COLETÂNEA
Pró-reitoria de Ensino
1º semestre / 2013
1
Diariamente, centenas de informações nos são transmitidas por diversos suportes midiáticos,
porém o ato de ouvir ou ler irrefletidamente tais informações forma sujeitos passivos, alienados e
habituados a não analisar os porquês e as razões por trás dos fatos noticiados. Ler,
simplesmente, não forma sujeitos críticos. É preciso ler profundamente e atribuir qualidade às
leituras que realizamos, de modo que possamos transformar informação em conhecimento,
desempenhar a nossa cidadania de modo consciente e, finalmente, agir em benefício da
sociedade.
Na Formação Sociocultural e Ética, você encontrará textos dos mais diversos gêneros e
temas, criteriosamente selecionados para estimular sua reflexão e análise sobre fatos
relacionados à economia, política, cultura, sociedade, arte e meio ambiente, acontecimentos que
ocorrem na sociedade atual e que devem fazer parte do universo de todos os que buscam
compreender criticamente seu entorno social, e também aprimorar suas competências e
habilidades de leitura e interpretação de textos, a partir do raciocínio dedutivo e lógico.
Esta disciplina compõe um dos Projetos de Ação do Cesumar, cuja missão consiste em
“Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando
profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e
solidária”. Nesse sentido, a Formação Sociocultural e Ética foi estrategicamente criada e
planejada para complementar e enriquecer a sua formação acadêmica, profissional e pessoal,
de modo a ajudá-lo a atingir um bom desempenho dentro e fora dos muros da academia.
Aproveite o que a Formação Sociocultural e Ética tem a oferecer e, realmente, seja parte
desta família, a comunidade do conhecimento!
Das organizadoras
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Primeiro Eixo Temático
Organizadoras:
Profª Me. Cristina Herold Constantino
Profª Me. Débora Azevedo Malentachi
Colaboradoras:
Mediadora Esp. Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano
Tutora Aline Ferrari
Direção Geral
Pró-reitor Prof. Me. Valdecir Antônio Simão
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Introdução......................................................................................................................05
O ato de ler.....................................................................................................................06
Sugestões de leitura......................................................................................................07
Etapas e níveis de leitura..............................................................................................08
Ler devia ser proibido...................................................................................................10
Textos selecionados......................................................................................................12
Charge e Tira..................................................................................................................35
Dica cultural...................................................................................................................36
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Prezado(a) aluno(a) de Formação Sociocultural e Ética!
Este material foi especialmente preparado para
somar
e
aperfeiçoar
conhecimentos
significativos para a sua formação. Você encontrará aqui conteúdo específico a respeito do ato
de ler e textos que sugerem reflexões sobre a importância da leitura. Você também poderá
obter informações básicas sobre níveis de leitura, o que o ajudará a iniciar um processo
bastante importante para o seu crescimento. Um processo que denominamos de
autoavaliação. Não há como desenvolver habilidades leitoras se não avaliarmos a nós
mesmos enquanto leitores. Por isso, esperamos que os textos iniciais sirvam para aprofundar
sua reflexão e sua relação com a leitura.
Posteriormente, apresentaremos textos que abordam assuntos relacionados ao eixo temático
Ética, Cultura e Arte. Textos
selecionados para estimular sua reflexão, algumas vezes
acompanhados por sugestões de leitura, links para visitar, vídeos para conferir e outros
conteúdos complementares.
Em sua diversidade e multiplicidade, a cultura brasileira é marcada pelas
diferenças, mas, também, por riquezas singulares, que transpassaram a cultura
nacional. Valorizamos a palavra (falada, sentida, cantada) propondo textos que o
levem à reflexão sobre a ética, a verdade, a poesia, a cultura. Faremos nossas as
palavras de outros, traremos para o nosso momento o momento de outros, retomando
ideias e ideais clássicos, porém, contemporâneos. Atualizando a obra de arte, que é
imortal. Refletindo sobre o cinema e todas as glórias devidas a ele. Tributando a quem
lhe é devido, isto é, à cultura, à arte, aos homens e às mulheres que fazem deste um
belo e propício cenário para o conhecimento. Seja muito bem-vindo(a) ao
primeiro semestre desta disciplina e a esta coletânea, em especial!
Sucesso nas leituras!
Organizadoras
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Para você, caro acadêmico, que gosta de ler ou está descobrindo o gosto pela leitura, e também para você que
espera saber mais sobre por que ler, sugerimos os seguintes livros que relatam experiências de seus autores com
a leitura:
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No mundo dos livros, de José Mindlin (Agir);
A paixão pelos livros, organização de Julio Silveira e Martha Ribas (Casa da Palavra);
Confissões de uma leitura comum, de Anne Fadiman (Jorge Zahar);
Se uma criança, numa manhã de verão... – Carta para meu filho sobre o amor pelos livros, de Roberto
Cotroneo (Rocco);
A biblioteca à noite, de Alberto Manguel (Companhia das Letras);
Um livro por dia – Minha tempestade parisiense na Shakespeare and Company, de Jeremy Mercer (Casa
da Palavra);
Por que ler Shakespeare, de Barbara Heliodora (Globo);
Como e por que ler o romance brasileiro, de Marisa Lajolo (Objetiva);
Como e por que ler os clássicos universais desde cedo, de Ana Maria Machado (Objetiva);
Como e por que ler a poesia brasileira do século XX, de Italo Moriconi (Objetiva).
Para você que gosta de livros de ficção cujo enredo envolva a experiência da leitura ou o contato com livros,
sugerimos:
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O leitor, de Bernhard Schlink (Record);
A sombra do vento, de Carlos Ruiz Zafón (Objetiva);
Cobertor de estrelas, de Ricardo Lisias (Rocco);
A livraria, de Penelope Fitzgerald (Bertrand do Brasil);
Casa de papel, de Carlos Maria Dominguez (Francis);
O último leitor, de David Toscana (Casa da Palavra);
A menina que roubava livros, de Markus Zusak (Intrínseca);
O segredo das coisas perdidas, de Sheridan Hay (Nova Fronteira).
Filmes: Sociedade dos poetas mortos, de Peter Weir; Encontrando Forrester, de Gus van Sant; Nunca te vi,
sempre te amei, de David Hug Jones.
(Extraído e adaptado da obra Interpretação de Textos: construindo competências e habilidades em leitura,
de William Cereza, Tereza Cochar e Ciley Cleto, Atual Editora)
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A leitura é a porta de entrada para interação com o outro,
com o mundo e consigo mesmo em sua totalidade. Ler não é
unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas interpretar o
mundo em que vivemos. Na verdade, passamos todo o nosso
tempo lendo: lemos as imagens, as pessoas, suas palavras,
seus gestos, seus olhares e até mesmo seu silêncio; lemos
outdoors, placas e sinais de trânsito; lemos textos informativos
e tantos outros gêneros que circulam na sociedade; lemos
textos impressos, textos virtuais, textos verbais e não-verbais.
Lemos tudo, mesmo que inconscientemente.
Entretanto, nem tudo o que é lido é compreendido por leitores habituados à leitura superficial,
porque leitura é processo que requer do leitor “um
trabalho ativo de compreensão e
seu conhecimento sobre o assunto,
interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de
sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem”. (Parâmetros Curriculares Nacionais;
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação
Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, PP. 69-70). Em outras palavras, o leitor não pode se
colocar na posição de sujeito passivo nas leituras que realiza. Seu nível de leitura e o modo como
lê, isto é, as estratégias que aplica nas suas leituras, principalmente as que são exigidas na vida
acadêmica, é o segredo para a sua capacidade de compreensão leitora, para a formação do leitor
proficiente, maduro, experiente, habilidoso. O segredo para o sucesso! E, o melhor de tudo, é que
a leitura é um processo a ser aprendido!
De modo geral, a leitura consiste em quatro etapas:
1.
2. Decodificação: é o reconhecimento das letras, suas ligações com outras e com os seus
significados. Decodificar é apenas o início do processo de leitura. Por exemplo, quando você, à
primeira leitura, fica em dúvida sobre o significado de palavras ou expressões, como Oswald de
Andrade modernista dionisíaco [...], expressão presente no texto 1 desta coletânea, na medida em
que você desconhece o exato significado de modernista dionisíaco, você deverá ir ao dicionário
e/ou fazer uma busca pela internet a fim de saber qual o sentido de ambas as palavras; na
pesquisa você poderá encontrar a informação que Dionísio era o deus grego equivalente a Baco
dos romanos; portanto, dionisíaco diz respeito ao prazer da ação, a inspiração, o instinto.
3.
4. Compreensão: é assimilar as informações de um texto, captar suas ideias principais. Nessa etapa,
é importante que o leitor tenha conhecimentos prévios sobre o assunto tratado no texto, para que
tenha condições de atribuir significação às palavras decodificadas. Por exemplo: você só poderá
compreender verdadeiramente o que foi dito naquele parágrafo (conforme exemplo anterior) se
obtiver a informação sobre quem foi Oswald de Andrade, o que é o movimento modernista e
relacionar todas essas informações ao que fora pesquisado anteriormente.
8
Interpretação: é a capacidade de análise crítica do leitor frente ao texto e só ocorre depois da
compreensão. Se não há compreensão, não é possível ao leitor interpretar o que leu. Nesta
etapa, o leitor recupera todas as informações e conhecimentos prévios sobre o assunto,
estabelece a intertextualidade entre os textos, questiona, julga e tira conclusões a respeito do
que leu, concorda com as palavras do autor, ou as contesta. Por exemplo: você apenas
conseguirá analisar criticamente a informação de que “Eles também não resistiram: Oswald de
Andrade modernista Dionisíaco [...] na medida em que inferir, ou seja, deduzir acerca do que o
autor está querendo dizer, baseado tanto nas informações da etapa de decodificação quanto nas
informações da compreensão.
