ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E FISIOTERAPIA EM TERAPIA INTENSIVA ASSOBRAFIR RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO DE ENSINO O ENSINO DE FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA E TERAPIA INTENSIVA NO BRASIL REALIZAÇÃO: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA CARDIORRESPIRATÓRIA E FISIOTERAPIA EM TERAPIA INTENSIVA – ASSOBRAFIR APOIO: CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP AUTORES: Comissão de Ensino da ASSOBRAFIR: Prof. Dr. Celso Ricardo Fernandes de Carvalho – USP - SP Profa. Dra. Marta Cristina Pauleti Damasceno Prof. Dr. Marcus Vinicius Gava – UNINOVE - SP Profa. Dra. Rosa Maria Carvalho – UFJF - MG Prof. Dr. Fernando Silva Guimarães – UFRJ - RJ Prof. Dr. Thelso Jesus Silva - BA Diretoria da ASSOBRAFIR: Dr Dirceu Costa – Universidade Federal de São Carlos – SP Dra Verônica Franco Parreira – Universidade Federal Minas Gerais - MG Dra Maria Ignêz Zanetti Feltrim – Instituto do Coração HCFMUSP- SP Dra Conceição Alice Volkart Boueri – Hospital São Camilo- SP Dra Sara Lúcia Menezes – Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ AGRADECIMENTOS: A Sra. Elaine, secretária da ASSOBRAFIR. A todos os docentes presentes no XIII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva e que auxiliaram de maneira indiscutível 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Breve histórico do Ensino da Fisioterapia no Brasil O Ensino da Fisioterapia em cursos de nível superior no Brasil foi iniciado em 1951 e houve um avanço gradual tanto no campo de atuação do fisioterapeuta quanto no Ensino até 1963 quando os cursos de graduação tinham a duração de 3 anos (Parecer 388/63). A legislação que estabeleceu os níveis de conhecimento do fisioterapeuta também evoluiu gradualmente e, em 1983, surgiu o Currículo Mínimo para Fisioterapia (Lei 5.340/83) com o objetivo de garantir a formação mínima dos profissionais. Os parâmetros curriculares foram estabelecidos em 2002 (Resolução CNE/CES 4/2002). Por outro lado, o crescimento dos cursos de graduação seguiu um outro crescimento mais rápido e desordenado e o número de cursos de graduação em Fisioterapia passou de 100 (1998) para 370 (2004) em apenas 6 anos (MEC/2005). Este crescimento fez com que diversos fisioterapeutas que tinham uma formação totalmente voltada para a assistência clínica assumissem a docência. Em conseqüência do crescimento desordenado e da falta de formação docente, nunca foi estabelecido um conteúdo mínimo do conteúdo programático para os cursos de graduação. 1.2 Avaliação do Conteúdo Programático em nível nacional Nas últimas décadas, tem se observado o crescimento do papel do fisioterapeuta nas diversas especialidades clínicas e, em especial, do fisioterapeuta respiratório e de terapia intensiva que tem se consolidado no atendimento hospitalar. Por outro lado, se desconhece qual a formação em fisioterapia respiratória em todo o país. A 2 partir desta observação, a Comissão de Ensino da Associação Brasileira de Fisioterapia Respiratória e em Terapia Intensiva – ASSOBRAFIR, junto com a sua Diretoria (2005-2006) optou por realizar seus trabalhos em dois níveis. Inicialmente, realizar um levantamento sobre o conteúdo programático ministrado nos cursos de graduação de Fisioterapia em todo o território brasileiro. Em seguida, realizar uma reunião do XXIV Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e de Terapia Intensiva com a presença de diversos docentes e realizar um levantamento sobre qual seria o conteúdo programático ideal para o ensino da Fisioterapia Respiratória em nível nacional. 2. MATERIAL E MÉTODO 2.1 Delineamento Experimental Trata-se de uma pesquisa prospectiva, de análise transversal e com participação voluntária. 2.2 Casuística O levantamento foi realizado através de questionários que estava disponível no site da ASSOBRAFIR (www.sobrafir.com.br) e na versão impressa que foi distribuído nos eventos da ASSOBRAFIR. Após o preenchimento, tanto os questionários na versão on-line quanto os da versão escrita, foram enviados à Comissão de Ensino sediada no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional do Hospital 3 das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O tabulamento dos dados foi realizado pelos membros da Comissão. 2.3 Instrumento O instrumento utilizado para a coleta de dados constou de um questionário elaborado para este fim, contendo 40 questões de múltipla escolha e uma questão aberta divididas em 6 domínios: Instituição de Ensino (4 questões), Perfil docente (10 questões), Perfil da disciplina (8 questões), Perfil do estágio supervisionado (5 questões), Conteúdo programático (15 questões) e Sugestão complementar (questão aberta). 2.4 Estatística Foi realizada análise descritiva dividindo os dados pelas 5 regiões do Brasil apenas para avaliar possíveis diferenças do conteúdo programático devido às característica regionais. 3. RESULTADOS Foram avaliados 114 questionários sendo 16 na forma escrita. Destes questionários, 9% eram da região Centro-Oeste, 11% da região Nordeste, 4% da região Norte, 70% da região Sudeste e 17% da região Sul (Figura 1). A grande maioria dos cursos nas diversas regiões do Brasil tinha a duração de 8 semestres, exceto pelos cursos da região Nordeste que predominaram os cursos de 10 semestres (Figura 2). 