A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. Paula Cristina Machado Cardona O estado da questão Há 50 anos atrás o investigador norte-americano Robert Smith, com mérito científico reconhecido, afirmava na sua obra A Talha em Portugal (obra ainda hoje basilar para quem se dedica ao estudo desta expressão artística), que “contemporâneo do florescimento do rococó portuense é um grupo de obras de talha de extraordinário carácter artístico, constituindo uma pequena escola regional, de origem e desenvolvimento enigmáticos” 1. Referia-se a Viana do Castelo e ao restante território da Ribeira Lima: Ponte de Lima e Arcos de Valdevez. A análise que Robert Smith fez das peças retabulares no território mencionado: em Ponte de Lima o programa decorativo da igreja da Ordem Terceira; em Viana do Castelo o retábulo de N.ª Sr.ª do Rosário da igreja conventual de São Domingos, os retábulos da capela de N.ª Sr.ª da Agonia (que os coloca na senda da talha de Tibães) e os retábulos da capela Malheiro Reimão; em Arcos de Valdevez os retábulos da capela de N.ª Sr.ª da Lapa (estes patenteando policromias mármores fingidos e douramentos), levaram-no a identificar uma tipologia específica aplicada a este denominado “pequeno grupo” de retábulos: 1 SMITH, Robert, 1962 – A Talha em Portugal. Lisboa: ed. Livros Horizonte, p. 142. 849 Paula Cristina Machado Cardona 1.º – ornatos eminentemente plásticos, decalcados das gravuras augsburgianas do período de 1740-1770 aplicados nas bases, moldura das tribunas e pilastras; 2.º remates das estruturas retabulares inspiradas nas mesmas gravuras; 3.º combinações de tribunas com nichos, com recurso a desenhos de linhas volumétricas (escultóricas); 4.º ausência de imagens ou relevo decorativos com figuração humana; 5.º colunas de fuste liso, com ornatos variados; 6.º altares serpenteados inspirados nas mesas da Regência francesa 2. Na revisão global do estudo da arte da talha, levado acabo por Natália Marinho Ferreira-Alves, com enfoque específico no norte e centro de Portugal, cujo legado para a compreensão e entendimento deste fenómeno é incontornável na historiografia de arte portuguesa, são propostas novas leituras e fundamento metodológico assentes no levantamento exaustivo de fontes documentais e na análise do objecto artístico como suportes para a criação de grelhas interpretativas das linguagens artísticas de base territorial, incorporando conceitos de ordem sociológica. Como eixos centrais do seu pensamento, para o tema em análise, identificamos: 1.º – A periferia do território nacional face às correntes estéticas vigentes na Europa que vão influenciar o discurso artístico português, que contudo se baliza pelo ideário pós-tridentino. 2.º – A afirmação do “gosto moderno”, o denominado barroco romano, introduzido no reinado de D. João V (1706-1750). 3.º – A adesão, na segunda metade do século XVIII às influências francesa e alemã de um “rococó requintado”. 2 Idem, ibidem, p. 146. 850 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. 4.º – O Porto como importante escola de talha rococó, que vigorará entre 1750-1770, associado a nomes como Francisco Pereira Campanhã e José Teixeira Guimarães, seguindo-se Braga que “fará com que a sua linguagem rococó se propague pelas terras do Arcebispado, do Minho a Trás-os-Montes” 3. Com base nestas premissas, e olhando o fenómeno da fase final do barroco no território do Alto-Minho, complementando com resultados de investigações recentemente publicadas, estamos em condições de afirmar que não se identifica uma escola regional no Alto-Minho no que à talha diz respeito. A talha deste período no território em análise segue a linguagem artística de Braga, cuja génese e impulso está umbilicalmente ligada à figura do arcebispo de sangue real – D. José de Bragança (1741-1756), cuja formação cosmopolita, burilou a sua sensibilidade artística, conhecedor que era das correntes estéticas que vigoravam na Europa do seu tempo. A esta questão agrega-se a vontade e a necessidade do arcebispo impor o seu estilo na corte arquiepiscopal bracarense após o longo período de sede vacante (1728-1741). A fase áurea do rococó bracarense está associado a nomes cimeiros como Jacinto da Silva, André Soares, sobretudo como autor de risco, José Álvares de Araújo “um dos melhores entalhadores do rococó bracarense” e Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, “provavelmente o artista mais versátil na arte da talha do seu tempo”. 