Energia Solar Quais as aplicações da energia solar? Todas as formas de energia podem converter-se entre si e, portanto, a energia da radiação solar pode transformar-se, mais ou menos diretamente e com melhor ou pior rendimento, em calor (energia térmica), e eletricidade (energia elétrica). Por sua vez, qualquer destas duas formas de energia pode converter-se em movimento (energia mecânica). De facto é possível converter diretamente radiação solar em eletricidade através de processos físicos que ocorrem em determinados materiais (meios condutores). Com base neste processo, há empresas que comercializam as chamadas células fotovoltaicas mas o seu rendimento e custo aconselham apenas a sua aplicação onde a distância à rede elétrica seja suficientemente grande para que a eletricidade obtida seja mais barata do que a extensão da rede até ao local de utilização. Esta situação da eletricidade proveniente diretamente das células fotovoltaicas pode verificar-se, por exemplo, em bombagem de água, iluminação doméstica, conservação frigorífica de alimentos em locais isolados, iluminação de faróis, alimentação de telefones em autoestradas, entre outros. A aplicação da energia solar mais habitual é, no entanto, o aquecimento de água ou de ar a baixa temperatura (até 60 ou 70 graus centígrados), podendo considerar-se económica em muitas situações, uma vez que o investimento no sistema solar pode, por vezes, ser recuperado pela poupança de energia nas formas tradicionais. Página 1 de 14 Justifica-se, economicamente, a aplicação da Energia Solar ao aquecimento de água ou de ar a baixa temperatura? O que interessa ao utilizador é saber se o seu gasto inicial na compra do sistema é pago pelo que vai poupar com a energia que o equipamento lhe fornece. Pode-se assim dizer que a aplicação é ou não economicamente vantajosa conforme: - as características do próprio sistema que condicionam o rendimento da conversão, tais como, a qualidade dos coletores e a boa execução e orientação da instalação; - a utilização da água ou do ar aquecido, porque dela depende a quantidade de energia que se poupa. Este último ponto é muito importante e nem sempre se lhe dá a atenção devida. Basta pensar que, em idênticas condições de disponibilidade de energia solar, um equipamento que permita, por exemplo, fornecer a água quente para banhos diários, tem um determinado custo e permite poupar muito mais energia se for utilizado todos os dias do ano do que se for aproveitado apenas esporadicamente, como acontece se estiver instalado numa habitação ocupada só nas férias ou nos fins de semana. Página 2 de 14 Como é que a Energia Solar pode ser posta ao seu serviço? O sol envia-nos energia sob a forma de raios de luz, a que se chama radiação. A atmosfera filtra grande parte dessa radiação deixando-se atravessar pela porção restante. Uma parte desta radiação chega ao solo diretamente: é a radiação direta. Outra parte «embate» nas gotas de vapor de água e poeira existentes na atmosfera sendo refletida em todas as direções chegando também ao solo mas sem direção determinada: é a radiação difusa. A radiação difusa não é de desprezar por duas razões: primeiro, porque nos meses de Inverno representa cerca de 50 % da energia total que recebemos e, segundo, num dia encoberto ainda dispomos de uma quantidade significativa de energia graças a ela. Podemos afirmar que o nosso país é favorecido pelo sol! De facto, recebemos cerca de 70 a 80 % da radiação recolhida nas zonas mais quentes do mundo e cerca de 2 vezes a radiação em países como a Inglaterra e a Alemanha. Portugal apresenta valores de insolação tão elevados que permitem pensar seriamente no seu aproveitamento, pois colocam à nossa disposição anualmente uma energia entre 1500 a 1900 KWh por metro quadrado. Página 3 de 14 Mas como aproveitar esta energia? Utilizar a energia solar pode ser algo muito simples. Por exemplo, já reparou que num dia de muito sol, uma mangueira no jardim aquece a água contida no seu interior? Quanto mais lentamente a água circular e quanto mais comprida for a mangueira mais quente sairá a água. Interessante? Sabia que nas zonas soalheiras da Austrália algumas pessoas colocam uma mangueira espalhada nas traseiras, a partir da janela da cozinha e regressando ao lava-louças. É quanto basta para aquecer a água que se utiliza na cozinha! Todos nós sabemos o que é entrar num carro fechado num dia de sol. O calor chega a ser insuportável e o contacto com qualquer parte do carro (por exemplo tocar no volante) quase queima. Este fenómeno é explicado pelo Efeito de Estufa. O Efeito de Estufa