Retenção: nesta etapa, ocorre a memorização das informações mais importantes, as quais
ficam arquivadas na memória de longo prazo do leitor, seu repertório de conhecimentos.
Desse repertório, o leitor resgata seus conhecimentos internalizados para dialogar com as
novas leituras que realizará. Por exemplo: você deverá relacionar a informação do texto ao seu
repertório de informações acerca do assunto.
É importante considerar cada uma das etapas de leitura no processo de autoavaliação
que combinamos na introdução deste material. Seu desempenho nessas etapas depende do
nível de suas leituras. São, basicamente, três níveis:
Leitura superficial: neste nível, o leitor fica preso na superficialidade das palavras, decodificaas, relaciona cada uma delas ao seu significado; se não conhece o significado de alguma,
simplesmente a ignora, em vez de consultar um dicionário. O leitor não consegue depreender
o assunto geral do texto, muito menos compreendê-lo em sua totalidade.
Leitura adequada: já neste nível, o leitor extrapola a mera decodificação e não fica preso na
superfície das linhas textuais. Ele consegue compreender o assunto geral e atribuir, ao menos,
um significado ao texto, fazendo uso de seus conhecimentos prévios (de mundo, textuais e
linguísticos, abordados mais adiante).
Leitura complexa: neste nível, além de ler e compreender o que está escrito nas linhas do
texto, o leitor lê nas entrelinhas e por trás delas. Ele produz vários sentidos para o texto e
estabelece intertextualidades nesse processo. É um leitor crítico.
Tão importante quanto conhecer e refletir sobre as etapas e níveis de leitura, importa retomar,
aqui, a tese – ler é um processo que pode ser aprendido. Por isso, o avanço de uma etapa
para outra e de um nível para outro é perfeitamente possível, para qualquer pessoa, de
qualquer idade, desde que haja vontade e empenho!
No próximo eixo temático, trataremos sobre algumas técnicas e estratégias de leitura
essenciais para o desenvolvimento de habilidades leitoras. Agora, a partir do texto que se
apresenta na página seguinte, você poderá
repensar seus conceitos
a respeito da
LEITURA.
Acompanhe os argumentos da escritora Guiomar de Grammont e observe a
função das ironias nas entrelinhas.
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Por Guiomar de Grammont
A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os
homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de
suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura
induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe
fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os
exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro,
coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais
existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de
reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao
pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se
esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios
sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com
os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura
desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria
feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade
quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da
imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de
Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é
apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que
devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de
forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a
fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos
fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos
fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de
pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes
para além das montanhas, há estrelas por trás das
nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar
desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar
nossas realidades cruas.
Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam
para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse
gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente.
Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas
tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode
estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o
trabalho duro.
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Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos
em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança.
Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que
desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a
fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas leem por razões utilitárias: para
compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um
dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem
magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó
de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes,
prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um
privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou
manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para
qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar
ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A
leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura
ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de
compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
Ler pode tornar o homem perigosamente humano.
(http://paginaporpagina.wordpress.com/tag/ler-deveria-ser-proibido/)
ASSISTA AO VÍDEO!
O conteúdo deste vídeo apresenta uma adaptação do texto de
Guiomar de Grammont.
http://www.youtube.com/watch?v=iRDoRN8wJ_w
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Como texto introdutório dos que selecionamos para esta coletânea, Ética, Cultura e Arte, uma
mensagem, no mínimo, intrigante, embora para alguns até enigmática. Trata-se de um chamado
à reflexão profunda e crítica em torno da minha, da tua, da nossa cultura atual e, por que não
dizer, da nossa condição humana! Esperamos que você leia, reflita, analise e, quem sabe,
procure repensar a sua vida como homem, mulher ou jovem, agindo, interagindo neste mundo de
onde ninguém escapa.
TEXTO 1
Ninguém
Por Marcos Almeida
Diabetes, cirrose, septicemia, câncer. Ninguém escapa*. O tempo é curto. Eles também não resistiram:
Oswald de Andrade modernista dionisíaco, patriarca do Tropicalismo e Concretismo, Di Cavalcanti o
Picasso brasileiro, Glauber Rocha o romântico criador do cinema novo, Darcy Ribeiro o antropólogo que
gostava de whisky. Câncer, septicemia, cirrose, diabetes; ninguém escapa. Resta a palavra. Fica a
imagem. Sobrevive a tinta. Sobrevive a alma. As ideias resistem! Quem pode com uma ideia? Quem dura
mais que uma palavra?
Passaram o modernismo, a bossa nova, a jovem guarda e o tropicalismo. Os concretistas já se foram.
Agora é Inhotim. Agora tudo é líquido e rápido como o rio São Francisco desaguando no mar; tantos
metros cúbicos de água por segundo, caindo, caindo, chegando e saindo.
Velhice, infarto, terremoto e balões de gás hélio, ninguém escapa**. O tempo é curto para todos. Ninguém
resiste. Eles também não: Antonio Elias, reverendo presbiteriano, pai de uma geração de pastores; Manoel
de Mello, o líder pentecostal mais ecumênico da história; Zilda Arns, símbolo dos direitos humanos;
Antonio de Carli, padre aventureiro e ativista. Balões de gás hélio, terremoto, infarto e velhice; ninguém
escapa.
Mas olha, ela está ali, no meio do mundo, firme e forte, resistente e flexível: a Mensagem, a Palavra.
Quem dura mais que essa Palavra? Início, meio e final, tempo e eternidade! Quem pode com Ela?
Passaram o jesuíta, o inquisidor, o acadêmico, a saia longa e o marxista de bata. Os pentecostais não são
mais os mesmos. Agora é neo. Agora tudo é pós, tudo emergindo, sabe lá de onde, dizendo que nem tudo
é líquido e rápido como o São Francisco. No meio de tanta água que jorra (re)movendo as margens, nesse
mesmo espaço e tempo onde habitamos, intacta permanece a Palavra Principal, soberano e criativo
permanece o Verbo que nos escapa (sempre), diante de quem a morte treme de medo, de quem de fato
nenhum de nós escapa. Ninguém!
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Notas:
* Oswald de Andrade faleceu no dia 22 de outubro de 1954 de diabetes. Di Cavalcanti morreu de cirrose
em outubro de 1976. Glauber Rocha foi vítima fatal de septicemia no dia 22 de agosto de 1981. Darcy
Ribeiro morreu de câncer em 1997.
** Rev. Antônio Elias morreu aos 97 anos no dia 21 de dezembro de 2007. O missionário Manoel de Mello
foi vencido por um infarto no dia 5 de maio de 1990. Zilda Arns foi vítima de um terremoto no dia 12 de
janeiro de 2010. Antônio de Carli sumiu no dia 20 de abril de 2008 com seus balões e foi encontrado morto
meses depois.
Marcos Almeida é compositor, músico, professor e membro da banda brasileira de rock Palavrantiga. Mantém seu
blog pessoal "nossa brasilidade", um livro em construção.
(http://www.ultimato.com.br/editora/conteudo/ninguem. Texto adaptado.)
Paradoxalmente, o silêncio poderá falar tanto quanto a palavra, “pois há tempo de falar e tempo
de se calar” . O texto a seguir sugere considerações importantes acerca de ambas as atitudes.
Em que medida o silêncio e a prática da ética podem estar conexos? Reflita você também!
TEXTO 2
Em outras palavras
Por Lya Luft
Neste momento escrevo um novo livro de ensaios, na linha de O Rio do Meio e Perdas & Ganhos, tratando
silêncio bom de curtir a natureza ou fazer descobertas transformadoras em nosso
próprio interior; o silêncio belo da contemplação da arte ou de um rosto amado; o silêncio mau das
famílias nas quais não se respeita o outro; o silêncio amargo dos casais marcados por mágoa e
hostilidade; o silêncio humilhante dos locais de trabalho onde a competitividade é cruel; o silêncio
perverso da mentira pública, quando culpados enveredam pela trilha indigna da negação.
do silêncio: o
Falando em silêncio devo falar em palavras, pois entre elas ocorre um jogo singular:
complementares, como bons amantes.
calar e falar são
Silêncios são móveis: ora se adensam em comunicações amorosas, ora se
levantam como barreiras de lanças espetadas para agredir. Palavras se
desgastam feito pedras roladas em fundo de rio: o que deveria celebrar a
verdade
se rebaixa em mentiras; o que era belo acaba na lata de lixo dos
insultos. O que pode separar agora liga, o que deveria significar harmonia pode
maltratar.
malbaratada palavra "ética", muito vocábulo perde seu
quando envereda por trilhas falsas. "Ética" designava comportamento,
Como a tão
sentido
ou conjunto de regras, em geral não escritas, que ditavam esse comportamento. Vivia-se a ética nos
tribunais, entre parlamentares, entre países amigos ou adversários, e também nas relações cotidianas
Comportamentos éticos ou
não éticos configuram nosso dia-a-dia na rua, na praia, no trabalho, a começar pela
entre pessoas. O termo devia ser comum entre nós, como água e pão.
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família – onde aprendemos alguns conceitos talvez nunca verbalizados, mas
introjetados, que passam a fazer parte de nós.
Mulheres traídas, homens pouco amados, pais arrogantes e brutais ou eternamente críticos (também se
bate com palavras), mães amargas ou obsessivamente controladoras, patrões gananciosos, funcionários
insatisfeitos. Todas as formas de desrespeito expresso ou subliminar tendem a reproduzir atitudes
semelhantes. E os conceitos, coração das palavras, vão-se transformando nesse campo de batalha.