4 Todos eles assinam riscos e executam obra, confirmadas documentalmente ou atribuídas, no Vale do Lima. E aqui importa referir que as obras dos centros urbanos grosso modo das sedes concelhias, como Viana do Castelo, Ponte de Lima, 3 FERREIRA-ALVES, Natália Marinho, 2003 – Pintura, Talha e Escultura (séculos XVII e XVIII) no Norte de Portugal, in Revista da Faculdade de Letras, Ciências e Técnicas do Património, I Série vol. 2: Porto, p. 735, p. 739-741. 4 FERREIRA-ALVES, ob. Cit., p. 747. 851 Paula Cristina Machado Cardona Arcos de Valdevez e Caminha, se encontram associadas aos nomes de topo da escola bracarense, sobretudo no risco e concepção de peças retabulares. Importa ainda referir que um significativo número de peças são executadas por artistas do Couto de Landim (actual Concelho de Famalicão); que os artistas de Guimarães intervêm pontualmente, (temos apenas documentada a sua intervenção na obra de talha da igreja franciscana dos Terceiros em Ponte de Lima) e finalmente as obras com risco e execução de artistas autóctones, são raras e surgem associadas a dois mestre entalhadores locais: o vianense João de Brito e António José de Barros, natural de Paredes de Coura. A estética do rococó que se dissemina por todo o território Alto-minhoto, numa área de cerca de 200Km2, repete o receituário da escola bracarense com recurso ao formulário das gravuras francesas e do sul da Alemanha, onde abundam os concheados e motivos vegetalistas entalhados de forma volumétrica. Aos nomes de gravuristas como Meissonier, os Klauber e Habermann devemos ainda considerar a circulação dos tratados de Andrea Pozzo, Bosse, Blondel, Briseux, e Jombert, como se testemunha no caso da biblioteca de Frei José de Santo António Vilaça 5. A capilaridade deste gosto é tributária da fácil adesão dos encomendantes, maioritariamente confrarias, a este novo receituário do final do barroco. “As Ordens monásticas e a nobreza provinciana, ao tempo detentoras, ainda, de consideráveis bens rurais, constituem o segundo grupo de clientes” 6. A burguesia com pretensões de nobilitação social adere a este gosto, verificando-se o mesmo com a “Igreja retórica e reaccionária” 7. 5 FERREIRA-ALVES, ob. Cit., p. 749. 6 GONÇALVES, Flávio, 1969 – “Um Século de Arquitectura e Talha no Noroeste de Portugal”. Boletim Cultural. Porto: Câmara Municipal do Porto, Vol. XXXII – Março-Julho, p. 154. 7 GONÇALVES, ob. Cit. p. 157. 852 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. O panorama artístico do rococó. A produção retabular nas paróquias urbanas No caso dos centros urbanos, particularmente em Viana do Castelo, seguindo uma métrica cronológica, listam-se as seguintes obras: retábulo da capela da confraria de N.ª Senhora do Rosário, executado segundo o risco de André Soares pelo entalhador José Álvares de Araújo (1759-1761); para a capela de N.ª Sr.ª da Agonia, a confraria contratará André Soares para conceber o retábulo-mor da sua capela em 1762-1763, não sabemos quem executa a obra, temos conhecimento que a estrutura foi intervencionada em 1766, pelo mestre entalhador vianense João de Brito para ser pintada e dourada. Em 1765, o juiz da Confraria, Manuel José Viana, natural de Viana do Castelo e assistente em Lisboa fez a doação dos seis quadros dos altares 8, cujas molduras de talha parecem beber a influência do traço de André Soares. As obras de talha do púlpito (1766 – 1767) e do órgão (1776 – 1777) deste templo têm a assinatura do referido mestre vianense João de Brito. Para a capela dedicada a São Francisco de Paula e ao Espírito Santo do palácio Malheiro Reimão, construção que se inicia em 1758 por iniciativa do então bispo do Rio de Janeiro D. António Malheiro, sob a direcção do seu irmão Baltasar Malheiro, D. Prior de Barcelos, será provavelmente executado em 1763, o retábulo-mor atribuído por Smith a André Soares, atribuição corroborada por trabalhos de investigação recentes. Do Brasil terão vindo paramentos e imagens dentre as quais a que se expões no retábulo-mor – São Francisco de Paula com resplendor e báculo de prata 9. Na igreja Matriz de Viana do Castelo, merece destaque a máquina retabular que a confraria do Senhor Jesus dos Mareantes encomendará para a sua capela, é dos maiores retábulos da região, foi encomendado entre 8 Livro da receita e despesa da confraria de N.