1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS MESTRADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA UMA ABORDAGEM PARA O ENSINO DE FÍSICA A ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS: “UM OLHAR DIFERENTE PARA O ESPELHO” Maurisete Fernando Ferreira BELO HORIZONTE 2014 2 UMA ABORDAGEM PARA O ENSINO DE FÍSICA A ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS: “UM OLHAR DIFERENTE PARA O ESPELHO” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientador: Prof. Dr. Amauri Carlos Ferreira Co-orientadora: ProfªDra Adriana Gomes Dickman. Belo Horizonte 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais F383u Ferreira, Maurisete Fernando Uma abordagem para o ensino de física a alunos deficientes visuais: “um olhar diferente para o espelho” / Maurisete Fernando Ferreira. Belo Horizonte, 2014. 81f.: il. Orientador: Amauri Carlos Ferreira Coorientadora: Adriana Gomes Dickman Dissertação (Mestrado)- Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. 1. Física - Estudo e ensino. 2. Deficientes visuais - Orientação e mobilidade. 3. Óptica geométrica. 4. Material didático. 5. Representação (Filosofia). I. Ferreira, Amauri Carlos. II. Dickman, Adriana Gomes. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título. CDU: 53:376.32 3 Maurisete Fernando Ferreira UMA ABORDAGEM PARA O ENSINO DE FÍSICA A ALUNOS DEFICIENTES VISUAIS: “UM OLHAR DIFERENTE PARA O ESPELHO” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Stricto Sensu da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. ______________________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Amauri Carlos Ferreira _______________________________________________________ Co-Orientadora: Profa. Dra. Adriana Gomes Dickman ______________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Maria Mourão Cardinalli ______________________________________________________ Profa. Dra. Eliane Scheid Gazire Belo Horizonte, 1 de abril de 2014 4 A meus pais Adalir de Freitas Ferreira e Maximiano Ferreira (in memorian) que sempre me incentivaram, me apoiaram e me amaram de forma incondicional. À minha Esposa Helena que está sempre ao meu lado me apoiando e incentivando. E aos meus filhos que me inspiram. Dedico este trabalho a eles com todo o meu amor. 5 AGRADECIMENTOS Aos professores do Instituto São Rafael por me darem as primeiras orientações que me permitiram iniciar todo este trabalho. À professora Judith Vilas Boas do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da PUC Minas. Pelos seus ensinamentos e por compartilhar de suas vivências comigo iluminando grande parte desta jornada. Agradeço a estas pessoas que muito me ensinaram. Aos meus amigos e colegas que demonstraram muito empenho e dedicação, a esta turma que era especial no sentido melhor da palavra. À primeira turma que me marcou bastante e sob diversos aspectos, vejo o quanto me ensinaram, inspirando mais a mim do que eu a eles. A Associação Pré-UFMG que acreditou no sonho de uma universidade para todos e que me permtiu estar à frente deste projeto. Aos meus orientadores por acreditarem em mim, pelo apoio e pela orientação tão valorosa. 6 “Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero. Tenho felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas, elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos!” Clarice Lispector 7 RESUMO Neste trabalho foi desenvolvido um Curso de Óptica geométrica adaptado para alunos com deficiência visual. O Curso é composto por um conjunto de atividades para introduzir conceitos e fenômenos relacionados às propriedades da luz. As atividades tiveram como apoio três componentes práticos: Construção de materiais concretos; Desenvolvimento de uma linguagem baseada em representações; Participação e avaliação das aulas por estudantes cegos. Antes de iniciar o Curso, os alunos foram entrevistados, de acordo com a metodologia de história oral de vida e temática, buscando identificar informações sobre sua deficiência visual, vivência escolar e conceitos prévios de Óptica geométrica. O processo de avaliação foi realizado em duas etapas, a primeira consistiu de uma entrevista aos alunos participantes sobre a opinião deles em relação à metodologia do curso, além de uma pré-sondagem de conceitos assimilados; na segunda etapa um teste de conhecimentos foi respondido pelos alunos. A análise dos dados indica que os alunos avaliaram o Curso e o material desenvolvido positivamente. Uma comparação dos dados da entrevista inicial com o desempenho final mostra que houve um ganho conceitual considerável em todos os alunos que participaram dos testes. De acordo com nossos resultados, alunos com um histórico de estudos marcado pelo apoio familiar e escolar tiveram um aproveitamento melhor. Palavras-chave: Ensino de física. Deficientes visuais. Óptica geométrica. Representação. Material didático adaptado. 8 ABSTRACT In this work we develop a course on basic geometrical optics adapted for blind students. The course is composed by a set of activities designed to introduce concepts and phenomena related to the properties of light. The elaboration of the activities was based on three practical components: Construction of tactile materials and models; Development of a proper language based on representations; Participation and evaluation of the course by blind students. Before starting, the blind students were interviewed, according to the oral history methodology (life history and thematic), to seek information about their visual ability, school experience and previous concepts about geometrical optics. The evaluation process was performed in two steps, the first consisted of an interview about the course methodology and general understanding of light; in the second step, the students answered a knowledge test. The students evaluated positively the course and the adapted material. A data comparison, from the initial interview and the final test and interview, shows a considerable conceptual gain of all the participants. Acccording with our results, we noted a better performance in students with a study historic characterized by family and school support. Keywords: Physics education. Blind students. Geometrical optics. Representation. Adapted didactic material. 9 INDICE DE FIGURAS FIGURA 1 - ALUNO USANDO UM MATERIAL FEITO DE BARBANTES, PREGOS E MIÇANGAS EM UMA TÁBUA..............................................................................................................................................................42 FIGURA 2 - ALUNO EXPLORANDO O APARATOQUE REPRESENTA O ECLIPSE SOLAR..................................44 FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO TRADICIONAL DE UM RAIO DE LUZ..............................................................55 FIGURA 4- MAQUETE REPRESENTANDO UM RAIO DE LUZ...........................................................................57 FIGURA 5 – REPRESENTAÇÃO DO RAIO DE LUZ PELA MAQUETE E RAIO DE LUZ REAL.............................58 FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DE UM FEIXE PARALELO PELA MAQUETE....................................................58 FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO DE UM FEIXE CONVERGENTE PELA MAQUETE............................................59 FIGURA 8 – REPRESENTAÇÃO DE UM FEIXE DIVERGENTE PELA MAQUETE...............................................60 FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DA PROPAGAÇÃO RETILÍNEA DA LUZ PELA MAQUETE...............................58 FIGURA 10 – INDEPENDÊNCIA DOS RAIOS LUMINOSOS E SUA REPRESENTAÇÃOPELA MAQUETE............59 FIGURA 11 – ALUNO MANUSEANDO A MAQUETE QUE REPRESENTA A INDEPENDÊNCIA DOS RAIOS LUMINOSOS.....................................................................................................................................................59 FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO DA REVERSIBILIDADE DOS RAIOS LUMINOSOS.........................................60 FIGURA 13 – REPRESENTAÇÃO DA REVERSIBILIDADE DOS RAIOS LUMINOSOS.........................................60 FIGURA 14 - REPRESENTAÇÃO DE UMA FONTE PUNTIFORME......................................................................61 FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DE UMA FONTE EXTENSA...........................................................................61 FIGURA 16 – ESQUEMA MOSTRANDO A FORMAÇÃO DE SOMBRA E PENUMBRA........................................62 FIGURA 17 – REPRESENTAÇÃO DE SOMBRA E PENUMBRA NA MAQUETE...................................................62 FIGURA 18: REPRESENTAÇÃO DE UM MEIO TRANSPARENTE NA MAQUETE...............................................63 FIGURA 19: REPRESENTAÇÃO DE UM MEIO TRANSLÚCIDO NA MAQUETE.................................................64 FIGURA 20: REPRESENTAÇÃO DE UM MEIO OPACO NA MAQUETE..............................................................64 FIGURA 21 – ESQUEMA DE UM ECLIPSE SOLAR...........................................................................................65 FIGURA 22 – REPRESENTAÇÃO DO ECLIPSE SOLAR NA MAQUETE..............................................................66 FIGURA 23 – REPRESENTAÇÃO DA REFLEXÃO DIFUSA NA MAQUETE........................................................67 FIGURA 24 – REPRESENTAÇÃO DA REFLEXÃO ESPECULAR NA MAQUETE.................................................67 FIGURA 25 – REPRESENTAÇÃO DAS LEIS DA REFLEXÃO NA MAQUETE......................................................67 FIGURA 26 – ESQUEMA DA IMAGEM FORMADA POR UM ESPELHO PLANO E A REPRESENTAÇÃO FEITA NA MAQUETE........................................................................................................................................................69 FIGURA 27 – FOTO DA IMAGEM DA MÃO DIREITA FORMADA POR UM ESPELHO PLANO...........................69 FIGURA 28 – DIAGRAMA DA IMAGEM DE UM CORPO EXTENSO POR UM ESPELHO PLANO........................70 FIGURA 29 – REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM DE UM CORPO EXTENSO EM UM ESPELHO PLANO..............70 10 LISTA DE QUADROS E TABELAS QUADRO 1 - ROTEIRO PARA A ENTREVISTA SOBRE A HISTÓRIA DE VIDA DOS ALUNOS...............................................................................................................................................................30 QUADRO 2- DADOS REFERENTES À HISTÓRIA DE VIDA DOS ALUNOS ENTREVISTADOS............................................................................................................................................ 34 QUADRO 3 – ROTEIRO PARA A ENTREVISTA SOBRE ÓPTICA GEOMÉTRICA ............ 36 QUADRO 4 – RESPOSTAS DOS ALUNOS SOBRE LUZ ............................................................ 37 QUADRO 5 – QUESTIONÁRIO APLICADO APÓS O TÉRMINO DO CURSO ................ 46 QUADRO 6 – RESPOSTAS DOS ALUNOS ÀS PERGUNTAS 6, 7 8 E 9 DA ENTREVISTA .. 49 QUADRO 7 - TESTE APLICADO AOS ALUNOS APÓS O TÉRMINO DO CURSO...............76 QUADRO 8 - GABARITO DO TESTE.............................................................................................81 QUADRO 9 - RESULTADO DO TESTE APLICADO AOS ALUNOS APÓS O CURSO........81 11 Sumário 1 2 3 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 13 1.1 FORMAÇÃO DO PROFESSOR ................................................................................................... 16 1.2 EXPERIÊNCIA PESSOAL: PRÉ-VESTIBULAR ............................................................................. 17 1.3 PROPOSTA DE ENSINO ........................................................................................................... 20 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................... 23 2.1 DEFICIÊNCIA VISUAL ............................................................................................................ 23 2.2 ENSINO DE FÍSICA A DEFICIENTES VISUAIS ............................................................................ 24 2.3 HISTÓRIA ORAL..................................................................................................................... 26 ELABORAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL ................................................................ 29 3.1 ENTREVISTAS ........................................................................................................................ 29 3.2 CONHECENDO OS ALUNOS: HISTÓRIA DE VIDA ..................................................................... 30 3.2.1 Roteiro da entrevista: primeira parte ............................................................................. 30 3.2.2 Recortes da História de vida .......................................................................................... 31 3.3 3.3.1 Roteiro da entrevista: segunda parte.............................................................................. 35 3.3.2 Recortes dos conhecimentos prévios de Óptica Geométrica .......................................... 36 3.4 DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.............................................................................. 38 3.5 ENSINANDO ÓPTICA GEOMÉTRICA ....................................................................................... 39 3.5.1 Elaboração dos instrumentos e desenvolvimento de uma linguagem ............................. 40 3.5.2 Planejamento geral das aulas ........................................................................................ 43 3.6 4 CONHECIMENTOS PRÉVIOS DE ÓPTICA GEOMÉTRICA ............................................................ 35 AVALIAÇÃO DO CURSO DE ÓPTICA GEOMÉTRICA .................................................................. 45 3.6.1 Elaboração e aplicação dos instrumentos de avaliação ................................................ 46 3.6.2 Primeira etapa: O que os alunos pensam do curso ........................................................ 47 3.6.2.1 A opinião dos alunos sobre o teste, o professor e o método aplicado ................................ 47 3.6.2.2 Identificando as dúvidas e os conceitos aprendidos pelos alunos ...................................... 48 3.6.3 Segunda etapa: Teste sobre Óptica geométrica ............................................................. 48 3.6.4 Discussão dos resultados ................................................................................................ 50 CURSO DE ÓPTICA GEOMÉTRICA PARA DEFICIENTES VISUAIS ............................ 52 4.1 UNIDADE I: RAIOS DE LUZ, PRINCÍPIOS DA ÓPTICA GEOMÉTRICA E APLICAÇÕES .................. 54 4.1.1 Primeira aula: Raios de luz ............................................................................................ 54 4.1.2 Segunda aula: Feixe luminoso........................................................................................ 56 4.1.3 Terceira aula: Princípios da Óptica geométrica ............................................................ 57 4.1.4 Quarta aula: Fontes de luz ............................................................................................. 60 4.1.5 Quinta aula: Meios ópticos ............................................................................................ 63 12 4.1.6 4.2 UNIDADE II: REFLEXÃO DA LUZ ............................................................................................ 66 4.2.1 Primeira aula: Tipos de reflexão .................................................................................... 66 4.2.2 Segunda aula: Leis da reflexão ...................................................................................... 67 4.3 5 Sexta aula: Eclipse solar ................................................................................................ 64 UNIDADE III: FORMAÇÃO DE IMAGEM EM ESPELHO PLANO ................................................... 68 4.3.1 Primeira aula: Imagem de um ponto em um espelho plano ........................................... 68 4.3.2 Segunda aula: Imagem de um corpo extenso em um espelho plano ............................... 69 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 71 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 73 APÊNDICE ......................................................................................................................................... 76 13 1 INTRODUÇÃO Durante muitos anos dominava-se a noção de que a cegueira restringia o desenvolvimento das crianças com deficiência visual. Pais e educadores afligiam-se diante da escolarização e aprendizagem destas crianças. Hoje sabe se que uma criança cega pode ter a mesma potencialidade de aprendizagem que uma criança vidente. A grande diferença está no fato de que a visão torna-se o maior veículo para a busca do aprendizado, isto é, a visão é um instrumento, uma via que leva ao cérebro as informações e sensações. Se uma criança é cega, mas possui boas condições externas e internas, ela se torna tão capaz de aprender quanto um vidente; tem potencialidade e capacidades que lhe possibilitam receber estímulos do ambiente, elaborá-los e construir conhecimentos pertinentes a partir da interação com eles (OCHAÍTA; ESPINOSA, 2004). O fato da principal via de informação em nossa sociedade, ou seja, a visão, não existir no caso de cegueira, leva os deficientes visuais a trilharem outros caminhos estabelecendo sinapses para tornar possível a aprendizagem. O desafio de nós, educadores, é encontrar caminhos alternativos, que desafiem as formas de aprendizagem instituídas como “normais”. Vygotsky(1995) considera que a evolução histórica da concepção da deficiência visual compreende três estágios: 1. Período místico - da idade média à metade da idade moderna, a cegueira era considerada uma desgraça, porém conferia ao cego uma espiritualidade só a ele acessível, sobrenatural. 2. Período biológico ingênuo - próprio do iluminismo do sec. XVIII marcado pelo grande desenvolvimento da ciência, neste período a educação passa a ser um ideal devendo ser compartilhado por todos. Louise Braille acreditou na capacidade de aprendizado da pessoa deficiente visual pelo auxílio e estímulo dos sentidos intactos com grande salto no desenvolvimento da ciência abandonando as forças sobrenaturais. 