Dossiê Tecnologia, Comunicação e Conhecimento EICHLER, M. L.; et al. Computadores em educação química: equilíbrio químico e princípio de Le Chatelier Marcelo Leandro Eichler1 José Claudio Del Pino2 RESUMO Computadores em educação química: equilíbrio químico e princípio de le chatelier. Neste artigo, realizamos um panorama sobre da didática das ciências e apresentamos uma síntese de pesquisas acerca das concepções alternativas dos estudantes em relação ao equilíbrio químico. Tal percurso pela educação química é útil para a abordagem de programas de computador que incluem a temática do equilíbrio químico. Assim, discutimos a inclusão das representações dos diferentes níveis de explicação da química (macroscópico, simbólico e submicroscópico) nos materiais didáticos computacionais. Palavras-chave: objetos de aprendizagem; informática educativa; educação química. ABSTRACT Computers in chemical education: chemical equilibrium and le chatelier’s principle. In this paper the authors show an overview of science education and a synthesis of researches on the student’s alternative conceptions on chemical equilibrium. This panorama by chemical education is useful for dealing with computer programs that include the topic of chemical equilibrium. Thus, we discuss the inclusion of representations in different levels of chemical explanation (macroscopic, submicroscopic and symbolic) in software education and learning objects. Keywords: learning objects; informatics education; chemical education. 1 Licenciado em Química, Doutor em Psicologia do Desenvolvimento, Departamento de Química – CFM (UFSC), Campus Universitário – Trindade, Florianópolis - SC, 88040-970, [email protected] 2 Licenciado em Química, Doutor em Engenharia de Biomassa, Área de Educação Química, Instituto de Química (UFRGS), Av. Bento Gonçalves, 9500 – Sala D-114,Porto Alegre – RS, 91501-970, [email protected] Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 45 45 09/02/2012, 09:51 Computadores em educação química:.. 1 – Introdução Os primeiros artigos que tratam do uso de computadores no ensino de equilíbrio químico datam de 1965. No Journal of Chemical Education, o primeiro foi publicado em março desse ano. Nele, Bard e King (1965) sugeriam que os problemas de equilíbrio químico, especialmente aqueles envolvendo equilíbrio iônico, ocupavam uma larga porção do currículo de química, durante a graduação, assim, uma outra opção para a solução das equações, à época, diferente das tradicionais, envolveria métodos gráficos ou numéricos. Dessa forma, apresentavam a formulação de programas de computadores para resolver problemas de equilíbrio químico. Para eles, a vantagem da utilização de computadores residia no fato de que: […] um programa nessa forma não requer tediosas combinações de equações algébricas, ele contém um programa geral (rotina) em que as equações são resolvidas, bastando especificar os valores de constantes, as concentrações analíticas e escolher o formato de apresentação dos dados. (BARD e KING, 1965, p. 127) O programa foi escrito em uma linguagem de computador usualmente utilizada: FORTRAN1. Apenas oito meses depois, no mesmo periódico, Zajicek (1965), também, apresenta um programa para o ensino de equilíbrio químico, dessa vez, elaborado em FORTRAN II. Nele, verificamos um importante avanço, uma vez que um segundo programa de computador é usado para converter as concentrações de cada espécie, que participa do equilíbrio, em frações, tornando-se mais conveniente a elaboração de diagramas de distribuição, como o que está reproduzido na Fig. 1 (a qual apresenta o diagrama de distribuição das espécies protonadas do EDTA – ácido etilenodiaminotetracético, que pode ser genericamente designado por H4L – conforme o pH), que, na época, apresentavam alguma novidade e não estavam disseminados nos livros didáticos. Em função disso, o autor não deixa de dar seu depoimento sobre as vantagens do uso de computadores no ensino e na aprendizagem de química: […] agora que computadores digitais de alta velocidade estão se tornando disponíveis mais amplamente, sua aplicação nas salas de aula tem aumentado, [....], sistemas que eram discutidos de forma qualitativa ou aproximativa podem, agora, ser tratados exatamente, com os resultados disponibilizados aos estudantes. (ZAJICEK, 1965, p. 622) Figura 1 – Diagrama de distribuição das concentrações parciais durante uma reação química. 46 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 46 09/02/2012, 09:51 EICHLER, M. L.; et al. Embora o autor cite, nas conclusões, que os diagramas de distribuição são úteis nas salas de aulas, não apresenta resultados para corroborar os seus argumentos ou ainda, faça alguma reflexão acerca da possibilidade de representação dos gráficos das concentrações parciais em diferentes pH, por exemplo. Além disso, o autor apenas afirma que os diagramas de distribuição eram utilizados em suas aulas tanto com calouros de química, quanto com estudantes de química inorgânica teórica – a ideia, sobre química teórica, à época, seguramente, é diferente da que se tem atualmente; a química teórica está muito relacionada à química computacional – e, em sua última frase, conclui com uma indicação que, devido ao distanciamento temporal e tecnológico, soa risível: “o tempo de utilização dos computadores é razoavelmente [fairly, no original] modesto, os dados são obtidos utilizando um IBM 1620 em 25 minutos [sic]” (ZAJICEK, 1965, p. 624) No Journal of Chemical Education (JCE), a partir de então, começam a ficar, cada vez, mais frequentes os artigos que advogam pela utilização de computadores no ensino de química. Até que, em 1979, surge a secção Computer Series do (JCE). No primeiro artigo da nova série, A Tool, Not a Gimmick (cuja versão poderia ser “uma ferramenta, não um truque”), Moore e Collins (1979), relatam os resultados da força-tarefa que teve por objetivo disseminar informações sobre a educação química baseada em computadores. Nesse artigo, razoavelmente longo para a tradição do periódico, os autores dissecam as características potenciais dos computadores para o ensino e a aprendizagem de química, abordando desde as linguagens dos computadores (FORTRAN, BASIC, PASCAL) até a “transportabilidade” dos materiais didáticos baseados em computadores (hardware, software e documentação). Quando os autores elencam o que os computadores podem fazer, apresentam uma classificação dos tipos de software em que já aparecem as tecnologias, e suas metodologias subjacentes, que iram ser mais fortemente disseminadas. Assim, escrevem sobre os tutoriais relacionados à instrução assistida por computadores (computer-assisted instruction, CAI, em inglês) e sobre a aprendizagem ampliada com simulações computacionais (computer-enhanced learning