a que fosse
curto o percurso até à sua extinção.
A solução apresentada pelo Estado Novo ao Montepio
‑o a fundir­
‑se, conjunta‑
Euterpe Portalegrense obrigou­
mente com o Montepio Fraternidade, no Montepio Operá‑
rio Portalegrense, a associação mutualista mais importante
da cidade. Da pressão efectuada nesse sentido conhece‑
mos os relatos de J. Rosa no Distrito de Portalegre. A 14 de
Outubro de 1934 escreve que “por não terem condições de
vida para continuarem independentes, consta­‑nos que vão
fundir­‑se com o Montepio Operário os Montepios Euterpe
e Fraternidade. Achamos óptima a ideia, tanto mais que os
dois últimos Montepios não estão já em conformidade com
a lei vigente e necessitam, por isso, de efectuar a respectiva
fusão”33. J. Rosa, refira­‑se, tinha sido dirigente do Monte‑
pio Operário e defendeu, na “Semana Mutualista” realizada
em Lisboa e organizada pelo jornal “O Século” no início da
década de 30, que o Montepio Euterpe e o Montepio Frater‑
nidade deveriam fundir­‑se com o Montepio Operário para
que “nas terras da província, em especial, houvesse uma
só associação de Socorros Mútuos, para sua maior vitali‑
and do Enterro do Senhor, in which, however, only funeral
marches can be performed”35.
Despite the impositions brought in by the Estado Novo
with regard to the Philharmonic Band for the duration
of the regime, it was a period of some tranquillity. There
were still, however, some difficulties. In the financial area,
as reported by Portilheiro to the Distrito de Portalegre on
the occasion of the 92nd Anniversary of the Philharmonic
Band, despite the number of members having increased,
“revenue from subscriptions only allows for extraordinary
expenses”, which essentially involved the repair and pur‑
chase of new instruments from the Casa Custodio Cardoso
Pereira, the expenses for which amounted to 25,600 escudos, the making of new uniforms to the amount of 3,500
escudos or the works carried out in the hall which totalled
10,500$00 escudos. One of the problems mentioned by
Portilheiro relates to the non-professional status of the
musicians, almost all workers, a situation that was diffi‑
cult to manage. On 1 December, for example, the celebra‑
tions could not be performed to their fullest extent since
many of the musicians “have to work” and as such “per‑
haps will not be playing at dawn through the streets of
the city.” Notwithstanding these difficulties, stated Portil‑
heiro, “as long as I have a breath of life in my body I shall
work for the Euterpe Philharmonic Band”36.
From Vitality to Uncertainty (1960-1974)
In the following years, the city and the Philharmonic
Band were gradually changing. In 1960, the year celebrat‑
ing the centenary of the Euterpe, it was decided to cre‑
ate a campaign for the admission of new members called
the “1st Century Membership Campaign”, which promoted
34
Convite do 74º aniversário
da Banda Euterpe.
Invitation for the Euterpe Musical
Society 74th anniversary.
dade e comum interesse”34. Percebe­‑se assim que se congra‑
tule nas páginas do Distrito de Portalegre de 4 de Novem‑
bro de 1934 por essa mesma fusão vir a ser uma realidade.
Desmembrada a associação mutualista, passaram a trilhar
o seu futuro sozinhas a Banda e a Escola Euterpe Portale‑
grense – nome pelo qual se ficou a designar a Associação
depois da extinção do Montepio, sendo posteriormente o
nome alterado para Sociedade Musical Euterpe – que um
mês depois, a 1 de Dezembro de 1934, festejou 74 anos com
um concerto no salão da sociedade e um baile para sócios e
familiares.
A regência da Banda que contava aí com cerca de 40 ele‑
mentos (ver Anexo 2), pertenceu neste período a Luís Pathé.
Doravante, durante todo o domínio do Estado Novo, a Banda
surge menorizada perante as instituições corporativas do
regime. O 80.º aniversário apresenta­‑se, neste sentido, como
paradigmático da nova realidade que a Euterpe conhecia. O dia
de aniversário, a 1 de Dezembro, correspondia às Festas da
Mocidade em Portalegre. Ao invés da alvorada e da tradi‑
cional arruada pela cidade, a Banda incorporou­‑se nestas
comemorações seguindo, secundarizada, um percurso defi‑
nido pela Mocidade Portuguesa. O corporativismo dirige
assim e durante diversos anos a vida cultural da cidade.
Sublinhe­‑se, ilustrando esta realidade, a inauguração a 5 de
Junho de 1944 da Exposição da Vida Corporativa do Dis‑
trito de Portalegre. Decorreu na Fábrica Real e teve na recep‑
ção a Trigo de Negreiros, sub­‑secretário de Estado das Cor‑
porações e Previdência Social, um dos pontos altos. Num
ambiente festivo, testemunhado pelos diversos represen‑
tantes da imprensa, estiveram presentes os elementos vivos
da cidade. A festa foi alegrada pelas duas bandas da cidade,
a Euterpe e a Banda dos Bombeiros Voluntários, além das
bandas de Castelo de Vide e de Alegrete.
35
an inscription fee waiver and a monthly membership fee
of 2$50 escudos. The campaign was based around a flyer
that presented the organisation as being “in danger of dis‑
appearing” given that “the uniforms and some musical
instruments need replacing as they are outdated and have
fallen into disrepair (...) so we would request you to join
as an assisting member (...) the minimum membership fee
is 2$50 a month”37. To improve the financial situation, it
was also decided to have a prize draw in February entitled
“Prize draw for the first centenary of the Euterpe Band”,
the first prize for which being a selected car, a Goggomobil
T700. The draw would be held in 20 sessions where three
prizes were won each session, the last session culminating
with the drawing of the winning ticket for the car with the
luck of the draw decided by the Euterpe. The sale of books
of tickets for the raffle was carried out by several bands in
Portugal. The plan to increase funds continued by sending
official and private entities a letter requesting funds for
the centennial celebration. One letter was also addressed
to the President of the Republic.
Neste período assiste­‑se, igualmente, a uma tentativa de
transformar o perfil das festas realizadas no concelho de Por‑
talegre. Idealiza­‑se, conforme mostra o “Regulamento das
festas para a Diocese de Portalegre a partir de 1 de Agosto de
1944”, publicado no Distrito de Portalegre de 29 de Julho de
1944, o controle da Diocese de Portalegre sobre “todas as fes‑
tividades”. Doravante, as festas deverão ser “puramente reli‑
giosas e, por isso, quando os párocos supliquem licença para
alguma deverão declarar que não se realiza arraial ou qualquer
outro divertimento profano a propósito da mesma festa”.
Sendo que, “é proibido incorporarem­‑se bandas de música
em qualquer procissão, com excepção das dos Passos e do
Enterro do Senhor, nas quais, aliás, só poderão executar mar‑
chas fúnebres”35.
Apesar das imposições trazidas pelo Estado Novo à Banda
durante a duração desse regime, o tempo é de alguma tran‑
quilidade. Há, ainda assim, algumas dificuldades. No campo
financeiro, conforme é referido por Portilheiro ao Distrito
de Portalegre por ocasião do 92.º aniversário da Banda, ape‑
sar do número de sócios ter aumentado, “a receita das coti‑
zações apenas permite fazer face às despesas extraordi‑
nárias”36, que se traduzem essencialmente na reparação e
aquisição de novos instrumentos à Casa Custodio Cardoso
Pereira, cujas despesas se elevam a 25.600$00 escudos, pela
feitura de novos fardamento no valor de 3.500$00 escu‑
dos ou pelas obras realizadas no salão e que importaram
10.500$00 escudos. Um dos problemas referidos por Porti‑
lheiro prende­‑se com a não profissionalização dos músicos,
quase todos operários, uma situação que era difícil de gerir.
No dia 1 de Dezembro, a título de exemplo, as comemora‑
ções não se puderam realizar na sua plenitude dado que
muitos dos músicos “têm que trabalhar” sendo que “talvez
não se toque a alvorada pelas ruas da cidade”. Não obstante
The programming of the celebrations continued in
November with a request to the Robinson Recreational
Company to grant the use of their ballroom so that the
Euterpe could hold a ball there, on 1 December. It also asked
for the use of its Cinetheatre to hold a formal sitting. The
idea of organizing an evening for workers was also thought
up and help was sought from the FNAT and the National
Institute of Labour and Welfare, to achieve this purpose.
The aim, as proposed by the delegate of that institute, was
to bring to Portalegre the folkloric ranchos of Vila Franca de
Xira and the Casa do Povo de Casa Branca. However, the Board
of the Euterpe refused, due to the high price of renting the
Cinetheatre. The preparations continued. At the meeting
of 17 November a resolution was passed to offer a popular
36
A renovação do instrumental era
sempre uma das maiores dificuldades
da Banda. Recibo de compra
de instrumentos, 1956.
Replacing the instruments was always one
of the greatest difficulties the Philharmonic
had. Proof of purchase of instruments.
estas dificuldades, refere Portilheiro, “enquanto eu tiver um
sopro de vida trabalharei pela Banda Euterpe”37.
snack to members and other guests which received a pos‑
itive response from the Robinson Recreational Society. At
the meeting of the following week it was reported that the
Da Vitalidade à Incerteza (1960­‑1974)
Gulbenkian Foundation, similar to what was happening
with the other philharmonics in Portugal, would financially
Nos anos seguintes, sopro a sopro, a cidade e a Banda vão
paulatinamente mudando. Em 1960, no qual se comemorou
o centenário da Euterpe, decidiu­‑se criar uma campanha de
admissão de sócios denominada “Campanha do Sócio do 1.º
Centenário”, promovendo­‑se a isenção de jóia e sendo a cota
mensal para os novos associados de 2$50 escudos. A cam‑
panha estava alicerçada num folheto que apresentava a ins‑
tituição como estando “em risco de desaparecer” dado que
“necessita de substituição, porque antiquados e em mau
estado, dos fardamentos e de alguns instrumentos musi‑
cais (...) solicitamos a sua instrução como sócio auxiliar (...)
a cota mínima é de 2$50 mensais”38. Também para melho‑
rar a situação financeira, foi decidido fazer em Fevereiro um
sorteio a que se chamou “Sorteio pró primeiro centenário da
Banda Euterpe” e para o qual o primeiro prémio escolhido foi
um carro, um Goggomobil T700. O sorteio realizou­‑se em 20
extracções e atribuiu três prémios por sessão, culminando a
última sessão com a atribuição do automóvel que caberia em
sorte à própria Euterpe. A venda das cadernetas para o sor‑
teio foi realizada por entre diversas bandas do país. O plano
para o aumento das receitas prosseguiu com o envio às enti‑
dades oficiais e particulares de uma carta pedindo verbas
para a celebração do centenário. Foi endereçada, inclusive,
uma carta ao Presidente da República.
A programação das comemorações continuou em Novem‑
bro com o pedido à Sociedade Recreativa Robinson para esta
ceder o salão de festas para aí a Euterpe realizar um baile, a
1 de Dezembro. Solicitou­‑se também a cedência do cinetea‑
37
help the Euterpe in 1961.
The opening day of the centenary celebrations was
rainy. Of note from the official programme was the formal
sitting on 1 December in the ballroom of the Escola do Magistério Primário. Also of note are the details. The tables were
decorated with flowers and red damask tablecloths. In the
middle the banner, held in place. The session was chaired
by the Secretary-General of the Civil Government on behalf
of the Civil Governor, in the presence of various official and
private entities. The speakers, in addition to Portilheiro,
were the teacher Ângelo Monteiro and Father Joaquim Mil‑
heiro Valente, teacher at the Seminário Maior. The festivities
continued with dances for members and guests which were
simultaneously held in the Philharmonic’s and the Robinson
Recreational Society’s ballrooms with the Ideal and Ferrugem
orchestras38. On the second day the highlight was the draw‑
ing of the prize ticket for the car. On the third day the Ferrugem animated the ball for members in the Philharmonic’s
ballroom and on the last day, as usual, a Mass was celebrated
in the Cathedral, and tribute was offered at the cemetery
to the deceased members, and, lastly, there was a friendly
lunch for the Board with the musicians and friends of the
Philharmonic Band. In the restaurant, on the right hand
side, near Portilheiro, sat João de Assunção Jorge, Luís de
Alegria Pathé, Joaquim Pathé, teacher at the Escola Industrial
e Comercial of Portalegre, and the member Joaquim Trin‑
dade, a proprietor, who was introduced as a close friend of
the Philharmonic Band. On the left side of the director sat
tro para a realização de uma sessão solene. Pensou­‑se, igual‑
mente, organizar um serão de trabalhadores e recorreu­‑se
ao apoio da FNAT e do Instituto Nacional do Trabalho e Pre‑
vidência para o efeito. O objectivo, por proposta do dele‑
gado deste instituto, seria trazer a Portalegre os ranchos fol‑
clóricos de Vila Franca de Xira e o da Casa do Povo de Casa
Branca. Mas a Direcção da Euterpe recusa, dado o elevado
preço de arrendamento do cineteatro. Os preparativos con‑
tinuam. Na sessão do dia 17 de Novembro deliberou­‑se ofe‑
recer um lanche popular a associados e outros convidados
e recebeu­‑se a resposta positiva da Sociedade Recreativa
Robinson. Na sessão da semana seguinte foi comunicado
que a Fundação Gulbenkian, à semelhança do que ocorre
com outras filarmónicas no país, irá ajudar financeiramente
a Euterpe durante o ano de 1961.
Esteve chuvoso o dia inaugural das comemorações do
centenário. Do programa oficial destaca­‑se a sessão solene
que ocorreu, no dia 1 de Dezembro, no salão de festas da
‑se aos pormeno‑
Escola do Magistério Primário. Atente­
res. As mesas estavam decoradas com flores e com toalhas
de damasco vermelho. No meio o estandarte, segurado por
um executante. A sessão foi presidida pelo Secretário­‑Geral
do Governo Civil em representação do Governador Civil,
estando presentes diversas entidades oficiais e particula‑
res. Os conferentes, além de Portilheiro, foram o professor
Ângelo Monteiro e o Padre Joaquim Milheiro Valente, pro‑
fessor do Seminário Maior. As festividades prosseguiram
com os bailes para sócios e convidados que se realizaram,
simultaneamente, no salão da Banda e na Sociedade Recreativa Robinson com as orquestras Ideal e Ferrugem39. No
segundo dia o ponto alto foi o sorteio do automóvel. No ter‑
ceiro dia a Ferrugem abrilhantou o baile para sócios no salão
da Banda e no último dia celebrou­‑se, como de costume,
Convite para baile. Orquestra Ideal.
Ball invitation. “Ideal” orchestra.
38
uma missa na Sé, a homenagem prestada no cemitério aos
sócios já falecidos e, por fim, um almoço de confraterniza‑
ção da Direcção com os executantes e amigos da Banda. No
restaurante, no lado direito, perto de Portilheiro, sentaram­
‑se João de Assunção Jorge, Luís de Alegria Pathé, Joaquim
Pathé, professor da Escola Industrial e Comercial de Portale‑
gre, e o sócio Joaquim Trindade, proprietário e apresentado
como grande amigo da Banda. Do lado esquerdo do director
sentaram­‑se Manuel Barata Silvério, director da escola do
Magistério Primário, o padre Joaquim Milheiro Valente, o
professor Ângelo Monteiro e ainda o padre Joaquim Cabral e
Manuel Trindade, chefe da Secretaria do Grémio do Comér‑
cio. Encerram­‑se assim as comemorações do centenário.
A importância das festividades, símbolo da vitalidade da
Euterpe no período, foi reportada largamente pela comuni‑
cação social, mormente pelos jornais A Rabeca, o Distrito de
Portalegre, O Século, Diário de Noticias, Diário Popular, Diário
Ilustrado, Novidades e República. Ainda o Jornal de Notícias, o
Comércio do Porto e o Primeiro de Janeiro. A Euterpe, agora já
velhinha Euterpe, mostrava a sua vitalidade.
Também para essa energia concorreu de forma decisiva
a Câmara Municipal de Portalegre (CMP). A título de exem‑
plo da estreita relação entre a CMP e a Euterpe, e ainda que
a instituição não tenha contribuído para as comemorações
do centenário porque “os apoios das CMP só existem ape‑
nas na concessão de subsídios às filarmónicas dos conce‑
lhos com o fim de educar a juventude”40, a CMP atribuiu
desde 1962 um subsídio anual de 4.000$00 escudos para
auxiliar a manutenção da escola musical. Em função do sub‑
sídio foi acordado que a Banda daria 5 concertos nos jardins
públicos.
Como consequência do maior desafogo financeiro con‑
seguido através desta cooperação e para estimular e melho‑
39
Manuel Barata Silvério, headmaster of the Escola do Magistério Primário, father Joaquim Milheiro Valente, the teacher
Ângelo Monteiro and also father Joaquim Cabral and
Manuel Trindade, head of the Guild Department of Trade.
Thus the centenary celebrations were closed. The impor‑
tance of the festivities, symbol of the vitality of the Euterpe
in the period, was widely reported by the press, especially
the newspapers A Rabeca, the Distrito de Portalegre, O Século,
Diário de Noticias, Diário Popular, Diário Ilustrado, Novidades
and República. And also the Jornal de Notícias, the Comércio do
Porto and the Primeiro de Janeiro. The Euterpe, now the old
woman Euterpe, had shown its vitality.
The Portalegre Municipality (Câmara Municipal de Portalegre – CMP) also made a decisive contribution to this
vitality. As an example of the close relationship between
the CMP and the Euterpe, was that although the former
did not contribute to the centenary celebrations, given that
“the support of the CMP was only in regard to the granting
of subsidies to the philharmonics of municipalities in order
to educate the youth”39, from 1962 the CMP provided an
annual subsidy of 4,000$00 escudos to help with the upkeep
of the music school. In return for the subsidy it was agreed
that the Philharmonic Band would give five concerts in pub‑
lic parks.
As a consequence of the greater financial relief achieved
through this cooperation and to stimulate and improve
attendance at rehearsals, the Board of the Philharmonic
Band decided to pay the musicians 4 escudos per rehearsal,
for which a special fund was created and to which the CMP
contributed 1000 escudos, with the Band in return offering
musical concerts subsidized by the CMP.
The sponsorship provided by various entities to the
Portuguese associative movement during this period was,
rar a assiduidade aos ensaios, deliberou a Direcção da Banda
gratificar os executantes com 4$00 escudos por ensaio, para
o que se criou um fundo especial para o qual a CMP contri‑
buiu com 1.000$00 escudos, compensando a Banda com a
realização dos concertos musicais subsidiados pela CMP.
O mecenato prestado por várias entidades ao associa‑
tivismo português neste período constituíam, na verdade,
uma importante fonte de rendimento para muitas organiza‑
ções culturais, situação para a qual as Direcções da Euterpe
estavam atentas. Sublinhe­‑se, como exemplo, o subsídio
que pede a Direcção da Banda à Fundação Gulbenkian, em
1963. Nesse mesmo ano o Grémio do Comércio de Portale‑
gre atribui­‑lhe um subsídio de 500$00 escudos. Já em 1864
a Junta Distrital de Portalegre atribui­‑lhe, igualmente, um
valor de 1.000$00 escudos.
Apesar do sucesso das comemorações do centenário e
das verbas conseguidas com as ajudas de diversas organi‑
zações, a saída intempestiva e sem pré­‑aviso do tesoureiro
em exercício em 1964 deixa a Banda em situação financeira
difícil. Esta realidade é confirmada num Relatório de 1965
em que se diz que a “a situação financeira é alarmante, defi‑
citária”41. Para acentuar a incerteza, em Abril desse ano a
Direcção reúne­‑se pela última vez sob a Direcção de Porti‑
lheiro. O regente, que seria substituído por Ernesto de Car‑
valho Oliveira em Maio, viria a falecer a 2 de Agosto de
1966, depois de 15 anos a dirigir a Banda. Por esta altura,
conforme revela um Relatório de uma Direcção bem poste‑
rior, em 1989, as dificuldades eram grandes e espelhadas
no reduzido número dos seus elementos, referindo­‑se que
“quando saía não reunia mais do que 20 músicos mal farda‑
dos e alguns indisciplinados”42.
Até 1970, segundo o Presidente da Assembleia Geral,
José Maria Raimundo numa reunião ocorrida a 16 de Maio,
in fact, an important source of income for many cultural
organizations, a situation which the various Boards of the
Euterpe were aware of. Of note, for example, was the grant
request made by the Board of the Philharmonic Band to the
Gulbenkian Foundation in 1963. That same year the Por‑
talegre Guild of Commerce awarded it a grant of 500 escu‑
dos. In 1864 the District Board of Portalegre awarded it an
amount of 1,000 escudos.
Despite the success of the centennial celebrations and
the funds obtained with the aid of various organizations,
the untimely departure without notice of the Treasurer
in office in 1964 left the Philharmonic Band in a difficult
financial situation. This reality was confirmed in a 1965
Report which stated that “the financial situation shows
an alarming deficit”40. To accentuate the uncertainty, in
April of that year the Board met for the last time under
the Directorship of Portilheiro. The director, who would
be replaced by Ernesto de Carvalho Oliveira in May, would
pass away on 2 August 1966, after 15 years managing the
Philharmonic Band. By this time, as a much later Board
report would show, in 1989, the difficulties were great and
mirrored in the reduced number of members, and it men‑
tioned that “there were no more than 20 musicians pre‑
sent who were badly turned out with some being unruly”41.
By 1970, according to the Chairman of the General Assem‑
bly, José Maria Raimundo, at a meeting held on 16 May,
disinterest in the Philharmonic Band seems to have taken
hold of the members. On that date, out of the more than
300 members of the Euterpe, the General Meetings were
attended by a reduced number, leading the Chairman to
conclude that “the people are not embracing the philhar‑
monic”42. In fact, while the tougher financial moments
seemed to have disappeared, times were rough for the
40
o desinteresse pela Banda parece ter­
‑se apoderado dos
sócios. Nesta data, apesar dos mais de 300 sócios da Euterpe,
as Assembleias Gerais são frequentadas por um reduzido
número, o que leva o dirigente a concluir que “a população
não acarinha a banda”43. Na verdade, ainda que os momen‑
tos financeiramente mais duros pareçam ter desaparecido, os
tempos são difíceis para a Euterpe. O momento encontra­‑se
espelhado num relatório da Direcção datado de 16 de Maio
de 1970 no qual é referido que “é notório as dificuldades de
toda a ordem porque passamos neste quinquénio da nossa
administração”44. A solução passou por se acentuar o esforço
de obtenção de subsídios junto de algumas entidades. Mas a
Direcção posterior, liderada por Francisco Próspero dos San‑
tos, que tomou posse a 20 de Maio de 1970 voltou, por exem‑
plo, a pedir ajuda à Gulbenkian. A Banda viveu assim com
algum sobressalto o período anterior a 1974, porventura
já acossada pelas mutações que no quadro cultural seriam
impulsionadas pelo surgimento de novos meios de comuni‑
cação, como a televisão, e até a paulatina afirmação da socie‑
dade de consumo e as transformações que estas vinham pro‑
vocando desde a década de 1960.
Euterpe. The moment was mirrored in a Board report
dated 16 May 1970 in which it was stated that “difficulties
of all kinds have been noticeable during the five years of
our administration”43. The solution was to increase efforts
to obtain subsidies from various bodies. A later Board, led
by Francisco Próspero dos Santos, who took office on 20
May 1970, once more, for example, asked the Gulbenkian
for help. The Philharmonic Band lived through the period
prior to 1974 with the occasional shock, possibly already
beset by the changes in the cultural context motivated by
the emergence of new media such as television, and the
gradual assertion of the consumer society and the changes
that these had been causing since the 1960s.
Innovation and Rejuvenation (1974-2004)
The second half of the 1970s was, however, marked
by a great vitality. The society grew from 351 to 1200
enrolled members, with an amount of around 140,000$00
escudos in subscriptions. The first consequence of this
was the ordering of a new uniform. The fabric, it should
be noted, was purchased from Francisco Fino, Lda. and
Inovação e Rejuvenescimento (1974­‑2004)
run up at Rodrigues e Rodrigues in Lisbon. There were also
improvements in the ballroom, including the purchase of
A segunda metade da década de 1970 seria, no entanto,
já marcada por uma grande vitalidade. A sociedade passou
de 351 para 1200 sócios inscritos que conferem cerca de
140.000$00 escudos em quotas. Como primeira consequên‑
cia foi mandado fazer um novo fardamento. O tecido, refira­
‑se, foi adquirido à empresa Francisco Fino, Lda. e executado
na Rodrigues e Rodrigues em Lisboa. Houve, igualmente,
melhoramentos no salão, nomeadamente com a compra de
um lote de 50 cadeiras e 10 mesas, cortinados novos, mon‑
41
a batch of 50 chairs and 10 tables, new curtains, a new
stage being mounted and an extension to the rehearsal
area. On 14 May 1976 the Chairman of the Board, José
Maria Raimundo, confirmed the positive balance that
had been achieved in the final years of his leadership. The
main innovation to be highlighted was the creation of the
School of Music Education which began operating on 28
October 1975, and which was attended by 120 students
divided into three classes. The Euterpe, as we have seen,
tagem de um palco novo e uma ampliação da casa de ensaio.
Em 14 de Maio de 1976 o Presidente da Direcção, José
Maria Raimundo, confirma este bom momento no balanço
que efectuou dos últimos anos da sua liderança. Como prin‑
cipal inovação destaque­‑se a criação da Escola de Educação
Musical que começou a funcionar a 28 de Outubro de 1975,
sendo frequentada por 120 alunos divididos em três turmas.
À Euterpe, como vimos, esteve sempre associado o ensino
da música. A criação da Escola de Educação Musical mate‑
rializava e formalizava, por assim dizer, uma função que se
encontrava intimamente ligada à Associação e proporcio‑
nava, na perspectiva da sua Direcção, uma importante fonte
de receita.
Relevante também, neste período, foi a cedência de ins‑
trumentos pelo Inatel e a mudança de instalações para
o espaço deixado vago pela Sociedade Recreativa Robin‑
son que se extinguira por falta de verbas. Uma das inova‑
ções de maior relevo refere­‑se à formação, por iniciativa do
Presidente da Direcção, de um grupo de sócios cujo objec‑
tivo era ajudar a associação a trilhar um melhor futuro. Foi
assim criada a Comissão de Amigos da Euterpe. Formavam­
‑na, entre outros, os sócios Armindo Santana, Severiano
Contente, António Candeias da Purificação, Joaquim Mão
de Ferro e Miguel Carriço. A estes acrescem outros nomes
como João Ferreira Morais que já tinha sido trompetista em
Alter do Chão e Calisto Lopes, ex­‑executante e que tocou na
banda na época de Portilheiro. A Comissão, de onde saíram
muitos dos elementos que constituiriam a Direcção depois
de 1976, é a responsável por muitas das profundas altera‑
ções que sofreu a Associação até ao final da década de 1980,
procurando uma maior modernização e revitalização.
O esforço foi no sentido de adaptar a Euterpe às novas
exigências desse período, mormente aos novos gostos tra‑
was always linked to the teaching of music. The setting up
of the School of Musical Education took place and formal‑
ized, so to speak, a function that had been closely linked to
the Association and which provided, from the Board’s per‑
spective, an important source of revenue.
Also important in this period was the concession of
instruments by Inatel and the change in premises to the
space vacated by the Robinson Recreational Society which
had been wound up due to a lack of funds. One of the most
significant innovations was the formation, at the initia‑
tive of the Chairman of the Board, of a group of members
whose aim was to help the association embark on the path
to a better future. The Committee of the Friends of the
Euterpe was thus created. The group of members form‑
ing this group included Armindo Santana, Severiano Con‑
tente, António Candeias da Purificação, Joaquim Mão de
Ferro and Miguel Carriço. Other names were added such
as João Ferreira Morais who had been a trumpeter in Alter
do Chao and Calisto Lopes, a former performer who had
played in the band at the time of Portilheiro. The Commit‑
tee, which produced many of the members which would
make up the Board after 1976, was responsible for many
of the major changes that the Association underwent at
the end of the 1980s, seeking further modernization and
revitalization.
The effort made was to adapt the Euterpe to the new
demands of the period, especially to the new tastes brought
in by the greater freedom granted by the democratic regime.
It was in this context that the Euterpe Musical Ensemble
was created, a partnership between the Board of the Asso‑
ciation and other musicians – the Salgueiro brothers – the
purpose of which was to function as an additional source of
revenue. A contract was signed on 5 January 1976.
42
zidos pela maior liberdade concedida pelo regime democrá‑
tico. Foi nesse contexto que foi criado o Conjunto Musical
Euterpe, uma parceria entre a Direcção da Associação com
outros músicos – os irmãos Salgueiro – cujo objectivo era
funcionar como mais uma fonte de receita. O contrato seria
assinado a 5 de Janeiro de 1976.
A mesma situação globalmente positiva é referida no
almoço comemorativo dos 124 anos da Euterpe, em 1984,
pelo Secretário da Direcção, Normando José Ferreira
Pimenta de Castro, começando por sublinhar as 12 actua‑
ções que renderam à sociedade a importância de 106 contos.
E o financiamento continuava a ser, naturalmente, a
principal preocupação da Direcção. Nesse ano as receitas
têm origens repartidas entre o curso de regentes de ban‑
das que a Euterpe organizou, rendendo 164 contos, entre as
actuações da Banda – que proporcionaram 106 contos –, as
actuações do conjunto musical, que renderam 120 contos, e
a quotização, que contribuiu com 77 contos. Destacavam­
‑se, igualmente, os subsídios das entidades oficiais, que per‑
fazem 195 contos. No total, as receitas contabilizaram, em
1984, 663 contos. Já as despesas foram de 428 contos, divi‑
didas por contas de manutenção, como água, luz e renda da
casa, transportes, pagamento ao regente, a compra da apa‑
relhagem e a aquisição de novos instrumentos. Foi esta a
realidade que encontraram os corpos gerentes eleitos a 25
de Abril de 1985 para os anos de 1985 e 1986. Para Presi‑
dente da Assembleia Geral foi escolhido Francisco Barrocas.
Já Normando José Pimenta de Castro ficou a dirigir a Direc‑
ção enquanto João Pacheco Mouzinho foi eleito Presidente
do Conselho Fiscal.
