Criação, Avaliações e Alterações do Emotion-LIBRAS: Um
Instrumento de Avaliação da Qualidade Emocional de
Pessoas Surdas Brasileiras
Soraia Silva Prietch1, Luiz Antonio Gonzaga de Oliveira1,
Lucia Vilela Leite Filgueiras2
1
Licenciatura em Informática/ Sistemas de Informação
- Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)/ Campus de Rondonópolis Rodovia Rondonópolis-Guiratinga, KM 06 (MT 270), Bairro Sagrada Família
78.735-901 – Rondonópolis, MT – Brasil
2
Engenharia Elétrica/ Sistemas Digitais, Escola Politécnica
- Universidade de São Paulo (USP) Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, n. 158 - 05.508-970 - São Paulo, SP - Brasil
[email protected], [email protected], [email protected]
Abstract. Emotion-LIBRAS was created with base on studies regarding
methods for people’s emotional quality evaluation when they use products
(computational or not), example of studied methods: SAM, PrEmo, Kansei
Sheet, among others. This instrument was designed by the need to meet the
demand for language accessibility of people who are deaf in Brazil, named as
LIBRAS (Brazilian Sign Language). The context of interest for the application
of Emotion-LIBRAS was User Experience (UX) area, in which it is considered
important to identify user's emotions while they use resources mediated by
technology. However, it is believed that it can be used in different contexts,
and can be adapted to various situations as suggested at the end of this paper.
Resumo. O Emotion-LIBRAS foi um instrumento criado com base em estudos
a respeito de métodos de avaliação da qualidade emocional de pessoas ao
conhecerem ou utilizarem produtos (computacionais ou não) como, por
exemplo, SAM, PrEmo, Kansei Sheet, dentre outros. Este instrumento foi
projetado devido à necessidade de atender a demanda de acessibilidade de
língua materna das pessoas surdas brasileiras, que é a LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais). O contexto de interesse de aplicação do EmotionLIBRAS foi para a área de Experiência do Usuário (UX), na qual se
considera importante identificar as emoções do usuário enquanto o mesmo
utiliza algum recurso mediado por tecnologia. Contudo, acredita-se que o
mesmo possa ser utilizado em diferentes contextos, bem como pode ser
adaptado para diversas situações conforme sugerido ao final deste artigo.
1. Introdução
Métodos de avaliação da qualidade emocional são encontrados, em sua maioria, na área
de Psicologia. Desta forma, os instrumentos mais conhecidos e utilizados como base
nesta pesquisa são provenientes desta área. Uma vasta pesquisa foi realizada com o
intuito de descobrir os diferentes instrumentos existentes que poderiam ser utilizados
em contextos de pesquisa da área de Experiência do Usuário (UX, User eXperience)
cujo público-alvo fossem pessoas surdas. Um resumo dos resultados dessa revisão de
literatura a respeito dos métodos se encontra na Seção 2 deste artigo.
Uma breve contextualização do uso de critérios emocionais em avaliações da
UX no que se refere a sistemas computacionais (desktop, mobile, website, tangíveis,
dentre outros) também merece ser destacada a fim de evidenciar a importância das
emoções no processo de escolha ou de adoção de tecnologias pelos usuários, sendo que
isso é realizado na Seção 3.
Questões relacionadas às características das pessoas surdas brasileiras são
descritas, em linhas gerais, na Seção 4, com o propósito de justificar a decisão de
criação de um novo instrumento de avaliação da qualidade emocional. É possível
adiantar que a LIBRAS foi o aspecto principal, visto que em pesquisas de campo
realizadas em Rondonópolis, Mato Grosso: o Grupo 1, de pessoas surdas que auxiliaram
no processo de construção do instrumento, e o Grupo 2, de pessoas surdas que
utilizaram e avaliaram o instrumento, informaram a LIBRAS como sendo sua língua
materna (L11) e a língua Portuguesa Brasileira (oral e escrita) como L2.