via simulations, CELSIM, em inglês). Ou seja, já na ocasião, mostravam alternativas que davam mais ênfase, ora ao ensino, com relativa substituição do papel do professor, como no caso dos CAI’s, ora à aprendizagem, através da defesa da utilização de simulações em propostas pedagógicas não diretivas. Atualmente, nas propostas metodológicas da educação à distância e no projeto pedagógico subjacente aos softwares educativos e aos objetos de aprendizagem, observamos ainda essa tensão entre a orientação do ensino e as possibilidades de aprendizagem. Algum tempo depois, em outro periódico, aparece um artigo que faz uma relação entre o uso de computadores no ensino de química e as metodologias e as propostas didáticas discutidas no âmbito da comunidade dos educadores em ciências. Assim, Hameed, Hackling e Garnett (1993) apresentam um pacote CAI, que seria baseado no modelo de mudança conceitual, cujo um dos objetivos seria corrigir as concepções errôneas dos estudantes acerca do equilíbrio químico, utilizando as capacidades gráficas dos computadores para apresentar representações simbólicas significativas de processos dinâmicos e dependentes do tempo. Portanto, nas próximas secções, realizaremos um panorama sobre a didática das ciências, apresentaremos uma síntese de pesquisas acerca das concepções alternativas dos estudantes em relação ao equilíbrio químico. E, por último, indicaremos alguns programas de computador 47 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 47 09/02/2012, 09:51 Computadores em educação química:.. que abordam a temática do equilíbrio químico, discutindo a inclusão das representações dos diferentes níveis de explicação da química (macroscópico, simbólico e submicroscópico), bem como as propostas pedagógicas subjacentes a esses materiais didáticos computacionais. 2 – Um panorama sobre o ensino de química A investigação sobre as concepções alternativas dos estudantes para os conhecimentos científicos é uma das principais ênfases das pesquisas realizadas no campo da didática das ciências. Em relação aos conceitos da química, diversos autores abordadam esse assunto nos últimos anos, entre eles Barker (2000), Fensham (2002) e Taber (2000 e 2001). Conforme Fensham (2002), os estudantes não iniciam o estudo das ciências com mentes vazias. Eles possuem ideias ou concepções anteriores sobre vários fenômenos científicos e sobre conceitos introdutórios de química, em particular. Muitas delas persistem firmemente, tornando-se uma forma diferente, ou alternativa, de entender os conceitos da química apresentados pelos professores ou pelos livros didáticos. Nesse sentido, é importante considerar as relações empíricas e teóricas nos processos de ensino e de aprendizagem de química, além de considerar que a formação de conceitos científicos é um processo longo, dinâmico e mediado socialmente (ECHEVERRIA, 1996). As pesquisas em didática das ciências revelam, ainda, que as características do pensamento dos alunos evoluem com a idade e com a instrução, mas são frequentes mesmo entre aqueles que já foram submetidos ao ensino formal (MORTIMER, 1995). A permanência dessas ideias, após as aulas tradicionais de ciências, colocou em evidência a necessidade de se construir uma nova perspectiva para o ensino de ciências, que levasse em consideração os resultados das pesquisas. Essa nova perspectiva foi articulada em propostas que consideram haver um desenvolvimento paralelo de ideias em relação às noções já existentes. Tal desenvolvimento resulta em explicações alternativas que podem ser empregadas em um momento e em uma situação apropriados (SCOTT, 1987). De acordo com Taber (2001), a maioria das concepções alternativas em química não deriva da experiência cotidiana do mundo dos estudantes. Nessa disciplina, ao contrário do que ocorre com a biologia e com a física, por exemplo, os enquadramentos disponíveis para dar sentido a conceitos abstratos, como modelo atômico ou geometria molecular, derivam somente do entendimento que os estudantes fazem de conceitos anteriormente ensinados. É interessante verificarmos, como indica Taber (2000), que as concepções alternativas têm sido descritas nas diferentes áreas científicas e vêm sendo evidenciadas em estudantes de diversos níveis de ensino, da escola primária até a graduação. Nesse sentido, esse autor, sugere que quando um professor de ciências inicia um tópico de seu conteúdo programático, deve considerar que os estudantes possuem ideias inconsistentes acerca do material apresentando. O professor, dessa forma, deveria pressupor as possíveis concepções alternativas manifestas por seus alunos para elaborar suas estratégias de ensino, visando a uma melhor compreensão conceitual. 48 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 48 09/02/2012, 09:51 EICHLER, M. L.; et al. – As diversas concepções acerca do equilíbrio químico Conforme Machado e Aragão (1996), alguns aspectos são essenciais para a compreensão do estado de equilíbrio químico: a igualdade de rapidez das reações de formação de produtos e de reconstituição de reagentes; a reversibilidade das reações; a coexistência de reagentes e produtos em um mesmo recipiente; bem como o dinamismo que envolve a reorganização constante das espécies reagentes e dos produtos da reação. As ideias alternativas, parciais ou errôneas, sobre esses aspectos essenciais podem ser encontrados em compêndios de pesquisas sobre as concepções alternativas dos estudantes aos conhecimentos químicos. As investigações compiladas por Barker (2000), realizadas em diferentes países, mostram as principais noções das crianças e dos adolescentes sobre o equilíbrio químico: a) consideram-no como estático, análogo aos pratos de uma balança, contendo massas iguais; b) veem as reações direta e inversa como transformações separadas e independentes, não pertencendo a um mesmo sistema químico; c) há, por parte dos alunos, uma relação aritmética simples entre as concentrações dos reagentes e os produtos em equilíbrio, mais comumente, que elas são iguais. Consideram que a constante de equilíbrio (K) aumenta quando o equilíbrio é restabelecido, após mudar a concentração de um reagente, e não levam consideração o efeito da temperatura sobre o valor de K, demonstrando uma falta de habilidade para julgar quando K é constante, ou quando e como K muda. Tendem a associar um alto valor de K a uma reação muito rápida; d) pensam que a rapidez1 da reação direta aumenta a partir do momento em que os reagentes são misturados até o momento em que o equilíbrio é estabelecido, refletindo a percepção de que as reações diretas e inversas são eventos separados. Acham que mudar as condições da reação química resulta em um aumento na rapidez da reação favorecida e um decréscimo na rapidez da outra