Lançar uma palavra aos quatro ventos como se entendêssemos do que se trata não quer dizer que a
A ética, por exemplo, tem sido expulsa de muitos dos nossos
cenários atuais, em que é mais citada do que vivida. Há de nos contemplar,
consternada, a pobre senhora: não do Olimpo dos deuses inatingíveis, mas nas
esquinas da nossa mais simples humanidade, onde a abandonamos em troca de
comportamentos irracionais, corruptos ou boçais, desrespeitosos ou grotescos,
segundo o jeito e a vivência de cada um.
gente viva segundo ela.
Falo de palavras, mas onde entra aqui o silêncio? Nesta fase do agressivo e do grosseiro, que muitas
vezes a gente sublima com algum bom humor, temos dificuldade em lidar com ele, que retumba no vazio
do nosso ralo interior. Silêncio e sossego são difíceis de curtir: ah, a música ao vivo, a praia com altofalantes, a ginástica dirigida, os brinquedos comandados, a diversão atordoante em casa, no clube, no mar
– tantas coisas que, se as criticarmos, correremos o risco de parecer antipáticos, eu sei. Mas é neles que
nos humanizamos mais.
No silêncio escutamos nossos próprios desejos e carências, e os das outras pessoas; nele podemos
só
no silêncio se abrem os verdadeiros diálogos. Com verdade, com dignidade, com
alguma beleza, exercendo a nossa humanidade menos rasteira. Ele é necessário para
saborear novas formas de alegria e de convívio; nele aprendemos até a apreciar mais as palavras, pois
escutar a chuva que chega sobre árvores e telhados: doce como um colo de mãe, reconfortante como os
A gente vive de maneira minimamente ética (pode
ser apenas educada) a cada dia, e ainda percebe o rumor da chuva nas árvores, ou
da consciência falando para o coração atento?
passos da pessoa amada no corredor.
(http://veja.abril.com.br/301105/ponto_de_vista.html. Grifos das organizadoras.)
Em se tratando do silêncio, por meio do qual a ética pode manifestar-se, o texto que segue é mais
um registro de que certos valores são compartilhados, vivenciados e nem sempre ditos. Albert
Einstein já propunha uma reflexão em torno da ética, ou de sua ausência. O texto expressa um
convite e, ao mesmo tempo, anuncia à nossa civilização a fundamental importância de uma
cultura alicerçada em pilares éticos.
TEXTO 3
A Falta de Cultura Ética da Nossa Civilização
Creio que o exagero da atitude puramente intelectual, orientando, muitas vezes, a nossa
educação, em ordem exclusiva ao real e à prática, contribuiu para pôr em perigo os valores
14
éticos.
Não penso propriamente nos perigos que o progresso técnico trouxe diretamente aos homens,
mas antes no excesso e confusão de considerações humanas recíprocas, assentes num pensamento
essencialmente orientado pelos interesses práticos que vem embotando as relações
humanas.
O aperfeiçoamento moral e estético é um objetivo a que a arte, mais do que a ciência, deve
dedicar os seus esforços. É certo que a compreensão do próximo é de grande importância. Essa
compreensão, porém, só pode ser fecunda quando acompanhada do sentimento de que é preciso saber
compartilhar a alegria e a dor. Cultivar estes importantes motores de ação é o que compete à
religião, depois de libertada da superstição. Nesse sentido, a religião toma um papel importante na
educação, papel este que só em casos raros e pouco sistematicamente se tem tomado em consideração.
O terrível problema magno da situação política mundial é devido em grande parte àquela falta da nossa
civilização. Sem cultura ética, não há salvação para os homens.
(http://www.citador.pt/textos/a-falta-de-cultura-etica-da-nossa-civilizacao-albert-einstein.
organizadoras.)
Grifos
das
A seguir, uma prova real do que se nomina como clássico, aquilo que, mesmo com o passar dos
anos, décadas, transcende o tempo e continua sendo atual. As ideias ou os ideais de Einstein
continuam dignos de leitura, reflexões e inquietações. Einstein não fugiu à sua forma de homem
comum, na medida em que se mostra integralmente no texto. Suas inquietações, desaprovações
e crenças. A notabilidade do texto faz-se na medida do Ser notável, singular e tão presente ainda
em nossos dias... Por meio de suas palavras, vamos conhecê-lo e, quem sabe, conhecermos
melhor a nós mesmos... Como VOCÊ vê o mundo?!
TEXTO 4
Como vejo o mundo
Por Albert Einstein
Minha condição humana me fascina.
Conheço o limite de minha existência e ignoro por que
estou nesta terra, mas às vezes o pressinto. Pela experiência cotidiana, concreta e intuitiva, eu me
descubro vivo para alguns homens, porque o sorriso e a felicidade deles me condicionam inteiramente,
mas ainda para outros que, por acaso, descobri terem emoções semelhantes às minhas.
E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida — corpo e alma — integralmente tributária do trabalho dos
vivos e dos mortos. Gostaria de dar tanto quanto recebo e não paro de receber. Mas depois experimento o
sentimento satisfeito de minha solidão e quase demonstro má consciência ao exigir ainda alguma coisa de
outrem. Vejo os homens se diferenciarem pelas classes sociais e sei que nada as justifica a não ser pela
Sonho ser acessível e desejável para todos uma vida simples e natural, de
corpo e de espírito.
violência.
Recuso-me a crer na liberdade e neste conceito filosófico. Eu não sou livre, e sim às vezes constrangido
por pressões estranhas a mim, outras vezes por convicções íntimas. Ainda jovem, fiquei impressionado
pela máxima de Schopenhauer: “O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que
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quer”; e hoje, diante do espetáculo aterrador das injustiças humanas, esta moral me tranquiliza e me
educa.
Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer. Suporto então melhor meu sentimento de responsabilidade. Ele
já não me esmaga e deixo de me levar, a mim ou aos outros, a sério demais.
Vejo então o mundo
com bom humor. Não posso me preocupar com o sentido ou a finalidade de minha existência, nem da
dos outros, porque, do ponto de vista estritamente objetivo, é absurdo. E, no entanto, como homem,
alguns ideais dirigem minhas ações e orientam meus juízos. Porque jamais considerei o
prazer e a felicidade como um fim em si e deixo este tipo de satisfação aos indivíduos reduzidos a instintos
de grupo.
Em compensação, foram ideais que suscitaram meus esforços e me permitiram viver.
Chamam-se o
bem, a beleza, a verdade.
Se não me identifico com outras sensibilidades semelhantes à minha e
se não me obstino incansavelmente em perseguir este ideal eternamente inacessível na arte e na ciência,
a vida perde todo o sentido para mim. Ora, a humanidade se apaixona por finalidades irrisórias que têm
por nome a riqueza, a glória, o luxo. Desde moço já as desprezava.
Tenho forte amor pela justiça, pelo compromisso social.
Mas com muita dificuldade me
integro com os homens e em suas comunidades. Não lhes sinto a falta porque sou profundamente um
solitário. Sinto-me realmente ligado ao Estado, à pátria, a meus amigos, a minha família no sentido
completo do termo. Mas meu coração experimenta, diante desses laços, curioso sentimento de
estranheza, de afastamento e a idade vem acentuando ainda mais essa distância. Conheço com lucidez e
sem prevenção as fronteiras da comunicação e da harmonia entre mim e os outros homens. Com isso
perdi algo da ingenuidade ou da inocência, mas ganhei minha independência. Já não mais firmo uma
opinião, um hábito ou um julgamento sobre outra pessoa. Testei o homem. É inconsistente.
[...] A pior das instituições gregárias se intitula exército. Eu o odeio. Se um homem puder sentir qualquer
prazer em desfilar aos sons de música, eu desprezo este homem... Não merece um cérebro humano, já
que a medula espinhal o satisfaz. Deveríamos fazer desaparecer o mais depressa possível este câncer da
civilização. Detesto com todas as forças o heroísmo obrigatório, a violência gratuita e o nacionalismo débil.
A guerra é a
desta ignomínia.
coisa mais desprezível que existe.
Preferiria deixar-me assassinar a participar
No entanto, creio profundamente na humanidade. Sei que este câncer de há muito deveria ter sido
extirpado. Mas o bom senso dos homens é sistematicamente corrompido. E os culpados são: escola,
imprensa, mundo dos negócios, mundo político.
O mistério da vida me causa a mais forte emoção. É o sentimento que suscita a beleza e a
verdade, cria a arte e a ciência. Se alguém não conhece esta sensação ou não pode mais experimentar
espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram. Aureolada de temor, é a realidade
secreta do mistério que constitui também a religião. Homens reconhecem então algo de impenetrável a
suas inteligências, conhecem, porém, as manifestações desta ordem suprema e da Beleza inalterável.
Homens se confessam limitados e seu espírito não pode apreender esta perfeição. E este conhecimento e
esta confissão tomam o nome de religião. Deste modo, mas somente deste modo, soa profundamente
religioso, bem como esses homens. Não posso imaginar um Deus a recompensar e a castigar o objeto de
sua criação. Não posso fazer ideia de um ser que sobreviva à morte do corpo. Se semelhantes ideias
germinam em um espírito, para mim é ele um fraco, medroso e estupidamente egoísta.
16
Não me canso de contemplar o mistério da eternidade da vida.
Tenho uma intuição da
extraordinária construção do ser. Mesmo que o esforço para compreendê-lo fique sempre
desproporcionado, vejo a Razão se manifestar na vida.
( “Como Vejo o Mundo” é um livro em que o renomado e genial físico, Albert Einstein, declara a sua visão
de mundo, dos sentimentos, de suas experiências e o que espera para o seu futuro, e o como pretendeu
retribuir tudo o que obteve. É um texto em que Einstein volta os olhos para os problemas fundamentais do
ser humano, o social, o político, o econômico, o cultural...)
(http://alberteinsteinemc2.blogspot.com.br/2009/01/como-vejo-o-mundo.html. Grifos das organizadoras.)