Numa das primeiras reuniões da nova Direcção, realizada
em Novembro, discute­‑se, essencialmente, a necessidade
de substituir o regente, o Sr. Pires, que pedira a demissão.
43
The same positive situation was mentioned in 1984 at
the lunch commemorating 124 years of the Euterpe, by the
Secretary to the Board, Normando José Ferreira Pimenta de
Castro, who started his speech by emphasizing the 12 per‑
formances that had created 106 contos in revenue for the
society.
And the funding was still, of course, the main concern
of the Board. That year revenues came from the course for
conductors of philharmonic bands that the Euterpe had
organized, which yielded 164 contos, the performances of
the philharmonic band – which yielded 106 contos – the
performances of the musical group, which yielded 120 contos, and the subscriptions that provided 77 contos. Of note
also were the subsidies from official bodies, totalling 195
contos. In total, revenues in 1984 amounted to 663 contos.
Expenses were 428 contos, including utility bills such as
water and electricity, and rent, transport, payment to the
conductor, the purchase of equipment and the purchase of
new instruments. This was the financial situation inherited
by the governing body which was elected on 25 April 1985
for the years 1985 and 1986. Francisco Barrocas was cho‑
sen as the Chairman of the General Assembly. Normando
José Pimenta de Castro was running the Board when João
Pacheco Mouzinho was elected as Chairman of the Fiscal
Committee.
In one the first meetings of the new Board, held in
November, the main topic involved a discussion cen‑
tred around the need to replace the conductor, Sr. Pires,
who had resigned. Consideration was given to the former
conductor, Armando Reigota, but the matter remained
unresolved.
In 1985 the Euterpe celebrated 125 years of exist‑
ence. Norman Ferreira José Pimenta de Castro, Chair‑
Pensa­‑se no ex­‑regente, Armando Reigota, mas o assunto
ficou por resolver.
Em 1985 a Euterpe comemorou 125 anos. Normando José
Ferreira Pimenta de Castro, Presidente da Direcção sublinha,
por ocasião das comemorações, a capacidade de renovação da
Banda que “nunca deixou de ser uma sociedade activa, cul‑
tural e cheia de juventude, como nos seus primeiros anos de
existência”45. Na verdade, dos cerca de 40 elementos que a
constituíam nessa altura, metade eram jovens. A renovação
ocorre também ao nível do instrumental, com a entrega pela
Secretaria de Estado da Cultura, a 1 de Abril de 1985, de ins‑
trumentos novos, apresentando­‑se assim o ano de 1985 como
“de oiro da sociedade musical Euterpe”. De facto, até finais de
1984 o instrumental era ”na sua maioria velhíssimo, obsoleto
e iníquo”46, sendo que os poucos instrumentos novos tinham
sido adquiridos pela comissão de amigos.
No final da década de 1980, a situação financeira da Banda
encontrava­‑se, por assim dizer, bem afinada. Beneficiava de
importantes verbas que obtinha através da quotização bruta
que perfazia nesse período cerca de 80 contos, de um subsí‑
dio atribuído pela CMP com o valor de 42.500$00 escudos, de
um subsídio do Governador Civil e de uma contribuição de 80
a 90 contos das freguesias da Sé e de S. Lourenço. E até o Con‑
junto Musical Euterpe que demorava a cristalizar a sua com‑
posição, já tinha pago, em 1989, todo o material adquirido
aquando da sua formação e tinha comprado uma carrinha
destinada à deslocação para os concertos. Também a Associa‑
ção, presidida em 1987 por Normando Ferreira Pimenta de
Castro adquirira um Renault. Contudo ficava por resolver o
problema das deslocações da Banda.
Em 1989, contanto a Sociedade com cerca de 700 sócios,
José Carlos Carvalho de Castro é eleito novo Presidente da
Direcção. Efectua­‑se, nesta altura, um balanço do traba‑
man of the Board, and on the occasion of the celebrations,
underscored the ability of the Philharmonic Band to renew
itself and that it had “never ceased to be an active and cul‑
tural society, full of youth, as if in its first years of exist‑
ence”44. In fact, out of the approximately 40 musicians of
the Philharmonic at the time, half were young. Renewal
also occurred at the instrumental level, with delivery by
the Ministry of Culture on 1 April 1985 of new instru‑
ments, thus making 1985 a “golden one for the Euterpe
musical society.” In fact, by the end of 1984 the instru‑
ments were “mostly very old, obsolete and off-key”45, and
the few new instruments had been purchased by the com‑
mittee of friends.
In the late 1980s, the financial position of the Phil‑
harmonic Band was, so to speak, well tuned. It benefitted
from important funding that it obtained from the gross sub‑
scriptions that in this period amounted to about 80 contos,
a grant awarded by the CMP with a value of 42,500$00 escudos, a grant from the Civil Governor and a contribution of 80
to 90 contos from the parishes of the Sé and S. Lourenço. And
even the Euterpe Musical Ensemble, which had taken some
time to decide on its composition, had by 1989 already paid
for all the material purchased during its formation and had
bought a van to travel to concerts. Furthermore, the Asso‑
ciation, chaired in 1987 by Normando Ferreira Pimenta de
Castro, also purchased a Renault. But the problem of the
Philharmonic travelling to the places where it was going to
perform remained unresolved.
In 1989, the Society had approximately 700 members
and José Carlos Carvalho de Castro was elected the new
Chairman of the Board. A balance of the work carried out by
the outgoing Board was made at this time. Of note, accord‑
ing to the 1989 statement of accounts which was presented
44
lho realizado pela Direcção cessante. Destaca­‑se, de acordo
com o relatório de contas de 1989 que foi apresentado a
15 de Julho, o importante papel desenvolvido pela Comis‑
são de Amigos. Da renovação efectuada, a abertura do bar
‑se como uma das inovações mais importan‑
apresenta­
tes dado que possibilitou quer um aumento no número de
sócios, quer no volume de cobranças. Foi possível adquirir
assim novos fardamentos – de Verão e de Inverno – o que
permitiu que os músicos passassem a estar sempre todos
fardados da mesma forma.
Importa vincar que da fácil adaptação da Banda às novas
exigências que lhe vão sendo colocadas ao longo da sua exis‑
tência parece residir a chave para a sua longevidade pro‑
vada na comemoração do 140.º aniversário em 2000. Os
festejos ecoam nas páginas do Distrito de Portalegre de 8 de
Dezembro desse ano. A Banda é chamada para a primeira
página com o título “A Euterpe faz o 140.º aniversário”. A
Banda cumpre o programa habitual das suas comemorações,
empenhando­‑se na arruada, homenageando os seus sócios
já falecidos e abrindo, no almoço comemorativo, as vias
para o percurso futuro. Uma importante parte desse futuro
seria desbravado em 2004, a 24 de Julho, quando o Presi‑
dente da CMP, Mata Cáceres, informou a Banda, então diri‑
gida pelo novo regente que substituiu Henrique Santana,
Manuel Henrique Ruivo, que teria de abandonar o espaço
onde se encontrava. A CMP sugeriu aos sócios e ao Presi‑
dente da Direcção, Jacinto Freire, a instalação provisória
na Igreja de São Francisco, sendo que os sócios colocaram
a hipótese do Teatro Portalegrense. O local escolhido seria,
todavia, a antiga escola primária onde actualmente a pode‑
mos encontrar, sendo que a Banda se instalará, num futuro
próximo, no Espaço Robinson, de onde certamente sairá no
1.º de Dezembro de cada ano para animar Portalegre.
45
on 15 July, was the important role played by the Commit‑
tee of Friends. With the renovation having been carried out,
the opening of the bar was one of the most important inno‑
vations since it allowed both an increase in the number of
members, and the volume of income collected. It was thus
possible to purchase new uniforms – for Summer and Win‑
ter – which enabled the musicians to all be dressed in the
same uniform.
It should be stressed that the easy adaptation of the
Philharmonic to the new demands placed on it throughout
its existence seems to have been the key to its longevity,
as proved by the commemoration of its 140th anniversary
in 2000. The celebrations echoed in the pages of the Distrito de Portalegre of 8 December of that year. The Philhar‑
monic Band was named on the first page with the headline
“The Euterpe has its 140th Anniversary”. The Band met its
usual programme of celebrations by engaging in a proces‑
sion through the streets of the city, honouring its deceased
members and opening, over a celebratory lunch, the routes
to its future path. An important part of that future was
opened up in 2004, on 24 July, when the Mayor of CMP,
Mata Cáceres, informed the Philharmonic Band, then led
by the new conductor who had replaced Henrique Santana,
Manuel Henrique Ruivo, that they would have to abandon
their current premises. The CMP suggested to the mem‑
bers and the Chairman of the Board, Jacinto Freire, that
they temporarily locate to the Church of São Francisco, and
the members suggested the Teatro Portalegre. The venue
would, however, be a former primary school where we are
currently able to meet, and the Philharmonic Band will in
the near future move to the Robinson Space, from where
it will surely emerge on 1st December each year to animate
Portalegre.
Notas
1
2
4
3
5
7
8
6
9
11
10
13
14
15
16
12
18
19
20
21
17
Veja­‑se, para uma melhor compreensão do que é o mutualismo, a obra de
ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas
origens, Lisboa: Multinova, 1996.
Veja­‑se, por exemplo, a formação da Sociedade Euterpe Alhandrense, sur‑
gida no mesmo espaço temporal da Euterpe Portalegrense em AMARAL,
Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico
e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862­‑1962. Lisboa:
Tese de Mestrado em História Regional e Local apresentada na Faculdade
de Letras da Universidade de Lisboa, 2006.
Cf. Relatório de 22 de Novembro de 1884.
Para uma melhor percepção da importância de Francisco Perdigão para a
afirmação da Banda Euterpe atente­‑se ao texto de Sofia Lopes.
O tema é apresentado na Acta da Assembleia Geral de 18 de Maio de 1862,
não explicando os motivos da saída do anterior presidente.
Acta da Assembleia Geral de 29 de Novembro de 1863.
Acta da Assembleia Geral de 25 de Outubro de 1865.
Veja­‑se, para um melhor conhecimento do movimento associativo de Porta‑
legre no período, VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa (1897­‑1914). Edições Colibri: Lisboa, 1995.
Para um melhor conhecimento da emergência do conceito de auto­‑ajuda e
das organizações que lhe estavam associadas veja­‑se, por exemplo, GUES‑
LIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires
coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998;
CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750­‑1914. London: Palgrove
Macmillan, 2003; ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos
de História e suas origens. Lisboa: Multinova, 1996.
Acta da Assembleia Geral de 18 de Março de 1866.
O perfil genérico das bandas musicais neste período pode ser consultado no
texto de Sofia Lopes.
Acta da Assembleia Geral de 30 de Outubro de 1863.
Acta da Assembleia Geral de 19 de Outubro de 1865.
Conforme refere o sócio das duas associações Rodrigues da Costa.
Acta da Assembleia Geral de 8 de Abril de 1866.
Veja­‑se para um maior conhecimento do Montepio Geral, NUNES, Anabela;
BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral – 150
anos de História 1844­‑1994. Lisboa: Montepio Geral, 1994.
Relatório da Direcção do Montepio de 6 de Dezembro de 1868.
Relatório da Direcção do Montepio de 6 de Dezembro de 1868.
Acta da Assembleia Geral de 6 de Dezembro de 1868.
A história será desenvolvida no texto de Sofia Lopes.
Veja­‑se, para um melhor conhecimento da história de Portalegre no período,
VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de
Emílio Costa (1897­‑1914). Lisboa: Edições Colibri, 1995.
Notes
1
For a better understanding of what mutualism is, see the work by ROSENDO,
Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens (Mutualism
in Portugal: two centuries of its History and Origins), Lisbon: Multinova, 1996.
See, for example, the constitution of the Sociedade Euterpe Alhandrense, which took
2
place during the same period as that of Euterpe Portalegrense, in AMARAL, Cris‑
tina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e envolvimento
social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862-1962. (The Sounds of Memory: Notes
on the historical path and social involvement of the Euterpe Alhandrense Society
1862-1962). Lisbon: Master’s Thesis in Regional and Local History carried out at
the Faculty of Letters of the University of Lisbon. 2006.
Cf. Report, 22 November 1884.
3
4
The text by Sofia Lopes provides a better understanding of the importance of
Francisco Perdigão in the affirmation of the Euterpe Band.
The issue was raised in the Minutes of the General Assembly, 18 May 1862, with‑
5
out any explanation of the reasons for the departure of the former Chairman.
Minutes of the General Assembly, 29 November 1863.
Minutes of the General Assembly, 25 October 1865.
6
7
8
For a better understanding of the Portalegre associative movement during the
period, see VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a
acção de Emílio Costa (1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought
and action of Emílio Costa (1897-1914). Edições Colibri: Lisbon, 1995.
For a better understanding of the emergence of the concept of self-help and asso‑
9
ciative organisations, see, for example, GUESLIN, André – L’Invention de l’économie
sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs et mutualistes dans la France du
XIXe siècle. Paris: Economica, 1998; CORDERY, Simon – British Friendly Societies,
1750-1914. London: Palgrove Macmillan, 2003; ROSENDO, Vasco – O Mutualismo
em Portugal: dois séculos de História e suas origens. (Mutualism in Portugal: two cen‑
turies of History and its origins). Lisbon: Multinova, 1996.
Minutes of the General Assembly, 18 March 1866.
The generic profile of musical bands of this period is given in the text by Sofia
10
11
Lopes.
Minutes of the General Assembly, 30 October 1863.
Minutes of the General Assembly, 19 October 1865.
As indicated by Rodrigues da Costa, member of the two associations.
Minutes of the General Assembly, 8 April 1866.
For a greater understanding of the Montepio Geral organization, see NUNES,
12
13
14
15
16
Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral –
150 anos de História 1844-1994.(Caixa Económica Montepio Geral – 150 years of His‑
tory 1844-1994) Lisbon: Montepio Geral, 1994.
Report of the Montepio Board, 6 December 1868.
Report of the Montepio Board, 6 December 1868.
Minutes of the General Assembly, 6 December 1868.
This event is described in more detail in the text by Sofia Lopes.
17
18
19
20
46
idem, ibidem.
Relatório da Direcção de 3 de Janeiro de 1896.
24
Relatório da Direcção de 3 de Dezembro de 1896.
25
Actas Sessão da reunião da Direcção de 6 de Maio de 1898.
26
Distrito de Portalegre, n.º 854 (3 de Janeiro de 1901).
27
idem, ibidem.
28
Acta da Direcção do Montepio de 1 de Julho de 1903.
29
Distrito de Portalegre, n.º 1875 (21 de Junho de 1911).
30
Distrito de Portalegre, n.º 2132 (7 de Dezembro de 1913).
31
Distrito de Portalegre, n.º 2487 (17 de Maio de 1917).
32
Acta da Assembleia Geral de 15 de Março de 1926.
33
Distrito de Portalegre, n.º 3358 (14 de Outubro de 1934).
34
Distrito de Portalegre, n.º 3361 (4 de Novembro de 1934).
35
Distrito de Portalegre, n.º 3861 (29 de Julho de 1944).
22
21
Distrito de Portalegre, n.º 4282 (29 de Novembro de 1952).
Costa (1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought and action of
Emílio Costa (1897-1914). Lisbon: Edições Colibri, 1995.
idem, ibidem.
Report of the Board, 3 January 1896.
Report of the Board, 3 December 1896.
Minutes of the Meeting of the Board, 6 May 1898.
Distrito de Portalegre, No. 854 (3 January 1901).
idem, ibidem.
Minutes of the Montepio Board, 1 July 1903.
Distrito de Portalegre, No. 1875 (21 June 1911).
22
23
24
25
26
27
28
29
Distrito de Portalegre, No. 2132 (7 December 1913).
30
Distrito de Portalegre, No. 2487 (17 May 1917).
Minutes of the General Assembly, 15 March 1926.
Distrito de Portalegre, No. 3358 (14 October 1934).
Distrito de Portalegre, No. 3361 (4 November 1934).
Distrito de Portalegre, No. 3861 (29 July 1944).
Distrito de Portalegre, No. 4282 (29 November 1952).
Cf. Promotional pamphlet on the centenary of the Band.
31
36
32
38
39
33
Distrito de Portalegre, n.º 4282 (29 de Novembro de 1952).
Cf. Folheto promocional do centenário da Banda.
A informação sobre as bandas que nasceram em colaboração estreita com a
Euterpe são analisadas no texto de Sofia Lopes.
40
Carta do Presidente da Câmara Municipal de Portalegre (8 de Novembro de
1960).
41
Relatório da Direcção de 1965.
42
Relatório da Direcção de 1989.
43
Acta da Assembleia Geral de16 de Maio de 1970.
44
Relatório da Direcção 16 de Maio de 1970.
45
Discurso de Normando José Ferreira Pimenta de Castro (Presidente da
Direcção) no almoço comemorativo dos 125 anos da Sociedade Musical
Euterpe.
46
Relatório e Contas da Sociedade Musical Euterpe (15 de Julho de 1989).
37
For a better understanding of the history of Portalegre at that time, see ,
VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio
23
34
35
36
37
38
Information about the bands which were formed following close collaboration
with the Euterpe are analysed in the text by Sofia Lopes.
Letter from the Mayor of the Portalegre Municipality (8 of November 1960).
Report of the Board, 1965.
Report of the Board, 1989.
Minutes of the General Assembly, 16 May 1970.
Report of the Board, 16 May 1970.
39
40
41
42
43
44
Speech by Normando José Ferreira Pimenta de Castro (Chairman of the Board) at
the lunch to commemorate 125 years of the Euterpe Musical Society.
45
Financial Statements of the Sociedade Musical Euterpe (15 July 1989).
Notas Bibliográficas
Bibliographic Notes
Publicações Periódicas:
Distrito de Portalegre.
A Plebe.
A Rabeca.
Periodicals:
Arquivo da Sociedade Musical Euterpe:
Livro de Matrículas de Sócios (1866-1902).
Livro de Actas da Assembleia Geral do Montepio Euterpe (1862-1869).
Livro de Actas da Assembleia Geral (1948-2005).
Livro de Actas da Direcção do Montepio (1895-1906).
Livro de Actas da Direcção do Montepio (1907-1931).
Livro de Actas da Direcção da Banda (1948-1960).
From the Euterpe Musical Society Archives:
47
Distrito de Portalegre.
A Plebe.
A Rabeca.
Book of Member Registration (1866-1902).
Book containing the Minutes of the General Meeting of Montepio Euterpe (1862-1869).
Book containing the Minutes of the General Meeting (1948-2005).
Book containing the Minutes of the Montepio Board (1895-1906).
Book containing the Minutes of the Montepio Board (1907-1931).
Book containing the Minutes of the Board of the Philharmonic Band (1948-1960).
Livro de Actas da Direcção da Banda (1960-1993).
Livro do Conjunto Musical Euterpe.
Livros Registo de Sócios (1943-1954).
Livros de Registo de Sócios (1955-1964).
Livros de Registo de Sócios (1965-1975).
Livros de Registo de Sócios (1975-1990).
Livros de Registo de Sócios (1990).
Livro dos Instrumentos Distribuídos (1937).
Livros de Registo do Conselho Fiscal (1895-1906).
Livro de Relatórios da Direcção (1884-1898).
Livro de Escripturação de Entrada e Saída (1898-1908).
Bibliografia Geral:
AMARAL, Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o
percurso histórico e envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense
1862-1962. Lisboa: Tese de Mestrado em História Regional e Local
apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 2006.
CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750-1914. London: Palgrove
Macmillan, 2003.
GUESLIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires
coopératifs et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica,
1998.
NUNES, Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica
Montepio Geral – 150 anos de História 1844-1994. Lisboa: Montepio
Geral, 1994.
ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas
origens. Lisboa: Multinova, 1996.
VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de
Emílio Costa (1897-1914). Lisboa: Edições Colibri, 1995.
VENTURA, António – Publicações Periódicas de Portalegre (1836-1974). Por‑
talegre: Câmara Municipal, 1991.
Book containing the Minutes of the Board of the Philharmonic Band (1960-1993).
Book of the Euterpe Musical Ensemble.
Books containing the Registry of Members (1943-1954).
Books containing the Registry of Members (1955-1964).
Books containing the Registry of Members (1965-1975).
Books containing the Registry of Members (1975-1990).
Books containing the Registry of Members (1990).
Distributed Instruments Book (1937).
Books of the Financial Committee Records (1895-1906).
Book Containing Reports of the Board (1884-1898).
Dual Entry Bookkeeping Ledger (1898-1908).
General Bibliography:
AMARAL, Cristina Maria Fonte – Os Sons da Memoria. Notas sobre o percurso histórico e
envolvimento social da Sociedade Euterpe Alhandrense 1862-1962. (The Sounds of Mem‑
ory: Notes on the historical path and social involvement of the Euterpe Alhand‑
rense Society1862-1962). Lisbon: Master’s Thesis in Regional and Local History
carried out at the Faculty of Letters of the University of Lisbon. 2006.
CORDERY, Simon – British Friendly Societies, 1750-1914. London: Palgrove Macmillan, 2003.
GUESLIN, André – L’Invention de l’économie sociale. Idées, pratiques et imaginaires coopératifs
et mutualistes dans la France du XIXe siècle. Paris: Economica, 1998.
NUNES, Anabela; BASTIEN, Carlos; VALÉRIO, Nuno – Caixa Económica Montepio Geral –
150 anos de História 1844-1994. (Caixa Económica Montepio Geral – 150 years of his‑
tory 1844-1994) Lisbon: Montepio Geral, 1994.
ROSENDO, Vasco – O Mutualismo em Portugal: dois séculos de História e suas origens. (Mutual‑
ism in Portugal: two centuries of its History and Origins) Lisbon: Multinova, 1996.
VENTURA, António – Entre a República e a Acracia. O pensamento e a acção de Emílio Costa
(1897-1914). (Between the Republic and Acracia. The thought and action of Emílio
Costa (1897-1914) ) Lisbon: Edições Colibri, 1995.
VENTURA, António – Publicações Periódicas de Portalegre (1836-1974). (Portalegre Periodi‑
cals, 1836-1974) Portalegre: Câmara Municipal, 1991.
48
Anexo 1 | ANNEX 1
Sócios Fundadores e Protectores do Montepio Euterpe Portalegrense (1866-1902)
Founder Members and Patrons of the Montepio Euterpe Portalegrense (1866-1902
Profissão / Profession
Tipologia / Category
José Maria Malato
Nome / NAME
1
Barbeiro / Barber
Sócio Fundador / Founder Member
Vasco José Martins
2
Alfaiate / Tailor
Sócio Fundador / Founder Member
Silvestre da Cruz Ceia
3
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco dos Santos Gonçalves
4
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
José Maria Martins
5
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Augusto César da Rosa
6
Tipógrafo / Typographer
Sócio Fundador / Founder Member
Manuel Joaquim Costa
7
Serralheiro / Locksmith
Sócio Fundador / Founder Member
Boaventura de Jesus Costa
8
Serralheiro / Locksmith
Sócio Fundador / Founder Member
João Victor Gesteiro
9
Sapateiro / Shoemaker
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco Marques
10
Barbeiro / Barber
Sócio Fundador / Founder Member
Miguel de Abreu da Silva Lobo
11
Empregado CMP / Town Hall employee
Sócio Fundador / Founder Member
José Maria Bolou
12
Sapateiro / Shoemaker
Sócio Fundador / Founder Member
José Maria Nogueira
13
Tipógrafo / Typographer
Sócio Fundador / Founder Member
António Maria de Deus
14
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Joaquim Dias Festa
15
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco Pedro Malato
16
Barbeiro / Barber
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco António Trindade Júnior
17
Serralheiro / Locksmith
Sócio Fundador / Founder Member
António Alberto Ramalhete
18
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
António Rafael Carvalho
19
Sapateiro / Shoemaker
Sócio Fundador / Founder Member
António Cesário da Cunha
20
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Justina Rosa Cardoso
21
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
João Cordeiro
22
Serralheiro / Locksmith
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco Jorge de Almeida Castanho
23
Advogado / Lawyer
Sócio Fundador / Founder Member
Joaquim Pedro Maduro
24
Professor / Teacher
Sócio Fundador / Founder Member
George Robinson
25
Proprietário / Proprietor
Sócio Protector / Member (Patron)
José Maria Vaz
26
Alfaiate / Tailor
Sócio Fundador / Founder Member
Joaquim Maria Gomes
27
Estalajadeiro / Innkeeper
Sócio Fundador / Founder Member
José Maria Rodrigues
28
Lojista / Shopkeeper
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco Augusto Castelo
29
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Sebastião António Rodrigues Silva
30
Lojista / Shopkeeper
Sócio Fundador / Founder Member
José Mariano Botto
31
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Cristóvão Filipe Neves
32
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Mariano Augusto Canhão
33
Funileiro / Tinsmith
Sócio Fundador / Founder Member
António Manuel de Matos
34
Escriturário / Clerk
Sócio Fundador / Founder Member
Gregório Vicente
35
–
Sócio Fundador / Founder Member
Francisca Romana Afonso
36
Costureira / Seamstress
Sócio Fundador / Founder Member
Joaquim Maria Lopes
37
Sapateiro / Shoemaker
Sócio Fundador / Founder Member
Odorica José
38
–
Sócio Fundador / Founder Member
Carolina Rosa Gomes
39
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Josefa Carlota Milhinhos
40
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Manuel Joaquim Varandas
41
Hortelão / Market gardener
Sócio Fundador / Founder Member
Miguel Augusto de Carvalho
42
Funileiro / Tinsmith
Sócio Fundador / Founder Member
49
N.º / NO.
Profissão / Profession
Tipologia / Category
Joana Rita Pereira
Nome / NAME
N.º / NO.
43
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Antónia Gertrudes Taveira
44
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
João António Ribeiro
45
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Narcisa Rosa Maçãs
46
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Domingos do Sacramento Castelo
47
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
Maria Vivência
48
Criada de serviço / Servant
Sócio Fundador / Founder Member
Augusto César de Andrade Reynaud
49
Empregado Público / Civil Servant
Sócio FundadorvFounder Member
Henriqueta Calado
50
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
José da Rocha Neigo
51
Sapateiro / Shoemaker
Sócio FundadorvFounder Member
João José Mendes Varandas
52
Tipógrafo / Typographer
Sócio Fundador / Founder Member
Ana Rita Marques
53
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Pedro de Alcântara
54
Alvanéu / Mason
Sócio Fundador / Founder Member
Doroteia Maria Fernandes
55
Fabricante / Manufacturer
Sócio Fundador / Founder Member
João Dos Santos Pinto
56
Alvanéu / Mason
Sócio Fundador / Founder Member
Francisco Maria da Rosa
57
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Narcisa Rosa Barbosa
58
Costureira / Seamstress
Sócio Fundador / Founder Member
José Augusto Soares
59
Caixeiro / Shop assistant
Sócio Fundador / Founder Member
José Joaquim Ribeiro da Silva
60
Vendedor de pentes / Comb salesman
Sócio Fundador / Founder Member
Manuel António Panasco e Silva
61
Escriturário / Clerk
Sócio Fundador / Founder Member
Maria António Antunes
62
Criada de Serviço / Servant
Sócio Fundador / Founder Member
Mariana José Madeira
63
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Amélia Augusta Lopes Malato
64
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Manuel Calado
65
Alvanéu / Mason
Sócio Fundador / Founder Member
Joaquim José Curinha
66
Alvanéu / Mason
Sócio Fundador / Founder Member
Catarina Luísa Ceia
67
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Lucrécia da Luz Morais
68
Serviço Doméstico / Housemaid
Sócio Fundador / Founder Member
Ana do Carmo Caldeira
69
Criada de serviço / Servant
Sócio Fundador / Founder Member
Mateus José Serra
70
Carpinteiro / Carpenter
Sócio Fundador / Founder Member
Padre Francisco António Barrogueiro
94
Padre / Priest
Sócio Protector / Member (Patron)
Thomaz Frederick Robinson
80
Proprietário / Proprietor
Sócio Protector / Member (Patron)
António Ferreira Baptista
81
Farmacêutico / Pharmacist
Sócio Protector / Member (Patron)
Luís Augusto Viana Salvado
174
Guarda-fiscal / Coastguardsman
Sócio Honorário / Honorary Member
Duque de Loulé
1
–
Sócio Honorário / Honorary Member
Francisco Eduardo Solano de Abreu
–
Advogado / Lawyer
Sócio Honorário / Honorary Member
Joaquim de Avillez
195
Proprietário / Proprietor
Protector/honorário / Patron/honorary
Visconde do Reguengo
172
–
Protector/honorário / Patron/honorary
Fonte: Livro de matriculas de sócios (1866-1902) | Source : Membership registration book (1866-1902)
50
Anexo 2 | ANNEX 2
Músicos da Banda Euterpe em 1937
Euterpe Band Musicians in 1937
Músico / Musician
Estado Civil / Marital Status
Residência / Residence
Instrumento / Instrument
Carlos Almeida
Solteiro / Single
Portalegre
Trompeta / Trumpet
José Biquinhas
Casado / Married
Portalegre
Baixo / Double Bass
Francisco Bicho
Casado / Married
Portalegre
Bombardino / Bombardon
João Cabecinha
Casado / Married
Portalegre
Baixo / Double Bass
Manuel Lança
Casado / Married
Portalegre
Bombo / Bass Drum
Germano Guerra
Solteiro / Single
Portalegre
Trompete / Trumpet
António Mendonça
Solteiro / Single
Portalegre
Cornetim / Cornet
Francisco Santos
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
Mário Lopes
Solteiro / Single
Portalegre
Flauta / Flute
José Júlio Correia Rainho
Solteiro / Single
Portalegre
Requinta / E-flat clarinet
Américo Bolou
Solteiro / Single
Portalegre
Saxofone / Saxophone
António Maria Guerra
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
José Maria Reynaud
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete e Saxofone / Clarinet & Saxophone
Florimundo Garção
Solteiro / Single
Portalegre
Saxofone Tenor / Tenor Saxophone
Manuel Biquinhas
Casado / Married
Portalegre
Pratos / Cymbals
António Mão de Ferro
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
José Lacerda
Solteiro / Single
Portalegre
Clavicórnio / Clavicorn
Pepe
Solteiro / Single
Portalegre
Clavicórnio / Clavicorn
Vintém
Solteiro / Single
Portalegre
Trombone / Trombone
Batista
Solteiro / Single
Portalegre
Cornetim / Cornet
Motaco
Solteiro / Single
Portalegre
Cornetim / Cornet
José Cara d’Anjo
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
Alcide Caldeira
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
Carrapiço
Solteiro / Single
Portalegre
Clarinete / Clarinet
Rôlo
Solteiro / Single
Portalegre
Trombone / Trombone
António Atanázio
Solteiro / Single
Portalegre
Caixa e Baixo / Snare Drum & Double Bass
Manuel Canâna
Solteiro / Single
Portalegre
Caixa / Snare Drum
Miguel Moreno
Solteiro / Single
Portalegre
Caixa / Snare Drum
Manuel Mendonça
Solteiro / Single
Portalegre
Trombone / Trombone
Ramalho
Solteiro / Single
Portalegre
Saxofone Alto / Alto Saxophone
Júlio Marques
Solteiro / Single
Portalegre
Cornetim / Cornet
–
–
–
Trombone / Trombone
Madeira
–
–
Clarinete / Clarinet
Príncipe
–
–
Flautim / Piccolo
Gaspar
–
–
Clarinete / Clarinet
Rainho
–
–
Cornetim / Cornet
Batista Ruivo
–
–
Clarinete / Clarinet
Luís Alberto
–
–
Saxofone / Saxophone
Olímpio Semedo
–
–
Clavicorneo / Clavicorn
José Laranjo
–
–
Trompete / Trumpet
Jorge
–
–
Caixa / Snare Drum
Grenho
–
–
Caixa / Snare Drum
Modesto Ferreira
–
–
Clarinete / Clarinet
Fonte: Livro dos Instrumentos Distribuídos (1937) | Source: Book of Distributed Instruments (1937)
51
«Que a voz da cidade não se deixe de ouvir»
A «velhinha Euterpe» – uma Banda do século XIX
com os olhos postos no século XXI
“Let the voice of the city be heard”
“Euterpe the Old Lady” – a nineteenth century Phylarmonic Band
with its eyes on the twenty first century
Sofia Lopes
Aluna do Mestrado em Ciências da Musicais – Etnomusicologia na Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
Student on the Masters in Musicology - Ethnomusicology Faculty of Social and Sciences
and Humanities of the New University of Lisbon
Institute of Ethnomusicology – Centre for the Study of Music and Dance, Faculty of Social
and Sciences and Humanities of the New University of Lisbon
Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 52­‑103, ISSN 1646­‑7116
52
O agrupamento hoje designado em Portugal por “Banda Filarmónica”, cuja configuração e funções se foi alterando significativamente ao longo de mais de dois séculos foi, durante muito
tempo, o único instrumento de divulgação e de aprendizagem
da música no país fora dos centros urbanos e acessível a todas as
classes sociais (Lourosa, 20091).