O contexto de interesse de aplicação do Emotion-LIBRAS teve como foco a
área de Experiência do Usuário (UX), na qual se considera importante identificar as
emoções do usuário enquanto o mesmo utiliza algum recurso mediado por tecnologia.
Contudo, acredita-se que o instrumento possa ser utilizado em diferentes contextos, bem
como pode ser adaptado para diversas situações conforme sugerido ao final deste artigo.
Tendo como fundamentação os conhecimentos obtidos na teoria e em campo, o
objetivo principal deste trabalho é apresentar as etapas de criação, de avaliações e de
alterações do Emotion-LIBRAS, as quais se encontram detalhadas na Seção 5.
Conforme a norma ISO/IEC 25010 (2011), o contexto de uso é um dos critérios
importantes quando se avalia a qualidade em uso de algum produto ou sistema
computacional, portanto, este deve ser considerado durante todo o ciclo de
desenvolvimento. No caso da pesquisa referente ao Emotion-LIBRAS, o contexto de
uso de tecnologia, que se tem interesse, são os ambientes educacionais. Neste sentido,
como trabalhos futuros, se pretende avaliar o uso de tecnologias assistivas por
estudantes surdos do ensino médio em salas de aula de escolas inclusivas. Um dos
critérios de avaliação são as emoções, por este motivo, o Emotion-LIBRAS vem sendo
modificado para que possa ser utilizado no momento e contexto adequados.
Por fim, na Seção 6, as considerações finais são relatadas.
2. Métodos de Avaliação da Qualidade Emocional
Os trabalhos que mais tiveram influência na elaboração do Emotion-LIBRAS foram os
seguintes: (a) Self-Assessment Manikin (SAM) de Bradley e Lang (1994); (b) PrEmo
de Desmet (2003); (c) Kansei Sheet de Elokla, Hirai e Morita (2010); (d) Circumplex
Model of Affect de Russell (1980); (e) Geneva Affect Label Coder (GALC) e Geneva
Emotion Wheel (GEW) de Scherer (2005); e, (f) Facial Action Coding System (FACS)
1
De acordo com Quadros (1997, p. 15), “Considerando a educação de surdos no Brasil, a aquisição de
L1 [primeira língua] deveria ser da LIBRAS e de L2 [segunda língua], da língua portuguesa”.
Ekman e Friesen (1978). Na Figura 1, as imagens que representam os quatro primeiros
métodos citados são expostas.
(a)
(b)
(c)
(d)
Figura 1: (a) SAM; (b) PrEmo; (c) Kansei Sheet; e, (d) Circumplex Model of Affect.
Os seis métodos supracitados se referem à categoria de instrumentos de natureza
explícita, através dos quais respostas dos usuários são informadas: (i) de forma verbal
(por texto ou fala) ou não verbal (por imagens, animações ou vídeos), bem como (ii) da
utilização de escalas semelhantes à notação da Escala de Diferencial Semântico
(emoções bipolares são dispostas em lados opostos fornecendo opções de diferentes
níveis de intensidade), exceto pelo FACS.
No trabalho de Alves e Prietch (2013), as autoras efetuaram pesquisa de campo
com pessoas surdas para verificar se três instrumentos já existentes seriam inteligíveis
por elas para identificar suas próprias emoções ao utilizar um software previamente
conhecido pelos participantes, o MSN. Os instrumentos avaliados foram o SAM, o
GEW e a Kansei Sheet. Como resultado chegou-se a conclusão de que alterações de
layout e textuais nos instrumentos originais deveriam ser realizadas para torná-los mais
acessíveis para pessoas surdas e que fossem incluídos sinais da LIBRAS.