O texto que segue propõe uma análise importante acerca das responsabilidades do Estado frente
à cultura... Entretanto, por extensão, a responsabilidade também é nossa. Afinal, somos nós os
eleitores e a cultura somos todos nós. Coexistimos à nossa cultura e, nesse sentido,
contribuímos ou não pela sua manutenção, transformação e extinção...
TEXTO 5
E a Cultura?
Cultura, política de Estado
Por Eduardo Portella*
São válidos, mesmo que contraditórios, os recentes debates
sobre o
lugar da cultura hoje.
Cabe ao Ministério da Cultura a função de operar
políticas públicas enraizadas e promissoras, tornando-se
inadiável formular, ver e rever o seu percurso,
selecionar questões pertinentes, absorver formas de criação
e compreensão. Talvez deva mesmo situar a sua política
cultural no contraponto de ação-reflexiva e reflexão-ativa.
O modelo predominante vinculava claramente estabilidade econômica e desenvolvimento. Mas o
desenvolvimento
já não é uma empresa de alguns, e sim um empreendimento de todos. Por
isso mesmo deixou de ser operação contábil para se transformar no esforço radical de qualificação. É
preciso elaborar indicadores qualificativos, capazes de reequilibrar ou até de civilizar a voracidade dos
A cultura perde a sua força vital toda vez que adota a
economia como padrão ou referência compulsiva.
indicadores quantitativos.
herdamos um pesado déficit cultural que vem de longe. A
reversão desse quadro clínico desfavorável deve ser rigorosamente priorizada, o que exige a inclusão
da cultura como trabalho social avançado.
Não podemos ignorar que
17
É verdade que o
mas pode ter função democratizadora no
É preciso incluir a fatura cultural no empenho de reprocessamento da fratura social.
Estado não produz cultura (graças a Deus!),
estímulo, na distribuição e no consumo.
Ao Estado, consciente de ser um mediador social, igualmente voltado para a prestação de serviços
públicos, cumpre: contribuir ativamente para a desobstrução dos canais de transmissão existentes e
apoiar outros novos meios; formar novas plateias, implantando e ampliando auditórios formais e informais;
vitaminar a procriação cultural, mediante a seleção criteriosa de projetos instauradores; e estabelecer um
novo repertório de endereços e núcleos culturais.
Sobretudo, cumpre repensar a
patrimonialistas
dos
integristas
mídia eletrônica despreconceituosamente, longe dos conceitos
e dos preconceitos intelectualistas das academias
engessadas.
Patrimônio cultural, sim; fundamentalismo, não. Indústria cultural, por que não? Sem o
esvaziamento contundente da complexidade.
Tudo isso passa pelo livro, pela leitura em campo aberto, pelas bibliotecas, pelas salas de cinema e de
teatro, pelo vídeo, pelos cultos diversos, pela cultura do videoclipe, pelas lonas do circo, pelas quadras e
pelos terreiros, pelos estádios esportivos e assim por diante.
cultura é coisa séria. Para começo de
deve ser política de Estado, mas de Estado socialmente enraizado.
Passa antes pela compreensão de que
conversa,
cultura
Vale lembrar algumas recomendações, talvez redundantes: reforçar o orçamento do MinC; ampliar as
iniciativas interministeriais; descentralizar mais as ações do ministério; reoxigenar os fundos de cultura;
trabalhar as emendas parlamentares para ganhar mais musculatura financeira, longe do clientelismo e da
propaganda enganosa; reforçar a compreensão federativa. Isso sem esquecer de que fins e meios devem
À cultura cabe alistar-se na frente comum do hoje e do
amanhã, como parte integrante do processo, e ajudar a devolver a confiança no
país. Ela dispõe de condições potenciais.
ser calibrados cuidadosamente.
*EDUARDO PORTELLA é escritor e professor titular emérito da UFRJ.
(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1801201108.htm. Grifos das organizadoras.)
Uma das obras mais famosas do mundo serviu de inspiração para muitos artistas. Dizem que
“nada se cria, tudo se transforma”. Entretanto, toda transformação, por mais tímida que seja,
passa, também, por um processo de criação, na qual ficam as marcas individuais de seu criador.
Na verdade, em se tratando de arte, a imagem ícone da Monalisa sempre servirá de inspiração
para eternizar e formar tantas outras imagens. E, nesse processo de criação a partir da imitação,
podemos contemplar um belo diferente, típico de nossa época, com significados singulares...
TEXTO 6
18
Exposição em São Paulo mostra diferentes versões da Monalisa
Uma exposição em São Paulo mostra as diferentes versões de uma das pinturas mais famosas do mundo
– a Monalisa. Leonardo Da Vinci terminou o quadro em 1506 e em mais de 500 anos o que não faltaram
foram histórias sobre a obra.
A galeria de arte digital fez a proposta e 150 artistas brasileiros aceitaram o desafio. São 280 obras
brincando com a original e 30 delas estão em exposição. Existe a Monalisa com piercing, com tatuagem,
com visual gótico. Com um copo de leite na mão, a Monalisa do filme Laranja Mecânica. De cartola e
guitarra é a Monalisa Slash, da banda Guns N’Roses.
A Monalisa original está exposta no Museu do Louvre, na França. Entre os estudiosos existem várias
teorias – que a modelo era mãe do pintor, que a pintura é o próprio Da Vinci vestido de mulher. Mas para a
maioria, Monalisa era casada com um rico comerciante de Florença.
A expressão também é motivo de estudo – sorriso tímido, sedutor, misterioso ou uma mulher triste que se
esforça para parecer mais alegre?
As obras ficam expostas até 16 de fevereiro na Urban Arts, zona oeste de São Paulo. A entrada é grátis.
Elas também estão à venda no site da galeria.
(http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/02/exposicao-em-sao-paulo-mostra-diferentes-versoes-damonalisa.html)
ASSISTA AO VÍDEO!
Confira algumas das versões da Monalisa que fizeram parte da
exposição em São Paulo. Jornal Hoje, Edição do dia
14/02/2013.
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2013/02/exposicao-em-sao-paulo-mostradiferentes-versoes-da-monalisa.html
Em tempos de Oscar, não poderíamos deixar de tratar de um dos premiados polêmicos da
“maior festa do cinema”. Ler é preciso. Refletir é necessário. Questionar é fundamental. Qual a
relação do filme com os fatos reais? Verossimilhanças à parte, houve fuga do contexto real? Há
críticas. Há controvérsias. A criação de mais um herói ao gosto americano. Afinal, trata-se de
ficção. Contudo, nem todos pensam assim. Veja você também!
TEXTO 7
Por que argo é fraude histórica
Na tentativa frenética de apresentar um agende da CIA como herói, filme de Ben Affleck inverte e distorce os fatos
Por Harold Von Kursk*, no Diario do Centro do Mundo
19
Durante o stalinismo, a história foi reescrita com
frequência em conformidade com a ortodoxia soviética.
O protagonismo de Leon Trotsky, um dos principais
arquitetos da Revolução Russa de 1917, foi
minimizado ou apagado – até mesmo fotos de Trotsky
em pé ao lado de Lenin, Stalin e outros membros do
comitê central foram desajeitadamente retocadas para
remover vestígios de sua existência.
Com “Argo”, um exercício desenfreado de ufanismo
americano e imperialismo cultural, Ben Affleck
cometeu uma forma similar de fraude. Essa é a opinião
de Ken Taylor, o ex-embaixador canadense no Irã que realmente arquitetou a fuga dos seis reféns que ele
e o primeiro-secretário da embaixada John Sheardown haviam escondido em suas casas, em situação de
risco pessoal considerável.
“Foram três meses de preparação intensiva para a fuga”, explica Taylor. “Eu acho que o meu papel foi um
pouco mais importante do que abrir e fechar a porta da frente da embaixada.” (Essas são essencialmente
as imagens que comprovam a existência de Taylor no esquema criacionista de Argo.)
Affleck fez um filme de propaganda, uma auto-felação que inverte e distorce os fatos em sua tentativa
frenética de apresentar o agente da CIA Tony Mendez (interpretado por ele mesmo) como a pessoa que
trabalhou nos bastidores para realizar a retirada. O roteiro se baseia em documentos confidenciais da CIA,
abertos ao público nos anos 80, que revelaram como Mendez desenvolveu um disfarce para os seis
americanos – o de uma equipe de cinema que queria fazer um filme de ficção científica no Irã.
Essa é a única parte do filme Affeck que possui alguma verdade. Praticamente todo o resto é uma mentira
para satisfazer um público americano faminto de heróis.
“Tony Mendez ficou um dia e meio no Irã”, diz Ken
Taylor. Em vez de apresentar um relato honesto de
uma missão de resgate histórico, que o embaixador
canadense tinha em grande parte planejado e que a
CIA apenas ajudou a executar, Affleck se entrega a
uma pirotecnia mal disfarçada que corrompe a verdade,
dando primazia ao envolvimento dos EUA.
Na sexta passada, a frustração de Taylor atingiu o
embaixador do Canadá, Ken Taylor: “concierge de
limite. “Não haveria filme sem os canadenses. O
luxo”, na visão de Affleck.
Abrigamos os seis sem que nos fosse solicitado”. Argo
tem recebido vários prêmios nos últimos meses. Embora Affleck tenha sido supostamente “esnobado” por
Hollywood ao não ser apontado na lista de melhor diretor no Oscar, seu longa recebeu várias indicações.
Além de “Argo” ter sido canonizado por ligas e premiações de diferentes setores nos meses passados, a
questão mais ampla é como Affleck conseguiu enganar tanta gente em seu caminho para a glória da
crítica, apesar das enormes distorções, invenções e fabricações que o filme comete para defender a CIA
como um grupo de espiões inteligentes. Como a Grande Mentira tomou conta da imaginação limitada de
Affleck?
“Argo” se situa no Irã, logo após a queda do Xá em 1979, quando a Guarda Revolucionária invadiu a
embaixada americana. Seis funcionários conseguiram escapar e se esconderam por vários dias até que
20
dois deles entraram na residência do casal Pat e Ken Taylor. Outros quatro foram para a casa de John
Sheardown e de sua mulher Zena depois que o funcionário consular Robert Anders telefonou para o amigo
Sheardown pedindo que ele o recebesse com seus três colegas fugitivos. “Por que você demorou tanto?”,
foi a resposta do Sheardown.
(Nada disso aparece na versão de Affleck. Sheardown sequer é mencionado.)
Os fugitivos passaram três meses no limbo das duas residências até que Taylor finalmente convenceu um
reticente departamento de estado americano de que as autoridades iranianas estavam começando a
farejar as casas.
Em seu zelo para contar a história do agente Tony Mendez, Affleck reescreveu boa parte da história e
enxugou radicalmente o papel do embaixador. Não foi só ele que deixou clara sua discordância. Em uma
entrevista para o jornalista Piers Morgan na semana passada, o ex-presidente americano, Jimmy Carter,
afirmou que “90% do plano foi dos canadenses”, mas o filme “dá crédito quase completo à CIA”.
Affleck defende sua selvageria autoral dizendo que uma TV canadense já havia feito um filme em 1981.
De acordo com ele, “Argo” foi concebido para revelar o “papel secreto da CIA” – que basicamente se
resume à criação de uma equipe de cinema a fim de enganar os funcionários da alfândega no aeroporto
de Teerã. “Este filme mostra um maravilhoso espírito de colaboração e cooperação. É um grande
cumprimento para o Canadá”, afirmou Affleck para mim.
(Taylor tinha originalmente planejado que eles se passassem por engenheiros, apenas para ter sua ideia
rejeitado pela CIA, que de alguma forma bizarra pensou que o approach hollywoodiano fazia mais
sentido.)
Não havia absolutamente nenhuma
necessidade de transformar o papel central
do embaixador num “concierge” de luxo,
que basicamente servia bebidas e canapés
e seguia ordens. Taylor, que é interpretado
pelo canadense Victor Garber, declarou
que “‘Argo’ faz parecer que os canadenses
estavam ali apenas a passeio”.
Affleck respondeu um tanto irritado: “Eu
admiro Ken por seu papel no resgate.
Estou surpreso que ele continue a ter
problemas com o filme”. Em outubro,
quando Argo estava sendo lançado na
América do Norte, Affleck soube que Taylor estava começando a falar publicamente sobre sua decepção
com seu trabalho. Ben Affleck organizou às pressas uma exibição e, depois de ouvir suas objeções,
concordou em inserir um texto no início dos créditos: “O envolvimento da CIA complementou os esforços
da embaixada canadense”.
Os fugitivos são recebidos na Casa Branca em 79: a CIA foi coadjuvante
A verdade é outra: Taylor planejou a fuga, enquanto a CIA e seus homens, Mendez à frente, simplesmente
ajudaram a preparar o estratagema esquisito que serve como um contraponto cômico para o drama
subjacente no Irã. Tony Mendez era uma espécie de assessor técnico. Mas, na narrativa falsificada de
Affleck, todo o heroísmo é reservado para seu alter ego.
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A história real por trás da fuga evoluiu de outra forma. Durante os quase três meses em que os seis
fugitivos estiveram escondidos, o governo canadense em Ottawa preparou documentos oficiais –
passaportes, carteiras de motorista, até mesmo alfinetes com a bandeira –, enviados a Teerã via mala
diplomática.
O papel da CIA foi forjar os vistos de entrada – mas até isso eles conseguiram ferrar. Os selos falsos
continham um erro catastrófico feito por um agente, que se equivocou na data de entrada. Um membro da
embaixada canadense, Roger Lucey, apontou a burrada (ele podia ler farsi, em oposição ao apparatchik
da CIA). Lucey passou várias horas debruçado sobre uma lupa, forjando os passaportes e torcendo para
que seu trabalho penoso passasse despercebido pelas autoridades.
Outro ato flagrante de omissão de Argo é que a CIA contou com Taylor para fornecer informações sobre o
caos da tomada de reféns em curso na embaixada dos EUA, onde 52 americanos ainda estavam sendo
mantidos em cativeiro pela Guarda Revolucionária. Taylor pediu a um sargento canadense, Jim Edwards,
que saísse e monitorasse, com seu time, a área ao redor da embaixada dos EUA durante várias semanas,
para uma possível missão dos Estados Unidos.
Edwards foi detido e interrogado por cinco horas, até ser liberado por volta da uma da manhã. “Nós
bebemos um monte de uísque juntos”, Taylor recordou. “Ele poderia facilmente ter sido preso como um
espião.”
Mark Lijek, um dos dois americanos que passaram 79 dias na casa de Sheardown, confirma o relato.
“Toda a embaixada canadense passou a se concentrar em nossa sobrevivência e eventual saída, o que é
praticamente sem precedentes na história diplomática”, Lijek explicou. “É triste que Argo ignore tudo isso.”
Argo também inventa três cenas-chaves que nunca aconteceram. A primeira é quando Affleck-Mendez
leva os fugitivos a um local e atravessa um bazar iraniano. “Isso teria sido suicida,” diz Lijek. A segunda
instância da imaginação fantasiosa de Affleck é a sequencia do aeroporto, no final, em que a Guarda
Revolucionária interroga o grupo – o que simplesmente nunca aconteceu.
Finalmente, “Argo” inventa o clímax em que
um jipe militar cheio de soldados armados
persegue o avião na pista. “É tudo ficção”,
conta Taylor. “Foi bom ir ao aeroporto – exceto
por nossos nervos”.
Affleck é um homem cujo coração está
normalmente no lugar certo. Ele apoia causas
liberais, defende a liberdade de expressão, é
delicado nas entrevistas e freqüentemente
crítico da direita republicana. Mas ele ou é
terrivelmente ingênuo ou estúpido quando se
trata de sua leitura do registro histórico. Ele
O passeio no bazar: só na cabeça do cineasta.
achou que seu bolo fofo de entretenimento lhe
dava a “licença artística” para cortar, ajustar e
mentir. Em uma entrevista ao Hollywood Reporter, afirmou que era um ex-estudante de assuntos do
Oriente Médio da Universidade de Vermont e que escreveu um artigo sobre a revolução iraniana.
Mas, como um crítico freqüente da política externa americana e da administração Bush, por que Affleck
decidiu cantar os louvores da CIA, que projetou a queda de Mossadegh e a subsequente substituição pelo
Xá?
22
Ele deveria checar os fatos. Podemos perdoar a adição de um jipe carregado de metralhadoras
perseguindo um jato comercial. Podemos perdoar a adição de um tour suicida em um bazar lotado.
Podemos até perdoar “Argo” por fazer John Sheardown desaparecer. Mas não há como desculpar uma
visão manipuladora e irremediavelmente distorcida da realidade para maquiar uma peça de propaganda.
*Harold Von Kursk: Alemão, naturalizado canadense, Harold tem 52 anos e é, além de jornalista, diretor de
cinema. Em mais de 20 anos, entrevistou atores e cineastas para a mídia americana e europeia. Com
todas teve grandes conversas. Exceto por Scarlett Johansson. “Ela é uma linda diva mimada”, diz.
(http://ponto.outraspalavras.net/2013/02/27/por-que-argo-e-fraude-historica/)
TEXTO 8
Michelle Obama anuncia vitória de
Argo: Oscar vira propaganda
política
Filme de Ben Affleck é premiado em meio a tensões
diplomáticas e ameaças de guerra de Israel e EUA
contra o Irã
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opini
ao/27383/michelle+obama+anuncia+vitoria+
de+argo+oscar+vira+propaganda+politica.sh
tml
Não bastasse a polêmica produção do filme “5 Broken Cameras”, situações de risco parecem ser
parte da rotina de alguém que vivenciou a tensão da Palestina. O texto que segue vale pela
informação, pelo documentário, pelo envolvimento, pelo resultado em forma de arte. Afinal, esta é
mais uma prova de que não há fronteiras para a arte, ou seja, ela transcende a política, a cultura,
a religião e, ao mesmo tempo, pode representá-las. Boa leitura!
TEXTO 9
A Palestina vai ao Oscar. E é detida no aeroporto.
O filme palestino ‘5 Broken Cameras’ é um dos indicados ao Oscar de
melhor documentário estrangeiro. Mas seu diretor, Emad Burnat, a
esposa Soraya e o filho Gibril foram detidos na terça (19) ao
desembarcarem no aeroporto de Los Angeles, onde participariam da
premiação. Acabaram levados para uma área fechada nas
dependências do aeroporto e submetidos a interrogatório
Emad Burnat, diretor de ‘5 Broken Cameras’ [5 câmeras quebradas],
filme indicado ao Oscar de melhor documentário estrangeiro, foi detido
na noite de 19 de fevereiro ao desembarcar no aeroporto de Los
Angeles, Califórnia, para participar da festa do cinema de Hollywood.
23
Ele, a esposa Soraya e o filho Gibril, de 8 anos – que também participam do filme –, foram levados para
uma área fechada nas dependências do aeroporto e submetidos a interrogatório. Segundo as autoridades
de imigração, Emad não tinha em seu poder o “convite apropriado para o Oscar”, seja lá o que isso for.
Emad enviou uma mensagem, pelo celular, a Michael Moore, o polêmico documentarista de ‘Tiros em
Colombine’, ‘Fahrenheit 11 de setembro’ (filme que questiona a versão oficial do atentado ao World Trade
Center) e um dos diretores da Academia de Hollywood. Moore denunciou a detenção a seus 1,4 milhão de
seguidores no Twitter e acionou o pessoal da Academia, que por sua vez contatou advogados para cuidar
do caso. “Pedi a Emad que repetisse meu nome várias vezes aos oficiais da imigração e que lhes desse
meus números de telefone”, disse Moore. “Parece que eles não conseguiam entender como um palestino
podia ter sido indicado ao Oscar”, completou, irônico.