3. Período científico – reflexão sobre a educação e nesta abordagem o homem não é mais concebido como indivíduo biológico e sim como indivíduo social e histórico, a partir das relações entre os homens e da ação dos homens sobre a natureza, pelo trabalho, que o indivíduo internaliza conhecimentos. Em seus estudos sobre cegueira verifica que a cegueira provoca no indivíduo um 14 processo de compensação a esse comprometimento. Compensação essa compreendida como processo social e não orgânico, como atribuído no período anterior. A educação brasileira vive hoje um grande desafio: garantir a todos os brasileiros o direito à escola de qualidade. A legislação brasileira contém um marco legal avançado em termos de garantia de direitos às pessoas com deficiência. O considerável número de dispositivos legais na forma de leis, decretos, portarias, resoluções, instruções e medidas provisórias, no âmbito das legislações federais, estaduais e municipais representam um avanço significativo na área jurídica e na busca de direitos que vêm sendo historicamente negados aos cidadãos que apresentam algum tipo de deficiência. Mas isto, por si só, não altera a realidade social dessas pessoas. É preciso fazer acontecer um trabalho de educação de qualidade a estes cidadãos. Como é de nosso conhecimento as diversas leis sobre a inclusão atestam a necessidade de que a aprendizagem deve ocorrer em espaços sem segregação social. A educação inclusiva é um grande desafio enfrentado pelo sistema educacional, pois deve garantir o acesso a uma escola de qualidade para todos, incluindo nesta escola toda criança e/ou jovem com necessidades educacionais especiais. A proposta da educação inclusiva é ampla e inclui o acesso e a permanência de todas as crianças, jovens e adultos em todas as etapas e modalidades do sistema educacional, independente de suas condições pessoais, físicas e intelectuais, bem como sua raça ou classe social. A Lei de Diretrizes e Bases 9.394 (1996) assegura que a criança deficiente física, sensorial e mental, tem o direito de estudar em classes comuns. Dispõe no art. 58, que a educação escolar deve situar-se preferencialmente na rede regular de ensino e determina a existência, quando necessário, de serviços de apoio especializado. Enfim, a educação inclusiva remete à escola inclusiva, que se encontra em processo de construção. Antes, a escola regular não abria espaço para crianças com necessidades educativas especiais, que eram consideradas doentes, pacientes. Assim, surgiram as escolas especiais como espaços exclusivos daqueles, cuja deficiência motivou a rejeição na escola regular. Esta rejeição era justificada pela necessidade de um atendimento médico, clínico e especializado, porém não pedagógico (SASSAKI, 2010). A escola especial representa um esforço inicial, empreendido pelas famílias dessas crianças, como tentativa de assegurar a educação das mesmas. A construção de um sistema de educação inclusivo deve começar pela ruptura entre dois sistemas: o sistema de educação 15 regular e o de educação especial. Estes caminham paralelamente e distantes um do outro. As chamadas escolas regulares não assumiram como sua responsabilidade os alunos considerados diferentes; com isso, fortaleceram o fluxo de encaminhamentos indevidos para a educação especial. As escolas e classes especiais se organizaram como espaços clínicos, marcados pela ausência de um projeto pedagógico, pela inexistência de objetivos curriculares e pela falta de compromisso com o percurso acadêmico dos alunos. Estes eram tratados como doentes ou pacientes, e considerados incapacitados para o processo ensino-aprendizagem. O modelo de escola inclusiva, cuja construção representa um desafio, pressupõe uma verdadeira e efetiva organização de todo o sistema educacional, envolvendo, sobretudo, governantes, dirigentes, educadores das escolas comuns e especiais, as famílias, os próprios alunos e a sociedade em geral. A educação inclusiva pressupõe muito mais do que a garantia de vaga no sistema comum de ensino para o aluno com deficiência. Pressupõe garantir respostas pedagógicas efetivas às necessidades deste aluno, e promover o desenvolvimento social através da convivência com seus pares não deficientes. A educação de cegos no Brasil foi marcada pela criação, em 1854, do Imperial Instituto de Meninos Cegos, iniciativa de D. Pedro II. É evidente que nesse instituto o processo de segregação se instaurava, mas foi um marco que desencadeou a criação do Instituto Benjamim Constant1, referência em todo o país. Três estudantes desse Instituto criaram em Belo Horizonte, em 1926, o Instituto São Rafael2. O instituto é hoje uma referência para o ensino de alunos cegos em Minas Gerais. É importante salientar que a educação inclusiva pressupõe a melhoria em relação ao acesso educacional daqueles que se encontram em necessidades educativas especiais. Segundo Sassaki (2010), o movimento de inclusão está ocorrendo em várias partes do mundo e em diferentes segmentos sociais e educacionais, ocupando o lugar da integração social, pautando-se nos princípios da aceitação das diferenças individuais, de valorização de todas as pessoas, na convivência dentro da diversidade humana, na aprendizagem através da cooperação. Esse movimento iniciou-se na década de 1980, primeiramente nos países desenvolvidos, tomando força na década de 1990, nos países em desenvolvimento. 1 Centro de Referência nacional para atendimento deficiência visual. Dentre as suas da atribuições estão capacitação de profissionais da área da deficiência visual, assessoria a escolas e instituições, realização de consultas oftamológicas à população, reabilitação, produção de material especializado, impressos em Braille e publicações científicas. 2 O Instituto São Rafael oferece atendimento educacional especializado aos alunos matriculados na escola e às 20 superitendências regionais de ensino vinculadas à Secretaria de Estado de Educação, sendo uma referência para a formação de estudantes cegos como também para a capacitação de professores dedicados à deficiência visual. 16 No Brasil, a década de 1990 foi considerada a de grande avanço no que se refere ao processo de inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais, a LDB 9.394/96, em seu capítulo V, postula essa nova concepção no atendimento de integração dessas pessoas na educação regular (BRASIL, 1996). O documento de maior polêmica a respeito da inclusão é a “Declaração de Salamanca” de 1994, documento resultante da Conferência Mundial de Educação, no qual foi definido o princípio fundamental da escola inclusiva “Todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de qualquer dificuldade ou diferença que possam ter.” Se por um lado, a Declaração de Salamanca (1994) aponta para o processo de inclusão quando postula que: Todas as escolas regulares com orientação para a educação inclusiva são as mais eficazes no combate às atitudes discriminatórias, proporcionando condições para o desenvolvimento de comunidades integradoras, base da construção da sociedade inclusiva e obtenção de uma real educação para todos. (UNESCO, 1994). A discriminação maior ocorre quando os estudantes não se igualam em termos de aprendizagem com os demais, o que leva à evasão escolar. Tal perspectiva com estudantes cegos é real, tendo em vista que certos conteúdos exigem um tempo de aprendizagem diferente dos demais. Nessa perspectiva, com base na experiência docente de um dos pesquisadores e investigações no tema, pode-se afirmar que o processo de aprendizagem do conteúdo de Óptica para estudantes cegos exige um tempo e uma dedicação maior, tendo em vista, que para a compreensão de um processo óptico é fundamental o reconhecimento do objeto a partir do tato (DICKMAN; FERREIRA, 2008). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), devem-se considerar adaptações curriculares e didáticas segundo as necessidades dos alunos com deficiência. No caso da deficiência visual, sugere-se que os textos sejam transcritos para o Braille e que, quando possível, haja ilustrações táteis para melhorar a compreensão dos alunos cegos. Alunos com baixa visão necessitam do auxílio de recursos didáticos e equipamentos específicos para acompanhar as aulas. As Normas Técnicas para Produção de Textos em Braille (BRASIL, 2006) têm como objetivo a padronizaçãodas formas de aplicação do Sistema Braille. Dessa maneira, garante-se que os livros didáticos em Braille possam transmitir aos alunos cegos as mesmas informações e experiências transmitidas aos demais alunos. 1.1 Formação do professor 17 A necessidade de novas práticas que proporcionem uma educação para todos, a importância de se adotar um currículo aberto e propostas curriculares diversificadas, em lugar de uma única concepção, demanda uma diversidade didática do professor para que alunos com necessidades especiais de aprendizado possam, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), estar, preferencialmente, na rede pública de Ensino. No entanto, a lei não resolve o problema, pois é preciso condições reais que possibilitem o processo de inclusão gradativa e ao mesmo tempo de conhecimento da necessidade educativa especial do estudante. No que se refere aos estudantes cegos, em seu processo de aprendizagem, o professor deve aprender a conhecer as características da deficiência visual para melhor atender a este aluno. Os estudantes cegos são como quaisquer outros e respondem bem quando sabem o que é esperado deles. Quando o esperado está de acordo com suas habilidades. (AMARAL, 2000) É visível a insuficiência da formação oferecida aos professores quando se trata da preparação para o trabalho com a diversidade (CAMARGO; NARDI, 2007). Vários trabalhos discutem essa lacuna nos cursos de licenciatura, haja vista que, em geral, “a formação de professores é estruturada para estudantes que não possuam necessidades educativas especiais e que, ao mesmo tempo, acompanhem a explicação a partir do quadro e com os vícios de quem utiliza a visão”. (DICKMAN; FERREIRA, 2008, p.5) O professor, inicialmente, deveria avaliar as possíveis dificuldades de aprendizagem da turma e buscar sanar os problemas identificados. Mas muitas vezes, faltam ao professor recursos e materiais didáticos adequados para aprendizagem, tanto para alunos videntes, quanto mais para alunos com deficiência visual. Cabe ao professor utilizar técnicas, estratégias e recursos didáticos que possibilitem aos alunos cegos ou com baixa visão terem acesso ao conhecimento. Mas, isto requer do professor um constante aprendizado, criatividade, competências, habilidades e uma mudança de paradigma. 1.2 Experiência pessoal: pré-vestibular Esse trabalho surgiu a partir da vivência do autor desta dissertação ao lecionar para estudantes cegos no ano de 2000, quando então recém-coordenador pedagógico da associação pré-UFMG3. Nesse ano, a associação pré-UFMG iniciou a proposta de preparação de 3 A associação pré-UFMG é um curso preparatório para vestibular, fundado em 1996 por integrantes, na época, do DCE-UFMG. O objetivo do curso é proporcionar formação específica para o processo seletivo da UFMG com mensalidades acessíveis para alunos oriundos de escolas públicas. 18 estudantes cegos para o vestibular, que foi transformado em um projeto de nome São Rafael (em referência ao Instituto São Rafael) e posteriormente “Universidade à Vista”. O projeto nasceu da necessidade de preparar alunos cegos que já estudavam na associação para o vestibular, e da preocupação dos professores destes alunos com sua situação de aprendizado, os quais se sentiam incapazes sem poder de ajudá-los de forma efetiva. Destes professores veio a proposta de se criar uma turma dedicada a estes alunos. Procurou-se o apoio pedagógico do Instituto São Rafael, cuja parceria permitiu que os professores da associação aprendessem a trabalhar de forma mais eficiente com os alunos cegos. A criação de uma turma de deficientes visuais não constituiu um processo de exclusão, mas uma maneira objetiva e eficiente de sanar as deficiências de formação e preparação para o vestibular desses estudantes. Sabe-se que na ausência de um dos sentidos apuram-se outros. No entanto, para “aprender a ver com as mãos” é preciso de um tempo maior e uma dedicação do professor na criação de materiais didáticos alternativos que atendam às suas demandas. Pensando assim, foi criada uma turma apenas para alunos deficientes visuais, pois era uma das maneiras de tratar de forma objetiva e eficiente as necessidades pedagógicas destes alunos. Além disto, eles frequentavam as turmas dos alunos videntes. O contrário também era permitido, ou seja, estes podiam frequentar a turma dos deficientes visuais. O projeto contava com um coordenador e uma equipe de professores, monitores e uma estagiária de psicologia. Esta turma tinha vinte seis aulas por semana, além de acesso às monitorias e aulas em outras turmas. A grade curricular era comum às das demais turmas. Tudo isto com o objetivo de preparar estes alunos deficientes visuais para o vestibular. Nossa proposta pedagógica era inicialmente de fazer uma revisão em todo conteúdo cobrado no vestibular. Mas, constatamos que estes nossos alunos não haviam apreendido durante seus anos escolares a maioria dos conteúdos cobrados no vestibular. Daí, mudamos nossa estratégia e passamos a ensinar estes conteúdos para eles. A área de Física foi dividida em duas etapas: Física I tratando dos temas de Mecânica e Termologia, e Física II tratando dos temas Óptica, Ondas, Eletromagnetismo e Física moderna, conforme exigência do vestibular. A responsabilidade do conteúdo de Física II pertencia ao autor deste trabalho, e por essa razão, o interesse em entender os problemas e desafios em ensinar o conteúdo de Óptica para estudantes cegos. Há, na área de formação de professores, um hiato no que se refere ao ensino de qualquer disciplina para estudantes com necessidades educativas especiais. Em particular, para estudantes cegos, esse hiato tem sido minimizado pelo interesse dos próprios cegos em exigir que seus direitos sejam respeitados e a lei da inclusão seja cumprida. No entanto, as 19 tentativas para solucionar esse hiato são insuficientes, tendo em vista que a formação dos licenciados, em geral, não contempla discussões e teorias sobre o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com necessidades educativas especiais. Dessa forma, o professor aprende a lidar com a situação na prática. A experiência não foi diferente e ensinar Óptica a estudantes cegos foi e tem sido um desafio, e como todo desafio exige perseverança, seu processo é mesclado de problemas. Lembro-me ainda de minha primeira aula para os alunos cegos. Estava com o “espírito” preparado, pois estava ciente das minhas limitações, enquanto professor para tal aula. Mas, ainda assim continuei em frente e a experiência, eu diria, foi inusitada uma vez que me deparei com uma turma com 18 alunos, com objetivo de ensinar Óptica, algo que era completamente novo para aqueles alunos (bom, assim eu achava). Meu primeiro objetivo foi conhecer estes alunos, procurar compreender a sua história, sua dinâmica e a singularidade do grupo. Além de conhecer o modo como esses alunos foram alfabetizados e o que eles conheciam e compreendiam como sendo física. Confesso que me comportei instintivamente, por ignorar como iria iniciar o curso. Surpreendentemente, foram os alunos que me direcionaram e nortearam diante das múltiplas faces da deficiência. Alguns eram completamente cegos, outros enxergavam somente sombras e sabiam indicar apenas se o ambiente estava escuro ou iluminado. Alguns dentre eles nasceram cegos, outros adquiriram a deficiência quando criança, e um deles ficou cego depois de adulto. Ou seja, a turma era bastante heterogênea. Diante de tal experiência, me vi completamente aturdido, mas ao mesmo tempo imbuído de grande entusiasmo, movido por uma enorme vontade de ensinar àqueles alunos. Decidi-me por enfrentar este desafio. Certa vez, cobri meus olhos e vivenciei a experiência próxima de não enxergar, e percebi que teria que tomar alguns cuidados, principalmente ao explicar o conteúdo e desenvolver diferentes instrumentos que os alunos pudessem tocar. Ou seja, o ideal seria trabalhar maneiras para que eles pudessem usar os outros sentidos, principalmente o tato e a audição. Para explicar o conceito de raios de luz, feixes divergentes, convergentes e paralelos, e os princípios da Óptica geométrica, utilizei canudinhos de refrigerantes, fita adesiva e barbantes como instrumentos para representar estes fenômenos para o grupo. Este tipo de abordagem promoveu interatividade entre professor e aluno. Ao longo do curso percebia-se que muitas dificuldades poderiam não existir caso houvesse maiores recursos didáticos e tecnológicos. A falta de livros e impressoras em Braille, programas de computador que transcrevem os textos escritos em textos falados, além 20 da ausência de implementação das políticas públicas que tratam o problema da inclusão destes alunos nas escolas. Nessa experiência estes alunos foram colocados em salas de aulas com os alunos videntes, com um discurso de inclusão, mas na verdade não tinha nada disto, porque eles ficavam isolados, sem receber uma orientação adequada por parte dos professores. Esses, por sua vez, em sua grande maioria não tinham orientação ou recursos pedagógicos para lidar com a barreira da falta de visão. Sem contar o preconceito, que sem dúvida, é ainda a maior barreira na educação de alunos com necessidades educativas especiais. Nas palavras de Franco e Denari, “Historicamente, o relacionamento social das pessoas cegas em relação às pessoas videntes tem se caracterizado por atitudes quase sempre de discriminação e exclusão da sociedade em relação à cegueira.” (FRANCO; DENARI, 2011, p.5) Não se pode ignorar o problema. É preciso buscar caminhos que contornem esta barreira. As pessoas são diferentes, aprendem de formas diferentes. Colocar estes alunos em uma sala de aula somente, não é incluí-los. É necessário lidar com a diferença e buscar novos caminhos para ensiná-los. A pessoa cega não é um ser privado de imagens, pois estas são construídas a partir do contato direto com o objeto. Pela observação do que está próximo, ele pode, por analogia, chegar ao conhecimento das coisas longas, pequenas, grandes e/ou perigosas. Assim, ao longo do aprendizado é necessário um treinamento intenso dos sentidos que o aluno possui. Esta prática pode levar o aluno cego a compensar a falta de estímulos e conhecimentos puramente visuais, utilizando meios, recursos, técnicas, criatividade e talento. O desenvolvimento deste trabalho, que gerou esta dissertação, teve raízes no ano de 2000, cujo fator motivador é a possibilidade de contribuir para que os professores, ao se depararem com um aluno com deficiência visual ao entrar em uma sala de aula, saibam por onde direcionar e não se sintam sós e perdidos. Esse trabalho insere-se no contexto dessa experiência pedagógica, que desde seu início trouxe as seguintes indagações: É possível ensinar física a estudantes cegos? É possível ensinar Óptica a estudantes cegos? Como? Foi a partir do sim às duas primeiras indagações que a terceira indagação tornou-se o problema central dessa pesquisa, levando à construção de um produto, que foi elaborado e testado junto a estudantes cegos, conforme poderá ser percebido. 