Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita
Ano XII • N.º 41 • 22 de setembro a 21 de dezembro de 2012
Contra-relógio
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
DE MONTANHA
Reportagem
PARQUE NATURAL
DO LITORAL NORTE
Entrevista
GATO-BRAVO
Countdown
MOUNTAIN BIODIVERSITY
Report
LITORAL NORTE
NATURE PARK
Interview
EUROPEAN WILDCAT
SUMÁRIO 3
Gencianas:
Parque Natural
da Serra da Estrela
Outono 2012
Jorge Gomes
FICHA TÉCNICA
Revista “Parques e Vida Selvagem” · Diretor
Nuno Gomes Oliveira · Editor Parque Biológico
de Gaia · Coordenador da Redação Jorge
Gomes · Fotografias Arquivo Fotográfico
do Parque Biológico de Gaia · Propriedade
Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM ·
Pessoa coletiva 504763202 · Tiragem 60 000
exemplares · ISSN 1645-2607 · N.º Registo
no I.C.S. 123937. Dep. Legal 170787/01 ·
Administração e Redação Parque Biológico
de Gaia · Rua da Cunha · 4430-681 Avintes
· Portugal · Telefone 227878120 · E-mail:
[email protected] · Página na
internet
http://www.parquebiologico.pt
·
Conselho de Administração José Miranda de
Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira, Serafim
Silva Martins, José António Bastos Cardoso,
Brito da Silva · Publicidade Jornal de Notícias
· Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes
Gráficas, Rua Consiglieri Pedroso,
90 ·
Casal de Santa Leopoldina · 2730 Barcarena,
Portugal · Capa foto de Raul Comino/Fotolia
Esta revista resulta de uma parceria entre o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”
18 Diversidade biológica
de montanha
contra-relógio
A grande variedade de ecossistemas que se instalam
nas montanhas geram uma atração peculiar. Isso
acontece porque abrigam um vasto património natural,
desenhado pelo clima, pela geologia e por numerosos
seres vivos às mais diversas escalas.
42 Parque Natural
do Litoral Norte
reportagem
Ao longo de 16 quilómetros de costa no litoral norte,
ocupando uma área de 7653 hectares de área marinha
e 1237 de área terrestre, o Parque Natural do Litoral
Norte abrange lagunas costeiras e dunas, manchas de
carvalhal e zonas agrícolas, praias de mar e rio, estas
últimas sob a égide do Cávado e do Neiva.
48 Gato-bravo sob ameaça
de extinção
entrevista
André Silva, investigador, desenvolve trabalho numa
região da Europa onde o gato-bravo sofre maior
pressão, a Escócia: «Tenho como ponto central da
minha investigação a conservação de carnívoros.
Estou a desenvolver trabalho principalmente com
populações de carnívoros consideravelmente
ameaçadas».
SECÇÕES
9 Ver e falar
12 Portfolio
15 Fotonotícias
20 Quinteiro
24 Parques de Gaia
39 Voo das aves
40 Astronomia
52 Migrações
54 Retratos naturais
58 Atualidade
62 Crónica
65 Biblioteca
66 Coletivismo
Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 3
4 EDITORIAL
Por Nuno Gomes Oliveira
Diretor da Revista “Parques e Vida Selvagem”
A conservação da natureza
merece parabéns
Conservação in situ e ex situ – em julho a QUERCUS criou a sua
13.ª micro-reserva de 10.500 m2 para proteger uma população de Leuzea
longifolia existente em Azabucho, no concelho de Leiria (Sítio PTCON0046,
da Rede Natura 2000)
A
Leuzea longifolia Hoffmanns. & Link
foi descrita por estes dois botânicos, que a encontraram em Torres
Vedras e Óbidos quando por ali
andaram a herborizar em maio de 1798 e, já na
altura, a descreveram como sendo muito rara.
Maria de Lurdes Serpa Carvalho e Pedro Ivo
Arriegas, nos Asientos para un atlas corológico
de la flora occidental, (Revisa “Fontqueria” 42,
1995), indicam ainda a ocorrência nas localidades de Vale de Águias e Vale de Gavião, em
Vendas Novas (1947), Pampilhosa e Luso (1886
e 1950), arredores de Sintra (1914 e 1953), lagoa
de Albufeira, em Sesimbra (1943), Ramalhal,
em Torres Vedras, (1938), entre Alcoentre e Rio
Maior (1962), na estrada Marinha Grande-Leiria
(1952, 1957 e 1960) e em Montargil (188?8), de
acordo com registos de vários botânicos. É um
endemismo lusitano protegido pelo Decreto-lei
n.º 140/99, de 24 de abril e pela Diretiva 92/43/
CEE, hoje raríssimo, pelo que a QUERCUS está
de parabéns por mais esta iniciativa.
Mas outra Reserva Natural Local está em vias de
ser criada, desta feita na Praia das Avencas, entre São Pedro do Estoril e a Parede, no concelho
de Cascais. Trata-se de uma zona de areal com
uma extensa plataforma rochosa, que cobre e
descobre com as marés, com 340 espécies de
4 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
fauna e flora identificadas, e desde há décadas
usada para trabalhos de campo pela Faculdade
de Ciências de Lisboa. Já em 1973, no boletim
n.º 14 da Liga para a Proteção da Natureza, o
biólogo Professor Carlos Almaça (1934-2010)
escrevia: “Desde 1957 que visitamos, regularmente, esta praia [das Avencas] e (...) temos vindo, de ano para ano, a observar um empobrecimento considerável da macrofauna” e, depois de
justificar o valor desta praia, conclui: “Esperamos
ter ficado bem explícito, nas linhas anteriores, o
interesse da Praia das Avencas, pelo menos do
ponto de vista científico e pedagógico.” Quarenta
anos depois parece que se vai seguir o seu
conselho, pelo que está de parabéns o Município
de Cascais.
De parabéns está, também, o Aquário Vasco da
Gama por ter conseguido a reprodução ex situ
(em cativeiro) do Ruivaco-do-oeste (Achondrostoma occidentale), com posterior libertação na
natureza, em abril passado, de 400 indivíduos no
rio Alcabrichel (Torres Vedras), de onde vieram os
progenitores. Esta raríssima espécie apenas vive
em três rios da Extremadura e está ameaçada
pela poluição (ver artigo da página 61).
Em agosto, uma equipa do CIBIO (Centro de
Investigação em Biodiversidade e Genética) da
Universidade do Porto libertou na albufeira do
Alqueva (Reguengos de Monsaraz), oito Águiaspesqueiras (Pandion haliaetus), provenientes
da Finlândia e Suécia. A Águia-pesqueira não
cria em Portugal desde 1997, mas continua a
ser vista com frequência durante as migrações,
nomeadamente na “nossa” Reserva Natural Local do Estuário do Douro. Espera-se, com esta
reintrodução, que a espécie volte a fixar-se como
nidificante em Portugal graças ao CIBIO.
Também uma equipa do Parque Biológico
merece felicitações por ter conseguido a
reprodução ex situ do Cágado-de-carapaçaestriada (Emys orbicularis) cujos juvenis serão
devolvidos à natureza, no Algarve; esta espécie,
considerada em perigo em Portugal, é protegida
por lei, mas está ameaçada pela destruição das
zonas húmidas, captura intencional e acidental
e introdução de espécies exóticas que com ela
concorrem, nomeadamente as diversas espécies
de tartarugas-verdes.
Aquecimento global
Mas não é apenas este peixe que está em
perigo; mesmo a ainda vulgar truta (Salmo trutta)
está ameaçada pelo aquecimento global como
demonstram Ana Almodóver e colegas num artigo publicado na “Global Change Biology”, n.º 18
Búteo no Parque da Lavandeira
Diminuição das populações europeias de algumas aves, desde 1995 (Fonte: RSPB, Royal Society
for the Preservation of Birds, 2011)
de 2012; a partir das temperaturas de 33 anos
(1975-2007) e da evolução da espécie, fizeram
projeções para as trutas da bacia rio Aragón
(Pirenéus mediterrânicos) e concluíram que até
2040 a truta perderá, ali, metade do seu habitat
e estará praticamente extinta em 2100.
E para esse aquecimento global contribuíram
os 11.966 incêndios florestais que tiveram lugar
em Portugal no primeiro semestre de 2012 (1 de
janeiro a 15 de julho) e que consumiram cerca de
40 mil hectares, fazendo deste ano o segundo
pior da década, só ultrapassado por 2005.
Fogos florestais que, segundo Jonston Fay, da
Universidade da Tasmânia, Austrália e colegas,
em artigo publicado no Environnement Health
Perspect, n.º 120, de fevereiro de 2012, dão um
contributo importante para a mortalidade global,
que estes autores estimaram numa média de
340 mil mortes prematuras anuais no mundo,
por exposição ao LFS (landscape fire smoke)
que liberta anualmente para atmosfera cerca de
2 mil milhões de kg de carbono.
Espécies a desaparecer,
espécies a aparecer
A última atualização da Lista Vermelha de
Espécies Ameaçadas, da responsabilidade da
IUCN - União Internacional para Conservação
da Natureza, foi apresentada em junho, na
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), e mostra que
das 63.837 espécies avaliadas, 19.817 estão
ameaçadas de extinção, das quais 41% são
anfíbios, 33% corais, 25% mamíferos, 13% aves
e 30% coníferas.
A este propósito, afirmou Julia Marton-Lefèvre,
diretora-geral da IUCN, que “Um futuro sustentável não pode ser alcançado sem conservação
da diversidade biológica - espécies animais e
vegetais, os seus habitats e genes - não só para
a natureza em si, mas também para todos os 7
mil milhões de pessoas que dependem dela”,
e acrescentou que “A sustentabilidade é uma
questão de vida ou morte para as pessoas do
planeta”.
Entretanto cientistas espanhóis e britânicos com-
provaram, recentemente, a presença do Chacal
do Egito ou Lobo Africano (Canis lupus lupaster)
nas montanhas marroquinas do Atlas, onde
era desconhecido, noticiou a revista espanhola
“Quercus” em agosto.
Também nas Filipinas, a ornitóloga americana
Pamela Rasmussen, da Universidade Estatal
do Michigan, ao estudar a Coruja-gavião (Ninox
spilocephala) descobriu, essencialmente a partir
das vocalizações das aves, que afinal não era
uma única espécie como se julgava: identificou
a Coruja-gavião-filipina (Ninox philippensis), a
Coruja-gavião da ilha de Camiguin (Ninox leventisi), de íris azulada, e a Coruja-gavião da ilha de
Cebu (Ninox rumpeseyi). Já na ilha de Tablas, foi
identificada uma subespécie, com o nome Ninox
spilonota fisheri. Lá como cá, Pamela Rasmussen lamenta a destruição do habitat.
No Estuário do Douro os Flamingos regressaram
de novo, um ano depois da primeira observação
e foram fotografados pelo nosso leitor António
Manuel Osório Cabral, em 31 de julho na zona
da Lavandeira (Gondomar) e também observados por outras pessoas ao longo do rio Douro
(página 25).
No Parque da Lavandeira (Vila Nova de Gaia),
o leitor José Pereira Dias fotografou, em junho,
uma Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo) que ali
caça diariamente um ou outro rato.
Outras espécies continuam a sofrer regressão
acentuada e, mais anos menos ano, desaparecem destas paragens, como é o caso da Rolabrava (Streptopelia turtur) que continua a ser
violentamente caçada em Portugal, apesar das
informações disponíveis sobre a diminuição da
sua população europeia. O mais ridículo é que
alguns querem atribuir a culpa desta diminuição,
não ao chumbo das caçadeiras, mas à... competição da Rola-turca (Streptopelia decaocto)!
Leuzea longifolia Hoffmanns. &
Link, gravura 96 da Flore Portugaise
publicada em 1825(?)-1828(?)
dade de Lisboa. Além da sua imensa atividade
como professor, investigador e conferencista,
foi diretor do Museu e Jardim Botânico da
Universidade de Ciências de Lisboa durante 20
anos. Conheci Fernando Catarino em 1976,
numa visita de estudo ao sapal da Ponta da Erva
(Estuário do Tejo), promovida pela Liga para a
Proteção da Natureza, de que ficou o registo
fotográfico anexo; logo percebi que era, e é,
um verdadeiro mestre da arte de ensinar e uma
das pessoas mais bem dispostas que conheço:
“A coisa melhor que há no mundo, é rir. Rir de
nós mesmos. Sou perfeitamente capaz de rir
de mim. E rio-me mesmo. Não me levo muito a
sério. Mas sou sério. A vida ensinou-me a não
ser arrogante, impositivo, convencido”, afirmou
Fernando Catarino, que esteve no Parque
Biológico em 7 de setembro de 2002 a inaugurar
a exposição “Objetos naturais – Metamorfoses
da Raiz, Caule e Folhas”, do Jardim Botânico
de Lisboa e que por aqui queremos voltar a ver.
Parabéns Fernando Catarino e obrigado pelo
que nos ensinou!
Arquivo PBG
Professor Fernando Catarino
Parabéns pelos 80 anos
Completa 80 anos no próximo dia 9 de novembro o Professor Fernando Mangas Catarino, um
dos nossos mais notáveis botânicos portugueses, que se jubilou em 2002, após 50 anos de
docência na Faculdade de Ciências da Universi-
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de 1976:
Catarino
Nuno Gomes Oliveira
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 5
6 VISITA
Marco António Costa, Secretário
de Estado da Solidariedade
e da Segurança Social visita
o Parque Biológico de Gaia
Arquivo PBG
Marco António Costa, Secretário de Estado
da Solidariedade e da Segurança Social
visitou, em 13 de outubro, o Parque Biológico
de Gaia para se inteirar da obra social deste
equipamento do Município de Gaia, sob
gestão da empresa municipal Águas e Parque
Biológico, EEM; à revista Parques e Vida
Selvagem deixou a seguinte mensagem: “O
Parque Biológico de Vila Nova de Gaia é,
hoje, um referencial nacional e internacional
enquanto equipamento ambiental. Importa,
contudo, realçar a sua componente de
responsabilidade social que se materializa
em muitos exemplos, tais como o programa
6 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
de integração de deficientes intelectuais, que
decorre há cerca de 20 anos, e que devido ao
sucesso permitiu já a passagem aos quadros
da empresa municipal de alguns cidadãos com
deficiência, ou os muitos casos de reinserção
social acolhidos pelo Parque Biológico no
âmbito da substituição de penas de multa por
trabalho a favor de comunidade. Igualmente
são de realçar os programas e as iniciativas
que promovem a participação dos cidadãos
seniores proporcionando o seu envelhecimento
ativo num permanente convívio com crianças e
jovens que permanentemente povoam todo o
espaço territorial do Parque Biológico.
Como Vice-Presidente da Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia tive o privilégio de poder
contribuir para a tomada de decisões que
tornaram possível o desenvolvimento de vários
projetos, como a Reserva Natural Local do
Estuário do Douro ou o apelo ao mecenato
com a Campanha de Sequestro de Carbono,
programa pioneiro e inovador em Portugal,
que permitiu alargar recentemente o Parque
Biológico em mais sete hectares.
É pois, para mim, enquanto gaiense, um
orgulho poder ver este símbolo de excelência
referenciado pelo seu papel no âmbito da
responsabilidade social”.
OPINIÃO 7
Por Luís Filipe Menezes
Presidente da Câmara Municipal
de Vila Nova de Gaia
Continuamos a investir
nos parques verdes
Anunciei há dias na Imprensa as prioridades do Município de Vila Nova
de Gaia para 2013 e não foi por acaso que entre os sete principais projectos
de desenvolvimento se encontra a ampliação do Parque Biológico
É
que, em Gaia, damos mesmo uma
enorme importância à sustentabilidade
ambiental, aos espaços verdes e à
educação ambiental como, de resto, a
nossa prática anterior bem demonstra.
Não foi por acaso que a Senhora Presidente
da Câmara Municipal de Setúbal se deslocou
há dias a Vila Nova de Gaia, com um grupo
de técnicos, para observarem in loco o nosso
trabalho nos espaços verdes que, segundo a
Senhora Dr.ª Maria das Dores Meira afirmou à
Imprensa, “É um exemplo excepcional, muito
acima das nossas expectativas, muito acima
das referências que tínhamos. De zero a 20,
eu daria uma classificação de 21. Vou daqui
maravilhada”.
E é assim que queremos que os nossos
visitantes recordem Gaia!
E é para isso que vamos iniciar dentro de dias a
construção do Parque da Ponte Maria Pia, que
na próxima Primavera já acolherá visitantes e,
mais adiante, o Parque da Quinta das Devesas
cuja abertura ao público se admite possa
acontecer no Verão.
E é por isso, também, que queremos neste
mandato concluir a ampliação do Parque
Biológico, no ano em que este equipamento
municipal completa 30 anos de atividade
ininterrupta e sempre em crescimento e
ultrapassa os 2 milhões e meio de visitantes.
Esperamos que nesta recta final do Quadro
Comunitário de Apoio sejam, ainda,
Futuro Parque da Quinta das Devesas
consagrados fundos que permitam concluir ou
renovar os equipamentos em falta no Parque
Biológico, como o Centro de Recuperação de
Fauna que presta um serviço único na região,
reabilitando e restituindo anualmente à natureza
milhares de aves e outros animais que de outro
modo se perderiam, e ajudando a cumprir os
objectivos de conservação da biodiversidade
traçados pela União Europeia e pela ONU.
A meta traçada em Março de 2009, de 6 m2
de espaço verde público por habitante foi já
ultrapassada e esperamos, em 2013, chegar
aos 7 m2, o que totaliza mais de 2 milhões de
metros quadrados de espaços verdes de uso
público, com todas as vantagens inerentes para
a qualidade de vida das populações.
Parque Biológico de Gaia, recepção
Francisco Saraiva
Parque Biológico de Gaia
João L. Teixeira
Futuro Parque da Ponte Maria Pia
João L. Teixeira
João L. Teixeira
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 7
CONCURSO
FOTOGRAFIA ASTRONÓMICA
Observatório Astronómico do Parque
Biológico de Gaia – OAPB Gaia
1.ª EDIÇÃO
2013
OBSERVATÓRIO
ASTRONÓMICO
Consulta regulamento e boletim de inscrição em:
http://www.parquebiologico.pt/doc.php?id=111&PAG=Astronomia
ou consulta o facebook do Observatório em:
http://pt-br.facebook.com/observatorioastronomicopbg
Parque Biológico de Gaia | 4430-812 Avintes
www.parquebiologico.pt | [email protected]
AGUAS
DE
GAIA
Foto: Região de Antares, © Luís Lopes
ÁGUAS E PARQUE BIOLÓGICO DE
GAIA, EEM
Dia Nacional da Cultura Científica
Sábado, 24 de novembro
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PA RATU
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Programa
9h30 – S
aída do Parque Biológico de Gaia em
autocarro em direção à RNLED (Reserva
Natural Local do Estuário do Douro)
10h/11h00 – RNLED - Observação de aves
11h/12h0
0 – Cais da Afurada - artes da pesca/
visita guiada 12h/13h00 – Almoço livre ou em restaurante (sob
marcação prévia)
13h/14h0
0 – Granitos de Lavadores - Percurso
a pé desde a RNLED até à praia de
Lavadores
14h30 – Ribeiras de Gaia - Visita guiada ao
CEAR (Centro de Educação Ambiental
das Ribeiras de Gaia)
15h30 – Dinâmica Litoral - Visita guiada ao Parque
de Dunas da Aguda
16h30 – Museu e fauna Litoral - Visita guiada à
ELA (Estação Litoral da Aguda)
17h30 – Regresso ao Parque Biológico de Gaia
Informações e inscrições
Gabinete de Atendimento: Tel. 22 787 81 37/8;
Fax 22 787 81 28;
E-mail: [email protected]
ELA - Estação Litoral da Aguda
Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda,
4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia
8 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
VER E FALAR 9
Ano XI • N.º
D
e Pirescoxe, em Santa Iria
de Azóia, João Tomaz envia
o seu e-mail: «No dia 11 de
julho procurei a vossa revista
nas bancas na zona de Lisboa, em três
quiosques e em duas bombas de gasolina,
e não consegui adquiri-la. Gostaria que me
enviassem a revista n.º 40. Se o envio tiver
custos mandem-me à cobrança por favor.
Muito obrigado!».
A revista seguiu para a morada indicada.
Como este surgiram muitos e-mails.
O problema liga-se à regionalização da
distribuição da revista, antes de âmbito
nacional.
Da Faculdade de Ciências e Tecnologia, na
Caparica, Sandra Ferreira diz: «Bom dia,
trabalho na Biblioteca do Departamento
de Ciências da Terra e gostaria de receber
a vossa revista se fosse possível para a
integrar na nossa biblioteca».
Seguiram os três números mais recentes da
revista PARQUES E VIDA SELVAGEM, sem
titubear.
Luís Pereira
Abetarda em Valongo
Luís Pereira diz no seu e-mail: «No dia 16
de julho, numa volta em BTT ao final do dia,
pela serra de Suzão, Valongo, encontrei
morta a ave que as fotos documentam.
A causa de morte poderá ter sido um choque
elétrico causado pelos cabos de alta tensão
que se encontravam diretamente acima do
local em que jazia a ave.
Como nunca havia visto anteriormente uma
ave de grande porte por esta zona, para
além de lamentar a sorte desta, fiquei com
curiosidade em saber de que ave se trata.
Ocorreu-me enviar-vos este e-mail na
expectativa de que me consigam esclarecer.
Conseguem identificá-la? É comum na fauna
nacional?».
Nuno Gomes Oliveira, o diretor, respondeu:
«A notícia que fez o favor de nos enviar é
fantástica; presença de ABETARDA (Otis
tarda) no Norte é uma informação raríssima.
Trata-se de uma espécie das estepes
cerealíferas, observável no Alentejo
(particularmente comum na zona de Castro
Verde), mas rara, pois estimou-se a população
portuguesa, no ano 2002, em 1150 aves, com
tendência para decrescer.
No Norte é raríssima, podendo ocorrer em
Trás-os-Montes, pois há uma população
significativa na Reserva Natural de Vilafáfila
(Zamora, Espanha), a uns 60 km, em linha
reta, de Miranda do Douro.
Agora, em Suzão (Valongo), é uma notícia
absolutamente inesperada; poderá indiciar
uma expansão natural da população de
Vilafáfila ou poderá ser um mero acidente
(uma ave que se perdeu).
Teríamos muito interesse em recolher o
cadáver, pois isso permitia, através de análises
genéticas, tentar descobrir qual a população
de origem.
Será que tem a paciência de nos indicar o
local exato, ou nos conduzir até lá?
