III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001 - 004 OBTENÇÃO DE COORDENADAS 3D ATRAVÉS DE ESPELHO PLANO E ESTAÇÃO TOTAL MARIA DE LOURDES DE AQUINO MACEDO GONÇALVES PEDRO LUIS FAGGION CARLOS AURÉLIO NADAL Universidade Federal do Paraná - UFPR Curso de Pós Graduação em Ciências Geodésicas - CPGCG [email protected], [email protected], [email protected] ABSTRACT - This paper presents a method of three-dimensional positioning, used to determine the coordinates of an object through indirect target, ie, using a plane mirror to deflect the sight. To this end, we use topographical equipment and accessories that allow the measuring of the horizontal directions, vertical angles and distances to objects that are not in the field of view of the total station. Also developed a mathematical model that allows the determination of 3D coordinates of objects. 1 INTRODUÇÃO 2.1 Equipamentos Na topografia industrial o operador geralmente depara-se com alguns problemas, tais como: dificuldade de visibilidade entre o objeto e a estação de instalação do equipamento; o objeto de estudo possuir um formato que impossibilite a visibilidade de alguns de seus pontos e ambientes confinados com altas temperaturas. Sendo que estes fatores podem interferir nos resultados. Neste trabalho apresenta-se um método de obtenção de coordenadas 3D de pontos inacessíveis, ou seja, pontos que não são visíveis do local ocupado pela estação total (ET). A proposta consiste em desviar a visada utilizando-se um espelho plano e com isso viabilizar a medição de direções horizontais, ângulos zenitais, distâncias inclinadas. Com essas informações e os conceitos de álgebra vetorial é possível a determinação das coordenadas do ponto inacessível. 2.1.1 Espelho O espelho utilizado pertence ao Laboratório de Instrumentação Geodésica – LAIG. Nesse espelho o metal prateado é espelhado sobre uma base de cristal, na parte frontal do mesmo, Figura 1. 2 METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste método, que envolve conceitos de óptica, trigonometria, geometria, álgebra vetorial e transformação de sistemas, foi necessário o desenvolvimento de alguns acessórios que possibilitem o desvio da visada e com isto a obtenção das coordenadas dos pontos inacessíveis. Figura 1 – Espelho plano utilizado para desviar a visada Com o espelhamento frontal o fenômeno de refração que ocorre quando a luz atravessa diferentes meios (ar e vidro) é minimizado. Aos leitores mais interessados recomenda-se GONÇALVES, 2007. 2.1.2 Suporte do espelho Foi necessário desenvolver um projeto de uma estrutura rígida que permitisse a fixação do espelho em M.L.A.M. GONÇALVES, P.L. FAGGION, C.A. NADAL III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação um tripé. Esta possui duas características essenciais para o desenvolvimento do método (Figura 2): • Fixação do suporte do espelho num tripé, utilizando uma base nivelante e um adaptador com parafuso de rosca; • Permitir o movimento vertical e horizontal do espelho. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 002 - 004 ZANETTI E FAGGION, 2007). Na Figura 4 mostra-se a estação total utilizada. Figura 4 – Estação total Leica TCRA 1205 2.1.5 Mira horizontal de ínvar Os pontos foram materializados fixando alvos em uma mira horizontal de ínvar. A mira horizontal de ínvar, apresentada na Figura 5, possui comprimento nominal de 2 m e é utilizada na determinação da distância horizontal indireta entre duas estações (NADAL, 2000). Figura 2 – Suporte do espelho 2.1.3 Alvos gravados no espelho Foram gravados quatro alvos diretamente no espelho (E1, E2, E3 e E4), dispostos próximos às bordas, com uma distância aproximadamente igual entre eles, permitindo posicionar o espelho espacialmente, ou seja, determinar a posição do plano do espelho no espaço, Figura 3. Figura 5 – Mira horizontal de ínvar 2.2 Realização das medições Nesse método trabalha-se com dois sistemas de coordenadas cartesianas: sistema principal (Figura 6 - a) e sistema do espelho (Figura 6 - b). Figura 3 – Marcas gravadas no espelho 2.1.4 Estação total Estação total é um equipamento constituído por um teodolito eletrônico (medida de direções horizontais e ângulos zenitais), um distânciometro eletrônico (medida de distâncias) e um processador matemático (VEIGA, M.L.A.M. GONÇALVES, P.L. FAGGION, C.A. NADAL Figura 6 – Sistema principal e sistema do espelho III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação O sistema principal tem como origem o ponto cardan da estação total - ET, e a ela foi atribuída as coordenadas