reação; e) consideram que as concentrações de reagentes e de produtos são iguais em equilíbrio, o que pode favorecer à conclusão de que existe uma relação direta entre a igualdade de rapidez e a concentração; f) em relação ao princípio de Le Chatelier tratam todas as substâncias na reação de maneira independente, ao invés de visualizar interações entre elas. Expressam a noção de que o equilíbrio é restabelecido somente quando todos os reagentes adicionais forem consumidos. Essas ideias dos alunos indicam que existe um modelo de “duas reações” para equilíbrio químico – nesse último caso, se um reagente foi adicionado, então a reação direta continuaria a consumir o material extra, enquanto a reação inversa permanecia inalterada. Outras pesquisas sobre os conceitos de equilíbrio químico, realizadas em países de línguas latinas, as quais não foram contempladas no compêndio de Barker (2000), podem contemplar o quadro acerca das concepções alternativas dos estudantes. Pereira (1989) evidenciou que os alunos relacionam o estado de equilíbrio químico à ausência de alterações nos sistemas e que há estudante que consideram a existência de reagentes e de produtos em compartimentos separados. Machado e Aragão (1996) apontaram as dificuldades dos estudantes nas apropriações do aspecto dinâmico do equilíbrio químico, do significado da constante de equilíbrio e da diferença entre o fenômeno e as suas representações. Também nesta linha de investigação, a 49 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 49 09/02/2012, 09:51 Computadores em educação química:.. bibliografia reporta-nos a Quílez-Pardo (1995 e 1998) que explora a persistência dos erros conceituais e das dificuldades manifestas pelos estudantes ao resolverem questões referentes ao conceito de equilíbrio químico e, mais especificamente, à aplicação inadequada do Princípio de Le Chatelier. Segundo Tyson e colaboradores (1999), é evidente que estudantes, professores e livros didáticos, muitas vezes, não compartilham os mesmos significados para as palavras ordinariamente utilizadas na abordagem do equilíbrio químico. Percebemos que apenas usam as palavras sem entender o seu significado. Os significados do termo equilíbrio podem até ser suficientemente discutidos em sala de aula, mas para muitas outras palavras não se costuma dar atenção especial, tais como: sistema fechado, posição de equilíbrio e deslocamento para a direita ou para a esquerda. Por exemplo, é muito comum a utilização de expressões como “o equilíbrio se desloca para a direita (ou para esquerda)”, quando se discute com os alunos o Princípio de Le Chatelier. Tal expressão é utilizada, também, em muitos exercícios propostos nos livros didáticos e pode reforçar a concepção da existência de reagentes e produtos em recipientes separados (MACHADO e ARAGÃO, 1996). Nesse contexto, o conceito de equilíbrio químico tem sido apontado por muitos autores – e também por muitos professores – como problemático para o ensino e a aprendizagem de química (MASKILL e CACHAPUZ, 1989). Ao que parece, tem grande riqueza e potencial para o ensino de química, uma vez que articula muitos outros temas, tais como: reação química, reversibilidade das reações, cinética, entre outros. Em geral, as abordagens encontradas nos livros didáticos, bem como as observadas em salas de aula do ensino médio, tendem a enfatizar aspectos quantitativos (podemos dizer, algébricos, algorítmicos, computacionais ou matemáticos) relacionados ao conceito, em detrimento de uma abordagem qualitativa. Porém, a compreensão acerca do equilíbrio químico é, muitas vezes, dificultada por aplicações acríticas de conceitos e devido à ênfase nos mecanismos e nos algoritmos, principalmente no caso dos cálculos numéricos (PAIVA, GIL e FERRER CORREIA, 2002). Em relação à resolução numérica e ao exercício algoritmo de problemas de equilíbrio químico, por exemplo, Niaz (1995) apresenta evidências de uma investigação que são contrárias às ideias dominantes segundo as quais a habilidade de resolver problemas numéricos (computacionais) leva os estudantes ao conhecimento conceitual, conforme um axioma inquestionável2 para o ensino de química em cursos introdutórios. Por outro lado, na pesquisa, foram encontradas evidências para o fato de que os estudantes que possuem um adequado entendimento conceitual dos princípios subjacentes (por exemplo, que a taxa da reação direta decresce conforme a reação acontece) alcançam desempenhos muito melhores em aspectos relacionados ao equilíbrio químico. Portanto, na maioria das vezes, percebemos que, ao final do estudo desse assunto, muitos alunos são capazes de calcular constantes de equilíbrio através das concentrações de reagentes e de produtos e conseguem prever se o equilíbrio se desloca no sentido de favorecer a formação de reagentes ou de produtos. Mas uma investigação mais detida, que buscasse perceber como compreendem o que ocorre em um sistema no estado de equilíbrio em nível atômico-molecular, provavelmente, revelaria que essa compreensão é superficial, inadequada ou ineficiente. Ou seja, a mera execução mecânica de cálculos, sem o estabelecimento de relação com os aspectos 50 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 50 09/02/2012, 09:51 EICHLER, M. L.; et al. observáveis e mensuráveis, bem como com aqueles aspectos relacionados aos modelos conceituais sobre a constituição das substâncias, dificulta e, em alguns casos, pode impossibilitar a compreensão dos aspectos fundamentais do conhecimento acerca do estado de equilíbrio químico (MACHADO e ARAGÃO, 1996). Uma pesquisa sobre modelos de ensino de equilíbrio químico presentes em livros didáticos de química, para o nível médio, permitiu perceber que, algumas vezes, os modelos de ensino são usados de maneira inadequada pelos autores de livros didáticos (MILAGRES e JUSTI, 2001). Por exemplo, a maioria dos desenhos somente descreve ou ilustra algum sistema, não fundamentando nenhuma discussão em relação aos conceitos científicos. Além disso, alguns desenhos estão colocados na lateral das páginas, o que pode não chamar a atenção dos alunos. Outro ponto que merece ser destacado é a ausência de modelos de ensino capazes de lidar com a dinâmica do estado de equilíbrio. Em momento algum se evidencia a apresentação da noção de equilíbrio dinâmico. O uso do modelo molecular de bolas também é um elemento que deve ser enfatizado. Modelos moleculares desse tipo podem ser ótimos paradigmas de ensino, pois permitem que os alunos “vejam” os átomos. Todavia, a utilização dos mesmos nos livros dá-se por meio de representações bidimensionais, que nem sempre são facilmente “visualizadas” tridimensionalmente pelos alunos. Essa é, sem dúvida, uma limitação dos materiais impressos. Através da análise realizada pelos