1.3 Proposta de ensino 21 Este trabalho busca registrar a vivência do autor ao longo dos anos à frente de turmas formadas por alunos deficientes visuais que buscavam a preparação para vestibular. A turma em especial de 2008 foi a que proporcionou os dados e as entrevistas aqui citados. A metodologia aplicada vem sendo desenvolvida desde a primeira turma do ano 2000. Além de Óptica, ao longo dos anos de 2000 a 2008, o autor lecionou vários tópicos de física para alunos deficientes visuais. Esta dissertação pretende mostrar a metodologia aplicada pelo autor ensinar luz, formação de imagens, espelhos, a alunos que não enxergam. Ela trata também da inclusão dos alunos deficientes visuais em turmas de alunos videntes e suas consequências, o problema do ensino de Óptica aos alunos deficientes visuais, e, por fim, discutea falta de capacitação dos professores para ensinar alunos deficientes visuais. É importante salientar que o curso pré-vestibular “Pré-UFMG”, agora então denominado “Pré Federal”, inovou criando uma turma de alunos deficientes visuais. Esta ideia nasceu após percepção de que havia vários alunos deficientes visuais em nossas salas de aula e que estes alunos não estavam alcançando suas expectativas, ou seja, passar no vestibular. Para a realização das entrevistas utilizou-se a metodologia de história oral. A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Começou a ser utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no México, e desde então se difundiu bastante. Ganhou também cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticam: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros. Este trabalho está dividido da seguinte forma. Neste primeiro capítulo aborda-se a inclusão do aluno deficiente visual, o que levou o autor a escolher o tema Óptica para ensinar aos alunos deficientes visuais, e qual a proposta de ensino. No capítulo 2 é feita uma revisão breve da literatura que norteou este trabalho, discutindo-se também a metodologia da história oral utilizada como ponto de partida desta investigação. No capítulo 3 descrevem-se as etapas metodológicas seguidas para elaboração do produto educacional. No capítulo 4 são apresentadas a discussão e análise dos resultados da aplicação do trabalho desenvolvido. E no capítulo 5 são apresentadas as considerações finais. No Apêndice 22 tem-se o guia para orientar o professor a ensinar Óptica geométrica para alunos deficientes visuais. 23 2 REVISÃO DA LITERATURA Neste capítulo é apresentada uma revisão da literatura discutindo os tipos de deficiência visual e a relação com os materiais táteis que podem ser utilizados em sala de aula. Discutem-se também trabalhos publicados sobre o Ensino de física para deficientes visuais em que são apresentadas propostas que têm o intuito de colaborar com o ensino e a aprendizagem de estudantes deficientes visuais. Finalmente é apresentada uma justificativa para a utilização da metodologia de história oral em suas vertentes temática e história de vida junto às pesquisas realizadas com alunos com deficiência visual. 2.1 Deficiência Visual A inclusão de estudantes cegos em salas de aula regulares tem sido o motivo para compreender e buscar metodologias didáticas alternativas. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), mais de 6,5 milhões de pessoas apresentam algumtipo de deficiência visual. Neste contexto, é importante considerar quais são os graus de deficiência visual e como esta condição pode afetar a compreensão de conteúdos pelo estudante. A deficiência visual consiste em uma diminuição irreversível da resposta visual, devido a causas congênitas ou hereditárias. Esta diminuição da resposta visual pode ser classificada como leve, moderada ou severa. No caso de ausência total da resposta visual temse a cegueira. Uma diminuição profunda da resposta visual caracteriza o grupo de visão subnormal ou baixa visão. Pedagogicamente, de acordo com Conde (2011), o estudante, mesmo possuindo baixa visão, é considerado cego se necessita de instrução em Braille4, e o estudante com visão subnormal é aquele que lê tipos impressos ampliados ou com auxílio de potentes recursos ópticos. 4 Processo de leitura e escrita em relevo, com base em sessenta e quatro símbolos resultantes da combinação de seis pontos, dispostos em duas colunas de três pontos que substitui o alfabeto convencional. Este método foi desenvolvido por Louis Braille. 24 A inclusão de alunos cegos requer que o professor conheça os diversos graus de deficiência visual, e adotem práticas educativas que utilizem recursos didáticos que atendam às particularidades de cada aluno. É importante que, no caso de alunos com baixa visão, o material tenha cores contrastantes, e no caso de alunos cegos, deve-se atentar para as texturas. A representação do objeto deve ser próxima do modelo real. Os materiais não devem ser pequenos demais, pois estes se perdem com facilidade, e se forem grandes demais podem prejudicar a compreensão do todo. O relevo deve ser trabalhado com texturas variadas permitindo que o estudante cego possa destacar as partes componentes do todo. As texturas devem ser escolhidas com cuidado, assegurando-se que elas possam ser distinguidas pelo tato. Contrastes do tipo liso/áspero, fino/espesso são excelentes estimuladores táteis. O material não deve provocar rejeição ao manuseio e ser resistente à exploração tátil. (PÁSCOA; DICKMAN; FERREIRA, 2013) Se a formação de conceitos5 ocorre por meio da interação entre sujeito e objeto de estudo, o contato dos estudantes com deficiência visual com o experimento, através do tato, constitui em mais uma via para o desenvolvimento de conceitos. Vale ressaltar que a interação com o objeto permite também a ampliação da percepção tátil. 2.2 Ensino de física a deficientes visuais “É possível ensinar física para alunos deficientes visuais?” Ou ainda: “O que o cego é capaz de apreender em uma aula?” Estas são as perguntas que vem à mente ao entrar pela primeira vez em uma sala de aula em que algum aluno é, em algum grau, deficiente visual. A resposta a elas é sim. É possível ensinar física a alunos deficientes visuais. Até mesmo ensinar Óptica para os alunos cegos. A forma como o cego percebe a realidade não é igual a do vidente. Isto não quer dizer que é melhor ou pior, apenas diferente, pois o cego depende de uma organização sensorial diferente do vidente na obtenção de conhecimento. Há um senso comum que tenta relacionar o deficiente visual, mais especificamente o cego, à incapacidade. 5 Segundo Vygotsk, a questão relativa à formação de conceitos é uma extensão do processo de internalização, caracterizando-se pelo confronto entre o conhecimento espontâneo e o científico. O conhecimento espontâneo é o resultado do que se aprende no dia a dia, no contato com objetos e suas derivações no seu próprio ambiente de convivência. O conhecimento científico se dá de forma sistematizada, transmitido intencionalmente por metodologias específicas decorrentes do processo ensino aprendizagem desenvolvido no ambiente escolar. 25 Um estudante deficiente visual tem capacidade de aprender igual a de um vidente. A limitação, pela visão, a princípio, não é um fator que o impeça de aprender, mas sim, o preconceito, a falta de interesse, de método, de estímulo e de qualificação por parte do corpo docente. Sendo assim, para ensinar os alunos deficientes visuais devem-se buscar alternativas de aprendizagem que possam explorar outros sentidos da corporeidade, que não a visão como eixo principal de aprendizagem. A linguagem tátil sensorial ocupa o lugar da linguagem visual. Em geral, todo o desenvolvimento escolar de um aluno com deficiência visual se dá a partir de padrões adotados para alunos videntes, não sendo levadas em conta as diferenças de percepção. Em especial, o ensino de física utiliza-se de laboratórios didáticos e demonstrações que são planejadas e feitas para alunos videntes. É preponderante uma mudança. E não basta fazer adaptações técnicas, mas, além disso, desenvolver uma metodologia que atenda as necessidades dos alunos deficientes visuais. O desafio é fazer da sala de aula, do laboratório didático e todo e qualquer espaço escolar, um local adequado para o aprendizado de física tanto para o aluno vidente como para o aluno deficiente visual. Um levantamento dos trabalhos sobre o ensino de física a alunos deficientes visuais indica que há pouca iniciativa neste sentido. Anjos e Camargo (2011) e Machado (2010) investigaram o panorama das pesquisas em ensino de física nos principais encontros e periódicos da área e contabilizaram que apenas 1% dos trabalhos publicados referem-se ao ensino de física a deficientes visuais. Diante destes números, pode-se inferir que ainda há a necessidade de pesquisas que relacionem o Ensino de Física e a Deficiência Visual, visto que na última década houve um aumento da presença de alunos com deficiência visual nos bancos escolares e é fundamental que se garanta um aprendizado efetivo destes alunos. (ANJOS; CAMARGO, 2011, p.8) É interessante observar que um grande número de trabalhos discute práticas envolvendo a construção de maquetes para representar os fenômenos ou montagem de experimentos adaptados. Em geral, o ensino de física para deficientes visuais se baseia em experiências táteis e sonoras, vários experimentos são projetados para explorar esses sentidos. Alguns trabalhos discutem o ensino de Óptica para alunos deficientes visuais. Paranhos e Garcia (2009) tratam de uma montagem experimental para a verificação do fenômeno de difração da luz, adaptada para pessoas com deficiência visual. No trabalho de Camargo, Viveiros e Nardi (2006) é utilizada uma sequência didática para ensinar conceitos de Óptica e Eletromagnetismo a alunos videntes e um aluno deficiente visual. Dentre as 26 atividades desenvolvidas, foi utilizada uma representação entre cor-luz e som-notas musicais para exemplificar as diferenças entre as ondas eletromagnéticas no espectro, inclusive para a região visível, na qual é possível perceber as diferentes frequências através da observação visual das cores. 2.3 História oral A experiência de ensinar física a alunos deficientes visuais mostrou a importância, no caso dos professores, do reconhecimento da individualidade do aluno. Desta maneira, estudos que envolvem o processo de ensino e aprendizagem de estudantes cegos devem evitar a padronização das pessoas cegas, como relata Franco e Denari (2011). Para tanto é fundamental o conhecimento das condições que envolvem a cegueira: causa da cegueira, grau de visão, eficiência visual, idade em que perdeu a visão (muito importante), diagnóstico, escolaridade recebida antes de perder o sentido da visão, entre outras informações relevantes à potencialidade do aluno. Neste contexto, é essencial adotar metodologias que contribuam para a apreensão do quadro de relações que envolvem o sujeito dessa pesquisa. Essas informações direcionam a elaboração de estratégias voltadas para uma aprendizagem efetiva de física por alunos deficientes visuais. Baseado nestes apontamentos, a metodologia da história oral, em nossa opinião, é a que mais se adequa às interações com estudantes com deficiência visual. As abordagens da história oral em sua vertente temática6 são referenciais utilizados no desenvolvimento de vários trabalhos (FERREIRA; DICKMAN, 2007; DICKMAN; FERREIRA, 2008; ANDRADE; DICKMAN; FERREIRA, 2012; CREPPE, 2009), que mostram que a tentativa de compreender as dificuldades de estudantes cegos e seus professores no processo de ensino e aprendizagem. Assim, escutar suas narrativas tornou-se central para o desenvolvimento das pesquisas, como afirma Ferreira e Dickman (2014, p.3) “[...] buscou-se uma metodologia 6 A história oral temática está voltada para atividades que envolvam tópicos relacionados ao tema do projeto desenvolvido. Parte-se de entrevistas utilizando o método de história oral, em sua vertente temática, na qual elege-se um tema específico de investigação. Para José Carlos Sebe Meihy (1998, p.145) a história oral temática é a que mais se aproxima de soluções comuns e tradicionais de apresentação de trabalhos analíticos em diferentes áreas do conhecimento acadêmico. 27 capaz de dar voz a estudantes que nunca foram escutados, e a partir daí abrir possibilidades para um melhor entendimento desse não aprendizado”. Para caracterizar a situação de ensino e aprendizagem e elaborar propostas de ensino engajadas é fundamental conhecer o sujeito, situando-o nos contextos familiar e educacional, compreendendo aspectos da deficiência, habilidades e possibilidades cognitivas. (FERREIRA; DICKMAN, 2014) Na história oral a narrativa é fundamental para conhecer o mundo do indivíduo e suas relações, que ao conduzir à compreensão de fatos da existência do narrador, indica os desafios enfrentados em sua experiência escolar. Meihy e Ribeiro afirmam que: A história oral é campo aberto à produção do conhecimento sobre diferenças. O trabalho com o diverso, não reconhecido, com os excluídos por motivos plurais ou com os interditados, é um dos mais importantes exercícios presentes em projetos com entrevistas. Isso se coloca na perspectiva da valorização da diversidade social e reforça o caráter democrático, de luta pela inclusão, provocado segundo a agenda social ligado ao conhecimento humanístico (MEIHY; RIBEIRO, 2011). A ferramenta básica da história oral é a entrevista ou depoimentos gravados. A análise da narrativa registrada do entrevistado, de acordo com um roteiro ligado aos objetivos da pesquisa, contribui para construir uma relação intersubjetiva, situando o sujeito no mundo, mostrando sua inter-relação com ele mesmo e com o outro. No contexto do ensino de física a estudantes com deficiência visual, essa metodologia permite a identificação das relações que permeiam a sua vida escolar, aproximando pesquisador e entrevistado em uma perspectiva subjetiva. Esse acesso à subjetividade e à utilização da história oral tem permitido situar melhor a relação deficiência-escola dos estudantes. Esse processo de confiança mútua em quem entrevista é gerador de proximidades que facilitam o acesso a questões ligadas à relação professor-aluno, aluno-aluno e aluno-conteúdos. (FERREIRA; DICKMAN, 2014) A metodologia de história oral permite a construção de realidades individuais dentro do mundo coletivo através da memória da experiência vivida. Para Ferreira e Grossi (2004, p.46), “há uma polissemia de sentidos que o documento oral engendra: expressões faciais, gestos, timbre e tonalidade de voz, formas de respiração, regularidade das pausas etc.”. Assim, neste trabalho utiliza-se o método de história oral em sua vertente temática e história de vida, entrevistando alunos com deficiência visual seguindo um roteiro semiestruturado. Este roteiro serve apenas como um guia para o entrevistador, realçando a 28 narrativa do sujeito que mostra a sua trajetória, relacionando fatos extraescolares à sala de aula. 29 3 ELABORAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL Neste capítulo são descritas as etapas seguidas, bem como os critérios estabelecidos, para a elaboração do curso de Óptica geométrica para deficientes visuais. A pesquisa compreende três momentos: entrevista, desenvolvimento de instrumentos e linguagem, aula expositiva. A primeira ação junto aos alunos com deficiência visual é a entrevista. O objetivo é conhecer o aluno, obtendo o máximo de informações sobre os conhecimentos adquiridos por ele ao longo da vida. A estratégia consiste em buscar respostas de como e quando o aluno adquiriu a deficiência, estabelecendo uma relação entre a deficiência visual e o desenvolvimento do aprendizado. Os dados coletados por meio da entrevista visam também a identificação das dificuldades destes alunos durante as aulas de física e suas interpretações dos conceitos inerentes à Óptica geométrica. Dessa maneira, pode-se levar em consideração a experiência prévia de cada aluno na elaboração da proposta de ensino. Os outros dois momentos às vezes se alternavam ou se misturavam ao longo do curso. A necessidade de desenvolver instrumentos e também uma linguagem própria para aplicação nas aulas é fundamental para ensinar os conteúdos de Óptica aos alunos deficientes visuais. Assim, foi desenvolvida, ao longo do curso, uma metodologia própria para ensinar Óptica geométrica a esses alunos. Finalmente, durante a aula expositiva foram registrados e transcritos na íntegra os momentos de aplicação das atividades. Além de avaliar a aprendizagem dos alunos levando-se em conta o processo como um todo. Aos educadores e professores é fundamental o conhecimento das condições que envolvem a deficiência visual. Além disso, é importante também identificar o nível dos conhecimentos prévios trazidos pelo aluno, neste caso especificamente o conhecimento sobre Óptica geométrica. Assim, a primeira parte da pesquisa leva em conta principalmente dois fatores: a história de vida do aluno e seu conhecimento prévio a respeito de Óptica. 