3. Experiência do Usuário (UX, User eXperience) e Design Emocional
Van Gorp e Adams (2012) explicam que, ao utilizar sistemas computacionais, se o
usuário vivencia experiências negativas, estas muitas vezes são mais recordadas do que
as experiências positivas, o que pode ocasionar em rejeição ao uso ou a não adoção de
tais sistemas. Entretanto, de acordo com Hassenzahl e Tractinsky (2006, p. 93) “a
prevenção da frustração e da falta de satisfação [do usuário com relação a sistemas
computacionais] sempre foi um dos objetivos principais mesmo para as linhas de estudo
de IHC voltadas para questões cognitivas. O que é novo em pesquisas de UX é o foco
em resultados de emoções positivas, tais como alegria, diversão e orgulho”.
Unger e Chandler (2009, p.6) definem que “para criar experiências
verdadeiramente memoráveis e satisfatórias, um projetista de UX [...] precisa entender
os elementos que são importantes para criar uma conexão emocional com os usuários”.
Norman (2008, p. 25) afirma que o design emocional conta com três aspectos:
visceral, comportamental e reflexivo. “O design visceral diz respeito às aparências. [...]
O design comportamental diz respeito ao prazer e à efetividade no uso. [....] o design
reflexivo considera a racionalização e a intelectualização de um produto”. Esses
mesmos três aspectos também são mencionados por Van Gorp e Adams (2012, p. 2831), sendo que utilizam as respectivas nomenclaturas: cérebro reptiliano (reptilian
brain, processamento instantâneo e inconsciente), cérebro dos mamíferos (mammalian
brain, respostas às interações sociais e geração das emoções), e cérebro dos mamíferos
evoluído (neomammalian brain, processamento racional e consciente). Ao considerar
esses três aspectos do processamento do cérebro humano, torna-se possível planejar
experiências positivas durante a etapa de design de novos produtos, bem como ao
avaliar produtos existentes tem-se a oportunidade de efetuar adequações dependendo
das respostas emocionais do público-alvo.
4. Um Olhar sobre as Características das Pessoas Surdas como Potenciais
Usuários de Tecnologias
Dentre as várias descobertas de Martins (2012), através de sua pesquisa, o autor
descreve que as pessoas surdas, por exemplo:
 possuem dificuldade com a leitura e escrita da língua portuguesa;
 necessitam de conteúdos disponíveis em LIBRAS para que estas consigam
compreender as informações de websites;
 gostariam que websites fossem projetados: incluindo tanto língua portuguesa quanto
LIBRAS, vídeos com legendas, textos escritos disponibilizados conforme a estrutura
gramatical da LIBRAS, e que contassem com textos simples;
 ao visualizar imagens em websites percebem que facilita o entendimento do texto;
 ao apresentar vídeos, a preferência é por tamanhos maiores de tela para que a
visualização dos sinais, leitura labial e legendas seja mais adequada.
No trabalho de Prietch e Filgueiras (2013a), também foi verificada a preferência
pelo uso da comunicação de sinais em LIBRAS realizada por pessoas, ao invés da
comunicação por avatar animado, visto que as expressões faciais das pessoas são mais
compreensíveis. Essa informação está de acordo com os parâmetros da LIBRAS
[Capovilla, Raphael e Mauricio 2010], dentre os quais, a expressão facial faz parte para
que a comunicação seja correta e completa.
5. Emotion-LIBRAS: Criação, Avaliações e Alterações
A intenção principal da criação de um novo instrumento se fundamenta nos seguintes
fatores: (1) disponibilizar um instrumento acessível na língua materna das pessoas
surdas; e, (2) conferir maior independência e autonomia aos surdos, no sentido de
conseguir responder a um questionário sem a necessidade de auxílio de terceiros (de
familiares, de amigos ou de intérprete). Desta forma, entende-se que as respostas dos
participantes seriam livres de terceiras interpretações e corresponderiam com maior
fidelidade ao que os participantes surdos gostariam de expressar.