autores na pesquisa e das suas conclusões, destacamos a importância de o professor que, ao trabalhar com qualquer material instrucional, ou ao elaborar seus próprios modelos de ensino, considere o potencial oferecido pelos modelos de ensino para, simultaneamente, relevar as ideias prévias dos alunos e de contribuir para a aprendizagem de conceitos químicos de forma mais coerente com os modelos consensuais. Algumas propostas didáticas têm sido apresentadas para superar as dificuldades dos estudantes em compreender o assunto equilíbrio químico. Raviolo (2006) considera necessário recorrer a múltiplos recursos de ensino, desde o conhecimento das concepções alternativas dos estudantes, incorporando os seus resultados, em metodologias propostas pela didática das ciências, como: a) estabelecer claramente correspondências entre os três níveis de explicação da química (submicroscópico, simbólico e macroscópico), associando-as à utilização de recursos gráficos; b) uso de programas computacionais de simulação, os quais possibilitam, de forma simultânea e sincronizada, ver vídeo do experimento real (macroscópico), animações em nível molecular do experimento (submicroscópico), equações químicas (simbólico) e gráficos de propriedades macroscópicos (gráficos); c) desenvolver experimentos em laboratório de química que contenha riqueza conceitual e que incorporem representações simbólicas, gráficas e submicroscópicas relativas a características do estado de equilíbrio químico, a incompleta conversão de reagentes, a coexistência de todas as espécies no estado de equilíbrio, e seu dinamismo. 4 – O uso de computadores no ensino de equlíbrio químico Há muitos anos que se declara que o computador pode ser um importante recurso para promover a passagem da informação ao usuário ou facilitar o processo de construção de 51 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 51 09/02/2012, 09:51 Computadores em educação química:.. conhecimento (VALENTE, 2000). Entretanto, a potencialidade dos computadores na educação depende das relações que se estabelecem entre o usuário e a máquina, envolvendo a relação dos estudantes e dos professores com o software. Através da análise dos diferentes tipos de softwares – tutoriais, exercício e prática, modelagem e simulação, jogos, entre outros – é possível compreender que a aprendizagem não está restrita às suas características, mas sim à interação do aluno com o material didático computacional (software educativo ou objeto de aprendizagem), com o professor ou com os outros alunos. Nesse sentido, alguns softwares apresentam características que favorecem a compreensão, como no caso das simulações; outros, nos quais certas características não estão presentes, requerem um maior envolvimento do professor, criando situações para complementá-lo de modo a favorecer a compreensão, como no caso dos tutoriais. Vejamos, através de alguns artigos, como é justificada a alternativa da utilização de programas de computador para a abordagem do equilíbrio químico. Segundo Cullen Jr. (1989), de todos os tópicos de um curso introdutório de química, as áreas de equilíbrio e de cinética são algumas das mais difíceis de projetar experimentos laboratoriais quantitativos significativos. Nesses casos, dados quantitativos apurados, demandam o uso de instrumentos como pehagâmetros e espectrofotômetros. O custo desse tipo de instrumento em número suficiente para uma classe inteira está além dos orçamentos da maioria das escolas e de pequenas faculdades. Portanto, as simulações computacionais de reações químicas são uma alternativa aos atuais experimentos de laboratório. Ademais, ao indicarem as vantagens da utilização dos computadores no ensino de equilíbrio químico, Hameed e colaboradores (1993) sugerem que os microcomputadores têm ao menos duas vantagens que os tornam valorosos para o ensino. Primeiro, podem prover instrução individualizada. Isso pode ser vantajoso ao permitir que os estudantes aprendam em seu próprio ritmo e, com isso, tenham uma avaliação individualizada. Segundo, podem simular efetivamente muitos fenômenos científicos. Por exemplo, eventos inobserváveis, como o comportamento molecular, podem ser representados visualmente, tornando-os acessíveis aos estudantes. Porém, diferentes softwares e materiais didáticos são descritos como simulações. Quílez-Pardo e Castelló-Hernández (1996) sugerem o ensino de equilíbrio químico, utilizando simulações em planilhas eletrônicas. Inicialmente, indicam que a confecção e o uso de programas de computador específicos podem servir para melhorar, de forma substancial, certos aspectos dos processos de ensino e de aprendizagem, superando os materiais didáticos impressos, permitindo, além disso, que as aulas tenham um maior componente criativo, possibilitando, com isso, que o trabalho do professor seja mais efetivo. Então, indicam o uso de um programa chamado EQUIL, do qual são autores, que utilizava rotinas da planilha de dados Excel 5.0. O programa consiste na simulação da síntese do amoníaco, sendo possível realizar a variação da quantidade de substância, da molaridade e da fração molar, sendo, dessa forma, modificados os resultados e os gráficos do equilíbrio. Por sua vez, Cullen Jr. (1989), apresenta um programa que ele chama de The Great Chemical Bead Game, que classifica de simulação. Através desse jogo de contas de vidro, que é utilizado como analogia, o autor entende que “o conceito de um equilíbrio dinâmico produzindo concentrações estáticas é, então, demonstrado” (CULLEN Jr., 1989, p. 1023). 52 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 52 09/02/2012, 09:51 EICHLER, M. L.; et al. Livros mais recentes de química geral (ATKINS e JONES, 2001; CHANG, 2007) utilizam animações ou figuras que mostram a evolução de uma reação através da composição, do desaparecimento e do surgimento de esferas de diferentes cores, representando as substâncias reagentes e os produtos no sistema reacional. É esse elemento ilustrativo que Cullen Jr. (1989) quer ressaltar com o jogo digital, mas analógico, das contas de vidro. Posteriormente, utilizando, ao invés das contas de vidro, os jogos de carta, Huddle, White e Rogers (2000), também, adaptaram jogos para o computador, tornando-se parte de um programa CAI. Segundo os autores, de diversos modos, as simulações mimetizam os eventos submicroscópicos que produzem e, então, mantém o equilíbrio dinâmico. Os gráficos desenhados ao final dos experimentos simulados são similares aos gráficos de concentração versus tempo, obtidos em reações reais em laboratório. Além disso, as simulações podem ser expandidas para incorporar aspectos do princípio de Le Chatelier e demonstrar a constância da constante de equilíbrio em temperaturas constantes (um aspecto do equilíbrio