MEIOSE EM ACESSO HEXAPLÓIDE DE BRACHIARIA BRIZANTHA (POACEAE) Vergílio Calisto (PIBIC/CNPq-UEM), Zilvani Hortelina Bernardo (IC-BALCÃO /CNPq/UEM), Elisangela Mendes dos Santos (Colaboradora), Cacilda Borges do Valle (Colaboradora), Maria Suely Pagliarini (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Maringá/Centro de Ciências Biológicas Palavras-chave: Brachiaria brizantha, meiose, pastagens, melhoramento Resumo: Um acesso hexaplóide (2n=6n=54) de B. brizantha (B081) foi analisado. Anormalidades típicas da poliploidia, como cromossomos em ascensão precoce em metáfases, cromossomos retardatários em anáfases e micronúcleos nas telófases e tétrades foram freqüentes. Uma média de 38,78% de células analisadas apresentou anormalidades meióticas. Este acesso, por ser hexaplóide, não pode funcionar como doador de pólen, uma vez que não há acesso sexual hexaplóide para atuar como fêmea em cruzamentos interespecíficos. Introdução A maioria das gramíneas forrageiras cultivadas no Brasil é composta por espécies de origem africana, tais como Brachiaria, Panicum, Pennisetum, Andropogon, Setaria, Cynodon e Cenchrus. Algumas espécies introduzidas na época do descobrimento do Brasil são consideradas “espécies naturalizadas”. O processo foi realizado de forma involuntária, tendo o material sido trazido no período colonial, possivelmente, como cama de escravos (Pereira et al., 2001). O gênero Brachiaria, amplamente distribuído no continente africano, conta com cerca de 100 espécies, dentre as quais, algumas apresentam grande potencial como planta forrageira. Embora a maioria das cultivares disponíveis no mercado seja de B. brizantha, esta espécie é a melhor representada no banco de germoplasma da Embrapa Gado de Corte por apresentar várias características agronômicas desejáveis, dentre elas, resistência à cigarrinha-das-pastagens. Acessos desta espécie tem sido alvo não apenas de seleção direta para a produção de novas cultivares como também de hibridização interespecífica, a princípio com B. ruziziensis. Todavia, como os acessos sexuais de interesse agronômico desta última espécie são tetraplóides (2n=4x=36), somente acessos de B. brizantha com este nível de ploidia podem ser utilizados como genitor masculino em cruzamentos. Frente ao exposto, o objetivo deste trabalho é, através da Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 análise meiótica, determinar o número cromossômico, o nível de ploidia e o comportamento meiótico de acessos disponíveis no banco de germoplasma desta espécie com um subsídio ao programa de melhoramento. Materiais e Métodos O acesso de Brachiaria brizantha analisado foi coletado em parcelas do banco de germoplasma de Brachiaria do Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (CNPGC/Embrapa), sediado em Campo Grande – Mato Grosso do Sul. Os acessos foram coletados na década de 80, nas savanas africanas. Para as análises de comportamento meiótico foram utilizadas as inflorescências jovens colhidas ainda envoltas em folha bandeira. Estas foram fixadas em etanol, clorofórmio e ácido propiônico, nas proporções 6:3:2, por 24 horas. Após esse tempo, o material foi transferido para álcool 70% e condicionado sob refrigeração até o momento das análises meióticas. Os microsporócitos foram preparados pela técnica de esmagamento e corados com carmim propiônico a 1%. A documentação fotográfica foi feita em filme Kodak Imagelink HQ, branco e preto. Resultados e Discussão O acesso B081 apresentou 2n=54 cromossomos, com associações cromossômicas na diacinese de bi a hexavalentes, sugerindo ser derivado de número básico de cromossomos x = 9. Assim, este acesso seria hexaplóide (2n=6x=54). Nesta espécie dois números básicos têm sido descritos, x=7 e x=9, havendo uma grande predominância de x=9 (Valle e Savidan, 1996; Mendes-Bonato et al., 2000, 2002). As três espécies de Brachiaria mais utilizadas no programa de melhoramento desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte (B. brizantha, B. decumbens e B. ruziziensis) pertencem ao mesmo grupo botânico, derivadas de x=9, permitindo cruzamentos entre elas. Em termos de comportamento meiótico, este acesso apresentou as anormalidades típicas da poliploidia, como cromossomos em ascensão precoce em metáfase I e II, cromossomos retardatários em anáfase I e II, os quais levaram à formação de micronúcleos nas telófases I e II e tétrades. Estas anormalidades tem sido amplamente descritas em acessos poliplóides de Brachiaria desta coleção (Mendes-Bonato et al., 2000, 2002, 2006; Utsunomiya et al., 2005). A percentagem de células com anormalidades meióticas neste acesso foi de 38,78%, dado compatível com o nível de ploidia e comparável com outros acessos da mesma espécie com este nível de ploidia (Mendes-Bonato et al., 2002). No gênero Brachiaria, a maioria das espécies é poliplóide e a poliploidia está associada à apomixia, uma forma de reprodução assexuada, onde o embrião tem origem a partir do tecido materno. Todavia, para o desenvolvimento da semente, o núcleo secundário do saco embrionário Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 O presente trabalho tem por objetivo avaliar acessos de B. brizantha em seu comportamento meiótico e indicar aos melhoristas desta cultura quais são os acessos com maior estabilidade meiótica e que podem ser utilizados como parentais masculinos em cruzamentos interespecíficos e intraespecíficos. Devido à poliploidia existente no gênero Brachiaria, e sua estreita relação com apomixia, somente acessos tetraplóides apomíticos podem atuar como doadores de pólen se apresentar meiose relativamente regular que garanta uma boa viabiliade de pólen. Dentro deste contexto, conclui-se que o acesso B081 de B. brizantha, por ser hexaplóide, não pode funcionar como doador de pólen, uma vez que não há acesso sexual hexaplóide para atuar como fêmea nos cruzamentos. Acessos hexaplóides podem ser selecionados diretamente para comporem variedades dependendo de suas características agronômicas. Conclusões Apesar do acesso B081 apresentar razoável regularidade meiótica, por ser hexaplóide (2n=6x=54), não pode funcionar como doador de pólen em cruzamentos interespecíficos, uma vez que não há acesso sexual hexaplóide para atuar como fêmea. Acessos hexaplóides podem ser selecionados para comporem diretamente variedades dependendo de suas características agronômicas. Agradecimentos Os autores agradecem a UNIPASTO pelo apoio financeiro e ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica Referências Mendes-Bonato, A.B. Caracterização citogenética de acessos de Brachiaria brizantha (Gramineae). Dissertação-Mestrado, Universidade Estadual de Maringá, 2000. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 Mendes-Bonato, A.B.; Risso-Pascotto, C.; Pagliarini, M.S.; Valle, C.B. Chromosome number and microsporogenesis in Brachiaria brizantha (Gramineae). Euphytica 2002, 125, 419. Mendes-Bonato, A.B.; Pagliarini, M.S.; Risso-Pascotto, C.; Valle, C.B. 2006. Chromosome number and meiotic behavior in Brachiaria jubata (Gramineae). J. Genet. 2006, 85, 83. Pereira, A.V.; Valle, C.B.; Ferreira, R..P.; Miles, J.W. Melhoramento de Forrageiras Tropicais. In: Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas, Nass, L.L.; Valois, A.C.C.; Melo, I.S.; Valadares-Inglis, M.C. (eds). Rondonóplis: Fundação MT, 2001. Risso-Pascotto, C.; Pagliarini, M.S.; Valle, C.B. 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