Título DIREITO E CIDADANIA ATIVA Autor: Profº Penildon Silva Filho ( [email protected]) Instituição: FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS - FABAC Área temática: Direitos Humanos OBJETIVO: O projeto Direito e Cidadania Ativa tem como objetivo suscitar o debate e o amadurecimento de uma postura de cidadão ativo em comunidades em Lauro de Freitas, através de uma troca de conhecimentos e saberes entre essas comunidades e os alunos do curso de Direito da Faculdade Baiana de Ciências. Entendemos que os alunos do Curso de Direito poderiam ter dois tipos de trabalho nas comunidades: o trabalho de assistência e o trabalho de assessoria. Ambos importantes e pertinentes numa sociedade que está construindo os instrumentos e uma cultura de democracia. Mas fizemos a opção da assessoria por entendermos que a sua capacidade de formação de multiplicadores terá um efeito em longo prazo. A assistência se debruça sobre a necessidade premente da solução dos problemas individuais de acesso à justiça, trabalho auxiliar à importante função da Defensoria Pública, que deve ser sempre expandida, continuamente, uma vez que a nossa sociedade ainda precisa democratizar mais o acesso à justiça. A assessoria se identifica com o objetivo de permitir o acesso de indivíduos aos conhecimentos jurídicos que lhes permitam a efetivação de seus direitos, tanto individuais quanto coletivos e difusos. Trata-se de um trabalho jurídico pedagógico em que os alunos da FABAC, sob a orientação de seu corpo docente, estão em contato com a população de Lauro de Freitas, não somente prevendo uma solução episódica de algum problema, mas para a formação de uma cultura de cidadania ativa, de conhecimento de seus direitos, das potencialidades que o estado de Direito lhes reserva para a busca desses direitos. Esse diálogo será importantíssimo por outro lado para que o aluno faça a confrontação do conhecimento adquirido na sala de aula com a realidade social e para a percepção das condições reais de realização dos direitos previstos no texto constitucional. A formação do advogado, assim como dos demais profissionais, não se restringe à formação do técnico, mas do profissional crítico, com conhecimento sócio-político, como fica claro na resolução sobre os cursos de direito, que é a portaria n.1886, 30 dez.1994, do Ministério de Educação: “O curso jurídico desenvolverá atividades de ensino, pesquisa e extensão, interligadas e obrigatórias, segundo programação e distribuição aprovadas pela própria instituição de ensino superior, de forma a atender às necessidades de formação fundamental, sócio-política, técnico-jurídica e prática do bacharel em direito. (Art.3º)”. Afirmamos então a importância desse trabalho não somente para as comunidades, em processo de construção de sua cidadania ativa e conquista de seus direitos, mas para os próprios cursos de direito, pois a extensão é uma via de mão dupla, uma “convivência” entre Universidade e Sociedade, e não uma mera transmissão de conhecimentos de um pólo para outro, do pólo ilustre para o pólo ignorante. E dentro dessa dinâmica, o aluno é também elemento pro-ativo e autônomo, não se restringe à execução de um receituário pré-estabelecido. O aluno nas pedagogias modernas está sendo estimulado não mais a acondicionar conhecimentos prévios e estanques, mas a criar e recriar o conhecimento através do trabalho de resolver problemas, ou seja, através da pedagogia de projetos, quando se colocam os conhecimentos e habilidades que ele já detém. Ao mesmo tempo, na tarefa de resolver problemas e realizar projetos, ele desenvolve outros conhecimentos. Trata-se da superação da concepção reducionista e segregagora de conhecimentos para outra mais “holística” e prática-teórica. Sendo assim, o trabalho permite a agregação de dinâmicas e fazeres criados durante o trabalho de campo dos alunos. Existe em nosso país uma infinidade de tipos de extensão universitária. Decidimos estabelecer nesse documento que são todas atividades de extensão por não ser do nosso interesse um debate no momento para saber se há algumas atividades adequadas a serem classificadas enquanto extensão, as “verdadeiras”, e outras apenas seriam de assistencialismo. Podemos então identificar as seguintes: 1. Os hospitais universitários, atendimentos odontológicos e maternidades, que são hospitais-escola, que prestam serviço à comunidade e ao mesmo tempo servem ao treinamento de alunos e desenvolvimento de tecnologias adequadas à área de saúde. 2. Os hospitais veterinários, com objetivos similares aos hospitais universitários. 3. Cursos de extensão, na modalidade da “educação continuada”, permitindo que profissionais possam se reciclar e estar em contato com o mundo acadêmico. FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 2 4. Prestação de serviços nas diversas áreas para empresas que procuram a instituição de ensino superior com o intuito de permitir um avanço de sua tecnologia, sua organização, qualificação dos recursos humanos. 5. Prestação de serviços nas diversas áreas para órgão governamentais que procuram a instituição de ensino superior com o intuito de permitir formulação e implementação de políticas públicas, avanço de sua tecnologia, sua organização, qualificação dos recursos humanos. 