UNINGÁ – UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR INGÁ FACULDADE INGÁ CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA FATORES ETIOLÓGICOS DO APINHAMENTO DOS INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES PASSO FUNDO 2008 2 LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA FATORES ETIOLÓGICOS DO APINHAMENTO DOS INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES Monografia apresentada à unidade de Pósgraduação da Faculdade Ingá – UNINGÁ – Passo Fundo-RS como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Profª. Ms. Lilian Rigo Co-orientador: Prof. Dr. Lincoln Issamu Nojima PASSO FUNDO 2008 3 LUIZE RAVIZON LEITE BRANDA FATORES ETIOLÓGICOS DO APINHAMENTO DOS INCISIVOS INFERIORES PERMANENTES Monografia apresentada à comissão julgadora da Unidade de Pós-graduação da Faculdade Ingá – UNINGÁ – Passo FundoRS, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. BANCA EXAMINADORA: Aprovada em ___/___/______. ________________________________________________ Prof. Ms. ou Dr. (nome) - Orientador ________________________________________________ Prof. Ms. ou Dr. (nome) ________________________________________________ Prof. Ms. ou Dr. (nome) 4 DEDICATÓRIA A Deus, por nos conduzir e dar força na execução dos nossos projetos, e nos mostrar que para quem nele crê, tudo é possível. Ao meu amado e querido marido, Fabrício Baú Branda, pelo incentivo e incansável apoio. Exemplo de trabalho e dedicação à Odontologia em que me espelho na busca de ser uma excelente profissional. Aos meus queridos pais, Pedro Carlos Leite e Joceli Fátima Ravizon Leite e a minha irmã Liana, por estarem sempre presentes e participarem dos meus sonhos, incentivando e confiando. A eles dedico este trabalho, lembrando-me sempre do exemplo de paciência e amor por eles demonstrados, e que me auxiliarão a vencer os obstáculos e alcançar os objetivos. Aos familiares perdidos no decorrer desses três anos de especialização: a minha amada vó Anita, aos queridos tio Zé e tio Érico, pelo carinho, pelo exemplo de vida que nos deixaram e pelas pessoas maravilhosas que foram, dedico este trabalho. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, “que incomparável e inconfundível na sua infinita bondade, compreendeu os meus anseios e me deu a necessária coragem para atingir os objetivos, ofereço o meu porvir e agradeço pelas forças empreendidas neste trabalho.”. Ao meu marido, Fabrício Baú Branda, pelo auxílio nas traduções dos artigos, pela paciência nos momentos difíceis desta caminhada, e pela força dada ao longo desses anos que estamos juntos. À prof. Ms. Lilian Rigo, pela dedicação, carinho e atenção com que sempre me orientou na realização desta monografia. Ao prof. Dr. Lincoln Issamu Nojima, pelas correções feitas ao trabalho, pelo carinho e atenção, e por todo conhecimento transmitido no decorrer do curso de especialização. A coordenadora do curso de pós-graduação em Ortodontia, professora Anamaria Estacia e a todos os professores do curso de Ortodontia, pelos ensinamentos transmitidos para a minha formação clínica dentro da Ortodontia. Ao meu primo Carlos Eduardo Leite, por ter conseguido os artigos na PUC-RS, pelo carinho e atenção. 6 Aos meus colegas de especialização: Anderson, Celso, Claudiane, Daniela, Fernanda, Flávia, Gabriela, Lauter, Michelli e Rúbia pela amizade e companheirismo. A todos que direta ou indiretamente estiveram envolvidos no desenvolvimento deste trabalho. 7 EPÍGRAFE O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos. Eleanor Roosevelt O mais importante não é saber; é nunca perder a capacidade de aprender. Leonardo Boff 8 RESUMO O apinhamento dos incisivos inferiores permanentes é a maloclusão mais prevalente. No entanto, essa condição gera dúvidas frente as suas causas nos profissionais das mais diversas áreas da Odontologia. Esta revisão bibliográfica teve como objetivo pesquisar os fatores etiológicos do apinhamento dos incisivos inferiores permanentes. A maioria dos autores admite uma etiologia multifatorial para o apinhamento dos incisivos, envolvendo o crescimento mandibular residual, a morfologia dos incisivos, a maturação do tecido mole peribucal, a migração mesial dos dentes posteriores, ausência de desgaste devido à dieta moderna, bem como a erupção dos terceiros molares entre outros fatores. Todos esses parecem ter influência no apinhamento, sendo que para cada caso existe a combinação de um ou mais fatores. Palavras-chave: Apinhamento de dente. Etiologia. Maloclusão. 9 ABSTRACT The mandibular crowding is the most prevalent type of malocclusion. However, this condition creates doubts about their causes in the daily multi-professional clinic in various fields of dentistry. This literature review aims to find the various causes of the crowding of the permanent incisors lower. Most authors admits a multifactorial etiology for the crowding of incisors, involving growth mandibular later, the dental morphology, the maturation of the soft tissue perioral, mesial later teeth migration, due to lack of wear fron modern diet, and the eruption the third molars among other factors. All these seem to influence the crowding, and that in each case there is the combination of one or more factors. Key Words: Etiology. Malocclusion. 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO................................... 13 2.1 FATORES RELACIONADOS AO APINHAMENTO ÂNTEROINFERIOR.......................................................................................... 13 2.1.1 Desenvolvimento da civilização moderna..................................... 13 2.1.2 Morfologia dos incisivos................................................................. 15 2.1.3 Estágios de desenvolvimento........................................................ 19 2.1.4 Influência dos terceiros molares.................................................... 20 2.1.5 Crescimento mandibular residual.................................................. 24 2.1.6 Crescimento facial........................................................................... 27 2.1.7 Funções musculares anormais...................................................... 29 2.1.8 Condições periodontais.................................................................. 30 2.1.9 Migração mesial dos dentes........................................................... 32 2.2 TRATAMENTO ORTODÔNTICO E SUA RELAÇÃO COM O 3 APINHAMENTO ÂNTERO-INFERIOR.............................................. 34 CONCLUSÃO.................................................................................... 36 REFERÊNCIAS................................................................................. 