CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL CIRURGIA ORTOGNÁTICA: UM ESTUDO SOBRE A ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA ALESSANDRA LAPERA FERNANDES RIO DE JANEIRO 2000 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL CIRURGIA ORTOGNÁTICA: Um estudo sobre a atuação fonoaudiológica Monografia de conclusão do curso de especialização em Motricidade Oral Orientadora: Mirian Goldenberg ALESSANDRA LAPERA FERNANDES RIO DE JANEIRO 2000 RESUMO As desproporções maxilomandibulares são corrigidas através da cirurgia ortognática. Esta tem como objetivo melhorar a estética facial e promover equilíbrio neuromuscular. Este estudo objetiva demonstrar a atuação fonoaudiológica nas diversas fases de atendimento, ao paciente submetido a este tipo de cirurgia através de uma pesquisa teórica. Na fase pré-cirúrgica, o trabalho consiste na adequação das funções estomatognáticas, quando possível, na retirada dos hábitos parafuncionais e na conscientização das alterações e adaptações musculares necessárias em face da anatomia apresentada, através de um trabalho proprioceptivo. Na fase pós-cirúrgica, a atuação terá dois momentos. No pós-operatório imediato, período de bloqueio intermaxilar, a atuação limita-se à orientação da alimentação, higiene bucal, déficit de sensibilidade, relaxamento de pescoço e ombros e postura de lábios e língua. Após a retirada do bloqueio, deve-se adequar as funções e a musculatura, automatizar as posturas e promover a reintrodução da alimentação. A atuação terapêutica sofre variações em cada fase de tratamento e, quando iniciada na fase pré-cirúrgica, promove benefícios significativos. Na equipe multiprofissional o fonoaudiólogo, auxilia no diagnóstico e participa do planejamento cirúrgico, auxiliando no prognóstico do paciente. ABSTRACT The correction of the maxillomandibular disproportions is made through orthognathic surgery. The objectives of this surgery are to improve facial esthetics and to promote neuromuscular balance. This study intends to give evidence of the myofunctional performance in the various steps of the treatment of a patient subdued to this surgery, through a theoretical research. In the pre-surgical phase, the job consists in adjusting the stomatognatic functions, when possible, in withdrawing the parafunctional habits and in giving conscientiousness of the necessary muscular modifications and adaptations due to the presented anatomy, through a proprioceptive work. In the post-surgical phase, the performance will present two moments. During the immediate post-surgical phase, an intermaxillary fixation period, the performance is limited to an orientation in nourishment, in bucal hygiene, in sensitivity deficit, in neck and shoulders relaxation and in tongue and lips posture. After the blockage withdrawal, one-shall adjust the functions and the musculature, automate the postures and promote nourishment reintroduction. The therapeutical performance bears variations in each phase of the treatment and, when it begins in the pre-surgical phase, it brings significant benefits. In a multiprofessional staff the myofunctional therapist helps in the diagnosis and takes part in the surgical planning, helping in the patient’s prognosis. Aos meus pais com amor e gratidão por todas as oportunidades. A minha avó Isabel por nunca desistir da vida. Ao meu noivo Douglas pela cumplicidade. Agradecimentos À Regina Soares e Heloisa Leuzinger pela contribuição em mais uma vitória. À Maria Algemira pela oportunidade e confiança. A todos os meus pacientes e em especial ao Pedro Nabuco pela demonstração diária da importância da atuação fonoaudiológica. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 DISCUSSÃO TEÓRICA 3 CARACTERÍSTICAS 11 ANAMNESE 19 AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA 27 TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51 INTRODUÇÃO A cirurgia ortognática é realizada para corrigir as desproporções maxilomandibulares no intuito de proporcionar o equilíbrio entre as funções estomatognáticas e a harmonia entre as estruturas anatômicas, promovendo uma melhora na estética facial. O paciente com estas desproporções apresenta características próprias a sua alteração, de acordo com seu crescimento e desenvolvimento craniofacial. As alterações musculares e funções estarão relacionadas à tipologia facial e oclusão. Os pacientes devem ser avaliados por uma equipe multiprofissional. O cirurgião irá reposicionar as bases ósseas, o ortodontista ajustar a oclusão e o fonoaudiólogo equilibrar as funções estomatognáticas e adequar a musculatura perioral. Este profissional atuará efetivamente nas diversas etapas da reabilitação; iniciando com a anamnese, avaliação e orientação na fase précirúrgica. No pós-operatório imediato, dará continuidade às orientações quanto à perda de sensibilidade, higiene oral, alimentação, redução de edema e postura de lábios e língua. Posteriormente, após a retirada do bloqueio intermaxilar, irá restabelecer as funções estomatognáticas, musculatura e posturas, quando este restabelecimento não ocorrer espontaneamente. O presente trabalho, através de uma pesquisa teórica, tem o objetivo de demonstrar a importância da atuação fonoaudiológica nos casos de cirurgia ortognática, contribuindo no diagnóstico, participando do plano terapêutico e favorecendo ao prognóstico. 