6. Atividades de extensão com a comunidade, de caráter acadêmico e curricular e de interlocução permanente. Essa última modalidade é a modalidade de nosso projeto. Ela abrange hoje uma ampla variedade de ações que não se situam no âmbito exclusivo do mercado, procuram uma relação de mão-dupla com a sociedade, e entendem que é possível mudar o fazer universitária através dessa interlocução. Então nosso projeto é definido pelas seguintes características: 1. É um projeto de interlocução com a comunidade, e não de assistência, pois compreendemos que o saber universitário não é superior ao saber das comunidades. A referência para esse enfoque está na obra de Paulo Freire, “Comunicação ou Extensão?”. A Universidade não deve ser vista como a iluminadora da ignorância social, como a instância salvadora do caos social. A Universidade está inserido no social, na sua cultura social, sofre os efeitos das políticas públicas gerais, debate os mesmos temas, é mais uma instância, com especificidade, mas nosso enfoque não é o da superioridade. A concepção da modernidade de que deveria haver um pólo civilizador, colonizador, detentor dos caminhos da razão superior deve ceder lugar à outra concepção, da multiplicidade de valores e da aceitação do diferente, inclusive para que a Universidade tenha sua postura de reprodutora dos valores sociais dominantes colocada em suspenso, o que pode resultar num grande benefício acadêmico que será colocado abaixo; 2. A Universidade já está em contato com as diversas demandas sociais e ela reproduz no seu interior a correlação de forças que existe na sociedade, nos seus interesses de pesquisa, na formação profissional, na composição de seu alunado, nas posturas de seus integrantes. Logo, a situação desses elementos universitários FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 3 não é estática, é dinâmica na medida em que as forças sociais, culturais, econômicas se movimentam dentro e fora na Universidade. 3. Assim, a extensão universitária não é para mudar a sociedade, mas para mudar a própria universidade, a formação dos alunos. Isso se coaduna com a concepção de que a aprendizagem hoje não deve ser apenas aquela da sala de aula, sempre com a dependência do professor-expositor do assunto pronto e acabado, mas pode ser multireferencializada, pode se dar de diversas formas. A internet, a arte, a literatura e as atividades de extensão podem ser outras formas de aprendizagem. 4. A extensão pode servir para enriquecer a cultura interna de um curso superior. Mais do que uma aprendizagem racional, a universidade tem uma aprendizagem pelos códigos não ditos, pela sua cultura crítica, pela cultura acadêmica, pela cultura institucional, pela cultura social e a cultura experiencial, segundo Pérez Gomes, em sue livro A Cultura Escolar na Sociedade Neoliberal (2001). Gomes nos informa que a escola (educação formal) não deve ser compreendida apenas como reflexo das estruturas sócio-econômicas, mas é um espaço de mediação dessas diversas culturas citadas acima, numa constante constituição e reconstituição da tessitura cultural, com suas limitações e potenciais. As diversas culturas que se entrelaçam na escola são das disciplinas e conteúdos (cultura crítica); o currículo e sua organização (cultura acadêmica), a organização interna, hierarquias, relações de poder (cultura institucional), os condicionantes sociais, econômicos e políticos externos (cultura social) e as vivências de cada aluno, dentro de uma trajetória própria e única (cultura experiencial). A ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO E METODOLOGIA O projeto tem uma estrutura de rede, com núcleos que atuam em algumas comunidades de Lauro de Freitas. Cada núcleo tem pelo menos um professor e um grupo de cinco alunos, sendo o quinteto. Cada quinteto trabalhará em parceria com uma organização da sociedade civil, para que possamos realmente “conviver” com a comunidade, apreendendo sua realidade social, econômica e cultural, e não simplesmente “intervir”. Muitos projetos têm uma atuação pontual, episódica e “alienígena”, que após a sua aparição extemporânea não mais se mantêm em contato com as comunidades, e assim a extensão serve mais à criação de estatísticas para justificação em relatórios. A atuação deve FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 4 respeitar o que já existe de cidadania ativa na comunidade e deve perceber como a comunidade existe e se comunica, se estrutura, seus valores, suas expectativas, seus comportamentos e seus problemas. Percebemos então que há a parceria com uma organização da comunidade (conselho de moradores, clube de mães, rádio comunitária, conselho de segurança do bairro) e uma fase de reconhecimento no bairro. Paralelamente à fase de reconhecimento e integração com o que já existe de atividade comunitária, estamos tendo as reuniões de capacitação dos quintetos, através de atividades na faculdade com a discussão sobre a extensão universitária, seu histórico, sua natureza, os impasses do trabalho em campo. Essas reuniões continuarão durante todo o projeto, servindo de espaço de reflexão do que já foi visto e vivido, do que foi experimentado e da percepção dos