38 11 1 INTRODUÇÃO As maloclusões podem apresentar inúmeras características e, dentre elas, o apinhamento dentário ântero-inferior constitui-se em um desafio para os ortodontistas, pois somente um completo entendimento do problema levará a uma correta resolução. Dessa forma, torna-se importante o conhecimento de sua etiologia, a determinação adequada da forma de solução do problema, bem como a sua subseqüente estabilidade. A falta de espaço para a acomodação dos dentes alinhados nas arcadas dentárias é denominada de apinhamento dentário, ou seja, discrepância entre a largura dos dentes e o espaço disponível no processo alveolar. O apinhamento é classificado em primário, quando está localizado na região anterior do arco e observado geralmente na dentadura mista, podendo também ser encontrado na dentadura decídua; secundário, quando está localizado na região intermediária do arco, a etiologia deve-se aos fatores ambientais, tais como hábitos, perda de elemento dentário, dentre outros; e por último terciário ou tardio, quando é localizado particularmente na região ântero-inferior do arco, e ocorre na dentadura permanente, na puberdade ou pós-adolescência (VAN DER LINDEN, 1974; KAWAUCHI et al; 2004; BERNABÉ; FLORES, 2005; PENA; PEREIRA; BIANCHINI, 2008). O apinhamento está presente em 37% das maloclusões classe I, sendo que em torno de 40% das crianças e 85% dos adolescentes têm algum grau de desalinhamento nos arcos dentários (RHEE; NAHM, 2000). No último Levantamento Nacional de Saúde Bucal realizado na região Sul do Brasil (SB200) verificou-se uma prevalência de 50,18% (2.419) do total de 4.821 crianças aos 12 anos com apinhamento dentário. Na faixa etária de 15 a 19 anos, os valores foram mais baixos: 42,39% (3.214) dos 7.582 adolescentes examinados. Estes dados refletem a alta prevalência deste tipo de maloclusão na infância e adolescência (RIO GRANDE DO SUL, 2003). Estudos recentes sugerem que, sem tratamento ortodôntico, aproximadamente dois terços dos adolescentes com bom alinhamento e oclusão normal irão desenvolver o apinhamento no início da idade adulta. Em função da alta prevalência o apinhamento tardio inferior pode até ser considerado um processo normal do envelhecimento, pois parte da população está chegando à idade adulta com a presença de uma dentição mais completa do que em outras épocas. 12 (RICHARDSON, 1994; ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999; ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). Entretanto, a preocupação em se manter os dentes perfeitamente alinhados, estimulou o estudo da etiologia deste apinhamento tardio, no intuito de evitá-lo (MARTINS, 1997). O objetivo deste trabalho é verificar os fatores etiológicos mais relevantes relacionados ao surgimento do apinhamento dos incisivos inferiores permanentes. 13 2 REVISÃO DE LITERATURA E DISCUSSÃO Este trabalho tem como metodologia a Pesquisa Bibliográfica. Para tal, foram utilizados livros, revistas, artigos, teses e dissertações, na forma impressa e eletrônica, das bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde da Medicina (Bireme), da Biblioteca Brasileira de Odontologia (BBO), e da Biblioteca Latino Americana e do Caribe (Lilacs). Foram utilizados os seguintes descritores na área da saúde: apinhamento de dente, etiologia, maloclusão. O desenvolvimento da civilização moderna, a morfologia dos incisivos, a pressão dos terceiros molares, o crescimento mandibular residual, o crescimento facial, as funções musculares anormais, as condições periodontais, a migração mesial dos dentes juntamente com os diferentes estágios de desenvolvimento, têm sido alguns dos fatores etiológicos observados na literatura com variada extensão e em diferentes combinações no apinhamento dos incisivos inferiores permanentes (PECK; PECK, 1972; RICHARDSON, 1994; RICHARDSON,1999; FREITAS, 2002; PROFFIT, 2002; ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). 2.1 FATORES RELACIONADOS AO APINHAMENTO ÂNTERO-INFERIOR 2.1.1 Desenvolvimento da civilização moderna Os registros de fósseis documentam tendências evolutivas em muitos milhares de anos que afetaram a dentição atual, incluindo diminuição no número de dentes e no tamanho dos ossos maxilares. De acordo com estudos, existe uma contínua redução no tamanho dos dentes anteriores e p osteriores nos últimos 100.000 anos. O número de dentes na dentição dos primatas mais evoluídos foi reduzido, se comparado ao padrão comum dos mamíferos. O terceiro incisivo e o terceiro pré-molar desapareceram, assim como o quarto molar (PROFFIT, 2002). Atualmente o terceiro molar humano, o segundo pré-molar e o incisivo lateral sofrem agenesia com freqüência, o que indica, para alguns autores, que esses dentes podem não estar sendo formados como forma de evolução. Comparados com populações primitivas, os humanos modernos têm ossos maxilares pouco desenvolvidos. É fácil verificar que se essa redução progressiva do tamanho dos maxilares não for bem combinada com a redução no tamanho e no número de 14 dentes, poderá levar a apinhamento e desalinhamento dentário. É muito difícil saber por que tal apinhamento teria aumentado tão recentemente, mas isto parece se comparar com a transição de sociedades agrícolas primitivas para sociedades modernas urbanizadas. Existe alguma evidência de que a maloclusão aumenta em populações bem definidas após a sua transição de áreas rurais para a cidade. Podese argumentar que a maloclusão seja outra condição agravada pelas modificações das condições da vida moderna, talvez resultando, em parte, do menor uso agora do aparelho mastigatório com comidas mais macias (PROFFIT, 2002). As populações primitivas tendem a apresentar uma prevalência menor de maloclusão que as populações contemporâneas em países desenvolvidos. Se a diminuição do comprimento do arco, e a migração mesial dos molares permanentes são fenômenos naturais, pareceria razoável que o apinhamento se desenvolvesse a não ser que fosse diminuída a quantidade de estrutura dentária durante os estágios finais de crescimento (PROFFIT, 2002). Pesquisas sobre aborígines australianos mostraram que a maloclusão era rara, porém ocorriam grandes quantidades de atrições oclusal e interproximal. O autor sugeriu que os dentes apinhavam quando não ocorria atrição com alimentos moles e preconizou a extração de pré-molares para promover o equivalente a atrição que ele viu nos aborígines. Com a mudança de estilo de vida da população aborígene, os desgastes oclusais e interproximais desapareceram, entretanto, o apinhamento tardio raramente se desenvolveu, apesar de a doença periodontal ter se tornado o maior problema (RAYMOND BEGG, 1954 apud PROFFIT, 2002). Verificando-se o desenvolvimento do ser humano, percebem-se grandes modificações de suas características anátomo-fisiológicas durante a evolução. Estudos antropológicos demonstram que a cabeça do homem sofreu modificações , em especial o sistema estomatognático, provavelmente em conseqüência da mudança de seus hábitos comportamentais e alimentares, pois o homem primitivo utilizava seu sistema mastigatório intensamente, não só pela variação do tipo de alimento, mas também como ferramenta ou arma de ataque e defesa em suas lutas. Isso o difere do homem moderno, pós-revolução industrial, que ingere alimentos mais amolecidos e que passam por fases prévias de preparação. A consistência da alimentação atual é bem diferente, podendo minimizar, a cada dia, a ação da mastigação e assim, provocar crescente modificação anátomo-fisiológica, 15 aumentando as possibilidades de perturbações em todo sistema (PENA; PEREIRA; BIANCHINI, 2008). Os alimentos duros parecem exercer influência em diversas estruturas, tal como a força da musculatura oral aumentando a carga de função sobre os dentes, atuando não apenas na qualidade da mastigação como também no desenvolvimento e manutenção dos ossos maxilares, dos arcos dentários e de todo o sistema estomatognático, possibilitando assim menores interferências oclusais. Já os alimentos moles teriam efeito atrófico sobre os ossos maxilares contribuindo para o aparecimento da maloclusão. Assim, a crescente incidência do apinhamento dentário nos últimos anos na população de áreas urbanas traz referência à mudança da consistência alimentar nestas regiões (PENA; PEREIRA; BIANCHINI, 2008). 