1 DISCUSSÃO TEÓRICA O sistema estomatognático é composto por ossos maxilares e mandíbula, dentes, articulações temporomandibulares, vários músculos, entre eles os dos lábios, língua e bochechas, espaços orgânicos, nervos e vasos sangüíneos. Estes, controlados pelo sistema nervoso central (SNC), desempenham as funções de respiração, sucção, mordida, mastigação, deglutição e fala. Estas estruturas não são individualmente especializadas em determinada função. Todas agem de forma conjunta, de tal forma que uma desordem em qualquer destas estruturas leva a um desequilíbrio generalizado, como relata Bianchini (1998). Este sistema passa por processos de crescimento e desenvolvimento que são correlatos. Entende-se por crescimento um aspecto quantitativo, em aumento do número de células e de volume em harmonia. Ocorre em zonas distintas, em diferentes graus, através de surtos e apresentando certo ritmo (desde o nascimento até a maturidade). O desenvolvimento, por sua vez, refere-se às mudanças estruturais, através das quais os tecidos vão se diferenciando até atingir as características somáticas e funcionais da espécie (desde a fecundação até sua maturação, na idade adulta). O crescimento e desenvolvimento craniofacial são suscetíveis às variáveis de: hereditariedade, nutrição, doenças, etnia, fatores sócio-econômicos e alterações funcionais. A variável sexo também deve ser relevada, pois o sexo feminino 2 atinge sua forma facial adulta numa idade consideravelmente, mais jovem do que o sexo masculino. O surto de crescimento facial da adolescência inicia-se mais tardiamente nos meninos, sendo este de maior duração e mais pronunciado do que no sexo feminino. Isto traduz uma diferença definitiva na morfologia facial entre o sexo masculino e feminino, como descreve Van der Linder, citado por Bianchini (1998). O crescimento craniofacial pode ser acompanhado pela cefalometria radiológica, através da telerradiografia, como descreve Bianchini (1997, 1998). A cefalometria é uma técnica de tomada radiográfica que possibilita avaliar, de forma métrica, a relação espacial entre as várias partes das estruturas craniofaciais horizontal e verticalmente, segundo afirma Bianchini (1997). Considerando o crescimento como uma importante característica craniofacial, pequenas ou grandes alterações ósseas e dentárias podem interferir nas funções de mastigação, deglutição, fala e respiração. A saúde oral, as articulações temporomandibulares e a digestão também podem ser comprometidas, assim como a própria aparência do indivíduo, de acordo com Marchesan & Bianchini (1999), e a necessária harmonia oclusal e neuromuscular poderá estar inviável, constata Bianchini (1995). A íntima correlação entre tecidos moles e duros, assim como a importância das funções estomatognáticas para nossa sobrevivência, levam à adaptações funcionais, no intuito de viabilizar essas funções, independente da posição das estruturas ósseas ou dentárias e conseqüentes espaços orgânicos. Isto também pode sofrer influência da qualidade do sistema muscular. A necessidade de realizar as funções promove grandes adaptações miofuncionais, principalmente 3 em indivíduos nos quais a relação esquelética está bastante alterada, como relatam Marchesan & Bianchini (1999); Bianchini (1995). Esta última acrescenta que isto se deve ao fato de o sistema estomatognático ser caracterizado por grande plasticidade. Os indivíduos adultos portadores de desproporções maxilomandibulares irão apresentar características miofuncionais orais peculiares ao tipo de desproporção que apresentam. As alterações funcionais são, na verdade, adaptações que foram se desenvolvendo para viabilizar as funções estomatognáticas, considerando-se cada padrão das bases ósseas. Mudanças dessas características só serão possíveis quando as estruturas esqueléticas apresentarem-se mais harmônicas. Em todos os pacientes que são submetidos a cirurgia na região maxilomandibular ocorre uma mudança em graus variados na posição dos tecidos moles. Em alguns casos, após a correção cirúrgica e o correto posicionamento dentário, os tecidos moles não se reestruturam de forma adequada, nem apresentam boa resposta funcional e alguns padrões adaptativos utilizados anteriormente podem permanecer, forçando as estruturas operadas e prejudicando os tratamentos cirúrgico e ortodôntico. Nestes casos, faz-se necessário o estabelecimento de um novo padrão funcional adequado à nova forma, antes que outros mecanismos adaptativos se instalem. Nos casos onde é realizado um diagnóstico interdisciplinar pré-cirúrgico, avaliando-se criteriosamente as funções musculares associadas à morfologia; a indicação da reeducação da musculatura ou o acompanhamento fonoaudiológico imediato pode evitar que o paciente venha a ser tratado quando já existem sinais 4 indicativos da interferência negativa de funções musculares. É mais fácil obter um bom prognóstico orientando essas funções do que corrigindo recidivas devidas a pressões musculares atípicas, como descreve Bianchini (1995). As correções das desproporções esqueléticas severas têm sido bem sucedidas, mas há ressalvas na literatura com relação à existência de recidivas devidas a dificuldades ou mesmo falta de adaptação da língua e funções orais em relação à nova morfologia esquelética. Ainda acrescentam Marchesan & Bianchini (1999) que, na maioria dos casos, há modificações da musculatura orofacial, induzindo novas respostas adaptativas, em sua maioria benéficas. Os indivíduos que apresentam desproporções maxilomandibulares devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar. Cada profissional possui o seu papel na equipe. O cirurgião-dentista é o responsável por manter a saúde oral antes, durante e depois do tratamento cirúrgico e ortodôntico. O ortodontista, por reposicionar os dentes. O buco-maxilo facial é responsável por reposicionar as bases ósseas de maxila e mandíbula. O fonoaudiólogo irá avaliar e tratar as estruturas orais, fazendo um trabalho na reeducação funcional, buscando direcionar a musculatura através da utilização das funções estomatognáticas, dentro das novas possibilidades do indivíduo. Ainda sobre este tema, Souza, Campiotto, Freitas (1997) constatam que o fonoaudiólogo também deve interagir com todos os profissionais envolvidos no caso e, principalmente, conhecer a rotina dos procedimentos de avaliação, movimentações ortodônticas e cirurgia a que estes pacientes são submetidos, assim como todas as etapas e ocorrências possíveis ao longo do período. Este período é composto pela correção da alteração maxilofacial pelo paciente, 5 prognóstico, preparação cirúrgica, ato cirúrgico em si e as intercorrências do pós-operatório. O fonoaudiólogo deve participar desde a fase do diagnóstico. Nesta fase devem ser detectadas alterações miofuncionais orais que possam comprometer o resultado obtido pela