alunos do que pode ser introduzido no trabalho. As reuniões dos quintetos na Faculdade são conjuntas e separadas, alternadamente, permitindo os debates mais conceituais e teóricos por um lado e de discussão sobre os impasses ou potencialidades de cada comunidade por outro. A temática tratada nas comunidades é decidida nos encontros com as organizações dessas comunidades, respeitando as suas demandas e seus interesses, e são um ou mais dos seguintes pontos ou outros demandados: direitos humanos, direito à saúde, direito à educação, direito à moradia, direito à cidade / estatuto da cidade, direito à previdência, direito ao lazer, direito do consumidor, formas de participação social previstas na constituição, organismos de defesa dos direitos do cidadão, direito ao meio ambiente saudável. Cada quinteto, além de ter um professor orientador, tem um monitor, escolhido entre os próprios alunos, para que possa estimular a sistematização do trabalho em relatórios. O papel do monitor é preparar e concatenar as produções dos relatos dos alunos participantes e apresenta-los com a regularidade estabelecida. Entendemos que um projeto de caráter não episódico e de relação séria com a comunidade deve ter a duração de um ano, inicialmente. A partir do segundo ano, será possível aprimorá-lo e expandi-lo para outras comunidades. ORGANOGRAMA O organograma do projeto será então: NAS COMUNIDADES: Quinteto: Quinteto: Quinteto: Professor Professor Professor FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 5 Monitor Monitor Monitor Alunos Alunos Alunos Na Faculdade: REUNIÕES GERAIS PARA: CAPACITAÇÃO DE ALUNOS E DEBATE DISCUSSÃO DO ANDAMENTO DO PROJETO AVALIAÇÃO E RELATÓRIOS CRONOGRAMA O cronograma do projeto Direito e Cidadania ativa tem o seguinte cronograma: PERÍODO ATIVIDADE PRIMEIRO MÊS Contato e primeiras reuniões com as organizações das comunidades Reuniões na faculdade de capacitação e debate sobre extensão SEGUNDO MÊS Atividades de jurídico-pedagógicas definidas em conjunto com as A organizações da comunidade, com a temática definida também em QUARTO MÊS2002 QUINTA - 2003 conjunto. Reuniões de avaliação Reunião de avaliação com as organizações da comunidade Reuniões na faculdade de capacitação e debate sobre extensão Entrada de novos alunos no projeto SEXTO Atividades de jurídico-pedagógicas. Definidas em conjunto com as A organizações da comunidade, com a temática definida também em OITAVO MÊS conjunto. Reuniões de avaliação NONO MÊS Reunião de avaliação com as organizações da comunidade Seminário final na faculdade para apresentação dos relatórios finais Realizaremos avaliação mensalmente com os alunos e professores, para identificar os eventuais problemas no decorrer do projeto Direito e Cidadania Ativa. Também solicitaremos um relatório dos alunos individual mensal e coletivo ao final do projeto, para o avaliarmos FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 6 como um todo, e faremos entrevistas para identificar o crescimento e mudanças de visão de mundo dos alunos frente à sociedade e à Universidade. A avaliação pela comunidade será essencial e ao final de cada semestre, nas reuniões com as organizações será feita uma avaliação, que será documentada em vídeo e depois transcrita, no seu conteúdo essencial, para o relatório final do projeto, no final de 2003. A avaliação pela Faculdade como um todo ocorrerá no Seminário Final, no mês de novembro, quando todos os professores serão convidados e será solicita aos alunos uma reflexão crítica do projeto e sobre quais as mudanças na visão de mundo que resultaram do mesmo. Os alunos também serão instigados a fazer propostas de mudanças no curso de Direito, após a convivência de um ano em atividade de extensão. Os professores que coordenarão os quintetos serão da própria Faculdade Baiana de Ciências, assim como os alunos que participarão das atividades. RESULTADOS ALCANÇADOS Até o presente momento foram organizados os quintetos que atuarão com as comunidades escolhidas para o primeiro ano de trabalho nos bairros, em seminário de capacitação na Faculdade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL/MEC. I Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão de Universidades Públicas. Brasília, l987.(mimeo). BRASIL/MEC/UFRN. XIII Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas do Nordeste. Documento Final. Natal, 1994. Fleury, Maria de Fátima Pacheco. A Ideologia do Desenvolvimento e as Universidades do Trabalho em Minas Gerais (Tese de Doutoramento). Campinas/SP, Universidade Estadual de Campinas, l990. FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 7 Limoeiro Cardoso, Miriam. Ideologia do Desenvolvimento - Brasil: JK - JQ. 2a. ed, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. Rocha, Roberto Mauro Gurgel. As oito teses equivocadas sobre a extensão universitária. In: A Universidade e o Desenvolvimento Regional, Fortaleza: Edições UFC, 1980, p. 216/244. Rocha, Roberto Mauro Gurgel. Extensão universitária: comunicação ou domestificação? São Paulo: Cortez/Autores Associados. UFCE, l986. Silva, Sílvio Carlos Fernandes. Extensão universitária como trabalho social. Relatório de Pesquisa/PIBIC/IFPB, João Pessoa, 2000. FABAC – FACULDADE BAIANA DE CIÊNCIAS 8