3.1 Entrevistas Ao iniciar um trabalho em sala de aula é importante que o professor faça um reconhecimento de sua nova turma, buscando, dentro do possível, conhecer a bagagem que os 30 alunos trazem consigo. A primeira etapa deste trabalho foi a realização da entrevista. Nesta pesquisa são relatadas as entrevistas dos alunos que participaram do curso desde o início. O professor ao deparar com um aluno deficiente visual precisa ir além de somente conhecer o que este aluno traz consigo a respeito do conteúdo que será lecionado. É preciso conhecer também sobre a deficiência deste aluno, procurando saber o grau desta, quando começou a se manifestar, se antes ou depois de iniciada sua alfabetização, se foi alfabetizado em braille. Em suma, deve-se procurar saber o máximo de detalhes e com isto traçar uma linha do tempo da relação entre a deficiência visual e seu aprendizado até aquele momento. 3.2 Conhecendo os alunos: História de vida Para coletar informações relativas à vivência dos estudantes com deficiência visual utilizamos a metodologia de história oral na vertente história de vida. Um ponto importante da entrevista é fornecer informações para traçar um “mapa” da vida destes estudantes dentro e fora das instituições de ensino pelas quais passaram e sua relação com o desenvolvimento da deficiência visual. Como também relacionar suas respectivas dificuldades quanto aos métodos de ensino que experimentaram, bem como as características das relações interpessoais entre professor e aluno e sua inserção em um grupo determinado, dentro de regras institucionais estabelecidas. Todos estes dados permitem formar uma ideia da inserção deste aluno dentro da sociedade com seus respectivos códigos de ensino-aprendizagem. As entrevistas envolveram questões sobre a experiência de vida dos alunos e os conhecimentos prévios de Óptica geométrica. Foram entrevistados seis alunos, com idade entre 20 e 40 anos. As entrevistas foram gravadas e transcritas, com duração média de 40 minutos. Neste primeiro momento discute-se a parte relacionada com a história de vida dos alunos. 3.2.1 Roteiro da entrevista: primeira parte O trabalho com a metodologia de história oral compreende todo um conjunto de atividades anteriores e posteriores à gravação dos depoimentos. Exige, antes, a pesquisa e o levantamento de dados para a preparação dos roteiros das entrevistas. Nesta metodologia são utilizados roteiros semiestruturados, que permitem uma maior flexibilidade do narrador ao compor sua trajetória de vida. 31 Sendo assim, após um contato inicial informal com os estudantes foi elaborado o roteiro que seria utilizado na entrevista. As questões, direcionadas pelas conversas, buscam extrair de suas falas o máximo de informações, proporcionando um conhecimento mais preciso de sua história de vida. O objetivo da primeira parte da investigação é saber: causa da cegueira, grau de visão, eficiência visual, idade em que perdeu a visão (muito importante), diagnóstico médico, escolaridade recebida antes de perder o sentido da visão, e se possível traçar um paralelo da vida estudantil do aluno e sua deficiência visual. A entrevista seguiu o roteiro mostrado no quadro 1. Quadro 1 – Entrevista sobre a história de vida dos alunos. Roteiro: História de vida Nome: Data de nascimento: Como surgiu a deficiência ou quando ela começou a se manifestar? Quando surgiram os sinais de sua deficiência, qual série escolar você estava cursando? Quando você teve aulas de ciências pela primeira vez? E de física? Nas aulas de física, você já manifestava seu problema visual? Qual é o grau de seu problema visual? Fale sobre ele. Como os seus professores, especialmente os de física, atuaram com você e como eles lidaram com a sua deficiência? Que recursos didáticos eles utilizaram? Fonte: Elaborado pelo autor. 3.2.2 Recortes da História de vida Nesta seção são analisados os dados referentes à história de vida dos sujeitos participantes da pesquisa, sendo descritas na sequência algumas características peculiares de cada aluno. Por motivos éticos, os alunos serão identificados neste texto pelas letras (A), (B), (C), (D), (E) e (F). O professor que aplicou as atividades é também o pesquisador e autor da presente dissertação (P). A aluna A, 28 anos, nasceu cega. Aos oito anos foi estudar no Instituto São Rafael onde aprendeu o Braille. Teve aula de ciências e de física no Ensino fundamental, e de física no Ensino médio, em escola regular. Menciona dificuldade em entender gráficos, o professor tentava explicar usando canetas, não tinha material didático apropriado. Relata em sua fala a 32 inexperiência do professor, que segundo ela afirmava que: “ó..eu...por mais que eu te dou atenção...como é que eu te explico...eu não sei como te...te explicar...eu não sei como preparar o material”. (Professor da aluna A) A aluna B, 26 anos, nasceu cega, mas à medida que foi crescendo a visão foi desenvolvendo, até fazer um transplante de córnea. Sempre foi alfabetizada em braille. De acordo com a entrevistada, é possível distinguir cores, mas não consegue enxergar o quadro. Os professores tentavam explicar o assunto utilizando algum objeto, ou detalhando um desenho, mas a aluna B afirma: “só que era...era muito difícil de entender...” Em relação à experiência com física: “Física...foi no primeiro ano do segundo grau...né...mas assim era...foi muito complicado...era muito difícil pra entender...porque o professor não sabia como explicar né, de jeito que eu entendesse.” A aluna B afirma que os professores não procuravam alternativas para ensinar física aos alunos deficientes visuais. Os alunos sugeriam que fossem feitos desenhos em alto relevo, mas o professor alegava que a escola não disponibilizava recursos. Mas, a aluna relata a boa vontade da professora de química: “... é igual minha professora de Química...ela assim...ela arrumava não pela escola, por força de vontade dela... que ela arrumava alguns objetos né...pra mostrar como que é o átomo e tal. Então, creio eu que se o professor de Física tivesse...quisesse...né...ele conseguiria...”. A aluna ainda relata que [...] igual no meu terceiro ano professor de Física não falava com a gente...igual na minha turma era eu e mais duas deficientes visuais...aí ele falava assim com a gente: “ah, não preocupa não que no final do bimestre eu dou os pontos”...isso até gerou um conflito lá na escola porque a gente não tá na escola não é pra ganhar pontos pra passar né? A gente tá lá pra aprender né...e aí ele falava: “ah, mas não tem como”. A Aluna C, 31 anos, nasceu com deficiência visual parcial. Teve visão subnormal até os 18 anos, hoje enxerga apenas vultos, claridade. Foi alfabetizada lendo e escrevendo em tinta, e em Braille na quinta série. No Instituto São Rafael teve aula de ciências no Ensino fundamental e depois de física na oitava série do Ensino fundamental e no Ensino médio. Estudou no Colégio Marconi, e relata que os alunos a ajudavam muito, mas o professor a ignorava. Segundo ela o professor não dava muita atenção nem para os videntes, afirmando “Ele dava a aula dele”. No primeiro ano ela conseguia ver imagens, desenhos, gráficos, e com a ajuda dos colegas, dava para acompanhar. No segundo ano, ela perdeu a visão, o professor tentava, mas não conseguia explicar. Esse professor mostrava o gráfico com 33 o dedo da aluna no formato do desenho. Ela sugeriu que ele fizesse os gráficos em alto-relevo, mas ele não fez. A aluna D, 41 anos, nasceu cega. Começou a estudar com 23 anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), uma aula semanal de cinquenta minutos, pois a escola regular não aceitava aluno deficiente. Aprendeu o Braille. Estudou ciências em uma escola regular. Na escola regular a professora não queria aceitar os alunos deficientes. Os alunos eram jogados do primeiro ano para o segundo, os professores queriam se livrar deles. Os colegas cooperavam, apesar da diferença de idade. Os professores não sabiam lidar com os cegos. Eram os alunos cegos que ensinavam o que fazer, ditar ao escrever no quadro, etc. No ensino médio estudou em uma escola inclusiva, mas afirma que alguns professores não têm interesse em ensinar. Os que tinham, não tinham preparo para lidar com estudantes cegos, como afirma a estudante D: “O professor era até bom sabe? Ele...assim...ele parece....que ele tinha interesse da gente aprender...mas o problema dele é que ele não sabia....às vezes ele não sabia muito como passar e...não tinha como ele...passar...porque...é muito desenho né...muitas coisas...” A aluna E, 44 anos, nasceu com a deficiência, fez uma cirurgia e teve visão parcial (20%) até os treze anos. Em suas palavras: “Ah...eu fazia tudo... dava pra mim andar nas ruas... éh, via cores...via a natureza...via tudo...via o mundo em geral...dava pra ver...não dava pra ver distante né...mas próximo...dava pra ver tudo...”Entrou para escola com sete anos, mas não passava de ano, pois não conseguia ler no quadro, repetiu a primeira série por cinco anos. Até que ficou completamente cega. Entrou para a APAE e aprendeu o Braille aos 19 anos. Os professores da escola regular diziam que ela não deveria estar lá, e sim no Instituto São Rafael. Os professores queriam fornecer a prova pronta para os alunos deficientes, e a própria escola autorizava isto, ela não aceitou e saiu da escola. Depois voltou, estudou física apenas no primeiro ano do Ensino médio. O aluno F, 26 anos, nasceu com glaucoma, enxergou até os oito anos, via cores, vultos e claridade. Entrou para escola com sete anos e aprendeu o braille. No início os alunos com deficiência ficavam separados até aprender o Braille, depois iam para a sala regular. Aos oito anos foi para o Instituto São Rafael onde concluiu o Ensino fundamental. Estudou um pouco de física no final da oitava série. Estudou no Colégio Frei Orlando os três anos do Ensino médio com o apoio itinerante do São Rafael. Mas não tinha material em braille, quando o material ficava pronto, as provas já tinham passado. Na física o problema eram os gráficos. Os dados coletados são colocados de forma sintetizada no quadro 2. 34 Apenas as alunas A e D são completamente cegas, os alunos B, C, E e F enxergaram (baixa visão) em algum momento. Todos os alunos entrevistados aprenderam a ler utilizando o sistema Braille. As alunas D e Eaprenderam o Braille já adultas, os outros alunos aprenderam quando crianças. A alfabetização em Braille contribui para o aluno apreender os conteúdos discutidos na sala de aula, pois o desenvolvimento da escrita e da leitura em Braille é uma importante ferramenta para expressão e organização do pensamento do aluno. O desenvolvimento dessa habilidade possibilita o desenvolvimento da autoestima e a reconstrução do paradigma da aprendizagem. (NICOLAIEWSKY; CORREA, 2008) QUADRO 2- DADOS REFERENTES À HISTÓRIA DE VIDA DOS ALUNOS ENTREVISTADOS . Aluno Idade Deficiência Nasceu cega. A B 28 anos E F Professores Aos oito anos no Instituto São Rafael. Tinham dificuldades para ensinar aos alunos deficientes. Não tinha material adaptado. O professor não sabia explicar do jeito que ela entendesse, a professora de Química fazia adaptações e ela entendia. O professor a ignorava, não tinha material adequado disponível. 26 anos Nasceu cega, mas a visão desenvolveu parcialmente. Sempre soube. 31 anos Nasceu com deficiência. Visão subnormal até os 18 anos, enxerga apenas vultos, claridades. Foi alfabetizada lendo e escrevendo em tinta. Aprendeu Braille no ginásio, na quinta série. 41 anos Nasceu cega. Aprendeu Braille aos 23 anos na APAE. Os professores não queriam deficientes na sala de aula. Aprendeu o Braille aos 19 anos. Os professores não aceitavam deficientes, queriam que fossem para o São Rafael. Facilitavam a aprovação dos alunos deficientes. Não tinha material em Braille disponível, quando ficava pronto as provas já tinham passado. C D Braille 44 anos 26 anos Nasceu com deficiência, enxergou (20%) até os treze anos. Enxergou até os oito Aprendeu o Braille anos, depois apenas com sete anos. vultos, claridade e cores. Fonte: Dados da pesquisa. Os dados revelam que no processo de aprendizagem, particularmente de física, em suas respectivas escolas, todos os professores se mostram despreparados para ensinar alunos com deficiência visual, mesmo tendo boa vontade e interesse. Isto leva a constatação de que o 35 professor de física na sua grande maioria não está apto a lecionar a alunos com deficiência visual, revelando-se a necessidade de capacitar-se para esta tarefa. Segundo os relatos destes alunos percebe-se que, na maioria das vezes, eles foram colocados de lado no processo ensino-aprendizagem na sala de aula. O despreparo do professor o leva a cometer equívocos no processo ensinoaprendizagem tais como: Não buscar conhecer o aluno, não estabelecer analogias apropriadas, não elaborar atividades de ensino de física com características sensoriais e pedagógicas adequados aos invisuais. A maioria destes equívocos acontece por falta de capacitação. Os dados mostram também a inexistência de material adaptado aos deficientes visuais. Vale ressaltar que estes relatos são semelhantes aos relatos dos vários alunos que passaram pelo pré-vestibular ao longo de cinco anos. A experiência de ensinar estes alunos, somada à experiência adquirida com outros alunos com deficiência visual no passado, nortearam a busca por uma metodologia mais adequada. Esta vivência mostra o quanto os professores estão despreparados para ensinar alunos com deficiência visual, revelando nossa fragilidade para tratar do problema da inclusão. 3.3 Conhecimentos prévios de Óptica Geométrica O objetivo da segunda parte da entrevista é investigar o conhecimento que os alunos trazem sobre física, especificamente sobre Óptica geométrica. A entrevista foi desenvolvida seguindo a metodologia de história oral na vertente temática, tendo como orientação um roteiro semiestruturado com questões que buscam identificar os conhecimentos prévios mais fundamentais de Óptica. 3.3.1 Roteiro da entrevista: segunda parte Para esta parte da entrevista foi utilizado o roteiro mostrado no quadro 3. As duas primeiras perguntas têm como objetivo identificar a noção que o aluno com deficiência visual tem de luz de uma maneira geral. As perguntas seguintes remetem ao conhecimento obtido nos livros didáticos ou em aulas típicas de Óptica, buscando uma conceituação de raios luminosos e dos princípios da Óptica geométrica, informações sobre a velocidade da luz e sua propagação nos meios, conceitos sobre a reflexão da luz e suas propriedades, e conhecimentos sobre a formação de imagem em espelhos planos. 36 QUADRO 3 – ENTREVISTA SOBRE ÓPTICA GEOMÉTRICA. Roteiro: Conhecimentos prévios de Óptica geométrica Fale sobre o que você entende sobre luz? A luz tem uma forma? Como ela se propaga? O que você entende por raio luminoso? A seu ver, o que são raios paralelos, raios convergentes e raios divergentes? Explique em que consiste a independência de propagação dos raios luminosos? A velocidade da luz é infinita, muito grande, pequena? Explique. A Luz propaga-se no vácuo? E em outros meios materiais? Qual a velocidade da luz no vácuo? A velocidade de propagação da luz em um meio material qualquer é maior, menor ou igual à sua velocidade no vácuo? Fale sobre o que você entende sobre reflexão da luz. O que você entende como reflexão especular e reflexão difusa. O que você entende por imagem? O que você entende por espelho plano? Quais são as características de uma imagem formada por um espelho plano? Fonte: Elaborado pelo autor. 3.3.2 Recortes dos conhecimentos prévios de Óptica Geométrica Nesta subseção são apresentados os dados coletados sobre os conhecimentos prévios dos alunos deficientes visuais sobre Óptica geométrica. Para fazer a análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2011), que é um processo de tratamento e análise de dados qualitativos em que se busca encontrar unidades comuns nas falas dos alunos. A análise de conteúdo de acordo com Bardin é Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência deconhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2011, p. 48). 37 A maneira como os alunos compreendem luz pode ser expressa nas seguintes categorias: Reta, Raios, Claridade, Lâmpadas, Não sabe. No quadro 4 são mostradas as categorias, exemplos de respostas que as caracterizam e o número de alunos que a citaram. A resposta de cada aluno é classificada em mais de uma categoria. Pelas respostas percebe-se que a maioria dos alunos relaciona luz com a sua representação de raio luminoso ou uma reta orientada, conhecimento adquirido na sala de aula. Os alunos com visão subnormal ou que já enxergaram relacionaram luz com claridade ou com lâmpada, objeto do cotidiano. Dois alunos disseram que não sabem explicar o que é luz. Um aluno respondeu que a “luz se propaga em todas as direções” (Aluna B), e outro que é “um conjunto de moléculas”. (Aluna C) QUADRO 4 – RESPOSTAS DOS ALUNOS SOBRE LUZ. Categoria Número de citações Natureza das respostas Reta 4 A luz tem forma de uma reta. (Alunos D; F) Raios 3 Luz: diversos raios, são em linha reta. (Aluna B) Claridade 3 Ela clareia o ambiente. (Aluna B) Lâmpadas na parede, apaga e acende. (Aluna C) Lâmpadas 2 A luz de uma lâmpada clareia tudo. (Aluna B) Não sabe 2 Não sei o que é. (Aluna A e E) Fonte: Dados da pesquisa. Os alunos associam raio luminoso ao reflexo da luz, (Alunas C e D), com duas citações, à relâmpago, (Aluna A) com uma citação. Uma aluna (Aluna B) definiu raio luminoso como “propaga em apenas uma direção”, e outro como “algo que sai de uma fonte e espalha” (Aluno F). Dois alunos afirmaram não saber o que é um raio luminoso. (Alunas A e E). Apenas o aluno F soube responder às definições de raios paralelos, convergentes e divergentes. Ele entende que raios paralelos andam juntos e nunca se encontram, embora tenha dificuldade de entender isto. Para ele tudo o que se vê em um certo ponto se encontra. Convergir é quando elas se encontram, dois raios saem de uma fonte e chegam ao mesmo ponto. E quando divergem os raios vão para lados diferentes. Dois outros alunos responderam apenas que os raios paralelos não se encontram, ou que são raios “um do lado do outro”. O restante, ou seja, a maioria afirma que não sabe responder à questão. 