The group nowadays known in Portugal as the “Philhar-
Quem chegar a Portalegre e pretender encontrar a
Sociedade Musical Euterpe, necessita de “fugir” um pouco
do centro da cidade e percorrer o Bairro Ferreira Rainho
até chegar à antiga escola primária da Serra. No entanto,
é esperado que dentro de pouco tempo esta Banda Filar‑
mónica com mais de cento e cinquenta anos de existên‑
cia mude as suas instalações para o futuro espaço cultu‑
ral, sedeado na antiga fábrica de cortiça Robinson, onde
vai partilhar a casa com as demais associações culturais da
cidade de Portalegre. Apesar desta concentração de asso‑
ciações num mesmo local, está previsto que cada uma
delas possua o seu próprio espaço de ensaio com instala‑
ções modernas e devidamente equipadas, de forma a que
cada uma mantenha a sua identidade própria, mas privi‑
legiando a interacção entre as associações. A distância que
separa a actual sede social da Filarmónica, o edifício de uma
antiga escola do primeiro ciclo, das futuras instalações não
é muita. São escassos os metros que os cerca de cinquenta
músicos desta Banda terão de percorrer no momento da
mudança, não sendo esta uma preocupação muito pre‑
sente nos discursos, tanto dos Directores como do Maes‑
tro ou dos músicos da Sociedade. Na verdade esta é apenas
mais uma das muitas mudanças a que alguns dos músicos
já estão habituados, uma vez que nem sempre os ensaios,
que no presente decorrem com uma frequência semanal,
tiveram lugar no local onde hoje decorrem. Durante a sua
Those who arrive in Portalegre, and wish to find the
53
monic Band”, the configuration and functions of which has
changed significantly over more than two centuries was, for
a long time, the only source of learning and dissemination
of music in the country outside the urban centres which was
accessible to all social classes (Lourosa, 20091).
Euterpe Musical Society, need to “escape” somewhat from
the city centre and walk through the Ferreira Rainho neigh‑
bourhood until they reach the former primary school of
Serra. However, it is expected that within a short time this
Philharmonic Band, with over one hundred and fifty years
of existence, will change its premises to the future cultural
space located in the former Robinson cork factory, which it
will share with the other cultural associations of the city of
Portalegre. Despite this concentration of associations in one
place, it is expected that each of them will have their own
rehearsal space, with suitably equipped modern facilities, so
that each can retain its own identity, while interacting with
the other associations. The distance of the current regis‑
tered location of the Philharmonic - a former primary school
building - from its future premises is not much. Few are the
steps that around fifty musicians in this Band will have to
traverse at the time of change and this is certainly not a con‑
cern for the Board, the Musical Director or the Musicians
in the Society. In fact, this is just one of many changes that
some of the musicians have come to expect, since rehears‑
als, which currently take place once a week, have not always
been held where they currently take place. Throughout its
existence, the Euterpe has met in various rehearsal spaces,
which were offered or rented to them, and there are several
members of this band who still remember going to rehearse
Actual sede da SME.
Current SME headquarters.
existência, a Euterpe conheceu diversos espaços de ensaio,
cedidos ou alugados, e vários são os membros desta banda
que ainda se lembram de ir ensaiar nas instalações onde
hoje funciona a Câmara Municipal, uma antiga fábrica de
lanifícios fundada pelo Marquês de Pombal e que, após a
sua desactivação e durante muitos anos, albergou a sala de
ensaios e a própria sede da Euterpe. Aqui a Banda possuía
uma sala que não só acolheu os ensaios como também aco‑
lheu os bailes organizados por esta Sociedade que, tal como
era hábito das associações filarmónicas durante grande
parte do século XX, serviu como espaço de recreio da popu‑
in the premises where the Town Hall is now located, an
old woollen mill founded by the Marquis of Pombal which,
after its closure, housed the rehearsal room and head office
of the Euterpe for many years. Here the band had a room
that was not only used for rehearsals but also hosted the
dances organized by this Society which, as was customary
for philharmonic associations during much of the twentieth
century, served as a recreational space for the population
of Portalegre. In this space there was also the traditional
Association Bar that for a while only functioned on dance
nights but which also became a common meeting place for
54
lação portalegrense. Neste espaço existia também o tradi‑
cional bar da Associação que durante algum tempo funcio‑
nou apenas para servir de apoio aos bailes mas que passou
também a servir como local de encontro frequente entre os
músicos e os associados desta Banda. Esta mudança ocor‑
reu há pouco mais de cinco anos e desde então estes músi‑
cos conheceram várias salas de ensaio até se instalarem no
edifício que hoje ocupam. É interessante verificar a apa‑
rente despreocupação dos músicos e da Direcção quando o
assunto diz respeito à mudança para as novas instalações,
referindo que não serão umas instalações mais modernas
ou mais bem equipadas que farão a diferença no traba‑
lho realizado pela Euterpe. Tal como refere Miguel Mon‑
teiro, actual Presidente da Direcção da Sociedade Musical
Euterpe e também ele músico da Banda há muitos anos,
“o objectivo da Sociedade Euterpe é fazer o melhor traba‑
lho possível com os recursos que temos”2. As mudanças de
instalações quase que já vêm sendo um hábito. Começando
por ensaiar no espaço do Clube Portalegrense, em 1865 a
Euterpe foi forçada a abandonar esta sede para se insta‑
lar no Theatro Portalegrense, “cuja cedência provisória se lhe
afigurava fácil, por parte da respectiva direcção”3. O local
necessitava de algumas remodelações que foram efectua‑
das com o esforço dos músicos que “de certo se apresen‑
tariam de bom grado a concorrer com o seu trabalho e os
demais sócios com os donativos nas diversas espécies pre‑
cisas, tudo em proporção saudável para o acabamento do
mencionado salão”4.
É sabido que na maioria das vezes estas associações filar‑
mónicas apresentam grandes dificuldades, em termos eco‑
nómicos, para manterem a sua actividade e proporcionarem
não só uma frequência livre de custos para os músicos como
também um ensino musical gratuito. Desta forma, muitas
55
the musicians and the members of the Philharmonic. This
change occurred a little over five years ago and since then
these musicians had used various rehearsal rooms until they
settled in the building that they now occupy. It is interesting
to note the apparent lack of concern of the musicians and
the Board concerning the change to the new premises, as
they state that the more modern and better equipped facil‑
ities will not make a difference to the work carried out by
the Euterpe. As Miguel Monteiro, current Chairman of the
Board of the Euterpe Musical Society and also a musician in
the Band for many years, stated “the purpose of the Euterpe
Society is to do the best job possible with the resources we
have”2. Changes of premises have almost become a habit.
The Euterpre started rehearsing at the Clube Portalegrense
in 1865 and were forced to abandon this location and relo‑
cate to the Theatro Portalegrense, “the temporary assignment
of which was facilitated by the respective board”3. The place
needed some alterations, which were carried out through
the efforts of the musicians who “would certainly be will‑
ing to use their skills along with other members who would
make the specific donations required for the finishings of
the aforementioned hall”4.
It is common knowledge that most of these philhar‑
monic associations had major economic difficulties in
keeping their activities not only free of cost for the musi‑
cians but also offering free musical education. Thus,
many associations have had to rely not only on municipal
grants, which often do not cover necessary expenses, but
also proceeds from their performances, which not infre‑
quently are free, or revenues from other activities, such as
the aforementioned bars which, in addition to providing a
place for musicians, other association members and others
to interact, also provide an important source of income.
sociedades têm de recorrer não só a subsídios camarários,
que muitas vezes não conseguem cobrir as despesas neces‑
sárias, como também a receitas provenientes das suas actu‑
ações, que não raras vezes são gratuitas, ou a receitas rela‑
tivas a outras actividades, como por exemplo os já referidos
bares que, para além de proporcionarem um local de con‑
vívio entre músicos, sócios e demais população, proporcio‑
nam também uma importante fonte de rendimento. Assim,
a Sociedade Musical Euterpe não foge à regra e enquadra­‑se
perfeitamente no perfil traçado por Paulo Lameiro quando
este refere que “a maioria das Bandas Filarmónicas são inte‑
gradas no movimento associativo. (…) A sua sobrevivên‑
cia no país foi garantida através da participação nas festas
religiosas tradicionais e, na falta destas, de alguns contra‑
tos autárquicos e apoios pontuais do INATEL”5. Também
esta sociedade musical de Portalegre sobrevive com o apoio
camarário (que muitas vezes se cingiu ao apoio à escola de
música), com alguns rendimentos provenientes de actua‑
ções, com a ajuda de alguns “amigos” da Euterpe (a Comis‑
são de Amigos da Euterpe) e com a ajuda material da Fede‑
ração de Bandas Filarmónicas do Distrito de Portalegre e do
INATEL que, depois de 1974, tem disponibilizado às ban‑
das suas associadas não só ajuda material (é atribuído a cada
banda, por ano, um instrumento), como também ajuda ao
nível da formação, tanto dos músicos como dos próprios
maestros, desenvolvendo várias acções de formação ao
longo do ano.
Ao longo da sua história, são vários os episódios ocorri‑
dos devido aos problemas financeiros pelos quais a Euterpe
passou e são igualmente diversas as formas como as direc‑
ções encontram uma solução. Num desses episódios os
músicos foram mesmo despojados dos seus instrumen‑
tos, uma vez que em Maio de 1868 a Direcção da associação
As such, the Euterpe Musical Society was no exception and
fits perfectly within the profile outlined by Paulo Lameiro
when he states that “most of the Bands form part of the
associative movement. (...) Their survival in the coun‑
try was ensured through participation in traditional reli‑
gious festivals and, failing that, various municipal con‑
tracts and occasional support from INATEL”5. This musical
society from Portalegre also survived with support from
the Town Hall (which was often linked to support for the
Music School), with some income from performances, with
the help of some “friends” of Euterpe (the Committee of
Friends of Euterpe) and with material help from the Feder‑
ation of Philharmonic Bands of the District Portalegre and
INATEL which, after 1974, provided not only material help
(each band was given one instrument a year), but also help
in terms of training, both for musicians and Musical Direc‑
tors, in carrying out various training sessions throughout
the year.
Throughout its history, financial problems led to vari‑
ous problems for the Euterpe which also had to be resolved
in a variety of ways by its Boards of Directors. In one of
these episodes the musicians even had their instruments
taken away from them, when in May 1868 the Board of
the association was surprised by the arrival of a prosecutor
from the Banco Aliança do Porto which had paid the bills of
the Casa de Pavia Botelho which, in turn, had donated some of
the instruments and which were on the list of assets drawn
up to meet the debt. After having discussed the matter at
the General Meeting of 21 May 1868, and having sought for
a legal way of not returning the instruments, it voted they
that they should be handed over to the bank, declining the
possibility of purchasing them due to a “lack of means given
the financial situation of the society” which “considered it
56
Estandarte.
Banner.
foi surpreendida por um procurador do Banco Aliança do
Porto que havia liquidado as contas da Casa de Pavia Botelho
a qual, por sua vez, havia doado alguns instrumentos que
agora se encontravam na lista de bens para fazer face à
dívida. Depois de se ter discutido o assunto na Assembleia
Geral de 21 de Maio de 1868, procurando­‑se vias legais para
a não devolução dos instrumentos, votou­‑se que estes deve‑
riam ser entregues ao banco, declinando­‑se a possibilidade
de os adquirir por “falta de meios em que se achava a socie‑
dade” os quais “devem convenientemente ser aplicados,
com maior proveito, aos socorros dos sócios enfermos”6.
Em conversa com o Sr. António Carrapiço, este salientou
igualmente a importância do Dr. António Portilheiro, Pre‑
sidente da Direcção da Euterpe até 1966 e veterinário com
actividade no concelho, que muitas vezes conseguiu alguns
fundos para a Sociedade Euterpe em troca do seu serviço
enquanto veterinário nos grandes latifúndios da região,
sendo muito importante o papel da Direcção nesta compli‑
cada gestão orçamental.
A Euterpe e o seu papel social
Chegados às instalações da Sociedade Musical Euterpe
de Portalegre, podemos verificar que esta antiga escola do
primeiro ciclo é, como muitas outras construídas em Portu‑
gal em meados do século XX, composta por quatro salas de
aula, distribuídas por dois pisos, ligadas duas a duas através
de uma escadaria, com instalações sanitárias no exterior e
com um pátio em redor. Contando há cerca de quatro anos
com este local para desenvolver a sua actividade, a Euterpe
aproveitou o espaço da melhor forma que pôde. Numa das
salas do piso térreo encontra­‑se o bar da Associação, que
mesmo antes da mudança de instalações era já um impor‑
57
more advantageous to apply its resources to aid sick mem‑
bers”6. In conversation with Sr. António Carrapiço, he also
stressed the importance of Dr. António Portilheiro, Chair‑
man of the Board of Euterpe until 1966, who worked as a
vet in the district, who often managed to obtain funds for
the Euterpe Society in exchange for his veterinary services
on the large estates in the region, showing the very impor‑
tant role of the Board of Directors in the tricky management
of its budget.
tante meio para angariar alguns recursos monetários, tal
como é referido pelos músicos mais antigos. No presente
ainda há alguns persistentes que se encontram nesta sala
para conversar ou jogar às cartas, uns por conveniência,
outros por amizade à Banda; no entanto, este meio de ren‑
dimento já não tem o peso que teve em outras alturas. Nor‑
malmente as associações filarmónicas têm a preocupação
de manter os seus bares em funcionamento por percebe‑
rem a importância que estes têm para a manutenção dos
laços entre os músicos e também para o fortalecimento dos
laços entre os demais associados, sendo inclusivamente um
importante meio de projecção destas associações para o
exterior, salientando o seu papel social, tal como é referido
no próprio website da Associação, quando se menciona que
a Sociedade Euterpe “está vocacionada não só para desen‑
volver a cultura, mas também funciona como uma escola
para a vida, em todos os seus aspectos”7. Assim, podemos
encontrar neste bar um local de interacção entre os músi‑
cos fora dos momentos de ensaio onde os laços são quase
de carácter “profissional”. Tal como podemos observar atra‑
vés dos discursos dos próprios músicos, não é só o “gosto
pela música” ou a “vontade em aprender a tocar um instru‑
mento”, mas em grande medida o facto da Banda ser “um
bom local de convívio”8 que garantem a permanência destes
quarenta e nove músicos na Euterpe. São os momentos de
lazer entre os músicos que proporcionam a criação de laços
de amizade que muitas vezes permanecem durante vários
anos e que fazem com que muitos, apesar das suas diferen‑
tes actividades profissionais, continuem a frequentar os
ensaios e actuações da “sua” Banda Filarmónica, podendo
ser estes momentos tanto a confraternização no bar da
Associação durante os intervalos dos ensaios como as via‑
gens de deslocação da Banda para os locais de actuação.
The Euterpe and its social role
On arriving at the premises of the Euterpe Musical Soci‑
ety, we can see that this old primary school was built in the
same way as so many others in Portugal in the mid-twenti‑
eth century, with four classrooms, arranged over two floors,
connected in pairs through a staircase, with outside toilets
and a yard around the building. Having been in this place
for about four years, the Euterpe has used the space as best
as it could. One of the ground floor rooms houses the bar
of the association, which even before the change of prem‑
ises was an important source of revenue, as mentioned by
the older musicians. In the present-day there are still some
diehards who meet in this room to talk or play cards, some
because it suits them, and others due to their friendship
towards the Band, although this source of income no longer
has the importance it had at other times. Normally philhar‑
monic associations are concerned to keep their bars in oper‑
ation as they realise the importance that they have in main‑
taining ties between the musicians and also the strength‑
ening of ties among the other members, including being an
important means of projecting their associations to the out‑
side, emphasizing their social role, as is mentioned on the
Association’s own website, which mentions that the Euterpe
Society “is dedicated not only to developing culture, but also
functions as a school for life, in all its aspects”7. Thus we can
see that this bar is a place for interaction between the musi‑
cians when they are not rehearsing where the exchanges
are mainly of a “professional” nature. As we can see from
the words of the musicians themselves, it is not only the
“love for music” or the “wish to learn to play an instru‑
ment”, but mainly because of the fact that the band is “a
good place to hang out”8 that ensures the presence of these
58
Este papel social das bandas filarmónicas, que vai para além
do seu papel enquanto agente cultural, não é só salien‑
tado pelos discursos dos dirigentes e Maestro da Socie‑
dade Euterpe como também é realçado nos vários estudos
que se debruçam sobre este universo associativo. É o caso
do estudo dirigido por Graça Mota e publicado em 2009
onde os autores são peremptórios na afirmação do impor‑
tante papel que este tipo de associações tem na constru‑
ção de identidades, principalmente para os jovens portu‑
gueses. A Sociedade Musical Euterpe de Portalegre não é
uma excepção, tal como é facilmente verificável nos discur‑
sos dos próprios músicos que salientam a importância do
“espírito familiar”9 que aqui se desenvolve. Vestir a farda
de uma banda é, na maioria das vezes, um acto de grande
carácter simbólico e não apenas sinónimo de interesse pela
música. Tal como muitos dos músicos da Euterpe mencio‑
naram nos questionários distribuídos, o seu interesse pela
Banda passa também pelo relacionamento interpessoal que
aqui é proporcionado, sendo este interesse demonstrado
na resposta à questão referente às razões que os levaram
a integrar e que os levam ainda a permanecer na Sociedade
Musical Euterpe. Assim, é esclarecedora a resposta de um
dos músicos que refere que a razão principal para continuar
na Banda é o “relacionamento entre músicos/amigos”10,
enquanto outro músico afirma que a razão principal para a
sua entrada na Euterpe se deve à possibilidade de “conhe‑
cer novas pessoas que também apreciam música”11. No
seio destas associações nascem muitas vezes laços que vão
para além da sala de ensaios, mantendo­‑se durante muito
tempo a ligação entre músicos de uma mesma banda, sendo
também fácil encontrar em Bandas Filarmónicas com lar‑
gos anos de actividade a permanência de músicos de várias
gerações, muitos deles familiares. Na Sociedade Euterpe de
59
forty-nine musicians in the Euterpe. It is the moments of
leisure among the musicians which create the friendships
ties that often last for several years and lead to many of
them, despite their different professional activities, contin‑
uing to attend the rehearsals and performances of “their”
Philharmonic Band, as well as the socializing in the Associ‑
ation bar during the rehearsal intervals and the band trips
to places where they perform. This social role of the philhar‑
monic bands, which goes beyond its role as a cultural agent,
is not only highlighted in the interviews with the board
and the Musical Director of the Euterpe Society, as well as
also highlighted in several studies that focus on this asso‑
ciative space. This is the case with the study led by Grace
Mota and published in 2009 where the authors are adamant
in affirming the important role that such associations have
had in the construction of identities, especially for young
Portuguese individuals. The Musical Society of Euterpe Por‑
talegre is no exception to this, as was easily verifiable in the
interviews with its musicians who stress the importance of
the “family spirit”9 that is developed here. Wearing the uni‑
form of a band is, most of the time, a major symbolic act and
not just synonymous with an interest in music. For many
of the Euterpe musicians mentioned in the questionnaires
handed out, their interest in the Band also involves the
interpersonal relationships that are created here, and this
interest is shown in response to the question concerning the
reasons that led them to join and still remain in the Euterpe
Musical Society. As such there is an illuminating answer
from one of the musicians who stated that the main reason
to continue in the Band is the “relationship between musi‑
cians/friends”10, while another musician stated that the
main reason he joined the Euterpe was due to the possibil‑
ity of “meeting new people who also enjoy music”11. Within
Portalegre o caso é bastante curioso: nesta sala de ensaios
não convivem apenas duas gerações mas, na verdade, três.
Avó, mãe e filha, três gerações de uma mesma família que
ocupam os lugares de percussionista, trompista e oboísta,
respectivamente, e que partilham a sua experiência den‑
tro e fora da Euterpe. “A minha mãe e a minha avó toca‑
vam na banda e parecia ser divertido”12, refere o elemento
mais novo desta família que confirma que as suas motiva‑
ções para a entrada na Sociedade Euterpe passaram princi‑
palmente pelo laço familiar já existente. Na resposta dada
por outro músico é possível verificar que o “gosto forte pela
música por parte do pai e consequente influência de gera‑
ção”13 foram decisivos para a sua entrada no grupo. Anali‑
sando os questionários distribuídos, é possível verificar que
mais de metade dos músicos afirmam que têm ou já tiveram
familiares na Sociedade Euterpe. Esta influência por parte
de familiares ou amigos é bastante comum nesta Sociedade
e nas várias associações filarmónicas do país que, em mui‑
tas localidades se afiguraram como uma das poucas pos‑
sibilidades dos jovens ocuparem os seus tempos livres ao
mesmo tempo que têm a possibilidade de aprender música
e conviver com pessoas de meios sociais diferentes. Na aná‑
lise aos questionários distribuídos, é possível verificar que
a maioria dos músicos que responderam afirmam ter ou ter
tido algum familiar na Euterpe, sendo na maioria das vezes
irmãos, primos, pais, filhos, netos ou cônjuges.
these associations relations are often established that go
beyond the rehearsal room, with a connection being main‑
tained between musicians in the same band, and it is also
easy to find Philharmonic Bands which contain musicians
with many years of playing who have stayed in the band, of
various generations, and who are often family members. In
the Euterpe Society of Portalegre the situation is quite curi‑
ous: this rehearsal room not only has two generations coex‑
isting but actually three. Grandmother, mother and daugh‑
ter, three generations from the same family who occupy the
positions of percussionist, horn player and oboist, respec‑
tively, and who share their experience inside and outside
the Euterpe. “My mother and my grandmother played in
the band and it seemed to be fun”12, mentioned the young‑
est member of this family who confirmed that her motiva‑
tions for joining the Euterpe Society were mainly because
of the existing family ties. In a reply given by another musi‑
cian it is possible to verify that the “strong taste for music
in my father and the subsequent generational influence”13
were decisive factors in entering the group. Analysing the
questionnaires collected, we can see that more than half of
the musicians say they have or have had family members in
the Euterpe Society. This influence from family or friends
is quite common in this Association and the various phil‑
harmonic associations in Portugal that in many places have
seemed to be one of the few opportunities for young peo‑
ple to occupy their free time while they have the chance to
A Banda, as suas actuações e o seu papel económico
learn music and socialize with people from different social
backgrounds. In analysing the questionnaires handed out,
Ao sairmos da sala que hoje alberga o bar, encontra‑
mos as escadas que nos conduzem ao primeiro andar. Ao
longo destas escadas podemos ver alguns retratos de rostos
que fazem parte da história da Sociedade Musical Euterpe
we can see that most musicians who responded say they
have or have had a family member in the Euterpe, most fre‑
quently brothers, cousins, parents, children, grandchildren
or spouses.
60
desde a sua fundação, há já mais de cento e cinquenta anos.
Quando chegamos ao primeiro andar é difícil não reparar na
quantidade de galardões e lembranças que atestam os diver‑
sos intercâmbios e concertos que esta Banda fez ao longo
da sua existência. Muitas destas recordações permanecem
apenas na memória de alguns dos antigos músicos enquanto
que outras já foram passadas, via oral, para a nova geração.
A verdade é que muita documentação e objectos que ates‑
tavam os primeiros anos de existência da Sociedade Musi‑
cal Euterpe já não existem, mas aqueles que nos chegam
demonstram que os primeiros anos da Associação Philarmónica Euterpe Portalegrense foram preenchidos por concer‑
tos realizados em diversos locais da cidade de Portalegre,
destacando­‑se as diversas festividades religiosas, os con‑
certos em espaços públicos e, por vezes, as cerimónias ofi‑
ciais, algo que se tem mantido ao longo dos seus 150 anos
de história.
Quanto à importância dos intercâmbios entre a Euterpe
e outras bandas, ela não se prende apenas com a sua quanti‑
dade, mas fundamentalmente com o seu papel tanto a nível
musical como a nível social. Para os músicos, esta é uma
oportunidade de contactar com outras bandas filarmóni‑
cas e outras formas de trabalhar e também para conhecer
novos locais, dentro e fora do país, bem como para conhe‑
cer novas pessoas que partilham o interesse pela activi‑
dade filarmónica, uma vez que as várias actuações que esta
Banda faz ao longo do ano não se cingem apenas à cidade
de Portalegre, mas realizam­‑se igualmente nas diversas fre‑
guesias do Concelho e na maioria das localidades do Dis‑
trito, sendo frequentes também as suas deslocações a loca‑
lidades da Estremadura espanhola para a realização de
concertos. Em média, a Sociedade Euterpe realiza por ano
cerca de catorze actuações, entre serviços religiosos, con‑
61
The band, its performances and its economic role
Upon leaving the room that now houses the bar, we
can find the stairs that lead to the first floor. Going up
these stairs we can see some pictures of the faces that have
formed part of the history of the Euterpe Musical Society
since its formation, more than a hundred and fifty years
ago. When we reach the first floor it is hard not to notice
the number of awards and mementos that attest to the var‑
ious exchanges and concerts that this Philharmonic Band
have given throughout its existence. Many of these memo‑
ries only still remain in the minds of some of the older musi‑
cians while others have been passed down orally to the next
generation. The truth is that a lot of documentation and
objects attesting to the early years of the Euterpe Musical
Society no longer exist, but those that have come down to
us show that the early years of the Associação Philarmónica
Euterpe Portalegrense were filled with concerts held in various
locations around the city of Portalegre, in particular the var‑
ious religious festivals, public open air concerts and, some‑
times, official ceremonies, something that has stayed con‑
stant throughout its 150-year history.
Regarding the importance of exchanges between the
Euterpe and other bands, this does not just concern the num‑
ber of such exchanges, but primarily their role both musi‑
cally and socially. For musicians, this has been an opportu‑
nity to come into contact with other philharmonic bands and
other ways of working and also to get to know new places
inside and outside Portugal as well as meeting new people
who share an interest in the band’s activity, since the various
performances that this band carry out throughout the year
are not confined only to the city of Portalegre, but also take
place in different parishes within the Council and most parts
certos e cerimónias oficiais; no entanto, este número pode
aumentar nos meses de Verão, nos quais abundam as fes‑
tas populares. Como é hábito neste tipo de sociedades, as
actuações realizadas noutras localidades com outras ban‑
das, são normalmente retribuídas pela Sociedade Euterpe
que recebe em Portalegre as bandas que a acolheram. Tam‑
bém esta Banda organiza desde 2004 o seu próprio Festi‑
val de Bandas, contando já com oito edições anuais e com
a presença de outras bandas do país, como é o caso da vizi‑
nha Sociedade Recreativa Musical Alegretense, da Banda
da Sociedade Filarmónica Amizade Visconde de Alcácer ou
da Banda Filarmónica Simão da Veiga da Casa do Povo de
Lavre, entre outras. Segundo o anúncio do Festival de Ban‑
das realizado em Setembro de 2009, “este festival será um
encontro de pessoas, jovens, idosos, trabalhadores, estu‑
dantes e profissionais, que desfrutam de uma rara igual‑
dade no processo de fazer música juntos”14. Assim, este Fes‑
tival tem como principal objectivo o encontro de músicos
oriundos de várias regiões, fomentando a partilha de gos‑
tos e valores em comum, tais como “a amizade, o respeito e
principalmente o amor pela música”15.