A primeira versão do Emotion-LIBRAS apresentava o formato circular, em
papel, seguindo o modelo dos instrumentos GEW, Kansei Sheet e Circumplex Model of
Affect, e utilizava imagens estáticas para ilustrar os sinais em LIBRAS. Os oito
desenhos do avatar comunicando-se em LIBRAS, na Figura 2(a), foram copiados do
dicionário trilingue de Capovilla, Raphael e Mauricio (2010).
Na segunda versão, após pesquisa de campo relatada por Prietch e Filgueiras
(2013a), o formato preferencial das pessoas surdas foi o retangular, seguindo o modelo
do SAM, bem como as imagens estáticas foram substituídas pela proposição de vídeos
com um surdo comunicando-se em LIBRAS, na perspectiva de torná-lo um instrumento
que fosse acessado digitalmente. Na Figura 2(b), o filtro “pixelizar”, da ferramenta
GIMP, foi utilizado no rosto do surdo que contribuiu com a pesquisa, a fim de preservar
a exposição da imagem (o participante assinou um termo de consentimento para
filmagens e divulgação no meio acadêmico).
(a)
(b)
Figura 2: (a) Emotion-LIBRAS: versão 1.0; (b) Emotion-LIBRAS: versão 2.0.
É importante observar que, na Figura 2(b), logo abaixo da imagem do vídeo,
constava o alfabeto manual em LIBRAS referente à palavra (emoção). Isso ocorreu por
que foi uma preferência evidenciada na primeira pesquisa de campo [Prietch e
Filgueiras 2013a]. Contudo, essa característica foi modificada na versão 2.2 do
Emotion-LIBRAS (Figura 3(b)), pois na segunda pesquisa de campo [Prietch e
Filgueiras 2013b] os participantes surdos consideraram mais fácil de entender se o texto
estivesse escrito em português ao invés de fornecer o alfabeto manual.
A Figura 3(a) ilustra a primeira versão digital do Emotion-LIBRAS, a qual foi
elaborada usando o LimeSurvey (2013). Os detalhes do desenvolvimento e da aplicação
da versão 2.1 constam descritos no artigo de Prietch e Filgueiras (2013b). A Figura 3(a)
é apenas um recorte do instrumento completo, a qual ilustra o último item das emoções
positivas e o primeiro item das emoções negativas, dispostos sequencialmente contendo
ao final o botão “Enviar”. Nesse caso, ao selecionar uma opção positiva, a opção
negativa exatamente oposta a esta era omitida automaticamente do questionário; o
inverso também ocorria (e.g., ao marcar ‘interessado’, a emoção oposta ‘indiferente’
não ficava mais visível como opção de resposta para o usuário).
(a)
(b)
Figura 3: (a) Emotion-LIBRAS: versão 2.1; (b) Emotion-LIBRAS: versão 2.2.
Conforme Prietch e Filgueiras (2013b), os participantes gostaram muito do fato
de disponibilizar as palavras (emoções) com vídeos em LIBRAS, pois assim eles
compreendiam rapidamente seu significado.
Durante a segunda pesquisa de campo, que gerou a versão 2.2 (Figura 3(b)), a
versão 2.0 (Figura 2(b)) em papel primeiro foi apresentada para explicar a relação entre
as emoções negativas e positivas, e posteriormente os participantes surdos utilizaram a
versão 2.1 digital (Figura 3(a)). Entretanto, mesmo assim algumas dificuldades ainda
foram percebidas durante o uso do instrumento.
Neste sentido, seguindo algumas indicações, tanto de revisores de trabalhos
submetidos a eventos quanto da literatura (Ferreira e Nunes (2008); Krug (2006); Rubin
e Chisnell (2008)), decidiu-se por efetuar algumas alterações:
 substituir a cor de fundo azul pela cor verde para indicar as emoções positivas;
 formatar o instrumento no estilo de escala de Diferencial Semântico, utilizando como
respostas: 5, muito positivo; 4, positivo; 3, neutro; 2, negativo; 1, muito negativo;
 posicionar as emoções positivas do lado esquerdo da tela e as negativas do lado
direito, a fim de facilitar a relação direta da oposição das emoções bipolares;
 desenvolver o instrumento digital utilizando linguagem de programação com
hospedagem em website próprio.