2.1.2 Morfologia dos Incisivos Dentre os inúmeros fatores etiológicos responsáveis pelo apinhamento ântero-inferior, encontra-se a variação de tamanho dentário. Embora esta relação entre as dimensões coronárias e o apinhamento seja reconhecida, a natureza exata desta associação não é bem esclarecida (FREITAS, 2002). Smith, Davidson e Jipe (1982), sugerem que existe uma relação de causa e efeito entre a forma dos incisivos inferiores e a presença ou ausência de apinhamento. Concordando com isto, Martins e Ramos (1997) observaram que o aumento dos diâmetros mesiodistais de todos os dentes está diretamente relacionado com o aumento do apinhamento no arco. Arcos dentários com moderado, suave e sem apinhamento diferem, na maioria das vezes, significativamente em seu tamanho dentário mésio-distal e proporção de apinhamento individual e em conjunto, mas não no seu comprimento vestíbulo-lingual (BERNABÉ; FLORES, 2005). Peck e Peck (1972) sugeriram que o fator determinante no apinhamento incisal não era apenas o tamanho dentário, mas também o seu formato. A coroa dos incisivos pode apresentar várias formas: quadrada, triangular, ovoidal e mista. Foi declarado que o contato quanto mais largo, mais estável tendo menor chance de ceder a tensões e pressões. Incisivos com formato mais triangular apresentam maior apinhamento e maior recidiva em função da instabilidade da área de contato. Também verificaram que os incisivos inferiores bem e mal alinhados possuíam 16 características distintas de tamanho. A partir desse dado, formularam médias de tamanhos dentários ideais para o bom alinhamento dos dentes. Segundo os mesmos autores, o alinhamento dos incisivos inferiores depende do índice VL-MD. Esse índice deve ser calculado para os incisivos inferiores (Figura 1 e Figura 2). ÍNDICE = Diâmetro MD da coroa do incisivo inferior (mm) X 100 Diâmetro VL da coroa do incisivo inferior (mm) Figura 1 - Diâmetro mesiodistal da coroa do incisivo inferior. Paquímetro paralelo ao plano oclusal e paralelo ao solo. Fonte: CASTRO et al. (2007) Figura 2 - Diâmetro vestibulolingual da coroa do incisivo inferior - paquímetro perpendicular a toda incisal da coroa do incisivo (segundo o longo eixo da coroa dos incisivos inferiores). Fonte: CASTRO et al. (2007) O índice médio dos incisivos corretamente alinhados é de 88 mm a 92 mm para os incisivos centrais inferiores e 90 mm a 95 mm para os incisivos laterais. Os 17 pacientes com um alinhamento ideal apresentavam incisivos com menor largura mesiodistal e maior vestíbulo-lingual. Entretanto, os autores salientaram que é conveniente afirmar que problemas de desvios de tamanho dentário sejam somente alguns entre várias condições que podem levar ao apinhamento ântero-inferior (PECK; PECK, 1972). A média da largura dos incisivos pode ser uma ferramenta útil no diagnóstico, tratamento e contenção nos casos de maloclusão com apinhamento (RHEE; NAHM, 2000). Com o objetivo de verificar se os incisivos inferiores naturalmente bem alinhados possuíam características dimensionais distintas, Peck e Peck (1972), selecionaram dois grupos de mulheres americanas leucodermas, de ascendência européia, não tratadas ortodonticamente, com idade variando de 17 a 27 anos, sendo o primeiro grupo com 45 mulheres com todos os dentes permanentes irrompidos até os segundos molares, ausência de tratamento ortodôntico prévio, contato proximal presente e ausência de sobreposição dos incisivos inferiores, e o segundo grupo com 70 mulheres foi escolhido sem critério. Em ambos os grupos, os diâmetros mesiodistal e vestibulolingual máximo de cada incisivo inferior foram medidos diretamente na boca. O diâmetro mesiodistal máximo foi encontrado na, ou próximo à borda incisal; entretanto, o diâmetro vestibulolingual máximo, na maior parte dos casos, está abaixo da margem gengival, sendo então necessário posicionar a ponta do compasso subgengivalmente, impedindo assim a utilização de modelos de estudo. Concluíram que a forma dentária (dimensões mesiodistal e vestibulolingual – MD/VL) é um fator determinante na presença ou ausência do apinhamento dos incisivos inferiores. Rhee e Nahm (2000) realizaram um estudo com o objetivo de estabelecer a correlação entre a forma da face vestibular das coroas dos incisivos e o apinhamento. Após avaliarem modelos de estudo de 69 indivíduos (30 do gênero masculino e 39 do feminino), divididos em dois grupos, normal e com apinhamento. Encontraram que o valor médio mesiodistal para o grupo apinhado era significantemente maior na área incisal, e menor na área cervical. Portanto, a prevalência de apinhamento é maior em indivíduos com incisivos com forma triangular. A razão da largura (cervical x incisal) da face vestibular dos incisivos está relacionada com o índice de Little, método quantitativo para avaliar as 18 irregularidades dos dentes ântero-inferiores, envolvendo as medições da distância linear real dos pontos de contato anatômicos de cada incisivo inferior até o ponto de contato anatômico do dente adjacente, onde as somas destas cinco irregularidades representam a distância para o qual os pontos de contato devem ser movidos para atingir o alinhamento (Figura 3 e Figura 4). Este índice é classificado de acordo com os seguintes critérios: · 0 = alinhamento perfeito; · 1 - 3 = apinhamento mínimo; · 4 - 6 = apinhamento moderado; · 7 - 9 = apinhamento severo; · 10 = apinhamento muito severo. Figura 3 - A+B+C+D+E = Índice de irregularidade Fonte: CASTRO et al. (2007) Figura 4 - Técnica de medição do índice de irregularidade–o paquímetro deve ser colocado paralelo ao plano oclusal< medindo apenas o apinhamento linear horizontal dos pontos de contatos anatômicos. Fonte: CASTRO et al. (2007) 19 A importância clínica da constatação de formas diferentes de incisivos é utilizar recursos para atingir maior estabilidade pós-tratamento. Os incisivos com forma triangular apresentam pequenos pontos de contato, o que tornaria esses contatos mais instáveis, levando a deslizes e consequentemente ao apinhamento. Uma das formas de alterar esses contatos menos estáveis seria transformá-los em áreas de contato, por meio de desgastes interproximais. Esse desgaste não causaria desconforto ao paciente e não provocaria nenhuma reação dentinária pulpar (ARAUJO et al., 2006). 2.1.3 Estágios de desenvolvimento Existe uma forte tendência para que o apinhamento dos incisivos inferiores se desenvolva no final da adolescência até os 23-24 anos, não importando se estiverem bem alinhados inicialmente. Dessa forma, um apinhamento moderado dos incisivos inferiores tende a se desenvolver se os dentes estiverem bem alinhados inicialmente, ou se existia um apinhamento moderado pode tornar-se ainda pior. O aparecimento das mudanças pode ser verificado em alguns indivíduos por volta dos 17 aos 18 anos, e em outros, só mais tarde, por volta dos 25 anos (PROFFIT, 2002). Sanin e Savara (1973) estudaram os modelos e as teleradiografias de alguns pacientes em dois diferentes estágios: I, na dentadura mista, onde os únicos dentes permanentes presentes eram os incisivos e os primeiros molares inferiores; II, na dentadura permanente, e na maioria dos pacientes já se encontravam presentes os segundos molares. Destes pacientes estudados, 82% que não apresentavam apinhamento no estágio I não sofreram alterações, e 18% apresentaram apinhamento de leve a moderado. Dos pacientes com apinhamento no estágio I, 89% mostraram apinhamento também no estágio II, e apenas 11% apresentaram um completo alinhamento. Concluíram que a probabilidade de indivíduos sem apinhamento