38 Em relação à independência de propagação dos raios luminosos, apenas a aluna B respondeu que “Os raios passam um pelo outro sem desviar”. Dois alunos disseram que não sabem explicar e três não mencionaram nada a respeito durante a entrevista. As respostas sobre a velocidade da luz foram divididas nas seguintes categorias: muito grande, com três citações; média, uma citação; pequena, uma citação; não sabe, duas citações. Apenas o aluno F sabe que a velocidade da luz é menor em outros meios. Três alunos mencionaram que a luz se propaga no vácuo. A maioria dos alunos não sabe explicar o que é reflexão da luz. Apenas o aluno F respondeu dizendo que é “Quando a luz encontra um corpo e não o atravessa, volta na mesma direção em que veio.” Três categorias classificam as respostas que definem imagem: não menciona, com três citações; espelho/TV, com duas citações; cópia; com uma citação. Os exemplos das respostas que justificam a categoria espelho/TV são: “a pessoa tá olhando no espelho e vê a imagem dela” (Aluna B), ou “pra um espelho ou pra um objeto, ou mesmo pra uma televisão, que eles falam imagem da televisão, é mais visual mesmo.” (Aluna A). Para a categoria cópia tem-se a resposta “cópia ou imitação de um objeto”. (Aluno F). Apenas um aluno (F) sabe o que é formação de imagens, mas afirma que não entende suas características. Relata que decorou as características das imagens por que não consegue se imaginar olhando em um espelho e se vendo maior, menor, invertido ou direto. Cinco alunos afirmam saber o que é um espelho, e um não menciona nada sobre espelhos na entrevista. Em geral, os alunos associam com o espelho de casa, mencionam que o espelho é reto, que tem uma superfície lisa e regular que reflete a luz. A aluna D afirma que o vidro reflete a luz. 3.4 Discussão e análise dos resultados Os princípios da Óptica geométrica são apresentados na escola e estes princípios fazem parte de um modelo sobre luz que nos ajuda a entender uma série de fenômenos que nos cerca relacionados à luz e à visão. Frequentando a escola o aluno é submetido e exposto a este modelo conceitual, que confronta com seu modelo mental sobre a luz e a visão. O aluno cego de nascença não tem um modelo mental de luz formado a partir da experiência concreta com a luz e fenômenos relacionados. Assim sendo, não podemos aferir que ele construiu um modelo espontâneo. Diferente de um aluno que se tornou cego ao longo da vida. Pois este, 39 mesmo que tenha se tornado cego muito cedo, tem em sua memória imagens de luz e fenômenos relacionados, que lhe permitem formar um conceito sobre luz e visão. A fala dos alunos que já nasceram cegos demonstra que o modelo que eles possuem sobre a luz é baseado em conceitos criados a partir de “dizeres e conceitos” das pessoas próximas e por conhecimentos trazidos da escola. Os alunos que se tornaram cegos ao longo de suas vidas tiveram em algum momento experiências concretas, vivenciadas pelo sentido da visão e possuem algum tipo de conceito sobre luz mais elaborado que os cegos de nascença. Estes alunos, a princípio, terão maior facilidade de compreender os conceitos relacionados à luz e a visão. Em ambos os casos devese ter cuidado e desenvolver um processo de ensino para todas as idades. Os resultados indicam que os conceitos referentes à luz e a visão não foram desenvolvidos pelas três alunas que nasceram cegas de forma espontânea, e também que elas não apreenderam na escola o modelo conceitual. Duas alunas (A e D) nunca enxergaram, enquanto que os alunos B, C e F já enxergaram em algum ponto da vida. De acordo com os dados, apenas os alunos que já enxergaram associam luz com claridade. Enquanto que quatro alunos associam luz com uma reta ou raios, conceitos provavelmente provenientes da escola. É interessante observar que a aluna A (cega de nascença) associa luz com “lâmpada que acende e apaga”, informação adquirida pela convivência com pessoas videntes. 3.5 Ensinando Óptica Geométrica Nesta seção são descritos os processos de elaboração dos instrumentos utilizados para a visualização dos modelos e fenômenos discutidos, bem como o desenvolvimento e a implementação de uma linguagem adequada para descrever a representação dos conceitos nas maquetes. A análise dos dados orientou a montagem da sequência do Curso de Óptica geométrica para alunos deficientes visuais. Teve-se o cuidado de elaborar atividades com determinadas características pedagógicas e sensoriais. A construção ou adaptação de equipamentos, dispositivos ou maquetes permitem estabelecer interações não visuais. Procurou-se registrar os momentos de aplicação das atividades, sendo aplicada também uma avaliação de aprendizagem levando em conta todo o processo de atividades realizadas. A elaboração e a aplicação do curso ocorreram simultaneamente. 40 3.5.1 Elaboração dos instrumentos e desenvolvimento de uma linguagem Este trabalho não visa uma imitação do olhar, mas uma reelaboração de exercícios práticos de aprendizagem que visam à compreensão do comportamento de um fenômeno natural, alargando assim a compreensão de mundo dos alunos que não podem enxergar. Assim, esta proposta de ensino baseia-se na representação concreta de conceitos, em maquetes que podem ser exploradas por meio do tato, nas quais são feitas representações do comportamento da luz no limite da Óptica geométrica. O processo de aprendizagem é alicerçado na experimentação de outros sentidos que não a visão. A ideia é gerar significados a partir de um processo de simbolização de objetos percebidos pelo tato, pois somente a descrição oral não é suficiente, na maior parte das vezes, para gerar uma compreensão do conceito ou da ideia que se quer definir. É necessário o uso de recursos como maquetes, gráficos de alto relevo, barbantes colados no papel, ou seja, elementos ou estados de coisas referentes, os quais os alunos deficientes possam usar para construir significados. Todo este processo e abordagem metodológicos têm o objetivo de ensinar o conteúdo de Óptica geométrica. Foi utilizado como material de referência sobre o tema, a apostila usada no curso preparatório pré-UFMG de Física 2, modulo I, elaborada pelo autor deste trabalho, e o livro Física 2 (ALVARENGA; MÁXIMO, 2000). As maquetes foram construídas a partir de barbantes dispostos por pregos e miçangas em uma tábua. Para tornar viável a utilização deste material é necessário que o professor desenvolva uma linguagem de apoio junto aos alunos, definindo termos e representações para descrever os fenômenos. Para estabelecer uma linguagem própria entre o professor e o aluno com deficiência visual é fundamental conhecer melhor o aluno. Por meio desta linguagem compartilhada pela fala e pelo tato, novos meios e modalidades de compreensão próprias são disponibilizados ao aluno. A partir daí, a comunicação se torna mais próxima e significativa. O processo de construção de significados e de ideias se inicia com a convenção interpessoal de que determinadas coisas e elementos serão representados por determinados objetos. No entanto, se não houver este momento de convenção, não é possível estabelecer uma linguagem apropriada às condições sensoriais do aluno deficiente, e os elementos materiais das maquetes simplesmente não teriam sentido. É necessário, portanto, que o professor explique e defina o que o aluno está experimentando como sendo dotado de um 41 significado, estabelecendo assim, entre aluno e professor, uma linguagem mediada pelas maquetes ou coisas perceptíveis pelo tato. Desta maneira, foi elaborado um código primário para orientar as discussões da turma sobre os fenômenos representados nas maquetes. Ao dar início a um curso de Óptica geométrica, o professor inicia geralmente demonstrando algum fenômeno que evidencie a propriedade da luz de se propagar em linha reta. Isto pode ser feito, por exemplo, observando um feixe de luz ao atravessar um meio refringente - como água com sabão líquido - ou escurecendo a sala, e espalhando pó de giz no ar para visualizar a propagação da luz de uma lanterna, demonstrando tal propriedade. Complementa-se que, de um modo geral, este é o tratamento dado pelos livros textos, citando algum fenômeno que evidencie a propriedade em questão. Após este primeiro momento, fazse imediatamente uma representação do raio de luz com um segmento de reta graficamente orientada, seja no quadro ou sobre uma folha de papel. A partir deste momento, em que esta representação é feita, o raio de luz tal qual é percebido no nosso cotidiano passa a ser então efetivamente representado por uma seta. Esta representação é muito útil, principalmente quando se discute formação de imagens por meio de desenhos graficamente reproduzidos. Mas, sabe-se bem que a luz não é uma seta, esta representação da ideia de luz sob a forma de um desenho é apenas um ponto de partida para o aluno compreender e elaborar a passagem do conteúdo concreto para um conteúdo conceitualmente orientado. Desta forma, os alunos transformam o comportamento de um fato objetivo, a luz, para uma linguagem científica sobre o comportamento da luz. Deve-se salientar que, enquanto em um aluno vidente a elaboração de uma ideia faz-se por meio de um deslocamento da imagem ao conceito, no caso uma reta desenhada graficamente, em um aluno cego o deslocamento se faz por meio de uma percepção tátil motora para um conceito. Assim, é utilizado o elemento da representação, mas de um modo completamente diferente. Um modo de apreensão não mais calcada sob a forma de imagens e não mais orientada para o sentido da visão, mas para o sentido tátil concreto perceptível. A partir deste outro modo de percepção e de construção de uma ideia explica-se aos alunos deficientes visuais o comportamento da luz. Trata-se, portanto, de outro modo de representação. Uma representação que permite o deslocamento da percepção concreta sensorial e motora para uma elaboração conceitual, teórica e abstrata de um conceito. No material elaborado, um raio luminoso é representado por um barbante esticado sobre uma placa de madeira, fixado por pregos ou parafusos como mostrado na figura 1. Uma 42 maneira alternativa ao uso de barbante, tábua, pregos e parafusos, é o uso de barbantes ou linha colados no papel ou uma tinta de alto relevo para fazer as representações. Nos dois casos são utilizadas miçangas de tamanhos diferentes para indicar a direção de propagação do raio de luz. O professor tem o papel de intermediar o processo utilizando representações de forma clara e adequada. Importante ressaltar que o uso das representações é temporário, sendo estas abandonadas à medida que o aluno entenda e abstraia os conceitos ensinados. À medida que há esta abstração por parte do aluno, o professor passa a trabalhar os conceitos de forma mais abstrata e matemática. Porém, quando houver necessidade de retomar as representações para resolver problemas, ele deverá fazê-lo com os devidos cuidados. Figura 1 - Aluno usando um material feito de barbantes, pregos e miçangas em uma tábua para representar um raio de luz. Fonte: Foto do autor. As representações têm suas limitações e devemos ficar muito atentos a elas. Como o próprio nome diz é representação e não o fenômeno. Quando usamos, por exemplo, um barbante esticado e preso entre dois pregos como representação de um raio de luz, tem que ficar muito claro para o aluno deficiente visual de que se trata somente da representação de uma propriedade da luz, a propagação retilínea da luz. Durante o curso de Óptica geométrica para alunos deficientes visuais utilizamos vários tipos de representações, cabendo aqui alguns esclarecimentos sobre os materiais usados. Foram utilizados barbantes e linhas coladas numa folha ou presas por pregos ou parafusos em tábuas, bem esticadas para representar um raio de luz. Usamos miçangas para representar as fontes puntuais ou secundárias de luz (esta última podendo ser um ponto de reflexão da luz). As miçangas têm tamanhos e formas diferentes para dar orientação no sentido que a luz propaga. Usamos um CD para representar a Lua em um painel construído para explicar o 43 eclipse solar para os alunos deficientes visuais. Para representar superfícies refletoras usamos E.V.A e filetes de madeira. Estes também foram usados para representar o espelho plano. Esta última representação não se mostrou adequada pelo fato dos filetes de madeira não serem lisos como um espelho. Porém, serviu ao propósito, pois isto foi explicado detalhadamente aos alunos. 3.5.2 Planejamento geral das aulas Após a realização das entrevistas e análise dos dados, passa-se para segunda etapa deste processo, de acordo com o plano de ensinar conceitos fundamentais de Óptica geométrica a alunos com deficiência visual. Nas etapas descritas a seguir enumeram-se os passos que possibilitaram a elaboração da nossa proposta de ensino: Delimitar o conteúdo a ser abordado. Para cada conteúdo e conceito de física a ser ensinado a um aluno deficiente visual estabelecer representações para que o conteúdo possa ser trabalhado por meio do tato; Construir ou adaptar equipamentos e dispositivos que permitem estabelecer interações não visuais; Trabalhar a construção de uma linguagem adequada ao material elaborado junto aos alunos; Orientar cada aluno na percepção do material e do conceito representado; Registrar os momentos de aplicação das atividades; Transcrever na íntegra as atividades; Realizar avaliação da aprendizagem dos alunos levando-se em conta todo o processo de aplicação de atividades. Cabe aqui esclarecer ao leitor que o curso foi dividido em etapas que necessariamente não correspondem a uma aula. Cada aula tem um objetivo a atingir que faz parte de uma etapa maior. Sendo assim, uma etapa pode ocupar várias aulas. Outra informação importante para o leitor é saber que em cada etapa houve uma atividade lúdica envolvendo a participação dos alunos. As atividades descritas para ensino de Óptica geométrica teve como referência básica a Unidade 7 – Ótica e Ondas do livro Física, dos autores Antônio Máximo e Beatriz Alvarenga (ALVARENGA; MÁXIMO, 2000), e a apostila de Física 2 da associação préUFMG do autor deste trabalho. No curso, primeiramente foi trabalhada a ideia de “raios de luz” através de um novo modelo de representação, não mais orientado para o sentido da visão, mas para o sentido tátil. Nesta etapa foi utilizado barbante para representar concretamente o raio de luz. Colando este barbante em uma folha de papel ou prendendo-o esticado com pregos em uma tábua, o aluno 44 ao tocá-lo, explora concretamente o material para, posteriormente representá-lo sob a forma de um conceito científico adquirido com o auxílio do professor. Nesta etapa enfatiza-se que a luz propaga-se em linha reta quando em um meio homogêneo dentro do limite da Óptica geométrica. Neste momento é feita pelo professor a descrição dos três princípios da Óptica geométrica por meio da interpretação da representação de vários raios luminosos na maquete. Explorando mais esta atividade, o professor prendeu vários barbantes à tábua de forma que eles pudessem representar os feixes de luz: paralelos, convergentes e divergentes. A partir do mesmo procedimento, o professor orienta os alunos a tocar os “feixes”, descrevendo e explicando os conceitos de fontes primárias e secundárias, puntiformes ou extensas para os alunos. Todos estes conceitos são fundamentais para se entender a formação de imagem em espelhos planos e curvos. Vencendo esta etapa, ou seja, o aluno entendendo os princípios fundamentais da Óptica geométrica, o professor passa a trabalhar problemas e fenômenos ópticos que se baseiam nesses princípios. Desta maneira, discutiram-se os fenômenos da formação de sombra e penumbra com base em maquetes construídas especialmente para representar estes fenômenos. Nesta etapa, durante a introdução da ideia de sombra e penumbra, os alunos levantaram outro questionamento: “Como ocorre o eclipse?” Este questionamento levou à construção de um aparato para mostrar e explicar, baseando-se nos conceitos já trabalhados nas etapas anteriores, o fenômeno do eclipse solar. Observe que na foto da figura 2 o aluno explora com as mãos o aparato. Todos os alunos fizeram o mesmo. E cada um, no momento da exploração, era instruído sobre as representações contidas na maquete. Após o entendimento do funcionamento do aparato, o fenômeno foi explicado, sendo que a todo o momento os alunos voltavam ao aparato para observar com cuidado os pontos discutidos pelo professor. Estas representações permitiram explicar aos alunos com deficiência visual o eclipse solar. Foi construído um painel utilizando linha, pregos, parafusos e um CD. Na extremidade da direita as linhas partem de parafusos que por sua vez representam fontes pontuais. As fontes pontuais emitem feixes divergentes. Estes conjuntos de fontes pontuais formam uma fonte extensa que no nosso modelo representa o Sol. Na outra extremidade os parafusos foram colocados formando um semicírculo, representando a Terra. Entre o Sol e a Terra está a Lua que é representada pelo CD. 45 Figura 2 - Aluno explorando o aparato que representa o eclipse solar. Fonte: Foto do autor. As regiões de sombra e penumbra foram explicadas a partir da definição dada de raio de luz e sua representação neste contexto (fio de barbante esticado e preso por miçangas). Todas as linhas que passavam na direção do CD eram interrompidas e presas nos pregos juntos ao CD, que representa a Lua. Assim, a área atrás do CD, que não passa nenhuma linha, é a região de sombra. A região de penumbra é onde passam somente algumas linhas. 3.6 Avaliação do curso de Óptica geométrica Nesta seção discutem-se os resultados obtidos durante a avaliação do curso de Óptica geométrica e assimilação dos conhecimentos pelos estudantes cegos. O processo de avaliação foi dividido em duas etapas. A primeira etapa consistiu na realização de entrevistas com os alunos cegos participantes, explorando a opinião deles em relação ao curso aplicado, além de uma tentativa de identificar se houve uma assimilação do conteúdo. Na segunda etapa, foi aplicado um questionário para medir o desempenho destes alunos em um teste de múltipla escolha, típica dos vestibulares, sobre o conteúdo estudado durante o curso. 