DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA ALERGIA A PROTEÍNAS DO LEITE DE VACA: UMA REVISÃO DA LITERATURA Tiago de Sousa Barros12, Jéssika Nayara Sousa Barros13, Rebeca Pires Gonçalves Moraes², Ticiana Maria Viterine de Nascimento², Natália Oliveira de Freitas², Edna Mori14. Correspondência para: [email protected] Palavras-chave: Proteínas. Leite materno. Hipersensibilidade. 1 INTRODUÇÃO O leite de vaca contém cerca de 20 proteínas sensibilizantes sendo principais as caseínas e as proteínas do soro (alfa-lactoalbumina, betalactoalbumina e albumina sérica bovina) (CHATCHATEE et al., 2001). Os principais responsáveis pela alergia a proteínas do leite de vaca - APLV, encontrados principalmente na beta-lactoglobulina. Acredita-se, também, que o uso de pequenas quantidades do alimento de forma processada possa levar ao desenvolvimento mais precoce da tolerância, o que abre novas perspectivas com relação ao manejo destes pacientes (NOWAK-WEGRZYN; SAMPSON, 2011). Frequentemente podemos encontrar na alimentação dos lactentes a substituição do leite materno pelo leite de vaca. Com isso, as proteínas do leite de vaca são os primeiros antígenos alimentares que os lactentes entram em contato, tornando assim o principal causador da formação da alergia alimentar nessa idade (ISOLAURI, 2011). 12 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 13 Discentes da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) 14 Docente da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN) Estudo no Brasil realizado por pediatra, traz como percentagem de uma prevalência de 5,4% de crianças com sintomas de alergia a proteínas do leite de vaca, sendo a incidência dessa patologia de 2,2% (VIEIRA et al., 2003). A alergia as proteínas do leite de vaca é a mais comum das alergias alimentares em crianças. O leite de vaca é rico em proteínas, sendo que 80% do conteúdo proteico do leite estão constituídos de caseínas, enquanto os outros 20% compõem as proteínas do soro (SAMPSON; METCALFE, 1992). Devido à essa importância da fonte proteica do leite de vaca, os pacientes com alergia a esse alimento devem ter a sua eliminação da dieta de forma adequada, para que através de outros alimentos possam ser supridos os nutrientes e não prejudique o crescimento e desenvolvimento normal (MEDEIROS et al., 2004). Diante do exposto, o estudo objetivou-se descrever os principais tipos de diagnósticos e tratamento para alergia a proteínas do leite de vaca a partir da identificação e discussão da produção científica acerca do tema. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde se realizou uma revisão bibliográfica da literatura, promovendo discussão sobre os resultados de pesquisa por meio da síntese e conclusões gerais o estado do conhecimento. O estudo ocorreu nos meses de maio e junho de 2014 por meio de busca dos estudos que respondesse a seguinte pergunta: quais as informações disponíveis na literatura que tratam do diagnóstico e tratamento da alergia as proteínas do leite de vaca? A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS); Índice Bibliográfico Espanhol em Ciências da Saúde (IBECS); e na Biblioteca virtual Scientific Electronic Library Online (SciELO). Para a busca dos artigos utilizou-se os seguintes descritores: proteínas do leite; substitutos do leite materno; hipersensibilidade ao leite; alergia a proteínas do leite. Os cruzamentos foram feitos pela combinação em dois pares e duas tríades entre todos os descritores. Definiu-se como critérios de inclusão artigos escritos em língua portuguesa, inglesa e espanhola; disponíveis em textos completos nas bases de dados escolhidas; e publicação nos últimos anos. Apenas estudos completos foram incluídos devido ao entendimento de que muitos resumos não expressam o conteúdo exato dos trabalhos. Os critérios de exclusão foram: artigos de reflexão; teses; dissertações; editoriais de jornais sem caráter científico; e artigos repetidos nas bases de dados. Ao final da análise dos artigos, utilizando os critérios de inclusão e exclusão, permaneceram 10 artigos, ao qual fizeram parte da amostragem final do estudo. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Para categorização e discussão dos resultados foram divididos dois tópicos de acordo com a abordagem dos artigos selecionados, sendo eles: diagnóstico de alergia a proteína do leite de vaca – APLV e tratamento de alergia a proteína do leite de vaca – APLV. Tratamento de APLV: O diagnóstico correto e preciso da APLV evita gastos desnecessário com o tratamento e proporciona um bem estar maior tanto para o paciente como para os familiares. No estudo de Sacristan et al. (2011) é abordado o histórico familiar como um fator importante para o diagnóstico, pois crianças que não estavam em amamentação exclusiva têm maiores chances de adquirir a APLV, uma vez que a administração de pequenas quantidades de PLV oferecidas ocasionalmente nos primeiros