ortodontia e pela cirurgia. As mudanças bruscas da forma decorrentes do processo ortodôntico-cirúrgico propiciam um melhor posicionamento e proporção das bases ósseas. Este reposicionamento altera tanto o perfil ósseo quanto os tecidos moles do paciente, que tendem a se adaptar, até mesmo por forças da inércia, ao novo posicionamento dos ossos, conforme relatam Souza, Campiotto, Freitas (1997). Marchesan & Bianchini (1999) afirmam que o procedimento favorece o desenvolvimento de um novo esquema proprioceptivo, para que as estruturas de tecido mole possam executar de forma satisfatória suas funções. As funções estomatognáticas, por serem automáticas, ocorrem abaixo do nível da consciência. Por este motivo, estas funções, quando ocorrem, utilizam um conhecido e automático mecanismo que depende da propriocepção das estruturas de tecidos duros e moles e dos espaços orgânicos. Mas as mudanças bruscas da forma decorrentes do processo cirúrgico podem criar uma “confusão funcional”, que poderia agravar o caso. Isto ocorre devido ao fato das características funcionais peculiares a cada caso de desproporção esquelética fazerem parte do esquema proprioceptivo do indivíduo, analisam Marchesan & Bianchini (1999). Há com certa freqüência uma adequação da funcionalidade orientada pela nova forma e auxiliada pelo tempo de bloqueio intermaxilar, onde a não mobilidade 6 “apagaria” o esquema proprioceptivo anterior, mas seria ideal uma avaliação fonoaudiológica detalhada ainda na fase de diagnóstico e planejamento cirúrgico, conforme Bianchini (1995). As osteotomias são planejadas criteriosamente, levando-se em conta aspectos funcionais e estéticos. O ortodontista posiciona os dentes em suas respectivas bases ósseas, de forma que estes se relacionem corretamente ao ser executada a cirurgia. A abordagem cirúrgica é definida considerando-se dados clínicos, cefalométricos e estudos em modelos de gesso. O aparelho ortodôntico é mantido para dar fixação ao bloqueio intermaxilar, mesmo quando se utiliza fixação óssea rígida através das placas monocorticais. O bloqueio, necessário para cicatrização óssea, tem duração variada dependendo do procedimento cirúrgico utilizado, podendo estender-se por mais de um mês. Quando a fixação óssea é feita com a utilização de placas monocorticais, não é necessário o bloqueio intermaxilar por tanto tempo, podendo utilizar-se elásticos ortodônticos por uma ou duas semanas. Após a cicatrização óssea, o ortodontista irá ajustar a oclusão do paciente, já com a desproporção esquelética corrigida, constata Bianchini (1995). O trabalho efetivo da fonoaudiologia, quando se faz necessário, é realizado após a correção cirúrgica e retirada do bloqueio. Entretanto, o conhecimento do caso antes da cirurgia é importantíssimo, tanto para o trabalho posterior, quanto para eventual necessidade de orientação e planejamento conjunto. Na fase pré-cirúrgica, o fonoaudiólogo, além da anamnese, dos exames clínicos e complementares irá orientar de maneira formal quanto à alimentação, higiene e 7 cuidados pós-cirúrgicos. A discussão do caso com os profissionais envolvidos também é imprescindível. Se o procedimento cirúrgico envolver bloqueio intermaxilar rígido, o paciente deve ser observado de uma a duas vezes neste período e orientado quanto ao déficit de sensibilidade, principalmente na região de mento e lábio inferior. Orientar a realização de relaxamentos é importantíssimo para Bianchini (1995), principalmente de face, pescoço e ombros, devido à tensão que alguns pacientes podem desenvolver. Aqueles que apresentarem bruxismo cêntrico e apertamento devem ser orientados a realizar massagens em região de masseter e temporal, além de um trabalho de conscientização. Após a retirada do bloqueio, deve-se fazer uma nova avaliação, considerando-se as limitações temporárias dos movimentos mandibulares devido à rigidez muscular decorrente do tempo de bloqueio intermaxilar. A adequação da forma, na grande maioria dos casos, promove uma modificação positiva das funções estomatognáticas. Tendo-se como base a qualidade e funcionalidade muscular, um planejamento conjunto orientaria o paciente de forma global. Nos casos onde há redução significativa do espaço intrabucal, principalmente se ocorrer associada a uma alteração significativa da tonicidade muscular, indica-se um trabalho muscular prévio e maior ênfase no aspecto proprioceptivo. A conscientização dos hábitos inadequados e da postura corporal também devem ser promovidas. Um planejamento terapêutico específico para cada caso deverá ser traçado a partir do novo exame, ressalta Bianchini (1995). O trabalho proposto será 8 basicamente de equilíbrio muscular, aprendizado e uso dessas funções, adequando-as à nova forma existente. Souza, Campiotto, Freitas, (1997) acreditam que isto contribui para a redução das recidivas provocadas pela manutenção de padrões funcionais adaptativos inadequados. A ansiedade e as dúvidas normalmente fazem parte do perfil do paciente, e estas deverão ser discutidas previamente com o respectivo profissional. As orientações relacionadas à parte funcional devem ser detalhadas e têm por objetivo o conhecimento das funções estomatognáticas. Relata-se ao paciente como estas são realizadas naquele momento e o que se espera após a correção cirúrgica, sugere Bianchini (1995). 9 CARACTERÍSTICAS Os problemas mais freqüentes da clínica fonoaudiológica são face longa, retrognatismo e prognatismo onde são comuns queixas em relação à fala e dificuldades com o processo mastigatório e respiratório. Esses pacientes são encaminhados por cirurgiões bucomaxilo e odontólogos que se mostram preocupados com as alterações das funções orais e assimetrias faciais. Cada tipo de desproporção maxilomandibular irá apresentar suas características miofuncionais peculiares, segundo Marchesan & Bianchini (1999). Face Longa A face longa é um exemplo de tipologia facial vertical que se caracteriza evidentemente por excesso vertical de maxila, podendo estar associado a outras alterações como déficit de vedamento labial, com significativa distância interlabial e excessiva exposição dos incisivos superiores. Sua musculatura em geral é débil e estirada. O lábio superior está hipertônico e em hipofunção, em decorrência do excesso ósseo vertical da maxila. Há utilização excessiva do músculo mentoniano, apresentando-se hipertônico, acompanhado de eversão do lábio inferior que se apresenta hipotônico. Na tentativa de auxiliar o selamento labial, há casos em que se nota hiperfunção dos lábios superior e inferior, como relatam Marchesan & Bianchini (1999); Krakauer (1995). 