químico ao qual os estudantes, em geral, têm dificuldade de se apropriar). Contudo, a questão da analogia é controversa. Conforme os próprios autores, o tópico equilíbrio químico, devido a sua dificuldade conceitual para a compreensão dos estudantes, é frequentemente abordado por meio de analogias, que, muitas vezes, são citadas nos livros-texto. Mas, advertem que as analogias podem levar a concepções alternativas ou a reforçá-las. Por outro lado, conforme Santos, Greca e Serrano (2003), no ensino de química, é importante desenvolver o pensamento químico do estudante. Ou seja, deve-se entender o mundo material em termos de átomos e de suas moléculas, dos seus arranjos e de seus movimentos, permitindo, assim, ao aluno relacionar esse mundo submicroscópico aos fenômenos observáveis. É nesse sentido representacional que as simulações tornam-se frutíferas para a educação em ciências. Segundo Giordan (2005), a convergência dos meios de representação no ambiente de janelas também é particularmente atrativa para a educação em ciências, especialmente quando consideramos a transposição do fenômeno do meio natural para o computador. São basicamente três as formas de sua transposição: a reprodução em tela do fenômeno filmado, a animação obtida pela sequência de ilustrações e a simulação por meio da combinação de um conjunto de variáveis capazes de reproduzir as leis que o interpretam. Entre essas formas de transposição representacional, as simulações são as mais interativas. De acordo com Santos e colaboradores (2003), as simulações computacionais permitem explorar as potencialidades de um modelo que é utilizado para explicar um determinado fenômeno. Elas servem para entender as propriedades físicas quando não é possível resolver, analiticamente, um problema por sua complexidade, proporcionam um controle muito grande sobre o sistema, o que não se consegue em situações experimentais. Além disso, permitem explorar situações imaginárias. Por isso, defendemos que a utilização de tecnologias educacionais, em particular, os softwares de simulação, proporciona aos estudantes a oportunidade de manipular variáveis e, através disso, encontrarem relações entre os conceitos (ORLANDI, CAMARGO e ANDRADE NETO, 2006). No que diz respeito ao equilíbrio químico, existem softwares que simulam reações, as quais podem ser selecionadas e manipuladas, como será abordado na 53 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 53 09/02/2012, 09:51 Computadores em educação química:.. próxima secção. Essas reações, quando simuladas, apresentam a construção dos gráficos (nível simbólico) e a representação microscópica de átomos e de moléculas ocorrendo simultaneamente, desde o estado inicial da reação até atingir o equilíbrio químico da reação. Nesse sentido, os programas de computador podem utilizar modernas tecnologias para fazer a sala de aula mais interativa, estimulante e útil para assistir ao estudante na construção de modelos mentais adequados aos conceitos e aos fenômenos químicos. Russell e Kozma (2005) sugerem seguir na perspectiva da competência representacional, que envolve a aquisição de habilidades de visualização química. Entre elas, citam a interpretação e a utilização de símbolos químicos, de equações químicas, de vários tipos de diagramas estruturais, com diversos formatos gráficos (incluindo os gráficos espectrais), e de animações de nanoescala como apropriadas para a solução de problemas e de tarefas na investigação e na compreensão de fenômenos e de conceitos químicos. Por exemplo, os programas 4M:CHEM, desenhado por Russell e cols. (1997), e sua expansão SMV:Chem (RUSSELL e KOZMA, 2005) utilizam uma tela de computador dividida em quatro janelas, as quais mostram, simultaneamente, vídeos de experimentos reais, de animações em nível molecular desses experimentos, de representações simbólicas das reações químicas e de gráficos ou de diagramas das propriedades macroscópicas dos experimentos, conforme a Fig. 2. As quatro janelas podem ser vistas individualmente ou em combinação. Quando todas são acionadas, a ação em cada uma delas é sincronizada. A observação sincronizada do fenômeno químico pode ser pausada ou reiniciada de forma a auxiliar a discussão sobre as conexões entre as representações simbólica, microscópica e macroscópica. As tecnologias utilizadas por Russell e cols. (1997) foram HyperCard e C++ para a programação e Macromedia Director para a elaboração das animações e dos gráficos. Figura 2: Tela com as múltiplas representações do SVM:Chem De acordo com Russel e Kozma (2005), as representações múltiplas e coordenadas podem auxiliar aos estudantes a elaborar modelos mentais mais sofisticados do fenômeno químico. Elas podem ajudar os estudantes, enfim, a traduzir as informações apresentadas em uma representação simbólica em outros tipos de representação que permita a compreensão do fenômeno estudado. 54 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 54 09/02/2012, 09:52 EICHLER, M. L.; et al. 5 – O softaware de simulação Le Chat e o objeto de aprendizagem Equil Nesta secção, relacionamos as ideias demonstradas, anteriormente, na apresentação de dois materiais didáticos computacionais em língua portuguesa. Objetivamos indicar, principalmente, a apropriação que os desenvolvedores fizeram dos enunciados desenvolvidos no âmbito da didática das ciências e da educação química. Primeiramente, apresentamos o programa livre Le Chat II – Simulações em Equilíbrio Químico1 – , que consiste, basicamente, em uma ilustração no computador, de forma gráfica, do fenômeno de equilíbrio químico. Na Fig. 3, vemos uma imagem do que é apresentado na simulação. De acordo com os autores (PAIVA, GIL e FERRER CORREIA, 2003), o software possibilita a visualização das alterações produzidas em sistemas químicos gasosos por alterações de concentrações de reagentes ou de produtos, de temperatura do sistema ou de pressão (volume), as quais o sistema está sujeito, em conformidade com o Princípio de Le Chatelier. Figura 3: Tela do software de simulação Le Chat II. No software, a simulação envolve o diagrama de concentração ou de pressão parcial versus tempo para um sistema químico específico em certas condições iniciais. O valor de energia livre é indicado, durante a simulação, e os estudantes podem observar suas mudanças até alcançar o valor zero (no equilíbrio). Também são indicados os valores para entalpia padrão (Ho) e para entropia padrão (So) das reações. Em um artigo sobre a utilização desse software em realidade escolar, Morais e Paiva (2006) listam catorze objetivos a serem trabalhados na abordagem do tema equilíbrio químico através da utilização de simulações computacionais. Tais objetivos vão desde a associação do estado de equilíbrio dinâmico ao estado de