no estágio I continuarem sem apinhamento no estágio II é de 80%. E a probabilidade de indivíduos com apinhamento no estágio II mostrarem apinhamento no estágio I é de 90%. Richardson (1999) fez uma revisão das alterações no alinhamento do arco inferior de indivíduos não tratados com ortodontia, em vários estágios de desenvolvimento. Em média, o apinhamento diminuiu entre os 7 e os 12 anos e aumentou após esta idade. O maior aumento ocorreu na adolescência entre os 13 e 20 os 18 anos (média de 2,3 mm), dos 18 aos 21 anos o arco inferior se manteve relativamente estável em contraste aos anos anteriores. Pouca ou nenhuma alteração ocorreu na terceira década, e pequenos aumentos ocorreram posteriormente. Segundo a autora, isso sugere que as causas podem variar em diferentes estágios do desenvolvimento. Bishara (1999) avaliou a mudança nos incisivos inferiores de pacientes entre 12 e 25 anos de idade e então reavaliou os mesmos aos 45 anos de idade. Ele encontrou um aumento da discrepância dentária com relação ao comprimento do arco com a idade. A média da redução no comprimento do arco entre os pacientes de 12 e 25 anos era 2,7 mm nos homens e 3,5 mm nas mulheres. Geralmente o apinhamento é considerado uma condição normal de uma dentição permanente completa. Antanas e Giedrè (2006), em seu estudo verificaram que falta de espaço no arco inferior foi observado em quase 90% dos pacientes examinados. Eles sugeriram também que mudanças hormonais durante a adolescência ou gravidez poderiam causar um aumento na maleabilidade óssea. O osso perde em função da idade ou doença periodontal capacidade de resistir a pressões que anteriormente resistia. Esses fatores são mais prováveis como sendo causas do apinhamento que se desenvolve numa idade mais tardia depois de um período de relativa estabilidade. Fatores responsáveis para redução do arco dentário podem variar de uma pessoa para outra, e muitos destes fatores agindo em conjunto, ou em fases diferentes do desenvolvimento, podem contribuir para o apinhamento (ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). 2.1.4 Influência dos terceiros molares inferiores Após a adolescência, o apinhamento dos incisivos inferiores manifesta-se com freqüência e em diversos graus, podendo-se considerar como uma alteração normal da dentadura permanente e m j o vens tratados ou não tratados com Ortodontia. Entretanto, a preocupação em se manter os dentes perfeitamente alinhados, estimulou o estudo da etiologia deste apinhamento tardio, com o objetivo de evitá-lo. Como a manifestação deste desalinhamento ocorre concomitante à erupção dos terceiros molares, estes dentes tornaram-se o alvo principal das pesquisas. Em muitas delas foram apontados como “vilões”, contrastando com 21 outros resultados que os absolviam desta responsabilidade (MARTINS; RAMOS, 1997). Segundo a Associação Americana de Ortodontia (1999), a teoria de que os terceiros molares, quando em erupção, empurram o arco inferior, forçando os dentes posteriores para frente e apinhando os incisivos, constitui-se na explicação mais proclamada pelos clínicos gerais e pelos próprios pacientes como etiologia e recidiva pós-tratamento ortodôntico. Este conceito é atraente, visto que ele implica que os dentistas podem prevenir o apinhamento simplesmente pela extração dos terceiros molares antes que o apinhamento se desenvolva. O apinhamento tardio inicia mais ou menos na época em que os terceiros molares deveriam irromper. Na maioria dos indivíduos, esses dentes estão impactados porque o comprimento do arco não aumenta suficientemente para acomodá-los pela remodelação posterior do ramo. (PROFFIT, 2002). Segundo Richardson (1999), é uma impressão errada pensar que apenas terceiros molares impactados causam o apinhamento. Um terceiro molar que erupciona é provável que exerça maior pressão no arco dentário do que um que permanece impactado, e alguns terceiros molares impactados podem exercer maior pressão do que outros. O terceiro molar inferior inicia seu desenvolvimento no ramo mandibular em uma posição mésioangular relativa ao plano mandibular e gradualmente se torna mais vertical até que se encontre em posição para erupção. Os terceiros molares podem causar pressão enquanto eles estiverem tentando erupcionar, mas uma vez que eles se tornarem impactados e especialmente com os ápices fechados eles provavelmente deixam de causar esta pressão. Os dentes que forçam para estar no arco e erupcionam são os que provavelmente mais causam apinhamento. Como causadores do apinhamento, estes dentes exerceriam uma força na região posterior do arco dentário, provocando uma migração mesial de todos os dentes anteriores a eles, acarretando uma menor disponibilidade de espaço para os incisivos. Este processo estaria associado ao movimento mesial fisiológico dos dentes posteriores, decorrentes do componente anterior das forças oclusais. Alguns autores relatam que a remoção dos terceiros molares permitiria espaço adequado para acomodação distal dos primeiros e segundos molares, diminuindo assim a possibilidade de apinhamento anterior (RICHARDSON, 1982; MARTINS; RAMOS, 1997; BEEMAN, 1999). 22 Vego (1962) comparou pacientes com e sem os terceiros molares, entre 12 e 17 anos, observando um maior apinhamento no primeiro grupo. Lindquist e Thilander (1982) realizaram extrações unilaterais dos terceiros molares e observaram melhores condições de espaço (menor apinhamento) no lado da extração, em 70% dos casos, comparado ao lado controle. Resultados semelhantes foram encontrados por Antanas e Giedrè (2006). Forças geradas durante a erupção do terceiro molar podem causar apinhamento incisal, além de inclinação bucal ou lingual dos segundos molares. Em teoria, os terceiros molares não podem influenciar diretamente os incisivos, sem exercer um efeito ao segmento bucal e ao canino. Sanin e Savara (1973) enfatizaram que os primeiros molares podem também ser movimentados dependendo da sua posição original no arco dentário. A agenesia do terceiro molar e estudos de extração sugerem que a migração mesial é maior com a presença do terceiro molar em desenvolvimento. Essa sugestão é fortemente suportada pelos estudos de extração do segundo molar. A remoção deste dente isola o terceiro molar do restante do arco. A redução do apinhamento e movimento distal dos primeiros molares em pacientes que tiveram os segundos molares extraídos comparados com o aumento do apinhamento e movimento mesial dos primeiros molares em sujeitos sem extrações, dão evidências convincentes dos efeitos do desenvolvimento do terceiro molar na parte anterior do arco (BERGSTRON; JENSEN, 1960; RICHARDSON, 1999; PROFFIT, 2002). O padrão facial também pode influenciar o posicionamento dos terceiros molares e o apinhamento dos incisivos inferiores. Os pacientes com padrão facial vertical (dolicofaciais) apresentam maiores chances de impacção dos terceiros molares e de apinhamento dos incisivos inferiores (MARTINS; RAMOS, 1997). A idade em que os terceiros molares inferiores erupcionam coincide com a fase em que se inicia a diminuição do comprimento do arco no adulto, por volta dos 20 anos. Há uma tendência de associar estes fatos em função da dificuldade de estabelecer controle já que a análise dos fatores implicados no apinhamento inferior necessita de pareamento cauteloso dos grupos experimentais para se determinar o papel dos terceiros molares nestas modificações. Sendo assim, a remoção de terceiros molares com a intenção de prevenir o apinhamento dos incisivos inferiores ainda é infundada e, portanto contra-indicada (ADES et al., 1990; ANTANAS; GIEDRÈ, 2006; ARTESE, 2006). 