18 18 de Abril de 2008 “Depenicar” é para as galinhas Rui Matias Lima Núcleo de Educação para a Saúde e Acção Social Escolar Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular Ministério da Educação Era uma vez uma menina, chamada Jordana, que não conhecia bem o termo refeição. No fundo, ela sabia que havia um Almoço e um Jantar, mas as restantes refeições eram um bocadinho anárquicas, “sem rei nem roque”. Mesmo à hora do jantar, era vulgar estar sem fome porque, pouco tempo antes, tinha comido uma sandes e bebido um sumo. Após o jantar (no qual praticamente não tinha tocado na comida), não demorava muito tempo a sentir um “ratito na barriga” e lá tinha ela de ir comer umas bolachinhas ou umas tostinhas!... Deste modo, tornou-se óbvio que, de tanto desconcerto, alguns problemas começaram a surgir: hortaliças (“verdes”como ela costumava dizer, enquanto torcia o nariz e experimentava fazer uma careta) deixaram de fazer parte dos seus hábitos, até porque com o tempo, ela deixou de comer sopa. As saladas, também se foram tornando cada vez mais escassas nos seus pratos. E a barriguita ressentiase desses hábitos!... Os intestinos não funcionavam bem!... Não raras vezes, doíam-lhe. E também, talvez fruto dessa confusão na sua alimentação e no seu organismo, a Jordana começou, frequentemente, a ter momentos de voracidade… e quais as “vítimas” que ela escolhia para comer sem regra? Os chocolates, os bombons e outras guloseimas… E como todos esses doces a deixavam cheia de sede, ela bebia “litradas” de líquidos. Mas, oh!, mais uma vez escolhia coisas erradas: refrigerantes!... Ora todos estes maus hábitos reflectiam-se no estado de saúde da Jordana e nas actividades do seu dia-a-dia. Embora não comesse muito ao almoço ou ao jantar, o seu peso aumentava muito e, rapidamente, todos ao seu redor começaram a aperceber-se que algo de anormal se passava com o corpo dela. A própria Jordana sentia que algo de estranho e pouco agradável estava a acontecer: primeiro, foi a roupa de que ela mais gostava que deixava, muito rapidamente, de lhe servir – ficava apertada; depois, foi o começar a sentir que as suas coxas roçavam uma na outra e lhe provocavam desconforto; também começou a sentir-se mais cansada e a ter dificuldade em entrar em certas brincadeiras com as suas amigas – a saltar o elástico, a correr, a jogar basquetebol…; À medida que o tempo passava, a Jordana cada vez se isolava mais, não ia brincar, e refugiava-se triste, no seu cantinho preferido, onde devorava bolachas e certas guloseimas. Sentia que mesmo a sua relação com certos meninos e meninas que ela pensava serem seus amigos estava diferente – alguns já não a escolhiam para certas diversões. E com toda essa tristeza, até o seu aproveitamento na escola deixou de ser o mesmo: não conseguia permanecer atenta nas aulas, a concentração não era igual. Ora, num dos períodos de férias grandes, uma prima – a Ana – que vivia afastada, foi passar uns dias a casa dela e, após a surpresa de encontrar a sua prima “gordinha”, rapidamente se apercebeu que ela passava o dia a comer: desde que começava a comer até ao deitar, a Jordana não conseguia estar mais de meia hora seguida sem comer alguma coisa, quer fosse bolachas, biscoitos, chocolates, doces, tostas (cheias de manteiga – e muitas vezes compota), etc. E o frigorífico era também, frequentemente visitado, para encher mais um copo com o seu refrigerante preferido. Aliás, havia sempre 2 ou 3 garrafas de litro e meio de refrigerante no frigorífico. Foi perante esse cenário, que a prima Ana disse: - Ouve lá, Jordana: tu não achas que estás a comer demais? Já viste como estás a ficar gordinha? - Mas eu não como muito, Ana – respondeu a Jordana. Nem sequer ao almoço ou ao jantar eu como muito!... - Pudera – retorquiu a Ana. Passas o dia a comer, a depenicar, até pareces uma galinha! Qualquer dia, começam a crescer-te penas – exclamou com um sorriso, embora sabendo que estava, de certo modo, a magoar a sua prima. - Mas se eu tenho fome!... – respingou a Jordana, enquanto ficava com os olhos vermelhos de choro. - Mas não pode, amiga. Parece que tens é um “vício de comer”. E para mais, só comes coisas que te fazem mal!... Já reparaste que alimentos como o leite, os iogurtes, a sopa, a fruta, que nos fazem tão bem e de que precisamos para crescer, tu não comes? E raramente comes peixe!... - Mas desses eu não gosto muito. O que hei-de eu fazer, Ana? Os professores e os meus pais bem dizem o que devo comer e o que não devo, mas é tão difícil!... Apetece-me sempre comer coisas doces e não consigo resistir… Se tu me ajudasses… Tu que és minha amiga! Com esta confissão, a Jordana virou às costas à Ana e começou a dirigir-se para a cozinha. Foi neste instante que a Ana, resoluta, chamou: - Ei, onde pensas que vais, Jordana? Porque não ficas? Aliás, a partir de agora, eu vou ajudar-te a comer. Vamos “trabalhar” as duas em Educação Alimentar. Não vais fazer dieta mas, com a minha ajuda, vais começar a comer em intervalos regulares e a preferir alimentos saudáveis. Vais ver que, se fizeres o que eu digo e o que eu faço, vais começar a almoçar e a jantar com os teus pais em condições e deixas de aumentar de peso. Prometo-te que eu própria vou resistir às guloseimas e juntas vamos “redescobrir” que a alimentação saudável é gira e saborosa. Dito e feito: passado algum tempo, a Jordana começou a notar que estava mais ágil, mais divertida, os intestinos funcionavam melhor e as roupas que ela tanto gostava serviam-lhe durante mais tempo. E as mudanças foram também notadas e elogiadas por todos os colegas e professores que durante tanto tempo tinham estado sem a ver. Por isso lembra-te sempre das principais mensagens que esta história contém: não estejas sempre a “depenicar”, faz refeições regulares, não abuses de doces, guloseimas e refrigerantes e come mais alimentos saudáveis: sopa (ao almoço e jantar), fruta (pelo menos três peças por dia), leite ou iogurtes (pelo menos duas vezes ao dia) e aumenta o número de vezes que comes salada, hortícolas e peixe. O XADREZ ANTES DE STEINITZ II João Cálix O espírito táctico e cominativo reinava então naquela época Romântica do Xadrez até meados do Século XVIII, é neste contexto que surge François-André Danican Philidor (1726-1795). Este jogador fora de série e, por coincidência também um famoso compositor, conhecido como o fundador da ópera cómica Francesa. 19 18 de Abril de 2008 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Bc4 d6 4.0–0 Bg4 5.Cc3 Cd4 6.Cxe5 Bxd1 7.Bxf7+ Re7 8.Cd5++ (England), 1783 1.e4 e5 2.Bc4 c6 3.De2 d6 4.c3 f5 5.d3 Cf6 6.exf5 Bxf5 7.d4 e4 8.Bg5 d5 9.Bb3 Bd6 10.Cd2 Cbd7 11.h3 h6 12.Be3 De7 13.f4 h5 14.c4 a6 15.cxd5 cxd5 16.Df2 0–0 17.Ce2 b5 18.0–0 Cb6 19.Cg3 g6 20.Tac1 Cc4 21.Cxf5 gxf5 Como se pode verificar no diagrama seguinte as negras construíram uma estrutura de peões largamente superior à das brancas. Este vai ser o factor estratégico que definirá o destino da partida, tal como Philidor sempre o defendeu. Agora já podes deixar o teu comentário no meu blog em: Tens curiosidade sobre o teu artista favorito? Queres saber mais sobre os compositores da antiguidade? Gostavas de tocar um instrumento musical mas não sabes como ele funciona? Faz todas as tuas perguntas para: www.sonia-oliveira.com [email protected] Fotografia de Marco Sádio Na sua juventude Philidor costumava frequentar o conhecido café Parisiense, La Regence, onde aprendeu a jogar Xadrez com o jogador Francês mais forte naquela data, Legall, autor do famoso mate com o seu próprio nome: Sónia Oliveira Os Primórdios da Polifonia e a Música do Século XIII [PARTE V] Num match em 1747 esmagou completamente o talentoso jogador Sírio Stamma, o inventor da notação algébrica e também autor de uma conhecida série de 100 problemas e estudos. Philidor na altura era um jogador tão forte que só aceitava jogar, fosse com quem fosse, se desse uma vantagem inicial (1 peão ou uma peça menor). Ao longo da sua vida foi desenvolvendo o seu talento natural para o jogo, incluindo a criação de um manual absolutamente inovador, L’Analyse du jeux dês Echecs (1749-1777). Ainda se conseguem encontrar alguns exemplares deste best seller que ultrapassou já as cem edições. Philidor foi também o primeiro jogador a submeter as aberturas a estudos metódicos e sistemáticos. No entanto Philidor acabaria por ficar conhecido pelas suas teorias sobre os peões, conhecida é a sua célebre frase; “os peões são a alma do xadrez, do seu posicionamento correcto ou errado, depende o sucesso do ataque ou da defesa, a arte de jogar com os peões decide o destino da partida…”,. Peões à frente, peças atrás; simplisticamente este era o segredo da estratégia ganhadora de Philidor. Organum de Pérotin 22.Dg3+ Dg7 23.Dxg7+ Rxg7 24.Bxc4 bxc4 25.g3 Tab8 26.b3 Ba3 27.Tc2 cxb3 28.axb3 Tbc8 29.Txc8 Txc8 30.Ta1 Bb4 31.Txa6 Tc3 32.Rf2 Td3 33.Ta2 Bxd2 34.Txd2 Txb3 35.Tc2 h4 36.Tc7+ Rg6 37.gxh4 Ch5 38.Td7 Cxf4 39.Bxf4 Tf3+ 40.Rg2 Txf4 41.Txd5 Tf3 42.Td8 Td3 43.d5 f4 44.d6 Td2+ 45.Rf1 Rf7 46.h5 e3 47.h6 f3 0-1. Não só as partes mais antigas, rapsódicas, de organum melismático foram, muitas vezes, substituídas por clausulas de descante, como muitas das clausulas mais antigas o foram também por outras. As chamadas clausulae de substituição, secções de estrutura bem definida e estilizada. O tenor do organum de Pérotin era estruturado de forma característica, numa série de motivos rítmicos idênticos e reiterados, correspondendo, geralmente, ao quinto ou ao terceiro modos rítmicos. Para terminar ficamos com uma brilhante partida entre Graf Bruel e Philidor: Graf Bruehl - Philidor Francois A D (FRA) [C23] London (England) London A obra de Pérotin e dos seus contemporâneos pode ser considerada como uma continuação da obra produzida pela geração de Léonin. A estrutura formal básica do organum – uma alternância de trechos de canto em uníssono com trechos polifónicos – não foi modificada por Pérotin, mas dentro dos trechos polifónicos manifestou-se uma tendência cada vez mais acentuada para uma maior precisão rítmica. As brancas por fim rendem-se incapazes de travar a vitória imparável das negras. Uma importante inovação introduzida por Pérotin e os seus contemporâneos foi a expansão do organum de duas vozes para três ou quatro. Uma vez que à segunda voz se chamava duplum, a terceira e quarta, por analogia, foram designadas, respectivamente, por triplum e quadruplum. Estes mesmos termos designavam também a composição no seu conjunto; um organum a três vozes era chamado de um organum triplum, ou simplesmente um triplum, e um organum a quatro vozes um quadruplum. O triplum tornou-se comum, na época de Pérotin e continuou a ser cultivado durante muito tempo; encontramse alguns exemplos de organa deste tipo em manuscritos da segunda metade do séc. XIII. Num triplum relativamente longo estão, geralmente, presentes dois estilos distintos, quer combinados, quer alternados. Este estilo assemelha-se ao dos trechos de notas sustentadas do organum de Léonin, ou seja, de organum purum, mas partilha a precisão rítmica do descante nas vozes mais agudas. Num organum típico de Pérotin, a uma parte inicial de organum purum seguir-se-á uma ou mais partes de descante, nas quais o tenor é também mensural, embora não evoluatão rapidamente como as vozes mais agudas. À medida que a composição avança, as secções baseadas em notas sustentadas entrelaçam-se e alternam com secções em estilo de descante; estas últimas, regra geral, correspondem às partes melismáticas do cantochão original, enquanto as secções baseadas em notas sustentadas correspondem às partes mais silábicas do cantochão. Fonte: GROUT, Donald – “História da Música Ocidental”,5ª Edição, Gradiva, Lisboa, 2005.