As actuações da Sociedade Musical Euterpe de Portale‑
gre podem ocorrer em concertos em salas destinadas para
o efeito, em festas populares, em procissões, arruadas,
touradas, cerimónias oficiais ou nos encontros de bandas,
sendo a esmagadora maioria destas actuações realizadas
gratuitamente, sem quaisquer custos para o público. Para
os músicos deste agrupamento, estas actuações são uma
oportunidade para apresentar o seu trabalho ao público e
são também uma possibilidade de conhecer pessoas com
interesses em comum, sendo muitas vezes este um dos
principais factores para a sua entrada e permanência na
banda. Apesar de não terem sofrido grandes alterações,
of the District, including frequent trips to places in Extrema‑
dura in Spain to give concerts. On average, the Euterpe Soci‑
ety gives around fourteen performances every year, includ‑
ing religious services, concerts and official ceremonies. How‑
ever, this number may increase in the summer months, when
there is an abundance of popular feast days. As is usual in
such societies, the activities performed with other bands in
other locations are usually reciprocated by the Euterpe Soci‑
ety in Portalegre as they host the philharmonic bands that in
turn hosted them. This band has also since 2004 organized
its own Festival of Philharmonic Bands, which has already
been held eight times on an annual basis and which has
included other Portuguese philharmonic bands, including
the neighbouring Musical Recreational Company of Alegrete,
the Band of the Amizade Visconde de Alcácer Philharmonic
Society and the Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre Phil‑
harmonic Band. According to the publicity for the Festival of
Philharmonic Bands held in September 2009, “this festival is
a gathering of people - young, old, workers, students and pro‑
fessionals, who enjoy a rare equality in the process of making
music together”14. Thus, this Festival has as its main objec‑
tive the gathering of musicians from various regions, foster‑
ing the sharing of their tastes and values in common, such as
“friendship, respect and above all a love of music”15.
The performances of the Portalegre Euterpe Musical
Society may take place in concert hall rooms intended for
that purpose, in festivals, in processions, rallies, bullfights,
official ceremonies or meetings of philharmonic bands, with
the overwhelming majority of these performances free and
held at no cost to the public. For the musicians, these perfor‑
mances are an opportunity to present their work to the pub‑
lic and are also a chance to meet people with common inter‑
ests, and this is often a major reason for joining and stay‑
62
Arruada da Banda Euterpe, 2010.
Euterpe Music Society parade, 2010.
os contextos onde esta Banda realiza as suas actuações
e alguns pormenores respeitantes à logística mudaram
ao longo destes cento e cinquenta anos. Hoje a Euterpe
desloca­‑se para as suas actuações em autocarros cujos cus‑
tos normalmente estão a cargo da Direcção; no entanto,
durante muitos anos, as deslocações dos músicos para
localidades mais perto de Portalegre eram feitas a pé ou
não raras vezes de carroça o que demorava várias horas e
que implicava um esforço extra para os músicos, mas que
ao mesmo tempo correspondia a mais uma oportunidade
para poderem conviver.
63
ing with the philharmonic band. Although they have under‑
gone major changes, the contexts in which this Band carries
out its performances and some of the details regarding the
logistics of these have changed over the course of a hundred
and fifty years. Today the Euterpe travels to the locations
where it is going to perform using coaches, the cost of which
is normally borne by the Board. However, for many years,
the musicians travelled to locations closer to Portalegre on
foot or by wagon, which often took several hours and which
meant extra effort for the musicians, but at the same time
represented another opportunity to socialize.
Actuações da Banda Euterpe, 1892–1980
Euterpe’s Musical Society Performances, 1892–1980
1892
21-22 Agosto / August
Festas de Nossa Senhora da Piedade, Portalegre / Festas (Festivities) of Nossa Senhora da Piedade, Portalegre
1893
Abril / April
Romarias à capela da Senhora da Penha / Pilgrimages at the chapel of Senhora da Penha
Agosto / August
Arraial de São Bartolomeu / Arraial (Folk Festival) of São Bartolomeu
1896
Março / March
Procissão do Nosso Senhor Jesus Cristo / Procession of Nosso Sr. Jesus Cristo
Abril / April
Procissão da Quinta-Feira Maior no Arraial da Divina Pastora / Procession of Quinta-Feira Maior at the Folk Festival
of the Divine Shepherd
Maio / May
Arraial de São Pedro / Folk Festival of São Pedro
Junho / June
Procissão e arraial de São Sebastião / Procession and Folk Festival of São Sebastião
Julho / July
Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão
Arraial de Santana / Folk Festival of Santana
Arraial da Senhora da Graça / Folk Festival of Senhora da Graça
Arraial de São Bartolomeu / Folk Festival of São Bartolomeu
Setembro / September
Arraiais da Nossa Senhora da Alegria / Folk Festivals of Nossa Senhora da Alegria
Dezembro / December
Arraial de Senhor do Bonfim / Folk Festival of Senhor do Bonfim
1900
Abril /April
Procissão do Senhor dos Paços / Procession of Senhor dos Paços
Procissão da Quinta-Feira Maior / Procession of Quinta-Feira Maior
Procissão da Divina Pastora / Procession of the Divine Shepherd
Procissão do Corpo de Cristo / Procession of Corpus Christi
Procissão da Sé / Procession of the Sé
Maio / May
Arraial do Senhor dos Aflitos / Folk Festival of Senhor dos Aflitos
Arraial Senhora da Penha / Folk Festival of Senhora of Penha
Junho / June
Arraial Santo António / Folk Festival of Santo António
Arraial da Nossa Senhora do Bom Despacho / Folk Festival of Nossa Senhora do Bom Despacho
Arraial da Nossa Senhora da Graça / Folk Festival of Nossa Senhora da Graça
Arraial de Santana / Folk Festival of Santana
Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão
Arraial da Senhora da Luz / Folk Festival of Senhora da Luz
Tourada / Bullfight
Setembro / September
Procissão de São José e de São Lourenço / Procession of São José and São Lourenço
Arraial de São Lourenço / Folk Festival of São Lourenço
Arraial de São Pedro / Folk Festival of São Pedro
Arraial de Nossa Senhora da Alegria / Folk Festival of Nossa Senhora da Alegria
Tourada em Estremoz / Bullfight in Estremoz
Tourada no Senhor dos Aflitos / Bullfight in Senhor dos Aflitos
Dezembro / December
Procissão da Bula da Santa Cruzada / Procession of Bula da Santa Cruzada
1904
21-22 Agosto / August
Festas da cidade, com as bandas de Marvão e Nisa / Festivities of the city, with the bands from Marvão and Nisa
1905
21 actos remunerados / 21 remunerated activities
64
1906
Festival de bandas, na Avenida D. Carlos, com a Banda Regimental de Infantaria 22 / Festival of the bands on
Avenida D. Carlos, with the Regimental Band of the 22nd Infantry.
1909
Setembro / September
Concurso por ocasião do primeiro aniversário dos Bombeiros da Corporação Robinson / Competition to celebrate
the first anniversary of the Robinson Corporation Fire-fighters
1910
Abril / April
Participa na entrada na cidade do novo bispo, D. António Moutinho / Participation in the entry into the city of the
new bishop, D. António Moutinho
Comemorações do centenário de Alexandre Herculano (execução do hino dedicado a este autor pelas ruas da cidade) /
Commemorations to mark the centenary of Alexandre Herculano (playing of the anthem dedicated to this author
through the streets of the city)
1 Dezembro / December
Comemorações dos 50 anos da associação / Commemorations to mark the 50th anniversary of the association
1918
Fevereiro / February
Festa de São Sebastião, em Alegrete / Festival of São Sebastião, in Alegrete
Março / March
Concerto a favor da Sopa Económica / Concert for Sopa Económica
Enterro do Senhor, na Sé de Portalegre / Enterro do Senhor, at the Portalegre Cathedral
Maio / May
Festividade do Senhor dos Aflitos / Festivity of Senhor dos Aflitos
Garraiada / Garraiada (bullock fight)
Junho / June
Festas de São João / Festivities of São João
Festas de São Sebastião / Festivities of São Sebastião
Garraiada / Garraiada
Procissão do Senhor dos Passos / Procession of Senhor dos Passos
Julho / July
Arraial de São Cristóvão / Folk Festival of São Cristóvão
Agosto / August
Arraial da Senhora de Santana / Folk Festival of Senhora de Santana
Setembro / September
Festas do Reguengo dos Fortios / Festivities of Reguengo dos Fortios
Outubro / October
Procissão do Senhor do Bonfim / Procession of Senhor do Bonfim
Festas da Ribeira de Nisa / Festivities of Ribeira de Nisa
1944
5 Junho / June
Inauguração da Exposição da Vida Corporativa do Distrito de Portalegre em conjunto com a banda dos Bombeiros
Voluntários, as bandas de Castelo de Vide e de Alegrete / Inauguration of the Exhibition of the Corporate Life of the
District of Portalegre along with the band of the Voluntary Fire-fighters, and the bands of Castelo de Vide and Alegrete
1 Dezembro / December
Aniversário da Banda e Festas da Mocidade organizadas pela Mocidade Portuguesa / Anniversary of the Band and
Youth Festivities organized by Portuguese Youth
1948
27 Fevereiro / February
Comemoração da tomada de posse da nova direcção da Euterpe: dois bailes abrilhantados pela banda de jazz Os Lisos
e pela orquestra Jazz A Maia / Commemoration to mark the taking of office of the new Board of Euterpe: two brilliant
balls by the jazz band Os Lisos and the Jazz orchestra A Maia
1950
1 Dezembro /December
Comemoração do 90.º aniversário com concerto no Jardim Público / Commemoration of the 90th anniversary
with a concert in the Public Garden
1952
1 Junho / June
Organização de uma “tarde festiva” e de um cortejo até ao Sanatório / Organization of a “festive afternoon” and
a procession to the Sanatorium
Década de 1980 / 1980s
Deslocações a Cáceres / Trips to Cáceres
65
É possível então verificar que as associações filarmóni‑
cas do nosso país se assumem como um importante meio
para que pessoas dos mais variados meios sociais e económi‑
cos possam desenvolver uma actividade em conjunto, assim
como são também um importante local para que pessoas
com menores recursos económicos possam ter a oportuni‑
dade de aprender e tocar um instrumento e contactar com
diferentes realidades culturais. Importante é igualmente o
papel económico da Sociedade Musical Euterpe, uma vez
que, tal como é hábito na maioria destes agrupamentos,
tanto os instrumentos como todo o material consumível
(palhetas ou óleos para os instrumentos de metal), as repa‑
rações dos instrumentos, as partituras e o fardamento são
fornecidos pela própria Banda, assim como todas as despe‑
sas relativas à deslocação e alimentação dos músicos no con‑
texto das actuações. Esta particularidade no funcionamento
destes agrupamentos afigura­‑se como uma das suas princi‑
pais características e uma filosofia que se mantêm desde a
sua fundação até aos dias de hoje, uma vez que é dada ao
músico a oportunidade de aprender música, de tocar um ins‑
trumento e de actuar com o grupo sem quaisquer gastos da
sua parte. Tal como em agrupamentos homólogos, a esma‑
gadora maioria dos instrumentistas não possui instrumento
próprio, tocando desde o momento de aprendizagem e, mui‑
tas vezes, ao longo de várias décadas com o instrumento for‑
necido pela banda filarmónica. Foi o que aconteceu com o
ex­‑músico, o Sr. António Carrapiço que fez parte da S.M.E.
por mais de setenta anos e que sempre utilizou um instru‑
mento fornecido pela Banda (na carta de despedida o Sr.
Carrapiço refere que o dinheiro que tem a receber das actu‑
ações por ele realizadas ficará para a reparação do instru‑
mento com o qual tocou na Euterpe durante vários anos16).
Também a grande maioria dos músicos que responderam
It is thus possible to verify that the philharmonic asso‑
ciations in Portugal provide an important opportunity for
people from many different social and economic levels to
carry out an activity together, as well as also being an impor‑
tant place for people with fewer economic resources to have
the opportunity to learn and play an instrument and come
into contact with different cultural realities. The economic
role of the Euterpe Musical Society is also important, since,
as is customary in most of these groups, both the instru‑
ments as well as any consumable material (reeds or oils for
the brass instruments), instrument repairs, scores and uni‑
forms are provided by the Philharmonic Band, as well as
all expenses for travel and food related to the musicians’
performances. This peculiarity in the functioning of these
groups seems to be one of its main features and a philos‑
ophy that has remained from its formation until the pre‑
sent day, since the musicians are given the opportunity to
learn music, play an instrument and perform with the group
without incurring any expenses on their part. Just like sim‑
ilar groups, the overwhelming majority of musicians do not
possess their own instrument, and they play with an instru‑
ment supplied by the philharmonic band from the learn‑
ing period onwards and keep this as the years and decades
go by. This is what happened to the former musician, Sr.
António Carrapiço, who was part of the S.M.E. for over sev‑
enty years and who always used an instrument provided by
the Philharmonic Band (in his farewell letter Sr. Carrapiço
states that the money received for his performances always
went on the repair of the instrument with which he played
in the Euterpe throughout those years16). The vast major‑
ity of the musicians who replied to the distributed question‑
naires stated that they do not use their own instrument:
out of thirty-two musicians who responded to the ques‑
66
aos questionários distribuídos afirma não utilizar instru‑
mento próprio: em trinta e dois músicos que responderam
ao questionário, do total de quarenta e nove, apenas quatro
músicos afirmam tocar com instrumento próprio. Muitas
vezes, estes músicos das bandas filarmónicas acabam por
frequentar o Conservatório sem nunca comprar um instru‑
mento próprio, acontecendo em algumas ocasiões que, por
falta de recursos monetários, frequentam o ensino superior
de música ainda com o instrumento que a banda lhes for‑
nece, dando apenas como contrapartida a regular frequên‑
cia nos ensaios e actuações da “sua” filarmónica.
tionnaire, out of the total of forty-nine, only four musicians
stated that they play with their own instrument. Musicians
from philharmonic bands often end up attending the Con‑
servatory without ever buying an instrument, as sometimes
a lack of financial resources means that they frequent musi‑
cal higher education playing the instrument that the band
has provided them with, and in return they regularly attend
the rehearsals and performances of “their” Philharmonic.
“A question of gender”: the entry of female
musicians into the band and the subsequent
change in behaviour
“Uma questão de género”: a entrada de elementos
femininos na banda e a consequente mudança
de comportamentos
In a concert hall, the Euterpe Society wears its usual
uniform: dark-blue jacket and skirt or pants, white shirt and
red tie, complemented with a military-style hat that is used
Numa sala de concertos, a Sociedade Euterpe enverga a
sua habitual farda: casaco e saia ou calça azul­‑escuro, camisa
branca e gravata encarnada, complementada com um cha‑
péu de modelo próximo ao militar que é utilizado quando a
Banda realiza arruadas ou procissões. Mas em cento e cin‑
quenta anos de história nem sempre o fardamento da Socie‑
dade Euterpe foi assim. Ao longo da sua existência, esta
Banda já assistiu a várias mudanças de fardamento, seguindo
sempre uma linha de carácter militar, como é habitual neste
tipo de associações. Tal como é referido por Susana Bilou
Russo17, a questão da utilização de um uniforme por parte
das Sociedades Filarmónicas está directamente relacionada
com factores sociais, permitindo a uniformização de todos
os músicos, qualquer que seja o seu estatuto social, dando
um “carácter de distinção à banda” durante as suas actua‑
ções e funcionando como um “factor de distinção”, confe‑
rindo também ao músico um “certo estatuto”. Mas aos pou‑
67
when the Philharmonic Band takes part in rallies or proces‑
sions. But over the hundred and fifty years of its history
the uniform of the Euterpe Society has not always been like
that. Throughout its existence, the Band has seen several
changes of uniforms, always following a military style, as is
usual for this type of association. As stated by Susana Bilou
Russo17, the question of the use of a uniform by the Philhar‑
monic Societies is directly related to social factors, as it ena‑
bles the uniformization of all the musicians, whatever their
social status, giving a “character of distinction to the band”
during its performances and acting as a “distinguishing fac‑
tor”, and also endowing the musician with a “certain sta‑
tus”. Even so, this Philharmonic Band gradually abandoned
its stripes and the military trappings of its uniform to adapt
to the passing of time. However, one of the biggest changes
was possibly the addition of a skirt to the uniform of the
Euterpe Society, the result of the joining of female musi‑
cos, esta Banda Filarmónica foi abandonando os galões e
muito do que aproximava a sua farda a um uniforme militar
para se adaptar à passagem do tempo. No entanto, possivel‑
mente uma das maiores mudanças foi a inclusão de uma saia
no uniforme da Sociedade Euterpe, fruto da integração de
elementos do sexo feminino durante os anos setenta do
século XX. “Este momento foi fundamental, até pela forma
como o próprio público vê as Bandas, agora já não apenas
como formações essencialmente constituídas por homens,
mas como uma instituição formadora de um espírito salutar
de convivência e divulgação artística, em que a barreira de
género se vai progressivamente diluindo”18. Esta integração
das mulheres nas Bandas Filarmónicas não se verificou ape‑
nas na Sociedade Musical Euterpe de Portalegre, mas na
maioria das associações filarmónicas do país, fruto de uma
mudança de mentalidades gradual e, em muitos casos, fruto
de uma escassez de recursos humanos. A entrada de mulhe‑
res nestas sociedades contribuiu não só para a mudança da
forma como o público vê as bandas mas também para um
gradual rejuvenescimento de muitas que durante a década
de 1970 passaram por sérias dificuldades pela falta de músi‑
cos devido à saída de muitos jovens para a Guerra Colonial
ou para o estrangeiro. Algo que continuaria a acontecer até
meados da década de 1980, o que levaria Normando de Cas‑
tro a referir que “não se pode dizer que neste momento a
banda está famosa pois, motivos alheios à nossa vontade e
impossíveis de evitar, fizeram com que alguns elementos,
por diversos motivos (serviço militar, estudos, doença) dei‑
xassem de fazer, esperemos que temporariamente, parte
das nossas fileiras”19. Assim, a integração de elementos femi‑
ninos alterou a Banda enquanto instituição social ao mesmo
tempo que provocou mudanças expressivas no comporta‑
mento dos seus elementos, modificando vários requisitos
cians during the nineteen seventies. “This moment was cru‑
cial to the way the public viewed the Philharmonic Bands,
now not only as formations essentially made up of men, but
as an institution forming a spirit of healthy living and the
dissemination of art, in which the gender barrier was grad‑
ually diminished”18. Women joining Philharmonic Bands
were not just to be found in the Euterpe Musical Society of
Portalegre, but in most of the philharmonic associations in
Portugal, the result of a gradual change in attitude and, in
many cases, due to a shortage of human resources. Women
joining these associations contributed not only to chang‑
ing the way the public saw these bands but also to a grad‑
ual rejuvenation of many that during the 1970s had experi‑
enced serious difficulties because of the lack of players due
to the departure of many young people to the Colonial War
or abroad. This was something that would continue to hap‑
pen until the mid-1980s, leading Normando de Castro to
note that “it cannot be said that at this moment the band is
well-known since, for reasons beyond our control and which
are unavoidable, some members, for various reasons (mil‑
itary service, studies, illness) have had to leave, hopefully
temporarily, our ranks”19. Thus the integration of feminine
members changed the Philharmonic Band as a social insti‑
tution while at the same time causing significant changes in
the behaviour of its members, by modifying certain of the
requirements necessary for their performances20. The entry
of women into the philharmonic bands was gradual. How‑
ever, is curious to note that there were female members pre‑
sent in the Montepio Portalegrense when it was founded.
Nevertheless, for about a century, there were no female
musicians in the Band. According to Sr. António Carrapiço,
the first women to enter the Euterpe Society were the wives
or daughters of some of the musicians in the Philharmonic
68
A Banda Euterpe em concerto, 2010.
Euterpe Music Society performance, 2010.
necessários à performação20. A entrada das mulheres nas
bandas filarmónicas foi gradual; no entanto, é curioso verifi‑
car que estavam presentes elementos do sexo feminino
entre os sócios do Montepio Portalegrense à data da sua
fundação. Apesar disso, durante cerca de um século de exis‑
tência, nunca se verificou a presença de mulheres enquanto
executantes da Banda. Segundo o Sr. António Carrapiço, as
primeiras mulheres a entrar na Sociedade Euterpe foram as
esposas ou filhas de alguns dos então músicos da Banda,
sendo muitas vezes também acompanhada pela entrada de
elementos mais jovens, muitas vezes os próprios filhos. No
entanto, em conversa com o actual Maestro, Manuel Henri‑
que Ruivo, este afirma que uma parte significativa desta
mudança na constituição da Banda e consequentemente no
seu comportamento só se verificou já no século XXI, à data
69
Band, often also accompanied by younger members joining,
who were frequently their own children. However, in con‑
versation with the present Musical Director, Manuel Hen‑
rique Ruivo, he stated that a significant part of this change
in the make-up of the Band and consequently their behav‑
iour only occurred in the 21st century, when he took over the
musical direction of the Euterpe Musical Society, since one
of his main objectives was to rejuvenate the Portalegre Phil‑
harmonic Band, and gradually make a number of changes so
as to modify the functioning of the philharmonic band and
its external image. This concern by the Musical Director to
modify some of the behaviour of the Band is still present
within the musical group so as to obtain the “confidence” of
the people of Portalegre, by taking actions that captivate the
young and therefore their families to become more involved
da sua entrada para a regência da Sociedade Musical Euterpe,
uma vez que um dos seus grandes objectivos passou pelo
rejuvenescimento da Banda de Portalegre, operando gradu‑
almente várias alterações de forma a modificar o funciona‑
mento da banda e a imagem deste grupo para o exterior. Foi
então preocupação deste Maestro modificar alguns compor‑
tamentos que ainda prevaleciam no seio da Banda de forma
a captar a “confiança” da população portalegrense, desenvol‑
vendo acções que cativassem os jovens e, consequente‑
mente, os seus familiares para um maior envolvimento nas
actividades da Sociedade. No ano em que a Sociedade Musi‑
cal Euterpe completou cento e cinquenta anos, a faixa etária
com maior número de músicos situava­‑se entre os onze e os
vinte anos de idade21, contrariamente ao que durante mui‑
tos anos se verificou. Nos oito anos de regência deste Maes‑
tro, o número de músicos tem vindo a aumentar significati‑
vamente, sendo uma aposta desta Associação a formação de
jovens músicos. Desta forma, a imagem que era muitas vezes
passada para o exterior, a de um grupo de homens adultos
com hábitos desregrados que se juntavam para actuar em
festas populares, tem vindo a ser alterada. Hoje em dia esta
é uma imagem que não corresponde à realidade, uma vez
que em todo o país se tem assistido a uma crescente preocu‑
pação na integração de jovens e mulheres e na gradual
mudança de comportamentos. Durante várias décadas, as
bandas filarmónicas eram constituídas principalmente por
músicos já em idade adulta que viam na banda não só um
passatempo como também uma forma de obter um rendi‑
mento complementar. Em conversa com o Sr. António Car‑
rapiço, antigo clarinetista, entre muitas histórias dos seus
mais de setenta anos de permanência na Sociedade Euterpe,
podemos perceber que, apesar de ser muito pequena a quan‑
tia que cabia a cada músico por actuação, esta era uma ajuda
70
Antes da entrada das mulheres, 1979.
Before the entry of women, 1979.
Depois da entrada das mulheres, 1981.
After the entry of women, 1981.
para alguns músicos com menores recursos económicos.
Assim, ao Maestro cabia dez por cento do total recebido,
complementando o seu salário mensal, sendo o restante
dividido pela Direcção e pelos executantes que não raras
vezes beneficiaram de uma recompensa monetária prove‑
niente de um fundo criado para o efeito, numa tentativa da
Direcção para combater o absentismo aos ensaios. “Para
estímulo e melhor assiduidade aos ensaios, deliberou­‑se gra‑
tificar com 4$00 por ensaio, os executantes para o que se
criou um fundo especial para o qual a câmara contribuiu”,
segundo o referido numa carta datada de Julho de 1962
e endossada ao então Presidente da Câmara. Foi também o
Sr. Carrapiço que nos chamou a atenção para os vários agru‑
pamentos musicais que se formaram com alguns dos ele‑
mentos da Euterpe, na altura denominados de “conjuntos”.
A partir desta Sociedade formaram­‑se em meados do século
XX vários grupos, como o caso da “Troupe de Jazz Os Lisos”,
do Conjunto “Ideal”, do “Conjunto Musical Euterpe” (1975)
e da “Ferrugem”, que confirmam o que é afirmado por Paulo
Lameiro na Enciclopédia da Música em Portugal no século XX:
“Enquanto grupos aglutinadores de recursos musicais
(músicos, instrumentos, repertório, etc.), proporcionam
frequentemente formações mais pequenas – como o cavali‑
nho e o grupo designado jazz – vocacionadas para eventos
específicos”22. Para a Sociedade Euterpe, estes grupos permi‑
tiram muitas vezes que a própria Banda se mantivesse em
funcionamento, tal como é referido no relatório da Assem‑
bleia Geral de Abril de 1985, onde é salientado o papel do
“Conjunto Musical Euterpe” para que “(…) a Banda não mor‑
resse (…) pois sabemos todos muito bem que a Banda estava
em agonia”23, sendo referido que “(…) cumpriu sempre os
fins para que foi criado (contribuir com as receitas das suas
actuações para a melhoria do património da Sociedade). Foi
71
in the activities of the Society. In the year in which the
Euterpe Musical Society completed one hundred and fifty
years of existence, the age group with the largest number
of musicians was that between eleven and twenty years of
age21, contrary to what had occurred for many years. In the
eight years of his conducting the Philharmonic Band, the
number of musicians has increased significantly, with the
Association focusing on the training of young musicians.
In this way, the external image that was frequently por‑
trayed of a group of adult men with unruly habits who gath‑
ered to perform at feast days has been changed. Nowadays
this is an image that does not correspond to reality, since
across the country there has been a growing concern to inte‑
grate young men and women along with a gradual change
in behaviour. For several decades, the philharmonic bands
consisted mainly of adult musicians who saw the band not
only as a hobby but also a way of obtaining an additional
income. In conversation with Sr. António Carrapiço, former
clarinettist, hearing the many stories he related from his
more than seventy years of belonging to the Euterpe Soci‑
ety, it could be understood that despite being a very small
amount that each musician was given for each performance,
this was a help for some musicians with fewer economic
resources. The Musical Director receives ten per cent of the
performance fee, which is supplemented by his monthly sal‑
ary, with the remainder divided by the Board and the per‑
formers who often receive payment from a fund created for
that purpose, in an attempt by the Board to combat absen‑
teeism during rehearsals. “To encourage and improve better
attendance at rehearsals, the decision was taken to pay 4$00
per rehearsal, for which a special fund has been created
and to which the town hall has helped”, as stated in a let‑
ter dated July 1962 and endorsed by the then Mayor. It was
also Sr. Carrapiço who drew attention to the various musi‑
cal groups which formed containing musicians from the
Euterpe, known at the time as “groups”. Several groups were
formed from this Society in the mid-twentieth century, such
as the “Jazz Troop Os Lisos”, the “Ideal” Group, the “Conjunto Musical Euterpe” (1975) and “Ferrugem”, which con‑
firms Paul Lameiro’s statement in the Encyclopaedia of 20th
Century Music in Portugal: (Enciclopédia da Música em Portugal no século XX) “As collective groups of musical resources
(musicians, instruments, repertoire, etc.), they often create
smaller groupings – such as the cavalinho and the so-called
jazz group – created for specific events”22. For the Euterpe
Society, these groups often enabled the Philharmonic Band
itself to continue to play, as stated in the report of the Gen‑
eral Assembly of April 1985, where the role of “Euterpe
Musical Group” is emphasized so that “(...) the Philhar‑
monic Band would not die (...) because we all know too well
that the band was in agony”23, and it was mentioned that
“(...) it had fulfilled the purpose for which it was created (to
help with the revenue from their performances to improve
the patrimony of the Society). This revenue was used for
work on their premises, changing some of the furniture,
purchasing new instruments and uniforms and finalising
payment of the equipment at its disposal”. According to Sr.
Carrapiço, these groups were also a means used not only by
com essas receitas que se fizeram algumas obras na sede,
modificando­‑se mobiliário, adquirindo bom fardamento e
instrumentos novos e procedendo ao pagamento total da
aparelhagem de que dispunha”. Segundo o Sr. Carrapiço,
estes grupos eram também um meio utilizado, não só pela
própria Banda como pelos músicos, como forma de comple‑
mentar os seus rendimentos, realizando actuações em loca‑
lidades nas imediações de Portalegre, normalmente nos bai‑
the Philharmonic Band but also the musicians as a way of
supplementing their income by performing in nearby local‑
ities around Portalegre, usually dances on feast days. This
former musician also stated that, afraid that the musicians
might miss the performances of the Euterpe Society as they
had been playing with their “band” until dawn, he often
went to meet them on their way back in order to “convince
them” not to miss their Euterpe commitment.
72
Troupe Jazz “Os Lisos”.
Jazz band Os Lisos.
les das festas populares. Este antigo músico também relata
que, com receio de que os músicos faltassem às actuações da
Sociedade Euterpe por terem actuado com o seu “conjunto”
até de madrugada, muitas vezes ia ao encontro destes no
caminho de regresso de forma a “convencê­‑los” a não falta‑
rem ao compromisso com a Euterpe.