23 Como já foi mencionado anteriormente, em pacientes não tratados ortodonticamente há um aumento da discrepância dentária inferior de 2,7mm nos homens e 3,5mm nas mulheres quando acompanhados dos 12 aos 45 anos de idade. Na verdade, o apinhamento ântero-inferior, mesmo pós-tratamento ortodôntico, é um fenômeno contínuo dos 20 aos 40 anos e muito provavelmente além. Assim, a presença, ausência, impacção ou erupção dos terceiros molares parece ter pouco ou nenhum efeito na ocorrência ou no grau de apinhamento dos incisivos inferiores (ARTESE, 2006). A divergência de opiniões entre escolas, autores e até mesmo da época se reflete no artigo de Lindauer et al (2007). Neste estudo através da análise de questionários enviados para ortodontistas e cirurgiões buco-maxilo-faciais americanos, pode-se observar que a opinião dos cirurgiões sobre a influência da erupção de terceiros molares, componente anterior de forças e com o apinhamento anterior da dentição foi significativamente maior do que a dos ortodontistas, assim como a recomendação da extração profilática dos terceiros molares na tentativa de prevenir o apinhamento tardio. Quando os terceiros molares apresentam condições favoráveis para irromper em boa oclusão, o apinhamento não deve ser justificativa para a extração. Como estes dentes constituem mais um sinal da discrepância dentoalveolar, do que causadores ativos do apinhamento, a simples extração geralmente não soluciona o problema. Além disso, sugere-se que o desenvolvimento dos terceiros molares, e não simplesmente a sua erupção, é que provoca a migração mesial, embora pequena, do segmento posterior. Desta forma, os mesmos cuidados tomados quando estes dentes estão impactados devem ser observados, buscando reduzir as alterações na região ântero-inferior (MARTINS; RAMOS, 1997; NIEDZIELSKA, 2005). Segundo autores, a recomendação para exodontia dos terceiros molares inferiores não pode ser apenas baseada na razão duvidosa de diminuir o apinhamento presente ou futuro dos incisivos inferiores (BISHARA, 1983; HARADINE; PEARSON; TOTH, 1998; BISHARA, 1999; ANTANAS; GIEDRÈ, 2006) 24 2.1.5 Crescimento mandibular residual Como resultado de crescimento, na mandíbula pode ocorrer, e realmente ocorre, um crescimento maior do que na maxila ao final da adolescência. É possível que o crescimento mandibular residual gere, de alguma forma, o apinhamento tardio dos incisivos inferiores. As pesquisas feitas com implantes por Bjork (1969) trouxeram um entendimento do porquê do apinhamento tardio e como este se relaciona, de fato, com o padrão de crescimento dos maxilares. A posição da dentição relacionada com a maxila e a mandíbula é influenciada pelo padrão de crescimento dos maxilares. Quando a mandíbula cresce para frente em relação à maxila, como geralmente ocorre ao final da adolescência, bem como antes, os incisivos inferiores tendem a se deslocar lingualmente, particularmente se estiver presente qualquer rotação excessiva (Figura 5) (PROFFIT, 2002). Figura 5- crescimento mandibular residual resulta em um movimento lingual dos incisivos inferiores. Fonte: ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA (1999) Em pacientes com uma oclusão anterior muito forte antes de ocorrer o crescimento mandibular residual, a relação de contato dos incisivos inferiores com os incisivos superiores precisa mudar. Nesta circunstância, ocorre um dos três fatos: (1) a mandíbula é deslocada distalmente, acompanhada de uma distorção da função da articulação temporomandibular e deslocamento do disco articular; (2) os incisivos superiores se inclinam para frente abrindo espaços entre eles; ou (3) os incisivos inferiores deslocam-se para lingual e se tornam apinhados (PROFFIT, 2002). Todos esses três fenômenos foram relatados. A segunda hipótese, inclinação e abertura de espaço dos incisivos superiores é a menos comum. O 25 deslocamento posterior da mandíbula acompanhado de disfunção da articulação temporomandibular pode acontecer e ocasionalmente pode estar relacionado com dor e disfunção miofacial, porém isso também parece ser muito raro. O deslocamento lingual dos incisivos inferiores, juntamente com o apinhamento e a diminuição da distância intercanina inferior, é a resposta mais provável (PROFFIT, 2002). Os indivíduos que apresentam uma mandíbula que cresce mais para frente que a maxila tendem a mostrar um maior aumento na irregularidade dos incisivos inferiores e também um aumento do ângulo interincisivos. Segundo os autores, uma possível explicação para a recidiva da irregularidade dentária, seria o “princípio do arco contido”, segundo o qual, à medida que o trespasse vertical aumenta, a força lingual imposta sobre os incisivos inferiores, a partir dos incisivos superiores, tende a comprimir e apinhar o arco inferior que está contido (VADEN; HARRIS; GARDNER, 1997). Não é necessário sequer que os incisivos estejam em contato oclusal para se desenvolver apinhamento tardio. Isto também ocorre comumente em indivíduos que apresentam uma mordida aberta anterior e uma rotação mandibular para trás, e não para frente. Nesta situação, a rotação mandibular leva a dentição para frente, colocando os incisivos contra os lábios. Isso cria uma pressão labial leve, porém duradoura, que tende a reposicionar os incisivos protraídos pra lingual, reduzindo o comprimento do arco e causando apinhamento (PROFFIT, 2002). Bjork (1969) sugeriu que graus extremos de crescimento mandibular rotacional podem resultar em apinhamento aumentado. Quando a mandíbula rota para cima e para frente, o padrão de erupção de todos os dentes foi movimentado em direção mesial, resultando em empacotamento do segmento anterior inferior. Em extrema rotação para baixo e para trás os incisivos inferiores se tornam retroinclinados em função da sua relação funcional com os incisivos superiores. Sanin e Savara (1973) analisaram 150 crianças leucodermas, e observaram que o crescimento horizontal da mandíbula, sem um concomitante crescimento maxilar, restringe o arco inferior, apinhando então os incisivos. Concluíram que o apinhamento ântero-inferior não ocorre devido à discrepância entre o tamanho dos dentes e do arco, mas sim de uma discrepância envolvendo vários outros fatores. Quando o crescimento mandibular residual ultrapassa o crescimento maxilar, forças originadas no arco maxilar e nos tecidos moles labiais causam verticalização 26 dos incisivos mandibulares. Esta verticalização, ou movimento lingual, resulta em apinhamento em função dos incisivos serem forçados a ocupar o menor perímetro no arco. Pode-se esperar crescimento mandibular residual ou diferencial com maior intensidade no final da adolescência, continuando de forma mais lenta no início da idade adulta (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999). Existem evidências que a mandíbula cresce por mais tempo que a maxila, e o osso mais basilar mandibular cresce mais que o osso alveolar. Se os incisivos inferiores não estiverem livres para avançar em função da contenção do arco superior, é provável que eles se tornem retro inclinados e apinhados (ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). Para Van Der Linden (1974), a continuação do crescimento mandibular, numa época em que há pouco ou nenhum crescimento do resto do complexo craniofacial, parece ser o fator contribuinte mais importante para a ocorrência deste apinhamento. O atual conceito