10 Em alguns casos, nota-se uma depressão na ponta do nariz ou movimento excessivo desta, concomitante ao movimento do lábio superior, especialmente na fala, pela ação do músculo depressor do septo nasal e fibras oblíquas do músculo orbicular dos lábios. O sorriso expõe as gengivas, já que existe excesso vertical da maxila. A postura de repouso lingual é variável, dependendo principalmente do padrão respiratório e da posição mandibular. Quando há rotação postero-inferior da mandíbula, a parte anterior da língua encontra-se mais baixa e o dorso alto, devido à redução do espaço funcional postero-anterior. Durante a função, há predomínio de movimento de anteriorização da língua, tanto em mastigação como deglutição e fala, em especial nos casos de mordida aberta anterior. A articulação da fala encontra-se prejudicada quanto ao ponto, especialmente nos fonemas plosivos bilabiais /p/,/b/,/m/ que se apresentam enfraquecidos, devido à pouca mobilidade e pressão dos lábios, como comentam D’Agostino (1987); Bianchini (1998). O lábio inferior oclui com os incisivos superiores. Isso é mais comum em faces muito longas ou associado à Classe II. Os fonemas linguoalveolares /t/, /d/, /n/, /l/ são produzidos com anteriorização da língua. Há interposição anterior da língua nos sibilantes /s/ e /z/, especialmente nos casos de mordida aberta anterior ou com elevação da parte média da língua, redirecionando o fluxo aéreo. Para Krakauer (1995), também há um enfraquecimento dos fonemas /k/ e /g/ pela distância entre o dorso da língua e o palato. A mastigação se caracteriza pela falta de vedamento labial, com reduzida utilização do orbicular dos lábios e bucinador, acompanhado de menor 11 movimento de lateralização da língua. O mecanismo que controla a posição e posteriorização do alimento encontra-se prejudicado. Este modo de mastigar interfere na deglutição que comumente apresenta movimento póstero-anterior de língua, com interposição dental, especialmente quando existe mordida aberta anterior. A contração excessiva da musculatura perioral demonstra ainda a tentativa de vedamento e compensações durante a deglutição, sendo estas adaptadas à alteração das bases ósseas. Alguns estudos mostram a ocorrência de diminuição da atividade eletromiográfica, com redução da força mastigatória em sujeitos com excesso vertical da maxila, quando comparados com outros sem esta desproporção, sugerindo menor eficiência do sistema neuromuscular nestes indivíduos. Isto significa que a força e o funcionamento dos músculos que recobrem a maxila e mandíbula tendem a ser mais fracas, comenta Marchesan (1997). Retrognatismo O retrognatismo é um exemplo de padrão facial sagital ou ântero-posterior e o perfil do paciente mostra-se convexo, ocorrendo uma diferença entre maxila e mandíbula. A mandíbula menor em comparação à maxila, podendo ser de quatro formas esqueléticas diferentes: maxila normal e mandíbula recuada; maxila avançada e mandíbula normal; maxila avançada e mandíbula recuada ou maxila e mandíbula recuadas, tendo como ponto de referência a base craniana. O 12 retrognatismo também é denominado classe II esquelética, como comenta Bianchini (1998). A funcionalidade da musculatura tem como alteração mais marcante e evidente o vedamento anterior, efetuado com lábio inferior evertido e ocluindo na sobressaliência com os incisivos superiores. Isto ocorre devido à discrepância óssea ântero-posterior e hipertonia do músculo mentoniano em razão da hiperfunção, auxiliando na elevação do orbicular dos lábios nas funções estomatognáticas. O lábio superior apresenta-se elevado e em hipofunção, ressaltam Marchesan & Bianchini (1999); Bianchini (1998). Esses indivíduos podem apresentar alterações na articulação da fala. O ponto articulatório utilizado para realização dos fonemas bilabiais /p/, /b/, /m/ é o mesmo que o utilizado para o vedamento anterior. Os fonemas sibilantes /s/, /z/ apresentam-se distorcidos, acompanhados por deslize mandibular anterior excessivo. Bianchini (1998) ainda comenta que os pacientes que têm como tipo facial sagital a maxila e mandíbula recuadas em relação à base craniana podem apresentar anteriorização da língua, assim como deslize mandibular anterior. Isto se deve à redução do espaço intra-oral, embora a discrepância maxilomandibular apresente-se menos intensa. Ainda vale ressaltar que o deslize anterior da mandíbula na fala prevalecerá para um dos lados, já que é fisiológico, sendo provavelmente para o lado da preferência mastigatória. Em repouso, a língua apresenta-se com ponta baixa e dorso elevado devido à redução do espaço ântero-posterior inferiormente, afirmam Bianchini (1998); Marchesan & Bianchini (1999). Isto tem se confirmado através das telerradiografias em norma lateral. Ao elevar a língua, sua parte posterior toca o 13 palato mole, interferindo em sua posição, elevando-o também. A elevação do dorso da língua pode levar a ceceios laterais, mas isto não ocorre com freqüência, ainda acrescentam Marchesan & Bianchini (1999). A posição postural da cabeça está anteriorizada e elevada, demonstrando alteração e compensada através de queda na posição dos ombros, como constata Bianchini (1995, 1998). Acredita-se que isto ocorra para melhor controle do fluxo aéreo, acrescenta Bianchini (1995). A mastigação, geralmente, é rápida, com redução do número de ciclos mastigatórios e conseqüente comprometimento da deglutição. A deglutição apresenta deslize mandibular anterior acompanhado de movimento pósteroanterior de língua e hiperfunção da musculatura perioral, forçando o vedamento bucal anterior. É comum ainda a ocorrência de sinais de alteração da articulação temporomandibular, tais como estalido e/ou dor durante a mastigação, dificultando ainda mais a função. Prognatismo Ao contrário dos retrognatas, os pacientes com este tipo de desproporção esquelética irão apresentar a mandíbula mais proeminente que a maxila. O perfil será côncavo, podendo-se apresentar de três formas distintas: maxila normal e mandíbula avançada; maxila recuada e mandíbula normal ou maxila recuada e mandíbula avançada, tendo como ponto de referência a base craniana. Este tipo facial sagital também é conhecido como classe III esquelética. 