é o resultado de uma propriedade do vidro e de alguns tipos de plástico. Quando os raios solares atingem um vidro, atravessam-no quase integralmente sendo absorvidos pelos objetos que deste modo aquecem. Estes, por sua vez, também emitem outro tipo de raios, os Página 4 de 14 raios infravermelhos. Acontece agora uma coisa engraçada! O vidro que era transparente aos raios solares (não os deixa passar), é opaco aos infravermelhos emitidos pelos objetos. O vidro vai absorver os raios emitidos pelos objetos, aquecer e irradiar ele próprio por toda a sua superfície; tanto para uma face como para a outra. Os objetos receberão portanto, a radiação solar e ainda metade da radiação do vidro. E se a mangueira passasse dentro do carro, junto ao tablier? Pode parecer estranho, mas basicamente é assim que funciona um coletor solar! Com alguns aperfeiçoamentos, é claro! Um coletor solar plano é basicamente uma chapa preta de metal com tubos soldados ou canais dentro da própria placa. É constituído por: - Uma superfície absorvente (que é a placa); - Uma cobertura transparente; - Isolamento térmico lateral e posterior; - A caixa. Página 5 de 14 Como funciona? Grande parte da radiação solar que atinge a cobertura transparente é transmitida para o interior do coletor (há sempre uma pequena parte que a cobertura reflete e que absorve) e incide na placa. Esta transforma os raios solares (e os raios suplementares provocados pelo efeito de estufa) em calor que é conduzido (pelo próprio material da placa) até aos tubos com água. A água, ao circular, vai então transferir o calor até ao termoacumulador. Superfície absorvente Geralmente é em cobre, embora o ferro, aço e alumínio também sejam utilizados depois de tratados. É pintada de preto, pois as cores escuras absorvem mais calor que as cores claras. Os tubos devem estar bem soldados à superfície de modo a facilitar a transferência de calor da placa para a água. Há um tipo especial de superfície absorvente chamada superfície seletiva que é boa absorsora dos raios solares e má emissora dos seus próprios raios. Naturalmente que os coletores que possuem este tipo de superfície são mais caros. Contudo, as vantagens em termos de redução de área de coletores necessária e de durabilidade são geralmente compensatórias. Cobertura transparente Utiliza-se fundamentalmente por duas razões: para produzir o efeito de estufa e para evitar que o ar exterior arrefeça a superfície absorvente. Geralmente é em vidro, sendo necessário incluir juntas de dilatação na sua fixação à caixa. Isolamento térmico A sua função é reduzir o mais possível as fugas de calor pelo fundo e lados da caixa. O material mais aconselhado é a lã de vidro por ser económico, excelente isolador e resistente a mais de 100º C. Página 6 de 14 Caixa A caixa serve para acolher todos estes elementos. Contudo, deve ser estanque ao pó e à água. A condensação junto à cobertura deve ser evitada uma vez que diminui o rendimento do coletor. Como instalar o coletor? O coletor capta mais energia quando está perpendicular aos raios solares. A inclinação dos raios varia durante o dia e com as estações do ano ( o sol está mais baixo no inverno e mais alto no verão).Como os coletores serão fixos (um dispositivo para seguir o sol é caro), devemos orientá-los para sul para aproveitar ao máximo os raios durante o dia. No entanto, variações de 30º para este ou para oeste são aceitáveis. Virados a norte é que não! Por outro lado, devem inclinar-se os coletores tendo em conta o período da sua utilização. No caso do aquecimento de águas domésticas verifica-se que a energia solar é excedentária no verão e deficitária no inverno. Assim, é de todo o interesse escolher, quando for possível, uma inclinação mais favorável à captação de inverno embora diminuindo ligeiramente a captação durante o verão. Para tal, é utilizada geralmente a seguinte regra: o ângulo de inclinação dos coletores excede a latitude em 10 a 15 graus. Também é importante que o local escolhido para os coletores não esteja sujeito a sombras, que podem ser provocadas por árvores ou edifícios. Finalmente, do ponto de vista estético, convém que a disposição dos coletores não seja visualmente desagradável. Página 7 de 14 Pode a energia solar preencher a totalidade das necessidades de água quente? A resposta é negativa. De facto, não se pode contar com a energia do sol durante todos os dias do ano, havendo que prever o recurso a uma outra forma de energia convencional, a qual se designa por energia de apoio, não dependente de incontroláveis condições meteorológicas. Aliás, as necessidades