meses de vida, aumenta as chances da criança ter intolerância. Carvalho (2001) mostra que o diagnóstico precoce evita complicações do aparelho respiratório, uma vez que 100% das crianças no presente estudo apresentaram complicações do aparelho respiratório devido a APLV. Pode-se verificar o uso da dieta de exclusão com provocação oral, que consiste na administração de doses elevadas do alimento envolvido sob supervisão médica, onde verifica-se os sinais e sintomas, como um método de diagnóstico preciso, podendo estar associado a exames laboratoriais que inferem a doença, uma vez que não possuem exames que diagnostiquem propriamente a APLV. Vanderhoof (2010) aborda que o diagnóstico para APLV é ainda difícil, trazendo o teste de desafio com leite (provocação oral) como a forma ideal de diagnóstico para evitar o excesso de tratamento e o auto custo. AISBAI e SBAN (2012) mostra um estudo detalhado do diagnóstico, abordando a sua fundamentalidade em quatro pilares: anamnese e exame físico, dieta de restrição, testes para detecção de IgE e teste de provocação oral, que aborda segundo outros autores sendo esse último o mais importante. Segundo o estudo de Souza e Rosario (2012) a imunoterapia atualmente vem ganhando destaque na parte do diagnóstico, sendo uma forma eficaz para a confirmação da alergia.Aborda também o uso de antiIgE através de métodos que identificam a presença dessas imunoglobulinas nos pacientes. Ferrari e Filho (1999) em seu estudo, conclui que os testes cutâneos são as formas mais apropriadas para diagnosticar a APLV, pois são uteis mesmo em crianças com idade inferior a dois anos e podem ser realizados com o alimento natural, sendo recomendado outros testes diagnósticos como a provocação oral. Por fim, Correia et al. (2010) discute sobre o teste de desencadeamento nos diagnósticos de APLV, trazendo resultados de testes realizados no seu estudo como um eficiente teste de diagnostico para a manutenção de pacientes alérgicos, com a consequente suspensão da dieta de exclusão. Tratamento de APLV: Sacristan et al. (2011) indica a restrição dietética dos alimentos derivados do leite de vaca, assim como o seu consumo primário. Carvalho (2001) também aborda a restrição da dieta com PLV presentes com a substituição deste pelo leite de soja, que é recomendado no tratamento da patologia. Na prática o leite de soja é utilizado como substituto devido a boa aceitação, facilidade de adquiri-lo e baixo custo, afirma o autor. Cortez et al. (2007) aborda a importância do leite de vaca e seus derivados para a dieta do indivíduo e aponta a sua exclusão na dieta como a forma mais adequada de tratamento da doença, associada a uma adequada substituição dos outros nutrientes presentes no leite, como o cálcio. Os autores pontuam também a exclusão dos alimentos industrializados e as preparações que podem conter PLV. As bebidas ou sucos a base de extrato de soja são recomendados para a substituição do leite de vaca. ASBAI & SBAN (2012) traz a dieta de exclusão como o tratamento disponível até o momento para APLV. Ele aborda que a exclusão ou restrição dos alimentos contendo as proteínas não é necessária, apenas deve-se evitar a introdução simultânea de dois ou mais alimentos que contenham a proteína, como o leite de vaca e seus derivados. O estudo de Souza e Rosario (2012) aborda que atualmente a forma de tratamento mais utilizada é a exclusão na dieta de alimentos que contenham PLV com a substituição apropriada de cada caso dos nutrientes presentes nesses alimentos e que são indispensáveis para o paciente. O estudo de Ferrari e Filho (1999) aborda que a exclusão total do alimento com PLV é a única terapêutica comprovada para o tratamento adequado, corroborando com Cruchet (2002), que aborda o tratamento através da retirada do leite e seus derivados da dieta com a substituição de alimentos à base de soja. Rossel et al. (2000) afirma que pacientes com APLV requerem uma mudança nos hábitos alimentares, o que muitas vezes pode ser complicado, mas seria a forma mais ideal para o tratamento da doença, até que o paciente reestabelecesse a sua tolerância. 4 CONCLUSÕES O presente estudo nos deu a possibilidade de verificar que para o diagnóstico preciso da APLV deve-se realizar a princípio uma anamnese e o exame físico (histórico do paciente), seguido da utilização do método de provocação oral, sendo esse o mais utilizado nos estudos abordados. No que diz respeito ao tratamento, onde podemos ressaltar a influência do profissional Nutricionista, foi possível identificar que a literatura aborda a restrição dos alimentos com proteínas do leite de vaca na dieta dos pacientes como a forma mais utilizada e eficaz no do tratamento, chamando a atenção para a reposição de alimentos que possam suprir os demais nutrientes presentes no leite de vaca. REFERÊNCIAS CHATCHATEE P.; JÄRVINEN KM.; BARDINA L.; et al. 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