46 3.6.1 Elaboração e aplicação dos instrumentos de avaliação A avaliação do curso pelos estudantes cegos foi realizada por meio de entrevistas, utilizando um roteiro semiestruturado, seguindo a metodologia da história oral. Neste roteiro, mostrado no quadro 5, as quatro primeiras perguntas têm como objetivo identificar o que os alunos pensam a respeito da metodologia aplicada, da postura do professor e do material usado durante as aulas. As outras questões (quinta questão em diante) foram direcionadas para identificar as dúvidas dos alunos e o que foi apreendido durante as aulas. Assim, para verificar o que aluno com deficiência visual apreendeu sobre a luz de uma maneira geral, foram feitas perguntas que remetem ao conteúdo discutido nas aulas de Óptica, sobre raios luminosos, os princípios da Óptica geométrica, e conceitos sobre a reflexão da luz e suas propriedades. QUADRO 5 – QUESTIONÁRIO APLICADO APÓS O TÉRMINO DO CURSO QUESTIONÁRIO 1. Qual foi sua impressão do teste? (Se a resposta não for específica, completar a pergunta: Como você descreveria as questões?) 2. Você já tinha estudado óptica antes? Em caso afirmativo faça uma comparação entre os métodos usados antes e agora. 3. Comente o papel do professor durante as aulas. 4. Comente sobre o material de apoio utilizado. 5. Fale sobre as dúvidas que você tem. Quais são? 6. Comente sobre a luz. (Conceitos, propagação e propriedades.) 7. Dê exemplos caracterizando os três princípios básicos que a luz obedece. Explique. 8. Fale o que você sabe sobre reflexão da luz. 9. Explique, com suas palavras, a lei de reflexão da luz? Fonte: Elaborado pelo autor. Para a segunda etapa foi elaborado um questionário sobre Óptica geométrica, referido no presente trabalho como teste. O teste, apresentado no Apêndice A, é composto por quinze questões, sendo que treze questões são de múltipla escolha e duas questões são abertas. As questões do teste abordam os seguintes conteúdos: Princípios básicos da luz (questões 2, 4 e 5); Reflexão da luz (questões 1, 6, 7); Características dos feixes luminosos (questão 3); Eclipse solar (questões 8 e 9); Formação de imagem em espelhos planos (questões 10, 11, 12, 13, 14, 15). 47 As questões são típicas de vestibulares, e justificam-se pela intenção do curso como preparatório para o vestibular. Acredita-se que a aplicação deste questionário possa dar uma ideia do grau de preparo destes alunos para o vestibular. 3.6.2 Primeira etapa: O que os alunos pensam do curso Observando que nosso trabalho foi aplicado a um grupo de alunos que se preparavam para o vestibular, e não uma turma regular do ensino médio, o número de faltas e desistência foi relativamente grande, justificando assim, um número menor de participantes no processo final de avaliação do curso. Desta maneira, somente os alunos A, D e F participaram da avaliação. A seguir apresenta-se uma análise qualitativa de suas respostas. 3.6.2.1 A opinião dos alunos sobre o teste, o professor e o método aplicado Todos os três alunos tiveram impressão positiva do teste. A aluna A relata que apesar de não ter tido um grande número de acertos no teste, sente que aprendeu muito com as aulas. A aluna D gostou muito do teste apesar das dificuldades de aprendizagem, ela achou as questões difíceis, e por último o aluno F relata que encontrou inicialmente dificuldades em identificar as representações de alguns desenhos, cujo formato era novidade para ele. Para a aluna D, este curso de Óptica representa a sua primeira experiência com o assunto, portanto, não há parâmetros para comparação. Os alunos A e F, que já estudaram o assunto anteriormente, compararam os métodos aplicados pelos seus professores do colégio com os nossos. A aluna A relata que seus professores não estavam preparados para ensinar física a estudantes cegos, e que “no projeto, o professor tenta como experiência passar uma informação que possamos entender sobre seu trabalho”. O aluno F relata que o método atual possibilitou uma visualização tridimensional e dinâmica, mas que “o anterior foi de maior rendimento por sua simplicidade e eficaz”. Os três alunos deram um depoimento elogiando o professor pela forma como as aulas foram conduzidas. A aluna A ressaltou que os professores devem fazer com que os alunos entendam mais a matéria, e que os desenhos em alto-relevo ajudam a entender melhor a matéria. A aluna D ressaltou também a importância da presença do professor para orientar os alunos. Na opinião do aluno F, o professor ajudou “a ampliar os conceitos adquiridos, esclarecendo pontos obscuros e aplicar conceitos e introduzindo ideias”. 48 Todos os alunos afirmaram que o material de apoio auxiliou bastante nas explicações do conteúdo durante as aulas, sendo classificado como útil. A aluna A em seu depoimento diz que “foi de boa utilização e que com ele soube transmitir uma informação sobre tipos de espelhos e luz”. Pelo depoimento dos três alunos podemos concluir que o material aliado a uma metodologia adequada para ensinar alunos cegos teve um impacto positivo. É interessante ressaltar que os alunos sempre tiveram um papel ativo nas aulas. Uma conclusão importante da fala destes alunos indica que este método é mais dinâmico e interativo, podendo ampliar o processo de ensino e aprendizagem. 3.6.2.2 Identificando as dúvidas e os conceitos aprendidos pelos alunos Nesta parte da entrevista, que corresponde à quinta questão em diante do roteiro, temse como foco o aprendizado do aluno durante o curso. As dúvidas relatadas pelos alunos A e F remetem-se para as representações gráficas de fenômenos não estudados neste curso como refração, arco-íris. A aluna D menciona que tem dúvidas “no aprendizado de braille e consequentemente na assimilação do conteúdo”. Nas questões sobre luz, suas características e propriedades, nota-se que as alunas A e D tiveram um desempenho similar, não sendo capazes de responder com clareza as perguntas feitas, embora a aluna A tenha mencionado a propagação retilínea da luz e citado o princípio da reversibilidade, sem explicá-lo. Ambas mostram saber que a luz é refletida, mas não explicam o fenômeno. Por outro lado, o aluno F respondeu bem às perguntas, mostrando ter um conhecimento sedimentado sobre o assunto discutido. Na questão sobre luz ele discorre sobre a dualidade onda-matéria, e cita algumas propriedades da luz. É capaz de citar e explicar os princípios básicos de propagação da luz, relatando corretamente o fenômeno da reflexão da luz e a lei de reflexão. No quadro 6 são mostradas as respostas dos alunos às questões 6, 7, 8 e 9. 3.6.3 Segunda etapa: Teste sobre Óptica geométrica 49 O teste (Apêndice A), com cinco questões, foi aplicado em braile aos alunos: A, D e F. A análise das respostas mostra que as alunas A e D obtiveram cinco acertos, sendo que D não respondeu as questões abertas, 3 e 9; e o aluno F obteve quatorze acertos. A única questão que o aluno F não acertou foi sobre eclipse solar (questão 8 do teste), assunto trabalhado em sala de aula, inclusive com a montagem de uma maquete para explicar o fenômeno. Vale mencionar, no entanto, que a questão 9, também sobre eclipse solar, e o aluno F a respondeu corretamente. Uma análise dos acertos da Aluna A indica que esta associou corretamente a formação de sombra com a propagação retilínea da luz; classificou corretamente os feixes luminosos em paralelos, convergentes e divergentes; respondeu corretamente sobre a independência de raios que se cruzam; entende alguns aspectos da formação de imagem em espelho plano. No caso da aluna D, a análise dos acertos mostra que esta respondeu corretamente sobre a independência de raios que se cruzam; entende a reversibilidade dos raios de luz, a reflexão da luz por superfície não polida, o eclipse solar e alguns aspectos da formação de imagem em espelho plano. QUADRO 6 – RESPOSTAS DOS ALUNOS ÀS PERGUNTAS 6, 7 8 E 9 DA ENTREVISTA. Questões Aluno A A luz se propaga e ela é refletora e se propaga em linha reta e tem princípios. Principais da reversibilidade. D Não sei definir. Pois estou aprendendo agora. A luz tem reflexo. F A luz , ao meu ver, tem um comportamento dual, age como onda ou matéria. Como matéria, pode sofrer mudança de direção ao propagar em dois meios diferentes de índices diferentes de refração. Ela se propaga em linha reta, não sofre mudança de direção, ou intensidade ao cruzar com outro raio. A A luz obedece os 2 princípios que da reversibilidade. D Reflexo, não sei. F Os raios luminosos se cruzam mas não se alteram. O princípio da reversibilidade dos raios luminosos pode ser ilustrado com o fato de uma pessoa conseguir visualizar o raio refletido no mesmo espelho. O princípio da propagação retilínea é ilustrado pela existência da sombra. A Reflexão da luz, reflete em todo lugar. D A luz clareia a luz é bom para nós, sem a luz não enxerga. O reflexo da luz é forte, ela ajuda muito. Luz Princípios básicos da luz Respostas 50 Reflexão da luz Lei de reflexão da luz F A reflexão da luz ocorre a partir do contato deste com meios opacos e regulares. Essas superfícies não absorvem os comprimentos de ondas, devolvendo-os ao meio, gerando a imagem ou reflexo, que varia em acordo com a superfície refletora. A A luz de reflexão da luz é refletora. D Não sei. F A lei de reflexão diz que a o ângulo de incidência dos raios e o de reflexão são iguais. Fonte: Elaborado pelo autor. 3.6.4 Discussão dos resultados Ao comparar os resultados dos alunos entrevistados antes e após a aplicação do curso de Óptica geométrica, percebe-se que houve um progresso, de maneira geral, na assimilação dos conceitos relacionados. É interessante mencionar, que em todos os casos, principalmente com as alunas A e D, há uma forte tendência em tentar recuperar dados da memória, sendo comum frases como “Eu sabia...” ou “não me lembro das explicações”. Assim, confirma-se que estes alunos já tinham ouvido falar sobre vários dos assuntos tratados neste curso em sala de aula. No caso da aluna A, na entrevista inicial, observa-se que os conceitos foram definidos com pouca clareza com suporte de termos do cotidiano. Por exemplo, sobre luz ela disse que “Eu entendo que luz assim... é uma parte que fica... [...] que fica dentro de uma reta né... tipo assim.... é igual umas... umas lâmpadas mesmo que você...coloca lá na parede...fica como se fosse uma reta né... […] … que apaga… acende...”. Na entrevista final, a resposta da aluna A indica sinais de um melhor entendimento em relação à luz, sua propagação e aos princípios que esta obedece. Sobre a reflexão da luz, embora bastante incompleta, a resposta da aluna A indica que ela compreende agora que a luz é refletida nas superfícies, enquanto que no início ela demonstrou desconhecer o assunto. O desempenho da aluna A no teste final mostra que houve um ganho no entendimento de raios convergentes e divergentes, na entrevista inicial ela soube definir apenas raios paralelos; e um indício de entendimento sobre formação de imagens, que anteriormente foi relacionada à imagem da televisão ou à imagem da própria pessoa no espelho. A aluna D, nos dois momentos, apresentou bastante dificuldade ao discutir conceitos relacionados à luz e suas propriedades. Na entrevista final, pode-se perceber uma pequena 51 melhora no entendimento quando ela cita que a luz deixa os lugares claros e é refletida, embora não saiba explicar o que isto significa. No teste final, entretanto, o seu desempenho foi igual ao da aluna A indicando que há entendimento dos princípios básicos de propagação da luz e formação de imagem. No caso do aluno F, os dados da entrevista inicial mostram que é um aluno bem preparado, que já dominava vários aspectos relacionados à Óptica geométrica. Pelo resultado obtido após a participação no curso, percebe-se que houve um ganho na discussão do caráter dual da luz, no entendimento da lei da reflexão e uma sedimentação nas características das imagens formadas em espelhos. Assim, o aluno F teve um aproveitamento excelente no curso de Óptica geométrica, enquanto que as alunas A e D evoluíram em relação ao início do curso, mas ainda têm muitas dúvidas sobre o assunto. Verificando o histórico dos três, o aluno F, tem uma história de estudos bem maior que as demais. Ele teve um bom acompanhamento familiar e escolar desde as séries iniciais, fato que não ocorreu com as outras duas. Observa-se que as histórias de vida deles dão indicativos das diferenças de desempenho, mais do que este curto período de convívio com eles. Este convívio nos fez perceber que, apesar do desempenho fraco, que houve atitude por parte delas, e com isto adquiriram alta estima e reconheceram que têm capacidade para aprender. Este método também tem o objetivo de despertar o desejo e a vontade de aprender. 52 4 CURSO DE ÓPTICA GEOMÉTRICA PARA DEFICIENTES VISUAIS Neste capítulo são apresentados os planos das aulas elaboradas, descrevendo em detalhes as etapas a serem seguidas pelo professor, ficando claro que o professor tem plena autonomia de fazer adaptações de acordo com suas necessidades, usando de criatividade para somar ideias e alterar os planos a sua maneira. Os planos de aulas descritos possuem ementa, objetivos e métodos didáticos. O curso foi elaborado a partir das observações e investigações feitas, adaptando o ensino de Óptica geométrica para estudantes com deficiência visual. O conjunto de atividades apresentadas constitui procedimento de um curso que foi aplicado no período de 16/05/2008 a 27/11/2008. Participaram da aplicação do referido curso um grupo de nove alunos com apenas deficiência visual, frequentadores da instituição Associação Pré-UFMG. Os alunos participantes da atividade possuem idades variando de 20 a 40 anos. As atividades foram elaboradas com determinadas características pedagógicas e sensoriais, a partir da construção ou a adaptação de equipamentos e dispositivos que permitem estabelecer interações não visuais. Assim, o professor deverá estabelecer representações para que o conteúdo possa ser trabalhado por meio do tato. Ao iniciar um trabalho de ensino e aprendizagem com alunos com deficiência visual é primordial procurar conhecer a história de vida deste aluno. Sugere-se que o professor utilize a metodologia de história oral e faça uma entrevista com cada aluno, registrando-a. Estes dados são um passo fundamental para conhecer o aluno, contribuindo na forma como trabalhar com eles. É importante também desenvolver uma linguagem própria para o conteúdo que será lecionado, definindo símbolos, gráficos e outros tipos de representações. E só a partir deste momento, traçar uma estratégia de trabalho que tenha um planejamento diário para cada aula e conteúdo. 53 Caro professor, Buscamos neste trabalho desenvolver uma metodologia voltada para você, professor do ensino médio, cuja intenção é promover um aprendizado mais efetivo e significativo para o aluno, conforme prevê a proposta curricular para o Ensino Médio, difundida pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. Nessa direção, apresentamos um roteiro com planejamento de aulas abordando tópicos de Óptica geométrica que foram ministrados a uma turma de alunos com deficiência visual que se preparavam para prestar o vestibular. As atividades têm o intuito de propiciar discussões acerca do assunto estudado durante todo o processo de ensino-aprendizagem, ampliando o diálogo aluno-aluno e aluno-professor. Ressaltando que este material é uma introdução ao estudo da Óptica geométrica, ou seja, aborda os princípios de Óptica geométrica, as leis da reflexão e espelhos planos. Os recursos utilizados foram maquetes feitas de madeira, pregos, parafusos, linhas e miçangas, em algumas situações também foram usados barbantes, papel e tintas de alto relevo. Estes materiais, todos de baixo custo, foram utilizados com a finalidade de ilustrar e auxiliar na compreensão do assunto tratado. Esperamos que a proposta, apresentada nesse material, possibilite situações de aprendizagem que permitam ao aluno pensar o seu cotidiano, a partir de diferentes pontos de vista, desenvolvendo competências necessárias para entender e intervir na sua realidade. Esperamos também que, a partir deste material, o professor possa desenvolver seu próprio curso, dando prosseguimento ao conteúdo de Óptica geométrica e outros assuntos. Bom trabalho! 54 Nas seções seguintes são apresentados os planos de aula elaborados sobre tópicos de Óptica geométrica para alunos deficientes visuais. O roteiro é composto por três unidades, sendo que na Unidade I discutem-se os temas: raios de luz, princípios da Óptica geométrica e algumas aplicações (dez aulas); na Unidade II abordam-se em duas aulas os tipos de reflexão da luz e suas leis; e na Unidade III é discutida em duas aulas a formação de imagens em espelhos planos por objetos puntiformes e extensos. 4.1 Unidade I: Raios de luz, princípios da Óptica geométrica e aplicações Ementa: Raio de luz, feixe de luz, princípios da Óptica geométrica, meios ópticos, fonte extensa e fonte pontual, eclipse solar. Objetivo geral: Permitir que o aluno com deficiência visual possa conhecer, identificar e compreender o conceito de raio e feixe de luz, e os princípios da óptica geométrica. Objetivos específicos: Estabelecer com o aluno deficiente visual uma representação da luz, tendo como questão fundamental a definição de raio de luz. Utilizar esta representação como ponto de partida para entender os três princípios da Óptica geométrica e outros fenômenos ópticos. Metodologia: Aula expositiva dialógica. Utilização de recursos instrucionais elaborados com barbante, madeira, cola, papel. Utilização de apostila em braille. 