de energia para aquecimento de água são, em termos globais, maiores precisamente quando a disponibilidade de energia solar é menor (banhos mais quentes no inverno). Neste momento, certamente que não se deixaria confundir com slogans do género «A energia solar pode satisfazer todas as suas necessidades de água quente». Sem dúvida que pode, mas seria necessário um sistema sobredimensionado e antieconómico. Agora veja a seguinte situação: o sistema solar aqueceu água até 32º C, mas pretende tomar um duche, para o qual a água deve estar a 40º C. Que sistema, e de que modo, fará este aquecimento suplementar? A resposta a esta questão é algo complexa e delicada, devendo cada caso ser analisado isoladamente. No entanto, os conselhos que se seguem poderão ser bastante úteis. Página 8 de 14 - - Se no seu caso já existe um sistema convencional de aquecimento de água, o melhor será estudar como adaptá-lo ao sistema solar, pois poderá poupar bastante utilizando o que já tem disponível. - - Em termos de eficiência, um sistema em que há um depósito de água quente «solar» que pré-aquece a água e em seguida existe outro depósito que fará o aquecimento suplementar, será o melhor (embora mais caro). É importante, de resto, encarar sempre o sistema solar como pré-aquecedor de água. Mas é precisamente este pré-aquecimento que poupa dinheiro. - - No caso do apoio energético complementar estar incorporado no depósito solar (por exemplo, uma resistência elétrica) o depósito deverá ser vertical e o apoio energético deve situar-se tanto quanto possível no topo do depósito. Que cuidados se devem ter na rede de distribuição de água quente de origem solar? Como a distribuição é feita através da rede normal de água quente os cuidados a ter são os mesmos que em princípio se devem observar em qualquer tipo de instalação, nomeadamente: - Tubagem em material que assegure a maior durabilidade (por exemplo, instalação de canalização em cobre) - Isolamentos que garantam um mínimo de perda de calor através das paredes da tubagem (recomenda-se cerca de dois centímetros em lã de vidro ou o equivalente noutro material isolante). Página 9 de 14 É aconselhável alterar os hábitos de consumo de água quente depois de adquirir uma instalação solar? Deve realmente haver uma preocupação constante de racionalização do consumo de água quente por forma a aumentar as economias de energia que, como se disse, são decisivas para a rentabilidade do investimento. Convém não esquecer que cada instalação é dimensionada, à partida, para um consumo médio previsto (normalmente de 50 litros por pessoa e por dia, considerando apenas os banhos, embora tal quantidade possa ser alterada consoante as outras utilizações desejadas) e, portanto, se esse consumo for excedido, baixa a percentagem de energia solar (fração solar) que satisfaz esse consumo, obrigando a aumentar a contribuição da energia de apoio. Durante a noite ocorrem normalmente perdas da energia armazenada no depósito (maiores ou menores consoante o seu isolamento) havendo vantagem em utilizar a água quente no fim do dia por forma a maximizar o aproveitamento da instalação. Página 10 de 14 Depois de adquirida a instalação solar, quais os principais problemas que podem surgir e, se possível, como evitá-los? Os problemas mais frequentes numa instalação provêm da dilatação, da ebulição e do congelamento do fluido de circulação. Qualquer deles pode ser evitado. A dilatação do fluido é uma consequência natural do seu aquecimento, podendo daí resultar uma pressão excessiva sobre as paredes das tubagens. Para o impedir deve ser previsto no circuito de escoamento do fluido um vaso de expansão, consistindo, basicamente, na comunicação entre a tubagem e um recipiente em contacto com a atmosfera, que absorva esse excesso de pressão. Num caso extremo de aquecimento do fluido devido, por exemplo, à não utilização do sistema solar (como acontece em casas não habitadas durante o verão), há o perigo de a água atingir o ponto de ebulição. Mas é possível evitar esta situação cobrindo os coletores durante o período de não utilização. Esta vaporização de água pode verificar-se por sobreaquecimento, sendo por isso conveniente prever a inclusão no sistema, de purgadores de vapor de água, na parte mais elevada do circuito. Uma alternativa consiste em utilizar no circuito, como fluido circulante, em vez de água, um fluido orgânico cuja ebulição ocorra a temperaturas mais elevadas do que as previstas para uma instalação solar. Finalmente, pode ainda acontecer que, para temperaturas ambiente muito frias, o fluido de circulação congele