REQUERIMENTO (Da Sra. SANDRA ROSADO) Requer o envio de Indicação ao Poder Executivo, relativa à criação de Museu da Presidência da República Federativa do Brasil. Senhor Presidente: Nos termos do art. 113, inciso I e § 1o, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, requeiro de V. Exª. seja encaminhada ao Poder Executivo a Indicação em anexo, sugerindo a criação de um Museu da Presidência da República Federativa do Brasil. Sala das Sessões, em de Deputada SANDRA ROSADO 2013_1093 de 2013. INDICAÇÃO No , DE 2013 (Da Sra. SANDRA ROSADO) Sugere a criação de um Museu da Presidência da República Federativa do Brasil. Excelentíssima Senhora Ministra da Cultura Marta Suplicy: A professora e socióloga Maria Victoria Benevides afirma que a educação para a democracia comporta as dimensões da formação para os valores republicanos - como o respeito às leis e ao bem público, e o senso de responsabilidade no exercício do poder - e democráticos - como o amor à igualdade e o consequente repúdio aos privilégios; o respeito aos direitos humanos e o cultivo da tolerância e da solidariedade; e o acatamento da vontade da maioria, legitimamente formada respeitados direitos das minorias), bem como a formação para a tomada de decisões políticas. Para ela, três elementos interdependentes são indispensáveis para a compreensão da educação para a democracia: a formação intelectual e a informação; a educação moral e a educação do comportamento. O primeiro aspecto refere-se ao desenvolvimento da capacidade de conhecer para melhor escolher. Assim, a formação do cidadão implica acesso à informação, à cultura e ao conhecimento, em suas diversas áreas e acepções. O segundo aspecto relaciona-se à apreensão e à vivência de valores e à formação da consciência ética. E a terceira dimensão permite formar e estruturar, através da convivência social, hábitos de tolerância face à diversidade e à diferença bem como o aprendizado da cooperação, da solidariedade e das relações entre o interesse coletivo e o interesse individual, elementos cruciais em um ambiente 2 democrático e passíveis de desenvolvimento num contexto de educação para a convivência democrática. 1 Pois bem, Senhora Ministra, essas ideias, no nosso entendimento, bem se prestam a introduzir e fundamentar sugestão que, respeitosamente, vimos submeter à consideração de Vossa Excelência. E que, cremos, poderá contribuir para a criação e o fortalecimento da consciência cívica e democrática dos cidadãos brasileiros, sobretudo daqueles de pouca idade, como é o caso de nossas crianças e adolescentes em idade escolar. Trata-se da criação de um Museu da Presidência da República Federativa do Brasil. Temos observado que alguns ex-presidentes da República mais abonados ou com grande capacidade de mobilizar recursos – como é o caso dos Presidentes Juscelino Kubistchek, José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva -, tiveram a oportunidade, por si ou por meio de suas famílias, de organizar o rico acervo de experiências, documentação e objetos relacionados ao período em que exerceram a magna função de dirigentes do País, reunindo-o em instituição onde, de modo mais ou menos restrito, o material pode ser visitado e/ou consultado por alguns poucos amigos e conhecidos. Não obstante a importância de que se revestem estas iniciativas, pode-se dizer que todo um imenso conjunto de informações, documentos, depoimentos e bens cultural e politicamente relevantes está ainda por ser reunido e colocado amplamente à disposição dos cidadãos. Afinal, o Brasil, em sua não tão longa história, já teve mais de três dezenas de presidentes e não existe até hoje nenhum órgão ou instituição museológica, na capital federal ou noutra cidade, que agregue e cuide de divulgar tão rica trajetória e tão significativo acervo, essencial para que melhor se conheça e compreenda a história nacional e um dos principais traços dos países sob regimes políticos democráticos, a saber, a alternância de grupos e partidos políticos no poder. Como sabemos, memória que se esconde ou que se perde é história que se esvai. Portugal, por exemplo, tratou de instituir, há aproximadamente duas décadas, o seu Museu da Presidência da República, 1 Educação para a Democracia (versão resumida de conferência proferida em concurso para Professor Titular em Sociologia da Educação na FEUSP, 1996). http://www.hottopos.com/notand2/educacao_para_a_democracia.htm Acesso em 5/3/2013. 