4.1.1 Primeira aula: Raios de luz Problema: Como representar raios de luz para alunos com deficiência visual? Em Óptica geométrica – parte da física que estuda os fenômenos luminosos – o conceito de raio de luz é básico para o entendimento de várias situações. Considere a fresta de uma janela num cômodo escuro, atravessada por uma luz, ou um farol marítimo emitindo luz durante a noite. Estes fenômenos sugerem ao observador que o caminho percorrido pela luz pode ser representado por uma reta orientada denominada raio de luz. (MÁXIMO; ALVARENGA; 2000). Esta reta orientada é representada para os videntes como uma seta cuja orientação indica a direção em que o raio de luz está propagando-se, como mostrado na figura 3. 55 Figura 3 - Representação tradicional de um raio de luz. Fonte: Elaborado pelo autor. Na figura 4 é mostrada a maquete elaborada para representar um raio de luz por meio de um barbante esticado, preso por dois pregos. Em uma das extremidades do barbante foi colocada uma miçanga grande, simulando a extremidade de onde partiu o raio de luz. Assim, a miçanga permite que o aluno deficiente visual saiba em qual direção a luz está se propagando. Para dar orientação ao raio de luz, utilizam-se miçangas de tamanhos diferentes presos nas extremidades do barbante. Define-se com eles o sentido que a luz propaga, ou seja, de onde ela parte e aonde ela chega. Análogo a uma seta desenhada que foi utilizada para mostrar a um aluno vidente, de onde parte e para onde segue o raio de luz. Figura 4- Maquete representando um raio de luz. Fonte: Fotos do autor. O uso de barbante é adequado para mostrar ao aluno deficiente visual que a luz propaga-se de forma retilínea e possui orientação. Desta forma, os alunos cegos podem visualizar por meio do tato a representação de um raio de luz. Na foto à esquerda da figura 5 é mostrado um aluno usando um material feito de barbante, pregos e miçangas em uma tábua, e à direita é mostrada uma foto da luz de um laser propagando em linha reta em um meio homogêneo. Figura 5– Representação do raio de luz pela maquete e raio de luz real. Fonte: Fotos do autor. 56 4.1.2 Segunda aula: Feixe luminoso Feixe luminoso é um conjunto de raios luminosos, podendo ser de três tipos: paralelos, convergentes e divergentes. Para representá-los em um painel de madeira utilizam-se pregos, barbante e miçangas. É importante sempre descrever, detalhar e explicar para o aluno que as maquetes são representações que auxiliam na visualização do modelo utilizado para o fenômeno, e a partir dessas representações o professor pode explicar os conceitos. Explorando mais esta atividade, foram disponibilizados vários barbantes presos à tábua de forma que os estudantes pudessem representar os feixes de luz: paralelos, convergentes e divergentes. A partir do mesmo procedimento, os alunos foram orientados a tocar os “feixes”, descrevendo e explicando os conceitos de feixes paralelos, divergentes e convergentes. Todos estes conceitos são fundamentais para se entender os fenômenos da Óptica geométrica, principalmente a formação de imagem em espelhos planos. Figura 6 – Representação de um feixe paralelo pela maquete. Fonte: Elaborado pelo autor. Em um feixe paralelo, os raios são retas paralelas, como mostrado na figura 6. Observe que o barbante reproduz a representação tradicionalmente feita dos feixes paralelos, com setas paralelas apontando na mesma direção e sentido. O aluno poderá perceber com as mãos a propriedade em questão. O professor deve explicar detalhadamente que os raios de luz podem ter esta propriedade, ou seja, ser paralelos e citar como exemplo a luz do laser, a luz de um farol de carro ou a luz do Sol que chega à Terra. Em um feixe convergente, os raios convergem para um mesmo ponto, como mostrado na figura 7. 57 Figura 7 – Representação de um feixe convergente pela maquete. Fonte: Elaborado pelo autor. O aluno ao tatear a maquete perceberá que os barbantes (representação do raio de luz) estão chegando a um ponto vindo de direções diferentes. O ponto de chegada é representado por um prego na madeira. A ideia é mostrar que raios de luz, assim como os barbantes, convergem para um ponto e estes raios são denominados feixe convergente. O professor pode citar como exemplo prático, os raios de luz ao atravessar uma lente convergente. Em um feixe divergente, os raios divergem de um mesmo ponto, como mostrado na figura 8. O feixe divergente é representado por uma maquete em que os barbantes partem de um ponto central. Ao tatear a maquete, o aluno percebe que os barbantes vão se afastando um do outro à medida que se afastam do ponto central, marcado por uma miçanga pregada no centro. Este ponto central será a representação de uma fonte pontual. O professor pode citar o exemplo da propagação da luz de uma vela acesa. Figura 8– Representação de um feixe divergente pela maquete. Fonte: Elaborado pelo autor. 4.1.3 Terceira aula: Princípios da Óptica geométrica Para abordar o princípio de propagação retilínea da luz os alunos com deficiência visual exploram a tábua com as mãos, enquanto o professor descreve e orienta o aluno quanto 58 aos fenômenos. O aluno ao tocar o barbante com as mãos verifica a propagação retilínea e a orientação do raio de luz através de miçangas diferentes presas nas extremidades do barbante. Propagação retilínea da luz: De acordo com o primeiro princípio da Óptica geométrica em meios transparentes e homogêneos, a luz se propaga em linha reta. Observação: A luz se propaga no vácuo. Figura 9 – Representação da propagação retilínea da luz pela maquete. Fonte: Fotos do autor. Na figura 9 tem-se um aluno tateando a maquete que representa um raio de luz, evidenciando a propriedade retilínea da luz. Nesta etapa utiliza-se um barbante para representar concretamente, através do tato, o raio de luz. Colando este barbante em uma folha de papel ou prendendo-o esticado com pregos em uma tábua, o aluno ao tocá-los e apalpá-los, explorando o material, passa a representá-lo posteriormente sob a forma de um conceito científico adquirido com o auxílio do professor. O princípio da independência dos raios de luz pode ser explicado cruzando os barbantes esticados na tábua. Neste momento é importante o professor explicar que os raios de luz, assim como os barbantes, se cruzam e seguem suas trajetórias de forma independente. Independência dos raios luminosos: De acordo com o segundo princípio da Óptica geométrica se dois ou mais raios de luz, vindos de fontes diferentes, se cruzam, e seguem suas trajetórias de forma independente como se os outros não existissem. (MÁXIMO; ALVARENGA, 2000) A figura 10 mostra à esquerda feixes de luz coloridos se cruzando e cada um seguindo sua trajetória independente um do outro. Na mesma figura, à direita, é mostrada a 59 representação de dois feixes se cruzando e cada um seguindo a sua trajetória independentemente. Figura 10 – Independência dos raios luminosos e sua representaçãopela maquete. Fonte: (esquerda) (ALUNOS ONLINE, 2012) e (direita) fotos do autor. Figura 11– Aluno manuseando a maquete que representa a independência dos raios luminosos. Fonte: Fotos do autor. As fotos da figura 11 mostram o aluno tateando e identificando o princípio da independência dos raios de luz seguindo a sequência: início da propagação, ponto de interseção e depois de se cruzarem. O princípio da reversibilidade da luz pode ser mostrado utilizando um barbante e três pregos, cada prego representa um ponto onde o raio passará como mostra a figura 12. Reversibilidade dos raios de luz: O terceiro princípio da Óptica geométrica diz que se um raio luminoso se propaga em uma direção e em sentido arbitrário, outro raio poderá propagar-se na mesma direção em sentido contrário. (MÁXIMO; ALVARENGA, 2000) O barbante representa o trajeto de um raio de luz. Dessa maneira, se o raio de luz parte do ponto A (representado pelo prego de uma das extremidades), passa pelo ponto B (prego do meio) e chega ao ponto C (prego da outra extremidade), então, pelo princípio da 60 reversibilidade, tem-se que se o raio de luz partir do ponto C, e passar por B, ele chegará ao ponto A. Figura 12 – Representação da reversibilidade dos raios luminosos. Fonte: Foto do autor. O professor ao explicar este fenômeno deve conduzir o aluno pela mão seguindo a direção do barbante e descrevendo o fenômeno. O objetivo é que o aluno perceba que o caminho que a luz faz quando sai de um ponto A ou C passando por B é o mesmo. Figura 13 – Representação da reversibilidade dos raios luminosos. Fonte: www.idelfranio.blogspot.com 4.1.4 Quarta aula: Fontes de luz Nesta aula é muito importante relatar as características de uma fonte, se ela é primária ou secundária, extensa ou pontual. Estes conceitos são fundamentais para entender o que é sombra e penumbra. Fonte de luz é todo corpo que tem a capacidade de emitir luz, todo corpo visível. Alguns corpos emitem luz própria e por isso são denominados de fonte de luz primária, como o Sol, lâmpadas elétricas, vela acesa. As fontes secundárias são corpos iluminados por fontes 61 primárias, ou seja, que não possuem luz própria. As fontes secundárias constituem a classe de todos os objetos que, por reflexão, retransmitem a luz que recebem. Exemplos de fontes secundárias são os planetas e satélites do sistema solar, e de um modo geral todos os objetos que enxergamos que não emitem luz própria. As fontes de luz podem ser classificadas como puntiforme ou extensa. Uma fonte é considerada puntiforme quando suas dimensões são desprezíveis em relação à distância em que são observadas. As estrelas observadas da Terra são consideradas fontes puntiformes de luz. Na figura 14 é mostrada a foto de uma vela como exemplo de uma fonte puntiforme e a sua representação na maquete. A miçanga representa a fonte de luz de onde partem os raios. Figura 14 - Representação de uma fonte puntiforme. Foto ilustrando a luz proveniente de uma vela (esquerda) e sua representação na maquete utilizando barbantes e prego (direita). Fonte: Fotos do autor. Uma fonte emissora de luz é denominada fonte extensa quando suas dimensões não podem ser desprezadas em relação à distância em que são observadas. Figura 15 – Representação de uma fonte extensa . Foto ilustrando a luz proveniente de uma lâmpada fluorescente (esquerda) e sua representação na maquete utilizando barbantes e prego (direita). Fonte: Fotos do autor . A figura 15 mostra uma lâmpada fluorescente, que se for observada no teto da sala pode ser tratada como uma fonte extensa de luz, e a sua representação na maquete feita com 62 com linhas e miçangas. Cada miçanga representa uma fonte puntual e o somatório delas formam a fonte extensa. Observe que de cada miçanga saem raios em todas as direções. A figura 16 mostra de forma esquemática como se ocorre a formação de sombra e penumbra. Quando a luz proveniente de uma fonte de luz extensa incide sobre um obstáculo é formada no anteparo uma região de sombra e penumbra, conforme mostrado nas situações à esquerda e no meio da figura 16. Figura 16 – Esquema mostrando a formação de sombra e penumbra. Fonte: Foto retirada de (GONÇALVES FILHO; TOSCANO, 2011) Quando a fonte é puntiforme haverá somente a região de sombra, como mostrado no quadro direito da figura 16. Na figura 17 são mostradas as maquetes elaboradas para representar a formação de sombra e penumbra. Figura 17 – Representação de sombra e penumbra na maquete. Fonte: Fotos do autor. 63 Ao tatear as duas maquetes (figura 17), com a orientação do professor, o aluno perceberá que sombra é a região em que não chega nenhum raio de luz (no caso nenhum barbante) e penumbra é a região em que chegam alguns raios de luz (alguns barbantes). 4.1.5 Quinta aula: Meios ópticos Deixar a luz passar, devolvê-la ou absorvê-la, são efeitos resultantes da interação entre matéria e luz. Em algumas situações, um desses efeitos pode ser predominante sobre os demais. Assim sendo, os meios ópticos são classificados como: transparentes, translúcidos e opacos. Os meios transparentes permitem a passagem da luz e uma visualização nítida dos objetos. A figura 18 mostra um raio de luz vermelho (laser) atravessando um copo com água (meio transparente), e sua representação na maquete. Os barbantes atravessam o filete de madeira colocado como obstáculo para os raios de luz. O objetivo da representação é mostrar que a luz ao atravessar um meio transparente descreve trajetórias regulares e bem definidas. São exemplo de meios transparentes o ar, a água, vidro e os cristais perfeitamente polidos. Neste ponto é importante esclarecer ao aluno que um bloco de madeira é opaco, e que a sua utilização na maquete é representar um bloco de vidro, por exemplo. Figura 18: Representação de um meio transparente na maquete. Fonte: Fotos do autor. Meios translúcidos são aqueles que permitem a passagem de uma parte da luz incidente, e por essa razão não há uma visualização nítida do meio. Isto é, são meios pelos quais os feixes de luz descrevem trajetórias irregulares com intensa difusão, assim, a luz se espalha sobre o meio no qual está se propagando. Nesses meios a luz consegue passar, porém seus feixes sofrem desvios na orientação por causa da constituição do material sobre o qual a luz está incidindo. 64 A foto à esquerda da figura 19 mostra um raio laser atravessando um vidro fosco, observe que ele é espalhado, ou seja, a luz atravessa o meio, mas não permite uma visualização nítida deste. Na foto à direita da figura 19 tem-se uma maquete que representa um feixe paralelo que sofre desvios ao atravessar um meio opaco, representado pelo filete de madeira. Exemplos de meios translúcidos são vidro fosco e papel vegetal. Figura 19: Representação de um meio translúcido na maquete. Fonte: Fotos do autor. Os meios opacos não permitem a passagem da luz. A luz, após incidir sobre os meios opacos, é parcialmente absorvida e parcialmente refletida. A parte que é parcialmente absorvida é transformada em energia, como a energia térmica. Figura 20: Representação de um meio opaco na maquete. Fonte: Fotos do autor. Na figura 20 são mostradas fotos de um objeto opaco iluminado pela luz de uma vela, e sua representação na maquete. Nesse tipo de meio a luz não se propaga, assim, os barbantes não atravessam o filete de madeira. Exemplos de meios opacos são parede de concreto, madeira, folhas das plantas e os objetos de cor escura, incluindo o preto, que apresentam a característica de absorverem, pelo menos, parte da luz neles incidentes. 4.1.6 Sexta aula: Eclipse solar 65 Uma região no eclipse solar fica totalmente escura, porque nenhuma luz solar atinge-a. Esta região é denominada de sombra. Entretanto, uma região de eclipse parcial é atingida por uma fração da luz solar. Nesta região, o observador poderá ver parte do Sol, razão pela qual essa região é denominada penumbra. No esquema da figura 21 são mostradas estas regiões. Os fenômenos eclipses solar que e lunar são evidenciam o princípio da propagação retilínea da evidenciar que o sol é uma luz, fonte além de de luz extensa. Figura 21 – Esquema de um eclipse solar. Fonte: Foto retirada de (GONÇALVES FILHO; TOSCANO, 2011) Esta aula permite explicar aos alunos um fenômeno astronômico. A escolha de trabalhar o eclipse solar partiu de questionamentos feitos pelos alunos durante as aulas. Na figura 22 é mostrado um aluno tateando a maquete que representa o eclipse solar. O Sol é representado como uma fonte extensa de luz, em que cada prego da extremidade direita (formando uma fileira de pregos) representa uma fonte puntiforme de luz, da qual se propagam os barbantes, iluminando o ambiente. Ao incidir na Lua, meio opaco, os barbantes não podem propagar mais. Desta maneira, um observador na Terra pode perceber regiões de sombra ou penumbra. Durante o procedimento, o professor deve descrever detalhadamente o que é o eclipse e os conceitos físicos relacionados com o fenômeno. Depois de trabalhar a teoria da Unidade I com os alunos são feitos exercícios. Alguns exercícios foram transcritos em Braille, enquanto outros foram ditados pelo professor e feitos em conjunto. 66 Figura 22 – Representação do eclipse solar na maquete. Fontes: Fotos do autor. 4.2 Unidade II: Reflexão da luz Ementa: Reflexão da luz, tipos de reflexão, leis da reflexão. Objetivo geral: Permitir que o aluno com deficiência visual possa conhecer, identificar e compreender o conceito de reflexão da luz, raio incidente, raio refletido, normal, reflexão especular e difusa. Objetivos específicos: Estabelecer com o aluno deficiente visual uma representação da reflexão da luz, tendo como questão fundamental as leis da reflexão e os tipos de reflexão. Utilizar esta representação como ponto de partida para entender a formação de imagens em espelhos planos. Metodologia: Aula expositiva dialógica. Utilização de recursos instrucionais elaborados com barbante, madeira, cola, papel. Utilização de apostila em braille. A reflexão da luz é o fenômeno no qual um raio luminoso, após incidir sobre uma superfície polida, retorna ao meio de origem. A reflexão pode ser difusa ou especular. 4.2.1 Primeira aula: Tipos de reflexão A reflexão difusa ocorre quando um feixe de raios paralelos incide sobre uma superfície irregular, espalhando o feixe em todas as direções, não permitindo formação de imagens. É a reflexão difusa que permite que os objetos que não possuem luz própria sejam vistos. Na figura 23 é mostrada a representação da reflexão difusa utilizando barbante, pregos e papel picotado, juntamente com o esquema que serviu de modelo. 67 Figura 23 – Representação da reflexão difusa na maquete. Fonte: desenho e foto do autor. A reflexão especular ocorre quando um feixe de raios paralelos incide sobre uma superfície polida, assim o feixe refletido não se espalha, propiciando a formação de imagens. Na maquete é feita uma representação por meio de pregos, barbante e papel, do esquema da reflexão especular mostrado na figura 24. Figura 24 – Representação da reflexão especular na maquete. Fonte: Desenho e foto do autor. 4.2.2 Segunda aula: Leis da reflexão A reflexão de um raio luminoso que incide uma superfície obedece a duas leis. A primeira lei diz que os raios incidentes, os raios refletidos e a reta normal à superfície de reflexão são coplanares. De acordo com a segunda lei o ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência, i = r. Figura 25 – Representação das leis da reflexão na maquete. 