4 Os docentes que responderam ao questionário tinham mais de 10 anos de formado em quase todas as regiões do Brasil, exceto na região Centro-Oeste onde foi observada uma maior proporção nos docentes com 4 a 6 e mais que 10 anos de formado (Figura 3). Dentre os docentes que responderam o questionário das regiões Sudeste e CentroOeste, a maioria dos docentes tem título de mestrado. Nas regiões Sul e Norte, a maioria tem a formação de especialista e na região Nordeste foi observada uma equivalência entre os docentes com título de mestrado e especialista (Figura 4). Os docentes que responderam ao questionário das regiões Sudeste, Nordeste e CentorOeste tinham a especialidade clínica Terapia Intensiva e os docentes das regiões Sul apresentavam especialidade similar em Hospital Geral e Terapia Intensiva. Na região Norte, os docentes apresentavam especialidade equivalente similar em Hospital Geral, Ambulatório e Terapia Intensiva (Figura 5). Com relação ao conteúdo programático da disciplina de Fisioterapia Respiratória, observou-se que, em todas as regiões do Brasil, o conteúdo de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva são, na maioria das vezes, ministradas dentro da mesma disciplina (Figura 6). A carga horária para esta disciplina apresentou proporção similar nas regiões Sudeste e Sul variando até 100 horas e 101 a 150 horas (Figura 7). Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, as disciplinas com carga horária entre 101 e 150 100 horas apresentaram maior incidência. Já na região Centro-Oeste, a carga horária com até 100 horas apresentou foi a mais incidente. Com relação à carga horária da disciplina de estágio supervisionado em Fisioterapia Respiratória, verificou-se que nas regiões Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste a disciplina tinha prioritariamente a carga horária entre 81 e 150 horas enquanto na 5 região Sudeste, a carga horária desta disciplina era predominantemente entre 151 de 250 horas (Figura 8). A enfermaria foi o local em que o estágio da disciplina de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva foi mais realizados nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte (Figura 9) enquanto na região Sul o estágio ocorre predominantemente nas enfermarias e ambulatórios. Já na região Sudeste, verificou-se um equilíbrio no estágio realizado nas enfermarias, unidades de terapia intensiva e ambulatório (Figura 9). A relação aluno/supervisor mais observada foi em entre 5 e 7 alunos por supervisor em todas as regiões do Brasil (Figura 10). Verificou-se que os conteúdos programáticos mais presentes foram: biomecânica torácica, reabilitação pulmonar, manobras de higiene brônquica, oxigenoterapia, técnicas de reexpansão pulmonar, treinamento muscular respiratório, cinesioterapia, pré- e pós-operatório em cirurgias abdominais e torácicas e ventilação mecânica invasiva e não-invasiva. Os conteúdos de biomecânica torácica, reabilitação pulmonar, manobras de higiene brônquica, oxigenoterapia, técnicas de reexpansão pulmonar, treinamento muscular respiratório, cinesioterapia e pré- e pós-operatório em cirurgias abdominais e torácicas são ministrados prioritariamente (>60%) prático e teórico em todas as regiões do Brasil (dados não apresentados). Porém, o ensino de ventilação mecânica não invasiva foi predominantemente teórico nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste (Figura 11). Já nas regiões Norte e Nordeste foi observada predominância do ensino teórico-prático no ensino de ventilação mecânica não-invasiva. De maneira similar, o ensino de ventilação mecânica invasiva foi predominantemente teórico nas regiões Sudeste e Centro-Oeste sendo que na região Sul foi observada uma equivalência entre o ensino teórico e teórico- 6 prático (Figura 12). Já nas regiões Norte e Nordeste foi observada predominância do ensino teórico-prático no ensino de ventilação mecânica invasiva. 3721-7011 Por último, após uma reunião realizada, XIII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva, a Comissão Docente junto com 59 docentes de Fisioterapia Respiratória de todo o país chegaram a um consenso sobre as diretrizes que deveriam ser abordadas ao longo de todo o curso de graduação em Fisioterapia (Anexo 1). Limitações deste relatório: as informações emitidas neste relatório foram obtidos através de um questionário de múltipla escolha. Deste modo, as informações são apenas qualitativas e não quantitativas, ou seja, não foi possível saber se a qualidade do ensino ou sobre sua veracidade. Por outro lado, podemos entender que o número de 120 questionários é bastante representativo das Instituições de Ensino em todo o país. 4. CONCLUSÃO Os nossos resultados sugerem que o conteúdo programático abordado dentro do ensino de Fisioterapia Respiratória parece ser muito grande para a carga horária estabelecida e isto pode estar relacionada à deficiência do ensino prático-teórico observado em alguns conteúdos programáticos. Além disto, os resultados mostraram que, apesar da grande