ª Sr.ª da Agonia de Viana do Castelo, fl. 7v. 9 Disponível em <http://www.monumentos.pt /Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=9066> [consult: 14 de Set. 2012]. 853 Paula Cristina Machado Cardona 1775-1780, mantendo-se fiel a uma linguagem mais conservadora de que se desconhece a autoria do risco e da execução. Ainda em Viana do Castelo, referência para o retábulo-mor da igreja da Ordem Terceira Franciscana feito pela dupla de irmãos de Landim José Caetano e Joaquim José de Sampaio (1789-1790). Em Arcos de Valdevez, para a capela da Lapa, o mestre escultor bracarense André António da Cunha, será contratado em 1769 pela confraria para apresentar o risco e executar as obras do retábulo-mor, tribuna e camarim. Smith atribui a frei José de Santo António Vilaça o risco de um dos retábulos colaterais desta capela. Ainda em Arcos de Valdevez, os retábulos colaterais da igreja do convento franciscano de S. Bento recebem, no terceiro quartel do século XVIII, maquinetas inspiradas no traço de André Soares ou frei José de Santo António Vilaça 10. Em Caminha, na igreja da Misericórdia, são colocados, no terceiro quartel do século XVIII, nos altares colaterais dedicados a N.ª do Carmo e St.ª Rita de Cássia dois retábulos atribuídos a André Soares 11. Para o convento de Santo António, no mesmo período, serão fabricados, dentro do mesmo gosto e atribuídos a André Soares ou a José Álvares de Araújo os retábulos das capelas de N.ª Senhora da Assunção, (actualmente com invocação de N.ª Senhora das Graças) e de Santa Isabel 12. Em Valença, a 26 Setembro de 1782, a confraria de Nossa Senhora do Carmo obtém provisão régia para executar o novo retábulo do altar-mor da capela do Bom Jesus. 10 OLIVEIRA, Eduardo Pires de, 1996 – Estudos sobre o Século XVII e XVIII no Minho: Braga, ed. APPACDAM Distrital de Braga, p. 75 e FIGUEIREDO, Ana Paula Valente, 2008 – Os Conventos Franciscanos da Real Província da Conceição. Análise histórica, tipológica, artística e iconográfica. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa [Tese de Doutoramento em Arte, Património e Restauro], Vol. I, Capítulo III, p. 293-294. 11 LAMEIRA, Francisco, 2005 – Retábulos das Misericórdia Promotoria Monografia História da Arte 04, ed. Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve: Centro de História de Arte da Universidade de Évora, p. 145. 12 FIGUEIREDO, ob. Cit., p. 275-276. 854 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. A afirmação do gosto nos territórios periféricos As obras de talha que se conceberam para as zonas periféricas destes concelhos urbanos como se exemplifica nas paróquias rurais de Viana do Castelo (Vila de Punhe, Barroselas, Afife e Cardielos); de Ponte de Lima (Arcozelo, Fojo Lobal e Labruja); de Arcos de Valdevez (S. Salvador de Padreiro); Ponte da Barca (Cuide de Vilaverde); Paredes de Coura (Agualonga) e Monção (Luzio); seguem estruturalmente, a linguagem artística da escola bracarense. Apresentam, todavia, variações que se devem a diversos factores: a questão periférica é relevante para a persistência do gosto, a disponibilidade financeira dos encomendantes, maioritariamente confrarias, influenciará a qualidade da obra, a par das questões técnicas como por exemplo, a dimensão das máquinas retabulares e da formação e a experiência dos artistas, como se testemunha no caso da adjudicação dos retábulos colaterais do Santuário da Labruja atribuída a mestres pintores de Caminha e Cerveira. Viana do Castelo No caso de Vila de Punhe, é inegável a qualidade do risco e do entalhe do retábulo-mor que será intervencionado em 1775, por José Caetano de Sampaio, mestre entalhador de Landim, com a execução do camarim e tribuna 13. Três anos antes (1772), o mestre entalhador vianense João de Brito executava os retábulos laterais e sanefa do arco triunfal da mencionada igreja paroquial 14. 