Mais do que local de venda de mercadorias, um mercado, enquanto espaço de confluência de diferentes
mentalidades e saberes, é um importante palco de trocas sociais e culturais.
Em 1427, sob o impulso de D. João I, na zona ribeirinha do Porto, nasce o mercado que viria a ser o principal
abastecedor da cidade.
Além do peixe, da fruta, da hortaliça e do pão, o mercado da Ribeira era local de convívio e animação.
Apesar da sua importância, os transtornos causados à circulação, a falta de sanidade e a degradação levaram
à primeira proposta para a construção do Mercado Ferreira Borges, que remonta a 1839, quando a Câmara
Municipal do Porto expôs ao governo a intenção de construir um mercado que substituísse o da Ribeira.
Mas, só em 1882 a Câmara Municipal do Porto foi autorizada a requerer a expropriação dos terrenos necessários
e nesse mesmo ano o então Presidente da Câmara Municipal propôs a construção de um novo mercado
coberto no terreno não edificado entre as ruas Mouzinho da Silveira, D. Fernando e Ferreira Borges, local que
tinha a vantagem de apesar de estar próximo da Ribeira, se encontrar a salvo das cheias do Rio Douro. Em
Janeiro de 1884 foi apresentado o anteprojecto. Após aprovação das condições, o concurso foi anunciado
em jornais nacionais com o intuito de animar a indústria nacional e por não haver garantia da entrada livre
dos materiais. Apresentaram-se a concurso a Empresa Industrial Portuguesa (de Lisboa), com uma proposta
com o valor de 79.850$000 reis e a portuense Companhia Aliança, com proposta no valor de 78.995$000 reis.
No entanto o concurso viria a ser anulado e em Junho viria a ser aberto novo concurso, sendo agora anunciado
em jornais portugueses, franceses, ingleses e belgas. A 18 de Dezembro foram analisadas as propostas de
Théophile Seyrig, o qual três anos antes tinha ganho o concurso para construção da Ponte Luís I e cujos
trabalhos dirigiu durante 5 anos; a Companhia Aliança; António d’Almeida Costa e Companhia; a Fábrica Tejo;
a Empresa Industrial Portuguesa; e Loureiro e Figueiredo. Em 1885 foi comunicado que nenhuma das propostas
estava de acordo com o regulamento do concurso, no entanto a da Companhia Aliança era a que reunia
melhores condições e foi convidada a efectuar as necessárias alterações de modo a iniciar a construção em
Setembro desse ano. O projecto, da autoria do engenheiro municipal João Carlos Machado, sofreu algumas
alterações, como a colocação de venezianas em lugar dos envidraçados, o novo traçado da escada de acesso
e os ornamentos, de acordo com os padrões estéticos da construção em ferro dessa época, com pequenas
rosáceas, grinaldas e cabeças de felinos. As colunas ocas e de secção octogonal, foram enriquecidas com
capitéis coríntios e funcionam como condutas de águas pluviais. A obra teve o valor final de 70.900$000 reis.
Durante a construção do mercado, uma tempestade derrubaria os andaimes e alguns pilares o que a juntar
a alguns acidentes viriam a causar atrasos na obra, os quais obrigavam a Companhia Aliança a contratar a
Fundição de Oeiras para a construção de duas dezenas de colunas, nas quais é visível a inscrição da Empresa
Industrial de Santo Amaro, evitando a consequente multa da Câmara, a qual estava intransigente em prorrogar
o prazo inicialmente previsto. Estes incidentes podem ter derrubado parte da construção mas não a palavra
da companhia.
Assim, em Maio de 1888, após 3 anos desde o inicio da sua construção, é inaugurado o Mercado Ferreira
Borges.
A cidade ganha não apenas um mercado mas também um importante monumento de ferro que se vem juntar
ao Palácio de Cristal (1867), à Ponte de D. Maria Pia (1875) e à Ponte D. Luís I (1886).