Entretanto, junto foto da abetarda e
informações, e desde já lhe solicito
autorização para usar as suas fotos e a sua
informação na nossa próxima revista».
de setembro
de 2012
faz parte integran
te da edição
do Jornal de
Notícias e não
pode ser vendida
separadamente
• Distribui
Dunas
ANIVERSÁR
IO
DO PROGRA
MA LIFE
Reportagem
AQUAMUSE
U
DO RIO MIN
HO
Entrevista
MICROFÓSS
EIS
Dunes
LIFE PROJEC
T ADDS 15
YEARS
Report
AQUA MUSE
UM
OF THE MIN
HO RIVER
Interview
MICROFOSS
ILS
Esta Revista
Assim que a revista de verão foi distribuída com
o “Jornal de Notícias” em 11 de julho os leitores
começaram a reagir — quem a procurou fora da
área de distribuição não hesitou, pergunta: Como
posso ter acesso à revista?
junho a 21
ção gratuita
Os leitores escrevem
40 • 22 de
Susana Miranda
Osgas em Pedroso?
Susana Miranda escreve: «Tenho uma praga
de osgas no meu jardim. Todos os anos no
verão vejo mais filhotes nos muros ao sol. É
normal tão a Norte?».
Resposta: «Diz que tem osgas no seu
jardim mas não serão propriamente osgas,
presumo. Talvez sardaniscas, não? Não
serão uma praga, do nosso ponto de vista,
uma vez que se elas não estivessem aí
poderia ter, isso sim, verdadeiras pragas
de espécies de invertebrados que dariam
um sentido mais autêntico à palavra praga.
Deixamos-lhe ligações para ver fotos da
osga mais frequente no Sul e no Nordeste
português e para ver a sardanisca que
deverá estar a ver no seu quintal:
Osga – http://pt.wikipedia.org/wiki/Osgamoura; Sardanisca – http://pt.wikipedia.org/
wiki/Podarcis_bocagei
Disponha».
Bem, afinal, como se vê na fotografia depois
recebida, são mesmo osgas!
Em Pedroso, Vila Nova de Gaia, e há
já vários anos que ali existem. Escreve
Susana Miranda: «Efetivamente parece ser
uma osga-moura embora elas sejam um
pouco mais escuras. Tenho uma enorme,
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 9
10 VER E FALAR
talvez 10 cm, que entretanto perdeu
o rabo que é assim clarinha, as outras
(descendentes suponho) são mais escuras.
No verão passado contei pelo menos 10 de
tamanhos diferentes.
Comecei por ver uma dentro da casota
de madeira do cão há cerca de 3
anos e desde aí o número aumentou
consideravelmente.
São difíceis de ver, pois só aparecem
em noites quentes e deslocam-se
rapidamente.
Já as vi apanharem insetos junto à luz,
mas desconfio que também comem
caracóis, pois aparecem muitas cascas
vazias. Consegui apanhar duas grandes
com uma rede e coloquei-as no jardim da
minha mãe, pois tenho a casa à venda
e receio que os novos proprietários
destruam o jardim ou as matem».
Parque Biológico de Gaia, responde: «Pela
fotografia diria, sem dúvida, que é uma
alga incrustante do género Hildenbrandia,
da família Hildenbrandiaceae. Parece-me
a Hildenbrandia occidentalis Setchell, mas
quanto à espécie já não estou assim tão
certo».
Mais revistas
Abílio Leite
Substância estranha
nas rochas
Abílio Leite escreve em 19 de julho: «Bom
dia. Que substância será esta que está nas
rochas que ficam descobertas na preiamar?».
Henrique Alves, biólogo e técnico do
Os pedidos de aquisição de revistas
mais antigas, por parte de vários leitores,
continuam a chegar.
Como entretanto já não há exemplares em
armazém para atender a todos os pedidos,
a alternativa de reunir uma coleção completa
recai na internet: basta ir ao site
www.parquebiologico.pt, procurar Recursos
e aí Revistas — todas as anteriores edições
da revista «Parques e Vida Selvagem» estão
aí disponíveis.
Conheça as edições do Parque
Desejo adquirir os seguintes títulos nas quantidades indicadas:
IVA incluído à taxa em vigor
Faça a sua encomenda, preencha com os dados:
Livro “Guia da Reserva Natural Local do Estuário do Douro”
de vários autores
Livro “José Bonifácio de Andrada e Silva: Um Ecologista no Séc. XVIII”
de Nuno Gomes Oliveira
Livro “Ecoturismo e Conservação da Natureza”
de Nuno Gomes Oliveira
Livro “Áreas de Importância Natural da Região do Porto
de Nuno Gomes Oliveira
Livro “Manual da Confecção do Linho”
de Domingos Quintas Moreira
Livro “Empresas Municipais”
de Catarina Siquet
Livro “Conservação dos Sistemas Dunares”
de vários autores
Livro “Cobras de Portugal”
de Jorge Gomes
Livro “Uma Escola Sem Muros: Diário de Um Professor”
de Paulo Gandra
Livro infantil “Galvino e Galvão, a Galinha-de-água e o Galeirão”
de Manuel Mouta Faria
Livro infantil “As Histórias de D. Lavandisca Alvéola”
de Manuel Mouta Faria
€5,00
€10,00
€10,00
€25,00
€5,00
€11,00
€5,00
€5,00
€7,00
€15,00
€2,50
(PORTES DE CORREIO NÃO INCLUÍDOS)
[email protected]
10 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
CARTOON 11
Por: Ernesto Brochado
Espaços verdes: Setúbal visita Gaia
O ambiente e os espaços verdes atraíram a
Vila Nova de Gaia uma comitiva da Câmara
Municipal de Setúbal.
“Viemos aprender com a Câmara de Gaia,
de forma muito humilde, o que têm feito nas
várias áreas que nos interessam. Viemos
saber como fazem em relação aos espaços
verdes, a forma de gerir, de tratar, a educação ambiental, enfim, viemos ver como tudo
acontece”, explicou Maria das Dores Meira,
Presidente da Câmara de Setúbal, eleita pela
CDU, referindo-se ao propósito desta visita
que se insere no âmbito do projeto municipal
intitulado “Setúbal fora de portas”.
A comitiva da Câmara de Setúbal foi constituída por Manuel Pisco Lopes, Vereador do
Ambiente e Espaços Verdes, Elsa Lopes,
Diretora das Atividades Económicas e Ambiente, e Sérgio Gaspar, Chefe de Divisão de
Espaços Verdes, e foram acompanhados por
Mercês Ferreira, Vereadora do Ambiente da
Câmara de Gaia, e Nuno Oliveira, Diretor do
Parque Biológico.
Durante todo o dia, a comitiva setubalense
visitou o Parque da Lavandeira, o Parque de
Dunas da Aguda, a Reserva Natural Local
do Estuário do Douro, os jardins do Centro
Cívico de Gaia, e o Parque Biológico de Gaia.
Maria das Dores Meira fez o balanço: “É um
exemplo excecional, muito acima das nossas
expectativas, muito acima das referências
que tínhamos. De zero a 20, eu daria uma
classificação de 21. Vou daqui maravilhada”.
Texto e foto: Natália Lage
Nuno Oliveira, Diretor do Parque Biológico, Maria das Dores Meira, Presidente
do Município de Setúbal, e Mercês Ferreira, Vereadora da Câmara de Gaia
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 11
12 PORTFOLIO
Natureza viva
Até nos dias de muito calor, em julho, o desafio lançado
a Iara e a Marcos seguiu adiante. A ideia era durante
alguns dias juntar imagens do Parque, com equipamento
diversificado.
O percurso de quase três quilómetros tornou-se
um universo de muitos meandros, onde a luz por vezes
parece uma serpente discreta, de múltiplas faces, difícil de
reter. O tempo renovou oportunidades, viabilizou ajustes,
elevou a autocrítica e, por fim, veio o resultado, uma mão-cheia
de trabalhos de onde elegemos alguns para partilhar consigo.
Hipericão de jardim
12 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
PORTFOLIO 13
Alfazema
Iara Nascimento
Marcos Hazime
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 13
14 PORTFOLIO
Iara Nascimento
Marcos Hazime
Iara Nascimento
14 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Marcos Hazime
FOTONOTÍCIA 15
Dente-de-leão
João L. Teixeira
Sementes que gizam o porvir
E
sta veio mesmo na direção do nariz!
Sem recurso, a mão afasta-a…
manda o instinto que o rosto deve
ter contacto mínimo com objetos
estranhos.
Reside nele a sede da visão e de outros
sentidos cujo papel é o de ficarem sempre
alerta, como se aqui e agora não se
pendurasse a nossa espécie no topo da
pirâmide alimentar. Nem sempre foi, nem
sempre é... assim.
Pareceu-me ser esta uma semente de cardo.
Daquelas flores de múltiplas pétalas macias,
rosa-arroxeadas, cercadas de espinhos,
adoradas pelos insetos polinizadores e pelas
aranhas-caranguejeiras.
Seguiu a semente a volitar, carregada no ar
invisível, sem peso que se veja. Por ali jorra o
sol, de olho nela com feição paternal.
Como deusas da nano-engenharia, tabuas,
cardos, dentes-de-leão e outras plantas
conseguem meter um novo indivíduo em
potencial, do princípio ao fim, numa cápsula
mínima rodeada de abundantes plumas à sua
medida, num requinte de ternura.
Tanto parecem agradar ao ar que este as leva
consigo, em viagens imprevistas, cheias de
eficácia.
Outras sementes dispersam-se por diversos
caminhos.
É o caso das do pessegueiro ou da macieira.
Estas árvores deixam-se de devaneios e
sugerem um contrato salarial, tão atrativo que
se atropelam os interessados em lhe acorrer.
As plantas agradaram tanto ao parceiro
humano, que este as cultiva à fartazana,
dispersando espécies e indivíduos como nunca,
nos pomares e na agricultura, tudo para que a
semente receba o cuidado extremo gizado para
cada novo ser.
É em casos destes que não faz sentido um
nosso olhar sobranceiro sobre as outras
espécies.
Herbívoros como corços e garranos, omnívoros
como nós próprios ou os javalis, gostam de
procurar a polpa gostosa, madura, de que
se revestem tais frutos, tudo isso para que
a semente pequenita, ali escondida, passe
incólume nas substâncias escusas do aparelho
digestivo, entre curvas e contracurvas, e saia
presenteada em solo adequado e devidamente
agraciado pela luz.
Mais estratégias existem, variadas, com
engenho e arte em larga escala apontados
para esquemas sábios de sobrevivência das
espécies.
Pelo mar ou pelos rios, vão outras sementes
cercadas de esporos em busca de outras
margens, variando a concorrência, e de olho
nas oportunidades que vêm não no imediato
mas sim em tempo certo, em sincronismo ideal.
Não são transportes rodoviários os que um
fruto tão bonito e tão gostoso como a castanha
usa para se redistribuir.
Envolvidas em espinhos, quais cerdas menos
acutilantes para veados, javalis e quejandos,
quando estes repousam sob a sombra de
castanheiros encorpados, enredam-se os
ouriços no pêlo, até que vão de boleia, a trote
ou em passeio, caminho fora, para caírem
algures.
E o livro de estratégia está longe de estar
fechado…
Texto: Jorge Gomes
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 15
16 PORTFOLIO
FOTONOTÍCIA
Um castinçal era outra louça
S
outos e castinçais: bosquetes de
castanheiro que levam nomes assaz
diferentes.
Souto é uma plantação de castanheiros com vista a obter rendimento da produção
da castanha, fruto que tão bem sabe nesta
época em que o frio se anuncia.
Castinçal por sua vez é quase a mesma coisa,
com a diferença da utilização da madeira de
castanheiro para fins diversos.
Utilizava-se esta madeira para móveis, bancos,
socos, gamelas e muitos outros objetos.
Castinçal e castiçal são palavras parecidas
— depois do corte do tronco o rápido crescimento de novos ramos na árvore lembra a
segunda palavra...
No Centro da península Ibérica, quando acompanhávamos guardas da natureza na Reserva
Natural Garganta de los Infiernos, ao subir a
encosta não vimos acácias nem eucaliptos,
espécies de origem australiana.
Pelo contrário, naquele fim de inverno de há
apenas quatro anos, enquanto o jipe galgava o trilho, via-se a rebentação de ramos
castanhos, ainda sem folhas, a partir de tocos
serrados.
Em Portugal, plantariam eucaliptos provavel-
16 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
mente... Obrigatório confirmar: que árvore é
esta?
Dominguez, adepto do Real Madrid, explicou
que eram terrenos de proprietários privados situados já dentro da reserva. O que estava a ver
eram plantações de castanheiro para aproveitamento da madeira.
O guarda da natureza disse que os eucaliptos
não eram permitidos.
Segundo a lei espanhola, os proprietários estavam autorizados a cortar os troncos regenerados destes castanheiros de 20 em 20 anos, tal e
qual como aqui se explora a cortiça num sobreiro de 9 em 9 anos, para não matar a árvore.
As vantagens de optar por castinçais é notória:
protege o solo e a água e são amigos da biodiversidade.
E estes processos naturais ocorrem tão discretos como a queda de uma simples folha entre
as muitas que se soltam nesta época.
No chão, os nutrientes encarcerados nos seus
tecidos têm de ser libertados. Esse trabalho é
feito por fungos e micro-organismos do ecossistema. Graças ao seu esforço silencioso os
nutrientes regressam à terra e podem ser novamente reutilizados por uma série de seres vivos.
Quando se trata de árvores exóticas, como o
eucalipto, apesar de ser árvore de folha permanente, também deixa cair folhas.
No seu ecossistema nativo, na Austrália, terá
outros seres vivos que lhe desencarceram os
nutrientes, mas na Europa os nossos fungos
e auxiliares pouco podem face à indiferença
da composição estranha dessas folhas, com
químicos surdos à nossa linguagem.
Resultado: a terra empobrece, sujeita-se a uma
erosão acelerada, e mais ainda quando há incêndios em planos inclinados como as serranias...
Assim se criam desertos a médio prazo, locais
onde a vida é muito mais difícil.
Como as árvores não são apenas tronco e
ramos de folhas cantantes ao vento, as raízes,
ocultas, são profundas no eucaliptal. Habituadas a correr terra fora em busca de rala
humidade nos antípodas, são insaciáveis nos
lençóis freáticos e sugam a água em fartos
golos sem se engasgarem, num ritmo que deixa
o solo desvalido.
O oposto faz o carvalhal, o bosque nativo
ex-líbris de Portugal, amigo das fontes de água
pura e da terra fértil.
Que tipo de futuro se está a construir?
Texto: Jorge Gomes Foto: Jorge Casais
FOTONOTÍCIA 17
O fungo e a mosca
A
natureza está repleta de exemplos de seres belos, formas
invulgares e comportamentos
fascinantes.
E é entre as mais fascinantes das criaturas
que se encontram os fungos do género
Entomophthora, um nome complicado que
significa qualquer coisa como “destruidor
de insetos”.
Estes são parasitas obrigatórios de vários
insetos – significa isto que o parasita não
consegue viver sem o seu hospedeiro,
sendo frequente uma espécie de fungo
parasitar uma única espécie ou um grupo
restrito de espécies.
Uma das características mais interessantes
nestes fungos é o modo como manipulam
o comportamento do inseto a seu favor.
Se o inseto parasitado ao morrer caísse ao
solo as probabilidades de dispersão dos
esporos seriam bastante baixas.
Assim, no decurso da evolução, o fungo
“aprendeu” a manipular os insetos de forma a maximizar a dispersão dos esporos e
deste modo chegar a um maior número de
hospedeiros.
Essa estratégia passa por obrigar o hospedeiro a dirigir-se para zonas mais altas,
como a extremidade de uma planta, onde
o inseto acaba por morrer.
Aí, expostos ao vento, os esporos acabam
por se dispersar por maiores distâncias assegurando assim a sobrevivência de uma
nova geração de fungos.
Durante a primavera e outono é frequente
encontrar, sobretudo em zonas com maior
humidade como margens de rios e ribeiros,
dezenas ou centenas de moscas mortas
na extremidade da vegetação herbácea.
As moscas morrem sempre em locais
elevados e adotam uma postura característica: as asas afastam-se do corpo,
as pernas esticam-se, o corpo inclina-se
para a frente e o abdómen incha devido ao
crescimento do fungo que irrompe através
deste.
É em casos como este que podemos ver
os dois lados da mesma moeda em que
o destino cruel dos insetos resulta de um
dos mais belos e elaborados esquemas
que a natureza produziu para manter viva a
chama da vida.
Texto e foto: Rui Andrade
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 17
18 CONTRA-RELÓGIO
Muitas das paisagens que mais enchem
os olhos e ficam na memória aninham-se
nas montanhas
Diversidade biológica
de montanha
A grande variedade de ecossistemas que se
instalam nas montanhas geram uma atração
peculiar.
Isso acontece porque abrigam um vasto
património natural, desenhado pelo clima, pela
geologia e por numerosos seres vivos às mais
diversas escalas.
Nem sempre se dará conta disso, apesar de estarmos na Década da Biodiversidade, mas dos
cumes gelados às florestas tropicais, passando
por áridos desertos, os habitats de montanha
agregam alguns dos mais importantes biomas*
do mundo.
Também as áreas de montanha têm apresentado perdas de biodiversidade em resultado de
atividades humanas, devido em grande medida
a alterações no uso da terra.
As ameaças surgem em todo o Gobo a partir
da expansão da agricultura e da urbanização,
somando-se a exploração florestal insustentável
e os incêndios frequentes.
As alterações climáticas afetam a diversidade
biológica de montanha na medida em que
reduzem a área disponível para os organismos
adaptados a ambientes mais frios.
Em muitos casos, e um pouco por todo o planeta, o ritmo a que as espécies vegetais ascendem
nas encostas das montanhas sugere mudanças
climáticas céleres.
Factos & números
• Conhecidos como “torres de água do planeta”,
os sistemas montanhosos cobrem cerca de
27% da superfície terrestre e deles depende
diretamente 22% da população do mundo, já
que proporcionam água doce a mais de metade
da humanidade.
18 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Isso quer dizer que nas zonas superiores destes
relevos se irão juntar a curto prazo as espécies
de seres vivos que consigam adaptar-se, estando em risco os organismos de habitats-limite do
ponto de vista climático que não terão outros
sítios para onde subir em busca das condições
necessárias à sua sobrevivência.
O Convénio sobre a Diversidade Biológica
adotou um programa de trabalho precisamente
nesta área, que inclui um conjunto de ações
para abordar as características e problemas
específicos dos ecossistemas de montanha.
Esta medida tem por meta conservar a diversidade biológica das montanhas, sustentando a
produção dos bens e serviços destes ecossistemas, contribuindo ainda para a redução
da pobreza e, de acordo com os objetivos de
desenvolvimento do milénio, melhorar a capacidade das instituições e das organizações para
promover a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica.
Fonte: www.cbd.int
* Bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas que
possuem um certo nível de homogeneidade. São as
comunidades biológicas, as populações de organismos
da fauna e da flora interagindo entre si e interagindo
também com o ambiente físico chamado biótopo.
• É nas montanhas que se encontra
aproximadamente um quarto da diversidade
biológica terrestre mundial e são elas que
englobam cerca de metade dos “pontos
críticos” para a diversidade biológica mundial.
• Das 20 espécies vegetais que proporcionam
80% dos alimentos do mundo, seis — milho,
Mountain Biodiversity
countdown
Mountains encompass
spectacular landscapes; a
wide variety of ecosystems,
a great diversity of species,
and distinctive human
communities.
The world’s principal biome
types - from hyper-arid
hot desert and tropical
forest to arid polar icecaps
- all occur in mountains.
Almost every area that is
jointly important for plants,
amphibians and endemic
birds is located within a
mountain range.
Cervunal, Parque Nat
batata, cevada, sorgo, tomate e maçãs — têm
origem em montanhas.
• Os bosques tropicais perenifólios das nuvens,
que albergam as variedades selvagens e as
fontes de diversidade genética de importantes
cultivos de primeira necessidade — como
feijão, batata e café — são a parte mais frágil e
CONTRA-RELÓGIO 19
Endemismo
reaparecido
Carex furva
Carex fu
rva
Modesto
Luceno
tural da Serra da Estrela
José Conde
mais diminuída dos bosques de montanha.
• Uma grande parte de mamíferos domésticos
— ovelha, cabra, iaque domesticado, lama
e alpaca — tiveram origem em regiões
montanhosas.
• A diversidade genética tende a ser maior em
O Centro de Interpretação da Serra da Estrela, do Município de Seia, e o
Centro de Ecologia Funcional, da Universidade de Coimbra, submeteram
no presente ano uma candidatura ao Kew’s Millennium Seed Bank
Partnership.
Este é o maior projeto de conservação ex situ de plantas do mundo cujo
principal objetivo é contribuir para que as metas da Estratégia Global para
a Conservação de Plantas sejam alcançadas (http://www.cbd.int/gspc).
No decurso dos trabalhos de campo que decorrem no Parque Natural da
Serra da Estrela, no âmbito deste projeto, foi redescoberta Carex furva,
espécie que desde a década de 80 do século passado não era observada,
apesar dos esforços de prospeção que decorreram ao longo das últimas
três décadas. Este cárice, referenciado pela primeira vez para a serra da
Estrela em 1880, é um endemismo orófilo ibérico da família Cyperaceae
que ocorre em maciços montanhosos de algumas cordilheiras ibéricas
que estiveram sob a ação glaciária do Quaternário, tais como Somiedo,
Sanábria, Montes de Leão, Gredos, Guadarrama e serra Nevada, em
Espanha, e serra da Estrela, em Portugal.
Trata-se de uma espécie característica de cervunais, turfeiras e prados
cuminais xerofíticos, localizados entre os 1900 e os 3100 metros de
altitude, e que se encontra muito dependente da prolongada cobertura
de neve. De caráter marcadamente alpino denota preferência por locais
localizados no limiar da fusão da neve e, raramente, prospera abaixo dos
2000 metros de altitude, o que faz da serra da Estrela a localização de
menor altitude da espécie e a área em que se encontra mais ameaçada.
O atual cenário de alterações climáticas, os requisitos ecológicos da planta
e o efetivo reduzido da população fazem de C. furva, uma das espécies
mais ameaçadas da flora nacional, correndo sérios riscos de extinção. Os
principais fatores de ameaça são o sobrepastoreio do gado bovino que se
verifica actualmente na serra, a alteração da dinâmica natural dos cursos
de água de montanha (drenagem e poluição) e a pressão turística.
Encontrando-se a população da serra da Estrela no limite inferior de
distribuição altitudinal da espécie, e atendendo aos fatores de pressão que
colocam em causa o equilíbrio e a sustentabilidade dos frágeis habitats
de ocorrência da espécie, revela-se a importância da conservação dos
habitats de montanha para a manutenção da biodiversidade nacional.
Por Alexandre Silva,técnico do Centro de Interpretação da Serra da Estrela – Município de Seia
montanhas associadas à diversidade cultural e
à variação extrema das condições ambientais
locais.
