KK K K Revista Campo & Cidade Edição n º 12 abril 2001 Jornalista Responsável: João José Tucano da Silva - MTb: 24.202 Edição: Rose Ferrari e João José Tucano da Silva Redação: Katia Auvray, Mariele Prévidi, Regina Lonardi e Rose Ferrari Foto da capa: Arquivo pessoal de Jair de Oliveira, foto da família Souza Maurino (1930) Fotografia: João José Tucano da Silva, Reinaldo Giannecchini. Agradecimento especial a todas as pessoas, entidades e clubes que gentilmente nos sederam material fotográfico utilizado nesta edição. Pesquisa de suporte: Katia Auvray Assessoria Técnica: Museu Republicano de Itu / Museu Paulista - USP Projeto Gráfico: Fernanda M. L. Revisão: Fátima Elaine Marqui da Silva Publicidade: UNICOM - Unidade de Comunicação S/C Ltda Fotolito: Editora Periscópio Ltda. Impressão: Igil - Indústria Gráfica Itu Tiragem: 6.000 exemplares Realização: editorial A caixa de ressonância do Carnaval Os funkeiros de plantão que nos desculpem, mas depois desta com certeza Chiquinha Gonzaga, Donga, Lamartine Babo, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Pixinguinha, Cartola e muitos outros compositores de marchinhas carnavalescas e sambas imortais que já partiram desta para uma melhor ficaram arrepiados e de ponta cabeça em seus túmulos com o que aconteceu no último Carnaval em termos de inovação, ao introduzirem o funk na festa de Momo, se é que podemos chamar isso de inovação. Queremos deixar bem claro que não temos nada contra o funk – segundo o Dicionário Michaelis a palavra significa aterrorizar, intimidar, assustar, medo, pânico etc. -, muito menos contra quem o curte, mas defendemos a idéia de que cada coisa deve ocupar o seu devido lugar. Imagine! Temos certeza de que você nunca viu a música sertaneja invadir a avenida do samba, ou, por exemplo, uma festa de peão de boiadeiro ser animada em ritmo carnavalesco, uma festa junina com valsa, ou um pagode com música clássica. Seria demais, você não acha? Uma coisa não se pode negar: o Carnaval é uma verdadeira “caixa de ressonância”. Eu vou tentar ser mais claro em meu raciocínio: o que o Brasil inteiro viu e ouviu no último Carnaval nada mais é do que o reflexo da própria sociedade, na qual, hoje, imperam a violência, a impunidade, a corrupção e a falta de respeito entre os seres humanos. Estão misturando alhos e bugalhos e os principais valores morais há muito foram deixados de lado. A toda poderosa mídia, por sua vez, se acha no direito de enfiar goela abaixo do povão aquilo que mais lhe convém. E por outro lado, sem querer desmerecer ninguém, muito menos ser dono da verdade, a grande maioria da população não se encontra preparada para separar o joio do trigo e ver o que é bom e o que é lixo. Infelizmente, essa é a grande verdade. Mas longe de nós querermos colocar o guiso no pescoço do gato. Como diz o adágio popular: “Gosto não se discute”. Há quem afirme, que se deve lamentar! Não temos aqui a mínima pretensão de fazer uma análise sociológica sobre essa questão, nem teríamos competência para tal, mas vale lembrar que já no início, o Carnaval, com seus lendários e famosos clubes cariocas, que ao mesmo tempo funcionavam como sociedades literárias e musicais, exerciam atividades sociais políticas ao criticarem os abusos e erros das autoridades em seus préstitos como verdadeira “caixa de ressonância” da sociedade daquela época. Isso vem comprovar que, no fundo, a folia de Momo funciona, de certa forma, como um espelho daquilo que a sociedade vive no momento. Na base da brincadeira, os foliões trazem à tona, ao mesmo tempo, suas alegrias, descontentamentos, frustrações e fazem críticas ou mesmo reproduzem fatos do cotidiano. Sendo uma das mais antigas festas da humanidade, o Carnaval tem sua razão de existir. Ninguém sabe ao certo a origem do nome dessa comemoração popular de origem pagã. Na versão do etmólogo Antenor Nascentes a palavra carnaval “se aplicava originalmente à terça-feira gorda, a partir de quando a Igreja proibia o consumo de carne”. Outros estudiosos afirmam que a palavra vem do baixo latim carnelevamen, modificado mais tarde em carne, vale! que significa adeus carne! Carnelevamen pode ser interpretado como carnis levamen, que quer dizer prazer da carne antes das tristezas e continências presentes no período da Quaresma. Nesta edição, a Revista Campo & Cidade traz aos seus leitores a história dessa festa milenar que tanto fascina e contagia o povo brasileiro e como ela foi introduzida aqui no período colonial e monárquico pelas mãos do entrudo português. Por fim, mostra sua evolução e riqueza cultural ao longo dos anos no Brasil, hoje, considerado mundialmente como o País do Carnaval. João José “Tucano” da Silva Editor responsável ÍNDICE Rua Inglaterra nº 276 Vila Roma Brasileira - Itu/SP Fones (11) 4022.0503 4023.4684 / 9948.0068 e-mail: [email protected] Carnaval: uma idéia muito antiga ................ 04 Quanto riso, oh! Quanta alegria... ............ 07 O maior espetáculo da Terra ........................ 12 Atrás do trio elétrico... ................................. 13 Festa do frevo e do maracatu ....................... 14 Carnaval à paulista ...................................... 15 Ó abre alas... ............................................ 18 Uma festa de R$ 2 bilhões ........................... 20 Memórias carnavalescas .............................. 22 Carnaval de salão em Itu .............................. 27 K!K CARNAVAL: uma idéia muito antiga Há milhares de anos a humanidade já subvertia a ordem em seus festejos Egípcios faziam festas para proteger a agricultura Culto a Baco (Dioniso) também era realizado em Roma K"K A origem do Carnaval é cheia de controvérsias, mas não há dúvida de que, como nos rituais antigos, os dias de folia têm a função de subverter a ordem e afastar, ao menos por um curto período, as coisas desagradáveis. Mesmo sem uma relação direta com o Carnaval de hoje, as festas da Antigüidade ajudam a compreender o fenômeno, pois simbolizavam a purgação dos males. Foi há 12 mil anos que a humanidade começou a domesticar animais e a plantar, mas é aos egípcios que se atribuiu o desenvolvimento da agricultura e dos cultos agrários feitos de danças, cânticos e orgias, que tinham por finalidade espantar as forças malignas que prejudicavam o plantio. Rituais semelhantes também ocorreram na Pérsia, em Creta, na Babilônia, com as Sáceas, festas que duravam cinco dias e eram marcadas pela promiscuidade sexual, pela inversão dos papéis e pela coroação de um escravo, sacrificado no final da celebração. Na Grécia, as bacanais em louvor a Dioniso, o deus do vinho, tinham muito em comum com o Carnaval. Eram dias de bebedeira, dança e luxúria, onde tudo era permitido. Dioniso foi expulso do Olimpo. Chegava todos os anos à Grécia, na primavera, acompanhado de um séquito de sátiros e ninfas. Era saudado por seus seguidores com música, danças, algazarra, vinhos, sexo e também violência, que muitas vezes terminava em tragédia. Concílio de Nicéia foi o começo das restrições às festas pagãs Em 370 a.C., Atenas perdeu sua hegemonia e o culto a Dioniso penetrou em Roma. As Bacantes, sacerdotisas que celebravam os mistérios do culto ao deus, lá conhecido como Baco, dançavam e soltavam gritos estridentes nas ruas, atraindo multidões. A bagunça fez com que o Senado Romano proibisse a celebração. Em Roma também se faziam festas semelhantes em homenagem aos deuses Saturno e Pã. Mania de festas Durante a Idade Média e o Renascimento, diversas festas carnavalescas aconteciam, mesmo fora de época, em vários países da Europa. Na Inglaterra eram as festas do Arado e em Portugal, o Charivari, uma caçoada pública acompanhada por batidas de panelas. O uso de máscaras virou mania no século 18. Em Veneza, homens, mulheres e crianças andavam todo o tempo mascarados. A prática estimulou o crime, já que a polícia não podia reconhecer o criminoso. O uso diário de máscaras foi proibido e os venezianos passaram a se mascarar só durante o Carnaval. Modismos foram incorporados às festas. Na Europa, o deboche deu lugar ao tétrico e ao macabro. Durante o Carnaval tornaram-se conhecidas as danças macabras da alta Idade Média, nas quais homens e mulheres iam para os cemitérios. Controle da Igreja A Igreja Católica, depois do Concílio de Nicéia, em 325, considerou as festas pagãs libertinas e pecaminosas. Incapaz de banilas, impôs as primeiras medidas que buscavam dar às cerimônias um tom mais sério para combater o deboche que sempre descambava para a promiscuidade. O povo nem tomou conhecimento. No século 6, o papa Gregório I, o Grande, regulamentou as datas para o Carnaval, que foi incorporado aos festejos cristãos. A Igreja teve muitos problemas com a festa pagã, pois havia uma grande participação de padres e noviços. Mesmo durante o período da repressão, os noviços organizavam a Festa dos Bobos. Elegiam um bispo ou abade dos bobos, organizavam danças na igreja e nas ruas, procissão e missa simulada. Usavam máscaras e roupas de mulheres, vestiam os hábitos de trás para frente, seguravam o missal ao contrário, jogavam cartas, cantavam cânticos obscenos e xingavam a congregação. O Entrudo O entrudo teve origem nas Bacanais e Saturnais e firmou-se com esse nome logo depois da oficialização do Carnaval cristão, por volta de 590. O povo passou a comemorar o início da Quaresma, bebendo e comendo para compensar o jejum. O ritual foi se tornando grosseiro, consistindo em aspergir água nas pesso- O canto do entrudo era uma melodia simples A aquarela de Augustus Earle (1824), do Museu National Library, de Camberra, retrata com fidelidade o entrudo K#K as para purificar o corpo, numa mistura de práticas religiosas judaicas e hindus. O entrudo entre os povos latinos durou por volta de 11 séculos, fortalecendo-se entre os anos 1200 a 1300. Na Itália dos Médices, o entrudo existia na forma de batalhas de gesso e de água que se incorporaram aos carnavais antigos. Em Portugal, atingiu o máximo de violência e falta de respeito, especialmente durante os reinados de Afonso VI (1656-1667) e João V (1706-1750). De nada adiantavam as reações contrárias da Igreja, os editais de proibições de 1817 ou até o terremoto que quase destruiu Lisboa. Nada fazia o entrudo desaparecer. Eram famosos os carnavais de Nice, no sul da França. O Mardi Gras - terçafeira Gorda, último dia em que os cristãos podiam comer carne - era celebrado com uma grande parada. Em Colônia, na Alemanha, as mulheres saíam pelas ruas para cortar as gravatas dos homens com tesoura. Em Veneza, na Itália, o Carna- Em Veneza, até hoje os carnavais são famosos pelo uso de máscaras val ainda hoje é comemorado com fogos de artifício, foliões mascarados, inspirados na Comedia dell’Arte, máscaras de porcelana, fantasias e carros alegóricos que Carnaval veneziano tem concentração influenciaram o munna praça San Marco do inteiro. O entrudo chegou ao Brasil vindo das ilhas Madeira, Açores e do Cabo Verde e era uma brincadeira violenta e suja. Mudança de hábito A partir do século 19, na Europa, o clero, a nobreza, os comerciantes e os profissionais liberais começaram a se afastar dos festejos carnavalescos, entendendo que tais K$K brincadeiras eram mais adequadas às camadas populares. A Reforma Protestante e a ContraReforma Católica exigiram posturas diferentes do clero. Os reformadores católicos ressaltavam a dignidade do sacerdócio. O pároco do velho estilo que punha uma máscara e saía dançando pelo meio da igreja ou das