Energia Solar Fotovoltaica Dr. Roberto Zilles – IEE/USP Introdução 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1991 Produção (MWp) A utilização da energia solar fotovoltaica teve nos últimos anos um acelerado crescimento. Durante a década de 1990 seu mercado cresceu a um taxa média de 20% ao ano e, entre os anos 2000 e 2001 esta taxa superou os 40%. Atualmente a produção mundial de módulos fotovoltaicos supera a cifra de 300MWp por ano. A figura 1 apresenta a evolução da produção mundial de módulos fotovoltaicos. [1] [2] e [3]. ano Figura 1. Evolução da produção mundial módulos fotovoltaicos. [1] [2] e [3]. O incremento no crescimento observado a partir de 1999 se deve aos programas de incentivo, em especial os programas alemão, espanhol e japonês, para ampliar a geração de eletricidade com fontes renováveis visando reduzir a emissão de gases de efeito estufa. No caso dos países membros da união européia, os programas de incentivo financeiro pretendem contribuir na consecução da meta de 12% de participação de fontes renováveis até o ano 2010. Considerando unicamente os sistemas isolados, sistemas implantados em regiões não supridas pela rede elétrica convencional, a potência instalada até o ano 2000 alcança a cifra de 105MWp em Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares e 170MWp em Aplicações Profissionais [4]. Nos países em desenvolvimento os Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares totalizam 1,3 milhões de instalações [5]. Em consonância com este desenvolvimento das aplicações da energia solar fotovoltaica, no Brasil foram formulados e implementados importantes programas de difusão dessa tecnologia durante a última década, ao mesmo tempo que se consolidaram grupos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Entre os programas desenvolvidos no país merece destaque o Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios-PRODEEM, elaborado e posto em prática pelo Ministério de Minas e Energia. Estima-se que, atualmente, há cerca de 12 MWp instalados no país em sistemas isolados. É oportuno mencionar que o desenvolvimento das aplicações da energia solar fotovoltaica no Brasil foi motivado pela necessidade de contar com alternativas de fornecimento de energia elétrica para as comunidades distantes da redes de distribuição, tendo fundamentalmente um fim social. No Brasil, a inserção dos sistemas fotovoltaicos não está sendo muito diferente da história já vivida por outros países. Inicialmente, a disseminação da tecnologia fotovoltaica ocorreu no meio rural, em geral, através de iniciativas governamentais ou de concessionárias que financiam a instalação de sistemas fotovoltaicos autônomos como os Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares e os Sistemas de Bombeamento de Água. Mais recentemente, os sistemas fotovoltaicos vêm sendo utilizados integrados em telhados e fachadas de edificações. Nesse caso, temos que, além de consumidoras de energia, essas edificações passam a produzir energia , podendo, em algumas situações, verter o excedente à rede de distribuição de eletricidade. A edificação poderá consumir energia da rede ou do sistema fotovoltaico. No caso em que o consumo de energia for menor do que o proporcionado pelo sistema fotovoltaico, o excedente pode ser injetado à rede de distribuição. Na segunda metade da década de 90 começaram a surgir as primeiras experiências relacionadas com a conexão de sistemas fotovoltaicos à rede convencional de distribuição de eletricidade, firmando, também para o Brasil, uma tendência mundial de aumento da importância dessa aplicação da tecnologia [6]. A tabela I apresenta um breve resumo das experiências de conexão realizadas no país até o momento. Tabela I. Características dos sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica, instalados no Brasil . Sistema Instalação (ano) Potência CHESF Lab. Solar LSF/USP COPPE Lab.Solar LSF/USP 1995 1997 11 kWp, policristalino 2 kWp. amorfo 1998 750 Wp, monocristalino 1999 2000 2001 848 Wp, monocristalino 1 kWp, amorfo 6,3 kWp, policristalino O principal aporte dos sistemas fotovoltaicos para a sociedade é a geração de energia elétrica com níveis mínimos de emissões poluentes ao meio ambiente, emissões de CO2 entre 40 - 60 g/kWh. Tecnicamente, esses sistemas se apresentam como concorrentes