equilíbrio de um sistema, em que a rapidez de variação de uma dada propriedade em um sentido é igual à rapidez de variação da mesma propriedade 55 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 55 09/02/2012, 09:52 Computadores em educação química:... no sentido inverso, até ao reconhecimento do papel desempenhado pelo catalisador, que é o de aumentar a rapidez das reações direta e inversa, para se atingir mais rapidamente o estado de equilíbrio (aumento da eficiência), não havendo, no entanto, influência na quantidade de produto obtido. Além da simulação, o programa possui um editor de roteiros de utilização, que permite aos professores editarem os seus próprios roteiros sem a necessidade de dominar qualquer técnica de programação. De acordo com Morais e Paiva (2006), os roteiros de exploração são um importante material de apoio à exploração das potencialidades de softwares educativos. Perante uma multiplicidade de opções possíveis, é fundamental fornecermos ao aluno pistas e indicações para que o caminho percorrido, embora personalizado e construído por ele próprio, gere aprendizagens significativas. Porém, entendem que é da responsabilidade do professor a forma como os alunos exploram os programas educativos, apresentados no computador. É neste contexto que os roteiros de exploração podem revelar-se um instrumento muito valioso, senão mesmo indispensável, pois podem ser entendidos como uma ferramenta que enriquece a aplicação pedagógica das tecnologias de informação e de comunicação junto aos alunos. Do ponto de vista da interação, os roteiros de exploração têm como principal objetivo estreitar a relação entre as funções do software educativo e os objetivos de aprendizagem pretendidos pelo professor. Dessa forma, sugerimos que sejam meios para fomentar no aluno o gosto pela pesquisa, pela reflexão, pela participação ativa na construção do conhecimento e, acima de tudo, pelo ato de aprender (MORAIS e PAIVA, 2006). Uma avaliação realizada em ambiente escolar com softwares educativos sobre equilíbrio químico indicou que o programa computacional Le Chat apresenta uma abordagem que articula o nível de representação simbólico ao nível submicroscópico simultaneamente, porém não há, no programa, nenhuma abordagem para a representação macroscópica (ORLANDI, CAMARGO e ANDRADE NETO, 2006). Assim, sugerimos que para esse nível seja trabalhado com outro programa, ou em alguma aula prática ou experimental. Recentemente, surgiu um novo conceito para os materiais didáticos computacionais, ao invés da produção de softwares educativos, que seriam programas executáveis e dependentes de plataforma (tais como Windows ou Linux), indicamos o desenvolvimento de objetos de aprendizagem executáveis on-line, nas próprias páginas da internet, requerem apenas os plug-ins instalados no navegador Conforme Churchill (2007), todos os tipos de objetos de aprendizagem parecem ter duas características em comum: a) eles são digitais, utilizando diferentes modalidades de mídia (e, algumas vezes, são interativos) para apresentar dados, informações, ideias ou conceitos; b) eles são produzidos para suportar o uso e a reutilização educacional. Então, o autor propõe uma definição para os objetos de aprendizagem, sendo assim, seriam uma representação projetada para proporcionar sua utilização em diferentes contextos educativos (CHURCHILL, 2007, p. 480). É o contexto educacional que indica como os objetos de aprendizagem serão utilizados, em uma variedade de circunstâncias esperadas ou imprevistas pelos seus projetistas. Como exemplos, ele citada as possíveis utilizações como: a) demonstração ou apresentação por parte do professor; b) iniciação de discussões em sala de aula ou on-line; c) componente de instrução direta por Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 56 56 09/02/2012, 09:52 EICHLER, M. L.; et al. educação à distância; ou d) instrumento de mediação em atividades de resolução de problemas ou como assunto de uma investigação. Além disso, os estudantes podem usar os objetos de aprendizagem em estudos independentes ou como tarefa de um componente curricular. Uma vez que os objetos de aprendizagem são projetados para suprir sua utilização em contextos educacionais, Churchill (2007) propõe uma classificação para os objetos de aprendizagem que contemplaria: 1) objetos de apresentação; 2) objetos de prática; 3) objetos de simulação; 4) objetos de modelos conceituais; 5) objetos de informação e 6) objetos de representação conceitual. Não é o propósito deste artigo fazer a identificação, análise e classificação de objetos de aprendizagem, portanto, não serão explorados os diferentes tipos de materiais didáticos computacionais. Mas é preciso fazer uma diferenciação entre um objeto de simulação e um objeto de modelo conceitual. Objetos de simulação representam algum sistema ou processo real, por exemplo, a simulação de um microscópio ou de um multímetro. A simulação permite que o aluno explore, normalmente, através da tentativa e do erro, os aspectos operacionais do sistema, executando alguma tarefa que o sistema suporte, possibilitando o desenvolvido de um modelo mental das funcionalidades do sistema. Esse tipo de programa de computador tem utilidade efetiva na aprendizagem quando um sistema real precisa ser muito bem conhecido para ser operado (por exemplo, os simuladores de voo), ou quando o sistema real é caro, não está disponível, ou a aprendizagem de sua operação é onerosa ou perigosa. Por outro lado, um modelo conceitual é um tipo de objeto de aprendizagem que representa uma ou mais ideias ou conceitos relacionados, normalmente, de forma interativa e visual. Com base em recentes estudos, envolvendo as representações tecnológicas, sugerimos que as múltiplas representações facilitam a aprendizagem, uma vez que em, diferentes modalidades (isto é, texto, animações, diagramas, gráficos, notações algébricas, fórmulas, tabelas, vídeos etc.) são codificadas e organizadas em diferentes modelos mentais, que, quando mentalmente conectados, produzem uma compreensão mais profunda do assunto em estudo. Assim, a interatividade e a multimodalidade permitem a criação de objetos de modelos conceituais que potencializam a representação de ideias e de conhecimentos e não apenas a demonstração ou a simulação de um procedimento. O segundo material didático apresentado neste artigo é um objeto de aprendizagem de modelo conceitual chamado Equil1, que apresenta, durante toda a evolução da reação em estudo – a formação do gás iodeto de hidrogênio, por meio do gás dos seus elementos constituintes, H2(g) + I2(g) ”! 