ruas foi substituído por um novo estilo de padre, mais educado e contrito. Os nobres também mudaram de comportamento. A fortuna e um verniz social fizeram com que se comportassem de uma maneira mais estudada. O Carnaval começou a ser encarado como exótico, curioso, fascinante, digno de ser registrado. Por isso quase desapareceu da Europa no século 19. Nesse período, os carnavais em lugares fechados exigiam maior decoro. KATIA AUVRAY Quanto riso, oh! Quanta alegria... Irreverência foi a marca registrada do Carnaval desde sua origem com o entrudo Durante quatro dias, a folia se esparrama pelas ruas, praças e clubes, na festa mais popular do País: o Carnaval. No anonimato, dançam juntos trabalhadores braçais, empresários, serventes e doutores. Caem na folia negros, brancos, índios e estrangeiros. A fantasia cria novas identidades. Cada um se transforma naquilo que deseja. É tempo de esquecer ou lembrar os amores perdidos, de cantar as paixões ou de buscar novos parceiros. Pode-se protestar contra o governo, reclamar da miséria ou sugerir soluções, tudo temperado com muito bom humor. Na Bahia, a festa ganha novas cores com os cultos religiosos. As escolas de samba do Rio de Janeiro são as protagonistas do grande espetáculo. Em Pernambuco, um só bloco reúne milhares de foliões. Em São Paulo, as escolas de samba se tornam mais belas e luxuosas a cada ano. Africanos e portugueses O carnaval chegou ao Brasil por dois caminhos: da África, de onde os negros trouxeram seus cantos e danças, e da Europa, com o entrudo português, realizado desde o século 16, no período que antecedia a Quaresma. A primeira manifestação carnavalesca de que se tem notícia aconteceu em 1641, quando o então governador do Rio de Janeiro, Salvador Correa de Sá Benevides, determinou que se dedicasse uma semana inteira de festejos para homenagear a coroação do rei Dom João IV, o restaurador da monarquia portuguesa. O povo adorou. Blocos e préstitos animaram as festas. A folia, diferente do entrudo, se estendeu até o domingo seguinte, com combates simulados, corri- Momo, personagem antigo O mito vem da Antigüidade. Entre os gregos e romanos, Momo era o ator que interpretava uma peça familiar e cômica por meio de gestos. É considerado pela mitologia como símbolo da irreverência.Há também outra versão de que na Roma Antiga, durante as festas a Saturno, escolhia-se o mais belo dos soldados para ser coroado como Rei Momo. Ele passava a receber um tratamento especial até o fim da festa, quando então era sacrificado num altar. No Brasil a idéia de coroar Momo, um obscuro personagem, como rei do carnaval foi dos jornalistas do jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro. Rei Momo é um dos símbolos do Carnaval brasileiro das de cavalos, jogos de argolinhas e blocos de mascarados. A palavra entrudo vem do latim Introitus (introdução). Consistia em batalhas com limão-de-cheiro ou laranjinhas fabricados pelas próprias famílias e cheias de água mal-cheirosa ou de perfumes suaves. Um mês ou dois antes da festa, as famílias faziam as laranjinhas de cera em forminhas. Enchiam-nas de água perfumada e esperavam na janela os conhecidos que passavam. Quando as laranjinhas acabavam, usavam copos d’água, regadores e baldes. Como se não bastasse, os rapazes saíam pela rua e pegavam à força qualquer um que passasse e o jogavam dentro de uma tina ou tanque cheio de água. No século 18, já se atirava de tudo: de urina a ovos podres e tomates estragados. O entrudo ganhou adeptos no Rio de Janeiro por volta de 1800. Inicialmente não havia música nem dança, e os foliões participavam de uma espécie de valetudo, em que as armas eram limões-decheiro, seringas, bisnagas e baldes com K%K No século 15, surgiu na Itália uma ópera que falava dos namorados Arlequim e Colombina. Arlequim era alegre, esperto e malicioso. Vestia roupas brancas, calças largas, gorro e uma máscara. Eram roupas cheias de remendos grandes e coloridos. Colombina era uma camponesa bonita que sempre se metia em confusão. Um dia, os namorados encontraram Pierrô. Ele era ingênuo, delicado, triste e apaixonado por Colombina. Usava uma roupa com pompons, gola de babados e tocava bandolim. Colombina ficou indecisa entre os dois amores. Fotos: Divulgação Arlequim, Pierrô e Colombina Pablo Picasso Arlequim, Pierrô e Colombina tiveram origem numa ópera italiana fuligem, goma, água e farinha. O tom festivo ficava por conta da população negra que ocupava as ruas com músicas e danças em grande passeata, agitando chocalhos, tocando marimbas e tambores. O maior problema do entrudo era a violência. A classe média tinha medo de sair às ruas durante o carnaval. Inúmeras vezes as autoridades tentaram proibi-lo, mas sem nenhum resultado. Até campanha foi feita com essa finalidade pela imprensa, que defendia um carnaval no estilo europeu, principalmente o de Veneza. Apesar disso, muitas donzelas recatadas, do alto das sacadas, despejavam bacias de água fria sobre os passantes, e até os imperadores Pedro I e Pedro II eram fervorosos adeptos do folguedo, não poupando os nobres da Corte. lança-perfumes, confetes, línguas-de-sogra e serpentinas foi fazendo com que o entrudo desaparecesse aos poucos. Acredita-se que o confete foi introduzido no Brasil em 1892 e que a serpentina nasceu em 1896, em Paris. Da Alemanha, vieram os narizes, barbas postiças, bigodes e óculos de celulóide colorido, em 1901.O lança-perfume chegou da Suíça, fabricado pela Rhodia. Cheirado ou bebido com cerveja, embalava os foliões, levando a excessos. Em 1928, o abuso fez com os lançaperfumes fossem proibidos nas ruas e nos salões, mas ainda assim ficou em evidência por quase 50 anos, até ser proibido por um decreto do então Presidente Jânio Quadros, em 61, e banido quatro anos mais tarde por Castelo Branco, durante o regime militar, que acabou com sua fabricação no País. Novos elementos A moda européia, feita de máscaras, Bailes mascarados Em 1840, no Hotel Itália, do antigo K&K Largo do Rossio, hoje Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, foi realizado o primeiro baile carnavalesco mascarado e com orquestra, promovido pela esposa do dono do hotel. O ingresso, 2 mil réis, dava direito ao buffet. Era o início da aristocratização do carnaval. Anos depois, a atriz e cantora italiana Chiara Delmastro organizou um deslumbrante baile de máscaras no extinto Teatro São Januário. Foi o primeiro realizado numa platéia e verdadeiramente carnavalesco. Só entravam mascarados e fantasiados. Foi um sucesso! Mais de mil casais lotaram o salão. A iniciativa despertou novos interesses e outros teatros passaram a copiá-la. Os bailes marcaram o início da participação feminina nos carnavais.Até então eram mal vistos pelos pais, que os consideravam festas para negros e mestiços. Com um carnaval veneziano, delicado, colorido com confetes e serpentinas, as damas da elite também poderiam ser acolhidas. A mulher costumava apreciar o movimento do alto dos camarotes. A dança era reservada a prostitutas e moças tidas como despudoradas. Zé Pereira A tradição do Zé Pereira surgiu em 1850, numa segunda-feira de carnaval. O sapateiro português José Nogueira de Azevedo Paredes convidou alguns Crianças brincam com lança-perfume na década de 50 patrícios para reviverem uma festa portuguesa. Armados de zabumbas e tambores alugados, o barulhento grupo saiu pelas ruas do centro do Rio de Janeiro e acabou tornando-se um marco nas folias de Momo. O sucesso foi tão grande, que no ano seguinte não faltaram imitadores que transformaram os “Zé Pereiras” numa tradição que durou meio século. O bloco saía às ruas vestido com qualquer camisa ou calça, não era preciso roupa especial e todo mundo podia participar. É possível que o nome “Zé Pereira” tenha saído da bebedeira do bando, que trocou o nome de Nogueira. Os corsos No início do século 20, o carnaval foi movido a gasolina. Surgiram os corsos carreatas dos que possuíam um automóvel. Em cima dos capôs, homens e mulheres mascarados e fantasiados com muita roupa, jogavam confetes e serpentinas uns nos outros, enquanto molhavam os lencinhos no lança-perfume. A brincadeira durou pouco, pois o aumento do número de veículos impossibilitou sua continuidade. Enquando isso, o povo se divertia nos cordões de predominância negra. O primeiro deles, batizado de Os Invisíveis, foi criado no final do século 19. Depois vieram muitos outros, entre eles o famoso Rosas de Ouro, para o qual Chiquinha Gonzaga compôs o “Ó Abre Alas”. Os cordões deram origem aos primeiros clubes carnavalescos, com sede própria e estatuto aprovado pela polícia, e aos blocos, formados por moradores de diversos bairros. Os mais populares eram os debochados e irreverentes blocos de sujos. Vieram os ranchos, agremiações intermediárias entre os blocos e as escolas de samba, que foram trazidos por exescravos da Bahia. Os mais antigos Em 1869, ainda durante o reinado de D. Pedro II, foi criada a primeira sociedade de foliões, o clube Democráticos Carnavalescos, instalado na antiga rua Direita, atual 1º de Março, no centro do Rio de Janeiro. O clube era amado pelas multidões e tinha a simpatia inclusive do imperador. No início, recebia pessoas de todas as classes sociais, exceto negros. Pouco depois, com a mudança do estatuto, participou até da campanha abolicionista, já que José do Patrocínio também era sócio. Mesmo com a adesão imperial, o clube atraiu os republicanos e seus salões foram muitas vezes utilizados para os discursos inflamados de Benjamin Constant e Patrocínio. Os Democráticos antecederam o samba. Dançava-se polca e valsa e os hinos eram árias de óperas. Depois introduziram o maxixe com coreografia de polca e tangos brasileiros. Foi um clube de vanguarda que desde os primeiros tempos utilizava carros alegóricos. Sua proposta até hoje é de moralização do carnaval e punição dos indisciplinados, além do desenvolvimento de ações sociais. O cordão da Bola Preta nasceu em 1918, como uma dissidência do Democráticos, exatamente devido às punições. Eles queriam um clube mais Bailes de máscaras foram copiados de Veneza Brasileiras no Carnaval deste ano em Veneza Bola Preta é uma das mais antigas sociedades carnavalescas do Brasil K'K Fotos: Divulgação Estácio de Sá foi a primeira escola de samba do País Jornal O Globo Desenho de Debret representa entrudo carioca no século 19 moderno e menos rígido. Com o passar do tempo, a entidade se fortaleceu, sempre com o lema Paz, Amor, Folia e Tradição. A música que abre os festejos, todos os anos -“Marcha do Cordão da Bola Preta” - foi lançada em 1958 . Seus estatutos são os mesmos desde a fundação, com a exceção da proibição do ingresso de homossexuais, derrubada em 1998. Em razão de dificuldades financeiras, as duas sociedades, que ainda existem, estudam a possibilidade de fundir-se para sobreviver. Escolas de Samba As escolas de samba surgiram da mistura dos blocos e cordões com a beleza dos ranchos. Em 1928 surgiu no bairro do Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, a pri- K K Com Joãosinho Trinta, o carnaval ganhou luxo meira escola de samba, a Deixa Falar, fundada por Heitor dos Prazeres, dentre outros. Depois vieram a do Morro da Favela (Fiquei Firme), a da Mangueira (Estação Primeira) e a de Oswaldo Cruz (Vai como Pode). Foi na Era Vargas, iniciada com a Revolução de 30, que o carnaval começou a ser valorizado. Em 35, os desfiles foram oficializados e subvencionados pelo governo. A festa virou atração turística, e