maioria dos docentes ter sua especialidade clínica 7 em Terapia Intensiva, isto não parece compatível com os locais de estágios e a relação do ensino teórico-prático sobre este conteúdo programático. CONTRIBUIÇÕES OBTIDAS DA REUNIÃO ENTRE A COMISSÀO DE ENSINO DA ASSOBRAFIR NO 13º. SIFR REALIZADO EM CURITIBA-PR Como continuidade deste trabalho, sugerimos: a) divulgação dos seus resultados em nível nacional; b) após a confirmação do consenso sobre o conteúdo programático, sugere-se que isto seja encaminhado a todos os sócios e docentes do país como uma sugestão para o ensino de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva; c) a elaboração de um questionário a ser encaminhado para os alunos de todos os cursos de graduação como uma análise qualitativa do ensino de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva; d) que esta avaliação seja realizada bi-anualmente a cada Diretoria; e) estímulo à educação continuada em formação pedagógica para os docentes de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva; f) cursos para melhora da formação docente; 8 Distribuição por região R esp o stas (em % ) 70 60 S 50 40 30 20 10 0 SE S NE CO N Figura 1: Resposta dos questionários divididos por região (em %) Duração do Curso (semestres) 7 8 9 10 11 Respostas (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 2: Duração dos cursos de graduação nas regiões do Brasil. As respostas estão expressas em porcentagem. SE:sudeste, S:sul, NE:nordeste, CO:centrooeste, N:norte. 9 Tempo de formado de 1 a 3 de 4 a 6 de 7 a 9 >10 Respostas (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 3: Tempo de formado dos docentes de Fisioterapia Respiratória. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. Titulação do docente Graduação Especialista Mestrado Resposta (em %) 80 Doutorado 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 4: Formação dos docentes. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. 10 Especialidade clínica Hosp. Geral Ambulatório Consultório UTI outros Respostas (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 5: Especialidade clínica dos docentes. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. Conteúdo geral da disciplina FR+UTI Respostas (em %) 100 FR à parte 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 6: Conteúdo geral da disciplina de Fisioterapia Respiratória. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. 11 Carga horária da disciplina Resposta (em %) 80 até 100 horas de 101 a 150 horas de 151 a 200 horas 60 >200 horas 40 20 0 SE S NE CO N Figura 7: Carga horária da disciplina de Fisioterapia Respiratória (em horas). As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. Carga horária estágio (horas) até 80 de 81 a 150 de 151 a 250 >250 Resposta (em %) 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 8: Carga horária da disciplina de estágio supervisionado em Fisioterapia Respiratória (em horas). As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. 12 Local de estágio Ambulatório Enfermaria UBS UTI Hosp. Geral Outros Resposta (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 9: Local de estágio da disciplina de Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. Relação alunos/supervisor no estágio até 4 alunos de 5 a 7 alunos de 8 a 10 alunos >10 alunos Resposta (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 10: Relação entre o número de alunos por supervisor da disciplina de estágio em Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. 13 Ensino de VMNI Teórico Teórico-Prático Resposta (em %) 80 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 10: Relação entre o número de alunos por supervisor da disciplina de estágio em Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. Ensino de Ventilação Mecânica Teórico Resposta (em %) 80 Teórico-Prático 60 40 20 0 SE S NE CO N Figura 10: Relação entre o número de alunos por supervisor da disciplina de estágio em Fisioterapia Respiratória e Terapia Intensiva. As respostas estão expressas em porcentagem. As abreviações estão apresentadas na Figura 2. 14 ANEXO 1: Diretrizes sugeridas para o Conteúdo Programático para o Ensino de Graduação em Fisioterapia Respiratória no Brasil • Histórico da Fisioterapia Respiratória (Fisiot. Cardio Resp. (CR).); • Atuação Profissional: aspectos bioéticos, legais e de gestão; • Políticas de Saúde; • Atuação Profissional na Atenção Primária; • Atuação Profissional na Assistência Domiciliar; • Atuação Profissional em Urgência e Emergência; • Estrutura e Função Cardiorespiratória, cardiorrespiratória ou cardio- respiratória (consultar); o Bioquímica, Anatomia, Biofísica, Fisiologia, Biomecânica; • Fisiopatologia CR; • Interação Medicamentosa (?); • Avaliação Funcional CR; o Propedêutica, semiologia, exames complementares; • Recursos e Técnicas em Fisioterapia CR; o Expansivas; o Remoção de Secreção; o Treinamento Muscular Respiratório; o Cinesioterapia Respiratória; o Treinamento Aeróbio e Resistido; • Assistência Ventilatória Não-Invasiva; • Assistência Ventilatória Invasiva; • Oxigenioterapia; • Aerossolterapia; • RP / RCV; Estratégias de Ensino e Avaliação do Processo Ensino/Aprendizagem 15