Competitividade da Energia Solar no Brasil Rafael Kelman Introdução A tecnologia de Energia Solar Fotovoltaica (ESF) está em franca expansão no mundo. Programas de incentivo à energia renovável em diversos países, como Alemanha, Espanha, EUA e China, oferecem “feed-in tariffs”- tarifas diferenciadas (mais elevadas) para projetos de ESF e outras fontes renováveis, como eólica, biomassa, etc. Contratos de até 20 anos são assinados com as empresas distribuidoras, que compulsoriamente compram esta energia, repassam os custos aos consumidores. Como resultado, a capacidade instalada da ESF cresceu fortemente nos últimos anos, reduzindo custos de produção, aumentando a concorrência e trazendo inovações tecnológicas. A crise financeira de 2008 aumentou o inventário de placas no mundo, um fator conjuntural que também contribuiu para a redução de preços das placas fotovoltaicas. Na direção contrária está o alto custo da “conta de luz” no Brasil. Suas causas são bem conhecidas. 1 Kelman , por exemplo, mostra a evolução da tarifa da Light desde sua privatização em 1996 até 2008, apontando tributos (+562%) e encargos setoriais (+1178%) como grandes responsáveis pelo aumento da tarifa no período (+256%). Portanto, boa parte do aumento da conta de luz no país se origina fora do setor elétrico, mais precisamente no Legislativo. Tributos e encargos já respondem por mais de 40% da tarifa de energia. A elevada tarifa de energia do Brasil em termos internacionais traz à tona a questão: a ESF já é uma alternativa viável para consumidores de energia elétrica? Análise econômica da ESF no Brasil A análise de viabilidade será feita para a cidade do Rio de Janeiro, a partir de dados de radiação 2 obtidos do portal PVWatts para o aeroporto Santos Dumont. A produção anual esperada é 1352 kWh por kW instalado. A produção de energia horária em mês de maior insolação (fevereiro) é cerca de 20% superior à de menor insolação (julho), como mostra a figura abaixo: 700 600 500 400 Feb Jul 300 200 100 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 24:00 0 Figura: Watts gerados horariamente por kW instalado 1 Revista Custo Brasil, Ano 5, número 26, págs. 7 a 11, abril/maio de 2010 2 http://www.pvwatts.org Esta pequena sazonalidade na produção contrasta com a recém licitada hidroelétrica de Belo Monte, cuja produção esperada no período chuvoso (abril) é 15 vezes maior à do período seco (setembro). O exercício consistiu em um pré-dimensionamento e correspondente orçamento para um prédio comercial no Rio de Janeiro para atender a uma carga máxima de 40 kW e produção média mensal de 4500 MWh. Para atender a esta demanda serão necessárias 182 placas de capacidade unitária de 220 Watts, ocupando área de 354 m2 (facilmente disponível). Admite-se que a produção de é sempre inferior ao consumo de energia, sendo toda aproveitada para reduzir o consumo de energia da Light ou Ampla. Em consulta a fabricantes internacionais obtivemos a cotação para painéis monocristalinos de $1,85 por watt. Os conversores - equipamentos utilizados na transformação da energia produzida nas placas (corrente continua) em corrente alternada e em voltagem adequada - custam $0.33 por watt. Há ainda 2 o custo de instalação, admitindo como R$ 50 por m (R$ 18 mil, no exemplo). A anuidade dos custos totais dos equipamentos e instalação (incluindo alíquota de impostos de 25% e taxa de câmbio de R$ 1,75 por US$) a uma taxa de desconto real de 7% ao ano e vida útil de 15 anos é pouco superior a R$ 24 mil, incluindo R$ 2 mil com eventuais despesas com manutenção. Para a produção de eletricidade anual prevista, o custo da ESF no Rio de Janeiro é R$ 433 por MWh, cerca de 10% inferior à tarifa de energia (R$ 485 por MWh). Conclusões Os custos da ESF baixaram o suficiente para permitir uma utilização em maior escala junto ao local de consumo. Em locais como o Rio de Janeiro, seu uso é atraente porque a maior insolação coincide (na realidade provoca) maior demanda de energia elétrica pelo aumento do uso de ar condicionado. Com as premissas utilizadas, o custo atual da ESF é de R$ 434 por MWh. É muito caro quando comparado ao custo de geração em novas usinas, da ordem de R$ 140 por MWh, mas já inferior à tarifa de energia, que inclui geração e transporte de energia, encargos e tributos. Com a tendência de queda de preços e aumento na eficiência das placas fotovoltaicas, é possível que em breve ocorra uma onda de adesão à ESF. Como não se vislumbra a possibilidade do consumidor se desconectar da rede porque o consumo de energia ocorre também quando o Sol não brilha, será necessário aprimorar a regulação atual. Hoje pagamos pela energia consumida. No futuro será necessário separar o valor a ser pago pela energia consumida daquele destinado à disponibilização da rede de distribuição pela concessionária. Com o advento do smart grid o consumidor brasileiro também poderá vender a energia excedente durante as horas de irradiação solar intensa, e comprar da rede nas demais horas. Assim, quando o Sol estiver brilhando, os reservatórios armazenarão mais energia hídrica. Rafael Kelman é diretor da PSR