o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) apropriou-se do carnaval popular para difundir os interesses governamentais. Foram utilizados temas nacionais nos enredos e as marchinhas sofreram censura. “Com que roupa”, “Mamãe eu quero”, “Yes! Nós temos bananas”, “Touradas em Madri” e “A Jardineira” se tornaram clássicos da música popular brasileira. Foi com Joãosinho Trinta , na década de 70, que uma nova forma de carnaval apareceu. Foi o fim dos temas oficiais. Gigantescas alegorias foram financiadas pelos banqueiros do jogo do bicho. A simplicidade dos primeiros desfiles passou a contrastar com a complexidade e organização dos grêmios recreativos, que hoje reú- nem de 3 a 4 mil participantes cada um. A preparação de uma escola para o Carnaval acontece quase um ano antes dela entrar na avenida. As agremiações desenvolveram o samba-enredo, tema musical do desfile. Até a década de 30, o samba era tocado basicamente com violões e cavaquinhos. Depois uniu-se com a percussão dos surdos e cuícas. O que deu origem ao samba moderno, base de outros gêneros musicais como a Bossa Nova, imortalizada por Tom Jobim e João Gilberto, e o Pagode. As décadas de 80 e 90 trouxeram grandes modificações econômicas e administrativas no carnaval carioca. Com a construção, em 84, de uma passarela definitiva para a realização dos desfiles - o Sambódromo - as escolas tiveram que se adaptar ao novo espaço. No mesmo ano surgiu a Liga Independente das Escolas de Samba - LIESA - que promoveu uma nova organização. Nem tudo é luxo Quem penetra nos bastidores do carnaval, nos chamados “barracões”, não acredita no que vê. São grandes galpões geralmente situados na zona portuária, onde são confeccionadas as alegorias, alguns adereços e fantasias das escolas de samba. A principal característica do trabalho é o segredo, e poucos podem entrar e ver o que está Sambódromo impôs uma nova organização ao carnaval sendo criado. É comum manter as alegorias cobertas para evitar que o segredo se espalhe antes do tempo e acabe com o impacto da hora da apresentação. Impera a improvisação e a informalidade. Os galpões, antigos armazéns, pertencentes à Cia. das Docas do Rio de Janeiro são invadidos, e, não há interesse das escolas em realizar obras de infra-estrutura, já que a qualquer momento podem ser despejadas. Algumas melhorias são feitas para permitir o trabalho: divisórias, luz elétrica, telefone, aumenta-se a largura dos portões de entrada, devido ao tamanho das alegorias e pequenos reparos no telhado. As relações de trabalho são informais. Raros são os profissionais que têm com a escola algum contrato. Não existe um sindicato de trabalhadores do carnaval, e, se algum trabalhador se acidentar, terá que contar com os dirigentes da escola. KATIA AUVRAY E ROSE FERRARI Artesãos convivem com a precariedade dos barracões K K Foto: Divulgação Duzentos e setenta e oito anos depois que os primeiros entrudos portugueses desembarcaram na cidade, o Carnaval do Rio de Janeiro atingiu o status de “uma das maravilhas do mundo”. A festa cresceu e se aprimorou a ponto de atrair milhares de turistas de todo o planeta. Há Carnaval em praticamente todas as cidades brasileiras, mas em nenhuma delas a grandiosidade atinge as proporções do Rio, onde, ao lado das manifestações coletivas de alegria, existe o Carnaval como megaespetáculo de luxo e criatividade. O ponto alto é o desfile das escolas de samba cariocas. Atualmente há 69 escolas divididas em seis grupos, de acordo com a sua importância. O principal deles é o chamado Grupo Especial que abrange 14 escolas, cujos desfiles acontecem no domingo e na segunda-feira de carnaval. Tudo é gerenciado pela Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA). Os quesitos utilizados para a premiação são bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, enredo, conjunto, alegoria e adereços, fantasia, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira. Desfile da escola de samba Beija-Flor neste ano O maior espetáculo da Terra O Carnaval carioca é hoje um show de arte popular movido a muito dinheiro Os preparativos começam nove meses antes para que as apresentações sejam as mais ricas e originais. É composto um samba-enredo para cada escola, acompanhado pelo som da bateria e da percussão. A cada ano, os sambas-enredo abordam temas comemorativos, de caráter social ou político. Coloridos carros alegóricos garantem um espetáculo à parte, além dos fogos de artifício e raios laser. Milhões de dólares são gastos na produção de cada show. Passarela do samba Antigo sonho dos sambistas, que defendiam desde 1970 um local definitivo para os desfiles, o palco da maior festa popular brasileira tornou-se realidade no dia 2 de março de 1984. K K O arquiteto Oscar Niemeyer foi o responsável pelo projeto, cuja obra foi construída em tempo recorde: 120 dias. Localizado na avenida Marquês de Sapucaí, o sambódromo, que atualmente leva o nome Passarela Professor Darcy Ribeiro, tem capacidade para acomodar 65 mil pessoas e fora do período de carnaval, transforma-se em um complexo educacional que abriga cerca de 8 mil crianças da rede pública de ensino. As escolas de samba carioca têm apostado na presença de estrelas do meio televisivo, musical, artístico e esportivo para atrair o público. MARIELE PRÉVIDI Atrás do trio elétrico... Até mesmo os filhos da terra reconhecem que “baiano quando não está em festa está ensaiando”. Os festejos populares se sucedem, concentrados no verão, mas estendem-se por todo o ano. As manifestações folclóricas, de diversas origens, encantam baianos e turistas com exibições ao ar livre e em casas noturnas, de capoeira, maculelê e samba-deroda. O grande clímax festivo da Bahia, no entanto, é mesmo o Carnaval: um delírio de massas que se estende por sete dias, desde a quarta-feira até a manhã da quarta-feira de Cinzas. A festa toma toda a cidade de foliões, fantasiados e pulando como “pipoca” atrás dos trios independentes, ou vestidos nos abadás e becas de seus blocos preferidos. Há o circuito central, o da orla e, o mais tradicional, do Pelourinho ao centro histórico. Neste último, o forte é a música das bandinhas de sopro e percussão, os blocos afros, afoxés e os fantasiados. Nos demais, desfilam os grandes blocos, com seus possantes trios elétricos, uma criação dos baianos Dodô e Osmar que virou mania em todo o Brasil. Fotos: Divulgação Na Bahia, a maior atração são os trios elétricos, uma criação de Dodô e Osmar Na capital baiana, Salvador, milhares de foliões acompanham os trios elétricos Trio elétrico A idéia de se criar o primeiro trio elétrico do mundo, surgiu com Dodô (Adolfo Antônio Nascimento /19131978), rádio-técnico e músico, e Osmar (Osmar Álvares de Macedo/1932-1997), inventor e músico. Eles se conheceram tocando em programas de rádio, ao lado de Dorival Caymmi, entre outros nomes já famosos na época. Em 1950, pela primeira vez, a eletri- cidade incorporou-se ao Carnaval baiano. Assim, em cima de uma fobica - um Ford 1929 - equipada com dois alto-falantes, eles se apresentaram nas ruas da cidade como a “dupla elétrica”. Foi um sucesso, mas havia resistências, principalmente da classe média. Dodô e Osmar não desistiram. No ano seguinte, melhoraram a qualidade do som e, com o surgimento de um terceiro músico, Temístocles Aragão, formava-se o trio elétrico. Em 52, já com um patrocinador, o êxito foi estrondoso e o trio seria, tempos mais tarde, glorificado pelo cantor Caetano Veloso, com o verso: “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu...” O trio elétrico é um caminhão equipado com modernos sistemas de som, além de instrumentos utilizados pela banda e um palco na parte superior, onde ficam o artista e a banda. A velocidade média do trio é de 2 Km/h, e ele ainda faz muitas paradas ao longo do percurso de cerca de 6 quilômetros para que os foliões possam brincar e dançar à vontade. REGINA LONARDI K! K gação Foto: Divul Festa do frevo e do maracatu Maracatus lembram cortejos aos reis negros da África Os pernambucanos costumam dizer que o Recife tem o melhor carnaval do planeta. Mas não é à toa. Desde o início do século 20, o carnaval já era realizado na cidade por sociedades carnavalescas, nas principais ruas do centro. Grupos de mascarados desfilavam, atraindo foliões de todo lugar. Essa fama ganhou força com a criação do bloco Galo da Madrugada. Em Pernambuco, o entrudo português assimilou as tradições africanas. No século 19, surgiu o frevo, marca registrada do carnaval pernambucano. Ele é originário do repertório das bandas militares, misturando-se aos ritmos do maxixe, da modinha, da polca, do tango, da quadrilha e do pastoril. Com o tempo, ganhou características próprias e passou a ser dançado com passos rápidos e acrobáticos. Galo da Madrugada Todos os anos em Recife acontece a maior concentração popular do mundo, K" K promovida por um só bloco de carnaval. Mais de um milhão de foliões transformam o centro da capital de Pernambuco, no sábado de Zé Pereira, num imenso baile a céu aberto.. O Galo da Madrugada, registrado no Livro dos Recordes, surgiu em 1977, como um pequeno clube de máscaras. Sua peculiaridade: os foliões começam a se concentrar às cinco e meia da manhã, o que explica o nome. O sucesso foi crescendo e hoje, para animar a multidão, são necessários mais de 30 trios elétricos. Maracatus Os maracatus encantam o carnaval de Pernambuco ao evocar antigos cortejos de reis negros. Chefes tribais africanos trazidos para o Brasil reproduziam gestos da nobreza européia para mostrar a sua força e seu poder, apesar da escravidão. Viajantes do século 18 já narravam os desfiles destas cortes e as coroações de soberanos do Congo e de Angola no O Carnaval de Pernambuco preserva as tradições folclóricas pátio da Igreja do Rosário dos Pretos, no Recife. Bonecos gigantes Irreverência, criatividade e alegria tornaram o carnaval de Olinda um dos mais famosos do mundo. Anualmente milhares de foliões chegam de todas as partes para desfrutar da beleza da festa, que acontece dia e noite nas estreitas ladeiras da cidade. Uma das características do carnaval olindense são os bonecos gigantes que arrastam milhares de foliões ao som do frevo. Além deles, mais de 500 agremiações, registradas oficialmente, alegram a cidade. Os bonecos, que chegam a medir até mais de três metros de altura, são carregados pelas ladeiras. O boneco gigante do Clube de Alegoria Homem da Meia Noite, de 1932, é um dos mais famosos. REGINA LONARDI Em São Paulo, a folia do Carnaval demorou para ganhar as ruas Em São Paulo, o Carnaval era uma festa restrita aos salões. Começou a ser praticado nas ruas atendendo às influências das escolas de samba do Rio de Janeiro, repetindo o estilo das grandes escolas cariocas ao enfatizar o luxo das fantasias e alegorias. O carnaval paulista começou nas sociedades familiares e, aos poucos, ganhou o povo. No século 19, em São Paulo, os costumes eram muito severos e não permitiam a presença de mulheres nas brincadeiras de rua. Elas assistiam aos cortejos e brincadeiras das janelas e sacadas. Os bailes de carnaval também eram restritos aos homens e às mulheres vulgares. Mesmo assim, muitos deles utilizavam máscaras para não serem reconhecidos. Durante muito tempo, o Carnaval se resumiu aos bailes, guerras de ovos e aos corsos - desfiles de carros pelas grandes avenidas. O desejo de criar um Carnaval tipi- Foto: Divulgação Carnaval à paulista Gigantescos carros alegóricos caracterizam o