2 HI (g) –, a articulação de três níveis de representação de um fenômeno químico: macroscópico, submicroscópico e simbólico. Além da apresentação do objeto de aprendizagem, almejamos indicar os caminhos da apropriação de pressupostos da didática das ciências e da educação química durante o desenvolvimento do material didático. Entendemos que mostrar as possibilidades e as dificuldades da produção de objetos de aprendizagem pode ser útil para a reprodução de experiências de sucesso, como é o caso. Ci. Ci.Huma. Huma.eeSoc. Soc.em emRev. Rev.Seropédica Seropédicav.v.32 32n.1 n.1Janeiro/Junho Janeiro/Junho45-64 45-64 2010 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 57 57 09/02/2012, 09:52 Computadores em educação química:.. Perry e Andrade Neto (2005b) indicam que a trajetória de produção do Equil começou no início de 2004, quando principiou a codificação do objeto de aprendizagem. Sua construção foi uma resposta do Laboratório de Tecnologia em Ensino de Ciências e Matemáticas, ligado ao programa de pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Luterana do Brasil – Canoas – a uma demanda ligada às necessidades relatadas pelos professores e estudantes de química, em relação ao ensino de equilíbrio químico. Na ocasião, perceberam as seguintes características das concepções dos alunos: animismo, superestimação do tamanho das moléculas e crença que moléculas da mesma substância podem variar consideravelmente de tamanho, de forma e de peso em diferentes estados físico. Por esta razão, inicialmente, o objeto de aprendizagem foi construído ressaltando apenas o nível representacional submicroscópico de representação, através da visualização das colisões moleculares (PERRY, ANDRADE NETO e AMARAL, 2004). Acreditavam, à época, que seria suficiente para auxiliar o estudante a compreender certos aspectos do equilíbrio químico (PERRY e ANDRADE NETO, 2005a). Por esse motivo, na referida versão, o nível macroscópico estava pouco aparente, ao passo que o nível simbólico praticamente inexistia. Posteriormente, o objeto de aprendizagem fez parte de uma investigação sobre a elaboração conceitual em ambientes de simulação de equilíbrio químico (ORLANDI et al, 2006). O experimento em si buscou comparar o Equil com o Le Chat, avaliando uma turma de 104 estudantes dividida em dois grupos: Le Chat, com 46 e Equil, com 58. De acordo com Perry e Andrade Neto (2005a), os resultados do grupo que utilizou o Equil foram bastante modestos, em relação aos do grupo que usou o Le Chat. Aqueles que utilizaram esse software mostraram melhores evoluções, para as variáveis em estudo, do que aqueles que fizeram o uso do Equil, ao passo que os estudantes que utilizaram o Equil apresentaram bom desempenho apenas para as variáveis que lidavam com representações do nível submicroscópico. Portanto, os experimentos evidenciaram que o desempenho do software bastante conhecido, Le Chat, que explora o nível simbólico, era indiscutivelmente superior ao Equil, cujo conceito de design que focava, à época, o nível submicroscópico (PERRY e ANDRADE NETO, 2005b). Tais conclusões motivaram o início de um segundo ciclo de construção do objeto de aprendizagem Equil, desta vez, com a intenção de articular todos os três níveis de representação de um fenômeno químico (PERRY e ANDRADE NETO, 2005a). Além disso, a nova proposta de interface foi submetida à avaliação, através de entrevistas abertas, de professores com larga experiência no ensino de química. Na entrevista, uma pergunta foi feita: “que ferramentas o senhor (a) consideraria úteis em um software para ensino de equilíbrio químico?” A contribuição mais significativa foi a inserção de uma simulação da evolução da rapidez da reação através do comprimento das setas na equação química. É durante essa etapa de desenvolvimento do objeto de aprendizagem, que os autores apropriam-se de um importante postulado da educação química, como se depreende das seguintes declarações: Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 58 58 09/02/2012, 09:52 EICHLER, M. L.; et al. [...] Kozma e Russell, por sua vez, afirmam que o projeto de ambientes multimídia para ensino de Química deve promover a articulação de múltiplas formas de representação, pois isto auxiliaria os novatos adquirirem a habilidade de traduzir entre diferentes formas de representação (animações, modelos, fórmulas, gráficos etc). Esta é uma habilidade apresentada por especialistas (PERRY e ANDRADE NETO, 2005a, p. 3). e: [De acordo com] Kozma e Russell [...] reformulou-se a hipótese de design para trabalhar - dentro do âmbito do software, não apenas em sala de aula - os três níveis de forma articulada, sem sobressair especificamente determinado nível (PERRY e ANDRADE NETO, 2005b, p. 5). O resultado da segunda etapa de desenvolvimento resultou no objeto de aprendizagem que foi premiado no Concurso RIVED de Produção de Objetos de Aprendizagem no ano de 2006. O objeto de aprendizagem é dividido em duas telas. Na primeira, há quatro objetos de interação, que permitem configurar a temperatura do sistema e a concentração molar inicial dos reagentes (H2 e I2) e do produto (HI). Na segunda tela, como demonstra a Fig. 4, consta a simulação em nível submicroscópico, os gráficos de rapidez de reação e de concentração de reagentes e de produtos, bem como um balão que muda de cor2 de acordo com o estágio em que se encontra a reação. Todos os elementos da interface estão articulados, ou seja, a interferência em qualquer um deles modifica os demais. Além disso, no canto inferior direito, consta um quadro para a modificação do estado de equilíbrio, em que os parâmetros concentração, pressão e temperatura podem ser alterados, produzindo, assim, um novo estado equilíbrio, que será estabelecido segundo o princípio de Le Chatelier. Figura 4: Tela do objeto de aprendizagem de modelo conceitual Equil. 59 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 59 09/02/2012, 09:52 Computadores em educação química:.. 