68 Fonte: Elaborado pelo autor. Na figura 25 é mostrado um artefato de madeira, em que cada ripa larga representa os feixes de luz incidente e refletido, e a ripa mais fina representa a normal. Na sequência da figura 25 é mostrado um aluno manuseando a maquete e um esquema geralmente utilizado nos livros didáticos para representar a reflexão para alunos videntes. O objetivo é o aluno perceber a relação entre os ângulos de incidência, de reflexão e a normal. 4.3 Unidade III: Formação de imagem em espelho plano Ementa: Formação de imagem em espelhos planos. Objetivo geral: Permitir que o aluno com deficiência visual possa conhecer, identificar e compreender como ocorre a formação de imagens em espelhos planos. Objetivos específicos: Estabelecer com o aluno deficiente visual uma representação da formação de imagens de objetos puntiformes e extensos em espelhos planos, tendo como questão fundamental as leis da reflexão. Metodologia: Aula expositiva dialógica. Utilização de recursos instrucionais elaborados com barbante, madeira, cola e papel. Utilização de apostila em braille. 4.3.1 Primeira aula: Imagem de um ponto em um espelho plano Um espelho plano é uma superfície lisa e plana. Os raios de luz que incidem sobre esta superfície sofrem uma reflexão especular. Se um objeto puntiforme é colocado próximo a um espelho plano, os raios de luz emitidos pelo objeto são refletidos pelo espelho, e o prolongamento destes raios converge para um ponto, formando a imagem do objeto. Um espelho plano produz sempre uma imagem virtual direta e de dimensões iguais às do objeto. A distância do objeto ao espelho é igual à distância da imagem ao espelho. 69 Figura 26 – Esquema da imagem formada por um espelho plano e a representação feita na maquete. Fonte: Apostila de física da Associação pré UFMG- modulo 2 e foto do autor. No diagrama da figura 26 um raio de luz sai do objeto O e incide no espelho plano, sofre uma reflexão especular, atingindo os olhos do observador. O prolongamento do raio refletido encontra-se com o raio que incide perpendicularmente ao espelho. Neste ponto de encontro forma-se uma imagem I virtual do objeto. O observador tem a impressão que os raios luminosos divergem do ponto I. Ou seja, o espelho plano dá a impressão de que existe outro objeto semelhante, colocado atrás do espelho. No diagrama pode-se observar a simetria na distância do objeto O e da imagem I à superfície do espelho. Figura 27 – Foto da imagem da mão direita formada por um espelho plano. Fonte: Foto do autor. Na figura 27 é mostrada a foto de uma mão e de sua imagem em um espelho plano. Observe que a imagem da mão direita muda a lateralidade, dando a impressão de que existe uma mão esquerda dentro do espelho. 4.3.2 Segunda aula: Imagem de um corpo extenso em um espelho plano 70 Para determinar a imagem de um objeto extenso em um espelho plano, deve-se determinar a imagem de cada ponto do objeto. A figura 28 é um diagrama explicativo mostrando como os raios de luz de um objeto extenso são refletidos por um espelho plano e formam a imagem do objeto, dando a impressão de que o objeto está atrás do espelho. Observe que a altura do objeto (H0) é igual à altura da imagem (HI). Figura 28 – Diagrama da imagem de um corpo extenso por um espelho plano. B HO B' lápis A imagem H i do lápis espelho visto por cima A' Fonte: Apostila de física da Associação pré-UFMG: módulo 2. A figura 29 é uma maquete feita na madeira que representa um espelho plano e a imagem de um objeto extenso, reproduzindo o modelo do diagrama mostrado. Os barbantes representam dois raios de luz saindo do objeto situado à direita e refletindo no espelho, um raio incide perpendicularmente sobre o espelho e volta sobre ele mesmo, enquanto que o outro raio incide em um ângulo i com a normal e é refletido no mesmo ângulo com a normal. O prolongamento destes dois raios luminosos é feito por barbantes que “atravessam” o espelho e se encontram atrás deste. O ponto de encontro destes raios define a imagem do objeto. Esse procedimento é feito com a extremidade inferior e superior do objeto. Figura 29 – Representação da imagem de um corpo extenso em um espelho plano. Fonte: Elaborado pelo autor. 71 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho foi desenvolvido um Curso de Óptica geométrica adaptado para alunos com deficiência visual. O Curso é composto por um conjunto de atividades para introduzir conceitos e fenômenos relacionados às propriedades da luz. O desenvolvimento deste trabalho teve como fator motivador gerar um ponto de partida para outros professores que, ao deparar com um aluno com deficiência visual ao entrar em uma sala de aula, saiba por onde direcionar a sua prática docente. Esse trabalho encontra suas raízes na experiência pedagógica na associação Pré UFMG, que desde seu início trouxe as seguintes indagações: É possível ensinar física a estudantes cegos? É possível ensinar Óptica a estudantes cegos? Como? Foi a partir do sim às duas primeiras indagações que a terceira indagação tornou-se o problema central dessa pesquisa, levando-nos à construção de um produto, que foi elaborado e testado junto a estudantes cegos. A experiência de ensinar física a alunos deficientes visuais mostrou a importância, no caso dos professores, da individualidade do aluno. Assim, foi essencial adotar metodologias diferenciadas que contribuam para a apreensão do quadro de relações que envolveram os sujeitos dessa pesquisa. Essas informações direcionaram a elaboração de estratégias voltadas para o aprendizado efetivo de física por alunos deficientes visuais. Neste contexto, as atividades tiveram como apoio três componentes práticos: Construção de materiais concretos; Desenvolvimento de uma linguagem baseada em representações; Participação e avaliação das aulas por estudantes cegos. Antes de iniciar o Curso, os alunos foram entrevistados, de acordo com a metodologia de história oral de vida e temática, buscando identificar informações sobre sua deficiência visual, vivência escolar e conceitos prévios de Óptica geométrica. A utilização dessa metodologia foi crucial e a que mais se adequa às interações com estudantes com deficiência visual. A construção de instrumentos e a utilização de uma linguagem adequada foram elaboradas a partir da vivência da prática pedagógica com estes alunos. Assim, foi desenvolvida ao longo do curso uma metodologia própria para ensinar Óptica geométrica. 72 O uso de barbantes e construtos que permitiram fazer as representações para explicar o processo de visão levou a discussões ricas, permitindo ao professor discutir e debater de forma sistemática os diversos níveis de deficiência visual, possibilitando também ao professor a desconstruir o senso comum que liga o cego a uma incapacidade. Este procedimento mostra que o uso de uma linguagem tátil sensitiva pode ocupar o lugar de uma linguagem visual. A linguagem tátil faz uso de uma prótese para a compreensão de uma linguagem conceitual. Embora, o uso de maquetes tenha se mostrado muito útil para o ensino de Óptica apresentou algumas limitações. Ela só pode ser usada por um aluno deficiente visual de uma vez, então se o professor tiver mais de um aluno, como no nosso caso, ele terá de explicar para cada um individualmente. Isto toma tempo. Desta forma a limitação é somente inicial e necessária. Outra informação importante é quanto o uso de madeira. O professor deve tomar o cuidado e lixar toda a madeira para não deixar ferpas. Para evitar as ferpas é necessário que toda a madeira esteja bem lixada. O processo de avaliação foi realizado em duas etapas, a primeira consistiu de uma entrevista aos alunos participantes sobre a opinião deles em relação à metodologia do curso, além de uma pré-sondagem de conceitos assimilados; na segunda etapa um teste de conhecimentos foi respondido pelos alunos. A análise dos dados indica que os alunos avaliaram o Curso e o material desenvolvido positivamente. Em relação à assimilação de conceitos, apenas um aluno, com um histórico de estudos marcado pelo apoio familiar e escolar, obteve mais de 90% de acertos no teste. As outras alunas obtiveram 33% de acerto. Uma comparação dos dados da entrevista inicial com o desempenho final mostra que houve um ganho conceitual considerável em todos os alunos que participaram dos testes. É importante resaltar que neste trabalho os alunos não eram estudantes de uma escola regular, sendo assim não ficaram presos a questões referentes a notas e reprovações. O objetivo e o fator motivador dos alunos desta pesquisa é serem aprovados em uma boa universidade. Isto por um lado era bom e por outro era ruim, por que não havia obrigação de frequência. Isto foi um dos fatores que prejudicou o aprendizado de alguns alunos. Esperamos que a proposta, apresentada nesse material, possibilite situações de aprendizagem que permitam ao aluno pensar o seu cotidiano, a partir de diferentes pontos de vista, desenvolvendo competências necessárias para entender e intervir na sua realidade. Esperamos também que, a partir deste material, o professor possa desenvolver seu próprio curso, dando prosseguimento ao conteúdo de Óptica geométrica e outros assuntos. 73 REFERÊNCIAS ALVARENGA, B., MÁXIMO, A. Curso de Física. Vol.II. São Paulo: Scipione, 2000. ALUNOS ONLINE. Física: Princípios da Óptica geométrica. Disponível em: http://www.alunosonline.com.br/fisica/principios-otica-geometrica.html. Acesso em: 17 dez. 2012. ANDRADE, L.M.; DICKMAN, A.G.; FERREIRA, A.C. Identificando dificuldades na descrição de figuras para estudantes cegos. In: XIV ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, 14, Maresias: 2012. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, p.1-8, 2012. ANJOS, P.T.A., CAMARGO, E.P. Ensino de física para alunos com deficiência visual: panorama das pesquisas apresentadas nos principais encontros e revistas da área a partir do ano 2000. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA, 19, 2011, Manaus. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2011. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70 Ltda/Almedina Brasil, 2011. 280 p. BRASIL. Lei nº 9394, de 20 dez. 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.Diário Oficial, Brasília, 23 dez. 1996. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais do ensino médio - PCN. Brasília: 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB nº 15/98. Diretrizes curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília: 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Normas Técnicas para a Produção de Textos em Braille. 2006. CAMARGO, E.P. e NARDI, R. Planejamento de atividades de ensino de Física para alunos com deficiência visual: dificuldades e alternativas. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v.6, n.2, p.378-401, 2007. 74 CAMARGO, E.P., VIVEIROS, E.R., NARDI, R. Trabalhando conceitos de Óptica e eletromagnetismo com alunos com deficiência visual e videntes. In: ENCONTRO DE PESQUISA EM ENSINO DE FÍSICA, 10, Londrina. Atas... São Paulo: Sociedade Brasileira de Física, 2006. CONDE, A.J.M. Definindo a cegueira e a visão subnormal. Disponível em http://www.ibc.gov.br/?itemid=947. Rio de Janeiro. Acesso em 17/12/2011. CREPPE, C.H. Ensino de química orgânica para deficientes visuais empregando modelo molecular. 123f. 2009. Dissertação (Mestrado em Ensino de Química) – Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Rio de Janeiro. DICKMAN, A. G.; FERREIRA, A. C. Ensino e aprendizagem de Física a estudantes com deficiência visual: Desafios e Perspectivas. 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Acesso em 12 abr., 2012, http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/censo2010/ resultados_preliminares_amostra/default_amostra.shtm. 75 MACHADO, A.C.S. Ensino de física para deficientes visuais: uma revisão a partir de trabalhos em eventos, 2010. 37f. Monografia – Universidade Católica de Brasília, Curso de Física, Brasília. MEIHY, J.C.S.B. Manual de História Oral. 2 Ed. São Paulo: Loyola, 1998. MEIHY, J.C.S.B.; RIBEIRO, S.L.S. Guia Prático de História Oral – Para empresas, universidades, comunidades, famílias. 1 Ed. São Paulo: Contexto, 2011. NICOLAIEWSKY, C.A., CORREA, J. Escrita ortográfica e revisão de texto em Braille: uma história de reconstituição de paradigmas sobre o aprender. Caderno Cedes, Campinas, v.28, n.75, p.229-244, 2008. OCHAÍTA, E.; ESPINOSA, M.Á. Desenvolvimento e intervenção educativa nas crianças cegas ou deficientes visuais. In: COLL, César; MARCHESI, Álvaro e PALACIOS, Jesús (orgs). 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[Adotada pela Conferência Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais: Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, Espanha, em junho de 1994]. Genebra: UNESCO, 1994. 76 APÊNDICE QUADRO 7- TESTE APLICADO AOS ALUNOS APÓS O TÉRMINO DO CURSO TESTE 1) Através de uma lâmina de vidro de uma janela, podemos perceber a presença de luz vinda do exterior sem, entretanto, podermos ver com nitidez através da mesma. O vidro dessa janela é, com certeza: a) Transparente b) Opaco c) Translúcido d) Semi-opaco 2) A formação de sombra evidencia que: a) A luz se propaga em linha reta. b) A velocidade da luz não é dependente do referencial. c) A luz sofre refração d) A luz é necessariamente fenômeno de natureza corpuscular. e) A temperatura do obstáculo influi na luz que o atravessa. 3) Esta figura representa uma lente de vidro cuja face voltada para o Sol coleta energia luminosa (luz). Observando-a, classifique os feixes luminosos A, B e C nela representados. 77 4) Duas fontes de luz emitem feixes que se interceptam. Após o cruzamento dos feixes: a) Há reflexão do feixe menos intenso. b) Há reflexão do feixe mais intenso c) Há refração do feixe mais intenso d) Há refração do feixe menos intenso. e) Os feixes continuam sua propagação como se nada tivesse acontecido. 5) Um observador A, visando o espelho, vê um segundo observador B,. Se B visar o mesmo espelho, ele verá o observador A. Este fato se explica pelo: a) Princípio da propagação retilínea da luz. b) Princípio da independência dos raios de luz. c) Princípio da reversibilidade dos raios de luz. d) Absorção da luz na superfície do espelho. e) Nenhuma das respostas é correta. 6) A difusão da luz é um fenômeno devido à: a) Passagem da luz de um meio para outro. b) Passagem da luz por uma fenda estreita. c) Reflexão da luz em uma superfície muito lisa (especular). d) Reflexão da luz em uma superfície irregular. e) Não existe tal fenômeno 7) Se um feixe constituído de raios luminosos paralelos entre si incide sobre uma superfície opaca e não polida, como mostra a figura, podemos afirmar que: 78 a) Se a superfície for metálica, o feixe refletido é constituído de raios luminosos paralelos entre si. b) Sendo a superfície não polida, os raios refletidos não serão paralelos entre si. c) Sendo a superfície opaca, não ocorrerá reflexão. d) Sendo a superfície não polida, não haverá feixe refletido. e) Se a superfície tiver grande poder refletor, os raios luminosos refletidos serão paralelos entre si. 8) Durante um eclipse solar, um observador: Sol Lua Terra a) No cone de sombra, vê um eclipse parcial. b) Na região da penumbra, vê um eclipse total. c) Na região plenamente iluminada, vê a Lua eclipsada. d) Na região da sombra própria da Terra, vê somente a Lua. e) Na região plenamente iluminada, não vê o eclipse solar. 9) A figura abaixo mostra uma situação de eclipse do Sol. Três pessoas olham na direção do Sol: uma do ponto A, uma do ponto B e uma outra do ponto C. Os observadores utilizam filtros para não ferir a retina (por exemplo, um negativo de filme fotográfico queimado). C B Lua Sol A Terra 79 a) Qual das opções abaixo representa o que é observado do ponto A? (I) (III) (II) (IV) b) Qual das opções abaixo representa o que é observado do ponto B? (I) (II) (III) (IV) c) Qual das opções abaixo representa o que é observado do ponto C? (I) (III) (II) (IV) 10) Em um dia ensolarado um aluno de 1,70m mede sua sombra encontrando 1,20m. Se naquele instante a sombra de um poste nas proximidades mede 4,80m, qual é a altura do poste? a) 3,40m b) 4,30m d) 6,80m e) 5,30m c) 7,20m 11) Você está a uma distância de 2,0m de um espelho plano vertical reparando sua “maquiagem”, quando você observa através do espelho a imagem de um quadro situado na parede de trás, a 3,0m do espelho. A que distância a imagem se encontra de você? a) 5,0m b) 7,0m d) 4,0m e) 1,0m c) 6,0m 12) Quanto a um espelho plano pode dizer-se que ele forma: a) Sempre imagens virtuais de objetos reais b) Sempre imagens reais d) Imagens virtuais invertidas c) Imagens reais de objetos reais e) Imagens reais diretas 80 13) Um homem se aproxima de um espelho plano com uma velocidade de 2,0m/s. Quanto à imagem do homem formada pelo espelho, podemos afirmar. a) A imagem afasta-se do espelho com uma velocidade de 2,0m/s b) A imagem permanece imóvel em relação ao espelho c) A imagem aproxima-se do espelho com uma velocidade de 4,0m/s d) A velocidade da imagem em relação ao homem (objeto) é 4,0m/s e) Todas as afirmativas acima são falsas 14) Daniela, uma linda menina de oito anos, ficou completamente desconcertada quando, ao chegar em frente ao espelho do seu armário, vestindo uma blusa onde havia seu nome escrito, viu a seguinte imagem do seu nome: a) b) c) d) e) 15) Um homem se aproxima de um espelho plano, e depois se afasta. Qual dos gráficos é o que representa o tamanho real h de sua imagem em função do tempo. a) b) h t d) t e) h t c) h h t h t Fonte: Elaborado pelo autor. 81 QUADRO 8- GABARITO DO TESTE Questões 1 Respostas C 2 3 4 A 5 E Questão 3 6 C 7 D 8 B 9 E 10 11 12 13 14 15 D A A D D C A- paralelo; B-convergente; C-divergente Questão 9 A-IV; B-II; C-I Fonte: Elaborado pelo autor QUADRO 9- RESULTADO DO TESTE APLICADO AOS ALUNOS APÓS O CURSO QUESTÕES 1 1 RESPOSTA CORRETA Aluna A: Tassia; Aluna B: Milene; Aluna C: Simone; Aluna D: Vera; Aluna E: Luzia; Aluno F: Carlito. 2 2 3 4 C A A 3 4 5 5 6 6 7 8 9 10 9 1 11 1 12 1 13 1 14 1 1 7 8 15 E C D B E D A A D D C A E D A C B B A B C D A A B E C C B E A D B B B C C A E C D B B D A A D D C