Repertoire and performance formats
When we enter the room which houses the facilities of
the Society’s Board, it is hard to ignore the number of cup‑
boards filled with sheet music. Looking at these cupboards,
it is easy to perceive the passage of time and is also easy to
check the recent concern in the purchasing of music from
O repertório e os formatos performativos
the repertoire written specifically for this type of musical
group. This is a concern not only of the Musical Director of
Quando entramos na sala que alberga as instalações
da Direcção da Sociedade, é difícil ignorar a quantidade de
armários repletos de partituras. Ao observar estes armários,
é fácil perceber a passagem do tempo e é fácil também verifi‑
car a recente preocupação na aquisição de repertório escrito
especificamente para este tipo de agrupamento musical. Esta
é uma preocupação não só do Maestro da Sociedade Musi‑
cal Euterpe de Portalegre, mas também de uma nova geração
de maestros que têm vindo a assumir a direcção artística de
várias bandas filarmónicas do país, sendo uma alteração fun‑
damental que permite atrair novos músicos, fazendo corres‑
ponder este novo repertório aos interesses da população mais
jovem. É salientada pelo Maestro Manuel Henrique Ruivo a
sua atenção na escolha do repertório, tanto pela sua adapta‑
ção à constituição instrumental da Banda como pela familia‑
ridade que se pretende que os músicos tenham ou venham a
ter com as obras executadas. Assim, quando no dia 8 de Julho
de 2010 entrámos pela primeira vez na sala de ensaios da
Sociedade Euterpe, pudemos verificar que no concerto que se
iria realizar dez dias depois em Olivença, Espanha, a Banda
iria tocar várias obras compostas especificamente para este
tipo de grupo, como a obra Dakota de Jacob de Haan ou êxi‑
tos do famoso cantor Michael Jackson. Tal como o próprio
Maestro refere, estas obras foram escolhidas não só pela sua
73
the Euterpe Musical Society of Portalegre, but also of a new
generation of Musical Directors who have taken charge of
the artistic direction of several philharmonic bands in the
country, a key change which has allowed them to attract new
musicians, matching this new repertoire to the interests of
a younger generation. The Musical Director, Manuel Hen‑
rique Ruivo, highlighted his attention to the choice of rep‑
ertoire, both in terms of its adaption to the instrumental
make-up of the Philharmonic Band as well as its familiar‑
ity which it is intended that the musicians have or will have
with the works that are performed. So, when on 8 July 2010
we went in to the rehearsal room of the Euterpe Society
for the first time, we could observe that in the concert that
would take place ten days later in Olivença, Spain, the Band
would play several works composed specifically for this type
of group, such as the work Dakota by Jacob de Haan or hits
from the well-known singer Michael Jackson. As the Musi‑
cal Director mentioned, these works were chosen not only
because they have been specially arranged for groups of
wind instruments but also for the familiarity that the musi‑
cians and audiences have with the music of this performer.
According to Manuel Henrique Ruivo, beyond the impor‑
tant musical work which he is careful to develop with these
young musicians, it is critical that these instrumentalists
escrita musical própria para agrupamentos de instrumentos
de sopro, como pela familiaridade que os músicos e o público
têm com os temas deste intérprete. Segundo Manuel Henri‑
que Ruivo, para além do importante trabalho a nível musi‑
cal que tem o cuidado de desenvolver com estes jovens músi‑
cos, é fundamental que estes instrumentistas tenham prazer
em tocar o repertório, tal como é importante que a Banda
apresente obras diferentes do habitual. Para isso é necessá‑
rio dedicar bastante tempo na pesquisa de novas composi‑
ções e fazer diversas encomendas a editoras estrangeiras,
nomeadamente holandesas, pela sua tradição na publicação
de material original para agrupamentos compostos por ins‑
trumentos de sopro. Como o próprio refere, é importante
que a Sociedade Euterpe tenha uma “identidade própria” no
que diz respeito ao repertório executado. Para além de arran‑
jos de êxitos da música pop e rock internacional, este Maes‑
tro procura também encontrar arranjos de bandas sonoras
de blockbusters do cinema, não só pelo seu interesse musical
como também por ser uma forma de cativar o público e os
próprios músicos. É também salientado pelo Maestro e pela
própria Direcção o cuidado em atrair não só o público habi‑
tual dos concertos da Banda como também a preocupação
em ganhar novos públicos, envolvendo toda a população. No
entender de Manuel Henrique Ruivo, apesar da normal preo‑
cupação na sua estreia enquanto Maestro da Sociedade Musi‑
cal Euterpe de Portalegre, a reacção do público ao novo Maes‑
tro e, consequentemente, ao novo repertório foi bastante
positiva, sendo possível então, ao longo do tempo, assistir a
uma renovação do público. O anterior repertório da Euterpe
era o normalmente executado por este tipo de agrupamen‑
tos até à década de 1980, nomeadamente as marchas, tanto
marchas de concerto como marchas de rua ou de procissão,
muitas vezes compostas pelos próprios maestros, os hinos
have pleasure in playing their repertoire, just as it is impor‑
tant that the Philharmonic Band presents works different
from the usual. To do this it is necessary to devote a lot of
time searching for new compositions and place a number
of orders with foreign publishers, particularly Dutch, due
to its tradition of publishing original material for groups
composed of wind instruments. As he himself points out,
it is important that the Euterpe Society has its “own iden‑
tity” in relation to the repertoire it performs. In addition
to arrangements of international pop and rock music hits,
this Musical Director is also looking to find arrangements of
soundtracks from blockbuster movies, not only because of
their musical interest but also as a way to captivate the pub‑
lic and the musicians themselves. Both the Musical Direc‑
tor and the Board underline their care in attracting not only
their usual public to the Philharmonic Band’s concerts but
also their concern in gaining new audiences, encompassing
the entire population. According to Manuel Henrique Ruivo,
despite the normal concerns he had on his debut as conduc‑
tor of the Euterpe Musical Society of Portalegre, the pub‑
lic reaction to the new Musical Director and, subsequently,
the new repertoire, was quite positive, which can then, over
time, lead to a renewal in the public. The previous reper‑
toire of the Euterpe was normally performed by such groups
until the 1980s, including marches, both concert marches
and street processional marches, often composed by the
musical directors themselves, anthems and arrangements
of popular songs as well as the usual arrangements of works
from the classical repertoire, often unsuitable for the availa‑
ble instrumentation within these groups. Quite often, until
the mid-twentieth century, the Philharmonic Band of the
Euterpe Society also participated in religious celebrations,
performing works from the liturgical repertoire, which is
74
ou alguns arranjos de canções populares, bem como os habi‑
tuais arranjos de obras do repertório erudito, muitas vezes
desadequadas à constituição instrumental destes grupos.
Com bastante frequência, até meados do século XX, a Banda
da Sociedade Euterpe participava também em celebrações
religiosas, executando repertório de carácter litúrgico, o que
está directamente relacionado não só com a habitual prática
destes agrupamentos, como também com o facto de o seu
primeiro Maestro, Francisco José Perdigão, ter sido também
organista na Sé de Portalegre e ter composto algumas obras
para a Banda como é, por exemplo, o caso da obra composta
por ocasião do 25.º aniversário da subida de Leão XIII a Papa,
tal como é referido no Jornal Distrito de Portalegre de 2 de
Março de 1902. Como seria de esperar, a Euterpe apresenta
diferentes tipos de repertório adaptáveis à ocasião. Segundo
o que se pode ler na imprensa regional no início do século XX,
em concertos no coreto da cidade ou no passeio público, esta
Banda apresentava pasodobles, aberturas, valsas, excertos de
óperas, fantasias, marchas de concerto e zarzuelas, enquanto
em cerimónias oficiais, este agrupamento apresentava vários
hinos como o Hino da Restauração que ainda hoje toca.
Uma outra preocupação da Direcção e do Maestro deste
agrupamento é também a possibilidade de desenvolver con‑
certos que se afigurem como uma novidade na programação
musical portalegrense. Assim, ao longo dos últimos anos, a
Sociedade Euterpe tem organizado actuações em colaboração
com figuras importantes no panorama musical português,
tal como foi o caso do concerto de comemoração do 146.º
aniversário no qual esta Banda contou com a colaboração
do Maestro António Victorino d’Almeida num concerto
didáctico­‑pedagógico onde “(…) o Maestro abordou vários
conteúdos da disciplina de Educação Musical, procurando
fomentar junto dos jovens o gosto pela música e tentando
75
directly related not only with the usual practice of these
groups, but also with the fact that its first musical director,
Francisco José Perdigão, had also been the organist at the
Portalegre Cathedral and had composed some works for the
Philharmonic Band such as, for example, was the case with
the work composed to mark the occasion of the 25th anni‑
versary of the election of Pope Leo XIII, as reported in the
newspaper Distrito de Portalegre on 2 March 1902. As was to
be expected, the Euterpe presented different types of rep‑
ertoire adaptable to the occasion. From what we can read in
the regional press in the early twentieth century, in band‑
stand concerts in the city or promenade concerts, this Phil‑
harmonic Band performed pasodobles, overtures, waltzes,
opera excerpts, fantasies, concert marches and zarzuelas
while for official ceremonies, the group performed a num‑
ber of anthems such as the Restoration Anthem (Hino da
Restauração), which it still performs today.
Another concern of the Board and the Musical Direc‑
tor of this group is also the possibility of holding concerts
of a new kind within the musical range of activities in Por‑
talegre. As such, over the past few years, the Euterpe Soci‑
ety has organized performances in collaboration with lead‑
ing figures in the Portuguese music scene, as was the case
with the concert commemorating its 146th Anniversary
which the Philharmonic Band celebrated with the coopera‑
tion of the Conductor António Victorino d’Almeida in a ped‑
agogic concert where “(...) the Conductor dealt with various
aspects of the subject of Music Education, seeking to foster
in young people a love for music and trying to demystify, in
an interactive and fun manner, the secrets of music”24, or
the concert held in 2006, “Love Stories”, in collaboration
with the Lisbon Dance Company, as well as concert involv‑
ing soloists from the Choir of the S. Carlos National The‑
desmistificar, de forma interactiva e divertida, os segredos
da música”24, ou o concerto realizado no ano de 2006, “Estó‑
rias de Amor”, com a colaboração da Companhia de Dança
de Lisboa, assim como o concerto realizado com os solistas
do Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, em 2008. A Socie‑
dade Euterpe realiza também concertos com a colaboração
de outras associações culturais da cidade, como os concer‑
tos corais e instrumentais realizados com o Orfeão de Porta‑
legre. Em localidades onde a oferta cultural não é muita, as
bandas filarmónicas têm o importante papel de actuar como
agente activo na dinamização da cultura local, sendo este o
caso da Sociedade Euterpe, assim como de outras socieda‑
des filarmónicas que, observando as mudanças sociais e as
consequentes mudanças nos gostos do público tentam adap‑
tar a sua oferta musical, trabalhando muitas vezes com o
objectivo de proporcionar à população novas experiências
culturais. Desta forma, a actividade musical da Sociedade
Euterpe vai de encontro aos objectivos expostos no seu website quando esta afirma que a Sociedade se assume “(…) cada
vez mais como um verdadeiro pólo de dinamização cultural
e formação didáctico­‑pedagógica”25. Nas conversas que tive‑
mos com o Presidente da Direcção e com o Maestro foi tam‑
bém referido que há um especial cuidado na divulgação da
actividade da Sociedade Euterpe nas escolas do ensino regu‑
lar da cidade de Portalegre de forma a que os alunos destas
escolas possam ter contacto com a Banda e com os também
jovens executantes deste agrupamento.
atre in 2008. The Euterpe Society has also organized con‑
certs in collaboration with other cultural associations in the
city, like the instrumental and choral concerts performed
with the Portalegre Orphanage. In localities where not
many cultural activities take place, the brass bands have an
important role to act as an active agent in boosting local
culture, which is the case with the Euterpe Society, as well
as other philharmonic societies which, observing the social
changes and the resulting changes in public taste, have
tried to adapt their musical output, often working with
the aim of offering the people new cultural experiences. In
this way the musical activity of the Euterpe Society has met
the objectives set out in its website where it states that the
Society has become “(...) more and more a true hub of cul‑
tural promotion and didactic and pedagogic training.25” In
the conversations we had with the President of the Board
and the Musical Director it was also mentioned that there is
a special care in spreading the activity of the Euterpe Soci‑
ety into mainstream schools in the city of Portalegre so that
the students of these schools may come into contact with
the Philharmonic Band and also with the young perform‑
ers in this group.
The importance of the Euterpe within the amateur
musical circuit: rehearsals and the makeup of the
Philharmonic Band
In another room on the ground floor is the rehearsal
A importância da Euterpe no circuito musical
amador: ensaios e constituição da Banda
room. On entering, we can find the usual arrangement of
chairs in a semicircle, pointing to where every Friday the
Musical Director takes “command” of almost fifty musi‑
Na outra sala do piso térreo fica a sala de ensaios. Quando
aqui entramos, encontramos a habitual disposição das cadei‑
cians. However, it is interesting to note the absence of the
wooden pallet which the conductors normally use to take a
76
ras em semi­‑círculo, direccionadas para o local onde o Maes‑
tro, todas as sextas­‑feiras, assume o “comando” dos quase
cinquenta músicos; no entanto, é interessante verificar a
ausência do estrado de madeira onde normalmente os maes‑
tros assumem uma posição mais elevada perante o grupo.
Como o próprio Maestro explicou, este pretende criar com
os músicos uma maior proximidade, assumindo­‑se como um
companheiro de trabalho e não como um líder inquestioná‑
vel. A sala não é muito grande, mas aqui cabem, para além
das quase cinquenta cadeiras e estantes onde os músicos
colocam as suas partituras, os vários instrumentos de per‑
cussão, desde a bateria de jazz, aos tímpanos ou à marimba.
Sem músicos esta é uma sala bastante silenciosa, mas é fácil
imaginar que entre as 21 e as 24 horas de sexta­‑feira o silên‑
cio não é a principal característica deste local. Num dia nor‑
mal de ensaio, os músicos vão chegando às instalações da
Sociedade Euterpe antes das 21 horas e vão­‑se sentando
nos seus lugares. Enquanto “aquecem” os seus instrumen‑
tos, ouvem­‑se escalas, pequenos excertos das peças que se
irão tocar durante o ensaio e tentativas de encaixar os rit‑
mos entre os diferentes instrumentos de percussão. A con‑
fusão do aquecimento termina com a entrada do Maestro
que, ao chegar à sua estante, pede aos músicos que toquem
uma escala maior, primeiro com um ritmo lento e depois
com a repetição das notas, procedendo só então à afinação
de cada instrumento. Nem sempre se conseguem juntar os
quarenta e nove músicos no mesmo ensaio uma vez que, tal
como acontece em todas as bandas filarmónicas do país, a
maioria destes músicos não fazem da música a sua activi‑
dade profissional. Uma das poucas excepções é o actual Pre‑
sidente da Direcção e saxofonista da Banda há mais de uma
década que dedica a sua vida profissional não só ao ensino
na Sociedade Musical Euterpe como também à actividade
77
higher position in front of the group. As the Musical Direc‑
tor himself explained, he wishes with this to create a greater
proximity, and become a co-worker rather than an unques‑
tionable leader. The room is not very big, but they can all
fit in, with the nearly fifty chairs and music stands where
the musicians put their sheet music, the various percus‑
sion instruments, from jazz drums, to the timpani and the
marimba. Without musicians this is a rather quiet room, but
it is easy to imagine that between 9:00 p.m. and midnight
on Fridays silence is not the main feature of this place. On a
normal rehearsal day, the musicians will arrive at the prem‑
ises of the Society Euterpe before nine p.m. and will be sit‑
ting in their seats. While they “are warming up” their instru‑
ments, scales are heard, along with snatches from the pieces
they will play during the rehearsal and attempts to sort out
the rhythms among the different percussion instruments.
The confusion of the warm up ends with the entrance of
the Conductor who, upon reaching his place, asks the musi‑
cians to play a longer scale, first at a slow pace and then with
repeated notes, only then proceeding to the tuning of each
instrument. It is not always possible to have the forty-nine
musicians present at the same rehearsal, as happens with
all the philharmonic bands in the country, as most of these
musicians are not professional musicians. One of the few
exceptions is the current Chairman of the Board and saxo‑
phonist of the Band for over a decade, who devotes his pro‑
fessional life not only to teaching at the Euterpe Music Soci‑
ety but also to activities as a professional musician. Nowa‑
days, and in keeping with what has been the case through‑
out its history, the Euterpe consists of very different ele‑
ments, whether in terms of age, or social, economic, or edu‑
cational level, bringing together apprentice musicians, ama‑
teurs and professionals26. These groups, who are normally
enquanto músico profissional. No presente, e tal como foi
acontecendo ao longo da sua história, a Euterpe reúne ele‑
mentos muito diferenciados, tanto do ponto de vista etário
como do ponto de vista económico, educacional ou social,
integrando da mesma forma músicos aprendizes, amadores
ou profissionais26. Estes agrupamentos que normalmente
se apresentam em concertos ou em desfiles pelas ruas são,
na maioria dos casos, constituídos por músicos amadores
no sentido em que estes não fazem da música a sua carreira
profissional. No entanto, é de notar que encontramos mui‑
tas vezes músicos profissionais a tocar nas bandas filarmó‑
nicas, uns por “amor à camisola”, tocando frequentemente
na banda onde iniciaram os seus estudos musicais, outros
contratados para reforçar a banda em determinados con‑
certos, recebendo uma quantia pelo seu serviço. Embora se
tenha terminado com a compensação monetária aos músi‑
cos da Euterpe, ao longo dos últimos anos pôde assistir­‑se
a um aumento do número de músicos da Banda, bem como
à entrada de músicos cada vez mais jovens, fruto do traba‑
lho de formação da Escola de Música da Sociedade Euterpe.
Tal como é muitas vezes referido pelo actual Maestro, uma
das suas principais preocupações é a renovação dos recursos
humanos da Banda. Para isso, Manuel Henrique Ruivo tem
o cuidado de desenvolver actividades que chamem a aten‑
ção da população mais jovem, bem como dos seus familia‑
res, cujo envolvimento na Banda é fundamental. Esta pre‑
ocupação com o envolvimento das famílias nas actividades
da Euterpe foi também salientada pelo Sr. Carrapiço na sua
carta de despedida da Banda Euterpe, em 2005, referindo
que procurou “sempre estabelecer laços de amizade com as
famílias dos elementos da Banda por serem fundamentais
para o bem estar da sociedade”27. Observando os resultados
provenientes dos questionários distribuídos, é possível veri‑
present in concerts or street parades consist, in most cases,
of amateur musicians in the sense that they do not make
music their career. However, it is noteworthy that we often
find professional musicians playing in brass bands, some
for “the love of the shirt”, often playing in the band where
they began their musical studies, others hired to strengthen
the band at certain concerts, and receiving a financial pay‑
ment for their services. While financial payment to the
musicians of the Euterpe has been done away with, over the
past few years there has been an increase in the number of
musicians in the Philharmonic Band, as well as the entry of
increasingly younger musicians, the fruit of the training car‑
ried out by the Music School of the Euterpe Society. As was
often mentioned by the current Musical Director, one of his
main concerns has been to renew the human resources of
the Philharmonic Band. To do this, Manuel Henrique Ruivo
78
Em ensaio, 9 Julho 2010.
In rehearsal, 9 July 2010.
ficar que a preocupação do actual Maestro em trazer novos
músicos para a Euterpe, apostando na sua formação musi‑
cal de base, tem dado frutos. Dos trinta e dois músicos que
responderam aos questionários, 70% apresenta idades com‑
preendidas entre os 12 e os 20 anos, enquanto que os res‑
tantes músicos apresentam idades entre os 21 e os 45 anos.
Apenas dois músicos se encontram em faixas etárias mais
elevadas, posicionando­‑se apenas um no escalão dos 61 aos
65 anos e outro no dos 71 aos 75. É curioso observar que o
músico mais velho desta Banda foi também ele Maestro da
mesma, o Sr. António Manuel Fandango, o 13.º Maestro da
Euterpe. Consequência desta baixa média de idades é o facto
de a grande maioria dos músicos desta Banda ainda serem
estudantes. Confirmando uma das principais características
das bandas filarmónicas, nesta convivem também pessoas
com profissões bastante variadas que aqui desenvolvem a
sua actividade musical amadora, sendo possível encontrar
pessoas já reformadas, técnicos de vendas, donas de casa ou
funcionários públicos.
A distribuição instrumental da S.M.E. é igual às demais
bandas filarmónicas; no entanto, a aquisição de alguns ins‑
trumentos, como o clarinete baixo ou o saxofone barítono,
foi gradualmente acontecendo de forma a enriquecer a sono‑
ridade da Banda e ao mesmo tempo poder corresponder às
obras adquiridas recentemente. Assim entre os quarenta e
nove músicos que constituem a Sociedade Euterpe, encontra‑
mos: uma flauta piccolo (uma flauta transversal mais pequena
e mais aguda, transpositora uma oitava acima, normalmente
denominada por flautim que, curiosamente, nesta Banda
é tocada pela executante mais nova), seis flautas transver‑
sais, um oboé (instrumento ainda bastante raro no universo
das bandas filarmónicas28), doze clarinetes sopranos em sib
(distribuídos por três vozes com funções musicais diferen‑
79
is careful to carry out activities that attract younger mem‑
bers of the public, as well as their family members, whose
involvement in the Philharmonic Band is crucial. This con‑
cern with the involvement of families in the activities of the
Euterpe was also emphasized by Sr. Carrapiço in his farewell
letter to the Euterpe Band, in 2005, stating that he always
sought to “establish friendships with the families of mem‑
bers of the Band because they are fundamental to the wellbeing of the society”27. Looking at the results from the dis‑
tributed questionnaires, it can be seen that the concern of
the present Musical Director in bringing in new musicians
to the Euterpe, focusing on their musical base, has borne
fruit. Of the thirty-two musicians who responded to the
questionnaires, 70% were between 12 and 20 years of age,
while the remaining musicians were between 21 and 45
years of age. Only two musicians are in older age groups,
with just one aged between 61 and 65 years of age and
another aged between 71 to 75 years of age. It is curious to
note that the oldest musician in this Band was also one of
its former Conductors, Sr. António Manuel Fandango, the
13th Conductor of the Euterpe. A consequence of this low
average age is the fact that the vast majority of musicians in
the Band are still students. Another major feature of brass
bands could also be confirmed, namely that this group con‑
tained a variety of professions within the individuals carry‑
ing out their amateur musical making activities here, includ‑
ing retired individuals, salesmen and women, homemakers
and civil servants.
The instrumental makeup of the E.M.S. is the same
as the other philharmonic bands. However, the acquisi‑
tion of some instruments, such as the bass clarinet or bar‑
itone saxophone, has gradually enriched the soundscape
of the Band and at the same time created the instrumen‑
tes), um clarinete baixo (clarinete também afinado em sib,
mas de grandes dimensões, sendo também um instrumento
ainda muito pouco utilizado nas bandas filarmónicas, princi‑
palmente devido ao seu tamanho e ao seu elevado custo), um
fagote (mais uma vez, um instrumento bastante raro nes‑
tas bandas, possivelmente pela sua dificuldade de execução e
pelo facto de ainda muitas bandas não possuírem uma escola
de música com professores especializados nos diferentes ins‑
trumentos), quatro saxofones alto, quatro saxofones tenor,
um saxofone barítono (este é um dos instrumentos que inte‑
grou a constituição das bandas recentemente, sendo ainda
difícil de encontrar na maioria das bandas portuguesas), três
trompetes, quatro trompas de harmonia, dois trombones de
varas, um eufónio (vulgarmente denominado de bombardino
que, neste caso, é tocado pelo músico mais velho da Euterpe),
duas tubas e vários instrumentos de percussão, como a bate‑
ria de Jazz, a marimba, os tímpanos, o bombo, a caixa de rufos
e os acessórios como o triângulo, o reco­‑reco ou as maracas,
distribuídos por seis instrumentistas que combinam entre si
a melhor forma de fazer com que não haja nenhuma falha
na componente rítmica desta Banda. Nas suas apresenta‑
ções públicas em contexto de concerto, a Euterpe, tal como
as restantes bandas do país, apresenta­‑se sentada em semi­
‑círculo, com todas as cadeiras orientadas para o local onde
o Maestro se posiciona para a dirigir, ficando os instrumen‑
tos mais agudos como o flautim ou as flautas transversais
na primeira fila, enquanto que os clarinetes se posicionam
do lado esquerdo do Maestro, ficando a primeira voz mais à
frente enquanto que as segunda e terceira vozes ocupam as
restantes filas. Já do lado direito do Maestro encontramos
os saxofones, ficando os saxofones alto na segunda fila e os
saxofones tenor e barítono na terceira. Em frente ao Maes‑
tro, na terceira fila, encontram­‑se as trompetes e trompas de
tation required for the recently acquired works. The fol‑
lowing instruments are thus to be found among the fortynine musicians who make up the Euterpe Society: a pic‑
colo flute (a smaller, higher flute, transposed an octave
higher, commonly known as a piccolo which, curiously, is
played in this band by the youngest performer), six flutes,
an oboe (an instrument which is still quite rare in philhar‑
monic bands28), twelve Bb soprano clarinets (spread over
three voices with different musical functions), a bass clar‑
inet (also tuned as a Bb clarinet, but larger and also an
instrument infrequently used by philharmonic bands,
mainly due to its size and its high cost), a bassoon (once
more, an instrument quite rare in these bands, possibly
due to its playing difficulty and the fact that many bands
still do not have a music school with teachers special‑
ized in different instruments), four alto saxophones, four
tenor saxophones, a baritone saxophone (this is one of the
instruments that philharmonic bands have added recently,
though still hard to find in most Portuguese philharmonic
bands), three trumpets, four French horns, two valve trom‑
bones, one Euphonium (which in this case is played by the
oldest musician in the Euterpe), two tubas and various per‑
cussion instruments, such as jazz drums, the marimba, the
tympani, the bass drum, the snare drum and accessories
such as the triangle, the reco-reco and the maracas, shared
among six musicians who work together in the best way
to ensure there are no gaps in the rhythm section of the
Band. In their public performances the Euterpe, like the
other bands in Portugal, sit in in a semicircle, with all chairs
pointed to where the Conductor is positioned in order to
conduct, with the treble instruments such as the piccolo or
flutes in the first row, while the clarinets are located on the
left side of the Conductor, with the first voice further in
80
harmonia, ficando os trombones de varas e as tubas ligeira‑
mente para o lado direito e na fila de trás. À percussão cabe a
última fila deste conjunto onde os instrumentos são arruma‑
dos de forma a que os músicos se possam movimentar e tocar
todos os instrumentos. Outra história curiosa contada pelo
Sr. António Carrapiço, que em setenta anos de clarinetista
foi durante quinze Tesoureiro da Direcção desta Banda, diz
respeito à compra do primeiro trombone de varas da Socie‑
dade Euterpe, em 1993. Numa carta disponibilizada pelo
Sr. Carrapiço, podemos ler um agradecimento dos então
Directores da Banda que, em nome da Sociedade Musical
Euterpe e da sua Direcção agradecem a este Tesoureiro “(…)
a oferta de um Trombone de Varas que com a sua dedicação
e AMOR por esta Colectividade se dignou a oferecer”29. Foi
durante o exercício das suas funções que se conseguiu adqui‑
rir este instrumento que até então não fazia parte do ins‑
trumental desta Banda, sendo durante muitos anos substituído pelo trombone de pistões, instrumento que, apesar
de ser utilizado por todas as bandas filarmónicas durante
front while the second and third voices occupy the remain‑
ing rows. On the right side of the Conductor sit the saxo‑
phones, with the alto saxophones in the second row and
the tenor and baritone saxophones in the third. Opposite
the Conductor in the third row are the trumpets and French
horns, with the trombones and tubas slightly to the right
side and in the back row. The percussion is located in the
last row of the band where the instruments are arranged so
that the musicians can move and play all the instruments.
Another curious story told by Sr. António Carrapiço, is
that in his seventy years as a clarinettist he was the Treas‑
urer for the Board of the Band for fifteen of them, and the
story concerns the purchase of the first trombone for the
Euterpe Society in 1993. In a letter made available by Sr.
Carrapiço we can read a thank you from the Board of Direc‑
tors of the Philharmonic Band at the time who, on behalf of
the Euterpe Musical Society, thank this Treasurer for “(...)
the offer of a Sliding Valve Trombone which he has deigned
to offer this Collective through his dedication and LOVE”29.
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
It was during the course of his duties that it managed to
Photo from Euterpe Musical Society archives.
acquire this instrument that until then had not formed
part of the instrumentation of the Band, with a piston
valve trombone having been used for years, an instrument
that, despite being used by all the philharmonic bands dur‑
ing the nineteenth century and for more than half of the
twentieth century, is now in disuse, not even being taught
in any school of music. The preference for the piston trom‑
bone for so many years was due to its technique being very
similar to the other brass instruments such as the trumpet
or the euphonium, with the trombonist being able to play
any other brass instrument or any other instrumentalist,
such as the trumpeter or tuba player, being able to play the
trombone, with a constant rotation taking place depend‑
81
o século XIX e durante mais de metade do século XX, hoje
se encontra em desuso, não sendo sequer leccionado em
nenhuma escola de música. A preferência durante tantos
anos pelo trombone de pistões devia­‑se à sua técnica muito
semelhante à dos restantes instrumentos de metal, como a
trompete ou o eufónio, podendo o trombonista tocar qual‑
quer outro instrumento de metal ou qualquer outro instru‑
mentista, como o trompetista ou o tubista, podia tocar trom‑
bone, havendo uma rotatividade consoante as necessidades
da banda. Com a entrada de muitos músicos das bandas filar‑
mónicas nos conservatórios, estes agrupamentos a pouco e
pouco foram substituindo todos os trombones de pistões por
trombones de varas, aproximando desta forma a sua cons‑
tituição instrumental à constituição da orquestra sinfónica.
Assim, podemos verificar que ao longo do tempo não muda‑
ram apenas o fardamento ou os próprios instrumentistas da
Banda, mas mudou significativamente a constituição ins‑
trumental da Sociedade Musical Euterpe. Mais uma vez em
conversa com o Sr. Carrapiço, foi possível verificar que esta
mudança se foi operando ao longo da sua permanência na
Banda, enquanto trabalhou com onze maestros diferentes.