14 Quando há mandíbula avançada, a caracterização funcional é mais intensa e o prognóstico bastante desfavorável. Estas são consideradas classe III verdadeiras ou cirúrgicas, segundo Bianchini (1998). Suas características funcionais são vedamento labial geralmente insatisfatório, principalmente quando associado a aumento do terço inferior da face, aparecendo hipotonicidade de lábio inferior e hipertonia do músculo mentoniano compensatoriamente, relacionam Marchesan & Bianchini (1999). Bianchini (1998) acrescenta a hiperfunção do lábio superior ocluindo com incisivos inferiores, tanto no repouso quanto durante as funções estomatognáticas. Há prevalência do uso do lábio superior especialmente na fala em fonemas bilabiais /p/, /b/, /m/ e nos fricativos /f/, /v/ podendo ocorrer inversão do movimento labial, isto é, o lábio superior oclui com os incisivos inferiores Nos linguoalveolares e sibilantes, aparece utilização da parte média da língua e interposição linguodental anterior, descrevem Marchesan & Bianchini (1999); Bianchini (1998). A língua ocupa o espaço inferior, estando plana no assoalho da boca com hipotonia de sua base. Em telerradiografias laterais observa-se a língua com sua base mais baixa e sem contatar o palato mole e este se apresenta mais verticalizado. A mastigação apresenta-se com movimentos mandibulares verticalizados (em charneira) em razão da mordida cruzada que frequentemente se apresenta. Há grande utilização de dorso de língua esmagando o alimento contra o palato e pouca ou nenhuma ação dos músculos bucinadores devido à discrepância das 15 bases ósseas e alterações oclusais conseqüentes que se apresentam, comentam Marchesan & Bianchini (1999); Bianchini (1998). Em alguns estudos realizados por Ellis, Throckmorton & Sinn citados por Marchesan & Bianchini (1999), há redução da força de mordida, levando a um número maior de ciclos mastigatórios para triturar o alimento, sendo esta a principal razão da realização da cirurgia, a melhoria da função mastigatória. A interposição lingual anterior, apresentada em alguns pacientes na deglutição, não agrava e nem compromete mais o quadro, pois esta é uma condição funcional adaptativa. O posicionamento de língua só poderá ser modificado com a cirurgia ortognática, pois ocorre a mudança da posição da sínfise mentoniana, afirmam Marchesan & Bianchini (1999). Assimetrias Essas são alterações faciais transversais e sua análise é feita em norma frontal e não de perfil, como nas anteriores, de acordo com Bianchini (1998). Nas assimetrias faciais ósseas, a característica funcional mais freqüente observada por Marchesan & Bianchini (1999) é a presença de mastigação unilateral. Bianchini (1995) relata a presença de mordida cruzada esquelética unilateral associada à alteração esquelética de classe II ou III, levando a contração muscular mais acentuada do lado cruzado. Marchesan & Bianchini (1999) ainda comentam que o indivíduo também poderá apresentar a musculatura do lado maior mais alongada, mesmo após a cirurgia. E, apesar do paciente tentar mastigar bilateralmente, predominam movimentos mandibulares 16 unilaterais. Marchesan (1997) acrescenta que se a mastigação unilateral estiver ocorrendo há muito tempo, provavelmente o indivíduo apresentará e hipertrofia da bochecha do lado onde ocorre a mastigação, o que resultará numa diferença de tamanho bastante razoável. A bochecha do lado em que predomina a mastigação tende a ser mais alta e a distância entre a comissura labial e o canto externo do olho do mesmo lado tende a ser menor do que a do outro lado. Na articulação da fala, os movimentos mandibulares protrusivos esperados são substituídos por movimentos de lateralidade mandibular, acompanhados por maior contração muscular na região da comissura labial do mesmo lado (Marchesan & Bianchini, 1999). Quando há inclinação lateral da cabeça, aparece compensação da cintura escapular com elevação do ombro do mesmo lado e conseqüente repercussão em cintura pélvica e apoio da perna e pé. A cabeça também poderá estar anteriorizada. A respiração bucal é observada frequentemente, afirmam Marchesan & Bianchini (1999). 17 ANAMNESE A anamnese tem como objetivo principal a visualização do paciente em sua totalidade. As queixas que o levaram a procurar a terapia são a chave do tratamento. Estas, geralmente, se dividem em funcionais e estéticas e, mediante estas, ficará explícita a perspectiva com relação à cirurgia. O paciente pode apresentar como queixa inicial, segundo estudos de Bianchini (1995), o incorreto posicionamento dentário, dificuldades mastigatórias ou alterações na articulação temporomandibular. Entretanto, mostra-se preocupado em saber como ficará seu rosto, se seus lábios ficarão mais proporcionais, se o nariz não parecerá grande demais com a redução da mandíbula, dentre outras apreensões. O mais importante com relação à queixa é a distinção da mesma do ponto de vista do paciente, do cirurgião e do ortodontista. Deixar o paciente falar livremente de seus medos e necessidades e, principalmente, o que o trouxe até nós e o que ele espera que possamos fazer por ele, poderá determinar o sucesso terapêutico, constatam Marchesan & Bianchini (1999). As perguntas relacionadas à patologia em evidência devem ser feitas de forma a nos dar uma visão aprofundada da mesma, além de uma visão mais abrangente do que circunda a queixa inicial, podendo dar indícios importantes na compreensão do problema inicial. A anamnese será conduzida, esclarecendo-se as dúvidas