é que o apinhamento tardio dos incisivos se desenvolva à medida que os incisivos inferiores, e talvez toda a dentição inferior, se movem distalmente em relação ao corpo da mandíbula no crescimento mandibular tardio. Isto também lança alguma luz sobre o possível papel dos terceiros molares em determinar se o apinhamento ocorrerá e quão grave ele será. Se houvesse espaço na extremidade distal do arco, seria possível para todos os dentes inferiores se moverem ligeiramente para distal, permitindo aos incisivos inferiores se verticalizarem sem apinhar. Por outro lado, terceiros molares impactados no arco inferior impediriam os dentes posteriores de se movimentarem distalmente e, se ocorresse o crescimento mandibular diferencial, a presença desses molares talvez garantisse o desenvolvimento do apinhamento. Neste caso os terceiros molares inferiores seriam o “último elo” numa cadeia de eventos que leva o apinhamento tardio dos incisivos (PROFFIT, 2002). Como mostrado anteriormente, o apinhamento tardio ocorre de fato em indivíduos que não apresentam os terceiros molares, portanto, a presença desses dentes não é uma variável crítica. O crescimento mandibular remanescente que ocorre após o crescimento normal é a maior chance para que os incisivos se tornem apinhados ou não (PROFFIT, 2002). 27 2.1.6 Crescimento facial Segundo Siatkowski (1974), uma possível explicação para a verticalização dos incisivos ao final da adolescência seria a diferença no padrão de crescimento entre o esqueleto facial e o tecido tegumentar circundante, pois esse sofre uma desaceleração mais rápida no seu crescimento que o tecido ósseo, resultando numa força com direção lingual sobre os incisivos. Outra possibilidade seria um aumento da rigidez, com o passar da idade, no tecido tegumentar bucal durante o crescimento tardio. Sakuda et al. (1976) apud Freitas (2002), realizaram um estudo cefalométrico e de modelos de 18 pacientes do gênero masculino e 12 do feminino, não tratados com ortodontia, avaliados nas idades de 12,14 e 17 anos. O objetivo era investigar as alterações no apinhamento dos arcos superiores e inferiores durante a adolescência e sua relação com o crescimento facial. Os autores concluíram que, de acordo com análise de regressão múltipla, o apinhamento inferior parece estar amplamente relacionado a algumas alterações cefalométricas ocorridas com o crescimento (menor protrusão dos incisivos superiores, pouco crescimento da maxila, grande crescimento vertical no segmento póstero superior, diminuição do ângulo intermolares), bem como algumas características cefalométricas presentes aos 12 anos (alto valor para o ângulo do plano mandibular, grande comprimento efetivo da mandíbula, pequeno comprimento do corpo mandibular, primeiros molares inferiores inclinados para mesial, pequena dimensão vertical no segmento póstero superior, grande altura facial superior). Portanto, o apinhamento secundário parece ser causado não apenas pelo padrão específico de crescimento, mas também pelo tipo de esqueleto susceptível ao apinhamento no começo da adolescência. Leighton e Hunter (1982) estudaram as características esqueléticas faciais associadas com o espaçamento ou apinhamento dos dentes inferiores nas dentaduras mista e permanente de uma amostra longitudinal de 80 indivíduos com dentes inferiores severamente apinhados. Esse estudo revelou que os indivíduos com apinhamento severo possuíam inclinação maior dos planos mandibular e oclusal em relação à linha SN que os outros indivíduos. Esse grupo também apresentava uma altura facial posterior diminuída, um menor valor para o comprimento do corpo mandibular, tendo a sínfise e os dentes posicionados mais para trás que os indivíduos dos outros dois grupos. Os indivíduos com espaçamento 28 apresentaram um maior crescimento mandibular anterior e uma maior rotação anterior da mandíbula. Os autores concluíram que dentes inferiores apinhados existem numa estrutura de suporte morfologicamente distinta, que possui uma direção de crescimento inferior e uma relativa deficiência na quantidade de crescimento. Perera (1987) estudou o crescimento rotacional da mandíbula em relação ao apinhamento dos incisivos em 29 indivíduos não tratados com ortodontia, por um período de 9 anos, com idades variando dos 11 aos 19 anos. As medidas foram analisadas usando análise cefalométrica convencional e análise baseada no método de Bjork de superposição de estruturas anatômicas definidas. Os resultados indicaram que o crescimento rotacional final da mandíbula está fortemente relacionado com o apinhamento incisal que ocorre comumente durante este período. Estas mudanças parecem ser mediadas por uma pró-inclinação compensatória dos incisivos mandibulares localizados na sínfise que está associado com esta rotação. O autor encontrou uma média de 4,09° para rotação mandibular anterior. Richardson (1994) estudou o papel do crescimento horizontal diferencial no apinhamento tardio do arco inferior. Oitenta e cinco indivíduos possuindo oclusões normais ou próximas do normal, ou ainda várias maloclusões, avaliados logo após a erupção dos segundos molares permanentes, foram acompanhados longitudinalmente por 3 ou 4 anos. Como resultados, a autora não encontrou qualquer diferença significativa na quantidade ou direção de deslocamento entre os dentes superiores e inferiores ou entre a maxila e a mandíbula. O pogônio alterou-se mais no sentido horizontal que o ponto B, sugerindo que o crescimento alveolar não mantém o mesmo ritmo que o crescimento esquelético. O aumento do apinhamento inferior foi pouco associado ao crescimento horizontal reduzido e o maior crescimento vertical da maxila, o deslocamento anterior dos incisivos e o aumento do crescimento da base mandibular foram até certo ponto relacionados ao aumento no apinhamento dos incisivos. Ainda a autora, após uma revisão de literatura, relatou que não há evidência suficiente para apoiar uma ligação causativa direta entre o apinhamento tardio dos incisivos e um padrão facial específico, mas os padrões de rotação mandibular foram suspeitos de contribuir com esse apinhamento. 29 2.1.7 Funções musculares anormais Geralmente é aceito que as estruturas dentoalveolares são susceptíveis a forças dos tecidos moles e se adaptam a uma posição de equilíbrio entre os músculos dos lábios, bochechas e língua (Figura 6) (RICHARDSON, 1994). Figura 6- dentes posicionados em uma zona de equilíbrio. Fonte: ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA. (1999) As forças provenientes dos lábios, das bochechas, da língua, dos dedos, ou de outros objetos podem influenciar a posição dos dentes, tanto no sentido vertical como horizontal, se as pressões forem mantidas por um tempo suficiente. Uma pequena quantidade de pressão contínua pode ser muito eficaz no deslocamento dos dentes. Qualquer dente individual ou todos os dentes de uma secção do arco podem estar deslocados para lingual ou vestibular, ou erupcionar mais ou menos do que deveriam erupcionar em condições normais (GRABER, 1961 apud PROFFIT, 2002). De acordo com o estudo de Cohen e Vig (1976) apud Richardson (1994), onde foram avaliadas 50 radiografias cefalométricas de pacientes dos 4 aos 20 anos, foi sugerido que o tamanho da língua relativo ao espaço intermaxilar aumenta com a idade, podendo gerar força anterior nos dentes inferiores. Foi sugerido também que a língua pode tomar uma posição mais inferior com a idade, em função 30 do crescimento, podendo compensar qualquer possibilidade de