Segundo o que este antigo músico relatou, aquando da sua
entrada na Sociedade Euterpe em 1933 existiriam cerca de
quatro flautas, cerca de nove clarinetes, quatro saxofones
alto, cerca de seis cornetins, dois melofones (habitualmente
chamados de clavicornes, usados em vez de trompas de har‑
monia, pela sua maior facilidade de execução e por possuí‑
rem três pistões em vez de quatro válvulas como actualmente
a trompa de harmonia possui), um ou dois eufónios, um con‑
trabaixo (tuba de menor dimensão e mais aguda, habitual‑
mente usada nas filarmónicas) e apenas uma caixa de rufos,
um bombo e um par de pratos, no que diz respeito à percus‑
são. Segundo Miguel Monteiro, Presidente da Direcção, ao
ing on the needs of the band. With many musicians from
the philharmonic bands getting in to conservatories, these
groupings led to the replacement of all piston trombones
with valve trombones, and in this way the instrumental
makeup of the philharmonic band nowadays more closely
resembles that of a symphony orchestra. Thus, we can see
that over time that not only did the uniforms or the instru‑
mentalists change in the Philharmonic Band, but that there
were also significant changes in the instrumental makeup
of the Euterpe Musical Society. Again in conversation with
Sr. Carrapiço, it was found that this change had taken place
throughout his membership in the Band, while working
with eleven different conductors. According to the report
of this former musician, upon joining the Euterpe Society
in 1933 there were about four flutes, about nine clarinets,
four alto saxophones, about six cornets, two mellophones
(commonly called clavicorns, used instead of French horns,
as being easier to play with three pistons instead of four
valves, as is the case with the French horn), one or two
euphoniums, a bass (a smaller tuba higher in range, usually
employed in philharmonic bands) and just a snare drum,
bass drum and cymbals, as far as percussion was concerned.
According to Miguel Monteiro, President of the Board, over
the years it has been a priority of the Board to enrich the
instrumentation of the Band, not only with the purchase
of instruments that were already part of the makeup of this
group but which needed replacement, but also the purchase
of instruments that did not form part of the instrumenta‑
tion of the Society, as was the case with the purchase two Bb
tubas, tuned in this way to replace the basses then in use,
and the purchase of a bass clarinet, an oboe, a bassoon and
various percussion instruments, with the aim of enlarging
this section of the Band.
82
longo dos anos foi uma prioridade da Direcção o enrique‑
cimento do instrumental da Banda, não só com a compra
de instrumentos que já faziam parte da constituição deste
grupo mas que precisavam de substituição, como também
com a compra de instrumentos que até então não integra‑
vam o instrumental desta Sociedade, como foi o caso da com‑
pra de duas tubas afinadas em sib, de forma a substituir os
contrabaixos então utilizados, e da compra de um clarinete
baixo, um oboé, um fagote e vários instrumentos de percus‑
são, com o objectivo de alargar este naipe.
Ao longo dos seus mais de cento e cinquenta anos de
existência, a S.M.E. de Portalegre conheceu dezasseis maes‑
tros diferentes, continuando dois deles completamente des‑
conhecidos, possivelmente pela perda de documentação
e por já não existir ninguém que ateste a sua presença no
“comando” da Banda Euterpe. A face mais visível da filarmó‑
nica nos seus primeiros anos de existência é o Maestro Fran‑
cisco José Perdigão30. Natural de Portalegre, nascido a 24 de
Julho de 1840, e com menos propensão para o estudo, foi
convidado por um padre “para lhe ensinar a arte musical”31.
O padre Benigno terá ouvido cantar o jovem Perdigão “para
os lados de S. Vicente” tendo ficado fascinado pela sua “mag‑
nífica voz, e chamou­‑o a si, passando a ensinar­‑lhe música
e cantochão”32. Ao longo da sua vida, Perdigão foi, como já
referido, Mestre de Capela e Organista da Sé, compositor de
música sacra, professor de música no antigo Seminário de
Portalegre e fundador da Sociedade Euterpe Portalegrense.
Foi, na verdade, o grande sustentáculo da filarmónica nos
primeiros anos da sua existência, não só assumindo a regên‑
cia da banda desde a sua formação, como impulsionando o
ensino dos elementos que a compunham, formando suces‑
sivas gerações de músicos. A par da necessidade de provi‑
denciar os instrumentos e de proceder à formação dos músi‑
83
Throughout its more than one hundred and fifty years
of existence, the S.M.E. of Portalegre has witnessed sixteen
different conductors, two of them completely unknown,
possibly due to the loss of documentation and the fact that
there is nobody who witnessed their taking “command” of
the Euterpe Band. The most visible face of the Philharmonic
in its first years of existence was the Conductor Francisco
José Perdigão30. From Portalegre, he was born on 24 July
1840, and not very prone to study, was invited by a priest
“to teach him the art of music”31. Father Benigno would have
heard the young Perdigão singing “at the sides of S. Vicente”
and was fascinated by his “magnificent voice, and called him
to himself, starting to teach him music and chanting”32.
Throughout his life, Perdigão was, as already mentioned,
Chapel Master and Cathedral Organist, composer of sacred
music, music teacher at the former Seminary of Portalegre
and founder of the Sociedade Euterpe Portalegrense. He was,
indeed, the great buttress of the Philharmonic in the early
years of its existence, not only taking on the musical direc‑
tion of the band from its formation, boosting the teaching
of the instruments which composed it, and training succes‑
sive generations of musicians. Alongside the need to provide
the instruments and training of the musicians, the organiza‑
tion and maintenance of discipline in the Band would have
also occupied a lot of his time, especially as the Euterpe went
through some crises caused by “by disagreements between
members”33. In one of the Reports of the Board of Monte‑
pio, dated 22 November 1886, it is possible to read “that this
important part was rather disorganized in the early days of
our management (...) we found ourselves in the unpleas‑
ant situation of having to suspend, and in fact temporarily
carry out the suspension of the aforesaid band”34. Curiously,
this was done with the agreement of Perdigão and was to
cos, a organização e a manutenção da disciplina na Banda
terão ocupado igualmente grande parte do seu tempo,
sobretudo porque a Euterpe passou por algumas crises pro‑
vocadas “por desinteligências entre os associados”33. Num
dos Relatórios da Direcção do Montepio, datado de 22 de
Novembro de 1886, é possível ler “que correu bastante
desordenada esta importante secção nos primeiros tem‑
pos da nossa gerência (...) vendo­‑nos na desagradável situ‑
ação de termos de suspender, como de facto suspendemos,
temporariamente, a sobredita banda”34. Esta situação teve,
curiosamente, o acordo de Perdigão e viria a durar um mês.
A gravidade de não poucos desentendimentos e a indis‑
ciplina de alguns músicos chegou a provocar, inclusive, o
abandono temporário de Perdigão da Banda, fixando­‑se em
Nisa, onde teve um estabelecimento comercial “ao mesmo
tempo que regia a filarmónica daquela vila”35. Estas crises
foram sendo ultrapassadas, algumas vezes com a melhoria
das condições oferecidas aos músicos. Ainda sob a direcção
deste Maestro, a importância da Banda na cidade de Porta‑
legre aumenta, sendo uma constante as suas aparições no
coreto do Passeio Público, as quais mereceram os elogios
da imprensa local, ou nas diversas festas religiosas que ani‑
mam o concelho e que preencheram grande parte das actu‑
ações da Euterpe durante largos anos. Exemplo desse dina‑
mismo foi o concerto realizado em 1886 pela ocasião dos
dez anos da inauguração do coreto do Jardim Público. A
respeito do arraial da Festa da Nossa Senhora da Graça, a
10 de Agosto, o Distrito de Portalegre, refere que a banda
“tocou as mais ricas e variadas peças do seu notável repor‑
tório. O público ouviu extasiado: lindas moças, Manuel, ó
que zumba, malhão, choradinho... delirantes salvas de pal‑
mas aplaudiram a Euterpe”36. A participação da Banda quer
nas festas religiosas, quer nos principais acontecimentos
last a month. The seriousness of not a few misunderstand‑
ings and the indiscipline of some musicians even led to the
temporary abandonment of Perdigão from the Band, and he
settled at Nisa, where he had a business “while at the same
time musically directing the Philharmonic of that town”35.
These crises were overcome, sometimes by improving the
conditions offered to the musicians. Still under the musical
direction of this Conductor, the importance of the Philhar‑
monic Band to the city of Portalegre increased, with their
constant public appearances in the Promenade bandstand,
which earned praise from the local press, or the various reli‑
gious festivals that enlivened the religion and formed a large
part of the performances of the Euterpe for many years. An
example of this dynamism was the concert held in 1886 to
mark the tenth anniversary of the inauguration of the Pub‑
lic Garden Bandstand. With regard to the folk festival for
the Feast of Our Lady of Grace, on 10 August, the Distrito
84
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
Photo from Euterpe Musical Society archives.
extraordinários ocorridos em Portalegre quase que fundem
a história da Euterpe com a evolução da própria cidade. Por
várias vezes a sua fama passa para além das muralhas da
cidade. É de destacar a inauguração do caminho­‑de­‑ferro da
Beira Baixa, ocorrido em Castelo Branco, a 6 de Setembro de
1891. Neste dia de gala, a família real chegava à cidade pelas
quatro da tarde, transportada pela grande novidade do perí‑
odo: o comboio. As cerimónias ocorridas após o desembar‑
que tiveram lugar na Sé de Castelo Branco, ouvindo­‑se um
Te Deum executado pela Euterpe. Este facto não passou des‑
percebido em Portalegre, sendo notícia no Distrito de Portalegre que refere: “sendo a música e canto executados pela
orchestra regida pelo Sr. Perdigão (...) o desempenho foi
magistral, nunca ouvimos à orchestra uma execução tão
maravilhosa (...) a alguém, perito talvez, ouvimos afirmar que
nunca em Castelo Branco tinha havido orchestra melhor”37.
No entanto, o primeiro sinal de mudança no seio da Banda
ocorre em 1908 quando numa reunião da Assembleia Geral
“alguns sócios filarmónicos” propõem “que seja nomeado
um novo regente indicando para esse lugar Eduardo de Car‑
valho Serra e José Silvestre de Sousa ou qualquer outro que
convenha à Direcção”38. O pedido de saída do regente de
sempre resulta em grande medida do debilitado estado de
saúde de Perdigão que lhe impossibilita o cumprimento das
suas funções. Todavia, a Direcção recusou­‑se a demitir Per‑
digão, justificando que não se deveria agravar, com bruscas
notícias, a saúde bastante precária do regente. O estado de
saúde de Francisco Perdigão veio, no entanto, a agravar­‑se e
este viria a falecer a 21 de Janeiro de 1909, em Elvas, quando
estava a ensaiar uma marcha fúnebre que a sua Banda deve‑
ria executar a favor das vítimas de um terramoto que asso‑
lara o sul de Itália. A obra realizada na Euterpe e na dimen‑
são maior de Portalegre transformaram Perdigão numa das
85
de Portalegre remarked that the band “played the richest and
most varied pieces from its remarkable repertoire. The pub‑
lic listened in rapture: Beautiful girls, Manuel, O that zumba,
malhão, choradinho... delirious bursts of applause greeted the
Euterpe”36. The participation of the Philharmonic Band both
in religious festivals and the major one-off events which
took place in Portalegre almost blended the history of the
Euterpe into the evolution of the city itself. Its fame often
went beyond the city walls. Of note was the opening of the
railway from Beira Baixa, which took place in Castelo Branco
on 6 September 1891. On this gala day, the royal family
arrived in the town at four in the afternoon, transported by
the great novelty of the period: the train. The ceremonies
took place after they alighted at the Castelo Branco Cathe‑
dral, and heard a Te Deum performed by the Euterpe. This
fact did not go unnoticed in Portalegre, and the news item
was reported in the Distrito de Portalegre stating: “with the
music and singing being performed by the orchestra con‑
ducted by Sr. Perdigão (...) The performance was master‑
ful, and we have never heard the orchestra play so wonder‑
fully (...) someone, perhaps an expert, was heard to say that
never in Castelo Branco had there been a better orchestra ”37.
However, the first sign of change within the Band occurred
in 1908 when at a General Assembly meeting “some mem‑
bers of the Philharmonic” proposed “the appointment of a
new musical director, suggesting Eduardo de Carvalho Serra
and José Silvestre de Sousa or any other suitable individual
in the opinion of the Board ”38. The request for the musical
director to depart stemmed largely from the weakened state
of health of Sr. Perdigão which made it impossible for him
to carry out his duties. However, the Board refused to dis‑
miss Perdigão, explaining that the precarious health of the
musical director should not be prejudiced by such sudden
figuras na cidade com maior notoriedade, sendo que no seu
funeral, realizado a 23 de Janeiro, a cidade prestou­‑lhe uma
grande homenagem. Como refere o Distrito de Portalegre o
cortejo fúnebre saiu da Sé pelas 12h30 e constituiu “uma
das maiores manifestações de pesar que se têm visto nesta
cidade”39. Depois de Perdigão, a regência da banda ficou a
cargo de Lavara que cedeu o seu lugar a D. Segundo Salvador
que procedeu à estruturação da banda dando­‑lhe um novo
fôlego. Assim, a 18 de Julho de 1920 o Distrito de Portale‑
gre diz, precisamente, que “há muito tempo (...) que a banda
Euterpe não ouvia como no domingo passado (...) sempre
tivemos, e agora mais do que nunca, a esperança de que, den‑
tro de seis meses, a Banda Euterpe portalegrense (...) já com
elementos absolutamente seus, se poderá colocar a par das
melhores filarmónicas do país”40. A nova alma da Banda é
premiada de forma célere, recebendo diversos convites para
actuações não só na região de Portalegre, como em Espanha.
Esta regeneração não é acompanhada, o entanto, pelo Mon‑
tepio. De facto, uma acta da Assembleia Geral de Julho de
1922 refere a convocação de uma Assembleia Geral extraor‑
dinária devido ao facto de “em vista da enorme carestia que
atingiram os medicamentos e da necessidade de se remu‑
nerarem condignamente os serviços clínicos (...) se resolver
sobre a elevação das mensalidade conforme faculta o decreto
n.º 8187 de 8 de Junho de 1922 visto que com o valor das
mensalidades em corrente seria absolutamente impossível à
associação satisfazer os seus grandes e pesados encargos”41.
Em conversa com o Sr. António Carrapiço ficámos a saber
que o primeiro Maestro que conheceu, com os seus dez anos
de idade e após esse período conturbado, em 1933, foi o
Maestro Guerra, mas pouco mais ficámos a saber acerca deste
Maestro, uma vez que a memória do antigo músico já só lhe
traz à lembrança o Maestro Luís Pathé que durante vinte
news. The state of health of Francisco Perdigão, however,
worsened and he died on 21 January 1909 in Elvas, when he
was rehearsing a funeral march that his Band would perform
for the victims of an earthquake that had devastated south‑
ern Italy. The work he carried out in the Euterpe and, on a
wider scale, in Portalegre would transform Perdigão into one
of the figures of the city with the greatest reputation, and
at his funeral, which was held on 23 January, the city paid
him great homage. As the Distrito de Portalegre remarked, the
funeral procession left the Cathedral at 12:30 and was “one
of the greatest expressions of grief that has ever been seen
in this city”39. After Sr. Perdigão, the musical directorship of
the Band was encharged to Sr. Lavara who made way for D.
Segundo Salvador who organised the band so as to endow it
with new life. As such, on 18 July 1920 the Distrito de Portalegre actually stated that “it has been a long time (...) since
the Euterpe band has been heard as it was last Sunday (...)
we have always hoped, and now more than ever, that within
six months the Euterpe Band from Portalegre (...) already
with musicians exclusively its own, could be placed alongside
the best Philharmonic Bands in the country”40. The new soul
of the Band was swiftly acknowledged, receiving numerous
invitations for performances not only in the region of Por‑
talegre, but also in Spain. This regeneration was not accom‑
panied, however, by the Montepio. In fact, the minutes of
the General Meeting of July 1922 mention the convening
of an extraordinary general meeting due to the fact that “in
view of the high cost of medicines and the need to reimburse
clinical services in a dignified manner (...) it was hereby
resolved that there would be an increase in the monthly fee
as allowed by decree No. 8187 of 8 June 1922 since with the
current monthly fee it would be absolutely impossible for
the association to meet its large and heavy burdens”41.
86
e um anos dirigiu a Sociedade Euterpe (de 1938 a 1959).
A este Maestro o Sr. Carrapiço aponta a importância na for‑
mação de novos músicos que possibilitou a continuação
do funcionamento da Banda, uma vez que, segundo a memó‑
ria do Sr. Carrapiço, no momento da sua entrada, era consti‑
tuída por cerca de dezassete instrumentistas. Na verdade, as
mudanças operadas por Pathé são impulsionadas por alguns
conflitos internos que concedem ao regente, Luís Pathé o
impulso para proceder a remodelações, admitindo novos
colaboradores e afastando alguns membros da Banda. Toda‑
via, as divergências acabariam ultrapassadas sem que os
músicos abandonassem a Banda, sendo inclusivamente defi‑
nidos alguns incentivos. É o caso do fundo criado em 1958
para premiar a presença dos executantes nos ensaios, a que
já aludimos. Para fazer face às novas exigências, a Direcção
realiza um pedido de auxílio para “a velhinha simpática de
97 anos (...) que vem há muito carecendo de recursos finan‑
ceiros para se manter a cumprir a sua honrosa missão”42.
O tom dramático do folheto visava, sobretudo, sensibili‑
zar os portalegrenses para participarem num sorteio que a
banda realizaria. Um ano depois, em Junho, o executante
João David Pascoal assume, temporariamente, o lugar do
regente até ao final da época musical, em Setembro. Luís
Pathé terá adoecido gravemente. Para resolver o problema
da substituição do regente a Direcção da Banda, obedecendo
às regras cooperativas impostas pelo Estado Novo, solici‑
tou ao delegado distrital do Sindicato Nacional dos Músi‑
cos para proceder à sua substituição. Em Setembro de 1959,
Luís Pathé anuncia a sua demissão definitiva. Em Outubro
despede­‑se e entrega o material em sua posse, na presença
dos músicos mais velhos. Luís Pathé assumira a regência a
21 de Agosto de 1938. Para o seu lugar surgiu José Antó‑
nio Baptista.
87
In conversation with Sr. Anthony Carrapiço we learned
that the first Conductor he met, in 1933 at the age of ten and
after that troubled period, was the Musical Director Guerra,
but little more is known about this Musical Director, since
this former musician only remembers the Musical Director
Luis Pathé who for twenty-one years led the Euterpe Society
(1938 to 1959). Sr. Carrapiço stated that this Musical Direc‑
tor considered the training of young musicians to be impor‑
tant and this made the continued operation of the band pos‑
sible, since, according to the memory of Sr. Carrapiço, when
he joined, there were around seventeen musicians. In fact,
these changes carried out by Pathé were driven by certain
internal conflicts that provided an impetus for the Conduc‑
tor, Luis Pathé, to renovate the Band, admitting new mem‑
bers and dismissing other members of the Band. However,
the disagreements were eventually resolved without the
musicians having to leave the Band, with some incentives
being drawn up. That was the case with the fund created in
1958 to reward attendance by the performers at rehearsals,
which has already been alluded to. To meet the new require‑
ments, the Board made a request for help to be given to
“the nice 97-year-old lady (...) that has long lacked finan‑
cial resources to keep on undertaking its honourable mis‑
sion”42. The dramatic tone of the leaflet was mainly aimed
at sensitizing the people of Portalegre to in order to partic‑
ipate in a lottery that the band was organizing. A year later,
in June, the performer João David Pascoal temporarily took
on the role of musical director until the end of the musical
season, in September. Luís Pathé had become seriously. To
solve the problem of replacing the conductor the Board of
the Band, obeying the rules on cooperatives imposed by the
Estado Novo, asked the district commissioner of the National
Union of Musicians for a replacement. In September 1959,
Luís Pathé definitively resigned. In October he said goodbye
and handed over the material in his possession, in the pres‑
ence of the older musicians. Luís Pathé had become musi‑
cal director on 21 August 1938. His place was taken by José
António Baptista.
According to this former musician, of the eleven con‑
ductors whom he had known in the Board of the Euterpe
Society, the vast majority were professional soldiers. This
is an important feature of these groups: their affinity with
military counterparts that existed in many urban centres
of the country, where the vast majority of the conductors
who took on the musical direction of these brass bands were
Segundo este antigo músico, dos onze maestros que
conheceu na Direcção da Sociedade Euterpe, a grande maio‑
ria era militar de carreira. Esta é uma característica impor‑
tante destes grupos: pela sua afinidade com grupos congé‑
neres militares que existiam em muitos centros urbanos do
país, a grande maioria dos maestros que assumia a direcção
musical destas bandas filarmónicas eram músicos ou maes‑
tros de bandas militares. A preferência das bandas filarmó‑
nicas por maestros com carreira militar devia­‑se principal‑
mente ao prestígio que daí advinha, uma vez que, durante
muito tempo, os Conservatórios não eram acessíveis nem
a qualquer pessoa nem em qualquer local, sendo então a
“escola militar” um sinónimo de qualidade. Assim, mui‑
tas vezes os músicos que recebiam a sua primeira forma‑
ção musical na banda filarmónica da sua terra, aproveita‑
vam a entrada no serviço militar para integrar a banda ou
fanfarra do seu regimento e continuar a sua carreira mili‑
tar enquanto músico. Aqui, continuavam também a forma‑
ção musical e ganhavam algum prestígio. Desta forma, para
uma banda filarmónica, a presença de um maestro militar
possibilitava­‑lhe aumentar a sua qualidade e, consequente‑
musicians or conductors of military bands. The preference
of philharmonic bands for conductors with a military back‑
ground was mainly due to the prestige stemming from this
since, for a long time, the Conservatories were not accessi‑
ble to just anyone from anywhere, and at that time the “mili‑
tary school” was a synonym for quality. As such, it was often
the case that musicians who had received their initial musi‑
cal training with their local philharmonic band took advan‑
tage of admission to military service to join the band of
their regiment and continue their military career as a musi‑
cian. Here, they also continued their musical education and
gained a certain amount of prestige. Thus, for a philhar‑
monic band, the presence of a military conductor allowed
it to increase its quality and hence its prestige. Due to the
importance given to military musicians their presence in a
band was also invariably a synonym for quality. Sr. Carrapiço
stated that, on many occasions, the Euterpe Society bene‑
fited from the presence of the barracks of the Regimento Militar de Portalegre, today belonging to the Republican National
Guard, since many prominent musicians assigned to Por‑
talegre took advantage of their free time to be able to play in
88
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
Photo from Euterpe Musical Society archives.
mente, o seu prestígio. Devido à importância dada aos músi‑
cos militares era também quase um sinónimo de qualidade a
presença destes numa banda. O Sr. Carrapiço afirma que, em
muitas ocasiões, a Sociedade Euterpe beneficiou da presença
do quartel do Regimento Militar de Portalegre, hoje per‑
tença da Guarda Nacional Republicana, uma vez que muitos
músicos destacados para Portalegre aproveitavam os seus
tempos livres para poder tocar na S.M.E.. No entanto, ape‑
sar da constante presença de músicos militares, a Euterpe
teve de contar, muitas vezes, apenas com os músicos que
ali eram formados. O Sr. Carrapiço conta então com orgu‑
lho que numa deslocação a Tomar (a memória deste músico
já não consegue precisar em que data), após a actuação da
Sociedade Euterpe à qual assistiam vários músicos da Banda
do Regimento de Infantaria de Tomar, um destes militares,
elogiando o trabalho do Maestro e a qualidade dos músicos
da Euterpe, pergunta ao Maestro quantos músicos militares
tocavam na Banda para que fosse possível realizar um tra‑
balho de tal qualidade, pergunta à qual o Maestro responde:
nenhum. Este reconhecimento continua ainda na memória
do antigo músico, sendo um grande motivo de orgulho. Tal
como refere Graça Mota, “[verifica­‑se] em muitos casos a
associação de determinadas emoções a factos especialmente
significativos da vida da Banda e que constituem hoje um
património de memórias biográficas em cujo cerne se cons‑
titui também a identidade do indivíduo”43 e é exactamente
isto que acontece quando falamos com este músico que
durante setenta e dois anos, com uma interrupção apenas
de três anos para o cumprimento do serviço militar, tocou
na Sociedade Euterpe. A sua vida mistura­‑se com a vida da
Banda e é muitas vezes difícil distinguir entre o António
Carrapiço músico, o Tesoureiro da Direcção da Euterpe ou
o contínuo do antigo Liceu de Portalegre (a sua profissão).
89
the S.M.E. However, despite the constant presence of mil‑
itary musicians, the Euterpe often had to rely on only the
musicians it had trained. Sr. Carrapiço tells with some pride
of a trip to Tomar (his memory can no longer be sure of the
data), where after the performance of the Euterpe Soci‑
ety attended by several musicians from the Tomar Infan‑
try Regiment Band, one of the soldiers, praising the work
of the Conductor and the quality of the musicians of the
Euterpe, asked the Conductor how many military musicians
were playing in the Band in order to be able to perform at a
level of such quality, to which the Conductor replied: none.
This story still remains in the memory of the former musi‑
cian, and is a source of great pride. As Grace Mota mentions,
“[there is] in many cases the association of certain emotions
to facts especially significant in the life of the Band and
which today constitute a heritage of biographical memories
in the heart of which also resides the identity of the individ‑
ual”43 and this is exactly what happens when we talk to this
musician who for seventy-two years, with only a break of
three years for military service, played in the Euterpe Soci‑
ety. His life was mixed in with the life of the Band and it is
often difficult to distinguish between António Carrapiço the
musician, the Treasurer of the Board of the Euterpe or the
employee of the former Portalegre Liceu (his profession).
To sum up, the S.M.E. almost always relied on musical
direction from military conductors, with one of the most
recent exceptions being the Conductor Armindo Santana
who, despite having a career that was in no way linked to
any musical activity, took “command” of the Philharmonic
Band in which he was a musician for a few years. In 2003,
this Musical Director was replaced by the current Conductor,
Manuel Henrique Ruivo, again a military musician (trom‑
bonist of the Air Force Band) but who trained at the Conserv‑
A S.M.E. contou então quase sempre com a direcção
musical de maestros militares, sendo uma das mais recen‑
tes excepções o Maestro Armindo Santana que, apesar de
ter uma carreira profissional que não estava de maneira
nenhuma ligada à actividade musical, por ter sido músico na
Euterpe assumiu o “comando” desta Banda durante alguns
anos. Em 2003, este Maestro foi substituído pelo actual,
Manuel Henrique Ruivo, mais uma vez um músico militar
(trombonista da Banda da Força Aérea) mas com forma‑
ção no Conservatório e numa escola profissional de música.
Sem qualquer ligação à cidade de Portalegre e apesar da sua
experiência enquanto músico militar e músico filarmónico,
este Maestro teve na Sociedade Euterpe a sua estreia na
direcção musical de uma banda filarmónica. Há cerca de oito
anos, no momento da sua estreia enquanto Maestro desta
Banda, Manuel Henrique Ruivo deparou­‑se com algumas
dificuldades, sendo as principais a elevada média de idades
dos músicos, a grande maioria sem muita formação musi‑
cal de base e com alguns comportamentos que, para este
Maestro, não cativavam a confiança da população de Porta‑
legre e que impediam que se fizesse um trabalho de melhor
qualidade, impedindo também que se renovasse a Banda
com a entrada de músicos mais jovens. Para este Maes‑
tro, o espírito de grupo, que afirma ser uma das principais
condições para o bom funcionamento de um agrupamento
deste género, não existia. Gradualmente Manuel Henrique
Ruivo foi tentando alterar alguns comportamentos que não
considerava adequados a uma banda filarmónica que se pre‑
tendia afirmar como um dos principais dinamizadores cul‑
turais da cidade. Desta forma, em oito anos de actividade
deste Maestro, foram operadas algumas alterações no fun‑
cionamento da Sociedade Euterpe. Com Manuel Henrique
Ruivo os músicos deixaram de receber a pequena quantia
atory and at a professional school of music. Without any con‑
nection to the city of Portalegre and despite his experience
as a military and philharmonic musician, his musical lead‑
ership of the Euterpe Society marked his debut as the con‑
ductor of a philharmonic band. About eight years ago, at the
time when he made his debut as the Conductor of this Band,
Manuel Henrique Ruivo encountered some difficulties, the
main ones being the high average age of the musicians, the
vast majority without a great deal of basic musical training
and with some habits which, for this Conductor, did not lead
to the expression of confidence in the band by the people of
Portalegre and which prevented him from doing a better job,
and which also prevented him from renewing the Band with
the entry of younger musicians. For this Conductor, team
spirit, which is one of the most important factorings deter‑
mining the successful functioning of a group of this kind,
simply did not exist. Manuel Henrique Ruivo has gradually
tried to alter certain habits not considered suitable for a phil‑
harmonic band that wishes to assert itself as one of the major
cultural movers and shakers in the city. Thus, during the eight
years in which this Conductor has been the musical director,
some alterations in the functioning of the Euterpe Society
have been carried out. Manuel Henrique Ruivo has changed
things so that musicians no longer receive the small sum they
used to receive when they performed, as that money is now
allocated for the overheads of the Band. For Ruivo, one of the
main focuses of attention of the Euterpe Society has been a
more solid training of musicians, and he is one of the three
teachers in the Euterpe Musical School (the Teacher for Musi‑
cal Training and Brass Instruments), and introducing teach‑
ing methods more appealing to younger people is considered
as being important. A further focus of this Conductor and
the current Board is the dissemination of the Band’s activ‑
90
ity and the music itself in the schools of the district, by hold‑
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
ing educational concerts for students. These educational con‑
Photo from Euterpe Musical Society archives.
certs are also held outside schools, aimed at the general pub‑
lic. According to the Musical Director of the Euterpe, these
groups are of paramount importance for amateur musical
activity and are thus important for the proper working envi‑
ronment and cooperation and friendship between the musi‑
cians, with the social component considered as an essential
factor in boosting the musical component.
“Euterpe the Old lady” a matter of longevity
For the Board, musicians and former musicians of the
S.M.E. its long history and its uninterrupted activity of more
que recebiam quando faziam actuações, ficando esse valor
para os gastos gerais da Banda. Para Ruivo, uma das gran‑
des apostas da Sociedade Euterpe passa por uma melhor e
mais sólida formação dos músicos, sendo ele próprio um dos
três professores da Escola de Música da Euterpe (Professor
de Formação Musical e Instrumentos de Metal), conside‑
rando importante a implementação de métodos de ensino
mais apelativos para os mais jovens. É também uma aposta
fundamental deste Maestro e da actual Direcção a divulga‑
ção da actividade da Banda e da própria música nas escolas
do ensino regular do concelho, realizando concertos didácti‑
cos para os alunos. Estes concertos de carácter didáctico são
também realizados fora das escolas, dirigindo­‑se ao público
em geral. Na opinião do Maestro da Euterpe, estes grupos
são de suma importância para a actividade musical amadora
sendo, desta forma, importante o bom ambiente de traba‑
lho e a cooperação e amizade entre os músicos, conside‑
rando fundamental a componente social para que seja pos‑
sível então dinamizar a componente musical.