pertinentes ao fonoaudiólogo e observando as relações e atribuições que o paciente faz quanto 18 ao seu problema. Os pacientes que apresentam um importante componente emocional referente à sua auto-imagem devem ter uma atenção especial, pois poderão não se contentarem com o resultado obtido, ressalta Bianchini (1995). O enfoque da entrevista inicial deve ser nas funções do sistema estomatognático, além de sinais e sintomas de desordens temporomandibulares (DTM), observando as possíveis adaptações e/ou alterações e o grau de severidade, delimitando o grau de consciência quanto às alterações. A postura de lábios e língua e a presença de hábitos parafuncionais como: bruxismo; onicofagia; sucção digital, presentes em grande parte dos casos de mordida aberta anterior dentária e/ou esqueletal, mesmo em adultos são de grande valia, como relatam Souza, Campiotto, Freitas (1997). Com relação à respiração, deve-se questionar: dificuldades atuais e pregressas; modo predominante: nasal, oral ou misto; presença de ronco ou dispnéia durante o sono, bem como sialorréia. Assim como espirros, coriza, prurido nasal e se foram realizados tratamentos medicamentosos e/ou cirúrgicos por parte do otorrinolaringologista, pois as alergias respiratórias consistem em reais dificuldades à estabilidade postural (Souza, Campiotto, Freitas, 1997). A impossibilidade de vedamento labial antes da correção cirúrgica, acrescenta Bianchini (1995), pode perpetuar a respiração bucal habitual após o posicionamento esquelético, entretanto, se existem problemas respiratórios associados, o otorrinolaringologista deverá ser consultado ainda em fase préoperatória. Souza, Campiotto, Freitas (1997) ressaltam que já se sabe hoje que a respiração nasal é função primordial para que se desenvolva satisfatoriamente o crescimento facial e que há conseqüências negativas na manutenção de uma 19 respiração oral sobre o desenvolvimento do sistema estomatognático e de um adequado padrão funcional muscular oral. A alimentação também deve ser investigada. Perguntas quanto às preferências e eficiência mastigatória são dados fundamentais para a análise, como comentam Souza, Campiotto, Freitas (1997); Bianchini (1995). Também são de grande importância a preferência de lateralidade, predomínio do modo uni, bilateral ou alternado, estando relacionados à dominância hemisférica e número de elementos dentários em cada hemiarcada. Faz-se necessário saber se existem sinais e/ou sintomas gastrointestinais como azia, má digestão, constipação, que podem indicar, além de outras alterações, a ineficiência da atividade mastigatória, levando a dificuldades para deglutir, o que pode ser decorrente de um esmagamento inadequado e/ou rapidez durante a mastigação. Deve-se observar se esta é ruidosa, o que pode indicar atividade exagerada da língua, ou até mesmo compensatória ou complementar à mastigação ineficiente. Há necessidade de questionar se há referência de comer de boca aberta, o que pode indicar insuficiência na respiração nasal, se há referência à fadiga muscular, dor em região pré-auricular ou masseteriana ou relacionada à mobilidade da ATM (estalos ao mastigar). A consistência dos alimentos, a quantidade de fibras ingeridas, os hábitos alimentares e a freqüência das refeições também são relevantes, segundo Bianchini (1995), principalmente pelo conhecimento da preferência de grande parte destes pacientes em alimentos mais moles e umidificados. A exploração desses dados ajudará tanto na orientação da dieta pós-cirúrgica como principalmente na reeducação da mastigação e deglutição, contribuindo desta 20 forma para a conscientização do paciente quanto à realização, por ele, destas funções. Alguns pacientes ficam receosos em mastigar alimentos mais consistentes, quando permitidos, ou mantêm padrões viciosos como projetar a mandíbula anteriormente. Os indivíduos classe III de Angle apresentaram a função mastigatória alterada, conforme relatam Junqueira & Campiotto citados por Souza, Campiotto, Freitas (1997), não demonstrando noção deste fato nem a percepção da possibilidade da mastigação ocorrer de formas diversas. Os indivíduos classe I também, na sua maioria, não têm idéia dos processos e etapas dessa função. A necessidade da intervenção fonoaudiológica devido às alterações miofuncionais existe, porém nem sempre há consciência destes fato, como comentam Aso & Campiotto, citados por Souza, Campiotto, Freitas (1997) em trabalho realizado no Setor de Terapia Fonoaudiológica, Departamento de Otorrinolaringologia, da Santa Casa de São Paulo. A maioria dos pacientes prognatas opta pela correção cirúrgica por motivos estéticos, mesmo que a alteração da função seja evidente. Então, o papel do fonoaudiólogo é realizar um trabalho de conscientização destas alterações funcionais, mostrando a relação existente entre estas e a deformidade maxilomandibular. Com relação à deglutição, Souza, Campiotto, Freitas (1997) comentam que, além das queixas, questiona-se quanto à existência de engasgos, o que poderia indicar incoordenação entre a respiração e a deglutição, elevação de laringe concomitante ao retroposicionamento da língua. Investiga-se ainda se é auxiliada por líquidos, o que poderia indicar deficiência da força de língua e musculatura supra e infra-hióidea. 