carnaval paulistano camente paulistano, sem copiar o carioca, levou as escolas de samba a um elevado grau de profissionalização, até que São Paulo encontrasse o seu próprio estilo. Muito contribuiu para isso a criação da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo em 1986. Para ela, enquanto o carnaval carioca é mais técnico e voltado para o turismo, “o carnaval paulista é mais amador, de sambista para sambista”. Hoje o desfile é composto pelo Grupo Especial que abrange as catorze escolas de samba mais importantes de São Paulo e pelo Grupo 1 que conta com nove escolas. Cerca de 110 mil pessoas integram as agremiações. O desfile acontece no Sambódromo do Anhembi, inaugurado em 1991 pela prefeita Luiza Erundina e reformado em 1994 pelo prefeito Paulo Maluf. Pelo seu formato, o sambódromo paulista obriga as escolas a fazer alegorias maiores do que as da Marquês de Sapucaí no Rio de Janeiro. Enquanto os carros cariocas têm em média 10 metros de altura, os paulistanos chegam a 15 metros. Reviver os corsos Neste ano, as ruas de São Paulo voltaram a ser o palco do corso. Historiadores e colecionadores de carros antigos ressucitaram o hábito, esquecido há cerca de 50 anos. Famílias fantasiadas desfilaram sobre antigos conversíveis, ao som de marchinhas e sambas da década de 30, atirando confetes e serpentinas. Ford Phaeton, Chevrolet 57, Jardineira Ford de 1931, Buik e Baratinhas foram alguns dos 30 veículos que participaram da festa. O desfile saiu do Memorial do Imigrante e terminou no Vale do Anhangabaú, depois de percorrer diversas ruas do centro velho. MARIELE PRÉVIDI K# K Ó abre alas... Marchinhas carnavalescas traduziam a irreverência brasileira A divulgação das letras carnavalescas era feita em livretos A marchinha de carnaval marcou época, reinou ao longo de muitos anos e foi transmitida de geração em geração, tendo como principais aliados a divulgação radiofônica, os bailes de salão e as próprias ruas. A marchinha é produto de uma mistura dos ritmos que inclui a polca, o one-step e o rag-time e apareceu no carnaval carioca em 1920. Muitos foram os compositores brasileiros que a imortalizaram, entre eles estão Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Cartola, Braguinha, Donga, Lamartine Babo, Noel Rosa, entre outros. A marchinha passou a formar dupla com o samba.Enquanto o samba é poético ou filosófico, a marcha é caricatural e gargalhante, maliciosa. No cancioneiro carioca estão inscritas centenas de marchas carnavalescas , consideradas como clássicos da música popular brasileira. Em 1899, a marchinha “Ó Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga apontava para o surgimento de um novo gênero musical brasileiro: as músicas carnavalescas. Essa marcha animou o carnaval carioca por três anos consecutivos e, ainda hoje, transcorrido mais de um século, é cantada pelo grande público. Desaparecimento Muitos foram os fatores que contribuíram para o declínio das marchinhas, mas, sem dúvida, a supremacia da música estrangeira e de outros gêneros carnavalescos (como, por exemplo, o sambaenredo), fizeram com que as gravadoras, multinacionais em sua maioria, mudassem de rumo. Nas décadas de 30 e 40, o custo de produção de um disco era baixo e a sua K$ K difusão, gratuita, o que permitia às gravadoras obterem lucros vantajosos. Com a sofisticação da técnica e o desenvolvimento da indústria fonográfica, houve melhoria na qualidade, mas os custos de produção subiram substancialmente, dificultando o acesso e a penetração das marchas. A partir dos anos 60, as gravadoras passaram a não mais investir no gênero. Restaram aos foliões, além dos velhos clássicos, os chamados sambas-enredo que, graças ao prestígio crescente das escolas de samba, independeram do disco para se popularizar. A fama das escolas de samba aumentou a cada ano e, se não sensibilizou o mercado do disco, acabou atraindo um outro meio de comunicação bem mais sedutor: a televisão. Com a chegada da transmissão em cores, no início dos anos 70, o carnaval passou a ser encarado como um espetáculo e obteve amplo destaque na mídia eletrônica. Com a participação cada vez menor do povo no carnaval de rua - para a glória das escolas - o samba-enredo pediu e ganhou passagem. As marchinhas ainda resistem nos salões, assegurando a tradição carnavalesca. O samba O samba chegou ao Rio com as baianas do bairro Cidade Nova. Uma delas, Tia Ciata, Hilária Almeida, (18541924), reunia músicos e boêmios que varavam a noite cantando. Em uma dessas reuniões surgiu a idéia da música que se tornaria o primeiro samba. “Pelo telefone” foi gravado em 1917 por Mauro de Almeida, o Donga, e falava sobre o jogo no Rio de Janeiro. A letra dizia”O chefe da Polícia/ Pelo Telefone/ Mandou me avisar/ Que na Carioca/ Tem uma roleta/ Para se jogar”. Começava a morrer a distinção entre a música de salão e a de terreiro. Os sambas foram consumidos vorazmente por quem podia comprar discos, e a festa se democratizou. Em São Paulo O samba paulista também teve origem nas reuniões da comunidade negra do final do século 19. Destacaram-se os negros de Pirapora do Bom Jesus que, no mês de agosto, por ocasião da festa em louvor ao Senhor Bom Jesus, eram excluídos das procissões. Eles ficavam presos em barracões para não incomodar os brancos com sua presença. Nesses barracões, de acordo com a tradição oral, recitavam versos engraçados e batucavam dia e noite num ritmo primitivo e apressado, acompanhados por uma zabumba. O escritor Mário de Andrade e o antropólogo franco-belga Claude LéviStrauss estiveram numa das festas de Pirapora e a registram nas obras “Saudades do Brasil” (Cia. Das Letras) e “Aspectos da Música Brasileira” (Martins Editora). Foi nessas festas também que Geraldo Filme, personagem importante do samba paulista, aprendeu fundamentos do batuque. Filme, que inovou com um samba de sotaque rural, teve discípulos como Adoniran Barbosa e Dona Maria Esther. Repressão No início do século 20, o samba transformou-se num caso de polícia, pois as classes dominantes o consideravam uma “coisa de marginal”. A repressão foi tanta que muitos negros chegaram a estimular o abandono dessas tradições musicais. Na década de 50, o ritmo começou a ser prestigiado. A chegada da televisão ao País mudou a mentalidade da população e os sambas puderam ser vendidos comercialmente como uma genuína expressão da cultura nacional. A arte de sambistas brancos colaborou para revolucionar os costumes e dar ao samba paulista novo prestígio. REGINA LONARDI E KATIA AUVRAY Fotos: Divulgação Chiquinha Gonzaga Francisca Edwiges Neves Gonzaga, compositora, instrumentista e regente, nasceu no Rio de Janeiro em 1847 e morreu em 1935. Aos 11 anos compôs a sua primeira música. Casou-se aos 13, e, aos 18, mãe de cinco filhos, abandonou o marido (oficial da Marinha Mercante) e levando consigo os filhos, passou a viver com um engenheiro de estradas de ferro, do qual também se separou logo depois. Enfrentando todos os preconceitos de seu tempo, Chiquinha foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Lecionava piano para poder sustentar seus filhos. Musicou aproximadamente 77 peças de teatro. Sua obra reúne composições dos mais variados gêneros: valsas, polcas, tangos, maxixes, lundus, fados, serenatas, músicas sacras, entre outras. Chiquinha Gonzaga e Donga foram pioneiros em composições carnavalescas Lamartine Babo O compositor Lamartine Babo nasceu no Rio de Janeiro, em 1904. Mesmo tendo sido um leigo em técnica musical, criou melodias inesquecíveis, resultantes de seu espírito inventivo e versátil. Lamartine tornou-se mundialmente conhecido através de suas marchinhas carnavalescas. Em suas letras predominavam o humor refinado e a irreverência. Como poucos, alcançou os dois extremos da alma brasileira: a gozação e o sentimento. Lamartine, mesmo sem formação musical, era criativo e versátil Sua primeira marchinha gravada foi a divertida “Os Calças-Largas”, em que debochava dos rapazes que usavam calças boca-de-sino. Em 1937, com a censura imposta por Getúlio Vargas, carnavalescos ficaram proibidos de utilizar a sátira em suas composições. Sem a irreverência costumeira, as marchinhas não foram mais as mesmas. Cartola É impossível falar de samba sem falar de Cartola. Nascido Angenor de Oliveira, em 1908, recebeu o apelido quando passou a usar um elegante chapéu-côco. Autor de sambas inesquecíveis como “As Rosas não Falam”, “O Mundo é um Moinho” e “O Sol Nascerá”, Cartola foi também um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, tendo sugerido o nome da escola e as cores verde e rosa. Nas favelas ou nos redutos intelectuais, Cartola é visto da mesma maneira: autêntico, harmonioso, lírico, genial. Morreu em 1980, deixando uma obra que hoje é referência para qualquer estudo sério sobre a música brasileira. Cartola e Noel Rosa estão entre os imortais da música brasileira K% K Eles fizeram o maior carnav MURILO TRETTEL MARIANO UNESP (Bauru) - Engenharia Mecânica / EFEI - Engenharia RENATO CESAR P. FERNANDES USP/UNIFESP, PUC/SP e Fac. Med. Jundiaí - Medicina TALITA MATSUSHIGUE USP/UNIFESP e UNESP - Medicina ANA PA UNICAMP e USP ( DENISE USP (São Pa FAAP U RELAÇÃO DOS ALUNOS APROVAD 01. Alexandre Facchini Gimenez .......................... UFSCar ........................................... Engenharia da Computação 02. Adriana de Stefano .......................................... PUCSP ........................................... Hotelaria (São Pedro) 03. Alberi de Oliveira ............................................. FADITU ........................................... Direito 04. Alex de Moura Campos ................................... PUCCAMP ...................................... Comércio Exterior ................................................................................ MACKENZIE .................................. Comércio Exterior 05. Alexandre Rocha Romboli .............................. ANHEMBI/MORUMBI .................... Turismo 06. Alice Bastida .................................................... Univ. São Francisco ....................... Medicina 07. Alvaro Augusto Pereira ................................... UNESP ........................................... Engenharia Cartográfica ................................................................................ PUCCAMP ...................................... Engenharia da Computação ................................................................................ UNIMEP .......................................... Ciências da Computação 08. Ana Carina Mosca ........................................... PUCCAMP ...................................... Direito 09. Ana Claudia Ribeiro da Silva .......................... USP(São Paulo) ............................. Nutrição ................................................................................ UNESP (Botucatu) ......................... Nutrição 10. Ana Cecília Lorenzon Carlini .......................... PUCCAMP ...................................... Odontologia ................................................................................ UNIMEP .......................................... Odontologia 11. Ana Luiza Fanchini Messas ............................ UNESP ........................................... Farmácia Bioquímica 12. Ana Paula Betinelli Alves ................................ UNICAMP ....................................... Engenharia Química ................................................................................ USP (Poli) ....................................... Engenharia ................................................................................ FAENQUIL ...................................... Engenharia Química ................................................................................ UFSCar ........................................... Engenharia 13. André Augusto Denadai Marques ................... FAAP ............................................... Administração 14. Bárbara G. S. de Camargo ............................. MACKENZIE .................................. Direito 15. Bruno Christiani Limongi ................................. UNESP (Bauru) .............................. Engenharia Civil ................................................................................ UFSCar ........................................... Engenharia Civil ................................................................................ UNICAMP ....................................... Engenharia Civil ................................................................................ FACENS ......................................... Engenharia Civil 16. Bruno Del Rio Duarte ...................................... PUCCAMP ...................................... Ciências Biológicas 17. Bruno Martini Bonaldo ..................................... USP/São Carlos ............................. Química 18. Bruno Mazzo .................................................... UNICAMP ....................................... Estatística 19. Caio Marcelo Kuan Ottoni ............................... PUCCAMP ...................................... Medicina 20. Camila Maria Galvão de Souza ...................... Fac. Prud. de Moraes .................... Publ. e Propaganda 21. Camila Theodora Monges ............................... FADITU ........................................... Direito 22. Carolina F. Nogueira Martins .......................... UNESP/Bauru ................................ Psicologia ................................................................................ PUCCAMP ...................................... Psicologia 23. César Rafael F. Terrasan ................................ PUCCAMP ...................................... Ciências Biológicas 24. Daniele Klopel Rosa ........................................ Univ. Sta. Catarina ......................... Eng. Aqüicultura 25. Denise Lícia Boni de Oliveira .......................... USP (São Paulo) ............................ Psicologia ................................................................................ UFSCar ........................................... Psicologia ................................................................................ UEL ................................................. Jornalismo ................................................................................ FAAP ............................................... Relações Internacionais 26. Diego Barros .................................................... PUCCAMP ...................................... Engenharia da Computação ................................................................................ UFSCar ........................................... Engenharia da Computação 27. Diego M. X. de Aguiar ..................................... USP(São Carlos) ............................ Engenharia Mecânica ................................................................................ UNICAMP ....................................... Engenharia Elétrica ................................................................................ UFSCar ........................................... Engenharia de Materiais ................................................................................ UFSC .............................................. Engenharia Mecânica 28. Diego Plana Robert ......................................... USP(São Carlos) ............................ Química ................................................................................ UNICAMP ....................................... Química ................................................................................ UFSCar ........................................... Engenharia Química 29. Dorilene Cristina Barbosa ............................... PUCCAMP ...................................... Relações Públicas K& K 30. Edgar Della Nina Muzzio ................................. USP (S 31. Emília Maria da S. Neves ............................... PUC/SP ................................................................................ USFSC 32. Felipe A. M. de Oliveira ................................... UNESP ................................................................................ UNIME 33. Fernanda Coluço Takeyama ........................... USP ... ................................................................................ PUCCA 34. Filipe Marcelo T. Abe ....................................... PUCCA ................................................................................ MACKE 35. Flávia de M. Italiani ......................................... UEL .... ................................................................................ USP ... ................................................................................ PUC/SP 36. Gustavo Guerrieri ............................................ PUCCA ................................................................................ FEI ..... 37. Gustavo Volpato .............................................. PUC/SP ................................................................................ MACKE 38. Guilherme Martino de Sant’Ana ...................... PUCCA ................................................................................ MACKE 39.Henrique Fornari ............................................... PUCCA 40. Isabel Amaral Nogueira de Sousa .................. PUCCA 41. João Paulo de Moraes Limongi ...................... FACEN 42. Juliano Pravatta Rezende ............................... UMC ... 43. Karen Michele M. C. Gandini .......................... FMU ... 44. Karla Cristina Boni ........................................... PUCCA 45. Laíse Cristina Corti .......................................... PUCCA 46. Leandro A. Francischinelli ............................... PUC/SP 47. Lourival Augusto P. de Almeida ...................... PUCCA 48. Lúcia Mettiello .................................................. UNIME 49. Lucila Trevizan ................................................. PUCCA ................................................................................ EFOA . 50. Luís Fernando M. de Oliveira ......................... UFSCa ................................................................................ UNICA 51. Luiz Fernando P. Giannecchini ....................... UNICA ................................................................................ USP ... 52. Marcela Cristina Z. Ferrari .............................. PUCCA 53. Maria Cecília V. Piva ....................................... FADITU 54. Maria Fernanda dos S. Costa ......................... FADITU ................................................................................ UNISO 55. Maria Luísa Pires ............................................. UNIME ................................................................................ UNIP .. 56. Michel Hulmann ............................................... USP ... 57. Murilo Trettel Mariano ..................................... UNESP ................................................................................ EFEI ... 58. Nícolas Ramos Caridiotis ................................ MACKE 59. Otávio Soccol ................................................... PUCCA 60. Patricia Mano Rosa ......................................... USP(R ................................................................................ UNICA ................................................................................ UNESP 61. Patricia Andreazza Rebelo ............................. PUC/SP 62. Paulo Eduardo Limongi Pacheco ................... UNIMA val nos últimos vestibulares AULA BETINELLI ALVES e FAENQUIL - Engª Química Poli) e UFSCar - Engª E LÍCIA B. DE OLIVEIRA aulo) e UFSCar - Psicologia Relações Internacionais UEL - Jornalismo DIEGO M. X. DE AGUIAR USP (São Carlos) e UFSC Engª Mecânica UNICAMP - Engª Elétrica UFSCar - Engª de Materiais DIEGO PLANA ROBERT USP (São Carlos) e UNICAMP - Química UFSCar - Engª Química RAQUEL FRUET DE MORAES USP - Economia MACKENZIE e PUC/SP - Direito DOS NOS VESTIBULARES 2001 ão Carlos) .......................... Química .......................................... Turismo ar ........................................ Ciências Sociais ........................................... Educação Física P .......................................... Educação Física ............................................. Fonoaudiologia MP ...................................... Arquitetura MP ...................................... Direito NZIE .................................. Direito ............................................. Odontologia ............................................. Odontologia .......................................... Medicina MP ...................................... Engenharia Elétrica ............................................. Engenharia Elétrica .......................................... Administração NZIE .................................. Administração MP ...................................... Publ. e Propaganda NZIE .................................. Publ. e Propaganda MP ...................................... Jornalismo MP ...................................... Direito S ......................................... Engenharia Civil ............................................. Odontologia ............................................. Med. Veterinária MP ...................................... Administração MP ...................................... Ciências Econômicas .......................................... Administração MP ...................................... Administração P .......................................... Publ. e Propaganda MP ...................................... Farmácia ............................................. Farmácia r ........................................... Engenharia Química P ....................................... Engenharia Química P ....................................... Engenharia Química ............................................. Matemática MP ...................................... Ciências Biológicas ........................................... Direito ........................................... Direito ............................................ Direito P .......................................... Fonoaudiologia ............................................. Fisioterapia ............................................. Ciências Sociais (Bauru) ............................... Engenharia Mecânica ............................................. Engenharia NZIE .................................. Direito MP ...................................... Geografia beirão Preto) ...................... Economia P ....................................... Ciências Econômicas ........................................... Ciências Econômicas .......................................... Direito R ......................................... Med. Veterinária 63. Rafael Toschi Chiafarelli .................................. UNIMEP .......................................... Contr. de Automação 64. Raquel Fruet de Moraes ................................. USP ................................................ Economia ................................................................................ MACKENZIE .................................. Direito ................................................................................ PUC/SP .......................................... Direito 65. Renata Cristina Tomba .................................... PUCCAMP ...................................... Relações Públicas 66. Renato César P. Fernandes ............................ USP / UNIFESP ............................. Medicina ................................................................................ PUC/SP .......................................... Medicina ................................................................................ FAC.JUNDIAÍ ................................. Medicina 67. Rodolfo do A. G. de Carvalho ......................... FEI .................................................. Engenharia ................................................................................ MAUÁ ............................................. Engenharia 68. Rodrigo Romano .............................................. FEI .................................................. Engenharia 69.Sergio C. de Souza Filho ................................. PUCCAMP ...................................... Publ. e Propaganda 70. Sheila Maria Stocco ........................................ PUCCAMP ...................................... Ciências Biológicas 71. Simone Sayuri Katahira .................................. UEL ................................................. Arquitetura 72. Talita Matsushigue ........................................... USP / UNIFESP ............................. Medicina ................................................................................ UNESP (Botucatu) ......................... Medicina ................................................................................ PUCCAMP ...................................... Medicina 73. Thomas dos A. Oliveira ................................... UNESP ........................................... Educação Física 74. Vinicius Navarro Andrietta ............................... UNESP(Bauru) ............................... Engenharia Elétrica Quem não faz Anglo, dança. Praça da Independência nº 151 Centro - Itu/SP - Fone (11) 4023.0365 K' K Fotos: Divulgação Uma festa Escola Grande Rio desfilou com 4.500 sambistas Da folia de antigamente pouca coisa restou. Os desfiles de escola de samba, iniciados na década de 30, que percorriam as principais ruas, foram confinados em sambódromos como os de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus para não atrapalhar o trânsito, e adquiriram a dimensão espetacular de hoje. A mais famosa festa pagã do mundo movimenta pelo menos R$ 2 bilhões. Financiadas pelas prefeituras, com o apoio de grandes redes de TV e favorecidas pelos investimentos maciços do turismo, as escolas de samba se institucionalizaram. São empresas com contabilidade e patrocínios. Os nostálgicos costumam lamentar a perda de “autenticidade” dos sambistas e da cultura popular que eles representavam. Dizem que as câmeras comprometeram o brilho original por valorizar mais as socialites, emergentes, artistas e atletas famosos do que as cabrochas da favela. O que pode explicar essa transformação é que o Carnaval atual não é somen- K K te sinônimo de folia. É fonte de lucros para cerca de 52 setores da economia nacional. Bastam quatro dias para aquecer os mais diversos ramos - do vendedor de sorvetes na praia ao industrial que fabrica isopor. Só no Rio de Janeiro, calcula-se, o Carnaval chega a movimentar algo em torno de R$ 1 bilhão, e, apenas a Riotur, empresa ligada à Secretaria de Turismo do Estado, investiu R$ 14,5 milhões. Montante suficiente para atender às 120 mil pessoas que lotaram a cidade para assistir aos desfiles das escolas de samba na Avenida Marquês de Sapucaí. Empregos temporários Em São Paulo, a situação não foi muito diferente. A Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) avaliou o Carnaval deste ano como um dos melhores de sua história. Segundo Renê Rodrigues, diretor de comunicação da LIESA, cada uma das 14 escolas do grupo especial investiu R$ 700 mil para desfilar. Rodrigues lembra ainda que o Carnaval recebeu investimentos de R$ 30 milhões, incluídas as verbas publicitárias e o direito de transmissão do evento pela TV. Mas os R$ 30 milhões são apenas uma pequena parcela do que a festa gira na economia paulistana. Cerca de 12 mil empregos diretos e indiretos também foram criados. E é assim todo ano. Quando acaba um Carnaval, as escolas já contratam o carnavalesco para fazer o próximo. No início, há um trabalho de pesquisa e desenvolvimento de fantasias e carros alegóricos. Entre maio e junho começam a des- de R$ 2 bilhões Investimentos envolvem 52 setores da economia e geram milhares de empregos Retoques finais da Império Serrano antes do desfile montar o barracão do Carnaval anterior. As escolas começam a trabalhar com força total entre agosto e setembro. Nessa época, recrutam centenas de pessoas para confeccionar as fantasias e alegorias. São produzidas entre 2 mil e 3 mil fantasias, adereços e alegorias. Para isso são contratados, normalmente em caráter informal, costureiras, serralheiros, marceneiros e decoradores. Amarildo Mello, carnavalesco da escola de samba Imperador do Ipiranga afirma que a maioria das pessoas que vem trabalhar temporariamente no Carnaval paulista é do Rio de Janeiro. Elas migram do Rio porque o Carnaval de São Paulo é mais rentável. As escolas paulistanas pagam melhor. Mas não é só São Paulo que contrata, não. Segundo Antonio Stelzer, diretor comercial da Gelre, empresa que atua no segmento de recursos humanos, a empresa formou um exército de 6 mil pessoas em todo o Brasil para trabalhar em diversos setores. O executivo afirma que cerca de 3,8 mil pessoas foram recrutadas para trabalhar no Carnaval de Salvador, na Bahia uma festa que movimenta quase R$ 500 milhões. “São seguranças, montadores e outros trabalhadores. Todos envolvidos nos já tradicionais trios-elétricos baianos.” Além das escolas e seus funcionários lucrarem com a festa, diversos segmentos do comércio vendem mais. O mercado de plumas, cola, isopor, tecidos e materias usados para fazer fantasias e alegorias é um dos mais aquecidos. As vendas sobem pelo menos 10%. Turismo Hotéis abarrotados, aviões lotados e o litoral brasileiro cheio de turistas. Essa é a tradução do Carnaval para a indústria do turismo. São milhares de pessoas do Brasil e do exterior gastando o seu rico dinheirinho nos quatro dias de festa, sonho de nove entre dez estrangeiros que escutam falar do País. Mais de 1,7 milhão de pessoas viajaram dentro do Brasil no Carnaval deste ano. Os números são do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), que calcula ainda que o fluxo de turistas neste feriado gerou uma receita de US$ 504 milhões. ROSE FERRARI Carnaval gerou neste ano milhares de empregos temporários K K Memó carna A história do é rica em Bateria do Bloco do R na década de 60 Lembrar a história do carnaval de Itu é despertar a saudade em seus foliões, que durante décadas animaram o povo e ajudaram a escrever novas páginas da folia de Momo. Dezenas de escolas e blocos participaram do Carnaval ituano. O tradicional Bloco do R, Colorado, Grêmio Recreativo Paula Souza, Bloco das Latas, Fantástico, Gorilas, Renascença, Jangadeiros, Homens da Caverna, Bloco dos Índios, Em Cima da Hora, Imperatriz do Rancho Grande, Vila Roma, Afro Brasileira, Associação Atlética Ituana, San Remo, Praça das Estrelas, Heróis das Crianças, República das Flôres, Kamikase, Vale do Sol, Mocidade Independente de Itu, Melhor Idade, União das Vilas, dentre outros. Marcaram época também os inesquecíveis grupos fantasiados, como o Dom Espirro I, A Gaiola das Loucas, As Ferinhas dos Comerciários e Alegria do Carnaval, além dos amigos Edson de Oliveira e Luiz Cavacchini, famosos por apresentar uma surpresa a cada ano. K K Imortal Com 43 anos de existência, o Bloco do R foi o único que permaneceu na ativa durante os altos e baixos do Carnaval ituano, quando chegou a desfilar sozinho. Segundo Darcy Duarte Barros Luigi, o Darcilão, um dos fundadores do antigo Bloco da Ralé, tudo começou com uma brincadeira entre amigos. “Nos reunimos e decidimos sair no carnaval vestidos de mulher. Escrevemos uma placa como bloco da Ralé, pegamos algumas latas e saímos batendo”. O sucesso foi grande e o bloco se organizou melhor. No ano seguinte, ganhou seu primeiro instrumento: um bumbo artesanal de madeira, sem regulagem de couro, confeccionado pelo marceneiro Chico Bruni. Dos 30 integrantes iniciais, o bloco contou com 300, nos períodos de glória. A mudança de Bloco da Ralé para Bloco do R aconteceu alguns anos após sua fundação com a aquisição de uma sede própria e a participação em carnavais de Cabreúva, Capivari e no Estádio Disputa entre Fantástico e Gorilas virou assunto de publicações da época rias valescas Do entrudo aos primeiros carnavais Carnaval do interior criatividade e bom humor do Morumbi, durante uma partida entre Santos e Corinthians. Mas o maior motivo de orgulho foi a participação da bateria ituana no show realizado pelas Mulatas do Sargentelli no Hotel San Raphael. Darcilão comenta que nos últimos três anos o bloco vem agonizando, o que o entristece muito. Colorado x Renascença Quando chegou em Itu, em 66, Anacleto Moreira, o Sargento Moreira, encantou-se com o desfile do Clube Recreativo Colorado, que exaltava a comunidade negra. Em 68, já fazia parte do bloco e revolucionou o carnaval ituano compondo “A Volta do Colorado”, primeiro samba-enredo no qual exaltava a própria escola. Naquela época não havia mestre-sala e porta-bandeira e os destaques eram o Rei e a Rainha, na época Eugenio Ribeiro e Elvira Dias. Em 72, Moreira criou o bloco Renascença, uma dissidência do Colorado. O primeiro desfile foi em 73 com 92 componentes e dois sambas. O Renascença não participou do Car- Simplicidade do Cordão Paz e Amor em 1945 Em Itu, o entrudo também foi reprimido. Em 1832, a Câmara de Vereadores proibiu o brinquedo, impondo uma multa de 2 mil réis aos que atirassem laranjinhas de cheiro ou de qualquer outra coisa. Se fosse escravo, além da multa passava dois dias na cadeia. Apesar das proibições, o entrudo ficou na ativa até meados do século 19, quando foi substituído pelo Carnaval. Na década de 30, já havia diversos cordões carnavalescos em Itu. O 1º de Maio, o Bloco Flor Ituana e o Paz e Amor marcaram época e deixaram saudade quando se extinguiram. A partir de 1936, surgiram em desfiles de rua os cabeções, gigantões, boizinhos e cavalinhos, influências do folclore nordestino que mais tarde desapareceram. O primeiro rei Momo da cidade foi Gumercindo Barranqueiros, em 1949, e a primeira rainha foi Elvira Dias, durante muitos anos. KATIA AUVRAY K !K Elvira Dias e Eugenio Ribeiro, casal de rei e rainha do Carnaval ituano, em fevereiro de 1970 nalmente, em 74, o Fantástico, inspirado no programa de mesmo nome exibido pela Globo. Nos anos seguintes, o