13 CARDONA, Paula Cristina Machado, 2004 – A Actividade Mecenática das Confrarias nas Matrizes do Vale do Lima nos Séculos XVII a XIX. Porto: Departamento de Ciências e técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, [Tese de doutoramento policopiada], Vol. III, p.638. 14 MOREIRA, Manuel António Fernandes, 2006 – O Barroco no Alto Minho: Viana do Castelo, ed. Centro de Estudos Regionais, p. 85 e p. 224. 855 Paula Cristina Machado Cardona Para a igreja de São Pedro de Capareiros, paroquial de Barroselas serão encomendados a 9 de Janeiro de 1779 ao mestre entalhador bracarense Luís Manuel da Silva, filho de Jacinto da Silva os retábulos colaterais e sanefa do arco triunfal, obra que não concluirá por ter entretanto falecido. A continuação e conclusão desta encomenda coube a Francisco de Freitas Rego 15. Há ainda a referir a obra do retábulo-mor da igreja do mosteiro beneditino de São João de Cabanas. A tribuna e a banqueta foram encomendadas a 20 de Agosto de 1779 ao mestre entalhador de Landim, Joaquim José de Sampaio 16. Em Cardielos, Francisco José de Sampaio, irmão de José de Caetano é o autor dos retábulos laterais da igreja paroquial (1792) que deviam seguir o modelo dos altares de Capareiros 17. Ponte de Lima Para a capela de S. Bartolomeu da Casa da Freiria, em Arcozelo, terão sido encomendadas em 1767, o retábulo-mor, os 2 retábulos laterais, púlpito e mesas de altar, cujo risco é atribuído a André Soares 18. Em 1774, a 31 de Outubro, o mestre entalhador bracarense Luís Manuel da Silva executa para a igreja paroquial de Fojo Lobal, o retábulo-mor 19. Na Labruja, os retábulos colaterais da igreja do Santuário do Senhor do Socorro são feitos por Manuel José Afonso e Manuel Martins da Cunha, pintores, Caminha e Cerveira, a 15 de Dezembro de 1777 20. 15 OLIVEIRA, Eduardo Pires de, 2011 – André Soares e o rococó do Minho. Porto: Departamento de Ciências e técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, [Tese de doutoramento policopiada], p. 178 e 365. 16 CARDONA, 2004 a, p. 641. 17 MOREIRA, Ob. Cit. p. 94 e p. 243. 18 OLIVEIRA, 2011 b, p. 222. 19 OLIVEIRA, 2011 b, p. 177. 20 CARDONA, 2004 a, p. 293, 411-412. 856 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. Arcos de Valdevez Na igreja paroquial de São Salvador de Padreiro, temos documentada a notícia da obra do retábulo-mor em 1754-1755, contudo a talha que actualmente esta igreja paroquial ostenta, aparenta ser de finais da década de 60, de labor bracarense. Ponte da Barca Para a igreja paroquial de Cuide de Vilaverde, a obra da tribuna e do retábulo-mor que devia ser igual à estrutura retabular de São Salvador de Padreiro de Arcos de Valdevez, é encomendada a 21 de Julho de 1756, tem a lavra de Manuel Ferreira de Sousa, mestre escultor e entalhador bracarense 21. Os retábulos que actualmente existem nesta igreja são de talha neoclássica. Paredes de Coura A igreja paroquial de São Paio, Agualonga, receberá em 1789 um retábulo na capela-mor executado pelo mestre entalhador e escultor local, António Rodrigues da Cunha. O mesmo voltará a ser contratado em 1790 para a feitura das duas estruturas retabulares colaterais 22. Monção Na igreja de São Veríssimo da freguesia de Luzio, o mesmo mestre entalhador escultor de Paredes de Coura, será contratado em 1764, para realizar a obra da tribuna da capela-mor 23. 21 CARDONA, 2004, p. 375. 22 SILVA, Carlos Alberto Gouveia da, 1993 – Igrejas Barrocas do Concelho de Paredes de Coura, Cadernos de Arqueologia e Património, Monografias I: Paredes de Coura, ed. Câmara Municipal de Paredes de Coura, p. 13-15. 23 MOREIRA, Ob. Cit. p. 446. 857 Paula Cristina Machado Cardona A tabela que se apresenta, lista a produção retabular no Alto-Minho, considerando as obras documentadas e atribuídas, onde se manifesta a linguagem rococó. TALHA DO ALTO-MINHO – 1756 – 1792 LOCALIDADE DATA OBRA AUTORIA FONTE: Ponte de Lima 1756 16 de Maio Retábulo-mor e colaterais da igreja da Ordem Terceira Risco: José Álvares de Araújo, Braga MORAIS, Adelino Tito de, 1981 “Artistas que trabalharam na Ordem Terceira de Ponte de Lima”, In, 1.