aumento da pressão anterior pela maior largura da língua. Mudanças na função dos tecidos moles podem alterar a relação entre os dentes e a musculatura. Adolescentes com incompetência labial, tornam-se mais atentos e exigentes com sua aparência, mantendo os lábios fechados com uma força consciente causando um aumento da pressão perioral (RICHARDSON, 1994). Essas investigações mostram que as mudanças nas estruturas dos tecidos moles estão presentes durante toda a adolescência, podendo alterar a pressão sobre o balanço nos incisivos inferiores, gerando o apinhamento (RICHARDSON, 1994). O crescimento mandibular pode trazer os incisivos inferiores para uma relação diferente com os tecidos moles. Comparando 25 pacientes que foram tratados ortodonticamente e desenvolveram o apinhamento inferior tardio com 25 pacientes que não desenvolveram. Verificaram uma forte tendência em manter a distância intercanina original em todos os casos. Os casos apinhados tinham uma distância intercanina antes do tratamento e retornaram à sua dimensão original após o tratamento com expansão. Os autores imaginaram que a musculatura do lábio não permitiu a expansão intercanina necessária para manter o alinhamento incisal. Ainda, sugeriram que como a mandíbula cresce em tamanho, os lábios exercem maior pressão do que a língua criando uma força no sentido lingual, que somada ou contrapondo a forças mesiais causam apinhamento incisal (ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). 2.1.8 Condições periodontais A explicação do apinhamento tardio dos incisivos inferiores sob o ponto de vista biomecânico sugere que cada contato dentário é classificado como uma articulação, de forma que o arco dental completo é um conjunto de várias articulações. O arco dental no sentido horizontal representa uma cadeia única onde duas superfícies convexas de articulação estão em contato e permanecem tensionadas pelo tecido fibroso dentogengival e dentoalveolar. Articulações compostas por superfícies convexas estão em posição mecanicamente estáveis sob compressão. A cada contato mastigatório, os incisivos superiores recebem o impulso de separação, e os incisivos inferiores tendem a convergir em contatos mais íntimos. 31 Assim, esta compressão poderia causar um deslizamento entre os dentes, especialmente na região incisal. Experiências em modelos de gesso mostram que estabilidade dimensional de um arco articulado é consideravelmente aumentada quando superfícies côncavas e convexas estão em contato. Usando o método do desgaste interproximal, o arco dental moderno poderia ganhar estabilidade similar ao da pré-história onde existia processo de abrasão aos dentes do homem (ANTANAS E GIEDRÈ, 2006). Proffit (1978), afirmou que dois fatores principais estão envolvidos no equilíbrio que determina a posição final dos dentes: a pressão da posição de repouso do lábio, da bochecha e da língua; as forças produzidas pela atividade metabólica dentro do ligamento periodontal, análoga às forças da irrupção dentária. A função do sistema de fibras transeptais consiste em estabilizar os dentes contra as forças que tendem a separá-los. Se esta estabilização é realizada pela manutenção dos contatos vizinhos num estado de ligeira compressão, então o efeito a longo prazo dessa compressão poderia ser um deslize dos contatos dentários e o colapso do arco. A remoção dos pontos de contato permite a contração das fibras transeptais e a aproximação dos dentes adjacentes. Essa força interproximal é aumentada após a carga oclusal e pode auxiliar e explicar a migração fisiológica e o apinhamento dos incisivos a longo prazo. Portanto, parece que o próprio periodonto pode estar ligado à recidiva pós tratamento (WALDRON, 1942; SOUTHARD; SOUTHARD; TOLLEY, 1992). De acordo com Richardson (1994), foi demonstrado a presença de uma força periodontal contínua na dentição mandibular, agindo para manter contatos proximais em um estado de compressão. Essa força é aumentada após carga oclusal. Foi verificado também significativa correlação entre força interproximal e desalinhamento anterior mandibular. Em função disso concluiu-se que as forças periodontais podem contribuir para o desenvolvimento do apinhamento tardio ânteroinferior. Há evidências que a condição periodontal pode influenciar na estabilidade dos incisivos inferiores. Um desequilíbrio leve entre lábios, língua e bochechas geralmente está presente. Os dentes são estabilizados contra este desequilíbrio leve por forças produzidas dentro do ligamento periodontal por metabolismo ativo. É difícil verificar como as forças periodontais, por si só, podem iniciar o apinhamento, mas 32 em combinação com outros fatores pode exacerbar o processo (RICHARDSON, 1994; ANTANAS; GIEDRÈ, 2006). 2.1.9 Migração mesial dos dentes A migração mesial dos dentes humanos vem sendo reconhecida desde o século XVIII, e pode ser causada por movimento fisiológico, por componente anterior de força da oclusão em dentes inclinados mesialmente, vetores mesiais de contração muscular ou contração das fibras transeptais do ligamento periodontal. (RICHARDSON, 1999). Owman, Bjerklin e Kurol (1989), também, observando longitudinalmente a região ântero-inferior de pacientes tratados e não tratados, encontraram uma resultante de forças recíprocas para mesial que se relacionou ao apinhamento ântero-inferior. Southard, Beherents e Tolley (1989) determinaram a distribuição e a disseminação da força promovida pelo componente anterior de força. Quando uma carga foi colocada nos dentes posteriores, esse componente da força oclusal progrediu anteriormente pelos contatos interproximais. Após avaliarem 15 indivíduos, os autores concluíram que o mau alinhamento dos dentes anteriores estava relacionado à magnitude do componente anterior e à firmeza dos contatos interproximais nos segmentos póstero inferiores. Richardson (1982) examinando 51 jovens, com média de idade de 13 anos, 22 homens e 29 mulheres, correlacionou o aumento de apinhamento dos incisivos com a migração mesial dos primeiros molares permanentes, aos 13 e aos 18 anos, todos com os terceiros molares presentes. Nestes cinco anos evidenciaram um aumento médio de 1 mm do apinhamento inferior. Em alguns casos o aumento foi de quase 4 mm e em 16% dos casos não ocorreu alteração no apinhamento incisal. O ponto de contato mesial do primeiro molar projetado sobre o plano maxilar foi usado para medir a alteração de posição deste dente ao longo dos 5 anos. Richardson (1996) em seu estudo, observou as inclinações axiais dos molares inferiores e incisivos e as mudanças de suas inclinações em relação ao aumento do apinhamento do arco inferior que comumente ocorre nos anos seguintes da erupção dos segundos molares permanentes. O presente estudo sugere uma 33 relação entre o aumento do apinhamento e a retroinclinação dos incisivos. Molares mesioinclinados e incisivos retroinclinados que continuam a erupcionar na mesma direção irão resultar numa máxima redução do comprimento do arco e um aumento no apinhamento. No entanto, a correlação pode explicar apenas 20% das variações na mudança da condição de espaço. Estudos atribuem o apinhamento tardio a movimentos mesiais causados por uma força fisiológica dos dentes, forças oclusais, função muscular e padrão de erupção. É possível que esses fatores contribuam para este problema, mas nenhum deles é associado com o fator primário (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999). Estudos longitudinais de oclusão normal demonstram que a movimentação dentária faz parte do processo normal de maturação da oclusão durante toda vida; portanto, o apinhamento dos incisivos poderá aumentar com a idade, mesmo em casos de oclusão normal (SINCLAIR; LITLLE, 1983). 