e o seu volume aumente, a ponto de destruir a tubagem. Em regiões onde este problema possa surgir há que prever na instalação processos de o eliminar, nomeadamente o esvaziamento automático da tubagem comandado por um termostato, a ligação de uma resistência aos coletores, ou ainda, a adoção de um fluido com baixo ponto de congelação. Página 11 de 14 Como escolher entre os equipamentos que estão à venda no mercado? Trata-se de uma opção que não é basicamente diferente da que se toma ao comprar, por exemplo, uma antena de televisão ou um esquentador. Encontram-se algumas marcas no mercado, e inúmeros instaladores, não se conhecendo regras infalíveis para garantir qual a melhor compra. Apenas no que se refere ao coletor, é possível aferir o seu comportamento pela sua reta de rendimento, dependente dos materiais com que é fabricado, mas essa informação técnica, mesmo que correta, não é de fácil apreensão por parte da generalidade dos consumidores. Assim, é preferível basear qualquer decisão de compra em informações colhidas sobre equipamento já instalado, e adotar um conjunto de procedimentos que diminuam o risco de adquirir uma instalação que não corresponda ao que dela se espera. Em primeiro lugar, convém pedir propostas, compará-las e fazer todas as perguntas julgadas necessárias para esclarecer os pontos significativamente diferentes em cada uma delas, quer quanto à solução técnica (incluindo a dimensão) quer aos custos de equipamento e de instalação. Qualquer dos fornecedores e instaladores deve dar referências de instalações por eles equipadas ou instaladas, que permitam inquirir junto dos respetivos utilizadores quais as vantagens e os problemas detetados nas suas instalações. Caso haja informações equivalentes sobre o comportamento de mais de uma instalação, o preço, incluindo o custo de manutenção, deve ser considerado como critério decisivo e, se os preços forem da mesma ordem de grandeza, deverá optar-se pela proposta que ofereça maiores períodos de garantia. Página 12 de 14 O que ganha com a compra de um sistema de aquecimento de água por energia solar? Todos os meses recebe em sua casa uma fatura relativa aos seus gastos em eletricidade. Se aquecer água utilizando um «cilindro», uma parte dessa fatura corresponderá precisamente à energia gasta neste aquecimento. Naturalmente, quanto mais água quente gastar, mais pagará por isso. Pode obter uma estimativa bastante realista dos seus gastos anuais em água quente, seguindo o raciocínio que se apresenta. Que quantidade de água quente utiliza a sua família? Uma família típica portuguesa (quatro pessoas) gasta, em média, por dia, 120 litros de água quente a 60º C. Este consumo pode duplicar quando a água quente também é utilizada em máquinas de lavar roupa e louça. Por exemplo, num duche gastamos cerca de 30 litros enquanto num banho de imersão gastamos mais do dobro, três litros para fazer a barba e dois litros para lavarmos as mãos, mas quando experimentamos a água do chuveiro podemos gastar cinco litros. Quanto poderemos poupar utilizando um sistema solar? Um sistema solar destina-se a aquecer o mais possível uma certa quantidade de água por dia. Em média não o faz a 100 % porque isto não é económico. Seria necessária uma área de coletores demasiado grande (com os custos que daí resultariam). O sistema convencional (cilindro elétrico, por exemplo) vai então fornecer a energia complementar para elevar a temperatura da água até ao valor desejado. Interessa então saber o que é a fração solar: Fração solar é a percentagem da energia necessária fornecida pelo sistema solar para aquecer a água Página 13 de 14 Isto é, a fração solar representa a poupança. A experiência vem mostrando que a fração solar ótima do ponto de vista económico varia entre 60 e 80 % das necessidades anuais. Assim, no inverno terá 40 % de poupança enquanto no verão e parte da primavera e outono receberá 100 % e água quente gratuita. Podemos poupar alguma energia regulando o termostato do termoacumulador entre 40 e 50º C, o que é suficiente na maioria dos casos. A fração solar seria então maior. Quais os benefícios da Energia Solar? O País beneficia porque: Reduz a dependência energética nacional (Portugal é fortemente dependente do exterior, importando mais de 80 % da energia primária). Reduz as importações de petróleo diminuindo assim a saída de divisas. Contribui para a descentralização energética. A sociedade beneficia porque: A energia solar não é poluente. As reservas de petróleo, carvão e gás natural durarão mais tempo, beneficiando assim os nossos descendentes. Página 14 de 14