Moore também deixou claro que faria o que estivesse a seu alcance para impedir a deportação que
ameaçava a família Burnat. E foi bem-sucedido, porque uma hora e meia depois eles foram libertados.
“Mas só poderão ficar em Los Angeles uma semana, até o Oscar”, esclareceu Moore. E, de novo com
ironia, acrescentou: “Bem-vindos aos Estados Unidos!”
Para Emad, a detenção não é nenhuma novidade. “Quando se vive sob ocupação militar, sem nenhum
direito, esse é um acontecimento diário”, declarou. O filme ‘5 Broken Cameras’ é o resultado de sete anos
de trabalho de Emad, que comprou a primeira câmera quando Gibril nasceu e passou a registrar tudo o
que acontecia em sua vila natal, Bil’in, na Cisjordânia sob ocupação militar de Israel. Ajudado pelo
israelense Guy Davidi, que esteve ao lado da resistência de Bil’in desde os primeiros dias, foi responsável
pelo pós-roteiro de ‘5 Broken Cameras’ e figura como codiretor, Emad fez um documento fundamental
para a compreensão, pelo público externo, do cotidiano palestino sob ocupação. O título do filme faz
referência às cinco câmeras que o exército israelense inutilizou ao atingi-las com tiros. Numa dessas
ocasiões o equipamento salvou a vida do diretor – a câmera deteve a bala atirada na direção da cabeça
de Emad.
Cineasta por acaso – e por necessidade
Emad Burnat nunca pensou em se tornar cineasta. Foi a necessidade de registrar a ocupação – para
proteger os vizinhos, pois os soldados, receosos de um dia enfrentar o Tribunal Penal Internacional,
evitam agir com muita violência diante das câmeras –, de mostrar ao mundo, pela internet, a realidade na
Palestina, até poucos anos atrás oculta pela narrativa sionista, e de ter provas para apresentar aos
tribunais de Israel, aos quais o exército conta histórias implausíveis mas levadas a sério, que levaram
Emad a filmar.
Ele comprou sua primeira câmera em 2005, ano do nascimento de Gibril, para gravar seu crescimento e a
vida em família. Mas era impossível limitar-se a temas domésticos numa vida sob ocupação militar. As
incursões noturnas dos soldados, os ataques aos moradores durante as manifestações não violentas, as
prisões, as invasões dos colonos, a construção do primeiro muro e seu desmantelamento em 2011, bem
como a execução do segundo muro, tudo era muito impactante no cotidiano de Bil’in e merecia ser
registrado.
Essa opinião era compartilha por Guy Davidi, professor de cinema, que em 2005 passou a ir com
frequência à vila palestina e chegou a morar lá por alguns meses, para sentir como era viver sob
ocupação. Guy produziu alguns curtas sobre Bil’in, onde filmou, entre 2005 e 2008, ‘Interrupted streams’
[‘Fluxos interrompidos’], sobre o confisco das fontes de água palestinas por Israel. Muitas vezes Emad e
Guy filmavam juntos as manifestações, os ataques dos soldados, as detenções. Corriam os mesmos
riscos. Tornaram-se amigos.
Foi ao longo desses anos que Emad começou a pensar em reunir seu material num longa-metragem sobre
a resistência em Bil’in. Estimulado pela família, pelos amigos e por Guy, ele conseguiu tocar o projeto. Só
24
não esperava o sucesso que se seguiu ao lançamento. Cineasta por intuição, Emad ganhou o respeito e a
admiração de seus pares ao redor do mundo.
Referência ao Brasil e vários prêmios
Uma das cinco câmeras quebradas exibe um adesivo da bandeira brasileira, símbolo também presente na
porta da casa da família Burnat, em Bil’in – um modo de demonstrar o carinho que eles sentem por nosso
país. Soraya, esposa de Emad, é palestina criada no Brasil. O casal e os filhos mais velhos falam um
português impecável e sem sotaque.
‘5 Broken Cameras’ é o primeiro filme palestino a concorrer a um Oscar. Além de muito elogiado pela
crítica, vem tendo uma trajetória de sucesso em todo o mundo. Em 2012, foi indicado para o ‘Asian Pacific
Screen Award’ e ganhou o prêmio de melhor documentário no ‘Jerusalem Film Festival’; o de melhor
diretor de documentário no Sundance (também foi indicado para o Grande Prêmio do Júri desse festival),
nos Estados Unidos, e o Busan Cinephile, do Busan International Film Festival, da Coreia. Em 2011
recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Especial do Público no International Documentary Film
Festival Amsterdam (IDFA), na Holanda. A. O. Scott, crítico de ‘The New York Times’, considerou-o uma
“comovente e rigorosa obra de arte”.
Ele tem razão. No documentário, com sensibilidade, Emad funde sua vida e a de sua família com a história
da ocupação de Bil’in. É uma história comum à maioria dos milhões de palestinos que nasceram nos hoje
dezenas de vilarejos – eram mais de 500 antes que os sionistas os tomassem à força, nos anos 1940 –
que circundam as 11 cidades da Cisjordânia, compondo as regiões distritais daquela parte do Estado da
Palestina.
Com texto de Guy Davidi, e narrado por Emad, o filme nos conduz pelas belas paisagens de Bil’in,
mostrando a chegada dos agrimensores israelenses para a medição das terras que seriam confiscadas; as
reuniões entre os moradores e o pessoal do grupo Anarquistas Contra o Muro, de Israel, que conseguiu o
mapa com o traçado do muro e se uniu aos bilainenses para boicotá-lo; os primeiros enfrentamentos com
o exército israelense; as prisões, a progressão dos desafios e da violência, a consolidação da resistência,
o apoio internacional à luta não violenta de Bil’in.
Há cenas geniais, como a do grupo de moradores que barra o avanço dos soldados na área urbana da vila
com instrumentos de percussão improvisados, numa “bateria” ruidosa e criativa. Há também cenas
difíceis, em que Emad se vê obrigado a filmar a prisão dos irmãos e de um vizinho, um menino, e cenas
trágicas, como o assassinato de Bassem Abu-Rahmah, o Fil, até aquele momento um dos líderes da
resistência e um dos protagonistas do filme. A sequência é dolorosa, embora o público seja poupado das
tomadas mais dramáticas.
O documentário leva o público a participar do cotidiano de Bil’in e a vivenciar um pouco do que significa
estar submetido a uma ocupação militar. Trata-se de documento histórico, denúncia viva dos abusos
cometidos pelo exército sionista. Por isso mesmo, a cena em que o pequeno Gibril, mal se sustentando
em seus primeiros passos, oferece um ramo de oliveira a um dos soldados israelenses – que o aceita,
com um sorriso culpado e sem jeito – surpreende e enternece. Num momento assim não há como deixar
de questionar o mal que os sionistas têm feito aos seres humanos que vivem de um lado e de outro do
muro. Não fossem eles, provavelmente palestinos de todas as religiões teriam continuado a conviver em
harmonia na Palestina histórica. Os inimigos e a discórdia vieram de fora. Será possível neutralizá-los e
resgatar a antiga harmonia, dessa vez juntando ao antigo grupo os cidadãos de Israel, como propõem
palestinos e israelenses que defendem a existência de um único Estado, democrático e secular, com
direitos iguais para todos?
O impacto nos jovens de Israel
25
É difícil responder a essa indagação sem levar em conta as alianças do sionismo e seu papel decisivo nas
finanças internacionais, na indústria bélica e na tecnologia nuclear. O movimento praticamente domina os
setores estratégicos sobre os quais se desenrola o teatro do mundo. É ele que cuida do caixa, do lucro, da
produção e do roteiro do espetáculo. Por isso, o combate não se restringe à ação dos sionistas na
Palestina. Eles se espalham cada vez mais, controlando governos, territórios e ramos de atividades nos
cinco continentes.
Mas é em Israel que seu controle se estende a toda a sociedade. Lá, o sistema educacional garante apoio
e submissão aos princípios sionistas nesta e nas futuras gerações. Assim, quem nasce em Israel aprende,
desde a infância, que os palestinos são “árabes que vivem em território israelense” – e inimigos. A maior
parte dos livros didáticos faz pouca referência à Palestina – nos mapas, por exemplo, Cisjordânia e Gaza
são mostradas como território de Israel – e a sua história. A grande maioria dos jovens israelenses não
sabe que seu país ocupa outro, e tem de seu exército uma visão heroica e romântica, fabricada pela
propaganda sionista.
Contribui para essa ilusão um programa muito comum nos feriados e nos fins de semana em Israel: os
pais costumam levar os filhos pequenos a locais onde são expostos equipamentos de guerra, que as
crianças podem experimentar, e veículos nos quais elas entram e fingem controlar. Tudo sob o olhar
complacente da família e diante das explicações de jovens soldadas e soldados. Para entender como essa
indústria da violência funciona, assista ao vídeo produzido pelo israelense Itamar Rose:
http://youtu.be/Qp67KehlVGU.
Não é de admirar, portanto, que as crianças de Israel desenvolvam a ideia de que a solução de seus
problemas – ou daquilo que lhes é ensinado como “problema” – passa pela via militar. Foi para desfazer
essa crença que Guy Davidi decidiu mostrar ‘5 Broken Cameras’ a um grupo de jovens em Israel e filmar
suas reações. Suas expressões, durante a exibição do documentário, dizem muito sobre a revelação de
como é a vida dos palestinos: indicam surpresa, choque, consternação, revolta, compaixão.