º Colóquio Galaico-Minhoto: Ponte de Lima, p. 137-152. Ponte de Lima 1756, 27 de Maio Execução dos 3 retábulos, 2 púlpitos, 7 imagens, 2 anjos tocheiros, sanefas, 14 castiçais, cruzes e três frontais Execução: António da Cunha Correia Vale e Manuel da Cunha Correia, mestres entalhadores, Guimarães Idem, ibidem.. Ponte de Lima, 1767 Arcozelo Retábulo-mor, 2 Risco: André Soares retábulos laterais, (atribuída) púlpito e mesas de altar da capela de S. Bartolomeu da casa da Freiria Ponte de Lima, 1774, Retábulo-mor da Fojo Lobal 31 de igreja paroquial Outubro Ponte de Lima, Labruja 1777, 15 de Dezembro Luís Manuel da Silva, mestre entalhador, Braga Retábulos colaterais Execução: Manuel José do Santuário do Afonso e Manuel MarSenhor do Socorro tins da Cunha, pintores, Caminha e Cerveira OLIVEIRA, Eduardo Pires de, 2011 – André Soares e o rococó do Minho. Porto: Departamento de Ciências e técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, [Tese de doutoramento policopiada] p. 222 Idem, ibidem, p. 177 CARDONA, Paula Cristina Machado, 2010 – O perfil Artístico das confrarias em Ponte de Lima na Época Moderna. Ponte de Lima: Câmara Municipal de Ponte de Lima, p. 293, 411-412 858 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. LOCALIDADE DATA Viana do Cas- 1758 telo, Santa (finais Maria Maior construção da capela) OBRA AUTORIA FONTE: Retábulo-mor da Risco: André Soares capela das Malheiras (atribuída) São Francisco de Paula e ao Espírito Santo http://www.monumentos.pt /Site/APP_PagesUser/SIPA. aspx?id=9066 1763 (?) obra do retábulo-mor Viana do Castelo, Monserrate 17591761 Retábulo-mor da Capela de N.ª Sr.ª do Rosário, igreja do convento de S. Domingos Risco: André Soares Execução: José Álvares de Araújo, mestre entalhador, Braga CARDONA, Paula Cristina Machado, 2004 – A Actividade Mecenática das Confrarias nas Matrizes do Vale do Lima nos Séculos XVII a XIX. Porto: Departamento de Ciências e técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, [Tese de doutoramento policopiada], p. 627-628 Viana do Castelo, Monserrate 17621763 Retábulo-mor da Capela de N.ª Sr.ª da Agonia Risco: André Soares Execução: António Álvares, mestre entalhador CARDONA, 2004, p. 606 Viana do Castelo, Monserrate 1762, 11 de Julho Seis retábulos destinados aos altares do corpo da capela de N.ª Sr.ª da Agonia Execução: Inácio José de Sampaio, mestre entalhador, Landim, Famalicão Idem, Ibidem Viana do Castelo, Monserrate 17661767 Púlpito da capela de Execução: João de Brito, CARDONA, 2004, p. 628 N.ª Sr.ª da Agonia mestre entalhador, Viana do Castelo Viana do Castelo, Monserrate 17691770 Sanefa do arco Execução: João de Brito, Idem, ibidem triunfal da capela de mestre entalhador, N.ª Sr.ª da Agonia Viana do Castelo 859 Paula Cristina Machado Cardona LOCALIDADE DATA OBRA Viana do Castelo, Monserrate 17731774 Talha do órgão da Execução: João de Bricapela de N.ª Sr.ª da to, mestre entalhador, Agonia Viana do Castelo Idem, ibidem Viana do Cas- 1775 – telo, Santa 1780 Maria Maior Retábulo da capela dos Mareantes, igreja Matriz CARDONA, 2004, p. 240-241 Viana do Castelo, Afife Obra da tribuna e banqueta da capela-mor da igreja do mosteiro de São João de Cabanas, Afife 1779, 20 de Agosto Viana do Cas- 1789, Obra da tribuna da telo, Santa 11 de capela-mor da igreja Maria Maior Novem- da Ordem Terceira bro Viana do Castelo, Monserrate 1780 – Retábulos colaterais 1790 (?) do Recolhimento das Ursulinas / Igreja dos Santos Mártires, actual Seminário das Missões do Espírito Santo Viana do Castelo, Vila de Punhe 1772, 5 Retábulos laterais de Abril e Sanefa da igreja paroquial Viana do Castelo, Vila de Punhe 1775, 19 de Novembro AUTORIA FONTE: Joaquim José de Sampaio, mestre entalhador, Landim, Famalicão CARDONA, 2004, p. 641 José Caetano e seu irmão Joaquim José de Sampaio, mestres escultores, Landim, Famalicão Idem, ibidem CARDONA, 2004, p. 205 e p. 209 João