6 – Conclusão As ideias dos alunos em relação ao conceito de equilíbrio químico, discutidas neste artigo, evidenciam uma deficiência na compreensão de aspectos importantes desse conceito, como, por exemplo, o aspecto dinâmico do equilíbrio químico, o significado da constante de equilíbrio e da diferença entre os fenômenos e as suas representações. Isto parece ter origem na forma como é abordado nas aulas de química e nos livros didáticos, uma vez que há pouca ênfase em aspectos conceituais e qualitativos. Parece-nos não ser suficiente abordá-lo através de sua definição e da realização de exercícios quantitativos. Para superar os problemas com a aprendizagem dos conceitos relacionados ao equilíbrio químico, Machado e Aragão (1996), por exemplo, sugerem diminuir o realce no quadro negro ou na lousa, na palavra onipotente do professor e no profundo domínio do livro didático. Sugere-se, então, focalizar o fenômeno. Ou seja, trazer o fenômeno para o centro de nossa sala de aula, observá-lo. Conforme essa orientação é fundamental discutir com os alunos as relações entre o fenômeno, os modelos atômico-moleculares e as representações. É nesse sentido que os recursos digitais, através de softwares de simulação ou de objetos de aprendizagem de modelo conceitual, podem ser úteis. Segundo Nascimento (2007), a promessa dos recursos educacionais digitais na forma de simulações e de atividades interativas é a de que a aprendizagem torne-se mais efetiva e mais profunda que a obtida pelos meios tradicionais. O alcance disso requer que os materiais produzidos atendam simultaneamente múltiplos aspectos: identificação dos objetivos de aprendizagem, atenção à natureza do conteúdo a ser explorado, a seleção de um contexto relevante e motivador para o aluno, a interatividade, as formas de suporte e o feedback para o aluno ao longo da atividade e a aplicação dos princípios que ajudam o processo de aprendizagem. Entretanto, a quantidade de materiais didáticos computacionais disponíveis para o ensino e para a aprendizagem de química não é grande e, muitas vezes, o pouco que existe não é suficientemente disseminado. Por isso, o relato e a reflexão sobre as experiências de produção desse tipo de material são relevantes como exemplo para novas ações. De acordo com Perry e Andrade Neto (2005a), as escolhas de design, que determinam a aparência de uma interface, têm impacto significativos na qualidade do software educativo. Para que tais decisões obtenham sucesso, devem estar apoiadas em um projeto educacional eficiente em sua tarefa de apontar o conjunto de requisitos principais. No caso da química, o projeto educacional deve ser pautado na necessidade de incluir as várias formas de representação capazes de permitir a visualização das propriedades atômico-moleculares dos sistemas químicos. Por fim, é preciso registrar que, neste artigo, trouxemos exemplos de exceção para um assunto em química. Pois, conforme o relato de Nascimento (2007), autores e equipes de produção de conteúdos digitais, muitas vezes, deixam-se influenciar mais pelo potencial lúdico do que pelo potencial de aprendizagem de seus produtos, resultando em atividades que entretêm o aluno, mas com as quais não aprende. Outras vezes, criam situações monótonas e não aproveitam o potencial de programação do computador para obter níveis altos de interatividade, de visualização e de manipulação. Nesse sentido, defendemos a necessária formação de uma Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 60 60 09/02/2012, 09:52 EICHLER, M. L.; et al. equipe multidisciplinar na qual alunos e professores especialistas em áreas de conhecimentos trabalhem colaborativamente com pedagogos, professores de informática, programadores e web designers. Assim, ao compor um objeto de aprendizagem, é muito importante que as equipes reconheçam a importância de combinar conhecimentos na área específica de um conteúdo disciplinar com conhecimentos sobre princípios do processo de aprendizagem. Quanto mais se conhece sobre o processo de aprendizagem, mais convincentes as simulações e atividades interativas tornam-se como instrumentos ideais para facilitar a aprendizagem. Como quisemos demonstrar, neste artigo, através dos casos do software de simulação Le Chat e do objeto de aprendizagem Equil. Referências ATKINS, P.W.; JONES, L. Princípios de Química. 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Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 63 09/02/2012, 09:52 Computadores em educação química:.. TABER, K.S. Building the structural concepts of chemistry: Some considerations from educational research. Chemistry Education: Research and Practice. Vol. 2, nº 2, pp. 123-158, [s.m.]. 2001 TYSON, L.; TREAGUST, D.F.; BUCAT, R.B. The complexivty of teaching and learning chemical equilibrium. Journal of Chemical Education. Vol. 76, nº4, pp. 554-558, [s.m.]. 1999. URHAHNE, D.; NICK, S.; SCHANZE, S. The effect of three-dimensional simulations on the understanding of chemical structures and their properties. Research in Studies Education. Vol. 39, pp. 495-513, [s.m.]. 2009. VALENTE, J.A. O computador na sociedade do conhecimento. Brasília: MEC/SEED, 2000. ZAJICEK, O.T. A computer program for use in teaching chemical equilibrium. Journal of Chemical Education. Vol. 42, nº 11, pp.622-624, [s.m.]. 1965. (footnootes) 1 A família de linguagens de programação conhecida, globalmente, como Fortran foi desenvolvida a partir da década de 50 do século XX e continua a ser usada atualmente. O nome é um acrônimo recursivo da expressão IBM Mathematical FORmula TRANslation System. A linguagem Fortran é principalmente usada em Ciência da Computação e em Análise Numérica. Apesar de ter sido, inicialmente, uma linguagem de programação procedural, versões recentes de Fortran possuem características que permitem suportar programação orientada por objetos (Wikipédia). 2 A ideia da variação da taxa de reação por tempo (tax rate, em inglês), na maioria das vezes, é descrita, nos livros didáticos, pela velocidade de reação. Neste artigo, com enfoque didático, queremos indicar que tal termo é inapropriado para o que ele indica. Sabemos que a velocidade é uma grandeza vetorial, que relaciona a distância de um percurso por unidade de tempo. Por outro lado, o que é mensurado em relação à cinética é uma grandeza escalar, a variação das concentrações parciais das substâncias químicas, por exemplo, em um sistema por unidade de tempo. Uma vez que uma reação química pode ser mais rápida ou mais lenta, entendemos que o termo mais apropriado é rapidez de reação. 3 Na época, Niaz (1995) chega a sustentar que esse axioma sobre o ensino de química era inquestionável (ou sem exageros, dominante), nos últimos 30 anos. Segundo a abordagem didática de diversos professores de muitas de nossas instituições de ensino, parece que ele ainda não foi descartado, apesar dos esforços da comunidade dos educadores em ciências e das inúmeras publicações, cujos argumentos evidenciam que tal ideia não é um verdadeiro axioma, mas apenas uma opinião, ainda que poderosa. 4 O programa pode ser baixado, bem como são apresentadas mais informações sobre a sua utilização. Disponível em : <www.mocho.pt/search/local.php?info=local/software/quimica/lechat2.info>. Acesso em 20 dezembro de 2009. 5 O objeto de aprendizagem e outras informações sobre o programa podem ser encontrados em: www.gabriela.trindade.nom.br. 6 Isso por que um dos reagentes, o gás iodo, é violáceo, e os outros componentes do sistema são incolores, assim, na medida em que o reagente iodo é consumido, a cor é esvaecida. Submetido em 2010 Aprovado em 2010 Ci. Huma. e Soc. em Rev. Seropédica v. 32 n.1 Janeiro/Junho 45-64 2010 3-COMPUTADORES...35-54.pmd 64 64 09/02/2012, 09:52