21 A articulação da fala deve ser observada durante toda a anamnese, referem Souza, Campiotto, Freitas (1997). Deve-se questionar o paciente quanto à presença de dificuldades ou impedimentos na articulação dos fonemas/sons. No entanto, essas alterações nem sempre são conscientes, mas normalmente estão presentes nestes casos. Afirma Bianchini (1995) que há pouca percepção quanto à articulação dos fonemas bilabiais e labiodentais, estando estes, na sua maioria alterados, devido ao mau posicionamento das bases ósseas. Souza, Campiotto, Freitas (1997) complementam relatando que isto ocorre, geralmente, por não serem acusticamente perceptíveis para um ouvido menos treinado e ambos autores concordam que a queixa mais freqüente e que realmente incomoda é o sigmatismo, ceceio frontal e/ou lateral moderado ou severo decorrente da interposição lingual. As funções do sistema estomatognático devem ser analisadas assim como a postura habitual dos lábios e língua. Normalmente, o paciente demonstra não ter consciência da postura habitual de seus órgãos fonoarticulatórios, principalmente, da presença ou não de selamento labial ou da postura mais freqüente da língua em repouso. O posicionamento da língua pode ser: na papila, no soalho da boca, intermediária e às vezes até mesmo entre arcadas, estando tais posições geralmente relacionadas ao tipo de face, oclusão e mordida e ao espaço intrabucal apresentado. Mas, às vezes, numa segunda oportunidade, o paciente refere ter observado melhor e descoberto qual a posição habitual mais freqüente. Isto demonstra a necessidade de orientar o paciente a se autoobservar para que este possa perceber seus hábitos, como analisam Souza, Campiotto, Freitas (1997). 22 Com relação à língua, nas deformidades no sentido ântero-posterior, se apresenta plana e hipotônica no soalho da boca. Há um aumento de volume que comumente é confundido com macroglossia. Desta forma, é necessária uma avaliação da língua em relação à cavidade bucal e do tônus muscular, para que não ocorram erros de diagnóstico e se faça uma glossectomia desnecessária, comenta D’Agostino citada por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Os casos de macroglossia são raros, mas estão normalmente relacionados a síndromes genéticas, acrescentam Souza, Campiotto, Freitas, (1997). O questionamento quanto à postura global da cabeça com relação ao pescoço e destes em relação aos ombros e assim por diante, posição ao deitar, tipo de trabalho e outros dados que possam interferir no processo terapêutico deve ser realizado. A má postura corporal, de cabeça, pescoço, ombros, abdômen e quadril raramente é percebida pelo paciente, relata Bianchini (1995). Não se faz necessário detalhar dados de desenvolvimento psicomotor, nem do processo de desenvolvimento da alimentação (aleitamento materno, introdução da mamadeira, dos alimentos pastosos e sólidos) já que estes pacientes são adultos ou têm idade a partir de 16 anos. Os hábitos nocivos de alimentação e os parafuncionais que tenham participação atual sobre todo o sistema estomatognático terão realmente valor nesta avaliação, afirmam Souza, Campiotto, Freitas (1997). Os hábitos parafuncionais, tais como bruxismo cêntrico e excêntrico, são desastrosos no paciente cirúrgico, já que estes podem ser mantidos no período de bloqueio, forçando as estruturas operadas. A consciência do hábito nem sempre existe, principalmente quando internalizado. Desta forma, além do 23 questionamento, uma observação deve ser realizada e imediatamente orientada, afirma Bianchini (1995). Souza, Campiotto, Freitas (1997) acrescentam que é tão importante saber da presença dos hábitos parafuncionais quanto perceber a duração, intensidade e freqüência destes. Não é necessário saber só se o paciente rói as unhas, mas qual a força muscular aplicada ao ato, se ele é freqüente e por quanto tempo perdura. A presença de hábitos parafuncionais geralmente vem acompanhada por uma desordem temporomandibular, sendo este um distúrbio muito freqüente nos casos de deformidades maxilomandibulares. Muitas vezes, este é o motivo que levou o paciente a optar pela cirurgia. Poderão estar presentes, além da onicofagia e do bruxismo, já citados, outros hábitos como: alterações posturais da cabeça, forçando a musculatura mastigatória mais intensamente de um lado que de outro; o apoio da mão contra o queixo, mesmo ao dormir; deslocamentos excessivos da mandíbula durante tabagismo ou fala; hábitos de mordiscar os lábios ou bochechas, passar a língua sobre o lábio e interpor o lábio inferior entre as arcadas, dentre outros. Souza, Campiotto, Freitas (1997) ressaltam que, na anamnese, devem ser colhidos dados de antecedentes pessoais e familiares, relativos à deformidade apresentada. Saber o caminho percorrido até o momento da anamnese também tem seu valor. Deve-se questionar quanto a consultas a ortodontistas, fonoaudiólogos, cirurgiões plásticos e bucomaxilofaciais antes de optar pelo diagnóstico e condutas atuais, à procura de soluções para o problema. A relevância destes dados está no nível de ansiedade, desenvolvimento afetivo, dedicação e confiança na equipe atual. 24 Segundo Marchesan & Bianchini (1999), o paciente deve ter total consciência do motivo que o levou a estar ali e o que de fato ele espera deste e dos outros tratamentos, pois isto poderá levar ao caminho da terapia e evitar o engano de tratar daquilo que não se quer ou não é possível ser tratado. A base do sucesso terapêutico está na motivação e na conscientização do trabalho miofuncional, que devem ser iniciadas ainda na anamnese, pois mudar posturas e funções internalizadas implica inicialmente em reconhecê-las e, quanto antes isso for realizado, mais rápido serão os resultados, conclui Bianchini (1995). A anamnese em fase pré-cirúrgica permite conhecer o paciente e orientá-lo num período de grande expectativa. O conhecimento do caso antes da correção ortodôntico-cirúrgica auxilia no diagnóstico e favorece o prognóstico. 25 AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA Na cirurgia ortognática estão envolvidas estruturas estáticas e dinâmicas que se relacionam anatômica e funcionalmente. Qualquer modificação na forma ou tamanho dos ossos com alterações na estética facial e na arcada dentária traz conseqüências para a musculatura e interfere diretamente na atuação dos órgãos fonoarticulatórios, comenta D’Agostino (1987). Desta forma, o exame fonoaudiológico deve ser realizado de maneira estática e dinâmica, de frente e perfil. O estático observa os aspectos da anatomia, morfologia e postura das estruturas orofaciais. O dinâmico, sendo o mais importante, avalia o indivíduo durante a realização das diferentes atividades funcionais e tem por objetivo detectar desequilíbrios importantes que possam interferir negativamente na cirurgia, relata D’Agostino, citada por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Os dados obtidos, em sua maioria, são de caráter subjetivo e, portanto, qualitativos e não quantitativos, orienta Altmann, citada por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Porém, é necessário estabelecer alguns parâmetros mensuráveis para uma comparação efetiva entre os resultados pré e pós-cirúrgicos Devem ser examinadas estruturas duras e moles separadamente, descrevendoas para posteriormente relacioná-las, pois, quando analisadas em separado as partes duras, pode-se, de certa forma, prever como será o posicionamento das partes moles. 