bloco, que fazia questão de enfocar temas brasileiros, desfilou com Festa do Frevo, A Proteção dos Orixás aos Filhos de Oxóssi, e, por último, Alegria de Piolim no Carnaval de Outrora. A criação de uma bateria própria foi forçada pela ausência do Bloco do R num dos carnavais. O dinheiro para a compra dos instrumentos veio através de uma rifa. O bloco ganhou o nome de Grêmio Recreativo Escola de Samba Fantástico, com direito a ser batizado por uma escola de renome, a Camisa Verde e Branca, de São Paulo. Os jovens que compunham o grupo ingressaram na faculdade e o Fantástico se extinguiu. A saudade dos velhos tempos levou o grupo a criar, em 81, o Itu Elétrico, um caminhão com música eletrônica para animar os foliões. Gorilas Ao mesmo tempo que o Fantástico, surgiu o bloco Gorilas, inspirado no sucesso do filme Planeta dos Macacos, a partir de um grupo de amigos da Vila Nova que já desfilava, em 71, em seu Bloco de Sujos. No ano seguinte, utilizaram uma fantasia de gorila que impressionou todo mundo, como relembra Angelo Antônio Armenio, o Giló. O novo carnaval trouxe o bloco para o desfile com o tema “Planeta dos Macacos”, baseado nas roupas e cenas do filme do mesmo nome. Com o tema “Carnaval do Alasca”, passou a contar com a presença das mulheres. A partir de 75 o Gorilas passou a categoria de escola de samba. Em 81, o tema “Dez Anos de Alegria” fez uma re- naval de 75 por falta de recursos. O último desfile aconteceu no ano seguinte com o tema Palmares - A Tróia Negra e cerca de 130 componentes. Fantástico No início dos anos 70, a disputa entre os blocos Fantástico e Gorilas proporcionava belos espetáculos aos ituanos. Francisco José de Moraes Macedo, um dos fundadores e presidente do Fantástico, lembra que a rua Floriano Peixoto ficava dividida em dia de desfile. "De um lado estavam os torcedores do Fantástico e do outro os do Gorilas". A história do Fantástico começou em 71, quando um grupo de amigos que freqüentava as aulas de natação da Associação Atlética Ituana resolveu sair vestido de hippie no Grêmio Paula Souza, da Escola Regente Feijó. Nos anos seguintes, o grupo desfilou com os temas: Acadêmicos do Feitiço, Anjos do Mal e fi- K "K Gorilas conquistou 1º lugar em fantasia em 1972 trospectiva de todas as fantasias utilizadas. Com a inauguração do Clube de Campo em 83, a escola foi deixada de lado e o desfile de rua perdeu a prioridade. Hoje em dia o Gorilas desfila esporadicamente no Carnaval de rua de Itu. Outro bloco desse período foi o Praça das Estrelas, fundado em 75 por Silvio Belluci. "O bloco era composto em sua maioria por gays da região", revela Silvio. O público aguardava ansioso a sua passagem, que trazia luxo e beleza para as ruas. Os destaques ficavam apor conta de Jô Cabeleireiro, Paulo Rizzi e o mestresala Geraldela. Vila Roma Fundada em 1980, a Escola de Samba Unidos de Vila Roma, tricampeã do carnaval ituano, foi marco na história carnavalesca da cidade. Criada por moradores da Vila Roma, desfilou em 81 com 200 integrantes, como bloco, com o tema Roma Antiga. Segundo a carnavalesca Uma outra figura que nunca faltou no carnaval de rua de Itu é o carnavalesco Dom Espirro. Na foto, ele aparece ao centro acompanhado de Lúcio Argentino e Walter Silveira Moraes Tomé puxa o samba-enredo da Vila Roma na década de 80 Clelia Regina Cervezon, o samba-enredo foi composto por Luiz Aldo de Souza, o Tomé. A bateria era dirigida por Oscar de Moraes Neto, Mestre Oscar. Outros temas foram levados pela escola: Carnaval nas Estrelas, Carnaval do Oscarlão (uma homenagem ao carnavalesco ituano) e Amazônia (que falava do Chico Mendes), dentre outros. Sua última participação foi em 93. De acordo com Clelia, o que determinou o fim da escola foi o conflito existente entre a sua diretoria e a da Sociedade de Amigos de Bairro. Folião inesquecível O pioneiro José Maria Rodrigues Vieira, 63, conhecido como Dom Espirro I, alegrou as ruas de Itu com suas fantasias. Com a primeira, A Nega Maluca, dançava com uma boneca presa ao corpo. Sua criatividade fez surgir O Vendedor na Janela, na qual ficava com o bumbum de fora, o Piano de Cauda, que levava a música clássica às ruas e contava com a participação de Lúcio Argentino vestido de garçon, O Minhocão de Itu, com mais de seis metros de comprimento e tantas outras que fizeram parte do vasto repertório desse carnavalesco inveterado. Dos orgulhos de Dom Espirro, vale lembrar que ele também foi pioneiro na Silvio Belucci nos bons tempos do Praça das Estrelas campanha anti-drogas e no alerta às doenças sexualmente transmissíveis, fantasiando-se de Doutor Camisola “Vulvanização de Camisinhas”. A fantasia representava uma borracharia de camisinhas. Grupos animados Segundo Carlos Eduardo Santoro, mais conhecido como Dado, um dos organizadores do bloco as Coelhinhas da Playboy, o primeiro ano em que desfilaram foi em 85 com As Noivinhas. Até 91 o grupo foi sucesso absoluto, com temas como Odaliscas, Rumbeira, Dançarinas de Can Can e Bruxas. Outro grupo que se tornou conhecido foi formado em 89 por Renato Rizzi e um grupo de amigos. No primeiro ano sairam de colã com aranha de papelão como tapa-sexo. No ano seguinte, começaram a confeccionar fantasias idênticas. Outros temas como As Freiras Depra- K #K vadas, As Putícias, as Enfermaids e As Cleóputas permanecem vivos na memória do povo. A participação de Edson de Oliveira e de Luiz Cavacchini no carnaval de rua de Itu também era a garantia de risos do público. Os dois amigos de infância criaram uma maneira diferente de fazer carnaval. A primeira fantasia criada por eles foi a de Hittler, em 75, em plena ditadura militar. Outro sucesso foi o 14 Bis, apresentado no ano de 76. Os personagens Roberval e Taillor foram apresentados em 77. O trabalho pioneiro levou para as ruas uma emissora de rádio ao vivo. Os dois protagonizaram também Napoleão e Bonaparte e muitos outros temas. Em 94, Luiz saiu sozinho de lavadeira com bobes na cabeça. No varal roupas, os problemas sociais: rombo da previdência, calcinha de criança como salário mínimo, FMI. Nos anos seguintes ainda foi Elvis Presley, Freira Domenique e Silvio Santos. A última participação de Luiz foi A dupla Edson e Luiz Cavachini esbanjava criatividade com suas caricaturas e fantasias de personalidades da história. Nesse ano, prestaram homenagem ao Pai da Aviação, Santos Dumont, com o 14 Bis como o cantor Latindo e suas dançarinas. Já Edson, passou a fazer parceria com seu irmão, Luiz Gonzaga de Oliveira. Na primeira apresentação usaram o tema “A Forca - O corrupto brasileiro”. O pastor de igreja evangélica apresentado num dos carnavais com o tema Pequenas Igrejas Grandes Negócios também é lembrado até hoje. Carnaval de Hoje O carnaval de 2001 conta com apenas duas escolas e dois blocos. A Escola de Samba Acadêmicos do Vale do Sol, com 14 desfiles no currículo e tetracampeã do carnaval ituano, a Mocidade Independente de Itu, fundada em 99 e os blocos da Melhor Idade e União das Vilas. Presidida desde sua fundação, em 87, por Benedito Edson Moreira, o Tonão, a Vale do Sol foi tretracampeã do carnaval ituano Paulinho Rizzi, que também fez parte do bloco Praça das Estrelas, hoje, integra o bloco da Melhor Idade Vale do Sol desfilou com o enredo “O Brilho do Mar” e aproximadamente 180 integrantes. O enredo contou a história do mar e o surgimento dos primeiros seres vivos. A Vale do Sol chegou a desfilar com mais de 400 componentes. A escola foi batizada em 93 pela Rosas de Ouro, de São Paulo, com a presença do mestre-sala e da porta-bandeira da época e também do presidente Eduardo Basílio. O Grêmio Recreativo Cultural Mocidade Independente de Itu desfilou neste carnaval com 450 integrantes. No ano passado a escola desfilou com o tema “No Brasil Real são outros 500”, e, neste ano, com “2001 Uma Odisséia no Espaço”, que contou a origem do homem e sua evolução nos tempos. Pelo primeira vez o Bloco da Melhor Idade participou das festas de Momo. O bloco conta com 100 componentes e desfilou com o tema “O Carnaval de Outrora”, concebido para relembrar os antigos carnavais. Entre os personagens apresentados estavam o Malandro Carioca, Melindrosa, Pierrô e Colombina, além de dois bonecões lembrando os de Olinda. REGINA LONARDI K $K Carnaval de salão em Itu A alegria era geral nos salões dos clubes da cidade e ninguém queria ver a Quarta-feira de Cinzas chegar São Pedro tinha fama de promover bailes animados Bar do Clube São Pedro na década de 60 Música, confetes, serpentinas, lança-perfumes e fantasias. Ingredientes como esses caracterizaram o carnaval de salão. Depois dos desfiles na rua, os foliões dirigiam-se aos clubes para dar continuidade à folia. Em Itu, três principais clubes estiveram presentes na história do carnaval: o Clube Ituano, o Clube Recreativo dos Comerciários e o Clube São Pedro. O primeiro era geralmente freqüentado pela elite ituana, o segundo pela classe média representada pelos comerciantes e bancários e o último pelo operariado. Uns 20 dias antes do carnaval, os clubes começavam a enfeitar os salões, colocando máscaras, figuras nas paredes, muita serpentina, enfeites, desde a entrada do salão até a parte de cima. “Como o lança-perfume era liberado, o salão ficava todo perfumado”, lembra Francisco Belcufiné, o Chiquito, diretor da Orquestra Sambrasil. “A festa no Ituano começava às 22h e ia até as K %K classes sociais, além de ser o melhor salão de Itu para bailes, bem amplo e com um grande palco. “Na década de 60, eu freqüentava o Clube São Pedro e trabalhava no Gazzola. Eu entrava às 6h da manhã, saía do São Pedro por volta de 5h30, passava em casa, pegava a bicicleta e ia direto O Clube Recreativo dos Comerciários para o trabalho sempre foi freqüentado pela classe média com a música de desde sua fundação em 1940 carnaval zunindo no ouvido”, recorda o comerciante Be4h da manhã. Iam muitas famílias, era nedito Pedroso, o Tuta. uma coisa linda, todo mundo fantasiado, todo mundo se conhecia. O chão fiO som dos cava repleto de confete e serpentina, co- bailes bria os pés das pessoas. Eu e minha irmã Não se pode ficávamos escutando a rádio meses an- falar do carnaval tes para decorar as marchinhas e cantá- de salão sem convamos a noite inteira”, conta o comerci- siderar o papel das ante Luiz Antonio Ribeiro. orquestras que aniA acirrada disputa entre os blocos mavam os bailes. A Gorilas e Fantástico nas ruas, refletia-se primeira banda a também dentro dos salões. Como o tocar no carnaval Ituano era um reduto do Fantástico, os de Itu foi a Jazz participantes do Gorilas tentavam con- Band do Urbaninho centrar o maior número possível de pes- em 1926. Em 1939, soas dentro desse clube para ter a maio- surgiu a Jazz União, ria. Ambos os blocos passavam as parti- formada por músituras de seus respectivos sambas-enredo cos da Banda União para as orquestras que animavam o sa- dos Artistas e regida lão. Cada vez que um deles tocava, a por Isaías Belcufiné. Houve também a gritaria era geral. Jazz Odeon, por volta de 1948, sob a diDesde a sua fundação em 1940, o reção de Chiquito Belcufiné, que em Clube Recreativo dos Comerciários tem 1956 passou a se chamar Chiquito e sua realizado bailes de Carnaval contando Orquestra. com uma grande participação. A Jazz São Pedro nasceu em 1959 e, Apesar da conotação popular, o Clu- sob direção do maestro Ciro Rocha, tobe São Pedro era simpático a todas as cava no clube São Padro. Em 1958, sur- K &K giu a orquestra J. Ramires, responsável pelos