• As montanhas são amiúde santuários de
plantas e animais desaparecidos há bastante
tempo das terras baixas mais transformadas.
Por exemplo, os últimos gorilas de montanha
sobrevivem entre os vulcões de países como o
Ruanda e o Uganda.
• As montanhas são vulneráveis a muitas ameaças
naturais e antropogénicas, incluídos os riscos
sísmicos, os incêndios, os câmbios da crusta
terrestre, a intensificação agrícola, a instalação de
infra-estruturas e os conflitos armados.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 19
20 QUINTEIRO
Rever
as plantas
Nesta altura do ano a flora entra em
repouso vegetativo e a nidificação das aves
já passou: uma boa altura para melhorar
a biodiversidade do seu jardim
Isso quer dizer que não corre o risco de expor
ninhos durante a poda de uma sebe ou até
de trucidar em pleno rejuvenescimento uma
planta como ocorreria na primavera.
É dentro deste ponto de vista que se diz ser
esta altura do ano a melhor para rever as
espécies de plantas que reúne no seu jardim.
O quadro atual terá derivado de critérios
estéticos — a beleza das flores ou das folhas
no seu conjunto —, de valores pragmáticos
— aquelas plantas que não exigem grande
cuidado — entre outras motivações.
Nessa altura não terá feito esta pergunta: são
as espécies escolhidas, que vê agora no seu
jardim, atrativas para os animais silvestres que
gostaria de rever no seu jardim?
O normal é que se tiver uma certa quantidade
de plantas próprias da sua região —
conhecidas como autóctones ou nativas — já
está a atrair essa simpática vida selvagem.
As aves que saltitam no seu jardim adaptam-se a uma ementa sazonal.
Outono é época de sementes e frutos.
O sabugueiro é um arbusto habitual na região
e é suficientemente descarado, no bom
sentido, para aparecer subitamente no seu
quintal.
Provavelmente uma toutinegra ou um melro
que visita o seu pequeno espaço verde
defecou por ali, depois de ter comido algumas
bagas nas redondezas.
A semente aquietou-se, discreta, e germinou.
Acontece o mesmo com os loureiros,
árvores típicas dos antigos jardins urbanos
que costumavam ter a contento esta árvore
20 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
– com boa folha para temperar o assado
domingueiro.
Se tiver algum recanto viável, pode instalar ou
simular uma sebe.
Cabe aí a madressilva, outra bela presença,
com interesse para a observação de vida
selvagem. Se no estio dão flores do agrado de
muitos insetos, no início do outono as bagas
vermelhas servem muitos bicos.
Nas sebes escondem-se aranhas e
lagartas, mais larvas e formigas, caracóis e
escaravelhos que atraem uma boa fasquia de
aves selvagens.
Outras plantas existem muito pouco
valorizadas que pode deixar no sopé de um
muro: as gramíneas espontâneas.
No fundo as gramíneas são as ervas que dão
grão. Na história, cativaram o ser humano de
modo a serem plantas largamente cultivadas
em todo o Globo.
No Ocidente, foi o cultivo trigo. No Oriente, é
o arroz.
Há milhares de outras espécies deste
largo grupo que se espalham por campos
e caminhos, e também no seu quinteiro,
gerando grãos a que as aves dedicam especial
atenção.
Além das plantas nativas outras há que podem
aumentar significativamente o interesse dos
animais silvestres.
É o caso de alguns pés de girassol que
agora dão inúmeras sementes, sem olvidar o
medronheiro e a sorveira, Sorbus aucuparia.
Contudo, uma vez que quando o frio se
aproxima há maior necessidade de calorias,
Toutinegra-de-barrete
poderá instalar um comedouro dedicado à
passarada que visita o seu jardim.
Entre o estio e a primavera, as novas gerações
de aves irão passar por testes duros após os
quais só os mais adaptáveis e mais robustos
conseguirão sobreviver.
E até estes, com a escassez de habitats de
alimentação, poderão ser apoiados por si.
Basta instalar fora do alcance dos gatos um ou
mais alimentadores com mistura de sementes.
Isso irá fornecer o suplemento alimentar
necessário à passagem das estações mais
frias do ano.
Texto: JG
QUINTEIRO 21
Chapim-carvoeiro
Pombo-torcaz
Tordo
Chapim-real
Pica-pau-malhado-gran
de
Verdilhão
Altos e baixos
Uma organização britânica de ornitologia*
registou as espécies vistas em jardins de
observadores de aves selvagens…
Plants in your garden
Autumn signals the end of
the nesting season. This a
good time to think about
the species of the plants you
are using in your garden.
Have you asked yourself this
question already? Are the
plant species you are using
the best ones to attract birds
into your garden or near
your home?
– Pisco-de-peito-ruivo
Desde meados da década de 80 que estes
piscos de peito alaranjado aumentaram de
número estando agora a ser vistos em 80%
dos jardins.
– Pombo-torcaz
Aumentaram significativamente em meados
da década de 70. Hoje é a quarta espécie mais
observada nos quintais ingleses.
– Verdilhão
Desde 2006 que a quantidade de verdilhões
vistos nestes jardins desceu 20%, muitos
afetados por uma doença conhecido por
tricomoníase. Agora só se veem em metade
dos jardins.
Pisco-de-peito-ruivo
Estorninho
– Pica-pau-malhado grande
Nos anos 70 esta ave terá beneficiado de
doenças que atacaram algumas espécies de
árvores e criaram aí novos ninhos. Estes picapaus são observados em 25% dos jardins.
– Tordo-comum
Nunca foram um visitante habitual dos
jardins ingleses mas ainda assim nota-se
que a população está a diminuir desde 1980.
Vê-se em menos de metade dos jardins sob
contagem.
– Estorninhos
Tem decrescido em toda a Europa desde a
década de 80 e também se vê em menos de
metade dos jardins britânicos.
* British Trust for Ornithology.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 21
22 QUINTEIRO
O fogo bacteriano é uma doença que afeta fruteiras
e plantas ornamentais da família das rosáceas, provocando
importantes prejuízos económicos, com particular impacto
na atividade agrícola
Fogo
bacteriano
O agente causal da doença é a bactéria
Erwinia amylovora (Burril) Winslow et al.
E. amylovora é um dos organismos de quarentena que consta dos anexos do Decretolei n.º 243/2009 de 17 de setembro e suas
alterações. Este diploma, que define as
medidas de proteção fitossanitária destinadas a evitar a introdução e dispersão no
território nacional e comunitário, incluindo
nas zonas protegidas, de organismos prejudiciais aos vegetais e produtos vegetais
qualquer que seja a sua proveniência,
transpõe para o direito nacional a Diretiva
2000/29/CE, do Conselho de 8 de maio, e
suas alterações.
Conforme consta do Reg. (CE) n.º
690/2008 da Comissão de 4 de julho,
Anexo I, b), ponto 2, relativamente à Erwinia
amylovora (Burr.) Winsl. et al, Portugal é
considerado zona protegida para a totalidade do seu território, isto é, uma região
para a qual o organismo prejudicial não é
endémico nem está estabelecido, apesar
de existirem condições favoráveis ao seu
estabelecimento.
Assim, a partir de 1994, de forma a Portugal manter a sua situação fitossanitária
perante os restantes Estados-membros,
em cada campanha, sob a coordenação
da autoridade fitossanitária nacional (actual
DGAV- Direcção Geral de Alimentação e
22 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Veterinária) tem sido implementado um
programa de prospeção em todo o território nacional a fim de serem detectados
eventuais focos da doença e se proceder à tomada das respetivas medidas de
proteção. A metodologia seguida assenta
essencialmente na observação da presença
de sintomas em potenciais hospedeiros
e na colheita de amostras para análise
laboratorial. Na região Norte de Portugal
este programa de prospeção tem sido da
responsabilidade da Direcção Regional de
Agricultura e Pescas do Norte - Divisão de
Protecção e Controlo Fitossanitário.
Atendendo ao aparecimento de diversos
focos da E. amylovora nos últimos dois
anos em território português, com maior
expressão na região do Oeste em pomares
de pereiras, conforme consta nos editais
publicitados, houve necessidade de serem
implementadas medidas acrescidas de
proteção de modo a erradicar e ou conter
o Fogo Bacteriano. Neste contexto, foi
publicada legislação complementar, Portaria n.º 287/2011 de 31 de outubro, que
estabelece medidas adicionais de proteção
fitossanitária destinadas ao controlo no
território nacional, da referida bactéria, com
vista à sua erradicação ou quando esta não
for possível, à sua contenção.
Assim, a fim de ser implementada no
terreno uma estratégia de controlo integrada contra o fogo bacteriano envolvendo
diferentes entidades com recurso a diversos
instrumentos, foi elaborado um plano
nacional para o controlo do fogo bacteriano
sob a coordenação da Direcção Geral de
Alimentação e Veterinária (DGAV).
Sintomas
Presença de necroses de cor castanha a
negra, dependendo do hospedeiro, que
lembram o aspeto de queima, daí a designação de “Fogo Bacteriano”.
Os ramos necrosados, folhas e frutos, mantêm-se aderentes à planta, adquirindo uma
posição arqueada em forma de bordão.
Os frutos imaturos também podem
apresentar necroses castanhas a negras,
parciais ou completas, dependendo do
seu estado de desenvolvimento, ficando
desidratados, com aspeto “engelhado”,
permanecendo aderentes ao corimbo. Nas
folhas são visíveis manchas de cor castanha a negra ao longo da nervura principal e
nas margens.
Nos ramos e troncos desenvolvem-se
cancros em depressão, com fendilhamento
irregular da casca. Se a casca for removida
observa-se uma coloração castanha-avermelhada dos tecidos.
Francisco Quirino
usa
Rui de So
Rui de Sousa
Pormenor
de raminho
morto
Necrose nas folhas
Árvore afetada pela doe
nça
Raminho arqu
eado em form
a de bordão
Necrose total dos frutos
Francisco Quirin
o
Em todos os órgãos afetados é possível observar a presença de exsudado bacteriano
(líquido viscoso de cor creme a alaranjada).
Hospedeiros
Malus spp. (macieiras), Pyrus spp. (pereira), Cydonia spp. (marmeleiro), Eriobothrya
japonica (nespereira), Rubus spp. (amorasde-silvas), Sorbus spp. (sorveira), Prunus
salicina (ameixeira-japonesa), Amelanchier
spp., Chaenomeles spp. (marmeleiro-dojapão), Cotoneaster spp., Crataegus spp.
(escalheiro), Mespilus germanica (nespereirada-europa), Photinia spp., Pyracantha spp.,
Rosa rugosa e Pyrus amygdaliformis.
Biologia
Na primavera a bactéria penetra na planta
através dos gomos foliares e florais, das
aberturas naturais (estomas, lentículas e
hidátodos) e de pequenas lesões, sendo
transportada pelo vento, chuva e insetos.
Rui de Sousa
Após a infeção primária dos raminhos, e
na presença de elevada humidade relativa,
produz-se o exsudado bacteriano, que permite a dispersão da bactéria pelos insetos
polinizadores (nomeadamente as abelhas) e
operações culturais incorretas.
A plantação de material vegetal infetado
e assintomático é um meio importante de
introdução da bactéria.
s folhas
Necroses na
irino
Francisco Qu
Autores:Gisela Chicau - Engenheira
Agrónoma - (DRAPN – DPCF),
Leonor Cruz - Investigadora (INIAV), Miguel Rebelo – Engenheiro
Agrícola (DRAPN – DPCF).
BIBLIOGRAFIA
Agrios, G. N. (2005) Plant Pathology,
5th Edition, Elsevier Academic Press,
London, UK. 922pp
Meios de controlo
Cruz, L. (2010) Fogo Bacteriano –
Não existe tratamento curativo para o fogo
bacteriano.
Na plantação de pomares novos deverão
usar-se as variedades menos suscetíveis e
vigiar o aparecimento de sintomas.
Realizar as operações culturais antes da
rega e manter os níveis de fertilização equilibrados são medidas recomendadas.
Em caso de suspeita da doença, deverá
entrar de imediato em contacto com os
técnicos da Direcção Regional de Agricultura
da sua área geográfica.
INIA/UIPP (Boletim técnico 05).
Erwinia amylovora. Lisboa: INRB/LDGADR (2011) Manual de Boas
Práticas para o Controlo do Fogo
Bacteriano, Lisboa. 35pp.
EPPO/CABI Data Sheets on
Quarantine Pests – Erwinia amylovora
(www.eppo.int/QUARANTINE/listA2.
htm) (21-09-2012)
Teviotdale, B. L. (2011) Fire Blight.
University of California (Publication
7414) (www.ipm.ucdavis.edu) (2109-2012).
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 23
24 DUNAS
Cordão dunar
Se partir da Reserva Natural do Estuário
do rio Douro rumo a sul, ao longo de cerca
de 14 quilómetros palmilha a zona costeira
do concelho de Vila Nova de Gaia.
Nesse trajeto encontra um litoral rochoso,
de que é exemplo o maciço granítico de
Lavadores e um cordão de dunas, fundamental para travar o avanço do mar.
Além dessa função, o corolário de dunas
é habitat de dezenas de espécies de
plantas nativas e de múltipla fauna selvagem.
É por isso que se encontram instalados
regeneradores dunares, estruturas de
madeira que ajudam a dar mais corpo às
dunas, estabilizando-as.
Também de madeira, os passadiços desempenham um papel insubstituível para
João L. Teixe
ira
que esta paisagem possa ser fruída pela
população que a visita, seja para a apreciar seja para uma caminhada revigorante. Sem eles, as plantas morreriam e as
suas longas raízes desfazer-se-iam nas
dunas. Nalgumas destas dunas, ocorre
o habitat prioritário n.º 2130, segundo
a diretiva específica emanada da União
Europeia.
Parque de Dunas
da Aguda
João L. Teixeira
24 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Quando o outono anuncia a chegada de
um ar mais frio, as plantas das dunas já
estão a soltar as suas sementes.
Com estratégias das mais variadas,
contam com uma mão-cheia de agentes
dispersores.
Em muitos casos basta o vento.
Por exemplo, o lírio-das-praias, Pancratium
maritimum, depois da grande flor branca
murchar, solta as sementes envolvidas
por uma matéria preta de aspeto esponjoso, parecida com um fragmento de pau
queimado, muito leve. Sob a ação do vento,
dispersam-se dunas fora, até que encalham, ficam soterradas de areia e brotam
em tempo útil. Outras plantas, como as
artemísias e as da família das crucíferas,
contam com seres vivos para esse efeito.
Aves, migradoras ou residentes, alimentam-se delas e dispersam as sementes ao
defecarem.
O mesmo fazem as espécies de rato do
campo que ali vivem e até insetos armazenadores de sementes.
Centro de Interpretação da RNLED
Reserva Natural Local
do Estuário do Douro
Os avistamentos de flamingos no rio Douro começam a ser recorrentes...
O
sório Cabral escreve em 9 de
agosto: «Resido no Porto e faço
caminhadas regulares na pista
pedonal entre a marina do Freixo e
Gramido. Desconhecendo a entidade mais indicada para divulgar o que relato a seguir, tomei
a liberdade de vos contactar, convicto de que,
caso vejam interesse nisso, o poderão divulgar.
No passado dia 31 de julho de 2012, pelas
9h40, avistei, no meio do rio Douro, na zona
da Lavandeira (Gondomar), um bando de aves
pernaltas, de pé sobre um banco de areia
submerso que sei existir no local.
Em anexo envio a foto original que tirei na
altura, com o zoom no máximo.
Pareceram-me flamingos, bem como aos
companheiros de caminhada que me chamaram a atenção para as aves.
Recortei a foto e ampliei-a, mas a resolução
possível não me permitiu uma identificação
positiva. Enviei a imagem para um amigo de
Lisboa, com experiência de fotografar flamingos no Tejo e com melhores ferramentas para
tratar fotografias, e ele identificou as aves da
foto como flamingos. Estou a reportar este
avistamento por saber que é raro, mesmo no
estuário do Douro,* pensando que pode ter
interesse a sua divulgação. Caso não tenha
interesse, desde já peço desculpa pela maçada
de me lerem».
Nuno Gomes Oliveira respondeu: «Bom dia,
Senhor Osório Cabral. Muito agradeço a sua
informação, que para nós é preciosa.
Já registámos outros avistamentos de flamingos
no Douro, nomeadamente no Cabedelo, e este
grupo que agora relata também foi visto por um
nosso jardineiro que costuma ir pescar para o
Douro.
“subir” ainda mais e a visitarem o rio Douro.
Autoriza a publicação da foto que nos enviou na
nossa revista “Parques e Vida Selvagem”, para
registar o avistamento? Claro que com indicação do autor. Se fizer o favor de nos enviar o
seu endereço postal, terei todo o gosto em lhe
enviar o Guia do Estuário do Douro, com identificação de todas as espécies que ali ocorrem».
A migrar
Flamingos no rio Douro
Osório Cabral
Os flamingos, que até há 30, 40 anos eram raros, e apenas vistos entre o Algarve e o estuário
do Tejo, começaram a “subir”; desde há alguns
anos são presença regular, e em grande quantidade, na ria de Aveiro. Trata-se de indivíduos
jovens, provenientes das colónias de nidificação
de Espanha e França. Em 2010 foi, pela primeira vez, confirmada a nidificação de flamingos na
Lagoa dos Salgados, no Algarve.
Agora, desde há dois ou três anos, estão a
Nesta época do ano a atividade migratória das
aves selvagens aumenta.
Embora os primeiríssimos movimentos rumo
a sul já se tenham iniciado em julho, com aves
como os cucos, é entre outubro e novembro
que se consegue ver mais espécies forçadas a
migrar entre o Norte europeu e África.
A Reserva Natural Local do Estuário do Douro
é um ótimo local, muito acessível e bem apetrechado, para dar um gosto à vista no que toca à
observação destes animais alados.
Nos primeiros domingos de cada mês, entre as
10h00 e o meio-dia, há sessões de observação de aves selvagens com a presença de um
ornitólogo.
* ver http://www.google.com/hostednews/
epa/article/ALeqM5i1rm3owyRQ_r_6T_
Ua6K9WycLSXA
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 25
26 LITORAL
Ensino e investigação na
A Estação Litoral da Aguda (ELA) está localizada na praia da Aguda, uma
pequena aldeia piscatória, 10 km a sul do estuário do rio Douro, no concelho de
Vila Nova de Gaia
O
edifício envolve um Museu das
Pescas, um Aquário e um Departamento de Educação e Investigação.
A ELA pertence à Câmara Municipal de Vila Nova
de Gaia (CMG), é gerida pela Fundação ELA e
está ligada ao Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto
(UP), onde o autor é docente há 30 anos. Aberta em julho de 1999, recebeu até agora 310 mil
visitantes.
Educação ambiental
A ELA disponibiliza oito programas pedagógicos
com os mais variados conteúdos de Biologia e
Ecologia Marinhas para jardins-de-infância, escolas e o público em geral, abrangendo todos os
níveis de escolaridade e de faixas etárias.
Ensino superior
No âmbito do protocolo de colaboração, celebrado em 1997, entre a CMG e o ICBAS/UP, são
lecionadas várias aulas de licenciatura*: Sistemática de Vertebrados (15 horas); Tecnologia das
Pescas (34 horas); Ecologia Aquática (49 horas);
Lampreias, Tubarões e Peixes Ósseos, para Veterinários (2 x 2,5 horas); e Mestrado: Produção
de Peixes Ornamentais (50 horas)*; Introdução à
Biologia e Ecologia Marinhas (50 horas)*.
Libertação de lavagante marcado
26 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
As vantagens para o ensino e a investigação são
a proximidade de um Litoral rochoso com as
suas espécies características, de uma frota pesqueira e artes de pesca artesanal locais, de uma
lota com o pescado local de importância económica, de um Museu das Pescas com 2000 objetos, para conhecer a pesca artesanal, ao nível
local, regional e mundial, e de um Aquário com
60 espécies da fauna e flora aquáticas locais, sobretudo marinhas.
Estágios
Desde 1999, foram concluídos na ELA 18 estágios sobre vários temas no âmbito da Ecologia
Marinha, Aquacultura e Pesca.
Supervisão de mestrados
e doutoramentos
Entre 1998 e 2012, foram elaboradas oito teses
de mestrado e uma tese de doutoramento, estando atualmente um doutoramento em curso
que analisa os impactos naturais e artificiais sobre os organismos da zona-entre-marés.
Investigação científica
Em colaboração com o ICBAS, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental
(CIIMAR), o Instituto Hidráulico e de Recursos
Estação Litoral da Aguda, ELA
Hídricos (IHRH) da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto (FEUP) e a Fundação para
a Ciência e Tecnologia (FCT), foram já concluídos
nove projetos de investigação. Dos dois projetos
que estão a decorrer atualmente, destaca-se
“Pesca, recaptura, cultivo e repovoamento do
lavagante europeu (Homarus gammarus)”.
Esta espécie deu sinais de desaparecimento
em muitos lugares ao longo da costa europeia,
provavelmente devido à captura excessiva, à ausência de políticas de conservação e/ou à falta
de fiscalização efetiva. É um crustáceo valioso,
muito apreciado na gastronomia mas com um
crescimento muito lento. São animais que à medida que envelhecem, crescem menos, ou seja,
os mais novos crescem mais e em menos tempo
do que os mais velhos. Um exemplar que ultrapassa os três quilos poderá bem ter 50 anos de
idade.
Vários programas de conservação, proteção e
repovoamento nasceram nalguns países, como
na Espanha, Inglaterra, Noruega, Irlanda e Alemanha. Como não houve nenhum estudo, nem
projeto acerca do lavagante em Portugal, iniciouse em 2006 um estudo com o objetivo de tentar
saber o grau de risco desta espécie na praia da
Aguda, como exemplo para o Norte de Portugal,
já que há bastante tempo os pescadores comentavam que estavam a apanhar cada vez menos
LITORAL 27
Estação Litoral da Aguda
Fêmea de lavagante com ovos
animais e de menores dimensões. Notou-se que
poucos pescadores cumpriam os tamanhos mínimos previstos na lei (20 cm de comprimento
total ou 8,5 cm do cefalotórax).
Os primeiros trabalhos envolveram estudos sobre
a biometria, proporção de sexos e a distribuição
do lavagante. Procurou-se recolher estes dados
para determinar a evolução e a situação atual da
população do lavagante na praia da Aguda, bem
como recolher informações sobre o crescimento em meio natural de animais recapturados na
pesca (profissional e experimental) e libertar lavagantes juvenis criados em laboratório.
Em 2006, iniciaram-se marcações e libertações
de lavagantes juvenis, capturados na pesca
experimental e provenientes da pesca comercial, adquiridos na lota, que não apresentavam
o tamanho mínimo previsto na lei, evitando que
fossem vendidos para consumo. Contando com
mais 19 animais, que foram marcados e libertados em setembro de 2012, foram reintroduzidos
no mar um total de 171 lavagantes, desde o início do projeto.