91
than one hundred and fifty years is a great source of pride,
something very present in the speech of Sr. António Carra‑
piço, who for several years was the oldest musician in this
Band. He fondly calls the Euterpe as “Euterpe the Old Lady”,
writing in his farewell letter that this is the “most important
heirloom of Portalegre”44. As such, the Euterpe Musical Soci‑
ety can consider itself as the oldest cultural institution in the
city and one of the oldest in the country, carrying out inter‑
rupted musical activity, as highlighted in the celebrations of
its 125 years, with it being mentioned that “during this cen‑
tury and a quarter of existence it has never stopped being an
active cultural society, full of youth, just as in its first years of
existence”45. This historical antiquity often serves as a form
of legitimation and is also very present in the discourses of
several Portuguese philharmonic bands claiming for itself
the status of the country’s oldest band.
If after visiting the rehearsal room we wish to climb
to the first floor, we are almost forced to notice the num‑
ber of photos that are placed along the stairs that lead to the
A “Velhinha Euterpe”: uma questão de longevidade
upper floor. These photographs show us many hundreds of
faces that have been part of the Euterpe Society throughout
Para a Direcção, músicos e antigos músicos da S.M.E. é
um grande motivo de orgulho a sua longa história e a sua
ininterrupta actividade de mais de cento e cinquenta anos,
algo bem presente no discurso do Sr. António Carrapiço,
que por vários anos foi o músico mais antigo desta Banda,
quando este carinhosamente trata a Euterpe por “Velhinha
Euterpe”, afirmando na sua carta de despedida que esta é a
“mais importante relíquia de Portalegre”44. Desta forma, a
Sociedade Musical Euterpe afirma­‑se como a instituição cul‑
tural mais antiga da cidade e uma das mais antigas do país,
desenvolvendo uma actividade musical sem interrupções, tal
como foi salientado nas comemorações dos 125 anos, sendo
referido que “durante este século e um quarto de existência
nunca deixou de ser uma sociedade activa, cultural e cheia
de juventude, como nos seus primeiros anos de existência”45.
Esta antiguidade histórica serve muitas vezes como uma
forma de legitimação e está também muito presente nos dis‑
cursos de várias bandas filarmónicas portuguesas que recla‑
mam para si o estatuto de banda mais antiga do país.
Se depois de visitarmos a sala de ensaios quisermos subir
para o primeiro piso, somos quase obrigados a reparar na
quantidade de fotografias que estão colocadas ao longo das
escadas que nos conduzem ao andar superior. Nestas foto‑
grafias aparecem­‑nos largas centenas de rostos que passaram
pela Sociedade Euterpe ao longo da sua história, envergando
a sua farda, também esta um meio de transmitir ao exterior
a identidade da filarmónica. São fotografias que atestam a
passagem dos anos por esta Sociedade e que atestam tam‑
bém alguns momentos altos da Banda. Entre os momen‑
tos altos da história da Banda está a presença e obtenção do
segundo lugar no concurso “À Volta do Coreto” organizado
its history, wearing its uniform; this also a way to convey to
the outside world the identity of the Philharmonic. They are
photographs that attest to the passage of years within this
Society and which also attest to key moments of the Band.
Among the highlights in the history of the band is their par‑
ticipation and their coming runner up in the contest “Around
the Bandstand”, organized in 1996 by RTP which provided
the Association with a greater national projection. However,
as we have seen, during its long existence, the Band has gone
through moments of great difficulty, not only due to the lack
of monetary resources that often made it impossible to buy
new instruments and new uniforms, but also due to the lack
of human resources in times like World War I, as was attested
by the Distrito de Portalegre of 26 July 1917, where it stated
that “the Euterpe, which had not been heard for some time
because some of its members had been mobilized and oth‑
ers departed as labourers to France, has had its restrictions,
which proves the will driving its restricted number of per‑
formers. These nice boys should therefore keep on the path
they have embarked on, so as not to lose a society which
brings so much lustre to Portalegre.” However, right after the
Armistice, on 22 June 1919, the Distrito de Portalegre stated
that the Band played at the Public Promenade with “a limited
number of performers, which are currently available with the
Euterpe, and you could not want for more”46.
The importance of the Euterpe for musical
education
In the room on the first floor, above the rehearsal room,
the School of Music of the S.M.E. gives lessons to its musi‑
92
em 1996 pela RTP que permitiu a esta Associação uma maior
projecção a nível nacional. No entanto como vimos, durante
a sua longa existência, esta Banda passou por momentos de
grande dificuldade, não só pela falta de recursos monetários
que muitas vezes impossibilitaram que se comprassem novos
instrumentos ou novos fardamentos, mas também pela falta
de recursos humanos em momentos como a Primeira Guerra
Mundial, tal como é atestado pelo Jornal Distrito de Portalegre de 26 de Julho de 1917, onde se refere que “a Euterpe,
que há tempos se não fazia ouvir em virtude de terem sido
mobilizados alguns dos seus membros e outros terem partido
como operários para França, houve­‑se com muita correcção,
o que prova a vontade de que está animado o seu restricto
número de executantes. Continuem, pois, esses simpáticos
rapazes na senda encetada, não deixando perder uma corpo‑
ração que tanto lustre dá a Portalegre”. No entanto, já depois
do Armistício, a 22 de Junho de 1919, o Distrito de Portalegre
refere que a Banda tocou no Passeio Público com “um limi‑
tado número de executantes com que conta actualmente a
Euterpe, mais não se pode desejar”46.
cians. Those who wish to attend these classes do so free of
charge, since according to the philosophy of this and many
other Portuguese Philharmonic Bands, musical education is
free. As such, and just like around 700 other philharmonic
bands operating in Portugal47, the Euterpe Musical Society
of Portalegre has played an important role in the teaching
and dissemination of music in their city and region. Despite
the work of the Band always having implicitly involved
the teaching of music, usually carried out by the Musical
Director, in 1975 the then President of the Board created
the School for Initial Musical Training, in which he him‑
self would be the teacher, which started with 120 enrolled
pupils, with the students divided into three classes accord‑
ing to age groups, and carried out with the support of INA‑
TEL. However, the school would only work in this financial
manner until the middle of the following year, due, interest‑
ingly, to its great success, that is, the excessive number of
students who flocked to it, a situation for which the organ‑
ization of the school was not prepared. As such, as early as
1978, given the large number of enrolments and the possi‑
ble increase in the number of musicians in the band (which
A importância da Euterpe no ensino musical
could go up to forty), the Board decided to use three or four
helpers for the various instruments. Nowadays, the school
Na sala do primeiro piso, por cima da sala de ensaios,
decorrem as aulas que a Escola de Música da S.M.E. ministra
aos seus músicos. Os que pretenderem frequentar estas aulas
não têm quaisquer encargos, uma vez que segundo a filoso‑
fia desta e de muitas outras bandas filarmónicas portuguesas,
o ensino musical é gratuito. Assim, tal como as cerca de 700
bandas filarmónicas em funcionamento em Portugal47, tam‑
bém a Sociedade Euterpe de Portalegre tem desempenhado
um papel relevante no ensino e na divulgação da música
na sua cidade e região. Apesar do funcionamento da Banda
93
has three Teachers who teach more than twenty students,
covering all of the instruments in the Philharmonic Band,
from flute to percussion. The Music School, which thus had
started some years before, replaced the old method of teach‑
ing which prevailed for many years in the philharmonic soci‑
eties and which still remains in many of them, a method
centred on the person of the Musical Director who individ‑
ually teaches music theory and technique for all the instru‑
ments in the band. This method remained in operation for
many years in the philharmonic bands in Portugal, mainly
implicar sempre o ensino musical, normalmente a cargo do
Maestro, em 1975 o então Presidente da Direcção cria uma
Escola de Iniciação Musical onde ele próprio seria o profes‑
sor, contanto na sua abertura com 120 inscrições, sendo os
alunos divididos em três turmas, segundo as faixas etárias, e
contando com o apoio do INATEL. No entanto, a escola nes‑
tes moldes funcionaria apenas até meados do ano seguinte,
curiosamente, devido ao seu grande sucesso, ou seja, ao
excessivo número de alunos que a ela afluíram, situação para
a qual a sua organização não estava preparada. Porém, já em
1978, atendendo ao grande número de inscrições e ao possí‑
vel aumento do número de executantes na Banda (que deve‑
ria chegar aos quarenta), a Direcção decide então passar a
contar com mais três ou quatro monitores dos diversos ins‑
trumentos. Hoje em dia, esta escola tem três Professores que
dão aulas a mais de vinte alunos, contemplando todos os ins‑
trumentos da Banda, desde a flauta transversal à percussão.
A Escola de Música iniciada nestes moldes há alguns anos
veio substituir o antigo método de ensino que durante mui‑
tos anos imperou nas sociedades filarmónicas e que ainda
permanece em muitas delas, um método centrado na pessoa
do Maestro que ensina individualmente o solfejo e a técnica
de todos os instrumentos da banda. Este método permane‑
ceu em funcionamento durante muitos anos nas filarmónicas
do país, principalmente devido à falta de recursos económi‑
cos destas associações, ficando então a cargo de uma só pes‑
soa as funções de Maestro e Professor de Música. As dificul‑
dades financeiras da Banda foram muitas vezes extensíveis à
escola de música, quando, por exemplo, em 1926 é referido
que a situação da escola de música é agravada pelo facto do
“estado do instrumental da escola ser péssimo, pois a maior
parte do mesmo estar quase deteriorado e os recursos do
Montepio não permitirem que para aquele fim se destine a
due to a lack of economic resources in such associations,
who were therefore dependent on a single person to carry
out the functions of Conductor and also Music Teacher.
The financial difficulties of the Band often extended to the
music school, where, for example, in 1926 it was stated that
the situation of the music school was exacerbated by the fact
that the “the school’s instruments were really bad, because
most of them had deteriorated and the resources of the
Montepio meant that no money could be put aside for the
necessary instrumental repairs”48. The problem was men‑
tioned in the Distrito de Portalegre on 27 May 1928, where
it was written that the Band “currently requires a nice effec‑
tive contribution from all of us. The situation is that its
instruments have deteriorated and is in need of resources
to purchase new instruments”49. The solution found was to
hold a benefit festival at the musical school and a fete which
took place on 23 and 24 June, at its main premises at the
time, the Fábrica Real.
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
Photo from Euterpe Musical Society archives.
94
verba que seja necessária para o conserto do mesmo instru‑
mental”48. O problema é referido pelo Distrito de Portalegre de
27 de Maio de 1928, que escreve que a Banda “necessita pre‑
sentemente dum contributo de eficiente simpatia de todos
nós. É o caso que se acha empobrecida de conveniente instru‑
mental e carenciada de recursos próprios para adquirir ins‑
trumental novo”49. A solução encontrada passou pela realiza‑
ção de uns festejos em benefício da escola musical e por uma
quermesse que ocorreu nos dias 23 e 24 de Junho, na sua sede
da altura, na Fábrica Real.
Agora, na Euterpe os alunos que pretendem ingressar na
Banda têm formação musical ao nível teórico, com o recurso
tanto aos métodos mais antigos, como o habitual método de
solfejo elaborado pelo compositor Freitas Gazul no século XIX,
como com o recurso a métodos mais apelativos para os alu‑
nos que pertencem a uma faixa etária muito baixa, tendo em
consideração recentes pesquisas a nível pedagógico­‑musical.
Como foi referido pelo actual Director da Sociedade Euterpe,
tem havido uma tentativa de implementar o método Suzuki,
normalmente utilizado no ensino dos instrumentos de corda,
uma vez que este faculta aos alunos a possibilidade de apren‑
der a prática instrumental ao mesmo tempo que aprendem
a componente teórica, começando quase de imediato a tocar
algumas peças mais simples, o que para os alunos mais novos é
fundamental para se sentirem motivados e continuarem a sua
aprendizagem. Com a formação teórica adquirida através de
aulas individuais e da leitura de exercícios de solfejo, os alunos
adquirem a indispensável capacidade de leitura musical que
irão necessitar quando já tocarem com o restante grupo. Num
grupo como a banda filarmónica é importante, entre outras
competências, uma grande destreza a nível da leitura musical
de forma a que os músicos possam integrar mais facilmente
a banda e possam acompanhar o nível de exigência das obras
95
Now the Euterpe students wishing to join the Phil‑
harmonic Band had had a musical training at the theoret‑
ical level, both making use of older methods, such as the
usual solfeggio method developed by the composer Freitas
Gazul in the nineteenth century, as well as more appealing
methods for students of a younger age group, taking into
account recent research into the teaching of music. As was
mentioned by the current Musical Director of the Euterpe
Society, there has been an attempt to implement the Suzuki
method, usually employed in the teaching of string instru‑
ments, since this provides students with the opportunity of
learning instrumental technique while learning the theo‑
retical component at the same time, starting almost imme‑
diately with the playing of some simpler pieces, which for
younger students is essential to feel motivated and con‑
tinue their learning. With the theoretical training acquired
through individual lessons and the reading of solfeggio
exercises, students acquire the necessary reading skills they
will need when they play with the rest of the group. In a
group like the philharmonic band it is important, among
other skills, to possess considerable skill in reading music
so that musicians can more easily integrate into the band
and can follow the level required for the works which are
performed. It is important to note that the philharmonic
associations have throughout their history provided thou‑
sands of young people with a free musical education, and
continue to do so today and which, apart from the method
used, is the only musical training that has been given to
many Portuguese and others which has given them the
bases and encouragement to continue their musical stud‑
ies. These associations have provided musical instruction,
often with limited financial and human resources, in the
most diverse Portuguese regions, in places where it would
executadas. É importante referir que as associações filarmó‑
nicas proporcionaram ao longo da sua história e continuam
ainda hoje a proporcionar a milhares de jovens um ensino
musical gratuito que, à parte do método utilizado, facultou a
única formação musical a muitos portugueses e a outros deu­
‑lhes as bases e o incentivo para continuarem os seus estudos
musicais. Estas associações facultaram o ensino musical, mui‑
tas vezes com poucos recursos económicos e humanos, nas
mais variadas regiões portuguesas em locais onde muito difi‑
cilmente haveria outro meio de ensino musical; no entanto,
em muitas ocasiões o método utilizado que passava apenas
pela pessoa do Maestro e que muitas vezes obrigava a vários
meses de formação de solfejo sem que o músico tivesse qual‑
quer contacto com o instrumento que iria tocar, provocava
alguma desmotivação. Tendo consciência das necessidades
dos alunos actuais, os professores da Euterpe perceberam que
o contacto com o instrumento musical e a experiência prática
devem ser feitos mais cedo. Assim, os alunos têm também a
possibilidade de experimentar desde o início a prática instru‑
mental, tendo aulas individuais de instrumento que recorrem
aos vários métodos normalmente usados no ensino minis‑
trado no Conservatório, onde são trabalhadas as várias com‑
ponentes musicais, tais como a técnica instrumental, a sono‑
ridade ou a expressividade. Também de forma semelhante ao
que ocorre noutras bandas filarmónicas, a escolha do instru‑
mento por parte dos alunos tem de obedecer à disponibilidade
do instrumental da Banda e às necessidades desta; Todavia,
apesar desta condicionante, o aluno tem a possibilidade de
escolher entre os vários instrumentos e tem também a opor‑
tunidade de os poder experimentar, escolhendo o que preferir.
São muito raros os alunos que aqui chegam já com um instru‑
mento próprio e assim a Associação fornece de forma gra‑
tuita não só o ensino musical como também os instrumentos
be difficult to provide any other form of musical educa‑
tion. However, on many occasions the only method used
involves that of the Conductor and often has required sev‑
eral months of solfeggio training without the musician hav‑
ing had any contact with the instrument they would play,
leading to a certain level of demotivation. Being aware of
the needs of current students, the teachers at the Euterpe
realised that contact with the musical instrument and prac‑
tical experience should be offered sooner. In this way stu‑
dents also have the opportunity to try out and practise their
instrument from the beginning, with individual instru‑
ment classes that utilise various methods commonly used
in teaching at the Conservatory, where the various musi‑
cal components are worked on, such as instrumental tech‑
nique, sound or expressiveness. In addition, and similar to
what happens in other philharmonic bands, the instrument
chosen by students has to match the availability of instru‑
ments and the needs of the band. However, despite this con‑
straint, the student has the possibility of choosing between
different instruments and also has the opportunity to try
them out, and choose what they prefer. Very few students
come here already with their own instrument and thus the
Association provides not only free teaching but also musi‑
cal instruments and all the other material, and the mainte‑
nance of these instruments also falls to Euterpe, which con‑
stitutes a major investment by the Band. The decision as to
when is the right time for the student to move from individ‑
ual classes to Band rehearsals is agreed between the Teach‑
ers of the School of Music and the Conductor who verifies
that the student’s ability to read and his or her instrumen‑
tal technique matches what is required. Thus, going from
the enrolment of future musicians in the School of Music to
their total integration into the Band involves several steps:
96
e todo o material, ficando também a cargo da Euterpe a manu‑
tenção destes instrumentos, o que constitui um grande inves‑
timento por parte da Banda. Também a decisão de quando
será o momento certo para o aluno transitar das aulas indivi‑
duais para os ensaios da Banda é acordada entre os Professo‑
res da Escola de Música e o Maestro que atestam se a capaci‑
dade de leitura e a técnica instrumental do aluno corresponde
ao pretendido. Assim, desde a entrada do futuro músico para
a Escola de Música até à sua total integração na Banda, o per‑
curso passa por várias etapas: depois de escolhido/atribuído
o instrumento e das consequentes aulas teóricas e práticas, o
aluno passa a poder participar apenas nos ensaios semanais
da Banda, começando então por tocar a terceira ou segunda
voz (conforme os instrumentos). Nesta fase, o apoio dos cole‑
gas, não só dos que tocam o mesmo instrumento como tam‑
bém dos restantes membros do grupo, é fundamental para
a integração do novo músico. Agora este aprendiz necessita
de conhecer como na verdade funciona a banda filarmónica.
São então os colegas que indicam o que fazer a cada gesto do
Maestro e são estes que indicam na partitura o local onde a
Banda está a tocar quando este, na tentativa de acompanhar
o grupo, mas traído pela sua falta de prática, atrapalhado com
os dedos ou com a embocadura, se perde e fica sem saber onde
tocar. A insegurança inicial por parte do novo músico é bas‑
tante comum, passando com a prática e com a frequência nos
ensaios, bem como pelo estudo individual. Após a fase em que
os novos músicos apenas tocam nos ensaios, estes, demons‑
trando capacidades musicais para tal, podem então pas‑
sar a integrar a Banda em todos os concertos, sendo esta a
última etapa na sua integração enquanto músico da Sociedade
Euterpe. Em todas as etapas, a relação entre os músicos não
é de todo uma relação meramente profissional, sendo criados
com a passagem do tempo, como vimos, laços de amizade e
97
after having chosen/being assigned the instrument and the
ensuing theoretical and practical lessons, the student is
then able to participate in the weekly rehearsals of the Band,
by then starting to play third or second voice (depending on
the instruments). At this stage, the support of colleagues,
not only those who play the same instrument but also the
other members of the group, is crucial for the successful
integration of the new musician. Now this apprentice needs
to know how a philharmonic band actually works. It is thus
his or her colleagues who show what to do for every gesture
of the Conductor and it is they who show where in the score
the band is playing when, in an attempt to follow the group,
but betrayed by a lack of practice, he or she fumbles with
the fingers or mouth, gets lost and does not know where to
play. The initial uncertainty on the part of a new musician is
quite common, but this passes with practice and attendance
at rehearsals, and by private study. After the phase where
new musicians only play at rehearsals, those who show the
musical ability to do so, may then become part of Band dur‑
ing its concerts, which is the last step in their integration as
a musician of the Euterpe Society. At all stages, the relation‑
ship between the musicians is not just a purely professional
relationship, but, as we have seen, with the passage of time
bonds of friendship and camaraderie are created among the
musicians, ties which make the musicians, who are often far
away from their city, for academic or professional reasons,
still contribute to the Euterpe Society by playing in rehears‑
als and concerts whenever they can.
The “family Spirit”: the cultural and the social
The social role is as important as the cultural role for
a philharmonic band. For many, it is an important means
camaradagem entre os músicos, laços estes que fazem com
que muitas vezes os músicos que se encontram longe da sua
cidade, por razões académicas ou profissionais, sempre que
possam, dêem o seu contributo à Sociedade Euterpe e toquem
nos dias de ensaio e concerto.
O “Espírito familiar”: o cultural e o social
Numa banda filarmónica, o seu papel social é tão ou mais
importante que o seu papel cultural. Para muitos, este local
é um importante meio para estabelecer e cultivar amizades
entre pessoas provenientes de diversos meios socioculturais,
amizades que se estabelecem não só entre os músicos da pró‑
pria banda como também com músicos de outras bandas. É
também através da banda que vários músicos têm a oportu‑
nidade, tal como os próprios salientaram, “de conhecer pes‑
soas novas e lugares novos”50. Estas associações são também
instituições sociais de carácter local, que constituem impor‑
tantes espaços de socialização e de representação tanto social
como política51. Segundo os resultados apurados após a aná‑
lise dos inquéritos distribuídos, a grande maioria dos músi‑
cos afirma que a Euterpe significa para si em primeiro lugar
um importante espaço de convívio, ficando em segundo lugar
tanto o seu papel enquanto meio para conhecer novas pes‑
soas e novos locais, assim como o seu papel enquanto impor‑
tante meio de ensino e aperfeiçoamento musical. Para os
últimos lugares ficaram as respostas que salientam a impor‑
tância desta Banda enquanto espaço de fruição musical e
enquanto meio de projecção social52. Já outros músicos apre‑
sentam algumas respostas bastante curiosas no que diz res‑
peito ao significado que a Banda tem para si e que possivel‑
mente muito dependem da idade de quem responde: “para
conhecer como uma Banda funciona e como todos os sons
of establishing and cultivating friendships between people
from different cultural and social environments, friend‑
ships that are established not only among the musicians of
the band itself but also with musicians from other bands.
It is also through the band that the musicians have the
opportunity, as they themselves emphasized, “to meet
new people and get to know new places”50. These asso‑
ciations are also institutions of a social nature, and con‑
stitute important spaces for socialization and social as
well as political representation51. According to the results
obtained after analysing the surveys which were handed
out, most of the musicians state that the Euterpe is above
all an important social space, with the chance to meet
new people and get to know new places coming in second
place, alongside its role as an important means of musical
teaching and improvement. Answers that highlighted the
importance of this Philharmonic Band as a place for musi‑
cal enjoyment and as a means of social projection were
placed in the final places52. Some musicians gave some
98
Fotografia do acervo documental
da Sociedade Musical Euterpe.
Photo from Euterpe Musical Society archives.
e notas se misturam para criar música”53; ou “espírito fami‑
liar”54; ou “a música é um bom caminho para tudo”55.
Apesar de muitos dos músicos que passaram pela Sociedade
Euterpe desde a sua fundação em 1860 não terem prosseguido
os seus estudos musicais e não terem ingressado numa car‑
reira profissional ligada à música, estas associações continuam
a constituir um importante circuito musical amador, dando
uma oportunidade quase única a músicos amadores de conti‑
nuarem com a sua actividade musical. Tal como refere Helena
Lourosa56, “nos últimos anos tem­‑se acentuado uma tendência
“eruditizante” na constituição e funções das filarmónicas, que
tentam aproximar o seu repertório e actividades às orquestras
na procura de uma certa afirmação artística. Também por esse
motivo a sala de concerto é cada vez mais utilizada e há grupos
que começaram a adoptar alguns instrumentos de corda”. Ape‑
sar de em muitas bandas se observar esta tendência tanto por
parte das Direcções como dos maestros, aproximando­‑as mui‑
tas vezes do funcionamento de agrupamentos profissionais,
há quem defenda afincadamente a permanência destes agru‑
pamentos como grupos unicamente dedicados à actividade
musical amadora, uma vez que em Portugal e talvez nos res‑
tantes países ocidentais as oportunidades para músicos ama‑
dores tocarem um instrumento de sopro em grupo são muito
escassas. Desta forma, também um dos músicos da Sociedade
Euterpe confirma a importância deste local enquanto espaço
privilegiado para os músicos amadores, referindo que uma das
razões que o leva a permanecer na Sociedade Euterpe é o facto
de “poder tocar em grupo”57.
Como forma de complementar a actividade musical dos
instrumentistas da S.M.E., foram criados vários pequenos
grupos de música de câmara que desenvolvem a sua actividade
tanto em concertos partilhados com a Banda como em con‑
certos individuais ou em pequenas apresentações nas esco‑
99
very curious answers with regard to the meaning that
the Band has for them, with this possibly depending to a
large extent on the age of the respondent: “to get to know
how a Band works and how all the sounds and notes blend
together to create music”53; or “a family spirit”54; or “music
is a good path for everything”55.
Although many of the musicians who have passed
through the Euterpe Society since its founding in 1860
have not pursued their musical studies or had a professional
career in music, these associations remain an important
amateur musical circuit, giving an almost unique opportu‑
nity to amateur musicians to continue their musical activ‑
ity. As Helena Lourosa stated56, “in recent years a ‘classical’
trend has been emphasized in the makeup and functions of
the philharmonics, trying to bring their repertoire and activ‑
ities in line with orchestras in the search for a certain artis‑
tic statement. It is also for this reason that the concert hall
is increasingly used and there are groups that have begun
to include some stringed instruments”. While this trend
can be observed in many bands both on the part of their
Boards and also their musical directors, with them almost
becoming professional groups, there are those who argue
for the permanence of such groups as groups solely dedi‑
cated to amateur musical activity, since in Portugal and per‑
haps in other Western countries the opportunities for ama‑
teur musicians to play a wind instrument in an ensemble
format are very scarce. In this way, one of the musicians of
the Euterpe Society confirmed the importance of this place
as a privileged space for amateur musicians, noting that one
of the reasons that led him to remain in the Euterpe Society
was the fact of “being able to play in a group”57.
In order to supplement the musical activity of the
S.M.E. musicians, several small chamber music groups were
las, de forma a divulgar a actividade da Sociedade Euterpe.
Estes grupos são um incentivo ao trabalho dos músicos que
aqui podem tocar outro tipo de repertório em conjunto com
os seus colegas de naipe. Os grupos de música de câmara são
formados a partir dos naipes das flautas transversais e dos
clarinetes da Banda, podendo, a partir daqui, formar­‑se duos,
trios ou quartetos. Segundo o Presidente da Direcção, está
prevista a compra de duas novas flautas transversais de forma
a completar os vários registos deste instrumento, sendo elas
uma flauta alto e uma flauta baixo.
É necessário também salientar que, apesar de realizar um
trabalho ímpar a nível não só cultural, mas principalmente a
nível social na cidade de Portalegre, a Sociedade Euterpe se
assemelha em grande medida a outras associações filarmóni‑
cas do país. Embora seja uma grande preocupação não só a
continuação do trabalho feito há uma centena e meia de anos
como também a tentativa de apresentar trabalhos de carácter
inovador, a Euterpe não está sozinha. Também outras bandas
filarmónicas, tentando sobreviver à passagem do tempo e às
consequentes mudanças de mentalidades e das necessidades
da população jovem, têm a preocupação de se renovar, não só
ao nível dos seus recursos humanos, como também ao nível
do repertório e do formato das suas actuações, mantendo, no
entanto, parte da sua filosofia inicial: a possibilidade de pro‑
porcionar o ensino musical e a actividade musical amadora a
pessoas dos mais variados meios sociais, económicos e com
as mais variadas formações académicas e actividades profis‑
sionais, bem como o seu papel enquanto pólo dinamizador da
cultura em regiões onde a oferta cultural é escassa.
É desta forma que a Sociedade Musical Euterpe de
Portalegre tem como objectivo principal para o futuro a aposta
numa “dinâmica massa jovem” cuja “vitalidade” e “dina‑
mismo”58 são absolutamente necessários para a continuação
established which perform both in joint concerts with the
Band as well as in individual concerts or small presenta‑
tions in schools, so as to spread the activities of the Euterpe
Society. These groups are an incentive for the work of the
musicians who can play another type of repertoire together
with their colleagues in their grouping. The chamber music
groups are formed from the groupings of flutes and clari‑
nets of the Band and may form duos, trios or quartets.
According to the Chairman of the Board, they are expect‑
ing to purchase two new flutes in order to complete the vari‑
ous registers of this instrument, with one being an alto flute
and one a bass flute.
It is also necessary to emphasize that despite having
done an incomparable job not only culturally, but mainly
socially in the city of Portalegre, the Euterpe Society
largely resembles the other philharmonic associations in
Portugal. Although it is a major concern not only to con‑
tinue the work of its hundred and fifty years but also to
attempt to present innovative works, the Euterpe is not
alone. Other philharmonic bands trying to survive the pas‑
sage of time and the consequent changes in attitudes and
needs of young people, are also concerned with renewing
themselves, not only in terms of their human resources,
but also in terms of their repertoire and the format of their
performances, while keeping, however, part of their initial
philosophy: the possibility of providing musical education
and amateur musical activity to people from many differ‑
ent social and economic backgrounds, as well as diverse
academic levels and professions, as well as its role as a key
culture promoter in regions where there is a lack of cul‑
tural events.
This is the Euterpe Musical Society of Portalegre’s main
goal for the future, betting on this “dynamic young mass”
100
e enriquecimento do trabalho feito até agora por esta associa‑
ção com cento e cinquenta anos de existência. A Euterpe, tal
como as restantes bandas filarmónicas do país, onde pode‑
mos encontrar pessoas de todos os estratos sociais e com os
mais diversos backgrounds, é ainda hoje um meio fundamen‑
tal não só para a construção da identidade dos jovens porta‑
legrenses como também se afirma enquanto espaço privile‑
giado para a actividade musical amadora, sendo ao mesmo
tempo um local de grande importância para a divulgação cul‑
tural e para a formação musical em Portalegre.
whose “vitality” and “dynamic”58 are absolutely essential for
Notas
Notes
LOUROSA, Helena – A polissemia da performance. Dimensões performativas da Banda
Filarmónica a partir da análise musical e da história social deste agrupamento: Um
estudo de caso. Aveiro: Comunicação apresentada no Performa’09, Maio de 2009.