A Figura 4(a) ilustra o Emotion-LIBRAS digital, versão 2.3, sendo que: (i) a
parte em verde representa as emoções positivas, contendo vídeos dos sinais da LIBRAS
com as palavras em português escrito de cada uma das quatro emoções; (ii) a parte em
vermelho representa as emoções negativas opostas, contendo vídeos dos sinais da
LIBRAS com as palavras em português escrito; e, (iii) a parte central em cinza, no topo
tem-se o nome do instrumento, na parte do meio constam as opções de respostas (5 a 1)
podendo marcar somente uma alternativa (radio button), e na parte inferior se encontra
o botão “Enviar”, para o participante clicar após responder as quatro questões.
(a)
(b)
Figura 4: (a) Emotion-LIBRAS versão 2.3; (b) Organograma das pastas e arquivos do
código desenvolvido para gerar o Emotion-LIBRAS 2.3.
Com relação à Figura 4(a), vale destacar que as pessoas podem sentir emoções
misturadas. Exemplos dessa situação são quando os participantes marcam: (i) “5” e/ou
“4” para duas ou mais emoções positivas ao mesmo tempo; ou, (ii) “1” e/ou “2” para
duas ou mais emoções negativas. Caso um participante tenha a consciência exata de
uma única emoção sentida, por exemplo, “interessado”, este pode marcar “5” ou “4”
como resposta e para as demais emoções, o participante poderia marcar “3”,
significando neutralidade, ou seja, não sentiu emoções positivas nem negativas para as
opções oferecidas no instrumento.
No que se refere à Figura 4(b), o arquivo “index.html” é a parte do sistema que
fica visível ao usuário, é nessa tela que o usuário interage com o sistema, visualizando
os vídeos e respondendo ao questionário. Essa página é composta por uma tabela,
contendo imagens, vídeos, textos, radio buttons e botão de comando (Enviar).
As imagens, os vídeos e os arquivos Java Script e CSS são armazenados cada
um em pastas distintas por questão de organização. A definição por utilizar vídeos em
formato SWF (ShockWave Flash) foi por que são leves; mesmo perdendo um pouco de
qualidade quando convertidos para esse formato ainda são, para o propósito desse
sistema, satisfatórios.
O arquivo “respostas.html” somente é visível pelo pesquisador (administrador
do sistema) e não pelos participantes. Neste arquivo são armazenadas as respostas dos
participantes, de forma simples, somente numérica, como pode ser visto na Figura 5.
Figura 5: Print screen de um exemplo fictício de um grupo de respostas após utilizar o
Emotion-LIBRAS 2.3, visualizando o arquivo ‘respostas.html’.
5.1. Resultados e discussão
Quadros (1997, p. 35) informa que “a associação de surdos sempre é consultada quando
são discutidos assuntos que envolvem a comunidade surda”. Neste aspecto, em nova
pesquisa de campo realizada no mês de outubro de 2013, a comunidade surda foi
convidada a participar por intermédio da Associação de Surdos de Rondonópolis
(ASSUROO).
Nesta referida pesquisa, o objetivo não foi o de avaliar o instrumento EmotionLIBRAS, porém alguns aspectos ficaram evidentes com relação a seu uso pelos
participantes, a saber: se a intenção é que pessoas surdas utilizem o Emotion-LIBRAS
de forma autônoma, este instrumento ainda não está claro o suficiente, pois durante a
terceira pesquisa de campo foi necessário explicar mais de uma vez como os
participantes deveriam proceder para preencher as respostas. Essa dificuldade foi
percebida especialmente em três pontos:
i.