A taxa de recaptura dos animais marcados e
libertados chegou aos 10%. Entre os valores
máximos mensais, encontrou-se um ganho de
Lavagantes juvenis com 6 semanas
Lavagantes juvenis com 3 meses
Lavagante juvenil com 6 meses
Lavagante europeu (Homarus gammarus)
peso de 51 g e um crescimento do cefalotórax
de 0,4 cm.
Em paralelo, surgiu a necessidade de avaliar o
potencial desta espécie para a aquacultura, com
o objetivo de aumentar o “stock” natural, através
de animais cultivados em laboratório e posteriormente libertados no mar.
O cultivo desta espécie é dificultado pelas altas
mortalidades derivadas do canibalismo e da inadequada alimentação (até 95 %), que ocorrem
durante as fases larvares desta espécie.
Conseguiu-se atingir uma taxa de sobrevivência
até à fase juvenil de 30,0% mas, no ensaio seguinte, essa taxa diminuiu para 3,3%, correspondendo a um lote de 185 juvenis. Destes animais,
12 sobreviveram e foram eles os primeiros a ser
libertados pela ELA, em setembro de 2011, após
completarem um ano de idade. Esta ação decorreu com a ajuda de um mergulhador que levou
os pequenos lavagantes, separadamente, até ao
fundo do mar, onde foram libertados entre 8 e 10
metros de profundidade, à frente de pequenos
buracos e pedras sobrepostas.
O objetivo deste projeto, a longo prazo, é adquirir conhecimentos sobre o estado da população
local e o aperfeiçoamento de diferentes técnicas
de cultivo. Em paralelo, irá fornecer as condições
necessárias para um repovoamento sistemático
do lavagante no mar da Aguda.
Publicações
Desde a apresentação da ideia da ELA
à CMG, em 1989, foram publicados pelo
autor e seus colaboradores 19 livros de
divulgação científica, 23 artigos e comunicações científicas em revistas e congressos internacionais, 4 artigos e comunicações científicas em revistas e congressos
nacionais, 22 artigos de divulgação científica em revistas internacionais e nacionais, 13 cartazes, 17 folhetos informativos, um calendário e um catálogo. Os
conteúdos destas publicações focam a
fauna e flora marinhas da praia da Aguda,
revelam a história e a vida social do núcleo piscatório da praia da Aguda, e dão
a conhecer os ecossistemas aquáticos
em geral. O vigésimo livro está previsto
para 2013 e analisa a história do anzol no
mundo, ao longo dos tempos.
Por Mike Weber
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 27
28 LITORAL
Um lavagante chamado Jorge
O “Jorge”, um lavagante europeu (Homarus
gammarus), foi capturado numa rede no dia
23 de fevereiro de 2012, por uma traineira
em frente a Espinho, a cerca de 30 metros de
profundidade. Chegou à Estação Litoral da
Aguda no mesmo dia, à noite.
Após uma quarentena de quatro meses
foi transferido, no dia 5 de julho, para o
aquário de exposição n.º 11, onde está
a viver com dois robalos, um mero e um
pequeno cardume de tainhas… recebendo
sete refeições por semana, compostas por
sardinhas, lulas e caranguejos.
“Jorge” pesa neste momento 5,550 kg e
mede 53 cm de comprimento total, do rostro
até à cauda. O seu cefalotórax tem 23 cm, o
que exclui as garras e o abdómen, inclusive o
télson. Estas dimensões são muito raras.
O “Jorge” teve muita sorte por não ter sido
capturado antes. Provavelmente tinha um
esconderijo seguro, talvez os destroços de
um barco afundado, onde passava a sua
vida, sobretudo noturna, longe das artes de
pesca (que aí não eram lançadas devido ao
risco de perda), até à madrugada do dia 23
de fevereiro, quando a sua última escapada,
longe da toca, lhe traçou o destino.
28 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
O tamanho mínimo legal de captura do
lavagante em Portugal é de 20 cm de
comprimento total, medido do rostro até ao
télson, ou de 8,5 cm de comprimento do
cefalotórax. A maioria de animais capturados
pesa até 1.5 kg e indivíduos com mais de 3
kg são exceções.
O recorde mundial pertence a um lavagante
americano que foi capturado na Nova
Escócia em 1977 com 20,14 kg e 1,06 m,
medido do télson até à ponta da maior garra.
O recorde europeu é detido por um lavagante
com 9,3 kg e 1,26 m de comprimento total,
que foi capturado em 1931 durante os
trabalhos de reconstrução de um quebra-mar
em Cornwall, na Inglaterra.
Não é possível dizer exatamente quantos
anos o “Jorge” tem mas pode tentar-se fazer
uma estimativa.
A idade de um lavagante americano
(Homarus americanus) é calculada pelo peso,
que aumenta cerca de uma libra (453 g)
em cada 7 a 10 anos de vida. Esta espécie
cresce mais rapidamente e atinge maiores
dimensões do que o lavagante europeu.
Aplicando estes valores, o “Jorge” poderia ter
bem 80 anos, portanto teria nascido antes
da II Guerra Mundial. Será possível que um
crustáceo decápode atinja uma idade tão
avançada?
Ao envelhecer, as pessoas e a maioria
dos animais enfraquecem e perdem a
fertilidade, sofrendo mudanças anatómicas
e fisiológicas características. As células são
constantemente substituídas por novas
células, conforme as especificações no ADN.
Com o tempo, o ADN altera-se, as células
perdem a capacidade de divisão perfeita e os
seres vivos envelhecem.
A investigação científica mostra que os
lavagantes não apresentam os mesmos
sintomas da idade porque possuem uma
enzima que repara naturalmente o ADN. De
facto, se não fosse por captura, ferimentos
ou doenças, tudo leva a crer que os
lavagantes poderiam viver indefinidamente.
Por Mike Weber
ELA - Estação Litoral da Aguda
Rua Alfredo Dias, Praia da Aguda,
4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia
Tel.: 227 536 360 / Fax: 227 535 155
[email protected]
www.fundacao-ela.pt
ESPAÇOS VERDES 29
Parque Botânico do Castelo
João L. Teixeira
Agora que as plantas avançam para o repouso
vegetativo próprio desta estação do ano, no
Parque Botânico do Castelo, em Crestuma,
requer a sua visita.
Também sítio arqueológico, no verão passado
foi alvo de uma nova campanha arqueológica.
Com esta intervenção abriu-se uma nova frente
de trabalho que pôs a descoberto a implanta-
ção da torre nascente desta construção da Alta
Idade Média, evidenciando o assentamento das
estruturas defensivas de madeira cobertas por
telhados cerâmicos.
Confirmou-se também a existência de um cais
romano em Crestuma.
Campanha organizada pelo Gabinete de
História, Arqueologia e Património da Confra-
ria Queirosiana, teve o patrocínio da Águas e
Parque Biológico de Gaia, EEM e a colaboração
do Solar Condes de Resende no apoio técnico
e estudo, tratamento e divulgação do espólio
exumado.
No ano que vem prepara-se a realização de um
colóquio internacional sobre estas construções
de elevado interesse histórico.
Parque da Lavandeira
João L. Teixeira
Neste sol de outono o Parque da Lavandeira é um espaço de lazer que
fica em Oliveira do Douro.
Nos seus onze hectares, encontra percursos pedestres que serpenteiam por entre o arvoredo, com jardins temáticos de onde em onde.
Aqui e ali encontra locais para merendar e as suas crianças podem
divertir-se nos parques de jogos ou no labirinto de sebes, um verdadeiro
desafio à deteção de pormenores visuais.
Com entrada grátis, este espaço verde é a escolha certa de inúmeros
visitantes.
Semanalmente há várias iniciativas.
Aos sábados de manhã, “As mulheres do campo vêm à vila” e há venda
de legumes sem pesticidas. Com orientação da responsabilidade da
Dr.ª Luísa Bernardo, que proporciona a atividade em regime de voluntariado, há yoga às quartas e sextas-feiras às 9h45. Às segundas-feiras e
às quintas-feiras, pode participar em aulas de Tai Chi às 9h30.
Tudo isto é grátis. Pode seguir o Parque da Lavandeira no Facebook,
no site www.parquebiologico.pt (botão Parque da Lavandeira), e-mail
[email protected] ou telefonar para 227 878 138.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 29
30 EVENTO
Diane Nelson, investigadora norte-americana da East Tenessee University, apresenta as conclusões do evento
João L. Teixeira
Tardígrados: simpósio internacional
Para o cidadão comum
têm um nome pitoresco,
os tardígrados
— entre 23 e 25 de julho
juntaram no auditório
do Parque Biológico de
Gaia uma centena de
investigadores de todos
os continentes
Vinte e um países, 79 participantes, 35 apresentações, 40 pósteres: a síntese foi descrita
por Diane Nelson, cientista norte-americana, nas conclusões do evento, feitas
de uma forma tão rigorosa quanto divertida.
Mas, afinal, o que são estes bichos?
«Os tardígrados são animais de pequenas
dimensões (0,05 a 1,5 mm) que constituem
um filo independente, aparentado com o
grande grupo zoológico que inclui insetos,
crustáceos, aracnídeos, miriápodes, que são
os artrópodes», diz Paulo Fontoura, professor
universitário, investigador e mentor do evento.
Se se considerar a vida a uma escala significativa mais pequena encontramos este
grupo, o dos tardígrados, seres pluricelulares aquáticos também conhecidos como
“ursos-de-água” devido ao seu aspeto ao
microscópio.
Têm quatro pares de patas, invariavelmente
com garras e um aparelho bucal complexo.
Paulo Fontoura, um dos poucos investigadores da área em Portugal, já contribuiu para a
descoberta de uma dúzia de novas espécies
nos últimos anos, tendo sido duas delas identificadas no Parque Biológico de Gaia.
Em Portugal estão descritas perto de 66
espécies, mas o cidadão comum nunca ouviu
falar tanto de tardígrados como quando a
Agência Espacial Europeia os utilizou em
experiências no Espaço, no âmbito do projeto
TARDIS (TARDigrades In Space) e TARSE
(TArdigrade Resistance to Space Effects). Estes animais participaram em várias missões,
Lorena Rebecchi. da Universidade de Modena e Reggio Emilia, Itália
João L. Teixeira
30 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
João L. Teixeira
EVENTO 31
Sigmer Quiroga, da Universidade de Magdalena, na Colômbia, apresenta o seu tema
João L. Teixeira
«tendo sido submetidos a experiências sobre
sobrevivência em condições extremas, em
espaço aberto, suportando o vácuo, raios
cósmicos e radiações ultravioleta mil vezes
superiores às da Terra».
Uma das características destes pequenos
animais é referida como criptobiose, algo que
refere uma incrível capacidade de sobrevivência em condições adversas.
Há espécies de tardígrados que, elucida
Paulo Fontoura, «podem sobreviver à secura
extrema, a temperaturas da ordem de -270º
C». Como se não bastasse para serem
fantásticos, «os tardígrados também são
capazes de resistir a altas concentrações
de substâncias tóxicas (álcool absoluto, por
exemplo), ao vácuo, etc.». E depois «podem
regressar ao estado ativo ao fim de cerca de
uma dezena de anos em criptobiose». Estas
capacidades típicas dos tardígrados abrem
horizontes pragmáticos, «nomeadamente ao
nível da reparação do ADN, com potencial
aplicação em investigação médica (oncologia
e envelhecimento) e biotecnológica».
São muitos anos de evolução: aponta-se
para uma «origem de há cerca de 600 milhões de anos, no Pré-Câmbrico».
Tão antigos quanto atuais, o próximo simpósio internacional ficou marcado para dentro
de três anos em Modena, na Itália.
Organizado pelo Departamento de Biologia
da Faculdade de Ciências da Universidade
do Porto e pelo Parque Biológico de Gaia o
12th International Symposium on Tardigrada
Sessão de pósteres
verá os seus temas publicados pelo “Journal
of Limnology”(*). As conferências internacionais sobre tardígrados vêm já do século
passado, tendo começado em 1974, na
cidade de Pallanza, Itália, em homenagem a
G. Ramazzotti, na época o investigador mais
conceituado desta área científica. Desde
então, esta iniciativa de índole internacional
junta dezenas de investigadores oriundos
dos mais variados países e é organizada por
instituições prestigiadas, a fim de debater
temas como a filogenia e biologia molecular,
a taxonomia, a biogeografia, a fisiologia e
ecologia destes peculiares “ursos-de-água”.
Texto: Jorge Gomes
(*)
www.jlimnol.it
Shinita Fujimoto, da Universidade de Quioto, Japão
João L. Teixeira
João L. Teixeira
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 31
32 ESPAÇOS VERDES
Magusto
Na véspera do dia de S. Martinho,
assinalado pelo calendário, o magusto
da época está a ser preparado no
Parque Biológico de Gaia
João L. Teixeira
Sábado, 10 de novembro, entre as 14h00 e as
17h00, pode participar com a família na recriação
de um magusto tradicional que já vem sendo
habitual neste Parque nos últimos anos.
Para as escolas, o magusto está marcado para
sexta-feira, dia 9 de novembro.
Para participar tem de fazer a inscrição no
Gabinete de Atendimento, que funciona de outubro
a fevereiro 9h00/18h00; os telefones diretos são
estes: 227878137 e 227878138.
E-mail: [email protected].
Agenda
DIA DO ANIVERSARIANTE
No dia em que cada visitante comemora o
seu aniversário, o Parque Biológico de Gaia
faz questão de o presentear oferecendo-lhe a
entrada livre nesse feliz dia. Para esse feito terá
apenas de mostrar o seu cartão de cidadão.
Sábado no Parque
Em 3 de novembro o Parque prepara algumas
atividades especiais para os seus visitantes,
sem custos a não ser o bilhete de entrada
habitual neste equipamento de educação
ambiental.
Programa: 11h00/12h00, atelier “Iniciação
à fotografia”; 14h30, conversa do mês
“Fotografia da natureza”; 15h00, “Exposição
do Concurso de Fotografia Parques e Vida
Selvagem, com a entrega dos prémios aos
32 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
A curto prazo o Parque Biológico de Gaia propõe-lhe
vencedores – trata-se da 10.ª edição desta
iniciativa e vão ser expostos cerca de meia
centena de trabalhos distinguidos pelo júri;
15h30/17h30, visita guiada pelos técnicos do
Parque e percurso ornitológico; 22h00/23h30,
atividades de astronomia a partir do
Observatório Astronómico do Parque Biológico
de Gaia (inscrição necessária). Depende das
condições atmosféricas.
Oficinas de Inverno
Estes espaços lúdicos e educativos criados
para os seus filhos trazem atividades que se
destinam a idades entre os 5 e os 15 anos.
Decorrem de 17 a 21 e de 26 a 28 de
dezembro, com entrada às 9h00 e saída
às 17h30.
Encontra mais informações indo a
www.parquebiologico.pt, clicando em
Atividades e depois em Campos e Oficinas.
Anilhagem científica
de aves selvagens
Nos primeiros e terceiros sábados de cada
mês, das 10h00 às 12h00, os visitantes do
Parque podem assistir de passagem pelo
percurso de descoberta da natureza (Quinta do
Chasco) a estas atividades, se não chover.
GUIA DE ATIVIDADES
O guia de atividades do Parque Biológico
para 2012/2013 está disponível no site
www.parquebiologico.pt.
Ao longo das suas 12 páginas encontra tudo o
que é essencial saber para visitar o Parque, seja
com a escola seja com a família.
ESPAÇOS VERDES 33
Que será isto?
A
estas iniciativas...
Receba notícias por e-mail
Para os leitores saberem das suas iniciativas
a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma
visita semanal a www.parquebiologico.pt.
A alternativa será receber os destaques,
sempre que oportunos, por e-mail.
Para isso, peça-os a:
[email protected]
Mais informações
Gabinete de Atendimento
[email protected]
Telefone direto: 227 878 138
4430-681 AVINTES - Portugal
www.parquebiologico.pt.
J. S. Claro Oliveira
revista PARQUES E VIDA
SELVAGEM de verão, ao ser
distribuída com o «Jornal de
Notícias» em 11 de julho, levou
nesse mesmo dia Duarte Silva a escrever
no seu e-mail: «Hoje vi a revista on-line
e vi as duas espécies para adivinhar.
Reconheci a ave sem a menor das dúvidas:
é um melro-d’água, cujo nome científico é
Cinclus cinclus».
Muito bem. Foi o primeiro a acertar numa
das duas espécies propostas, o que lhe
reservou em primeira mão um dos prémios.
Viemos a saber que mora em Ponte de
Lima e, na lista de obras publicadas pelo
Parque Biológico de Gaia, escolheu o livro
“Ecoturismo e conservação da natureza”,
que lhe foi logo enviado.
Vera Lúcia Fonseca foi quem se seguiu
entre os mais rápidos a acertar na espécie
que faltava: «Boa noite, a planta é uma
Camarinha ou camarinheira, Ericaceae Corema». Dizia também, simpática, que
«esta revista como todas as outras está
com excelente qualidade». Obrigado pela
simpatia!
Nesta nova edição, quem sabe se não
Jorge Casais
chega a sua vez de alcançar algum prémio?
Para esta edição de outono, ficam as
fotografias em cima.
É capaz de identificar estes seres vivos?
Se for, não deixe de nos dizer! As
fotografias publicadas são sempre de vida
selvagem que já foi observada na região.
As respostas mais rápidas recebem como
prémio um dos livros editados pelo Parque
Biológico de Gaia. Deve ser indicado
um dos nomes vulgares reconhecidos
ou, melhor ainda, o género ou o nome
científico. Se acertar numa só de ambas
as espécies, a sua resposta é igualmente
considerada na lista das mais rápidas.
Envie-nos o seu e-mail (revista@
parquebiologico.pt) ou carta (Parque
Biológico de Gaia - Revista “Parques e
Vida Selvagem” - 4430-681 Avintes)! O
prazo para as respostas termina em 9 de
novembro de 2012.
Os leitores já premiados em edições
anteriores só o serão se não houver outra
resposta certa (este item só é válido
durante um ano a partir da atribuição do
prémio). Então, já sabe o nome de alguma
destas duas espécies?
ObservaNatura:
turismo de natureza
J
unto ao Moinho de Maré da Mourisca,
no estuário do Sado, a ObservaNatura
ocupou o fim-de-semana de 13 e 14 de
outubro.
Constituiu a 4.ª edição da feira dedicada ao
turismo ornitológico, uma modalidade focada
na atividade de observação de aves. O evento
incluiu atividades de fotografia, pintura e
ilustração da Natureza.
O vasto programa da feira “ObservaNatura”
propõe workshops, minicursos, passeios pela
Reserva Natural do Estuário do Sado, por terra
e no rio para observação de aves, oficinas e
sessões de anilhagem.
Com entrada livre, esta Feira organizada pelo
Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF)/ Reserva Natural do Estuário
do Sado e pela Tróia-Natura, conta com vários
parceiros, entre eles o Turismo de Portugal, a
Câmara Municipal de Setúbal, a Sociedade
Portuguesa para o Estudo das Aves, a
Associação Baía de Setúbal e a Birds & Nature.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 33
34 ESPAÇOS VERDES
Novidades de flora
Musgo-sedoso dos muros
Homalothecium sericeum (Hedw.) B.S.G.
Este musgo predominantemente saxícola
(que significa “amante de rocha”) é muito
característico e fácil de distinguir com uma
observação atenta. O seu nome comum
deve-se ao facto de esta espécie ter uma
textura sedosa e dos seus tufos se alastrarem
e recobrirem densamente as rochas ou o
cimento dos muros, paredes e lajes. Apesar
disto, também é possível encontrá-lo sobre
os troncos e ramos de muitas árvores,
especialmente nas com mais idade.
Quando os tufos estão secos têm uma
cor amarela-acastanhada, especialmente
dourada. Os caulóides (órgãos análogos
a caules) crescem em várias direções e
estão fortemente aderentes ao substrato
por numerosos rizóides (órgãos análogos
a raízes). Os pequenos ramos (com menos
de 1 cm) ficam arqueados e enrolados
quando secos, com os filídeos (órgãos
análogos a folhas) muito justapostos e
fechados. Os filídeos apresentam 2.5-3
mm de comprimento e são em forma de
lança muito aguçada. Assim que chove ou
orvalha, os ramos e filídeos rapidamente se
abrem e estendem, ficando os tufos com
uma aparência muito mais densa e fofa e de
uma cor mais esverdeada e menos dourada.
As cápsulas (órgãos onde se formam
os esporos envolvidos na reprodução
sexual) têm 2-3 mm de comprimento e
são cilíndricas.
Apesar do seu tamanho relativamente
pequeno, os seus tufos podem atingir
dezenas de centímetros. Por outro lado,
sendo uma espécie perene, pode estar
viva e presente durante mais de 10 anos
sem nunca desaparecer nem morrer
desde que as condições favoráveis ao
seu crescimento se mantenham. Tal como
acontece com outras espécies de musgo,
esta espécie era colhida para pôr no
presépio, mas também foi outrora usada
para calafetar paredes e impedir a entrada
do frio nas casas do Norte da Europa.
É uma espécie cosmopolita nas zonas de
clima temperado a fresco (zona holártica
do Globo terrestre), presente na Europa
e Norte de África. Em Portugal, é uma
espécie frequente um pouco por todo o
país. No Parque Biológico de Gaia pode ser
facilmente observada em todos os muros e
em alguns troncos de carvalhos e freixos.
Texto: Cristiana Vieira e Helena Hespanhol
Foto: Sónia Ferreira (CIBIO-UP)
Novidades de fauna
Abetouro-galego
«No passado sábado, 11 de agosto, na minha visita ao
Parque Biológico tive a sorte de fotografar este exemplar
quando aguardava o guarda-rios. Só na anilhagem tinha
visto um rouxinol-grande dos caniços!», diz António
Pereira, referindo-se ao lago junto à ponte de madeira no
percurso de descoberta da natureza.
Quanto a nascimentos o destaque vai, desta vez, para
as crias de abetouro-galego, Ixobrychus minutus, que
viram a luz do dia em julho no Parque. De quatro ovos,
eclodiram três. Agora já estão do tamanho de adultos.
Trata-se da espécie de garça de menor dimensão do
património natural português, nem sempre fácil de
observar no estado selvagem.
34 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
João L. Teixeira
ESPAÇOS VERDES 35
João L. Teixeira
Centro de Recuperação
Uma pardela-de-bico-amarelo
era visitante habitual do estuário
do Douro
Num qualquer centro de recuperação de
fauna selvagem há histórias de sucesso,
sempre que os animais debilitados acabam
por melhorar e reunir condições para a sua
sobrevivência em liberdade.