34 2.1 TRATAMENTO ORTODÔNTICO E SUA RELAÇÃO COM O APINHAMENTO ÂNTERO-INFERIOR O desenvolvimento do apinhamento ântero-inferior após o tratamento ortodôntico envolve inúmeros fatores. Alguns deles relacionam-se diretamente ao tratamento ortodôntico, como: falta de uma completa correção da giroversão dos dentes, levando à quebra dos pontos de contato; aumento da distância intercaninos; alteração da forma dos arcos dentários; protrusão excessiva dos incisivos; falta de harmonia da oclusão; habilidade do profissional; não remoção das causas da maloclusão e tempo de contenção (PROFFIT, 1978; FREITAS, 2002). A posição estável dos dentes após o movimento dentário ortodôntico pode ser estabelecida apenas quando os tecidos conjuntivos do ligamento periodontal se adaptam à nova posição criada. Se a adaptação não ocorrer, os dentes podem voltar às suas posições originais após a remoção do aparelho. Ao final do tratamento, os dentes devem estar em equilíbrio com as forças exercidas pelo lábio, pela bochecha e pela língua e com as forças contrárias à erupção dentária, proporcionadas pelo ligamento periodontal (PROFFIT, 1978). Fastlicht (1970) comparou pacientes tratados (com média de idade de 19 anos e 8 meses) e não tratados com ortodontia (com média de idade de 19 anos e 10 meses), e encontrou maior apinhamento ântero-inferior nos não tratados, concluindo então, que o tratamento ortodôntico aumenta a estabilidade dos arcos dentários. No mesmo ano, o autor comparou o apinhamento ântero-inferior de 56 casos, 28 tratados e 28 não tratados com ortodontia, para determinar se o tratamento tinha influência sobre o apinhamento ântero-inferior e verificar as possíveis causas desse apinhamento. Os dois grupos tinham 13 pacientes do gênero masculino e 15 do feminino cada, e o grupo não tratado apresentava os incisivos inferiores alinhados. Ele estudou os inúmeros fatores como: gênero, idade, tamanho dentário, trespasse vertical e horizontal, distância intercaninos e presença de terceiros molares. Deste estudo, concluiu-se que o apinhamento dos incisivos é um fenômeno anatomofisiológico de adaptação observado nos casos tratados, bem como nos não tratados, que resulta da combinação de muitos fatores, tais como gênero, discrepância de tamanho dentário, grande trespasse vertical, redução da distância intercaninos, idade, função muscular, mecânica imperfeita, entre outros. Encontrou-se menos apinhamento nos incisivos do grupo tratado com ortodontia. 35 Quanto maior a largura mésiodistal dos dentes maior o apinhamento, proporcionalmente. Notou-se mais apinhamento ântero-inferior nos pacientes de gênero masculino. Os resultados de estudos longitudinais começam a esclarecer as alterações pós-tratamento ativo (pós-contenção) presente em casos tratados com ortodontia. O problema era a incapacidade em determinar se estas alterações ocorrem principalmente como resultado da terapia ortodôntica ou se fazem parte do desenvolvimento maturacional. A terapia ortodôntica pode alterar o curso destas contínuas alterações fisiológicas, por algum tempo, e possivelmente até mesmo revertê-las; no entanto, após a mecanoterapia e o período de contenção, o desenvolvimento do processo maturacional prossegue (VAN DER LINDEN, 1974). Pode-se observar, que tratamento ortodôntico e contenção nos adolescentes não os protegeram contra o apinhamento tardio. O tratamento ortodôntico corrige a maloclusão original, mas não modifica o processo de desenvolvimento do apinhamento tardio. Uma vez retirada as contenções, pacientes ortodônticos podem mostrar mudanças no alinhamento dos incisivos similares a pacientes não tratados. Alguns anos depois da retirada do aparelho existe um pequeno período verdadeiro de colapso do arco. No entanto, as irregularidades incisais aumentam com o aumento da idade de forma lenta e gradual (ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ORTODONTIA, 1999). O diagnóstico e tratamento de problemas relacionados a espaço requerem um conhecimento da etiologia do apinhamento e do desenvolvimento da dentição para se determinar o plano de tratamento para casos leves, moderados e severos (KAWAUCHI et al., 2004). 36 3 CONCLUSÃO Após revisar criteriosamente os dados da literatura sobre a etiologia do apinhamento ântero-inferior, constatou-se que a causa do apinhamento tardio pode não ser a mesma em todos os indivíduos, existindo mais do que um fator contribuinte. Alguns fatores parecem ter maior influência que outros, ou podem atuar em diferentes estágios de desenvolvimento: 1- A civilização moderna, na medida que verificam-se as modificações das características anatomo-fisiológicas durante a evolução do ser humano, juntamente com a mudança nos hábitos alimentares, parece constituir um dos prováveis fatores etiológicos do apinhamento dentário. 2- Os incisivos com formas mais triangulares apresentam maior apinhamento ou falta de espaço para um alinhamento adequado do que os incisivos com formas mais retangulares, em função da instabilidade da área de contato. 3- A influência dos terceiros molares no apinhamento dos dentes anteriores ainda é controversa. Entretanto, não existem evidências que possam incriminar estes dentes como sendo o fator etiológico mais importante nas mudanças do alinhamento dos incisivos inferiores. As evidências sugerem que a relação entre estes dois fenômenos é a de que eles ocorrem aproximadamente no mesmo estágio de desenvolvimento, ou seja, na adolescência e no adulto jovem. 4- O crescimento mandibular residual parece ser o fator mais importante para que o apinhamento dos incisivos inferiores se desenvolva. Este crescimento ocorrendo após o crescimento normal é a maior chance para que os incisivos se tornem apinhados. 5- Graus extremos de rotação na direção do crescimento mandibular podem resultar em apinhamento na região ântero-inferior. 6- Mudanças na função muscular dos tecidos moles, bem como condições periodontais, podem alterar o ambiente onde os dentes estão em equilíbrio entre os músculos das bochechas, lábios e língua, podendo causar apinhamento. 7- A movimentação dentária, no sentido mesial, faz parte do processo normal de maturação da oclusão durante toda vida, portanto, o apinhamento dos 37 incisivos poderá aumentar com a idade, mesmo em casos de oclusão normal. Contudo, movimentos mesiais podem contribuir com o apinhamento dentário. 38 REFERÊNCIAS ADES, A.G et al. Along-term study of the relationship of third molars to changes in the mandibular dental arch. Am J Orthod Dentofacial Orthop, Mexico City, v. 97, n. 4, p. 323-335, Apr. 1990. AMERICAN ASSOCIATION OF ORTHODONTISTS. Late mandibular incisor crowding. Orthodont Dialogue. v. 11, n. 1, 1999. ANTANAS, S; GIEDRÈ, T. Effect of the lower third molars on the lower dental arch crowding. Stomatologija, Baltic Dental and Maxilofacial Journal, Kaunas, v. 8, n. 3, p. 80- 84, Sept. 2006. ARAUJO, B.G.V et al. A forma dos incisivos inferiores e o apinhamento anterior inferior. J Bras Ortodon Facial, Curitiba, v. 11, n. 61, p. 94-101, jan./fev. 2006. ARTESE, F. Pergunte a um expert. R. Clin. Ortodon Dental Press, Maringá, v. 5, n. 1, p. 14-23, fev./mar. 2006. BEEMAN, C.S. Third molar management: A case for routine removal in adolescent and young adult orthodontic patients. J. 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