3 hoje sediado no Palácio de Belém, em Lisboa, e que se constitui em passeio cívico e cultural da maior relevância, seja para os nacionais ou para os estrangeiros. Apenas a título de ilustração, descreveremos a seguir as principais características dessa interessante instituição portuguesa, as quais poderiam inspirar nossos museólogos no caso da instituição de um órgão análogo em terras brasileiras. O Museu da Presidência da República de Portugal tem por missão estabelecer relações interativas entre os cidadãos visitantes e o Museu, que representa a Instituição Presidencial, promovendo a ampla participação social, cultural e artística. O projeto museológico português apoiase em cinco objetivos: 1. Criar um lugar de conhecimento e divulgação pública da história e da instituição, mediante a divulgação do papel e da ação da Presidência da República na sociedade portuguesa e junto da comunidade internacional; 2. Fomentar o interesse pelo estudo da história da Presidência da República e pela vida e obra dos vários Presidentes portugueses; 3. Desenvolver o trabalho de catalogação e inventariação do patrimônio pertencente ao museu e a outras instituições ou particulares, que, pela sua história ou ligação aos diferentes Presidentes, se enquadrem nos objetivos do museu e da sua ação; 4. Fomentar o conhecimento e o apreço pelo patrimônio cultural associado à Presidência da República, tanto de objetos como de espólios documentais, nele se enquadrando o próprio Palácio de Belém; 5. Salvaguardar e valorizar o patrimônio do Estado através da correta conservação e exposição das espécies que compõem o seu acervo ou daquele que se encontra ali depositado, bem como através da aquisição de peças significativas. Assentado em duas grandes vertentes - a pedagogia cívica e a intervenção cultural e científica -, o Museu português formou sua coleção a partir do conjunto dos presentes endereçados à Presidência da República nos dois mandatos do General Ramalho Eanes (entre 1976 e 1986). Ainda que importante, esse espólio não era representativo da História da República Portuguesa ou da memória dos homens que exerceram o cargo de 4 Presidente, o que motivou intenso e exaustivo trabalho de coleta em várias instituições, públicas e privadas, e junto dos descendentes dos demais Chefes de Estado portugueses. Recolheram-se não só os chamados ‘presentes de estado’, mas também os objetos pessoais dos Presidentes, documentos de arquivo e outras peças ligadas à instituição presidencial, permitindo reunir, em coleção peculiar, um conjunto de objetos heterogêneos característicos dos diversos ciclos da República Portuguesa, cujo valor, segundo os dirigentes do museu, se assenta na pluralidade e na capacidade de evocar referências basilares da memória coletiva. Independentemente da sua propriedade ou localização – pois os objetos do acervo podem ou não estar no espaço físico do Museu -, os objetos foram compilados em base de dados informatizada, disponível ao público através de programa que pode ser consultado no Portal do Museu. Dessa forma, o Museu combina a exposição tradicional de peças de coleção com sistemas interativos de informação e conhecimento. O percurso expositivo inicia-se com os Símbolos Nacionais e termina numa abordagem dos poderes, funções e atividade dos Presidentes da República. Além da exposição permanente, o Museu investe também em múltiplas atividades de extensão cultural, com destaque para a realização de exposições temporárias e itinerantes, para o museu virtual e uma ambiciosa política editorial. Com vista a atender às necessidades do seu público, que inclui crianças e jovens em idade escolar, foram criados os Serviços de Educação e de Formação, com atividades descentralizadas. Naturalmente que um projeto desta envergadura mobilizou apoios e parcerias variadas, públicas e privadas, de modo a viabilizar a criação e a manutenção do Museu ao longo do tempo. Senhora Ministra: detivemo-nos na descrição um tanto detalhada da referida instituição portuguesa com a intenção de mostrar como seria interessante e importante que também nós, os brasileiros, pudéssemos contar com um órgão análogo, sediado e Brasília, DF, e vinculado funcionalmente à Presidência da República ou mesmo ao Ministério da Cultura, que, nos últimos anos, vem se dedicando com afinco a organizar e fomentar o sistema museológico nacional por meio do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), criado em 2009 para gerir o ‘Sistema Brasileiro de Museus’, instituído pelo Decreto n° 5264/2004 e que se propõe a melhorar a organização, a gestão e o desenvolvimento dos museus e dos processos museológicos no País, bem como a valorizar saberes e fazeres específicos do campo museal. 5 Na medida em que visa a constituir uma ampla e diversificada rede de parceiros que, somando esforços, contribuam para a comunicação, a valorização, a preservação, a pesquisa, o gerenciamento e a fruição qualificada do patrimônio cultural, de modo a transformá-lo num dispositivo estratégico de desenvolvimento e inclusão social, tornando-o cada vez mais representativo da diversidade cultural brasileira, o Sistema Brasileiro de Museus há de tornar-se mais completo com a criação do Museu da Presidência da República, que ora sugerimos, e que hoje constitui significativa lacuna em nosso País. Na certeza de que o descortino e a sensibilidade intelectual e cultural de Vossa Excelência haverão de acolher com simpatia o pleito que aqui trazemos, colocamo-nos à disposição do Ministério da Cultura para futuras conversações que possam conduzir à implantação, em breve, na Capital Federal, do Museu da Presidência da República Federativa do Brasil. Sala das Sessões, em de março de 2013. Deputada SANDRA ROSADO 2013_1093