Outras vezes não é assim, pois não se
fazem milagres. O Centro de Recuperação
do Parque Biológico de Gaia recebeu
das mãos de agentes da PSP, em 26
de agosto, vinda do cais de Gaia, uma
pardela-de-bico-amarelo, Calonectris
diomedea, em mau estado.
O diagnóstico preliminar foi traumatismo
crânio-encefálico e tudo foi feito para
estabilizar a ave, disse Sara Loio, médicaveterinária.
Apurou-se através de um frequentador de
um dos cafés-bar do cais de Gaia e pela
proprietária de um destes estabelecimentos
que desde há cerca de quatro anos, no
verão, uma pardela visitava habitualmente
o dito café. A ave entrava nas instalações e
circulava entre os clientes. Segundo estas
pessoas, num desses sábados, de noite, a
pardela terá pousado no café em frente e
alguém, violento, «pegou na ave, colocou-a
no chão da esplanada, deu-lhe em cheio
com um cabo de vassoura na cabeça e
atirou-a do 1.º andar».
Instalada a confusão geral, com polícia ao
barulho, o dito homem desnorteado terá
apagado as luzes e desapareceu, ficando a
autoridade a empreender a identificação do
indivíduo que agrediu a ave.
Infelizmente, a pardela acabou por não
reagir aos tratamentos e morreu.
Desde julho que havia observação desta
espécie no cais de Gaia. Na noite de 18
de agosto João Luís Teixeira fez o registo
fotográfico. Esta espécie não estava ainda
listada na biodiversidade do concelho de
Gaia.
António Pereira
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 35
36 ESPAÇOS VERDES
Dia Mundial
do Animal
Ninguém sabe se o milhafre recuperado
para uma vida em liberdade percebe
o que de bom lhe vai acontecer:
«não há mal que sempre dure nem bem
que nunca acabe»
Na Escola Básica de Susão, em Valongo, há cerca de 400 alunos e professores que ouvem a explicação de Alexandra Cruz, técnica do Parque Biológico de Gaia, prestes a soltar a ave de rapina debilitada que deu entrada no
centro de recuperação em 7 de junho deste ano, entregue pelo SEPNA.
É assim face à comemoração, em 4 de outubro, do Dia Mundial do
Animal.
Aliás, nada que o Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque
não faça habitualmente durante todo o ano…
Diante de tanta gente, de início a voz apoia-se num megafone, mas como a
expectativa é grande, o silêncio de quem quer ouvir dispensa-o: «Os milhafres são aves protegidas, que nesta altura estão em deslocação migratória
para sul, nomeadamente para África».
Com cuidado, Alexandra retira por fim a ave da caixa de transporte. O animal reconhece o ambiente, vê o céu daquela manhã e quando as mãos o
soltam abre as asas e retoma o prazer de voar.
O momento breve fica na mente dos que assistem – quem sabe se não virá
a ser uma história a ser contada aos netos dentro de algumas décadas?
Ao longo deste dia, houve uma série de libertações, sendo a maioria em Vila
Nova de Gaia. O primeiro local desta sucessão de animais libertados foi o
Parque de Dunas da Aguda, às 10h30: dois borrelhos-de-coleira-interrompida. Seguiu-se meia hora depois a Reserva Natural Local do Estuário do
Douro, onde uma rola-do-mar regressou a habitat adequado.
Pelas 14h30, um milhafre reabilitado abriu asas no Parque Botânico do
Castelo, em Crestuma, e às 16h00 em Matosinhos, na quinta da Conceição, outro exemplar desta espécie fez o mesmo. Em Oliveira do Douro, pelas 19h00, no Parque da Lavandeira teve lugar a libertação de uma coruja e
de um ouriço-cacheiro recuperados. À mesma hora dois mochos-galegos
recuperados retomaram a sua vida em liberdade no Parque Biológico de
Gaia, e uma hora depois na Maia, no Parque de Avioso, seguiu-se a devolução à natureza de um mocho e de uma coruja.
Por fim, já noite, às 21h00, dois mochos-galegos foram libertados em S.
João da Madeira, na Casa da Natureza, no Parque do rio Ul.
Regra geral estes animais foram entregues como juvenis, caídos de ninhos
e encontrados por alguém. Acabaram de se criar, foram reabilitados, e regressaram à natureza. Este centro de recuperação recebe, em média, cerca de 3 mil animais por ano, e cerca de metade conseguem ser restituídos
à natureza. Outros chegam ao Parque em mau estado, com tiros de caça,
por exemplo, sem qualquer hipótese de sobrevivência.
Nesta comemoração passou-se a ideia de que deve haver preocupação
com a conservação da biodiversidade — esta não é só o lince da Malcata.
36 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Parque de Avioso, Maia
Deborah Castro
Escola Básica de Susão, em Valongo
Pedro Almeida
Em Valongo, Alexandra Cruz prestes a libertar um milhafre recuperado
Pedro Almeida
Quinta da Conceição, em Leça da Palmeira
Rosário Lóio
ESPAÇOS VERDES 37
Vânia Monteiro
Tartarugas exóticas
ameaçam biodiversidade
Em Mire de Tibães,
perto de Braga,
nasceram
espontaneamente,
no passado mês de
março, no jardim da
casa de Vânia Monteiro,
seis crias de um casal
de tartaruga-hieroglífica,
Pseudemys concinna
Com cerca de dez anos de idade e 18 cm
(macho) e 25 cm (fêmea) de comprimento de
carapaça, este casal de cágados exóticos é
prolixo — já em 2011 foram observadas pelos
donos cinco posturas: “A fêmea começa por
cheirar todo o jardim, dá voltas e mais voltas e,
depois de libertar um líquido que molha a terra,
escava um buraco com cerca de 15 cm, põe
os ovos e tapa de forma que ninguém percebe
que a terra foi mexida”.
As seis tartarugas desta espécie, recém-nascidas, foram deixadas ao cuidado do Parque
Biológico de Gaia e os donos, conscientes,
estão atentos no sentido de impedirem novas
incubações.
Esta é uma das espécies atualmente comercializada no nosso país proveniente dos EUA
e, embora as condições climáticas tenham
sido alteradas (através da rega do jardim), aqui
está a prova que o perigo da reprodução desta
espécie, através de libertações nos nossos
cursos de água por proprietários mal informados, é mesmo real.
Fica aqui o alerta: se tem uma tartaruga e não
a consegue manter, entregue-a num centro de
recuperação, como o RIAS-Olhão ou o Parque
Biológico de Gaia.
Ambas as instituições estão envolvidas no projeto LIFE-Trachemys, centrado na conservação
da biodiversidade, que tem em vista proteger
as duas espécies nativas de cágado da fauna
ibérica da introdução de espécies exóticas,
que acabam por diminuir a diversidade da vida
nos habitats autóctones.
Para saber mais pode visitar na internet www.
cma.gva.es e www.facebook.com/lifecagados.
Texto: Ana Mafalda
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 37
38 ESPAÇOS VERDES
Libertação de um andorinhão anilhado
Ricardo Vieira
Anilhagem científica:
seis anos de dados
As sessões de anilhagem científica de aves
selvagens no Parque Biológico de Gaia
contaram seis anos de atividade contínua em
setembro.
Em ação na quinta do Chasco, em pleno percurso de descoberta da natureza, o grupo dá
formação a voluntários. Pedro Andrade, entre
os vários formandos, é o primeiro a conseguir
a Credencial de Aprendiz de Anilhador.
Parece pouco, mas segundo a lei em vigor
teve de processar mil aves de 40 espécies,
passeriformes e não passeriformes.
Esta credencial permite a captura e a anilha-
38 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
gem sem estar presente anilhador credenciado, posse de material, mas sempre sob a supervisão e responsabilidade de um anilhador
e com as anilhas pertencentes a este.
Há outras credenciais, mas para alcançar
a dita cuja foram muitas madrugadas nos
últimos anos a erguer cedo e a bulir na instalação das redes que permitem a colheita de
dados deste setor da biodiversidade.
Isto é possível sob a supervisão de dois
anilhadores científicos credenciados, Rui M.
Brito, biólogo, e António C. Pereira, químico.
Com seis anos de acumulação de dados será
possível ir começando a relacionar, através
dos dados das anilhas, o domínio territorial,
longevidade, hábitos migratórios, viabilizandose conclusões que ajudam a conhecer melhor
a vida selvagem que existe na região.
Caso queira assistir a uma parte da atividade
deste grupo de anilhagem científica de ave
selvagens basta visitar o percurso de descoberta da natureza do Parque Biológico de
Gaia e encontrá-los-á na quinta do Chasco
nos primeiros e terceiros sábados de cada
mês, entre as dez e as 12h30, desde que
não chova.
BATER DE ASA 39
Esta gaivota-de-asa-escura,
com a anilha azul N-JAR,
esteve na RNLED entre
8 e 25 de agosto deste ano
e em 8 de julho de 2010
sabe-se que esteve
na Bélgica
Paulo Faria
O voo das aves
Uma codorniz, Coturnix coturnix, marcada
com a anilha n.º GA5272 em 22 de agosto de
2011 na República Checa por Horak Miroslav, foi recapturada em Azinhaga, na Golegã,
distrito de Santarém, morta a tiro, em 24 de
novembro de 2011. Entre um local e outro
percorreu 1819 quilómetros em 94 dias.
Um tordo-comum, Turdus philomelos,
recebeu em França, das mãos de François
Gossmann, em 27 de setembro de 2008, a
anilha n.º JA555146. Foi recapturado em 31
de janeiro de 2010 em Bragança por Tiago
Santos, de Mirandela. Este tordo deslocou-se
em 491 dias 1198 quilómetros.
Na Reserva Natural Local do Estuário do
Douro são mais que muitas as anilhas em
trânsito.
A anilha de cor HUA4 transportada por uma
gaivota-de-cabeça-preta, Ichthyaetus melanocephalus, foi registada nesta Reserva entre
7 de agosto e 17 de setembro de 2012. Em
5 de junho de 2010 tinha-lhe sido aplicada a
anilha metálica Budapest382069, na Hungria,
por Domján András.
Uma gaivota-de-asa-escura, Larus fuscus,
marcada com a anilha de cor N-JAR esteve
na RNLED entre 8 e 25 de agosto deste ano.
Imagine onde andaria esta ave em 8 de julho
Esta gaivota-de-cabeça-preta
– anilha de cor HUA4 – foi vista
na Reserva Natural Local do
Estuário do Douro entre
7 de agosto e 17 de setembro:
2012.8.11
de 2010? Na Bélgica, em Voorhaven! O ano
passado, em 11 de julho, já tinha sido vista
na RNLED... Foi também possível saber que
outra gaivota-de-cabeça-preta permaneceu
na RNLED de 7 de agosto até 17 de setembro deste ano. A anilha de cor verde 5MO,
fácil de identificar, viabilizou a informação:
esta ave já visitara a RNLED em 11 de junho
do ano passado, estando em 1 de agosto
de 2011 na Afurada.
Em 2012, entre 5 de maio e 8 de junho pousava na Camarga, em França – bom gosto!
Em 11 de agosto e em 17 de setembro foi
novamente vista na RNLED.
Outra gaivota-de-cabeçapreta - anilha 5MO - visita
no verão Vila Nova de Gaia
há mais de um ano - perde
a cor preta da cabeça no
outono: 2012.8.10
Paulo Faria
Paulo Faria
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 39
40 ASTRONOMIA
Júpiter:
o planeta gigante
Conhecido desde a Antiguidade,
o planeta Júpiter deve o seu nome
ao mais importante dos deuses romanos
No início do século XVII, Galileu Galilei observou pela primeira vez Júpiter através de
um telescópio rudimentar, detetando detalhes na atmosfera do planeta e as suas
quatro maiores luas. Desde então o nosso
conhecimento do planeta evoluiu muito.
Júpiter é o maior planeta do Sistema
Solar. Orbita o Sol a uma distância média
de 778 milhões de quilómetros, pouco
mais de cinco vezes a distância da Terra
ao Sol. O ano joviano, período necessário
para que o planeta percorra a sua órbita
em torno do Sol, é de 11.8 anos terrestres, uma consequência da sua maior
distância ao Sol. Trata-se de um planeta
de dimensões colossais. No seu diâmetro
equatorial de 143 mil quilómetros caberiam 11 Terras alinhadas. A sua massa,
318 vezes superior à da Terra, é constituída maioritariamente por hidrogénio e hélio,
os elementos mais leves e abundantes
no Universo. Por esta razão Júpiter é o
protótipo de um tipo de planeta designado
Gigante Gasoso.
Apesar de receber menos radiação solar
do que a Terra, Júpiter tem uma fonte de
calor interna, resultante do seu processo de formação, que torna o interior do
planeta e a sua atmosfera extremamente
dinâmicos. Assim, e apesar do seu tamanho, Júpiter tem um período de rotação
de apenas 9 horas e 55 minutos.
Quando observado a partir da Terra,
Júpiter apresenta-se no céu como um
ponto luminoso branco-amarelado de
brilho intenso e é dos primeiros astros a
aparecer no céu após o crepúsculo, condições essas que vão ocorrer ao longo do
outono. Será possível nos próximos meses
observar Júpiter a aparecer cada vez mais
40 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
cedo no horizonte Este: às 23 horas no
início de outubro; às 21 horas no início
de novembro e às 19 horas no início de
dezembro. Para identificar o planeta basta
orientar-se para o ponto cardeal Este e
procurar o astro mais brilhante nessa zona
do céu.
A imagem em que se identificam algumas
estrelas e constelações, mostra a localização atual de Júpiter, na constelação do
Touro. Aldebaran, a estrela mais brilhante desta constelação, brilha com uma
tonalidade alaranjada à direita de Júpiter.
Mais acima e do lado direito, encontra-se
Capella, a estrela mais luminosa da constelação do Cocheiro (Auriga). Por baixo
observa-se a constelação do Orionte,
onde se encontram Betelgeuse (alaranjada), Rigel (branca-azulada) e as três estrelas praticamente alinhadas que formam o
cinturão de Orionte. Do lado esquerdo de
Orionte observa-se ainda a constelação
dos Gémeos (Gemini). Esta configuração
do céu na direção do horizonte Este é
visível cerca de duas horas depois do
aparecimento de Júpiter.
O Observatório Astronómico do Parque
Biológico de Gaia vai realizar sessões de
observação dedicadas a Júpiter ao longo
do outono e do inverno. Irão ser realizadas
palestras para divulgar os segredos que o
planeta encerra, bem como a sua observação visual e através de câmaras de
vídeo acopladas aos telescópios.
Para acompanhar estas atividades pode
seguir o facebook do OAPBG:
http://www.facebook.com/observatorioastronomicopbg
Texto: Joaquim Gomes
Imagens obtidas através do telescópio principal do OAPBG
– 2011-10-22, em cima vê-se uma mancha avermelhada
que é um enorme furacão que perdura há mais de 400
anos e à direita uma das luas, Io; em baixo, foto obtida
em 2011-11-26.
Observatório Astronómico do Parque Biológico de Gaia
João L. Teixeira
Jupiter
The Biological Park at Gaia, has an
Astronomical Observatory that was
created in order to serve the Visitors to
the Park and the community of amateur
Astronomers. It provides a place for
regular observations. With this issue of
the Magazine we start a new section
dedicated to this area of ​​knowledge. This
time, the subject is the planet Jupiter.
ASTRONOMIA 41
Cocheiro
Touro
Júpiter
Orionte
Gémeos
Betelgeuse
Rígel
Lebre
E
Júpiter
Marte
Terra
Lua
Vénus
Mercúrio
Sol
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 41
42 REPORTAGEM
Parque Natural
do Litoral Norte
Com uma biodiversidade que mete respeito, esta área protegida atrai
o ser humano desde a noite dos tempos: engloba manchas de carvalhal
e zonas agrícolas, lagunas costeiras e dunas, estuários, praias de mar e rio,
estando estas últimas sob a influência do Cávado e do Neiva
— são 7653 hectares de área marinha e 1237 hectares emersos
Assim que o vaivém das ondas alisa a areia
ao luar, pela alvorada várias espécies de aves
deixam ali pegadas, à cata de pulgas-do-mar e das primeiras moscas atraídas pelo
sargaço.
Veem-se as de gaivota, maiores, com membrana interdigital, e muitas de borrelhos, as
pequenas aves limícolas que configuram o
ex-líbris do Parque Natural do Litoral Norte.
Estamos em Montedor, perto de Afife.
Basta espreitar acima dos rochedos para ver
o mar a bramir ao sol.
Lenço posto na cabeça, Joana Marques,
bióloga, explica ao grupo: «Estamos diante
de matos atlânticos caracterizados por uma
formação arbustiva típica. Se observarem
bem, esta vegetação dispõe-se de uma forma
almofadada».
No limite do estreito trilho de terra batida
Um feto endémico: Ophioglossum lusitanicum
42 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
sobe a uma rocha e diz: «Este habitat,
dominado por tojo e urze, tem a particularidade de estar perto da zona costeira, batida
a vento. A humidade vem pelo ar carregada
de sal».
Percebe-se que este feitio de moita arredondada não surge por acaso. O desenho
natural permite a estas plantas protegeremse mutuamente quando o clima se torna
mais rigoroso: «Podem atingir um metro de
altura. Entre os ramos que estão protegidos
nesta forma almofadada cria-se uma microatmosfera onde permanece alguma humidade
e onde a vegetação se protege da ventania», completa. É por isso que não quebram
facilmente…
Nos meandros do mato não é difícil imaginar
uma espécie de submundo, com ratos-docampo e doninhas, pequenas aves que ali
se protegem, numerosos insetos, répteis e
quejandos.
O sol é uma festa e não corre uma brisa no
ar tépido. De manhã a luz já é cúmplice do
outono. As flores amarelas do tojo juntam-se
aqui e ali, em conluio, e apelam à cooperação
dos insetos polinizadores.
Entre várias espécies de urze, domina agora
a queiró, Calluna vulgaris, uma flor outonal
sincronizada com a biodiversidade migradora,
alada com certeza.
A uma dúzia de metros, num rochedo próximo
das ondas, um chasco em migração espreita
o grupo e volteia no ar enquanto apanha um
moscardo azarado.
À medida que os matos atlânticos nos acompanham os passos, passada a floração de
corola branca e estames amarelos, surgem
frutos avermelhados de Cistus, uma outra
Habitat dunar em Montedor
REPORTAGEM 43
Os matos atlântic
os são protegidos
pela Diretiva Habit
ats, emanada da
União Europeia e
ratificada pelo Es
tado português
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 43
44 REPORTAGEM
Habitat rochoso em Montedor: armérias
planta que compõe este habitat protegido,
parente da esteva alentejana, mas longe de
exalar o mesmo odor.
O trovisco e as madressilvas esparsas já
ostentam bagas avermelhadas.
Emerge um problema grave. Aqui e ali, espécies exóticas ameaçam os matos atlânticos
de Montedor: as acácias são infestantes que
podem retirar espaço vital a este habitat se
não houver intervenção inteligente.
Canivete pré-histórico
À medida que se caminha, o chão cobre-se
de seixos espalhados, nem todos perfeitos.
Agora é difícil ver uma arméria colorida
Guia o grupo também João Pedro Tereso,
arqueobotânico.
Enquanto caminha numa cascalheira, em
pleno trilho, tira da bolsa que traz a tiracolo
uma pedra que evidencia um gume: «Este é o
primeiro canivete-suíço da pré-história — um
biface», acentua.
De cócoras pega numa pequena pedra do
trilho, fraturada: «Neste local em que nos
encontramos foram inventariadas peças deste
tipo».
Os bifaces tinham múltiplas utilizações, explica: «Serviam para rasgar carne, para raspar a
pele dos animais, para martelar, para picar...».
Imagina-se que no clã, seria até melhor não
Nesta época ainda consegue ver os tons amarelos do tojo
44 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Funcho-marítimo
abusar da paciência de quem estivesse a usar
tal ferramenta, não fosse dar-se o caso de um
arremesso de ocasião!
Aparentemente simples, a verdade é que esta
pedra lapidada «corresponde a uma tecnologia bastante interessante que surgiu em África
há cerca de um milhão e meio de anos».
Descortina-se o porquê de tantas lascas de
quartzo em redor. Tereso mostra uma das
pedras do chão e elucida: «Isto era um seixo
deste tipo, ao qual começam a ser retiradas
lascas na ideia de construir um gume cortante. Parece fácil mas não é! Saltam pedaços
por todo o lado. Eles não tinham óculos,
podiam ferir a vista. Para fazer uma peça des-
Percurso de Montedor
REPORTAGEM 45
Urzela
tas produzem-se muitas lascas pequeninas.
Encontramo-las por aqui...».
Passo a passo o caminho abeira-se do mar
guardado por rochedos onde se agacham
plantas especiais.
Arribas protegidas
Na fenda da rocha granítica, uma planta
viçosa regozija-se ao sol. Joana faz-se ouvir:
«As arribas costeiras do litoral Norte são
outro dos habitats protegidos deste parque».
Ressurge a par e passo nestes nichos «uma
planta que já fomos vendo ao longo do percurso», sempre nos interstícios da rocha.
«Tem uma flor discreta, parecida com a flor
da cenoura – chama-se funcho-marítimo,
Crithmum maritimum».
Ali ao lado, colorida, uma flor rósea, arredondada, sugere outro comentário: «E aqui
vemos muito outra espécie característica que
é a arméria, são várias espécies». A floração
já passou, foi-se a beleza que apreciamos,
ficou o mais importante, as sementes.
Protegidas da maré e dos ventos marítimos
estas armérias são mais pequeninas do que
as de outros habitats. Têm também «este
crescimento em forma de almofada, rígido,
para evitar danos». A flor já é rara nesta
época do ano…
Biface e fragmentos arqueológicos da sua produção
Na face protegida do mar, um rochedo imita
os mamíferos e ergue-se com uma barba
cinza: «Vemos aqui este líquen especial – ele
cresce exclusivamente não só em rochas perto do mar como também requer uma parede
vertical, mais ou menos protegida da luz e do
vento», diz Joana Marques.
Sublinha que é um dos poucos líquenes
com nome vulgar em português: «Chama-se
urzela, Roccella tinctoria. O nome comum
indica um historial de utilização em tinturaria
– aparece nos registos de matérias-primas
que o nosso povo comercializava sobretudo
a partir dos Açores». Os vestígios arqueológicos abundantes e variados num trilho sucinto
Pias, na verdade, salinas primitivas para extrair sal da água do mar
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 45
46 REPORTAGEM
Litoral Norte Nature Park
This Nature Park runs along the
16 km coast of the Esposende
Municipality, between the River
Neiva and the region of Apúlia.
The environment of the Esposende
coastline is also determined by a
large number of creeks and streams
running directly to the sea, and
particularly by the Câvado and
Neiva Rivers, which are the main
waterways.
Most of the villages in this
municipality, where people first
settled in prehistoric times, have
archaeological remains which were
originally bases for agriculture,
fishing and collecting the of sea plants.