carnavais do Ituano Clube. Em 1964, surgiu a Internacional Sambrasil, que está completando 37 anos de existência. A J. Ramires, pertencente a João Ramires, foi a única orquestra exclusivamente carnavalesca. Os músicos tocavam em outras bandas e se juntavam no período de Carnaval para formar essa que animou os bailes carnavalescos do Ituano Clube por 20 anos. Ela começava a tocar às 11h30 até às 4h30 da manhã sem intervalo. Os músicos se revezavam, para que a saída de um não interferisse na execução harmônica das canções. Não havia aparelhagem, microfone e nem cantor: quem cantava era o povo. O músico Nerone Constâncio, que come- A pioneira Jazz Band do Urbaninho, em foto de 1929 çou a tocar na J. Ramires em 1964, conta que quando havia uma música nova, a orquestra procurava tocá-la intercalada com outras quatro ou cinco já conhecidas. Porém, se ela não implacasse logo no primeiro dia, suspendiam a sua execução. O repertório exclusivamente carnavalesco continha marchas, samba, frevo e marcha-rancho. Quando acontecia alguma briga, a orquestra tocava mais intensamente na tentativa de acalmar os ânimos. Era hábito, durante a noite, a orquestra que tocava no Ituano, por exemplo, ir ao Comerciários e depois ao São Pedro e voltar ao Ituano. Os foliões saíam atrás da banda. O Rei Momo também visitava todos os clubes, acompanhado da rainha, dos passistas e de uma bateria. Quando ele entrava, a orquestra parava de tocar. No final da década de 30, José Araújo Dias, o professor Zezé da Associação, lembra que no sábado chegava o Rei Momo de trem e a banda do Regimento Deodoro o esperava montada a cavalo e vestida de “cossaco” (antigos soldados da cavalaria russa que foi abolida em 1917 com a queda do czarismo). Alguns cossacos realmente vieram a Itu para fazer malabarismo e nasceu a idéia de a banda se vestir assim. Depois de Itu, a banda do Regimento Deodoro ia abrir o carnaval de São Paulo. campo, o carnaval passou a ser comemo- xo e eventos marcantes como as Olimpírado também em suas sedes sociais. A adas e a Copa do Mundo têm servido de partir de 1980, a Associação Atlética inspiração para a escolha dos temas. Ituana passou a promover bailes carnavalescos em sua sede. Em 1977 aconteceu o primeiro carnaval do Clube de Campo Itu. Os sócios da época lembram-se de que todos ajudavam na decoração. O último carnaval com brilho do clube foi em 1992. Em 1983 foi Na década de 50, o Ituano inaugurada a sede era freqüentado pela alta sociedade do Gorila’s Country Club e o primeiro baile de carnaval contou com a animação da banda Baterias de algumas escolas de samba Novos clubes J. Ramires. O Gorila’s não concorria di- participaram dos carnavais de salão como Mais tarde, com o surgimento dos retamente com os clubes tradicionais da a bateria da Rosas de Ouro em 1999 no clubes de cidade, pois passou a re- Comerciários. presentar uma nova opHoje, o carnaval nos clubes tem ção ao oferecer um es- acompanhado as novas tendências mupaço amplo, ao ar livre sicais como o pagode, o axé e o forró, e o carnaval familiar. deixando um pouco de lado as tradicioAtualmente, os clu- nais marchinhas carnavalescas que fobes escolhem um tema ram uma das características mais para o carnaval de cada marcantes do carnaval brasileiro. ano. Além da decoraDesde 1998, a Anzu vem promovenção relacionada a ele, do o seu carnaval contando com a prehá a confecção de ca- sença de celebridades como Raul misetas, como faz o Gazzola, Ana Paula Arósio, Gabriela clube Recreativo dos Duarte, Adriane Galisteu e Marcos PalComerciários há vári- meira, apostando em um som "high tec" os anos. Sucessos para animar o salão. televisivos como Malhação e Sai de BaiOs virtuosos músicos da Orquestra MARIELE PRÉVIDI de Chiquito Belcufiné em 1956 K 'K O bloco King Kong, inspirado num filme da época do mesmo nome, chamava a atenção do público no Carnaval da década de 30. Na foto, o bloco encontra-se na rua Floriano Peixoto, na altura do Largo do Carmo, em 1935 Nos anos 60, o Grêmio Recreativo Acadêmico trazia grande alegria e muita animação para o Carnaval de rua de Itu Osmar Cristofoletti rodava a baiana ao estilo Carmem Miranda no carnaval ituano K! K Alguns grupos de amigos se fantasiam de mulher e se esbaldam durante os quatro dias de carnaval Esta foto marca o início do bloco Gorilas no Carnaval da cidade no começo dos anos 70, o qual, posteriormente, viria se tornar um dos principais clubes de campo do município As matinês reuniam grande número de crianças no Clube de Campo Itu, a exemplo desta ocorrida em 1977 Arnaldo Souza Lima (Xexa) e Valdir Micai, fantasiados de rei e rainha, também eram figuras imprescindíveis nos quatro dias de folia da cidade Carlos Ferreira e sua esposa formavam um casal de foliões bastante animado nos bailes de Momo Outro hábito comum nos anos 60 era os concursos de fantasias promovidos pelo Ituano Clube entre as crianças durante o Carnaval. Na foto, os vencedores do concurso em 1960: Rosana Arruda Pereira, Horácio Bicudo, Cássia Frugoli e Priscila Jogar futebol fantasiados de mulher também sempre foi uma prática usual entre carnavalescos, a exemplo desta foto da equipe do Cachoeira F.C., registro de 1962 O bloco Ferra-ferra de Itu, com seu barco Utu-Guaçu, era formado por famosos pescadores da Vila Nova, entre eles Balê, Silvio Marqui, Isaias Prieto, Olavo Vaz, Armando Cocchia, Fernando Ribeiro, Pedrinho, Mário Machi, Valter Caçavara e Zico Gandra. Eles faziam questão de sair fantasiados a caráter, prestando homenagem ao velho rio Tietê, que, na época, era limpo e piscoso. Poluição... era apenas fantasia Em pleno Carnaval ituano, quando ainda nem se falava em Halloween por aqui, algumas garotas se anteciparam e lançaram um modelito ao estilo dessa festa de origem Celta Em 1989, um animado e divertido grupo de amigos compunha o bloco Flor de Samambaia O engenheiro Civil Jair de Oliveira (à esquerda) e Dirceu Sonsini Pinheiro também já rasgaram a fantasia e foram bons carnavalescos no passado K! K Dona Zica (presidente de honra da Mangueira) esteve em Itu quando a escola carioca passou por aqui em 93. Na foto, ela aparece ao lado do carnavalesco ituano Benedito Edson Moreira (Tonão) Paulinho de Francisco sempre arrasava nos carnavais com suas fantasias. Na foto, ele aparece acompanhado do jornalista José Carlos Rodrigues de Arruda na década de 60 A jovem Pequenita, filha de Dr. Graciano Geribello, trajada para o baile de Carnaval em 1929 As crianças ficavam encantadas com as fantasias dos integrantes do bloco King Kong. O barco, construído por Zico Gandra em 1936, possuía um canhão que lançava confetes sobre o público O bloco King Kong (1934) era formado por nomes conhecidos da cidade na época (da esq. p/ dir.): José Gonsales Filho, Amleto Menchini, Hermes Sampaio (dinossauro), Gabriel Tosi, Alyrio Stipp, Vitório Belcufiné (King Kong), Segundo Ferreti, Alfredo Barros Júnior e Osvaldo Walter Tozzi Integrantes do Grêmio do IBAO Instituto Borges Artes e Ofícios (1936) no salão do C.R. dos Comerciários K! K Talentosos músicos ituanos abrilhantavam os bailes de Carnaval da cidade. Na foto de fevereiro 1964 (da esq. p/ dir.): Nerone, Luiz Soares, Bonifácio, Genésio Constâncio, Eros, Eliseu Belcufiné e João Ramires; (sentados) Miguelzinho, Moisés de Castro, Luis Dias (Tati), Zito, Wilson, Olavo Valente (presidente do Ituano Clube) Darcilão e Laerte Bruni são dois nomes fortes na história do Bloco do R, agremiação que se originou no Bloco da Ralé O trio de piratas Luís Antonio Mendes Sbrissa e os irmãos Ricardo e Wagner Bazanelli promoveram o maior terror de graciosidade e peraltice na matinê do Carnaval de 1978, no Clube de Campo Itu Até mesmo na cadeira de rodas o carnavalesco Luiz Aldo de Souza Tomé não deixou de ir para a avenida ao lado de sua família As Cleóputas foram personagens de um dos carnavais Maria Magdalena Tocheton Pacheco Mariquinha em seu elegante traje carnavalesco em 1923 Na década de 30, a Jazz Band Urbaninho - primeira banda musical ituana - era responsável pela animação nos salões durante o reinado de Momo. Na foto (da esq. p/ dir.): Inacinho Casemiro, Ditinho Paçoca, Guilherme de Barros (Guilherminho), Mário Rodrigues, Cícero Nóbrega e Lauro Araújo; (frente) Luiz Inácio Toledo (Desastroso), Antonio Silva (Totó Tintureiro) proprietário da banda -, Oringo, João Desenho, Geraldo da Veiga Camargo (Tonicão) e Luiz Gonzaga (Tic-Tac) Oscar de Moraes Neto (Mestre Oscar), à frente da bateria do Grêmio Recreativo Escola de Samba Vila Roma (1994), é a certeza da continuidade do amor ao samba e pelo Carnaval, sentimento herdado de seu avô Oscarlão, fundador do cordão Paz e Amor, que alegrava os Carnavais na década de 30 K!! K Fontes Consultadas Livros e outros documentos • NARDY FILHO, Francisco – A Cidade de Itu. vols. 4 e 5 2a ed., Ottoni & Cia Ltda, Itu/SP, 1999 • SETTI, Kilza - Diagnóstico Geral da Cidade de Itu Para a Implantação de um Programa de Ação Cultural, vol. V, CONDEPHAAT • MAIA, Tereza e Tom - Vale do Paraiba - Festas Populares, ed. Cered, Centro de Recursos Educacionais, 1989 • Brasil - Os Bastidores do Carnaval - Biblioteca Eucatex de Cultura Brasileira, São Paulo, 1986 • SILVA, Francisco de Assis – História do Homem – Abordagem Integrada da História Geral e do Brasil, vol. 4, São Paulo, ed. Moderna, 1996 • Enciclopédia Barsa e Grande Enciclopédia Delta Larousse O dentista Chico Macedo foi um dos batalhadores do bloco Fantástico na década de 70 Revistas • Problemas Brasileiros – ed. Globo – nov/dez/99 – n 336 • Veja – Ed. Abril – 03/02/2001- 25/02/98 • Fenae Agora – fev/2000 • Almanaque Abril 98, 5ª edição, ed. Abril Foto: Reinaldo Giannecchini A engraçada figura do palhaço não podia faltar nos velhos carnavais Foto: Reinaldo Giannecchini A bateria da Imperatriz do Rancho Grande garantia o samba no pé do restante da escola Foto: Reinaldo Giannecchini O bloco Os homens da Caverna também marcou sua passagem pelo carnaval ituano nos anos 70 K!" K Jô cabeleireiro foi um dos grandes destaques do Carnaval ituano no bloco Praça das Estrelas Jornais • O Estado de São Paulo – 06/02/2001 • Imprensa Oficial do Município de Itu – 02/02/1980 • Folha de São Paulo – 06/03/2000 • Jornal Cruzeiro do Sul - Suplemento Cruzeirinho – 05/03/2000 • Gazeta Mercantil, 24 e 25/02/2001 Sites www.epoca.globo.com.br www.estadao.com.br www.pie.xtec.es/itee/europa/003pt/analisiesp.htm www.love-rio.com.br www.cm-tvedras.pt/html/carnaval.html www.2.uol.com.br/JC/serviços/carnaval99/historia.html www.embratur.gov.br www.jcruzeiro.com.br www.analisisentrudo.com/ www.jangadabrasil.com.br www.liesa.com.br www.liga-sp.com.br www.geocities.com/aochiadobrasileiro www.terra.com.br/carnaval2000 www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/por/artpop/ carnaval www.galileu.globo.com.br ERRAMOS • Em nossa última edição, as legendas das fotos da página seis estão invertidas: na foto ao alto da página a legenda correta é ‘Primeiros carros Ford montados no Brasil’, e na que se encontra abaixo deve-se ler ‘Washington Luís e sua esposa em 1908’. • Na página 17, na matéria sobre a Concessionária Irmãos Ferretti erramos ao afirmar que a Agência Chevrolet iniciou suas atividades em maio de 1948. Na verdade, o prédio da atual concessionária é que foi inaugurado nesse ano, mas a empresa já existia desde 1937. • Na página 18, o nome correto do diretor administrativo operacional da Maggi Veículos é Ednei Schincariol e não Edivaldo Schincariol, conforme foi publicado. K!# K K!$ K