x=100,00m; y=100,00m e z=100,00m. O eixo Y também foi arbitrado como coincidente com a linha de visada quando a ET está colimada em 00 (direção horizontal) e o eixo Z coincide com a vertical local, reproduzindo um sistema dextrógiro. No espelho o sistema tem como origem o alvo E1 gravado em sua superfície, o eixo Y’ coincide com a reta que passa pelos alvos E1 e E2 da superfície, sendo o plano formado pelo eixo Y’ e X’ coincidente com o plano da superfície do espelho, o eixo Z’ é perpendicular ao mesmo. O método consiste em realizar as medidas necessárias de direções horizontal, ângulos zenitais e distâncias inclinadas através do reflexo do alvo (ponto de interesse) no espelho. É necessário conhecer o plano do espelho, o qual pode ser definido conhecendo-se três pontos da sua superfície. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 003 - 004 2) Determinação das coordenadas dos alvos de referência (E1, E2, E3 e E4) e do ponto de visada, denominado “esp”, em relação ao sistema principal. Para cada alvo levantado da mira horizontal é definido um ponto “esp” distinto dos demais, Figura 8. Figura 8 – Alvos de referência e ponto “esp” O ponto “esp” é materializado na superfície do espelho no momento da visada indireta do alvo da mira horizontal de ínvar, sendo d1 a distância entre esse ponto e a ET. Figura 7 – Sistemas de referência principal e espelho A Tomando como base a Figura 7 observa-se que a distância medida entre a estação total e o alvo na mira horizontal de ínvar, passando pelo espelho, será a soma das distâncias d1 e d2, ou seja, o sinal que parte da estação total chega ao espelho que o desvia até atingir o alvo, retornando à estação total pelo mesmo caminho. Quando a distância necessária é somente a d1 coloca-se um anteparo sobre o espelho para que ocorra uma reflexão difusa. 3 MODELO MATEMÁTICO ADOTADO 3.1 Seqüência de cálculos Para determinação das coordenadas dos alvos materializados na mira horizontal de ínvar desenvolveu-se o seguinte modelo matemático. 1) Definição do sistema principal de coordenadas: a estação ocupada para a coleta dos dados foi definida como origem e tendo as coordenadas atribuídas x0=100,000; y0=100,000 e z0=100,000 metros. M.L.A.M. GONÇALVES, P.L. FAGGION, C.A. NADAL 3) Determinação da coordenada do alvo virtual, imagem do alvo da mira horizontal de ínvar projetada atrás do espelho utilizando a distância total (d1+d2), sendo que a distância zenital e a direção horizontal são as mesmas do “esp” do referido alvo. É importante enfatizar que cada alvo da mira horizontal de ínvar possui um ponto “esp” diferente dos demais. 4) Determinação dos vetores e versores formados pelos alvos E1- E2 e E1 - E3. A partir desses dados foram obtidos os parâmetros do versor normal ao plano do espelho. Esse versor coincide com o eixo Z do sistema do espelho. Utilizando-se os parâmetros dos vetores 1 e 2 calcula-se o vetor normal ao plano do espelho. 4 RESULTADOS Os resultados obtidos para os alvos fixados na mira horizontal de ínvar são apresentados na a seguir. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 004 - 004 Tabela 1 – Resultado obtidos ALVO MA M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 MB x y z x y z x y z x y z x y z x y z x y z x y z x y z x y z COORDENADAS OBTIDAS (m) 78,547 92,041 99,832 78,424 92,274 99,834 78,356 92,415 99,839 78,275 92,579 99,842 78,198 92,737 99,846 77,987 93,127 99,852 77,903 93,288 99,853 77,825 93,455 99,854 77,745 93,616 99,858 77,649 93,820 99,859 5 CONCLUSÃO Os resultados obtidos nos testes executados demonstram a viabilidade do método proposto. Sua utilização em ambientes industriais mostrou-se promissor, tendo em vista que o espaço para a instalação de equipamentos é reduzido e as bancadas utilizadas nas linhas de produção diminuem o campo de visão do operador do instrumento. BIBLIOGRAFIAS CONSULTADA GONÇALVES, M. L. A. M. Posicionamento tridimensional de pontos inacessíveis utilizando-se técnicas topográficas e reflexão total. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2007. Seminário de qualificação. M.L.A.M. GONÇALVES, P.L. FAGGION, C.A. NADAL NADAL, C. A. Interseção óptica tridimensional aplicada à engenharia de precisão. Curitiba, 2000. Tese (Doutorado em Ciências Geodésicas) – Curso de PósGraduação em Ciências Geodésicas, Universidade Federal do Paraná. VEIGA, L. A. K., ZANETTI, M. A. Z., FAGGION, P. L., Fundamentos de topografia. Curitiba, 2007. 205 p. Apostila Disciplina de Topografia. Departamento de Geomática, Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná.