Resumos Expandidos CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DE UMA ANOMALIA EM MUDAS DE EUCALYPTUS GRANDIS Paola Mazza Revolti1; Celso Luis Marino2; Shinitiro Oda3; Tatiane Maria Rodrigues4; Kleber Alexandre Campos5 1 Pós-Graduanda Gen . Vegetal IBB/UNESP ([email protected]); 2Prof. Dr. Departamento de Genética IBB/UNESP ; 3Cia. Suzano Papel e Celulose; 4Prof. Dr. Departamento de Botânica IBB/UNESP; 5Assistente de Suporte Acadêmico II, Departamento de Botânica IBB/UNESP Introdução e Objetivos De ocorrência natural na Austrália, o gênero Eucalyptus possui uma ampla diversidade de espécies, variedades e híbridos (mais de 900) [1, 2, 3]. Por apresentar determinadas características vantajosas para sua introdução e manutenção, como crescimento rápido, alta produtividade, ampla diversidade de espécies, grande capacidade de adaptação, Eucalyptus tornou-se o gênero mais amplamente utilizado em plantios florestais no Brasil e no mundo [3, 4]. Técnicas de melhoramento genético florestal têm sido usadas com o intuito de aumentar a produtividade, introduzir características desejáveis para o mercado e reduzir impactos ambientais [5]. São evidentes as perdas na produção de mudas e atrasos em programas de melhoramento causados pelos efeitos negativos de alelos recessivos deletérios. Ao realizar um cruzamento controlado de Eucalyptus grandis, a empresa Suzano Papel e Celulose detectou uma anomalia com segregação mendeliana 3:1 na progênie [6]. As plântulas anômalas, que morriam em poucos meses, são caracterizadas por superbrotamento caulinar, redução de altura, redução drástica da área foliar e alteração na forma do limbo da folha. Desde então o CAGEM (Centro de Análises Genéticas e Moleculares) vem estudando as causas genéticas de tal anomalia. Por estas razões o objetivo desse trabalho foi a caracterização morfoanatômica de dois materiais (normal e anômalo), procurando por padrões diferenciados nos mutantes. Material e métodos Foram utilizadas 40 plântulas (20 normais e 20 anômalas) obtidas por cruzamento controlado de Eucalyptus grandis (indivíduos G07 e G26), cedidas pelo programa de melhoramento florestal da empresa Suzano Papel e Celulose. Para a análise morfológica cinco parâmetros foram avaliados: altura das plântulas, diâmetro da base do caule, área foliar, formato da folha e número de ramificações laterais caulinares. Para os estudos anatômicos, o material foi fixado em FAA 50 (formaldeído, ácido acético e álcool etílico) por 24 horas, sendo transferido para álcool 70% [7] onde permaneceu estocado até o processamento. Este material foi desidratado em série etílica [8], e emblocado em resina sintética glicol metacrilato, segundo métodos usuais. Os blocos foram seccionados em micrótomo rotativo semi-automático e os cortes (5µm) foram corados com azul de toluidina 0,05% em tampão acetato, ph 4,3 [9]. As lâminas foram montadas com Entelan e analisadas ao microscópio de luz Leica DMLS, com câmera acoplada. Microscopia eletrônica de varredura 109 3º Encontro Brasileiro de Silvicultura (MEV) foi realizada no Centro de Microscopia Eletrônica (CME), localizado no IBB/UNESP. O material foi fixado em glutaraldeido 2,5% em tampão fosfato 0,1M, ph 7,3 [10]. Após 24 horas os fragmentos foram lavados em tampão fosfato 0,1M, e pós-fixados em tetróxido de ósmio a 1% em tampão fosfato, por um período de 2 horas [10]. A seguir, o material foi submetido à desidratação em série etílica crescente e à secagem em ponto crítico. Após metalização com ouro [10], as amostras foram observadas em microscópio eletrônico de varredura FEi Quanta. Resultados e discussão As plantas anômalas apareceram na progênie em uma proporção mendeliana de 3:1 (8360 normais : 2880 anômalas), sugerindo que essa característica seja controlada por um gene recessivo de efeito