2
Citação retirada dos dados provenientes da entrevista realizada a Miguel Mon‑
teiro no dia 8 de Julho de 2010, nas instalações da Sociedade Musical Euterpe
de Portalegre.
3
Acta da Assembleia Geral de 19 de Outubro de 1865.
4
Cf. refere o sócio Rodrigues da Costa.
5
LAMEIRO, Paulo ­‑ Bandas Filarmónicas. In Castelo­‑Branco, Salwa (Ed.) Enciclopédia da Música em Portugal no Séc. XX. Lisboa: Temas e Debates e Círculo de
Leitores, 2010.
6
Acta da Assembleia Geral de 21 de Maio de 1868.
7
Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑
terpe.com).
8
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário dis‑
tribuído aos músicos da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre, respondida
por uma saxofonista do sexo feminino, com idade compreendida entre os 16 e
os 20 anos.
9
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário,
respondida por um saxofonista do sexo masculino, com idade compreendida
entre os 36 e os 40 anos.
10
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑
pondida por um tubista do sexo masculino, com idade compreendida entre os
26 e os 30 anos.
11
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário,
respondida por uma clarinetista do sexo feminino, com idade compreendida
entre os 11 e os 15 anos.
12
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑
pondida por uma oboísta do sexo feminino, com idade compreendida entre os
11 e os 15 anos.
1
101
the continuation and enrichment of the work done so far by
this association in its one hundred and fifty years of exist‑
ence. The Euterpe, like the other brass bands in the coun‑
try, where we can find people from all walks of life and the
most diverse backgrounds, is still today a key resource in not
only building the identity of the young people of Portalegre
but also as a special locus of amateur musical activity, while
being a place of great importance for cultural dissemination
and musical training in Portalegre.
LOUROSA, Helena – A polissemia da performance. Dimensões performativas da
1
Banda Filarmónica a partir da análise musical e da história social deste agrupamento: Um estudo de caso. Aveiro Paper presented at Performa’09, May 2009.
(The polysemy of performance. Performative dimensions of the Philhar‑
monic Band using a musical and social historical analysis of the group: A
case study), Aveiro: Paper presented at Performa’09, May 2009.
Quotation taken from the interview with Miguel Monteiro on 8 July 2010
Minutes of the General Assembly of 19 October 1865.
Cf. this was referring to the member Rodrigues da Costa.
LAMEIRO, Paulo - Bandas Filarmónicas (Philharmonic Bands). In Castelo-
2
on the premises of the Euterpe Musical Society of Portalegre.
3
4
5
Branco, Salwa (Ed.) Enciclopédia da Música em Portugal no Séc. XX. (Encyclo‑
paedia of Twentieth Century Portuguese Music), Lisbon: Temas e Debates
e Círculo de Leitores, 2010.
Minutes of the General Assembly of 21 May 1868.
Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe.
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
6
7
com).
8
questionnaire distributed to musicians from the Euterpe Musical Society
of Portalegre, answered by a female saxophone player, aged between 16 and
20 years of age.
Quotation taken from the reply given to question number eleven from the
9
questionnaire, given by a saxophonist, male gender, aged between 36 and
40 years of age.
10
Quotation taken from the reply given to question number eleven from the
questionnaire, given by a tuba player, male gender, aged between 26 and 30
years of age.
11
Quotation taken from the reply given to question number eleven from the
questionnaire, given by a clarinet player, female gender, aged between 11
and 15 years of age.
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário,
respondida por um percussionista do sexo masculino, com idade compreen‑
dida entre os 16 e os 20 anos.
14
Citação retirada do website www.guiadacidade.pt, consultado a 25 de Agosto
de 2010.
15
Idem.
16
Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de
2005).
17
RUSSO, Susana Bilou – As Bandas Filarmónicas enquanto Património: um
estudo de caso no Concelho de Évora (Dissertação de Mestrado em Antropolo‑
gia, Património e Identidades. Instituto Superior do Trabalho e da Empresa),
2007.
18
MOTA, Graça (ed.) – Crescer nas Bandas Filarmónicas – Um estudo sobre a construção da identidade musical dos jovens portugueses. Porto: Edições Afronta‑
mento, 2009.
19
Relatório apresentado pelo Tesoureiro Normando José Ferreira Pimenta de
Castro no almoço comemorativo dos 124 anos da Sociedade Musical Euterpe.
20
LAMEIRO, Paulo – idem.
21
Estas referências são fruto da análise dos questionários distribuídos aos
músicos da Sociedade Musical Euterpe a 8 de Julho de 2010.
22
LAMEIRO, Paulo – idem.
23
Segundo a acta da Assembleia Geral Ordinária de 28 de Abril de 1985.
24
Artigo referente à comemoração do 146.º aniversário da Sociedade Euterpe,
disponível em http://www.bandasfilarmonicas.com/documentos/noticias/
portalegre.pdf.
25
Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑
terpe.com).
26
LAMEIRO, Paulo – idem.
27
Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de
2005).
28
Para um estudo quantitativo acerca da constituição instrumental das ban‑
das filarmónicas do Norte e Centro português, consultar o estudo de André
GRANJO – The wind band movement in Portugal: praxis and conditionalities (Dis‑
sertação apresentada no Advanced Vocational Music Education Program: Har‑
monie, Fanfare and Brass­‑Band Conducting course. Zuid­‑Nederlandse Hoges‑
chool vorr Muziek, 2006).
29
Citação retirada da carta enviada a 27 de Agosto de 1993 a António Carra‑
piço pelos então Directores da Sociedade Musical Euterpe de Portalegre.
30
Veja­‑se, para um mais aprofundado conhecimento da biografia de Francisco
Perdigão o artigo do jornal Distrito de Portalegre, n.º 4290 (24 de Janeiro de
1953) “Francisco José Perdigão e a Banda Euterpe”.
31
idem, ibidem.
32
idem, ibidem.
33
idem, ibidem.
34
Relatório da Direcção do Montepio de 22 de Novembro de 1886.
35
Distrito de Portalegre, n.º 4290 (24 de Janeiro de 1953).
36
Distrito de Portalegre, n.º 333 (10 de Setembro de 1890).
37
Distrito de Portalegre, n.º 388 (9 de Setembro de 1891).
38
Acta da Assembleia Geral de 4 de Maio de 1908.
39
Distrito de Portalegre, n.º 4287 (3 de Janeiro de 1952).
13
12
Quotation taken from the reply given to question number eleven from the
questionnaire, given by an oboe player, female gender, aged between 11 and
15 years of age.
13
Quotation taken from the reply given to question number eleven from the
questionnaire, given by a percussionist, male gender, aged between 16 and 20
years of age.
14
Quotation taken from the website www.guiadacidade.pt, accessed on 25
August 2010.
Idem.
15
16
17
Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005).
RUSSO, Susana Bilou – As Bandas Filarmónicas enquanto Património: um estudo
de caso no Concelho de Évora (The Philharmonic Bands as Patrimony: A Case
Study in the District of Évora – Master Dissertation in Anthropology, Patri‑
mony and Identities. Instituto Superior do Trabalho e da Empresa), 2007.
18
MOTA, Graça (ed.) – Crescer nas Bandas Filarmónicas – Um estudo sobre a construção da identidade musical dos jovens portugueses. (Growing up in the Philhar‑
monic Bands – A Study into the construction of the musical identity of Portu‑
guese young people) Porto: Edições Afrontamento, 2009.
Report submitted to the Treasurer Normando José Ferreira Pimenta de Cas‑
LAMEIRO, Paulo – idem.
19
tro at the lunch to mark the 124th anniversary of the Euterpe Musical Society.
20
21
These references come from the analysis made of the questionnaires handed
out to the musicians of the Euterpe Musical Society on 8 July 2010.
LAMEIRO, Paulo – idem.
According to the minutes of the General Assembly Meeting of 28 April 1985.
Article referring to the commemorations to mark the 146th anniversary of the
22
23
24
Euterpe Society, available at http://www.bandasfilarmonicas.com/documen‑
tos/noticias/portalegre.pdf
Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe.com).
LAMEIRO, Paulo – idem.
25
26
Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005).
For a quantitative study concerning the instrumentation of the Philharmonic
27
28
Bands of the North and South of Portugal, consult the study by André GRANJO –
The wind band movement in Portugal: praxis and conditionalities (Dissertation presented
on the Advanced Vocational Music Education Program: Harmony, Fanfare and
Brass-Band Conducting course. Zuid-Nederlandse Hogeschool vorr Muziek, 2006).
29
Quotation taken from the letter sent on 27 August 1993 to António Carrapiço
by the Board of Directors of the Euterpe Musical Society of Portalegre.
30
For a more detailed biography of Francisco Perdigão, see the article from the
newspaper Distrito de Portalegre, No. 4290 (24 January 1953) “Francisco José
Perdigão e a Banda Euterpe”.
idem, ibidem
idem, ibidem
idem, ibidem
Report from the Board of the Montepio, 22 November 1886.
Distrito de Portalegre, No. 4290 (24 January 1953)
Distrito de Portalegre, No. 333 (10 September 1890)
Distrito de Portalegre, No. 388 (9 September 1891)
Minutes of the General Assembly of 4 May 1908
Distrito de Portalegre, No. 4287 (3 January 1952)
31
32
33
34
35
36
37
38
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53
54
55
57
56
58
103
Distrito de Portalegre, n.º 2665 (18 de Julho de 1920).
Acta da Assembleia Geral de Julho de 1922.
Cf. um folheto promocional da Euterpe datado de 12 de Junho de 1958.
MOTA, Graça – idem.
Carta de despedida gentilmente cedida por António Carrapiço (Outubro de
2005).
Documento relativo às comemorações dos 125 anos da Sociedade Musical
Euterpe de Portalegre.
Distrito de Portalegre, n.º 2609 (22de Junho de 1919).
CASTELO­‑BRANCO, Salwa e LIMA, Maria João – Práticas Musicais Locais:
Alguns Indicadores Preliminares. OBS 4 Revista do Observatório das Actividades
Culturais. Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 1998.
Acta da Assembleia Geral de 15 de Março de 1926.
Distrito de Portalegre, n.º 2665 (27 de Maio de 1928).
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑
pondida por uma clarinetista do sexo feminino com idade entre os 11 e os 15
anos.
LAMEIRO, Paulo – idem.
Estas referências são fruto da análise dos questionários distribuídos aos músi‑
cos da Sociedade Musical Euterpe a 8 de Julho de 2010.
Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário, res‑
pondida por uma oboísta do sexo feminino, com idade compreendida entre os
11 e os 15 anos.
Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário,
respondida por um saxofonista do sexo masculino, com idade compreendida
entre os 36 e os 40 anos.
Citação retirada da resposta dada à questão número doze do questionário, res‑
pondida por uma percussionista do sexo feminino, com idade compreendida
entre os 60 e os 65 anos.
LOUROSA, Helena – idem.
Citação retirada da resposta dada à questão número onze do questionário, res‑
pondida por um clarinetista do sexo masculino com idade compreendida entre
os 41 e os 45 anos.
Website da Sociedade Euterpe consultado a 27 de Julho de 2010 (www.smeu‑
terpe.com).
Distrito de Portalegre, No. 2665 (18 July 1920)
Minutes of the General Assembly of July 1922
Cf. a promotional pamphlet from the Euterpe dated 12 June 1958.
MOTA, Graça – idem.
Farewell letter kindly supplied by António Carrapiço (October 2005).
Document concerning the commemorations to mark 125 years of the
Distrito de Portalegre, No. 2609 (22 June 1919).
CASTELO-BRANCO, Salwa and LIMA, Maria João – Práticas Musicais
40
41
42
43
44
45
Euterpe Musical Society of Portalegre.
46
47
Locais: Alguns Indicadores Preliminares. (Local Musical Practices. Some Preliminary Indicators) OBS 4 Revista do Observatório das Actividades Culturais.
Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 1998.
Minutes of the General Assembly of 15 March 1926.
Distrito de Portalegre, No. 2665 (27 May 1928).
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
48
49
50
questionnaire, answered by a clarinet player, female gender, aged between
11 and 15 years of age.
LAMEIRO, Paulo – idem.
These references come from the analysis made of the questionnaires
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
51
52
handed out to the musicians of the Euterpe Musical Society on 8 July 2010.
53
questionnaire, answered by an oboe player, female gender, aged between
11 and 15 years of age.
54
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
questionnaire, answered by a saxophone player, male gender, aged between
36 and 40 years of age.
55
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
questionnaire, answered by a percussionist, female gender, aged between
60 and 65 years of age.
LOUROSA, Helena – idem.
Quotation taken from the reply given to question number eleven of the
56
57
questionnaire, answered by a clarinet player, male gender, aged between 41
and 45 years of age.
58
Website of the Euterpe Society accessed on 27 July 2010 (www.smeuterpe.
com).
Notas finais
Final remarks
Renato Pistola
Sofia Lopes
Publicações da Fundação Robinson 17, 2012, p. 104­‑109, ISSN 1646­‑7116
Quando começámos a estudar a História da Euterpe
esperávamos encontrar uma documentação escassa e desor‑
ganizada, enfim, um puzzle de informação descontínua que
só uma enorme minúcia poderia reconstituir. Foi então com
agradável surpresa que entrámos no arquivo da Euterpe e
deparámo-nos com o cenário oposto, ou seja, encontrámos
um manancial de documentação vasta e rica que nos per‑
mitiu uma aproximação segura à evolução da Banda desde
o século XIX aos nossos dias. Importa destacar, em pri‑
meiro lugar, a documentação que se refere à vertente admi‑
nistrativa da Associação, mormente os livros de Actas da
Assembleia Geral, da Direcção e do Conselho Fiscal. Tam‑
bém merecem um realce os livros de Relatórios e Contas
cuja informação optámos por não incluir no nosso trabalho
evitando levar o leitor para áreas demasiado específicas da
gerência da Associação, mas os quais pretendemos empre‑
gar na investigação mais extensa que levamos a cabo sobre
os montepios em Portugal. Neste sentido, este trabalho não
deve ser entendido como uma História final e decisiva da
Euterpe mas como uma introdução, uma sinopse das vivên‑
cias da Banda, para que Portalegre conheça melhor a sua
filarmónica e os principais episódios da sua existência.
Amplamente relevante também, é a informação respei‑
tante à secção musical da Associação, o seu coração actual,
por assim dizer, com as suas pautas, os instrumentos, o far‑
damento e, uma parte muito importante, as histórias conta‑
das oralmente, quer por quem as presenciou quer por quem
delas ouviu falar de mais perto. Felizmente, tudo fica numa
memória que permanece nas sucessivas gerações de euterpianos que se vão sucedendo.
Em função da riqueza da informação disponível, para
dar a conhecer o que é a Euterpe impunha­‑se prosseguir por
duas vias interligadas entre si. Por um lado revelar a evo‑
105
When we began to study the history of the Euterpe we
expected to find sparse and disorganized documentation
– in fact, a puzzle of discontinuous information that only
minutious work could hope to reconstitute. It was thus a
pleasant surprise upon entering the Euterpe archives to dis‑
cover the opposite scenario, i.e. we found a wealth of vast
and rich documentation that allowed us to safely document
the evolution of the Philharmonic Band from the nineteenth
century until the present day. It is important to highlight,
firstly, that the documentation refers to the administrative
side of the Association, especially the books of Minutes of
the General Assembly, the Board and the Audit Committee.
Also worthy of note is the information from the Accounts
books which we chose not to include in our work to avoid
the reader having to deal with areas which are too specific
in terms of the management of the Association, but which
we intend to employ in more extensive research carried out
on Portuguese montepios. In this sense, this work should not
be understood as a final and decisive history of the Euterpe
but as an introduction, an overview of the experiences of
the Philharmonic Band, so that Portalegre can get to know
the Philharmonic and the principal events of its existence.
Completely of relevance, as well, is the information
concerning the musical side of the Association, its current
heartbeat, so to speak, with its staves, its instruments, its
uniforms, and a very important part, the stories told orally,
by those who witnessed them or were told to them by peo‑
ple close to the events. Fortunately, all remains in a mem‑
ory which will remain for successive generations of euterpianos still to come.
Due to the wealth of information available, to make
known what the Euterpe is enabled us to proceed in two
interconnected ways. Firstly, to show the historical develop‑
lução histórica da Associação, que trilhos foram percorri‑
dos até chegar à forma como a conhecemos hoje; por outro
lado, dar a conhecer as principais questões específicas de
uma banda, não só ao longo do tempo, mas sobretudo nos
anos mais recentes. Foi esta dualidade presente na existên‑
cia da Euterpe que exigiu positivamente uma parceria entre
a metodologia própria da História e os saberes mais espe‑
cíficos da Musicologia. O investigador procurou construir,
essencialmente, a linearidade das opções tomadas desde a
formação da Banda e do Montepio até ao tempo presente,
relatando os factos principais, a relação da Associação com
Portalegre e com as suas gentes, em suma, a evolução histó‑
rica da Associação, procurando enquadrá­‑la na vivência glo‑
bal da História do país. A musicóloga, por sua vez, analisou
essencialmente o passado recente e o presente, enquadrando
a Banda no quadro mais geral das bandas filarmónicas.
Da dualidade complementar do nosso trabalho esperamos
que se destaque, essencialmente, uma harmonia cristalina.
O resultado final traduz­‑se assim numa primeira parte da
obra que versa sobretudo sobre a evolução geral da existên‑
cia da Euterpe, enquanto a segunda parte se debruça par‑
ticularmente sobre as especificidades de uma filarmónica,
quer no seu passado, quer no tempo presente.
Sobre a evolução histórica da Associação enquanto tal,
acreditamos que o essencial está referido. Resta apenas uma
palavra para sublinhar a necessidade de preservar e organi‑
zar, seguindo os desígnios da arquivística, um arquivo rico
como é o da Euterpe Portalegrense que o futuro não gostaria
com certeza de perder. Sobre a vertente estritamente musi‑
cal, importa olhar agora essencialmente para o futuro. E, consequentemente, uma pergunta impõe­‑se: face às mudan‑
ças sociais que se têm vindo a assistir em Portugal, que em
grande medida também afectam as bandas filarmónicas,
ment of the Association, the paths of which were traversed
to reach the form we know it as today; secondly, to get to
know the main issues specific to a philharmonic band, not
only over time, but especially in more recent years. It is this
duality of existence of the Euterpe that actively demanded a
partnership between the methodology of history itself and
the more specific knowledge of Musicology. The researcher
has sought to essentially construct the linearity of the
choices made since the setting up of the philharmonic band
and the Montepio until the present day, reporting the main
facts, the relationship of the Association with Portalegre
and its people; in short, the historical evolution of the Asso‑
ciation, trying to fit it within the overall experience of the
country’s history. The musicologist, in turn, essentially
examined the recent past and the present, contextualis‑
ing the Band within the wider framework of philharmonic
bands. The complementary duality of our work hopefully
has become as a crystalline harmony. The final result is thus
a first part of the work which deals mainly with the general
evolution of the existence of the Euterpe, while the second
part focuses particularly on the specifics of a philharmonic,
both in terms of its past, and its present.
As regards the historical evolution of the Associa‑
tion as such, we believe that what is fundamental has
been described. There only remains a word to emphasize
the need to preserve and organize, following the stand‑
ard archival practices, an archive as rich as that of the Por‑
talegre Euterpe that the future would certainly not want
to lose. On the strictly musical side, it is important now to
look essentially to the future. And, consequently, a ques‑
tion must arise: given the social changes that we have been
witnessing in Portugal, which have also greatly affected the
philharmonic bands, how are these groups going to sur‑
106
como poderão estes agrupamentos sobreviver? Desde a sua
criação que as filarmónicas portuguesas se têm visto obriga‑
das a acompanhar os interesses da população em geral e, em
particular, daqueles que as integram, enfrentando inúme‑
ros desafios para manter a sua actividade. A Euterpe, como
vimos, não foi excepção. Até meados do século XX as ban‑
das filarmónicas ocupavam o papel principal na dinamização
musical das suas localidades, não só se afigurando como um
importante pólo de dinamização da prática musical de carác‑
ter amador, como realizando concertos em espaços abertos
ou sendo a principal atracção musical de uma festa religiosa.
A rua vinha sendo o local natural para a actuação de uma
banda com as características da Euterpe. Mas actualmente
as exigências são outras e a adaptação destas associações ao
tempo presente tem sido feita no sentido de adaptar o seu
repertório aos gostos de quem as ouve e de quem as integra
e aos espaços onde se realizam as suas actuações. Neste sen‑
tido, as bandas filarmónicas têm conhecido uma tendência
para abandonar a rua, o seu anterior palco natural, para ocu‑
par um lugar cada vez mais presente nas salas de concerto.
No mesmo sentido, esta mutação afasta­‑as igualmente do
perfil das suas congéneres militares e, igualmente, da forte
ligação que tinham às práticas religiosas. E a mudança por‑
que passam actualmente as filarmónicas leva também a pro‑
mover profundas alterações nos seus repertórios, procu‑
rando fincar a sua sobrevivência, por vezes sofregamente, na
satisfação dos gostos no quadro social português que, natu‑
ralmente, se vão alterando. Percebe­‑se assim que hoje estas
bandas prefiram um repertório escrito especificamente para
agrupamentos com as suas características, adaptando para
isso a sua constituição instrumental e apostando no ensino
musical como via de captação de músicos e de capitais de que
necessitam. Mas será este o caminho a seguir?
107
vive? Since their inception, the Portuguese philharmon‑
ics have been obliged to follow the interests of the popu‑
lation in general and, in particular, those that form part of
them, facing numerous challenges to maintain their activ‑
ity. The Euterpe, as we have seen, was no exception. Until
the mid-twentieth century philharmonic bands occupied
the leading role in the musical promotion of their locali‑
ties, not only being seen as an important centre for pro‑
moting musical activity at an amateur level, but also per‑
forming concerts in the open air or being the main musi‑
cal attraction at a religious festival. The street has been the
natural concert hall for a performance by a philharmonic
band with the characteristics of the Euterpe. But nowa‑
days needs are different and the adaptation of these asso‑
ciations to the present day has been carried out in terms
of adapting their repertoire to the tastes of those who lis‑
ten to them and those to be found in the spaces where they
perform their concerts. In this sense, the philharmonic
bands have seen a tendency to abandon the street, their
previous natural stage, to occupy and be increasingly pre‑
sent in the concert hall. Likewise, this mutation has also
distanced them from the profile of their military counter‑
parts and, also, the strong ties that they had to religious
practices. And the change currently happening to the phil‑
harmonics is leading them to make fundamental changes
to their repertoires, seeking to ensure their survival, some‑
times eagerly, to satisfy the tastes of the Portuguese social
framework which is of course undergoing change. It can be
seen how these bands nowadays prefer a repertoire writ‑
ten specifically for groups with their features, adapted to
their musical makeup and investing in musical education
as a means of attracting the musicians and the capital they
need. But is this the way forward?
O exemplo da Euterpe parece sugerir que estes agrupa‑
mentos só poderão sobreviver mantendo uma idiossincrasia
muito próxima daquilo que sempre foram, ou seja, desenvol‑
vendo um importante papel enquanto espaço privilegiado
para a actividade musical amadora e mantendo a sua fun‑
ção de pólo dinamizador da actividade musical dentro das
localidades onde se inserem. Na verdade, é importante não o
esquecer, foi uma singular reunião de pessoas das mais varia‑
das idades, proveniências, actividades profissionais, habili‑
tações e, porventura, gostos, que deram forma à Euterpe.
Sobretudo porque se encontravam unidas pela amizade,
pelo espírito de companheirismo e de grupo e, essencial‑
mente, pelo gosto em comum pela música que permitiu que
a Euterpe fosse ultrapassando os mais diversos obstáculos.
Neste sentido, não obstante a atracção em se adaptar às exi‑
gências correntes, importa à Euterpe compreender a melhor
forma de o conseguir não esquecendo que, tal como no pas‑
sado, a sua sobrevivência dependerá sempre da capacidade
em manter único o seu espaço de existência por entre todas
as sensibilidades existentes em Portalegre. Neste sentido,
a mudança para o Espaço Robinson representa simultane‑
amente um desafio e um novo incentivo para que a Euterpe,
gozando de condições únicas para o seu funcionamento,
saiba construir com sucesso uma nova etapa da sua já longa
existência continuando a estar presente nos momentos
mais importantes da vida dos portalegrenses.
Resta­‑nos agradecer a simpatia com que fomos recebidos
pelos músicos, maestro e corpos directivos, que se mostra‑
ram sempre disponíveis para colaborar na construção desta
obra que só seria possível graças à sua disponibilidade e aos
seus testemunhos. Agradecemos especialmente a simpatia
do Sr. António Carrapiço, que amavelmente recorreu às suas
memórias e nos contou o seu percurso de mais de 70 anos
The example of the Euterpe seems to suggest that
these groups can only survive by keeping an idiosyncrasy
very close to what they have always been, i.e., developing
an important role as a privileged space for amateur musi‑
cal activity and maintaining their function as a centre pro‑
moting musical activity within the places where they are
located. In fact, it is important not to forget that it was a
unique gathering of people of various ages, backgrounds,
occupations, qualifications and, perhaps, tastes, which
gave rise to the Euterpe. Especially since they were united
by friendship, by the spirit of fellowship and the group
and, ultimately, the common love of music which ena‑
bled the Euterpe to surpass its many and diverse obsta‑
cles. In this sense, despite the attraction to adapt to cur‑
rent demands, it is important for the Euterpe to under‑
stand the best way to achieve this without forgetting that,
just as in the past, its survival will always depend on the
ability to keep its space of existence unique among all the
other sensibilities existing in Portalegre. In this sense,
the move to the Robinson Space represents both a chal‑
lenge and a new incentive for the Euterpe, so that as it
enjoys the unique conditions provided for its operation,
it knows how to build a successful new phase in its long
existence, continuing to be present at the most impor‑
tant moments in the life of the people of Portalegre.
It remains for us to express our thanks for the kind man‑
ner in which we were received by the musicians, the con‑
ductor its managerial bodies, who were always available
to help us in the construction of this work which has only
been possible thanks to their availability and their testi‑
monies. We would especially like to thank Sr. António Car‑
rapiço or his kindness, in kindly drawing on his memories
and telling us his journey of over 70 years as a member of
108
na Euterpe, disponibilizando os seus documentos. Os nos‑
sos agradecimentos vão igualmente para a equipa da Funda‑
ção Robinson com a qual sempre contámos e também pela
oportunidade que oferece ao estudo do universo musical das
bandas filarmónicas em Portugal. Agradecemos também à
Câmara Municipal de Portalegre todo o apoio concedido ao
longo da realização desta obra.
109
the Euterpe, making available his documents. Our thanks
go also to the Robinson Foundation team which we have
always been able to count on and also for the opportunity
this offers for the study of the musical universe of phil‑
harmonic bands in Portugal. We would also like to thank
the Municipality of Portalegre for all the support granted
throughout the completion of this work.
Resumos e palavras­‑chave
Abstracts and key­‑words
Resúmenes y palabras clave
Publicações da Fundação Robinson 17, 2011, p. 110­‑111, ISSN 1646­‑7116
110
PORTUGUÊS
e n glis h
espa ñ ol
Novos Habitantes
Sociedade Musical Euterpe
New Inhabitants
Euterpe Musical Society
Nuevos Habitantes
Sociedad Musical Euterpe
Há mais de 150 anos que a “velhinha” Euterpe,
For over 150 years the “old lady” Euterpe, founded
Hace más de 150 años que la “anciana” Euterpe,
fundada a 1 de Dezembro de 1860, dá música à
on 1 December 1860, has provided the city with
fundada el 1 de diciembre de 1860, pone música a
cidade e participa no seu quotidiano, pautando‑
music and participated in its daily life, in terms of
la ciudad y es partícipe de su cuotidiano, paután‑
-o com som e com mestria. O seu nascimento e
its sound and mastery. Its birth and development
dolo con sonido y maestría. Su nacimiento y desa‑
desenvolvimento estão indelevelmente ligados à
are indelibly linked to the mutualistic association
rrollo están indeleblemente conectados a la asocia‑
associação mutualista Montepio Euterpe Portale-
Montepio Euterpe Portalegre, where the Philhar‑
ción mutualista Montepío Euterpe Portalegrense,
grense, na qual a filarmónica representava uma
monic represented a cultural and recreational side
en la que la filarmónica representaba una vertiente
vertente cultural e recreativa que acabou, no
which, however, ended up asserting itself and con‑
cultural y recreativa que acabó, sin embargo, por
entanto, por se afirmar e por se manter mesmo
tinuing on after the winding up of the association
afirmarse y mantenerse incluso después de la extin‑
após a extinção da associação, em 1934. O impor‑
in 1934. The important Euterpe documentary col‑
ción de la asociación, en 1934. El importante acervo
tante acervo documental da Euterpe e outras fon‑
lection and other documentary sources from Por‑
documental de Euterpe y otras fuentes documenta‑
tes documentais de Portalegre permitem-nos
talegre have enabled us in this study to follow the
les de Portalegre nos permiten seguir en ésta inves‑
acompanhar neste estudo a evolução da Banda
evolution of the Philharmonic Band throughout
tigación la evolución del grupo musical a lo largo de
ao longo de século e meio, uma História que a
a century and a half, a history that the Euterpe
siglo y medio, una Historia que Euterpe comparte
Euterpe partilha com a sua cidade.
shares with its city.
con su ciudad.
palavras­‑chave
História
Música
Associação mutualista
Portalegre
Montepio Euterpe Portalegrense
Sociedade Musical Euterpe
keywords
History
Music
Mutualistic association
Portalegre
Montepio Euterpe Portalegrense
Sociedade Musical Euterpe
Palabras clave
Historia
Música
Asociación mutualista
Portalegre
Montepío Euterpe Portalegrense
Sociedad Musical Euterpe
111
União Europeia
FEDER
Investimos no seu futuro
netur
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Sociedade Musical Euterpe