O sargaço foi adubo natural para
as produtivas masseiras, um sistema
peculiar de produção de produtos
hortícolas típico da região
evidenciam uma antiga utilização do sítio pelo
ser humano ao longo de múltiplas épocas.
Ao pé do mar
A elevada biodiversidade tornava viável viver
ali, entre a pesca, a caça, a recolha de frutos
sazonais e, depois, através da agricultura
artesanal e do comércio.
O sargaço, plantas marinhas atiradas à praia
pelas ondas, era recolhido como fertilizante
num sistema produtivo próprio da região: as
masseiras. Escavada uma ligeira depressão
no terreno, o vento passava por cima das
culturas e o lençol freático próximo do solo hi-
dratava os produtos hortícolas que dali saíam
em época própria com rotundo êxito.
Já antes tinha surgido um alerta de João
Pedro Tereso: «Podem não ter dado por isso,
mas estamos a caminhar sobre um dos elementos patrimoniais mais importantes deste
trajeto». Aos nossos pés, a rocha cortada em
depressão servia para retirar sal: «Uns são
romanos e outros anteriores a essa época»,
comenta e remata: «Chamam-se pias», e
estão à distância de mais de mil anos das
primeiras masseiras.
Sob as ondas a biodiversidade renova-se em
novos habitats, ocultos do olhar de quem
passeia ali perto, noutros ritmos.
Sargos e robalos, ruivos e bodiões juntam-se
a uma longa lista de espécies. Pelos estuários do rio Neiva e do Cávado em épocas
diferentes migram enguias e lampreias. São
protagonistas entre peixes migradores, estando há anos o sável e o salmão do Atlântico
reduzidos a populações escassas ou até
desaparecidas.
Ainda assim, este património natural continua
a atrair. Sob o olhar cauteloso do borrelhode-coleira-interrompida, imagem de marca do
parque, há que renovar a visita: depois de ali ir
vai querer sempre voltar.
Texto e fotos: Jorge Gomes
PARQUE NATURAL
DO LITORAL NORTE
Sede
Rua 1.º de Dezembro, n.º 65
4740-226 Esposende
Correio eletrónico
[email protected]
Telefone
(351) 253965830/1
Site
www.icnf.pt
46 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
BLOCO DE NOTAS 47
Avifauna do Estuário do Cávado
E os freixos da outra margem também estão com algum “mal” – dizia-me o
senhor Gaspar, enquanto nos lamentávamos a olhar o magro caudal do Cávado,
incapaz de diluir tanta poluição e com os patos a jazerem pela zona ribeirinha ao
ritmo do aumento do calor
Os banhistas chegavam e sucediam-se as
enfermidades que ameaçavam o nosso rio.
Os problemas com os efluentes já são antigos
e as autoridades, alertadas pela população
preocupada, também acompanhavam os
recentes episódios de morbilidade continuada
entre as aves aquáticas.
Mas esta notícia das árvores doentes
despertou a curiosidade que me levou até
à margem direita onde as galerias ripícolas
servem de cortina aos campos de cultivo.
Aqui, um autêntico exército de lagartas da
borboleta Abraxas pantaria cobria alguns
daqueles freixos (Fraxinus spp.) e desfolhavaos com tal voracidade que até esqueci a
minha costela verde e logo me pus a calcular
as quantidades de DDT necessárias para
eliminar a praga. Neste sobressalto, nem
considerei os perigos que os tratamentos
químicos acarretam para a saúde pública e
para a sustentabilidade dos ecossistemas.
Teria de ser a própria Natureza, e ali mesmo,
a dar-me a Grande Lição enquanto me
revelava alguns brindes ornitológicos.
Naqueles dias longos também por aqui
se multiplicavam as aparições de cucoscanoros (Cuculus canorus), espécie estival
cujo nome e histórias associadas nos são
muito familiares, mas que, porém, não é
muito comum na povoada foz do Cávado.
Intrigado com a súbita procura destas aves
pelos habitats estuarinos, segui-lhes os
movimentos que novamente me levaram aos
mesmos freixos em que se banqueteavam
aos pares das “nocivas” lagartas. Atraídas
por este alvoroço inicial, outras espécies
acabariam por chegar e transformar
aquelas copas num carnaval de aves tão
excentricamente emplumadas como os
cucos-rabilongos (Clamator glandarius) ou
os papa-figos (Oriolus oriolus), nunca vistos
por estas paragens e que, além de terem
deliciado os muitos amantes do birdwatching,
controlaram com notável eficácia o surto
epidémico que debilitava os nossos
freixos, mantendo o equilíbrio ecológico
sem qualquer tipo de intervenção humana
desadequada.
Texto e foto: Jorge Araújo da Silva
www.verdes-ecos.blogspot.com
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 47
48 ENTREVISTA
Gato-bravo sob ameaça
de extinção
André Silva, biólogo, desenvolve trabalho numa região da Europa onde
o gato-bravo sofre maior pressão, a Escócia: «Tenho como ponto central
da minha investigação a conservação de carnívoros. Estou a desenvolver trabalho
principalmente com populações de carnívoros consideravelmente ameaçadas»
C
om a neve, tudo é mais difícil. A
necessidade de instalar câmaras
de foto-armadilhagem seguida da
recolha de excrementos de gatobravo não se compadece.
Num desses dias «dei por mim a caminhar
aproximadamente 20 km, com a neve a chegar a um metro de altura e as temperaturas a
descerem a 18º C negativos».
Arrependeu-se: «Triste escolha a minha de
caminhar no inverno rigoroso da Escócia com
botas compradas em Portugal». André já
não sentia os pés e os líquidos «na minha
mochila tinham congelado», o que equivalia
a ficar sem água o resto do dia. Apesar de
tudo, o trabalho seguia de forma lenta e
árdua, mas o plano cumpria-se.
Quando «regresso ao carro o sol escondiase, e ainda a cerca de 5 km de distância
comecei a reparar que o meu suor e o meu
muco nasal começavam a congelar».
A qualquer momento «poderia perder o
telemóvel, ou mesmo o GPS, e ainda
estávamos a uma distância considerável
do carro».
O ânimo não era muito, mas «a determinado momento lembro-me de ter feito
uma pergunta, talvez a pior que poderia
ter feito naquele momento — estaria o
combustível do carro congelado como
acontecera a muitos que vira na manhã
anterior?».
Teve sorte! No final, «chegaríamos
ao carro desgastados mas vivos». A
felicidade «de rodar a chave e ver que
o motor do carro funcionava» tudo
compensou.
Na adversidade, quem sabe se também o
gato-bravo não acaba também por sobreviver
às ameaças que lhe têm colocado em estado
crítico as populações?
As perguntas são mais que muitas...
48 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Em que contexto desenvolve a sua pesquisa?
André P. Silva — O trabalho que estou a
desenvolver debruça-se sobre as determinantes
ambientais que condicionam a distribuição do
gato-bravo na Escócia, pesquisa que apresentei para obter o grau de mestre, na Faculdade
de Ciências.
Este trabalho conta com a colaboração do Dr.
Luís Miguel Rosalino, também da Faculdade
de Ciências, e integra-se num projeto de maior
André P. Silva
dimensão que está a ser levado a cabo pela
investigadora Kerry Kilshaw, da Wildlife Conservation Research Unit (WildCRU), da Universidade
de Oxford.
Que meta deseja atingir?
André P. Silva — O principal objetivo é
determinar a situação populacional e o nível
de hibridação da população de gato-bravo na
Escócia.
Para isto, estão a ser utilizadas principalmente
duas técnicas: a foto-armadilhagem e análise
genética através de amostras não invasivas,
como por exemplo os excrementos.
Especificamente, no meu trabalho utilizei capturas fotográficas e registos da espécie a nível
nacional para comparar os fatores ambientais
que influenciam a presença da espécie
a nível local e nacional. Resumidamente,
conseguimos identificar que o fator mais
importante para a presença da espécie é a presença de presas, coelhos e
micromamíferos.
Adicionalmente e como tem vindo a ser
identificado noutros países europeus,
concluímos que, ao contrário do que a
literatura mais antiga sugeria, a espécie
não é estritamente florestal, e de facto
beneficia mesmo com um habitat heterogéneo, uma vez que este lhe permite
explorar uma maior diversidade e abundância de presas.
Temos registos fotográficos e outros dados
que apontam para a utilização de habitats
abertos e mais expostos como pradarias,
pois é aí que caçam coelhos junto à orla da
floresta. Em termos de conservação estes
resultados apontam no sentido de a persistência do gato-bravo passar em grande
medida pela conservação das suas presas.
Porém, atualmente os dados sobre estas
são reduzidos. Por isso sugerimos que,
no caso de ser necessário tomar decisões
urgentes, se selecionem áreas com maior
probabilidade de ocorrência das suas presas,
pois é aí que o gato-bravo estará maioritariamente concentrado e isso poderá ser
ENTREVISTA 49
/Wild CRU
Kerry Kilshaw
inferido indiretamente através da estrutura da
paisagem.
É uma espécie bem estudada?
André P. Silva — Podemos considerar que
existe bastante informação disponível quando
comparada com outras espécies de felídeos fora do continente europeu. No entanto,
quando comparada com outros carnívoros com
distribuição na Europa existem lacunas importantes por resolver.
Diria que podemos considerar que temos um
bom conhecimento de uma espécie quando
possuímos informação suficiente para empreender estratégias de conservação eficazes.
Isto envolve identificar as ameaças a que a
espécie está sujeita e a magnitude de cada
uma destas, a sua situação populacional no
presente e o conhecimento de estratégias de
conservação que se saibam ser eficientes para
a espécie em questão.
Ora, este conhecimento é tanto mais difícil
quanto mais elusiva e menos numerosa for
uma espécie. É exatamente neste patamar de
dificuldade que se encontra o gato-bravo.
Se por um lado a comunidade científica tem
uma ideia concreta das atuais ameaças que
pendem sobre esta espécie, já não existe tanta
informação na importância relativa destas, até
porque variam de região para região. O conhecimento da situação populacional em cada país
é também neste momento muito heterogéneo
por toda a Europa, com a maior parte do
conhecimento a vir de um número reduzido de
André P. Silva
países como por exemplo Alemanha, Espanha,
França ou Reino Unido.
O que distingue o gato-bravo dos gatos
domésticos?
André P. Silva — É precisamente nesta questão que reside uma das maiores dificuldades da
conservação do gato-bravo.
Até agora o gato-bravo e o gato-doméstico
têm vindo a ser mencionados na literatura, quer
como duas espécies diferentes quer como
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 49
50 ENTREVISTA
duas subespécies. Em termos biológicos e de
proximidade genética escolher entre uma hipótese ou outra depende dos critérios utilizados.
É portanto uma questão arbitrária. Porém, existem questões práticas que são importantes. Por
exemplo em termos de legislação para a proteção do gato-bravo é necessário definir à partida
se esta se aplica a gatos-bravos mas também
a gatos-domésticos por serem considerados a
mesma espécie, embora uma diferente subespécie, ou se não se aplica ao gato doméstico
por esta ser considerada uma espécie diferente.
O que se pode dizer concretamente hoje em dia
é que existe uma proximidade genética muito
grande entre o gato-bravo e o gato-doméstico,
mas que ainda assim existe evidência para um
grupo geneticamente distinto que corresponde
a animais domesticados.
A questão torna-se ainda mais confusa perante
a existência de indivíduos híbridos, uma vez
que estes transportam informação genética de
origem doméstica e selvagem. Ultrapassando
estas questões existem diferenças morfológicas, comportamentais e fotoecológicas
que têm vindo a ser observadas entre gatos
considerados domésticos e bravos. Na Escócia
é atualmente utilizado, para questões práticas
de conservação, um critério de classificação da
pelagem que se sabe conseguir separar gatos
geneticamente distintos, embora o sistema
não seja perfeito e possam existir situações em
que falhe, este é capaz de dar uma indicação
importante de qual o grupo (doméstico, híbrido
ou bravo) a que um indivíduo a viver em estado
selvagem pode pertencer.
O gato-bravo consegue ser diferenciado do
gato-doméstico também pela sua morfologia:
por exemplo possui um porte mais robusto,
uma linha dorsal negra que termina junto à base
da cauda e da qual surgem várias faixas negras
laterais ao longo do corpo. A sua cauda termina
numa ponta larga e apresenta anéis negros
bem diferenciados.
Ao contrário, gatos híbridos e domésticos apresentam usualmente o padrão de faixas negras
ao longo do corpo interrompido por manchas negras e a linha dorsal interrompida ou
estendida até à cauda. A cauda destes gatos
termina normalmente numa forma mais estreita.
A nível comportamental, o gato-bravo apresenta também uma maior agressividade e numa
situação normal evita qualquer aproximação ao
contacto humano. Este comportamento refletese também na sua ecologia, uma vez que os
gatos-bravos tendem a utilizar zonas mais inóspitas com uma menor densidade populacional
para se estabelecerem, embora possam utilizar
50 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
zonas alteradas para se movimentarem.
Em que regiões há ainda gato-bravo?
André P. Silva — O gato-bravo é uma das
espécies de pequenos felídeos com maior
distribuição a nível mundial, estando presente
na Europa, mas também em África e na Ásia.
Na Europa, a espécie ocupa principalmente os
países do Sul, Centrais e de Leste. O gatobravo não ocorre nos países nórdicos, sendo a
população escocesa aquela que se localiza a
maior latitude no hemisfério Norte.
A espécie chegou ao atual Reino Unido quando
esta porção de terra ainda estava ligada à plataforma europeia, ocupando toda a ilha. Contudo,
a população ficou isolada após a separação
destas regiões durante a subida da água do
mar após, o último máximo glaciar (cerca de
7000-9000 anos).
Mais recentemente, durante o século XIX e
primeira metade do século XX, a espécie foi
perseguida devido à sua reputação como
predadora de animais domésticos e aves de
caça e sofreu consideravelmente com a desflorestação que ocorreu durante as duas guerras
mundiais, devido às necessidades urgentes de
obtenção de madeira.
Desde a Idade Média, a espécie terá vindo a
diminuir a sua área de distribuição, assistindo
simultaneamente à extinção do urso-pardo, do
lobo e do lince-euroasiático. A população está
atualmente restringida à Escócia e, devido a hibridação com o gato-doméstico, estima-se que
gatos-bravos possam apenas ser encontrados
nas áreas mais remotas a norte, nas denominadas “highlands” da Escócia.
De facto, esta pergunta é exatamente um dos
objetivos do projeto em que estou inserido.
Para responder a esta pergunta o projeto está a
levar a cabo campanhas de foto-armadilhagem
em vários pontos da Escócia, de forma a ser
possível identificar a presença ou ausência da
espécie e posteriormente calcular a densidade
em que ocorre. Estes dados vão permitir elaborar uma estimativa mais correta do número de
gatos-bravos que persistem na Escócia.
Como se desenvolve o ciclo de vida deste
gato?
André P. Silva — As crias de gato-bravo, normalmente 3 a 4 crias nascem entre abril-maio
depois de um período de gestação de cerca de
60 dias. As crias aproveitam o melhor clima do
ano para se prepararem fisicamente para o seu
primeiro inverno e isto envolve não só uma boa
alimentação como aprender a ser autónomo
na atividade da caça. Durante os primeiros 6
meses ainda sob cuidado da progenitora, a
maior parte do tempo é passada entre a toca
(usualmente localizada em zonas rochosas, ou
antiga toca de raposa) e a aprendizagem de
técnicas de caça. A alimentação é constituída
principalmente por coelhos e pequenos roedores, embora ocasionalmente aves e répteis
possam ser predados.
No final dos primeiros 6 meses, os jovens adultos atingem a independência e estão prontos
para abandonarem os cuidados da progenitora,
dispersando para estabelecerem os seus próprios territórios. A partir deste momento a vida
de um gato-bravo é maioritariamente solitária,
uma vez que os machos só sobrepõem os seus
territórios aos das fêmeas durante o período
de acasalamento e os territórios das fêmeas
tendem a não se sobrepor.
Durante o período de dispersão tem de encontrar novas áreas para se estabelecerem, o
que implica não só evitar territórios já estabelecidos por outros indivíduos, bem como evitar
algumas adversidades: por exemplo atravessar
estradas onde muitas vezes são atropelados ou
predadores como águias e raposas. Devido a
estes fatores, mas também devido à presença
de neve, o gato-bravo tende a evitar deslocarse em ambientes expostos, utilizando zonas
florestais. Contudo, para caçar tende a visitar a
orla das florestas e ambientes ripários, onde a
diversidade de presas é maior. É também muitas vezes durante os movimentos de dispersão
que se aproximam de agregados populacionais,
onde existe um maior risco de contacto com
gatos-domésticos. A viver em estado selvagem,
ENTREVISTA 51
European wildcat
The Scientist André
Silva is working on the
conservation of this species
in Scotland, one of the
places in the World were
the Wildcat is under serious
threat. It is Dr. Silvas’
goal of a lifetime to work
on the conservation of a
carnivorous species.
Direitos reservados
poucos são os indivíduos que conseguem
ultrapassar os 6 anos de idade.
É do gato-bravo que se originam os gatos
domesticados?
André P. Silva — A domesticação do gatobravo é uma questão há muito debatida mas
segundo os dados mais recentes tudo aponta
para que o gato-doméstico tenha tido origem
há cerca de 9000 anos no Médio Oriente através da domesticação de indivíduos selvagens.
Durante este período no crescente fértil as
populações humanas começaram a deixar
um estilo de vida nómada, começando a
estabelecer as primeiras vilas e a sobreviver
através da agricultura. O gato-bravo poderá
ter beneficiado com algumas das atividades
humanas, por exemplo predando roedores que
se acumulam nas zonas de armazenamento de
cereais, abandonando posteriormente os seus
comportamentos mais agressivos. No entanto,
a domesticação terá incidido em indivíduos de
uma subespécie diferente da que existe hoje na
Europa. O que se percebeu é que o ADN dos
gatos-domésticos é mais próximo da subespécie de gato-bravo do Médio Oriente, cientificamente denominada por Felis silvestris lybica.
Posteriormente a expansão dos gatos domésticos por todo o planeta está relacionada
com proliferação da população humana que
tem transportado indivíduos para todos os
cantos do planeta. Há 20 anos estimava-se a
existência de 400 milhões gatos-domésticos
em todo o mundo.
Caminha para a extinção em Portugal?
André P. Silva — Em Portugal os dados
existentes apontam para que a situação não
seja tão critica como na Escócia. Porém, o
conhecimento sobre a situação populacional da
espécie no nosso país é reduzido. Sabe-se que
o problema da hibridação é uma ameaça séria,
uma vez que os estudos já realizados apontam
que em cada 100 gatos-bravos, 14 possam
ser híbridos. Embora se desconheça se estes
valores apresentam tendência para diminuir
ou aumentar, a verdade é que não tem sido
feita uma forte campanha educacional a nível
nacional no sentido de os donos dos gatosdomésticos terem um maior controlo sobre
as atividades do seu gato, principalmente em
áreas onde o gato-bravo ocorre.
Assim, será difícil diminuir estes valores se o
número de gatos-domésticos se mantiverem
altos e se o comportamento destes não for
controlado. Por outro lado, alguns dados
apontam para que a espécie tenha reduzido
o seu número em cerca de 30% nos últimos
20 a 30 anos, apresentando uma distribuição
limitada no litoral do país onde existe uma maior
densidade populacional humana. Desta forma,
tudo aponta para que o gato-bravo tenha as
suas “populações-chave” no interior do país,
nomeadamente em áreas protegidas como o
Gerês, Montesinho e o vale do Guadiana.
Suspeitando-se que os seus números estão
a declinar e devido às ameaças que ainda
persistem, particularmente hibridação com gato
doméstico, perseguição direta e atropelamentos, a espécie é considerada em Portugal como
vulnerável à extinção.
Quando aplicados os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza a espécie apresenta-se como um dos carnívoros mais
ameaçados de Portugal, ficando atrás do lobo
e do lince-ibérico, respetivamente em perigo e
criticamente em perigo de extinção.
E no resto da Europa, o cenário é igual?
André P. Silva — No resto da Europa as
situações diferem. Na Escócia a situação é
realmente má e é pelo que se sabe hoje a pior
da Europa, existindo referências que apontam
para que 88% dos indivíduos a viverem estado
selvagem sejam híbridos ou domésticos, o que
a confirmar-se poderá significar que existem
apenas cerca de 400 indivíduos com as características morfológicas normalmente associadas
a gatos-bravos puros.
Caso se confirme a população estará criticamente ameaçada de extinção.
Na Hungria existem dados que apontam para
elevados níveis de hibridação e na Holanda a
espécie é considerada extinta embora tenham
surgido recentemente alguns registos prováveis
da presença da espécie. Já em Espanha a espécie deverá estar a declinar na maior parte do
território. Contudo, por exemplo, na Alemanha e
Bélgica, parece ainda subsistir uma população
saudável e que poderá estar mesmo a expandirse, embora possa sofrer com alguns problemas
de fragmentação do habitat. Outro núcleo forte
da população europeia poderá estar localizada
nos países mais orientais, nomeadamente parecem existir populações com elevado número
de indivíduos na Roménia, Bulgária, Rússia,
Macedónia, Sérvia e Eslováquia, mas a informação é ainda muito reduzida nestes países e não
existem números nem tendências fiáveis.
Quais as principais ameaças?
André P. Silva — As principais ameaças do
gato-bravo são a hibridação com o gatodoméstico, a perseguição direta por exemplo
através de morte a tiro ou envenenamento e a
mortalidade nas estradas devido aos atropelamentos. A falta de presas naturais, nomeadamente coelhos e roedores, é também uma
séria ameaça. Uma excessiva fragmentação
do habitat poderá ser ainda prejudicial mas os
nossos estudos, bem como outras evidências
bibliográficas, sugerem que a espécie pode ter
uma certa tolerância a habitats heterogéneos.
Diria que temos uma probabilidade de conservar esta espécie se conseguirmos preservar
zonas onde ocorram populações saudáveis de
gatos-bravos com abundância de presas, que
simultaneamente sejam livres da presença de
gatos domesticados e de perseguição direta.
Mesmo que exista alguma fragmentação do
habitat, a espécie parece conseguir persistir
desde que sejam implementadas medidas
específicas para minimizar o impacto de estruturas artificiais.
É interessante olhar para estes fatores e ver que
o cidadão comum, nomeadamente aqueles que
vivem em áreas onde ainda existe gato-bravo,
podem nesta espécie até mais do que em outras ter um papel ativo para a sua preservação.
Entender como controlar os impactos dos seus
gatos domésticos, entender o gato-bravo como
um agente biológico regulador das populações
naturais de coelhos e roedores e ver esta espécie como um emblema para a conservação da
biodiversidade é um paradigma para o qual podemos caminhar se apostarmos principalmente
na formação da nossa comunidade rural.