de Brito Lima, mestre entalhador, Viana do Castelo Obra do camarim José Caetano de Samdo retábulo da paio, mestre entalhacapela-mor da igreja dor, Landim, Famalicão paroquial MOREIRA, Manuel António Fernandes, 2006 – O Barroco no Alto Minho: Viana do Castelo, ed. Centro de Estudos Regionais, p. 85 e p. 224 MOREIRA, Ob. cit., p. 638 860 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. LOCALIDADE DATA OBRA Viana do Castelo, Barroselas 1779, 9 de Janeiro Retábulos colaterais Luís Manuel da Silva e sanefa para o arco e Francisco de Freitas da igreja paroquial Rego de S. Pedro de Capareiros OLIVEIRA, 2011, p. 178 e 365 Viana do Castelo, Cardielos 1792, 29 de Abril Retábulos laterais da igreja paroquial Francisco José de Sampaio (seguindo o modelo dos altares de Capareiros) MOREIRA, Ob. cit., p. 94 e p. 243 Paredes de Coura, Agualonga 1787, 30 de Novembro Obra tribuna do retábulo-mor e sanefas da capela-mor da igreja paroquial de S. Paio, Agualonga António José de Barros, mestre entalhador, Linhares, Paredes de Coura SILVA, Carlos Alberto Gouveia da, 1993 – Igrejas Barrocas do Concelho de Paredes de Coura, Cadernos de Arqueologia e Património, Monografias I: Paredes de Coura, ed. Câmara Municipal de Paredes de Coura, p. 13-15 Ponte da Barca, Cuide de Vilaverde 1756, 21 de Julho Obra da tribuna do retábulo-mor da igreja paroquial de S. Mamede (devia ser igual à estrutura retabular de S. Salvador de padreiro de Arcos de Valdevez) Manuel Ferreira de Sousa, mestre escultor e entalhador, morador na rua de St.º André, Braga CARDONA, 2004, p. 375 Obra do retábulo-mor da capela da Lapa André António da Cunha, mestre escultor entalhador, Braga (os fiadores foram os mestres entalhadores bracarenses Luís Manuel da Silva e seu pai Jacinto da Silva) CARDONA, 2004, p. 788-790 e p. 804-806 Arcos de 1769, Valdevez, São 13 de Salvador Março Arcos de 1771, 1 Obra dos retábulos Valdevez, São de Feve- colaterais e grades Salvador reiro do coro da capela da Lapa AUTORIA FONTE: André António da CARDONA, 2004, p. 789 e p. 806Cunha e Luís Manuel 808 e OLIVEIRA, 2011, p. 170 da Silva nos retábulos colaterais (fiadores Luís Manuel da Silva e seu pai Jacinto da Silva) 861 Paula Cristina Machado Cardona LOCALIDADE DATA OBRA Arcos de (Terceiro Maquinetas dos Valdevez, São quartel retábulos colaterais Salvador do Séc. do convento de S. XVIII) Bento AUTORIA FONTE: Atribuído à escola de frei José de Santo António Ferreira Vilaça ou André Soares OLIVEIRA, Eduardo Pires de, 1996 – Estudos sobre o Século XVII e XVIII no Minho: Braga, ed. APPACDAM Distrital de Braga, p. 75 e FIGUEIREDO, Ana Paula Valente, 2008 – Os Conventos Franciscanos da Real Província da Conceição. Análise histórica, tipológica, artística e iconográfica. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa [Tese de Doutoramento em Arte, Património e Restauro], Vol. I, Capítulo III, pp. 293-294 Arcos de Valdevez, S. Salvador de Padreiro 17541755 Tribuna do retábulo-mor da igreja de paroquial do Divino Salvador. Contudo o actual retábulo parece-nos posterior, de finais da década de 60 do séc. XVIII Livro da Receita e Despesa da Confraria do S. Sacramento da Igreja paroquial de S. Salvador de Padreiro, fl. 6v. Caminha, Matriz (Terceiro quartel do Séc. XVIII) Retábulos colaterias Atribuído a André de N.ª do Carmo, Soares St.ª Rita de Cássia, igreja da St.ª Casa da Misericórdia, arco triunfal do lado do evangelho LAMEIRA, Francisco, 2005 – Retábulos das Misericórdias Promotoria Monografia História da Arte 04, ed. Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve: Centro de História de Arte da Universidade de Évora, p. 145 862 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. LOCALIDADE DATA OBRA AUTORIA Caminha, Matriz (Terceiro quartel do Séc. XVIII) Retábulos das cape- Atribuído a André Solas laterais do lado ares ou a José Álvares do evangelho: N.ª de Araújo Senhora da Assunção, actual Capela FONTE: FIGUEIREDO, Ob. cit., p. 275-276 de N.ª Senhora das Graças e Santa Isabel da igreja do convento de St.