Diante dessa experiência, Davidi resolveu elaborar um projeto maior: levar ‘5 Broken Cameras’ ao público
israelense em sessões que permitam reflexões e debates sobre a ocupação, a violência imposta aos
palestinos de maneira direta e aos israelenses de modo indireto, o dia a dia dos cidadãos dos dois lados
do muro, o próprio muro, o questionamento ao papel do exército e à ideologia dos soldados – que, como
eu mesma pude comprovar nas muitas conversas que travei com eles, têm dos palestinos e dos árabes
uma imagem deturpada, assimilada em uma existência inteira de educação dirigida e controlada. Conheça
a surpreendente experiência de Guy Davidi com os jovens israelenses: http://youtu.be/i1wEszQYEzg.
Será que a arte pode promover compreensão e tolerância, aproximando duas populações separadas pela
agenda bélica e expansionista das autoridades sionistas? Será que a mudança necessária pode começar
da base de ambas as sociedades, as únicas instâncias portadoras de legitimidade para isso? É uma
aposta ousada, a dos diretores de ‘5 Broken Cameras’. Aguardemos os resultados.
(http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21650&editoria_id=12)
Que somos imbuídos por uma multicultura, isso nós já sabíamos, contudo, dificilmente nos
atentamos para riquezas singulares símbolos de nossa brasilidade. O texto a seguir trata de
uma de nossas riquezas, agora reconhecidamente considerada Patrimônio Cultural Imaterial
da Humanidade. Vibre você também!
TEXTO 10
26
Frevo entra para a Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da
UNESCO
O Comitê Intergovernamental da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, reunido
em Paris de 3 a 7 de dezembro de 2012, decidiu incluir o Frevo na Lista Representativa do Patrimônio
Imaterial da Humanidade. A lista, que reúne práticas e expressões de todo o mundo, dá visibilidade ao
patrimônio imaterial e conduz à conscientização sobre
a sua importância como um elemento da diversidade
cultural, ao mesmo tempo tradicional, contemporâneo
e vivo.
O frevo é uma expressão artística brasileira ímpar. Ele
representa a riqueza da criatividade e da cultura que
surge da combinação de música, dança, capoeira e
artesanato, entre outros, demonstrando o talento
criativo de seus praticantes. Seu ritmo vivo, frenético e
vigoroso surge da fusão de vários gêneros musicais,
como a marcha, a quadrilha, a polca e peças do
repertório clássico. Os passos que acompanham o
ritmo têm suas origens no talento e na agilidade dos
lutadores de capoeira que improvisavam saltos e outros movimentos ao som das bandas de metal e
orquestras. O elemento ta mbém guarda uma estreita relação com as crenças e o universo simbólico e
religioso dos seus praticantes. Várias associações utilizam cores que indicam a filiação dos seus membros
e ornamentos com significado religioso.
Música e dança são executadas, principalmente, durante o carnaval
em Pernambuco, mas as comunidades praticantes do frevo e do
passo se dedicam durante todo o ano ao desenvolvimento, à
preservação e à transmissão de seus conhecimentos e práticas.
A capacidade de promover a criatividade humana e o respeito pela
diversidade cultural é inerente ao frevo e a sua inscrição na Lista
Representativa fortalece a apreciação do espírito criativo da
humanidade, graças a sua abertura a diversos indivíduos e
comunidades. A inscrição reconhece também as medidas para
salvaguardar essa manifestação, como a documentação e as
atividades educacionais e de promoção.
O frevo foi nomeado após uma participação ampla e ativa da comunidade, das associações e dos grupos
que o praticam, com o seu consentimento livre, prévio e informado. As comunidades identificaram e
definiram o seu patrimônio, e o frevo foi inventariado e reconhecido como patrimônio cultural do Brasil em
2007 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
(http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/singleview/news/brazilian_frevo_dance_is_inscribed_in_the_representative_list_of_the_intangible_cultural_herita
ge_of_humanity/)
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Falar de cultura e arte é, sem sombra de dúvida, falar de Oscar Niemeyer. Viveu, estudou, trabalhou,
dedicou-se a aprender, a produzir... a construir o incomum! A dar novos contornos... belas imagens...
criações... ousadias! O texto que segue apresenta apenas um pequeno recorte de uma vida de
intensa produção e criação. Indubitavelmente, a nossa cultura e a nossa arte possuem a sua marca.
Confira!
TEXTO 11
Tributo a Oscar Niemeyer
“Meu avô, que foi ministro do Supremo Tribunal, morreu sem um
tostão. Achei bonito ele morrer assim. Já disse que teria
vergonha de ser um homem rico. Considero o dinheiro uma coisa
sórdida.”
“Gostava de desenhar e o desenho levou-me à arquitetura.
Lembro-me que ficava com o dedo no ar desenhando. Minha
mãe perguntava: 'o que está fazendo menino?' 'Desenhando',
respondia com a maior naturalidade”
Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho foi um dos
maiores gênios da história da arquitetura. Nasceu no bairro das
Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907. Apaixonado por futebol e pelo
Fluminense, Niemeyer chegou a jogar no time juvenil do clube de Laranjeiras.
Casou-se cedo. A união com Annita Baldo foi aos 21 anos, quando Niemeyer ajudava o pai na tipografia.
Em 1929 entrou para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde cinco anos depois formouse engenheiro arquiteto. No meio do período da faculdade, em 1932, nasceu Anna Maria, sua única filha,
que morreu em junho de 2012.
O casamento com Annita Baldo, a primeira mulher, durou 76 anos, quando ela morreu, em 4 de outubro de
2004. Casou-se novamente em 2006, com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira.
Os primeiros passos na carreira que o consagraria como um dos nomes mais influentes na arquitetura foi
dado no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, onde fez estágio sem remuneração.
“Resisti, não queria, como a maioria dos meus colegas, me adaptar a essa arquitetura comercial que
vemos por aí. Preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório onde esperava encontrar as respostas para
minhas dúvidas de estudante de arquitetura”
Niemeyer teve a oportunidade de conhecer outro gênio da arquitetura ao ser designado por Lúcio Costa
para ajudar Le Corbusier, famoso arquiteto suíço, que estava de passagem pelo Brasil, em 1936, para
colaborar com o projeto do prédio do Ministério da Educação no Rio.
Ativista político
Em 1940 Niemeyer conhece Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, e realiza seu primeiro
grande projeto, o Conjunto da Pampulha, no bairro na capital mineira, que incluía o cassino, a Casa do
Baile, o clube e a igreja de São Francisco de Assis.
Boa parte das obras mais importantes do arquiteto serviu a projetos ideológicos e políticos. Niemeyer
projetou o parque Ibirapuera e o Edifício Copan, ambos em São Paulo. Em 1956, com JK na presidência
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do Brasil, organizou o plano piloto de Brasília e foi responsável pela construção da nova capital federal.
Com traços ousados, o filho do modernismo criou o Itamaraty, o Alvorada, o Congresso, a Catedral, a
Praça dos Três Poderes, entre outros prédios e monumentos.
“Nós começávamos a imaginar quando é que Brasília iria surgir. De repente, aparecia uma mancha azul
no horizonte. Ela ia crescendo. Depois apareciam os contornos e começávamos a dizer: ali é o Teatro, lá é
o Congresso, a Torre. Brasília surgia como num passe de mágica, um milagre”, contou ele.
A participação de Niemeyer na vida política do
Brasil fez dele um intelectual comprometido com
seu tempo. Comunista histórico - se filiou ao
Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945 -, o
arquiteto teve seu escritório no Rio invadido no
golpe de 1964. Depois de passar por interrogatório
na polícia, decidiu morar fora do Brasil.
Morte e Homenagens
O arquiteto, que morreu na noite de 5 de dezembro
aos 104 anos, tornou-se mundialmente conhecido
por conseguir dar belas formas e curvas ao pesado
e denso concreto. Além do Brasil, Niemeyer fez
Congresso Nacional é uma das obras mais famosas de
uma série de trabalhos no exterior, como nos
Niemeyer
Estados Unidos, França, Líbano, Portugal,
Alemanha, Itália, Inglaterra, Argentina, Argélia e tantos outros países. De pouca fala, não era raro vê-lo
pensativo diante de um questionamento, sempre às voltas com suas cigarrilhas dinamarquesas Davidoff.
Homenagens não faltaram ao mestre das curvas. A íngreme rua outrora chamada Passos Manuel, no
bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de Janeiro - onde passou grande parte da infância - atualmente
se chama Ribeiro de Almeida, em homenagem ao avô do arquiteto. Além disso, títulos e outras honrarias
lhe foram concedidos nestes mais de 70 anos dedicados à arquitetura. Comparado por Lúcio Costa ao
gênio barroco Aleijadinho, Oscar Niemeyer definitivamente já se confirmou como um dos maiores
arquitetos do século 20.
SAIBA MAIS!
http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/12/oscarniemeyer-fez-historia-na-arquitetura-mundial.html
http://g1.globo.com/oscar-niemeyer/platb/
Catedral de Brasília é uma das principais obras de
Niemeyer na capital federal.
29
Em uma de nossas videoaulas deste eixo temático, o professor formador tratou sobre um assunto ao
mesmo tempo interessante e polêmico: A Música de Massa e o Comportamento do Jovem
Brasileiro Contemporâneo. O modo como as músicas que marcaram época retratavam a imagem
da mulher e o modo como isso acontece hoje nas músicas de massa nos permite alguns sérios
questionamentos. Seria evolução ou involução? As músicas denigrem a imagem da mulher, ou
simplesmente traduzem em palavras a imagem que ela mesma construiu? Constroem ou destroem a
imagem da mulher, ou atuam como (de)formadora dessa imagem? Para pensar...
TEXTO 12
A Mulher e a Evolução da Música
Triste realidade. Uma análise da evolução da relação de conquista e do amor do homem para a mulher,
através das músicas que marcaram época.
Não é saudosismo, mas vejam como os jovens tratavam seus amores...