Funcional, prático e económico, o ferro, adquire muita popularidade na época devido às suas características
(que tornam possível, por exemplo, a realização de grandes arcos) e, sobretudo, à existência de inúmeras
fundições, quer na cidade do Porto, quer na cidade de V. N. de Gaia. O edifício serviria como mercado e
durante algum desse tempo acolheria muitos portuenses. No entanto, o hábito de formigar junto ao rio, no
Mercado da Ribeira, prevaleceu e precipitaria o abandono do Mercado Ferreira Borges. Vitima de degradação,
em 1900, a Câmara considerou que o mercado já não oferecia boas condições para o público e inicia-se a
discussão sobre o seu destino. Museu Municipal, Museu Colonial, Museu Industrial ou jardim de Inverno apto
a receber exposições e festas foram algumas das várias propostas sugeridas a partir de 1904. A demolição
uma hipótese que mais tarde foi colocada. Apesar disso, serviu como instalações de uma força do exército,
de despensa de material de guerra, “cozinha dos pobres”, garagem e armazém de retém. Em 1939, a Junta
Nacional de Frutas nele instala o Mercado Abastecedor de Frutas do Porto, o qual esteve instalado até 1978.
Decadente, em 1979, a inauguração do Mercado Abastecedor de Chaves de Oliveira dita novo abandono do
Mercado Ferreira Borges. A actividade cessa mas não a sua degradação.
Enquanto a estrutura de ferro apodrece, os vidros quebrados são substituídos por tábuas. Desde então foram
sendo feitos vários pedidos com vista à recuperação do Mercado.
Impulsionado pelo Arquitecto João Rosado Correia, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, das mãos
do Arquitecto Viana de Lima nasce um novo projecto para o Mercado.
Debaixo da nave principal (central), construiriam-se as estruturas necessárias para o funcionamento de um
centro cultural - museu, teatro, estruturas de apoio social (entre elas as instalações da junta de freguesia).
O projecto seria apresentado à Câmara, presidida pelo Engenheiro Aureliano Veloso. No entanto, os avultados
custos da obra (120.000 contos, 20.000 dos quais comparticipados pela Fundação) revelar-se-iam uma barreira
intransponível. Manteve-se o empenho da Fundação Calouste Gulbenkian e do seu presidente, Dr. Azevedo
Perdigão, na concretização do auxílio assegurando o subsídio caso a Câmara apresentasse uma proposta
concreta.
Só após a tomada de posse do Engº. Paulo Vallada na presidência da Câmara Municipal do Porto surgiria o
compromisso que torna possível parar o abandono e o desaparecimento do Mercado. Do contacto estabelecido
pelo presidente e o Comissariado para a Renovação Urbana da Área da Ribeira/Barredo (CRUARB) nasce
o projecto capaz de compatibilizar as diferentes exigências, restaurando a dignidade do espaço e transformandoo num local capaz de acolher diferentes actividades culturais.
Sobre a alçada do arquitecto Manuel Huet Furtado de Mendonça, responsável pela concretização do projecto
e arquitectura da restauração, do Engenheiro António Leitão Borges, responsável de Engenharia, do Eng.
António Magalhães, responsável pela electrotécnica e iluminação e da Engenheira Alice Barreira, responsável
pelo serviço de água e saneamento, dá-se inicio às obras de recuperação.
Volvido quase um século, a 15 de Novembro de 1983, recuperado pela mesma empresa que o construiu
(Companhia Aliança), o mercado é inaugurado com uma exposição de pintura de Abel Salazar.
Desde essa data, de uma forma tímida, continua a acolher manifestações e actividades culturais.
A actividade dentro do edifício parece alheia ao que o rodeia. O potencial, nomeadamente turístico, continua
por explorar.
Novamente a necessitar de obras de recuperação e sem rentabilidade que permitisse fazer frente aos custos,
a Câmara Municipal do Porto, presidida por Rui Rio, abre a 15 de Fevereiro de 2008, o concurso público tendo
em vista a concepção, projecto, construção, manutenção e exploração, mediante a constituição do direito de
superfície, do espaço.
A 6 de Maio de 2008, o HARD CLUB, apresenta proposta, sendo o único concorrente.
A 22 de Julho, em reunião do executivo da autarquia do Porto, foi aprovada a concessão ao Hard Club da
exploração do Mercado Ferreira Borges.
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