º António Valença, Valença 1782, 26 Provisão a favor Setem- do juiz e oficiais da bro Confraria de Nossa Senhora do Carmo, para poderem fazer um novo retábulo do altar-mor da capela do Bom Jesus Monção, Luzio 1764, 18 de Julho http://www.monumentos.pt/Site/ APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6233 Obra da tribuna da António Rodrigues da MOREIRA, Ob. cit., p. 446 capela-mor da igreja Cunha, mestre escultor, paroquial de Luzio Linhares, Paredes de Coura As incursões do rococó no Alto-Minho Como e onde terá surgido o rococó no Alto-Minho? É certo que algumas obras de talha anteriores a 1750, apontavam, ainda que timidamente, um caminho para esta nova estética, recordamos o retábulo da capela do Santíssimo Sacramento da Matriz de Viana do Castelo da autoria do mestre entalhador local António Rodrigues Pereira, (incluindo o risco) encomendado em 1744, que mantendo-se fiel a uma estrutura joanina 863 Paula Cristina Machado Cardona apresenta uma gramática decorativa onde pontuam já os concheados, volutas e linhas quebradas, mas na qual as características eminentemente arquitectónicas da estrutura retabular ainda se mantêm de forma visível 24. A resposta à questão encontramo-la na encomenda da talha para a igreja da Ordem Terceira de Ponte de Lima. A obra é lançada a 27 de Maio de 1756, segundo o risco da autoria do entalhador bracarense José Álvares de Araújo e executado pela dupla de irmãos vimaranenses António da Cunha Correia Vale e Manuel da Cunha Correia, após os Terceiros rejeitarem o lance mais baixo apresentado pelo entalhador bracarense Manuel Ferreira de Sousa. Terá imperado na esfera decisória da Mesa dos Terceiros limianos a vontade de concretizar um programa ornamental de vanguarda, bem executado, seguindo o que se fazia em Braga, como aliás se testemunha pela escolha do autor do risco que circulava na esfera de influência do seu conterrâneo André Soares. José Álvares de Araújo materializou riscos de André Soares: no retábulo de N.ª Sr.ª dos Prazeres do Colégio de São Paulo em Braga (1756); no retábulo de N.ª Sr.ª Senhora do Rosário na igreja de S. Domingos de Viana do Castelo (1761) e o programa ornamental igreja do Mosteiro beneditino de Tibães em Braga, que contou também com a intervenção de frei José de Santo António Vilaça (1756 – 1761) 25. Julgamos, embora careça de fundamento substantivo, que o próprio arcebispo, D. José de Bragança poderá ter influenciado a decisão dos Terceiros limianos isto porque, se encontrava em Ponte de Lima em visita pastoral, retomada a 1 de Novembro de 1755, alojando-se na casa de Nossa Senhora da Aurora, onde falecerá a 3 de Junho de 1756 26. 24 CARDONA, 2004, p. 198 e p. 145-146. 25 FERREIRA-ALVES, Ob. Cit. p. 748. 26 FERREIRA, Monsenhor J. Augusto, 1932 – Fastos Episcopais da Igreja Primacial de Braga (séc. III – séc. XX). Braga: ed., Mitra Bracarense, Tomo III, p. 317. 864 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. A obra do programa decorativo da Ordem Terceira de Ponte de Lima é lançada seis meses antes da obra da igreja conventual de Tibães (9 de Outubro de 1756), concebida, como referimos, por André Soares e executada pelos entalhadores José Álvares de Araújo e frei José de Santo António Vilaça, e considerado um dos mais unitários espaços sacros do rococó 27. Se bem que alguns autores discutam, a qualidade do risco do entalhador bracarense, na obra dos Terceiros limianos, o que é facto é que se trata de um programa de grande unidade estética, no qual, para além das três máquinas retabulares, se encomendaram imagens, púlpitos e sanefas, como se verificou no caso da igreja de São Martinho de Tibães. A obra de talha que José Álvares de Araújo concebe para os Terceiros de Ponte de Lima, e que se concluirá em 1761, repercute a linguagem do rococó bracarense, os concheados, trabalhados turgidamente, presidem à decoração aplicando-se a todas as superfícies, acentuando as linhas sinuosas da estrutura retabular. Nestes três retábulos, em particular no retábulo-mor, a grande plasticidade dos ornatos que cobrem todas as superfícies (grinalda de flores, acantos, trepadeiras e todo o tipo de ornamento vegetalista) são inspirados pelas gravuras franco-alemãs. Estes motivos decorativos, esculpidos volumosamente, bem ao gosto da escola bracarense, diluem a estrutura arquitectónica do retábulo: entablamento, colunas, moldura do nicho e ático. O programa pictórico, fiel ao receituário rococó (pintura fingindo mármore, verde e rosa, o branco pérola e o douramento dos ornatos), inicia em 1764 com o douramento do sacrário. A empreitada é interrompida e só será retomada em 1778, concluindo-se em 1781. A obra de pintura e douramento é da autoria do mestre pintor-dourador Luís Pinheiro de Azevedo Lobo de Viana do Castelo, que veremos igualmente activo na pintura dos retábulos colaterias da capela de N.