principal, ocorrendo uma interação tipo pleiotropia. Podemos identificar as seguintes características: redução do volume da raiz (Figura 1A), presença de ramificações laterais caulinares e redução na altura da planta (Figura 2A), redução da área foliar e alterações no formato do limbo foliar (Figura 1C). Na análise anatômica torna-se evidente a diferença da área total entre todos os materiais. Nos cortes transversais da raiz observamos uma área de 16568655,09µm² na planta normal e 316705,55µm² na planta anômala. Outra característica que chama a atenção é a largura dos elementos de vasos, sendo a média de 24µm na planta normal e 32,5µm na anômala. Nos cortes transversais do caule a área observada foi de 7965648,63µm² na planta normal e de 203740,5µm² na anômala, no entanto as médias da largura dos elementos de vasos se invertem, sendo de 17µm na planta normal e de 5,5µm na anômala. Nos cortes transversais da folha, o comprimento do limbo foliar da nervura principal até o bordo do limbo da planta normal foi de 6817,57µm, e na anômala de 3253,72µm; as médias da largura dos elementos de vasos também foram maior na planta normal, 19µm, do que na anômala, 7,20µm. Conclusões Morfologicamente, além da área foliar reduzida, as plantas anormais apresentaram folhas lanceoladas e borda ondulada. Nas plantas normais, são ovaladas e de borda lisa. Em geral, mudas em viveiro de eucalipto possuem um único caule após a germinação, assim como as plantas normais apresentaram, no entanto as anômalas possuíam ramificações laterais, em um número variável de 2 a 13. Figura 1. (A) Raiz de planta normal (abaixo) e anômala (acima) e seu corte transversal; (B) Parte aérea de planta normal (esquerda) e anômala (direita) e corte transversal; (C) Folha normal (esquerda) e anômala (direita) e corte transversal. 110 Parece que o sistema condutor se desenvolve menos na parte aérea (caule e folhas) de plantas anômalas em comparação com as normais. Na raiz, ocorre o inverso. A identificação dos alelos recessivos deletérios e, consequentemente, a eliminação de genótipos com alelos desfavoráveis nos programas de melhoramento evita danos Resumos Expandidos na produção, por isso trabalhos com mudas ainda em viveiro envolvendo tanto a genética como a morfologia e anatomia, são de fundamental importância para aumento de produtividade, introdução de características desejáveis para o mercado e redução de impactos ambientais. [9] O’BRIEN, T.P. et al. Polychromatic staining of plant cell walls by toluidine blue. Protoplasma 59(2):368-373, 1964. [10] ROBARBS, A.W. An introduction to techniques for scanning electron microscopy of plant cells. In: Electron microscopy and cytochemistry of plant cells (Hall, J.L. (eds)). Elsevier, New York, 1978. Referências Bibliográficas [1] BOLAND, D.J. et al. Forest trees of Australia. Melbourne: CSIRO 5: p.736, 2006. [2] BROOKER, M.I.H., KLEINIG, D.A. Field guide to Eucalyptus. Melbourne, Australia: Bloomings Books, 2nd edition, v.3, 2004. [3] GRATTAPAGLIA, D., KIRST, M. Eucalyptus applied genomics: from gene sequences to breeding tools. New Phytologist 179:911-929, 2008. [4] MORA, A.L., GARCIA, C.H. A cultura do eucalipto no Brasil. Sociedade Brasileira de Silvicultura, São Paulo, p.112, 2000. [5] GOLLE, D.P. et al. Forestry improvement: emphasis on biotechnology application. Ciência Rural, Santa Maria, 39(5):1606-1613, 2009. [6] TAMBARUSSI, E.V. Associação de marcador RAPD e desenvolvimento de marcador SCAR para um tipo de anomalia de viveiro em Eucalyptus grandis. Monografia (Bacharelado em Engenharia Florestal) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, 31p. 2006. [7] JENSEN, W.A. Botanical histochemistry: principles and pratice. W. H. Freeman, San Francisco, 1962. [8] JOHANSEN, D.A. Plant microtechnique. Mc Graw-Hill, New York, 1940. 111