Texto: Jorge Gomes
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 51
52 MIGRAÇÕES
Almirante-vermelho:
migração outonal
Sob o bafo tardio do outono, esta borboleta abandona o Norte da Europa: na
verdade, pertence a um grupo minoritário que dá à asa milhares de quilómetros,
podendo deslocar-se até África...
Na Finlândia, 35 quilómetros a sudoeste de
Helsínquia, um grupo de observadores de
aves selvagens instalou-se numa torre para
contemplar as migrações de outono.
Munidos de binóculos uns e outros de telescópios, conseguiram distinguir cerca de 1200
borboletas almirante-vermelho em deslocação
para sul, sobre as copas da floresta, numa
frente de 500 metros por 100 metros de
altura.
Não foi caso único.
Durante estas migrações, o radar da Universidade de Helsínquia registou uma vez pontos
equivalentes a insetos do género enxame de
abelhas, o que foi interpretado pelos investigadores, dada a altura do ano, como deslo-
52 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
cações massivas desta espécie de borboleta.
Se se comparar o pico da migração deste
inseto na Finlândia com o pico de chegada à
península Ibérica no mesmo ano de estudo,
conclui-se que, em média, as almirantevermelho demoram perto de cinco semanas a
deslocar-se ao longo de 3 mil quilómetros, ou
seja, dos países nórdicos ao Mediterrâneo.
Numa tradução direta da língua inglesa desde miúdos que nos habituamos a designar
a espécie Vanessa atalanta por almirantevermelho. De voo fluido, autoritário, não dá
abébia a nenhum curioso em matéria de
confiança e proximidade, qualquer que seja
a sua idade.
Neste setor de biodiversidade esta espécie de
borboleta pertence à minoria que tem coragem suficiente para passar as estações mais
frias do nosso país no estado adulto.
Durante as migrações, apesar de diminuírem
o desgaste ao aproveitarem vento favorável,
estes insetos agradecem à natureza as flores
outonais que despontam nas serras, como
urzes e tojos. Nas cidades, as floreiras em terraços, varandas e jardins, são o refazimento
imprescindível para que estas longas viagens
continuem a ocorrer.
Texto: JG
Bibliografia: «The red admiral butterfly (Vanessa
atalanta, Lepidoptera) is a true seasonal migrant»,
de Kauri Mikkola
João L. Teixeira
Red Admiral
migration
Mediterrâneo
Europa Central
Escandinávia
inverno
nov. – fev.
primavera
mar. – jun.
estação
In Finland, a group
of Birdwatchers
had a big surprise
in September when
they saw with their
binoculars maybe
1,000 Red Admiral
butterflies migrating
south. In autumn, the
Red Admiral, Vanessa
atalanta, leaves the
North of the Europe
to find warmer
climate in the south
– even as far as
Africa.
região
verão
jul. – ago.
outono
ago. – out.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 53
54 RETRATOS NATURAIS
Vamos desenhar...
uma libélula
Poucos animais,
e menos ainda
no grupo dos
invertebrados,
têm tão grande
conotação com o
sobrenatural, como as
libélulas, ou libelinhas.
Na Europa são vários
os mitos e lendas que
mancharam a reputação
destes formidáveis
insetos, transformando-os em temíveis flagelos
para o Homem
Não é rara a associação a Satanás: ora por
ele mandadas diretamente do Inferno a este
mundo, para trazer o mal (Itália), ora seriam cavalos por ele possuídos (Roménia), ora infernais
animais capazes de arrancar olhos, depois de
54 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Cordúlia-de-corpo-estreito
(Oxygastra curtisii)
lhes pesarem a alma e avaliarem o grau de malvadez (Suécia), ora temíveis “agulhas-do-diabo”
que coseriam a boca e remeteriam ao silêncio
os pobres “diabos” que pecassem. Contudo,
situação inversa se observa no Oriente ou
nalguns povos do continente americano: no Japão, são considerados invencíveis e mortíferos
oponentes, capazes de garantir o sucesso e a
vitória nas batalhas vencidas à força da espada
(sendo um símbolo ostensivamente usado
como ornamento); na China, são anúncio vivo
da chegada do Estio e, simbolicamente, da
fragilidade da Vida; nalgumas culturas ameríndias eram considerados seres com poderes
sobrenaturais capazes de zelar pelo bem estar
humano. Portugal, sendo o mais ocidental dos
países europeus herdou a conotação negativista e, em muitas localidades, é vulgarmente
conhecida como cavalinho-do-diabo, ou das
bruxas, ou ainda como tira-olhos.
A verdade é que estes odonatas — cuja morfologia típica dita a presença de um abdómen
muito alongado num corpo fusiforme, dotados
de duas asas membranosas alongadas e
muito reticuladas, com as quais agilmente
controlam insuperáveis manobras durante
o seu vertiginoso voo (cada uma das 4
asas pode ser controlado separadamente),
e ainda seis patas que servem mais para
agarrar (colocadas em forma de cesto),
do que para andar — são organismos
predadores, altamente vorazes e que
controlam as populações de insetos (geralmente dípteros, como as moscas e os
mosquitos), embora também possam ser
canibais (papel atribuído essencialmente às
fêmeas, em fase de postura), que vivem e
se reproduzem nas imediações de corpos
de águas (ribeiros, rios, lagos ou albufeiras), contribuindo assim para o aumento
da qualidade de vida das populações
humanas ribeirinhas e no controlo de
pragas aladas.
São produto de uma evolução que os
configurou para uma arquitetura de elevada
eficácia na caça das suas presas em pleno
RETRATOS NATURAIS 55
Construção das asas, em
vista dorsal (passos 1 a 4)
voo (de tal forma que estes “dragões” pré-históricos, externamente pouco mudaram desde o
seu período florescente no Carbonífero, da Era
Paleozóica, regredindo praticamente e apenas
no tamanho — os 75 cm de uma Meganeura
monyi passaram para uns actuais 2 a 12 cm
de comprimento). As libélulas destacam-se
também pelos enormes olhos compostos e
facetados (que praticamente ocupam toda a cabeça, reunindo de 10.000 a 30.000 omatídeos
hexagonais) e que lhes conferem uma acuidade visual apuradíssima e um campo de visão
que chega aos 360°, sendo que as facetas
superiores são para enxergar ao longe, e as inferiores, na proximidade (para além dos 3 ocelos
superiores, que apenas avaliam a intensidade
luminosa). Para além das cores brilhantes (do
vermelho ao amarelo, ao verde e azul ou ainda o
castanho), é o aparelho de voo aquele que, em
termos de complexidade, mais retém a atenção
de quem as admira. Este é um dos aspetos
morfológicos com maior relevância na figuração
deste taxa, já que suas asas exibem numerosas
nervuras longitudinais ligadas entre si por um
abundante entrelaçado de nervuras transversais,
criando uma rede de suporte capaz de suportar
extremas pressões longitudinais, durante o voo,
sem se dobrarem ou partirem ante a torção.
Como esta enervação alar varia consoante as
5680 espécies de libélulas em todo o mundo
(em Portugal ocorrem 65 das 138 espécies
descritas para Europa), esta é uma característica
com elevado valor discriminativo na diagnose e
identificação — aspeto a que o ilustrador deve
devotar a máxima atenção e cuidado.
A pose típica a ilustrar, como já referimos para
outros grupos, procura reproduzir a vista mais
comum em que são observadas, quando em
repouso — será assim a vista lateral, para
os zigópteros (cabeça, em forma de haltere,
encaixando transversalmente ao corpo, onde
sobressai um abdómen cilíndrico e fino; asas
praticamente iguais, juntas na vertical, quando
paradas), e a de topo, para os anisópteros (as
“grandes” libélulas, apresentam uma cabeça
quase hemisférica, em que os olhos se podem
tocar; abdómen de forma muito variável, longo
e cilíndrico, mais largo do que o dos zigópteros;
asas posteriores mais largas na base do que as
anteriores, mantidas abertas quando poisadas).
Para figurarmos um destes invertebrados, a
título de exemplo, escolheu-se a espécie Oxygastra curtisii, uma das 4 espécies presentes
em Portugal que consta na Lista Vermelha
das Libélulas Europeias, com o estatuto de
ameaçada, e está abrangida pela Convenção
de Berna e pela Directiva Habitat. Uma das vantagens deste odonata, e dos anisópteros em
geral, é que a sua simetria bilateral poupa imenso trabalho, pelo que numa das fases da sua
criação gráfica — seja na fase da execução do
desenho preliminar (em que precisamos apenas
de desenhar uma das metades, invertendo-a
para a sua especular, para completar o corpo e
asas), seja na fase de adição de cor e construção de padrões na arte-final, se a técnica escolhida for digital (flip espelhado horizontal, depois
da duplicação da metade arte-finalizada).
Neste último caso e para o desenho das asas,
a utilização da caneta vetorial (pen tool), presente no módulo vetorial do Adobe Photoshop
é de suma importância e utilidade. Esta permite
criar paths, ou curvas de Bezier (lineares,
formam retas; quadráticas ou cúbicas, formam
curvas), nas quais se criam vários pontos de
controlo (anchor points — permitem controlar
a posição espacial — ladeados por duas retas
extensíveis — direction points — que permitem
controlar o comportamento da curva), a cada
clik do rato e que acabam por criar um work
path, ajustável ao contorno da silhueta, o qual
deve ser gravado (paths window>save path). O
path pode depois, entre outras operações, ser
convertido numa seleção (path window > make
selection> new selection (ou outra opção),
feather radius 0px, antialiased; opção esta que
é extremamente útil quando se pretende fazer
seleções perfeitamente ajustadas a faces curvas ou retilíneas de um determinado modelo) e/
ou preenchido diretamente em mancha de cor
(fill path) — ações que permitem criar o fundo
ou membrana. A rede de nervuras, depois de
criada em paths, é feito recorrendo à opção
stroke path, escolhendo como riscador, o pincel
(), depois de parametrizado adequadamente
— sempre com opção antialiased, ou antisserilhamento, ativa para suavizar a linha; controlar o
tamanho do traço (master diameter) e a dureza
do pincel (hardness: 100%) através do Brush
Presets picker (também pode ser controlado na
brushes palette, clicando em cima do Brushes
presets); de seguida, ativam-se os parâmetros
shape dinamics e smoothing no comutador
da palete dos pincéis (brushes pallete toggle)
e desativam-se todos os outros controlos (off)
— o que permite construir linhas contínuas, de
espessura uniforme, e anastomasadas, ou não.
De resto, é dar “asas” à cor para insuflar vida
aos nossos cavalinhos aéreos pintados...
Texto e ilustrações: Fernando Correia
Biólogo e ilustrador científico
Dep. Biologia, Universidade de Aveiro
[email protected] | www.efecorreia-artstudio.com
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 55
56 CARBONO
Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o
Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3 •
Castelo da Maia • Família Carvalho Araújo • Família
(2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
Agrupamento Vertical de Escolas de Rio Tinto • Alice
Lourenço • Fernando Ribeiro • Francisco Gonçalves
• Protetores do Ambiente Professores e Alunos da
Branco e Manuel Silva • Amigos do Zé d’Adélia • Ana
Fernandes • Francisco Saraiva • Francisco Soares
Escola Básica de Canidelo • Regina Oliveira e Abel
Filipa Afonso Mira • Ana Luis Alves Sousa • Ana Luis
Magalhães • Graça Cardoso e Pedro Cardoso • Grupo
Oliveira • Ricardo Parente • Rita Nicola • Sara Pereira
e Pedro Miguel Teixeira Morais • Ana Miguel Padilha
ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária
• Sara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa Silva Ramos
de Oliveira Martins • Ana Paula Pires • Ana Rita Alves
dos Carvalhos • Grupo Ciência e Saúde no Sec. XXI
do 11.º A (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira
Sousa • Ana Rita Campos, Fátima Bateiro, Daniel Dias,
- Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária Dr.
do Douro • Serafim Armando Rodrigues de Oliveira •
João Tavares e Cláudia Neves do 11.º A (2009/10) da
Joaquim Gomes Ferreira Alves • Grupo de EMRC da
Sérgio Fernando Fangueiro • Tiago José Magalhães
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Ana Sofia
Escola Básica D. Pedro IV - Mindelo • Guilherme Moura
Rocha • Tiago Pereira Lopes • Turma A do 6.º ano
Magalhães Rocha • Ana Teresa, José Pedro e Hugo
Paredes • Hélder, Ângela e João Manuel Cardoso •
(2010/11) do Colégio Ellen Key • Turma A do 8.º ano
Manuel Sousa • António Miguel da Silva Santos •
Inês, Ricardo e Galileu Padilha • Joana Fernandes
(2008/09) da Escola EB 2,3 de Argoncilhe • Turma A
Arnaldo José Reis Pinto Nunes • Artur Mário Pereira
da Silva • Joana Garcia • João Guilherme Stüve •
do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira
Lemos • Bárbara Sofia e Duarte Carvalho Pereira •
João Monteiro, Ricardo Tavares, Rita Mendes, Rita
do Douro • Turma A do 11.º ano (2010/11) da Escola
Bernadete Silveira • Carolina de Oliveira Figueiredo
Moreno, e Sofia Teixeira, do 12.º A (2011/12) da Escola
Secundária de Ermesinde • Turma A do 10.º ano
Martins • Carolina Sarobe Machado • Carolina Birch
Secundária Augusto Gomes • Joaquim Pombal e
e Professores (2010/11) da Escola Secundária de
• Catarina Parente • Cipriano Manuel Rodrigues
Marisa Alves • Jorge e Dina Felício • José Afonso e Luís
Oliveira do Douro • Turma A do 12.º ano (2010/11) da
Fonseca de Castro • Colaboradores da Costa & Garcia
António Pinto Pereira • José António da Silva Cardoso
Escola Secundária de Ermesinde • Turma C do 10.º
• Cónego Dr. Francisco C. Zanger • Convidados do
• José António Teixeira Gomes • José Carlos Correia
ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •
Casamento de Joana Pinto e Pedro Ramos • Cursos
Presas • José Carlos Loureiro • José da Rocha Alves
Turma D do 10.º ano e Professores (2010/11) da Escola
EFA Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr.
• José, Fátima e Helena Martins • Lina Sousa, Lucília
Secundária de Oliveira do Douro • Turma D do 11.º
Joaquim Gomes Ferreira Alves • Deolinda da Silva
Sousa e Fernanda Gonçalves • Luana e Solange Cruz
ano (2010/11) da Escola Secundária de Ermesinde •
Fernandes Rodrigues • Departamento Administrativo
• Manuel Mesquita • Maria Adriana Macedo Pinhal •
Turma E do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária
Financeiro da Optimus Comunicações, SA - DAF DAY
Maria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta
de Ermesinde • Turma E do 12.º ano (2010/2011) da
2010 • Departamento de Ciências Sociais e Humanas
Lopes e Alexandre Oliveira Lopes • Maria de Araújo
Escola Secundária de Ermesinde • Turma G do 12.º
da Escola Secundária de Ermesinde • Departamento
Correia de Morais Saraiva • Maria Guilhermina Guedes
ano (2010/11) - Curso Profissional Técnico de Gestão
de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10)
Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da Costa e
do Ambiente do Agrupamento de Escolas Rodrigues
da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Dinah
Manuel da Costa Dionísio • Maria Helena Santos Silva
de Freitas • Turma IMSI do Curso EFA - ISLA GAIA
Ferreira • Dinis Nicola • Dulcineia Alaminos • Eduarda
e Eduardo Silva • Maria Joaquina Moura de Oliveira •
(2008/09) • Turmas A e C do 10.º ano (2009/10) da
e Delfim Brito • Eduarda Silva Giroto • Escola Básica
Maria Manuela Esteves Martins Alves • Maria Violante
Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas
da Formigosa • Escola Dominical da Igreja Metodista
Paulinos Rosmaninho Pombo • Mariana Diales da
A e C do 11.º ano; A e B do 12.º ano e Professores
do Mirante • Escola EB 2,3 de Valadares • Escola EB
Rocha • Mário Garcia • Mário Leal e Tiago Leal • Marisa
(2010/11) da Escola Secundária de Oliveira do Douro
2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos Projecto Pegada
Soares e Pedro Rocha • Marta Pereira Lopes • Miguel
•Turmas B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10)
Rodoviária Segura, Ambiente e Inovação • Escola
Moura Paredes • Miguel Parente • Miguel, Cláudia e
da Escola Secundária de Oliveira do Douro • Turmas
EB 2,3 Escultor António Fernandes de Sá • Escola
André Barbosa • Nuno Topa • Paula Falcão • Pedro
B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de
Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu
Manuel Lima Ramos • Pedro Miguel Santos e Paula
Oliveira do Douro • Turmas A, B e G do 12.º ano; G
Aprender a Viver de Forma Sustentável • Escola
Sousa • Professores (2010/11) da Escola Secundária
e H do 11.º ano e F do 10.º ano (2010/11) da Escola
Secundária Augusto Gomes • Escola Secundária do
de Oliveira do Douro • Professores e Funcionários
Secundária de Ermesinde • Vânia Rocha
Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:
Parque Biológico de Gaia • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes • V. N. Gaia
1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2
apoiando a aquisição de
euros.
Junto se envia cheque para pagamento
Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 05305
Nome do Mecenas
Recibo emitido à ordem de
Endereço
N.º de Identificação Fiscal
Telefone
Email
O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo
Sim
Não
O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono
56 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
CARBONO 57
o sequestro de carbono
CONFIE AO PARQUE BIOLÓGICO DE GAIA
O SEQUESTRO DE CARBONO
Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de floresta em Vila Nova de Gaia
com a garantia dada pelo Município de a manter e conservar de haver em cada parcela
a referência ao seu gesto em favor do Planeta.
1 m2 = € 50 = menos 4 kg/ano de CO2
Um diploma personalizado certificará o seu contributo para a plantação de floresta.
Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120
ou em [email protected]
Parque Biológico de Gaia
Projecto Sequestro do Carbono
4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 57
58 ATUALIDADE
Arvoredo urbano
e aves
migradoras
As árvores das cidades ajudam sobremaneira as
aves selvagens durante a sua migração.
Um estudo realizado recentemente por uma equipa de investigadores norte-americanos, de uma
universidade do Ohio, concluiu que até um bosquete urbano pode ser essencial na sobrevivência das aves migradoras.
O estudo teve sob observação sete áreas urbanas arborizadas, sendo a mais pequena um arboreto que cobria um espaço menor que um campo
de futebol!
Descobriu-se que as aves utilizam as linhas de
arvoredo que veem a partir do céu para repousar, aproveitando a pausa para se alimentarem,
quanto possível, durante a viagem migratória. A
dieta das aves inclui insetos, sementes, bagas e
outros frutos.
Estes dados foram obtidos através de tordos. As
aves transportaram dispositivos capazes de registar os seus movimentos.
Estas conclusões são relevantes quando se verifica que o mundo está cada vez mais urbanizado
e os próprios jardins em muitas cidades, ao sofrerem obras, viram a antiga vegetação substituída
essencialmente por pedra.
Um dos investigadores, Stephen Matthews, disse
que com a expansão das áreas urbanas, as aves
encontram paisagens fragmentadas onde os habitats que deveriam encontrar pelo trajeto migratório estão encastrados numa matriz urbana.
Fica em aberto uma boa parte das respostas que
as aves dão à superfície urbanizada.
Na pesquisa, os investigadores perceberam
que não era propriamente o tamanho da área
arborizada em meio urbano que atraía as aves,
mas sim a quantidade de gordura corporal ainda acumulada. Começaram então a entender a
importância destes pequenos aglomerados de
árvores.
Os investigadores confirmaram que a migração é
um período crítico no ciclo anual das aves.
Em migração, nestes locais de refazimento os
pássaros passam 90% do tempo a descansar e a
repor energias, pelo que estes habitats se tornam
essenciais na defesa da biodiversidade.
Em jeito de desabafo, diz um dos investigadores
que florestas maiores seriam bastante melhores,
mas se as houver pequenas e muitas é sempre
bem melhor do que nada.
João L. Teixeira
58 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
ATUALIDADE 59
Água potável acabará mais depressa
do que o petróleo
No nosso país a água que temos como garantida, a médio prazo
poderá surpreender pela escassez, estendendo-se o drama a todo
o planeta.
Michel Brunet, um conhecido paleontólogo, disse que «a água faltará antes de faltar o petróleo».
Segundo dados oficiais a agricultura industrial intensiva consome
70% dos recursos disponíveis. Mesmo que a NASA tenha descoberto vestígios de água em Marte ou que seja possível fabricar água
potável a partir do mar, dados os custos, a maior parte da população não terá acesso a esse bem essencial à vida.
A água potável é resultado dos ecossistemas naturais e seminaturais, engrenagens complexas que funcionam de modo cíclico, em função dos quais toda a diversidade da vida evoluiu até
aos dias de hoje. Bosques nativos, turfeiras, cervunais e outros
viabilizam processos de retenção da água, um bem mais que
essencial à vida.
Congresso Ibérico de Entomologia
A cidade de Angra do Heroísmo, nos Açores, acolheu entre 1
e 6 de setembro o XV Congresso Ibérico de Entomologia.
Do programa constaram simpósios sobre biodiversidade e,
entre outros temas, sobre conservação, biogeografia, ecologia
e biologia subterrânea.
A conferência de abertura esteve a cargo de Paulo Borges,
que discursou sobre os padrões macroecológicos em sistemas insulares, concretamente sobre os artrópodes açoreanos.
Após o congresso decorreram ainda vários workshops.
Borboletas em meio nuclear
O colapso da central nuclear de Fukushima, no Japão, gerou um
acidente nuclear em março de 2011 que terá morto mais de 19
mil pessoas, somando-se 326 mil desalojados.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Ryukyus quis
avaliar o impacto através de mutações numa espécie de borboleta da família dos licenídeos, Zizeeria maha.
Não foi obviamente só este inseto que foi afetado mas estes dados irão juntar-se a outros de forma a indicar a influência que a
libertação desse material radioativo teve no meio ambiente.
Ficou verificado que o acidente causou danos fisiológicos e genéticos nestas borboletas.
Os cientistas recolheram indivíduos da primeira geração desta
espécie em maio de 2011. Registaram anomalias ligeiras. Isso
acentuou-se com as borboletas colhidas em setembro que mostraram mais alterações do que as de maio.
Anomalias idênticas às observadas foram reproduzidas experimentalmente em borboletas oriundas de uma área não contaminada, com pequenas doses de exposição a nível externo e
interno.
A equipa concluiu o que se esperava: o acidente nuclear provocou mesmo danos genéticos e fisiológicos a estes animais.
No verão do corrente ano surgiu a autorização para abrir ao público a primeira praia, desde a data da tragédia.
Mais: www.nature.com/scientificreports
Peixe sem valor comercial
Na Década da Biodiversidade um pequeno peixe de origem asiática, Danio rerio, habitual na aquariofilia, serve de exemplo: existem
espécies sem valor comercial que são importantes no quadro da
investigação científica.