Década de 30:
Ele, de terno cinza e chapéu panamá, em frente à vila onde ela mora,
canta:
"Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa! Do amor por Deus
esculturada. És formada com o ardor da alma da mais linda flor,
de mais ativo olor, na vida é a preferida pelo beija-flor..."
Década de 40:
Ele ajeita seu relógio Pateck Philip na algibeira,escreve para Rádio
Nacional e, manda oferecer a ela uma linda música:
"A deusa da minha rua, tem os olhos onde a lua,costuma se embriagar.
Nos seus olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade
buscar"
Década de 50:
Ele pede ao cantor da boate que ofereça a ela a interpretação de uma bela bossa:
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça.
É ela a menina que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar.
Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema. O teu balançado é mais que um poema.
É a coisa mais linda que eu já vi passar."
Década de 60:
Ele aparece na casa dela com um compacto simples embaixo do braço, ajeita a calça Lee e coloca na
vitrola uma música papo firme:
"Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que o
meu amor, nem mais bonito. Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar, como é grande o meu
amor por você..."
30
Década de 70:
Ele chega em seu fusca, com roda tala larga, sacode o cabelão, abre porta pra mina entrar e bota uma
melô jóia no toca-fitas:
"Foi assim, como ver o mar, a primeira vez que os meus olhos se viram no teu olhar..
Quando eu mergulhei no azul do mar, sabia que era amor e vinha pra ficar..."
Década de 80:
Ele telefona pra ela e deixa rolar um:
"Fonte de mel, nos olhos de gueixa, Kabuki, máscara. Choque entre o
azul e o cacho
de acácias, luz das acácias, você é mãe do sol. Linda..."
Década de 90:
Ele liga pra ela e deixa gravada uma música na secretária eletrônica:
"Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz. Mas já não há
caminhos pra voltar.
E o que é que a vida fez da nossa vida? O que é que a gente não faz por amor?"
Em 2001:
Ele captura na internet um batidão legal e manda pra ela, por e-mail:
"Tchutchuca! Vem aqui com o teu Tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão!
Eu vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim! Eu vou te cortar na mão!
Vou sim, vou sim! Vou aparar pela rabiola! Vou sim, vou sim"!
Em 2002:
Ele manda um e-mail oferecendo uma música:
"Só as cachorras! Hu Hu Hu Hu Hu!
As preparadas! Hu Hu Hu Hu!
As poposudas! Hu Hu Hu Hu Hu!"
Em 2003:
Ele oferece uma música no baile:
"Pocotó pocotó pocotó...minha éguinha pocotó!”
Em 2004:
Ele a chama p/ dançar no meio da pista:
"Ah! Que isso? Elas estão descontroladas! Ah! Que isso? Elas Estão descontroladas!
Ela sobe, ela desce, ela da uma rodada, elas estão descontroladas!"
Em 2005:
Ele resolve mandar um convite para ela, através da rádio:
31
"Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bunda lele!"
Em 2006:
Ele a convida para curtir um baile ao som da música mais pedida e tocada no país:
"Tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha!!!
Calma, calma foguetinha!!! Piriri Piriri Piriri, alguém ligou p/ mim!"
Em 2010:
Ele encosta com seu carro com o porta-malas cheio de som e no máximo volume:
"Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás.
Pra que você quer saber?
Eu sou o lobo mau, au, au
Eu sou o lobo mau, au, au
E o que você vai fazer?
Vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Vou te comer, vou te comer, vou te comer"
(http://de-enise-e.blogspot.com.br/2011/06/mulher-e-evolucao-da-musica-brasileira.html)
E por falar em mulher, gostaríamos de registrar, também, nesta coletânea que trata de cultura e
de arte, a nossa homenagem especialmente a você, mulher, que é digna e merecedora de toda a
nossa poesia, do melhor da expressão da nossa arte... Você que é mestre porque se dispõe
a ser aprendiz...
TEXTO 13
32
Palavras podem poluir, mas também podem elevar nossos pensamentos para o alto! Para isso
precisamos de um banho de cultura, e de arte... Na verdade, a arte está, também, nas palavras. É
encantadora a beleza da linguagem e o modo criativo como cantores e artistas traduzem, em
poucas palavras, tanta grandeza. Cantores que marcaram época cantaram lindamente... Felizmente,
ainda existem poetas, poetisas que apresentam um trabalho todo especial com a letra das músicas,
com as palavras, fazendo poesia... A seguir, duas letras de música que compõem parte do trabalho
realizado pelo talentoso e inspirador Teatro Mágico. Deleite-se!
TEXTO 14
Palavra
(Teatro Mágico)
Palavra, tenho que escolher a mais bonita,
Para poder dizer coisas do coração.
Dar a letra de quem lê.
Toda palavra escrita ou rabiscada,
No joelho, guardanapo ou chão.
Ponto, pula linha, travessão.
E a palavra vem.
Pequena, querendo se esconder no silêncio,
Querendo se fazer de oração.
Baixinha, como a altura da intenção e na insegurança.
Vírgula, parênteses, exclamação.
Ponto, pula linha, travessão.
E a palavra vem...
Vem sozinha,
Que a minha frase invento pra te convencer.
Vem sozinha,
Se o texto é curto aumento pra te convencer.
Palavra, simples como qualquer palavra
Que eu já não precise falar
Simples como qualquer palavra,
Que de algum modo eu pude mostrar.
Simples como qualquer palavra,
Como qualquer palavra...
(http://letras.mus.br/o-teatro-magico/861874/)
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TEXTO 15
Magramática
(Teatro Mágico)
Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto
Nenhum predicado será prejudicado
Nem tampouco a frase, nem a crase
Nem a vírgula e ponto final
Afinal, a má gramática da vida
Nos põe entre pausas
Entre vírgulas
E estar entre vírgulas
Pode ser aposto
E eu aposto o oposto
Que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples
Um sujeito e sua visão
Sua pressa e sua prece
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para a nossa oração
Adjuntos ou separados
Nominais ou não
Façamos parte do contexto
Sejamos todas as capas de edição especial
Mas, porém, contudo, todavia, não obstante
Sejamos também a contracapa
Porque ser a capa e ser contracapa
É a beleza da contradição
É negar a si mesmo
E negar-se a si mesmo
É muitas vezes encontrar-se com Deus
Com o teu Deus
Sem horas e sem dores
Que nesse momento em que cada um se encontra agora
Um possa se encontrar no outro
E o outro no um
Até por que
Tem horas que a gente se pergunta...
Porque é que não se junta tudo numa coisa só?
(http://letras.mus.br/o-teatro-magico/1229112/)
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Charge e Tira
http://maisvaleoqueseraufc.wordpress.com/eixostematicos/cultura-e-arte/
http://deixadissook.blogspot.com.br/2011/10/mafaldaquero-ter-muita-cultura.html
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Uma ótima dica para
quem passar pela cidade
de Maringá/PR é o
Museu Cesumar que
encontra-se dentro do
Centro Universitário de
Maringá. O museu é
aberto
a
toda
comunidade com entrada
franca. As três unidades
– o Museu Interativo,
uma obra moderna que
agrega os recursos da
tecnologia digital para
contar a história de Maringá, desde a sua colonização aos dias atuais; a Casa do Pioneiro, que
preserva as construções e hábitos dos colonizadores; e a Tulha da Cafeeira Santo Antônio,
marco da cafeicultura no passado – compõem a estrutura que apresenta a história da
colonização até os dias de hoje de Maringá e região.
A Casa do Pioneiro
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A Casa do Pioneiro é uma montagem original do ano de 1953. Construída na rua Guarani, no Maringá
Velho, e pertencente à família do pioneiro Shozo Arai, foi adquirida pela instituição e transferida para o
campus, recebendo todo trabalho de restauração do curso de arquitetura e urbanismo. No interior, está
decorada com móveis de época e agrega também 180 peças antigas doadas por pioneiros. Há aparelhos
de rádio, telefone, máquinas de costura, ferro de passar roupa, louças e peças de roupas, entre outros.
Entre as relíquias, está, por exemplo, uma cadeira em madeira utilizada pelo primeiro prefeito da cidade,
Inocente Villanova, em seu gabinete.
Tulha de Café
Já a tulha de café é uma edificação em madeira peroba. Construída originalmente em 1949, integrava a
Cafeeira Santo Antônio e estava localizada na Avenida Mauá, em Maringá. Primeiramente, recebeu o
nome de “Máquina de Café Sampaio e Jubilei” e depois passou por alterações de nome. Em 1965, foi
adquirida pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e operou normalmente até a década de 1980.
Na década de 1990 passou pelo processo de paralisação das atividades. Desmontada, ficou sob a guarda
da Cooperativa Cocamar, que a transferiu ao Cesumar para ser preservada no campus. Internamente, a
tulha possui objetos, painéis fotográficos e cenários que relembram a época da cafeicultura.
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Museu Interativo
Entrada do Museu Interativo
O Museu Interativo é composto por várias estações onde as pessoas poderão assistir a vídeos contando
desde o início da colonização da região Noroeste do Estado, por volta de 1920, à fundação e
desenvolvimento de Maringá, até os dias de hoje. O Museu também terá terminais de computadores para
pesquisa sobre a história da cidade, ambiente virtual e uma sala de cinema onde será exibido um filme em
4D sobre a Maringá de hoje, além da galeria dos prefeitos de Maringá e de um espaço para exposição
itinerante. A primeira exposição será de Kenji Ueta, um dos primeiros fotógrafos a se estabelecer na
cidade.
A exposição “Um olhar fotográfico no passado” é composta por 17 fotos em tamanho 1m X 2m que mostra
pontos da cidade no passado e no presente.
O Museu Cesumar fica aberto de segunda à sexta-feira das 8h30 às 12h15 e das 14h às 17h45. Aos
sábados, das 10h às 16h.
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