ª Sr.ª da Lapa em Arcos de Valdevez 28. 27 FERREIRA-ALVES, Ob. cit. p.7 48. 28 CARDONA, 2004, p. 790-791. 865 Paula Cristina Machado Cardona Conclusão A linguagem do rococó que vigorará em Braga a partir de 1750 assumirse-á como modelo para a talha que, aproximadamente no mesmo período, se encomendará para os espaços sacros do Alto-Minho. Os equipamentos de talha mais eruditos, fiéis ao vocabulário bracarense de inspiração augsburguiana, surgem, notadamente, nos centros urbanos de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez e Caminha, onde a presença dos artistas de Braga se faz sentir de forma continuada e persistente. A execução de programas decorativos de qualidade superior no AltoMinho, ocorrem em simultâneo com as grandes empreitadas bracarenses e com recurso aos mesmos mestres e oficinas. Demos como exemplo a talha que se encomenda para a igreja da Ordem Terceira de Ponte de Lima (1756-1761), concebida ao mesmo tempo que o programa decorativo da igreja do convento beneditino de São Martinho de Tibães em Braga. O mestre entalhador bracarense José Álvares de Araújo é quem risca a obra limiana e quem executa, em Tibães, o programa projectado pelo riscador André Soares. Nas zonas periféricas, os equipamentos retabulares, mantêm-se fiéis aos modelos bracarenses, com nuances que decorrem de uma multiplicidade de factores, dentre as quais sublinhamos a maciça adesão a este gosto por parte dos encomendantes: confrarias, unidades conventuais e nobreza local. Em essência não moldam nenhuma linguagem artística com características particulares. Digno de nota, em alguns casos, é a qualidade artística de algumas obras, claramente inspiradas em modelos bracarenses, como a que podemos testemunhar no caso do Santuário do Senhor do Socorro na Labruja, Ponte de Lima (1777). 866 A talha da fase final do Barroco e a escola regional do Alto-Minho. O caso da Ordem Terceira de Ponte de Lima. No final da década de 80 a produção de retábulos tardo-barrocos, começa a emergir marcando um ponto de viragem para a linguagem neoclássica que se inaugurará na década seguinte. Em foco temos o retábulo-mor da igreja do convento beneditino de São João de Cabanas (1779); o retábulo da capela-mor da igreja da Ordem Terceira (1789), ambos em Viana do Castelo e ambos executados pela dupla de irmãos Joaquim José de Sampaio e José Caetano de Sampaio, mestres entalhadores/escultores do referido Couto de Landim e o retábulo-mor da capela do Bom Jesus de Valença (1782) de autoria desconhecida. Em suma, no Alto-Minho, a produção expressiva da retabulária da fase final do Barroco (1756-1780), que se manifesta igualmente nas paróquias rurais destes concelhos minhotos, levou alguns autores a identificar a existência de uma escola regional, valioso contributo, que estimulou o estudo mais sistematizado que nos permite, hoje em dia, considerar que o rococó nesta região tem origem em Braga, centro difusor por excelência, para todo o território inscrito no seu arcebispado. 867 Paula Cristina Machado Cardona Bibliografia CARDONA, Paula Cristina Machado, 2004 – AActividade Mecenática das Confrarias nas Matrizes do Vale do Lima nos Séculos XVII a XIX. Porto: Departamento de Ciências e técnicas do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, [Tese de doutoramento policopiada]. CARDONA, Paula Cristina Machado, 2010 – O perfil Artístico das confrarias em Ponte de Lima na Época Moderna. Ponte de Lima: Câmara Municipal de Ponte de Lima. 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