Os dânio-zebra, nome vulgar do pequeno peixe, continua a ser utilizado em experiências das mais diversas com vista a obter mais e
melhores conclusões sobre o desenvolvimento neurológico destes
animais. Os investigadores atribuem a esta espécie de peixe um
amplo espetro de aquisição de comportamentos de aprendizagem,
mas hoje ainda não é claro quando se inicia esse processo no seu
desenvolvimento. Na ideia de obter respostas a problemas desta ordem, André Valente, do Centro da Ciência do Cérebro, da Universi-
dade de Harvard, nos EUA, e bolseiro da Fundação Bial, conseguiu
caracterizar com maior pormenor a ontogénese dessa capacidade
de aprendizagem e de memorização que se verificou estar já presente desde a fase juvenil.
Desde a formação dos Pirenéus, as bacias hidrográficas ibéricas
viram surgir numerosas espécies que não existem em mais nenhum
lado do mundo. Sem aparente valor comercial, desempenham papéis úteis ao bom funcionamento dos ecossistemas em que vivem
e cuidar da sua conservação é uma obrigação face às gerações
futuras, apesar das más notícias que a introdução de espécies exóticas nos nossos rios deixa no ar, tendo como resultado perdas de
biodiversidade.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 59
60 ATUALIDADE
Aves
marinhas
em declínio
Segundo a organização não governamental Bird Conservation International, 97 das
346 espécies de aves marinhas do planeta estão globalmente ameaçadas, e 10%
estão perto de ficarem ameaçadas.
John Croxall, cientista responsável do
Programa Global de Aves Marinhas da BirdLife, afirmou que «as principais ameaças
no mar são causadas pela pesca comercial – devido à competição e mortalidade
causada pelas artes de pesca – e pela
poluição, enquanto em terra, as espécies
invasoras e predadoras, a degradação do
habitat e a perturbação humana são as
ameaças mais representativas».
Neste momento, considera-se que os
albatrozes são o grupo de aves mais
ameaçado mas quase metade das espécies continua em declínio. Ameaçadas
de extinção contam-se hoje 17 das 22
espécies.
«As aves marinhas são um grupo diverso
com distribuição mundial e como predadores de topo são um indicador valioso
da saúde marinha», disse Croxall.
Medidas que levem à proteção dos locais
onde as aves marinhas se agrupam tanto
em terra, onde se reproduzem, como no
mar, onde se alimentam, poderão ajudar a
reverter a situação de crise.
Esta organização irá apontar em breve
vários locais importantes no mar e irá publicar um inventário a esse respeito.
60 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
em
Tordas-mergulhadeiras
recuperação
Jorge Gomes
CONSERVAR 61
Larva recém-nascida de ruivaco-do-oeste, 6,2 mm
Tanques de reprodução de peixes no Aquário Vasco da Gama
Arquivo AVG
Arquivo AVG
Conservação ex-situ
de organismos fluviais
O Aquário Vasco da
Gama (AVG) libertou,
no dia 14 de abril de
2011, 400 exemplares
de ruivaco-do-oeste
(Achondrostoma
occidentale), uma espécie
de peixe de água doce
endémica de Portugal
cuja área de distribuição
se limita aos rios da
região Oeste, Sizandro,
Alcabrichel e Safarujo
Estes exemplares foram reproduzidos em cativeiro no AVG, no âmbito de um projeto de
conservação de espécies e plantas criticamente em risco, aprovado pelo Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, que junta
através de colaboração celebrada em protocolo assinado em 15 de julho de 2008, a Quercus,
a Unidade de Investigação em Eco-Etologia do
Instituto de Psicologia Aplicada, a Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa
e a Marinha Portuguesa.
Numa primeira fase o projeto visava apenas
garantir a manutenção em cativeiro de um repositório genético de um conjunto de espécies
fluviais, entre as quais o ruivaco-do-oeste.
O grupo original de exemplares desta espécie
foi utilizado nos ensaios preliminares realizados
no AVG que permitiram estabelecer as condições de manutenção e reprodução posteriormente aplicadas nas restantes espécies de
peixes abrangidas pelo projeto e transferidas
para a estação de aquacultura da Quercus para
reprodução em maior escala. A reprodução em
cativeiro do ruivaco-do-oeste foi realizada pela
primeira vez no AVG e foi descrita num artigo
publicado em 2010 no n.º 41 da revista Journal
of the World Aquaculture Society.
Na segunda fase do projeto previa-se a utilização
das populações criadas em cativeiro em ações
de repovoamento dos rios, associadas a projetos de recuperação de linhas de água. Após a
intervenção dos parceiros ISPA e Quercus junto
das autoridades locais e no campo, a recuperação da vegetação de um troço do rio e a criação
de ressaltos para arejamento da água, e com
a autorização da Autoridade Florestal Nacional,
estavam criadas as condições para a libertação
dos primeiros grupos de peixes. Os peixes foram libertados no rio Alcabrichel, entre as localidades de Ramalhal e Abrunheira (coordenadas:
39°8’10.19”N - 9°12’55.36”W), perto do local
onde foram capturados os seus progenitores.
Texto com colaboração do Aquário Vasco da Gama
Ruivacos-do-oeste adultos nascidos no Aquário Vasco da Gama
Libertação no rio Alcabrichel
Arquivo AVG
Arquivo AVG
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 61
62 CRÓNICA
Por Jorge Paiva
Biólogo, Centro de Ecologia Funcional
da Universidade de Coimbra
[email protected]
Eucaliptado o país
eucaliptar o acordo ortográfico
Já várias entidades [ex.: Associação Lusitana de Fitossociologia (ALFA),
Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e Quercus], algumas pessoas e alguma
da nossa comunicação social (sou português e, portanto, não utilizo o termo
“media”) publicitaram opiniões sobre a desastrosa (para não a designar
com o termo vernáculo que merece) “Proposta de alteração legislativa sobre
acções de arborização e rearborização” elaborada pela ex-Autoridade Florestal
Nacional, de maio de 2012
P
ortanto, apesar de ser biólogo (devo
saber um pouco mais sobre seres
vivos do que um industrial), com
carreira científica em plantas vasculares
(devo saber um pouco mais de eucaliptos do que
um empresário), ter visitado alguns dos Centros
de Biodiversidade (Biodiversity “Hotspots”) mais
relevantes do Globo Terrestre (devo saber um
pouco mais sobre biodiversidade do que os
defensores da “biodiversidade” dos eucaliptais)
e ter sido docente de Botânica Farmacêutica
(devo saber um pouco mais sobre a relevância
de biodiversidade na saúde e vida humana, do
que os economistas e financeiros), não me cabe
arguir sobre a hecatombe que esta alteração
legislativa de arborização e rearborização vai
causar neste país já tremendamente eucaliptado.
Durante a década de 80 (1981-1990) alertei
para as consequências da “eucaliptização”
desenfreada que decorria nessa altura.
Considero que não vale a pena enumerar essas
consequências, pois toda a gente as conhece.
Aliás, como prova disso, transcrevo o período
62 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
Eucaliptais no rio Paiva, perto de Alvarenga, 22.09.1999
CRÓNICA 63
Eucaliptização: São João do Deserto, Penela, 07.02.1998
do referido parecer elaborado pela LPN:
“A expansão do eucalipto em Portugal –
desregrada, contínua, sem compartimentação,
sem respeitar as galerias e as espécies
protegidas – está na origem de problemas
diversos que passam pela descaracterização
da paisagem, pelo consumo elevado de
água, pelos problemas causados ao nível
dos incêndios (inflamabilidade da folhagem,
combustibilidade dos povoamentos e
dificuldades acrescidas no combate), pela
diminuição da biodiversidade e pelo seu
carácter invasor. Todos estes problemas estão
abundantemente identificados em diversos
documentos de natureza técnica e científica.”
A maioria das pessoas, particularmente
os empresários, industriais, economistas,
financeiros e políticos, consideram que
a economia e o poder financeiro são o
melhor suporte para o futuro de um país.
Esquecem-se de que quanto mais elevada
for a biodiversidade de um país, mais seguro
e promissor será o seu futuro. Os exemplos
estão à vista. Os países árabes vivem
atualmente na abastança, mas não estão
a acautelar o futuro, pois quando se lhes
acabarem as reservas petrolíferas, não têm
biodiversidade suficiente para sobreviver, nem
terão poder económico, que agora têm, para a
importar (no Gabão, também rico em petróleo,
chegam a importar alface de Paris…). Há
poucos anos, numas Jornadas na Região
Centro, o Presidente de Câmara de Mortágua
(não sei o nome, nem o partido político a que
pertence) afirmou que o que era importante
para o seu concelho eram os eucaliptais.
Depois saiu, acompanhado dos seus
apoiantes, sem querer ouvir outras opiniões, o
que é habitual de quem não tem argumentos
válidos, nem sabe o que é democracia. Eu
tinha intenção de lhe perguntar se, no seu
concelho, se produziam alimentos suficientes
para a população que lá reside ou se ele
comia eucaliptos.
É bom lembrar que os outros seres vivos (a
biodiversidade) não são apenas as nossas
fontes alimentares, fornecem-nos muito mais
do que isso, como, por exemplo, substâncias
medicinais (cerca de 90% dos medicamentos
são de origem biológica), vestuário
(praticamente tudo que vestimos é de origem
animal ou vegetal), energia (lenha, petróleo,
ceras, resinas, etc.), materiais de construção
e mobiliário (madeiras), etc. Até grande parte
da energia elétrica que consumimos não
seria possível sem a contribuição dos outros
seres vivos pois, embora a energia elétrica
possa estar a ser produzida pela água de uma
albufeira ou por aerogeradores, as turbinas
precisam de óleos lubrificantes. Estes óleos são
extraídos do “crude” (petróleo bruto), que é de
origem biológica.
Portanto, temos de assumir o compromisso
de preservar ao máximo a biodiversidade, pois
sem os outros seres vivos (biodiversidade)
perderemos o ensejo (oportunidade) da
sobrevivência da nossa espécie.
Portugal, tem, pois, de preservar os
ecossistemas que possui com elevada
biodiversidade e não substituí-los por
ecossistemas de biodiversidade quase nula,
como são os eucaliptais. Portugal tem de
produzir mais produtos alimentares e não deixar
ao abandono campos agrícolas ou arborizálos com eucaliptos. Se não fizermos isso, o
país não tem futuro, pois nunca terá poder
económico para importar toda a alimentação,
produtos farmacêuticos, vestuário, etc. Poderá
estar repleto de eucaliptais, mas a maioria
da população morrerá à fome ou por falta de
cuidados de saúde.
Durante a referida década de 80, fui
terrivelmente vilipendiado, ameaçado
e prejudicado, pois os promotores da
eucaliptização não perdoaram (nem perdoam)
a minha “ousadia”. Devo dizer que não retiro
nem uma palavra a tudo quanto escrevi sobre
este assunto. Lembro-me que nessa altura
houve um Ministro que afirmou publicamente
que considerava os eucaliptos o nosso
“petróleo verde”. Tal como nos países ricos
em crude (vulgo petróleo), essa riqueza
serviu para o enriquecimento de uma minoria
oligárquica, mas o povo continua pobre, tal
com em Portugal. Continuo a não acreditar
nos políticos e dirigentes florestais que apoiam
ou elaboram legislação sobre arborização
do país, pois os da referida década que me
vilipendiaram e quiseram levar-me a tribunal
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 63
64 CRÓNICA
foram, depois, colocados na indústria de
pasta para papel (um Ministro da Agricultura
para administrador e alguns elementos dos
“Serviços Florestais” para outros cargos).
Como estamos não só numa época de
“reformulação” linguística, em que uns estão
de acordo (particularmente os políticos
que legislaram, sem perceberem nada de
linguística) e outros em desacordo, por
serem linguistas e gostarem do português,
como também porque o português é uma
língua dinâmica, considero que se deve
aproveitar a “onda” e incorporar na nossa
língua (portanto, referenciados nos novos
dicionários) muitos dos termos (senão todos)
que propus nalguns textos publicados
nessa década (ex.: A eucaliptização da
língua portuguesa - Jornal de Coimbra
66: 8-9, 1988; A eucaliptização - Quercus
(Bragança), 11 pág., 1989; Eucaliptado o
país, eucaliptar a língua. – Zimbro, Sér. 2, 6:
14-18; (1989). Exemplificamos apenas com
uma dezena desses novos termos a adoptar
em português: EUCALIPTOMANIA: Tipo de
esquizofrenia incurável, que faz com que
o doente destrua todas as plantas para as
substituir por eucaliptos. O doente não pode
ver um carvalho, uma oliveira, um sobreiro,
enfim, qualquer árvore que não seja eucalipto.
Entra imediatamente em crise e se não
substituem logo as árvores da propriedade
que adquiriu ou da zona que o rodeia,
torna-se violento, chegando a incendiar, para
assim fazer desparecer as outras árvores
e depois eucaliptar. EUCALIPTIA: Doença
infeciosa provocada por uma bactéria, mas
controlada por vacinação. EUCALIPTITE:
Doença virulenta e gravíssima, que tendo já
atacado alguns governantes e muitos dos
grandes defensores da nossa economia
“independente”, pode vir a alastrar por todo
o país. Propaga-se, tal como a eucaliptia,
não por contágio pessoal direto, mas através
de moeda em papel (vulgo notas de banco).
EUCALIPTOCOCOS: Bactéria que provoca
a eucaliptia. EUCALIPTINA: Medicamento
que ameniza a eucaliptia e a eucaliptite, mas
não as cura. EUCALIPTEIRA: Aguardente de
eucalipto, de péssimo sabor, mais alcoólica
do que a medonheira e muito apreciada por
eucaliptólicos. EUCALIPTÓLICO: Viciado
em eucaliptos. Alguns eucaliptólicos têm
conseguido tratar-se, não porque existam
centros de recuperação específicos em
Portugal, mas por vontade própria, depois
de verem como o eucalipto os levou à
miséria. Infelizmente, isso só acontece
64 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
quando a pessoa atinge idade avançada,
pois os efeitos maléficos do eucalipto não
são imediatos. EUCALIPTOL: Vocábulo já
em uso, que serve para designar um produto
químico aromático, extraído dos eucaliptos,
havendo até no mercado rebuçados de
eucaliptol. ÓCALIPTO: Vocábulo derivado
do termo latino eucalyptus por síncope
popular. EUCALIPTOFESTA: Ou Festa
“Tradicional” da Flor de Eucalipto, tal como
já houve (felizmente já extinta) a Festa
“Tradicional” da Flor da Mimosa. Proponho
que esta Festa decorra na Serra d’Ossa ou
no concelho de Mortágua e, para a tradição
ser mais marcante, devem mandar vir uns
coalas, pois estes animais são o símbolo
da Austrália e o eucalipto mais cultivado no
nosso país, o Eucalyptus globulus, é a árvore
nacional da Tasmânia, que, como se sabe,
é parte integrante da Austrália. Cumpreme esclarecer que, na referida década de
80, as celuloses chegaram a distribuir um
autocolante pela população escolar, para
os incentivar a apoiarem a eucaliptização
desenfreada que processaram.
Estes são apenas exemplos de um amplo leque
de vocábulos a incorporar na língua portuguesa,
com base no termo latino eucalyptus.
P.S.: Cumpre-me esclarecer que não sofro de
EUCALIPTOFOBIA. Sou Botânico, por isso
não sou inimigo de nenhuma árvore, como
é o eucalipto. Sou é contra a eucaliptização
desenfreada e desordenada.
Os coalas são um símbolo da Austrália:
foto obtida em Queensland, Lone Pine
Póster da década de 80 quando das primeiras campanhas de eucaliptização
Um eucaliptal tem uma biodiversidade muito baixa – Pombal, 11.04.1998
BIBLIOTECA 65
Ciência e tradição
portuguesa
A Apenas Livros, uma editora com 15 anos
é gerida por três sócios e foi criada com a finalidade de divulgar, a baixo custo, a cultura
portuguesa principalmente no meio universitário.
Com muita perseverança a editora foi amadurecendo e enfrentando dificuldades até
que, alguns anos mais tarde, lançou um projeto editorial intitulado “Apenas de cordel”.
Trata-se de singulares coleções de pequenos livros, 21x15, de design gráfico simples
e conteúdo valioso que versam sobretudo
temas da ciência e da tradição portuguesa,
a modernidade, os costumes, as receitas, os
dizeres que nos preenchem vazios da memória coletiva com a cultura que tende a desaparecer da tradição escrita.
Cerca de 400 autores, entre estudantes,
professores, especialistas, mestres e outros já
viram os seus trabalhos publicados pela editora, que avalia o interesse do trabalho que
lhes é enviado e decide a sua publicação ou
não.
Estão já constituídas neste projeto editorial
mais de 30 coleções temáticas onde encontramos desenvolvidos assuntos como: Os
queijos portugueses com tradição; Plantas
medicinais e condimentares; Remédios naturais, etnobotânica das plantas medicinais; Arquitetura de terra; Cogumelos; O pão através
dos tempos; A cerâmica de Rafael Bordalo; A
manteiga em Portugal; A pastorícia em Montalvão; A xerojardinagem, jardins com pouca
rega, e muitos, muitos outros.
O projeto “Apenas de cordel”
constitui de momento o setor mais
importante da editora.
A distribuição já foi feita em todo
o país, mas de momento efetua-se
só em Lisboa. As pequenas livrarias ultrapassam uma turbulência
financeira que tem vindo a prejudicar a editora e a distribuição.
Estas coleções não
se encontram à venda
nas grandes superfícies
mas pode encontrá-las,
bem como o restante
catálogo da editora, no
sítio da Apenas Livros
na internet, e se calhar
ainda encontra o livro em
que está aquele tema da
cultura ou tradição portuguesa que sempre lhe
despertou interesse.
A título de curiosidade,
um projeto com a mesma finalidade, instalou-se
recentemente no Brasil
pela mão da Arte-Livros
Editora.
Por Filipe Vieira
Praia da Aguda • Vila Nova de Gaia
Aquário e Museu das Pescas
De segunda a sexta-feira
das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00;
Sábados, domingos e feriados
das 10h00 às 18h00
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 65
66 COLETIVISMO
O seu voto fará
este projeto voar
mais alto
A Sociedade Portuguesa para o Estudo das
Aves (SPEA) apresentou este ano, pela 1.ª vez,
um projeto candidato ao Orçamento Participativo 2012 da Câmara Municipal de Lisboa.
Aliar a recuperação de um edifício histórico à
criação de um centro de interpretação ambiental dedicado às aves, é a nossa proposta. O
nome do projeto é “Dar Asas ao Património Urbano” e acreditamos que esta proposta tem, de
facto asas, pois encontra-se já na lista definitiva
de projetos a serem votados. É nesta fase que
precisamos do seu voto. As votações terminam
a 31 de outubro.
Muitas pessoas desconhecem a grande variedade de aves que habitam em zonas urbanas.
Bem perto do coração de Lisboa, no Lumiar,
o parque edificado na Quinta das Conchas é
atravessado diariamente por muitas pessoas
no seu percurso matinal a caminho do trabalho,
e muitas outras elegeram-no como espaço de
Clara Ferreira
Birdwatching
lazer para os passeios em família ou para fazerem exercício físico. Mas a Quinta das Conchas
e dos Lilases, no seu conjunto, também ganha
vida com largas dezenas de melros, alguns patos-reais, chapins, pardais, periquitos-de-colar,
piscos-de-peito-ruivo, rabirruivos, gaios, falcões,
águias-de asa-redonda, garças-cinzentas que
adormecem no topo das árvores, andorinhas e
andorinhões que, na altura da primavera, aproveitam o final da tarde para altos voos. No meio
deste bonito refúgio natural em plena cidade,
um antigo palacete em ruínas, aguarda um final
feliz. Antiga casa de verão de Faria Mantero, o
palacete da Quinta das Conchas tem gerado,
pelo seu estado de conservação atual, alguma
contestação pública. Pela sua essência histórica
e pela sua envolvente natural, este é um edifício
que merece ser recuperado e ganhar vida.
Recuperar e dinamizar um espaço com essência histórica, aproximar a população do patri-
Quer fazer parte deste projecto?
Quer divulgar os seus produtos a mais de um milhão de leitores?
Garanta a sua presença na próxima revista!
Parques e Vida Selvagem
Parque Biológico de Gaia | 4430 - 757 Avintes
Telemóvel: 969 105 613 | e-mail: [email protected]
66 • Parques e Vida Selvagem outono 2012
mónio natural que a envolve, desenvolver ações
de educação ambiental para crianças e jovens,
disponibilizar uma biblioteca e um local que funcione como centro de educação e interpretação
ambiental, é a proposta que a SPEA gostaria de
ver concretizada. Ganha o património, ganham
a natureza e as aves, ganha a população local
e quem visita ou trabalha na cidade. Para isso,
precisamos que as pessoas votem e, para isso,
basta ao cidadão comum inscrever-se no site
da C.M.Lisboa, procurar este projeto na lista de
candidatos e votar.
Vote em: http://www.lisboaparticipa.pt
Texto: Susana Alves/Clara Ferreira
Sociedade Portuguesa
para o Estudo das Aves
Avenida João Crisóstomo, n.º 18 - 4.º - Dir.
1000-179 Lisboa
[email protected] • www.spea.pt
GAIA
2013
– Impostos
+ solIdArIedAde
+ desenvolvImento
– Impostos
· Isenção totAl de tAxA de urBAnIzAção no InterIor do concelho e centro hIstÓrIco;
· menos ImI: tAxA máxImA(0,5%) GAIA(0,475%);
· menos derrAmA: 2012 – 1,50%; 2013 – 1,25%.
+ solIdArIedAde
· lIvros escolAres GrAtuItos pArA 14 mIl crIAnçAs;
· novAs escolAs púBlIcAs de excelêncIA pArA 1500 Alunos;
· medIcAmentos mAIs BArAtos pArA os mAIs cArencIAdos;
· 500 postos de trABAlho pArA Jovens Ao ABrIGo do “Impulso Jovem”.
+ desenvolvImento
· requAlIfIcAção de vIlA d’ este;
· 2.ª fAse de reABIlItAção dA orlA mArítImA;
· centro de Alto rendImento olímpIco;
· reABIlItAção dA orlA rIBeIrInhA (ponte d. luIs I/AreInho de olIveIrA do douro);
· cIrculAr do centro hIstÓrIco;
· duplIcAção do pArque BIolÓGIco munIcIpAl;
· novos pArques de estAcIonAmento no centro urBAno.
Parques e Vida Selvagem outono 2012 • 67
Centro de Congressos
Hospedaria
Self-service
Parque de Auto-caravanas
Auditório
e muita, muita Natureza!
a apenas 15 minutos
do centro de Vila Nova de Gaia
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Litoral Norte - Parque Biológico de Gaia