dos geradores elétricos convencionais; no entanto, essa concorrência ocorre em condições desfavoráveis para os sistemas fotovoltaicos porque a formação de preços não atribui nenhum valor à redução das emissões e a origem renovável do recurso. A contribuição da geração fotovoltaica à matriz energética do país, considerando os 12MWp instalados e um fator de capacidade para sistemas fotovoltaicos isolados da ordem de 12% (produção anual de 1050kWh/kWp), valor compatível com os resultados obtidos em campo, atinge a cifra de 12,6 GWh/ano. Merece mencionar que os sistemas conectados à rede operam com fator de capacidade superior aos observados em sistemas isolados. Em nosso país pode-se obter, para esses sistemas, fatores de capacidade entre 15 e 19% (produtividade anual entre 1300 e 1700kWh/kWp). Políticas estratégicas para expansão e participação na matriz energética Com o novo contexto estrutural do setor energético, a inserção de sistemas fotovoltaicos na matriz energética fica dificultada. A energia produzida por esses sistemas ainda possui custos elevados quando comparados com os energéticos convencionais. No entanto, uma série de outros fatores que advogam em favor das fontes não convencionais e renováveis tornam importante a busca de mecanismos de incentivo que sejam capazes de viabilizar o desenvolvimento e a disseminação dessa tecnologia. É importante lembrar que a busca desses mecanismos de incentivo torna-se particularmente importante quando vemos que muitas das vantagens que os energéticos renováveis e não convencionais apresentam não produzem um retorno financeiro ao investidor propriamente dito, trazendo sim grandes benefícios à comunidade, a sociedade e ao meio ambiente. Como a energia solar fotovoltaica ainda possui custos elevados, para que possa continuar desenvolvendo-se é necessário estabelecer mecanismos capazes de viabiliza-la. Entre os possíveis sugere-se: Criação de legislação que exija a cada concessionária a comercialização de um percentual mínimo anual de energia elétrica proveniente de fontes renováveis. Este porcentual estará associado ao volume total de energia elétrica comercializado onerando assim eqüitativamente cada concessionária. Esta lei criaria os Créditos de Comercialização de Energias Renováveis-CCER* que podem ser negociados entre concessionários para fins de cumprimento das metas. * (detalhes da criação de um mecanismo de incentivo baseado nos CCER´s pode ser consultado na tese de doutorado: “Geração Distribuída de Eletricidade; A Inserção de Edificações Fotovoltaicas Conectadas à Rede no Estado de São Paulo”, de autoria de Sérgio H. F. de Oliveira, PIPGE-USP, Abril de 2002.) Comentário A criação de uma lei que estabeleça para cada concessionária um percentual mínimo de comercialização de eletricidade gerada por fontes energéticas renováveis de pequena escala (i.e., energia solar fotovoltaica, biomassa, energia eólica e pequenas centrais hidrelétricas) viabilizará o quadro institucional para o desenvolvimento da participação das renováveis. Essa lei permitirá contemplar, simultaneamente, questões de ordem (1) econômica, (2)política, (3) ambiental (redução do nível de emissão de gases de efeito-estufa). Referências [1] Maycock, P. The World PV market 2000 – Shifting from subsidy to a ‘fully economic’? Renewable Energy World; Review Issue 2000 – 2001, Vol 3, no.4 , pp 59-74, July – August, 2000. [2] Maycock, P. The PV boom. Where Germany and Japan lead, will California follow? Renewable Energy World; Review Issue 2001 – 2002, Vol 4, no.4 , pp 145-163, July – August, 2001. [3] Schmela M. Beyond expectations. Market survey on world cell production in 2001 Photon International, pp 38-42, March 2002. [4] IEA, Trends in photovoltaic applications in selected IEA countries between 1992 and 2000, Report IEA - PVPS T1 - 10 : 2001 [5] F.D.J. Nieuwenhout, A. van Dijk, V.A.P. van Dijk, D. Hirsch, P.E. Lasschuit, G. van Roekel, H. Arriaza, M. Hankins, B.D. Sharma, H. Wade, Experiences with Solar Home Systems in developing countries: A review, Progress in Photovoltaics, Vol 9: 455-474, 2001 [6] Oliveira, S. H. F. & Zilles, R. Edificações Fotovoltaicas Conectadas à Rede de Distribuição de Eletricidade (EFCR); Situação Atual no País. IV Encontro do Fórum permanente de Energias Renováveis, Recife – PE, Outubro/1998.