a ausência de um vídeo introdutório em LIBRAS, no topo da página, explicando e
exemplificando como utilizar o instrumento;
ii. a não compreensão sobre o significado das opções de respostas somente com os
números de 5 a 1. Como sugestão de alteração, se poderia utilizar uma das duas
opções ilustradas na Figura 6;
(a)
(b)
Figura 6: Sugestões para as opções de respostas: (a) Proposta 1; (b) Proposta 2.
iii. a existência de emoções bipolares em extremidades opostas causou confusão no
entendimento da relação entre estas. Recomenda-se manter somente os vídeos das
emoções positivas do lado esquerdo da página. Assim, o participante pode se
concentrar em somente um tipo de emoção por vez.
6. Considerações Finais
Muito se aprende com a literatura especializada, seja a respeito de estudos sobre
experiência do usuário, seja sobre o uso de tecnologia por pessoas surdas, seja referente
instrumentos de avaliação da qualidade emocional. Contudo, pesquisas em campo
mostram informações que são difíceis de encontrar na bibliografia, que é a diversidade
humana. Dentro da própria comunidade surda, verifica-se evidente diversidade no que
se refere às preferências de comunicação, o que possibilita a abertura de um leque de
possibilidades para o projeto e/ou o uso de tecnologias assistivas.
Essa é uma motivação muito grande em se fazer pesquisa, descobrir informações
novas e a cada questionamento respondido, surgem duas ou mais perguntas diferentes.
Os desafios nessa linha de pesquisa são inúmeros e muito ainda precisa ser realizado.
Juntamente com a aplicação do Emotion-LIBRAS, em campo, também
filmagens tem sido realizadas (com consentimento prévio dos participantes) durante os
encontros, os quais sempre contam com a presença de profissionais intérpretes para
auxiliar a comunicação. Percebe-se que a comunidade surda é bastante receptiva a
novidade, especialmente, tecnológicas e seus membros estão sempre dispostos a auxiliar
em pesquisas que possam trazer benefícios futuros aos mesmos.
Ao realizar três pesquisas em campo, utilizando o Emotion-LIBRAS, houve a
necessidade de efetuar alterações no instrumento após cada uma delas, sendo que
atualmente uma nova versão está sendo projetada. As impressões das pessoas surdas são
de extrema relevância nesse processo, visto que eles são o público-alvo, eles serão os
principais beneficiados posteriormente.
Além disso, como próximos passos ainda se tem interesse em buscar respostas
para os seguintes questionamentos: (1) o Emotion-LIBRAS poderia ser utilizado como
um instrumento online para acesso remoto (avaliação à distância)? (2) os pesquisadores
e/ou os intérpretes necessitariam estar presentes durante o uso do Emotion-LIBRAS em
acesso remoto? (3) regionalismos da LIBRAS poderiam atrapalhar o uso do EmotionLIBRAS devido aos diferentes tipos de sinais que se referem a uma mesma palavra em
diferentes estados do Brasil? (4) as emoções com relação ao uso de tecnologias são
diferentes se os participantes são avaliados individualmente ou em grupo?
Quando for verificado que o instrumento não precisa de mais alterações, então
se pretende disponibilizar o código-fonte para que outros pesquisadores o possam usar.
Inclusive o Emotion-LIBRAS poderia: (1) ser adaptado para corresponder às
características regionais da LIBRAS, alterando os vídeos para sinais que sejam
utilizados em determinado estado brasileiro; (2) ser renomeado como Emotion-SL (Sign
Language), visto que os vídeos em LIBRAS podem ser substituídos por vídeos em
outra língua de sinais (ASL, LSF, LIS, dentre outras) e as palavras podem ser
traduzidas para outra língua escrita (inglês, francês, italiano, dentre outras); e, (3) outros
tipos de emoções poderiam ser incluídas (por exemplo, frustrado, surpreso) ou mesmo
substituir as existentes conforme o interesse de pesquisa em mãos.
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