26 Altmann (1987) descreve que Burstone considera os tecidos moles tão significativos quanto as estruturas dentárias e esqueléticas, porque são os determinantes da harmonia e estética facial. A realização de um exame miofuncional completo sob o aspecto morfológico e funcional é de máxima importância, conforme Bianchini (1995). Sob o aspecto morfológico, devem ser analisadas as posturas de ombros, pescoço e cabeça de frente e perfil, análise facial, análise das estruturas e musculatura, descrição e interpretação da oclusão e tipologia facial e avaliação das vias aéreas superiores. A postura de cabeça e ombros tem fundamental importância, pois a posição fisiológica da mandíbula em repouso depende da posição da cabeça, assim como alterações na posição da cabeça também produzem mudanças na posição da língua na cavidade oral, afirma Schwarz, citado por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Estudos realizados por Winnberg & Pancherez, citados por Souza, Campiotto, Freitas (1997) mostram que a duração da fase de mascagem do músculo masseter apresentou-se reduzida quando a cabeça estava flexionada para frente e aumentada quando flexionada para trás, assim como a atividade integrada máxima da eletromiografia (EMG) mostrou-se diminuída para o músculo masseter quando a cabeça estava fletida para a frente. Hábitos de dormir e a respiração bucal secundária à obstrução respiratória podem influenciar a postura de cabeça, analisa Schwarz, citado por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Com relação à análise facial, deve-se observar a simetria facial em análise frontal e com relação à descrição e interpretação da tipologia facial, definir a 27 desproporção esquelética através da observação clínica e estudo da cefalometria, comenta Bianchini (1995). Ainda sobre este tema, Souza, Campiotto, Freitas (1997) acrescentam que na simetria deve-se considerar o sentido ântero-posterior, o sentido craniocaudal e o sentido latero-lateral. No sentido ântero-posterior, avalia-se a posição da maxila em relação à mandíbula. No sentido craniocaudal, a relação entre terços superior e inferior da face. No latero-lateral, deve-se avaliar a assimetria de hemifaces, cuja presença, quando relacionada aos tecidos moles, pode indicar uma mastigação unilateral, com exceção dos casos de atrofias hemicraniofaciais. A altura da face e as proporções entre os terços são medidos do trichion (linha mais baixa da implantação do cabelo) a uma linha horizontal que passa ao nível da glabela, sendo este o terço superior. O terço médio vai deste nível da glabela à linha que passa na junção do lábio com a columela (subnasal). Desta linha ao subnasale do mento, localiza-se o terço inferior. O padrão ideal é que as três alturas sejam iguais, analisam Psillakis & Lucardi (1987). Outros aspectos devem ser analisados, como as estruturas e os músculos de suporte da cabeça e pescoço, verificados através de palpação e observação quanto à postura, tonicidade, sensibilidade, mobilidade e dor à palpação, conforme Souza, Campiotto, Freitas (1997). A orofaringe deve ser analisada com relação à presença de amígdalas hipertróficas. A mobilidade de lábios, língua, bochechas, palato mole e mandíbula é avaliada através de movimentos simples e/ou seqüencializados. Nos casos que necessitam de cirurgia ortognática, não é freqüente que se apresentem 28 problemas significativos nessa área, com exceção de casos com freio lingual muito anteriorizado, prejudicando a movimentação de língua. A postura de lábios e língua em repouso deve ser observada, pois nesta situação só deve haver a presença de atividade muscular de orbicular de lábios. Qualquer alteração indicará desequilíbrio muscular, apesar disto ser impossível nos casos de retrognatia. O tônus de ação da musculatura de lábios, língua, bochechas e músculos da mastigação é avaliado através da palpação da mesma durante a execução de diferentes movimentos, enquanto o examinador aplica uma força contrária ao movimento com auxílio de espátula ou da própria mão. Bucinadores, masseteres e temporais são palpados durante a máxima intercuspidação pelo paciente, e também durante a mastigação, descrevem Souza, Campiotto, Freitas (1997). O esfíncter velofaríngeo deve ser analisado. No caso de dúvida da integridade deste, uma avaliação minuciosa, através de endoscopia flexível (nasofaringolaringoscopia) deve ser realizada, principalmente frente a uma hipernasalidade leve ou mesmo discreta. A análise do esfíncter torna-se imprescindível, especialmente, nas programações de avanço maxilar e na presença de fissuras palatinas. Após as osteotomias tipo Le Fort I, II ou III, dependendo da magnitude do avanço maxilar e do status do sistema velofaríngeo pré-operatório, Kaban, citado por Souza, Campiotto, Freitas (1997) ressalta que poderão ocorrer problemas relacionados à função velofaríngea. Mas, Souza, Campiotto, Freitas (1997), em sua observação clínica, nunca se depararam com tal disfunção. 29 A descrição e interpretação da oclusão deve ser feita com relação ao estado geral dos dentes; classificação de Angle; alterações periodontais; agenesias; falhas dentárias por extrações; alterações de implantação dentária; diastemas; desvio de linha média; mordida cruzada; mordida aberta; sobremordida e posição dos incisivos. Esses fatores deverão ser observados e analisados junto ao ortodontista, comentam Souza, Campiotto, Freitas (1997); Bianchini (1995). As vias áreas superiores devem ser avaliadas, observando a dimensão das narinas, amígdalas, alterações na gengiva, obstrução nasal, inclinação do plano palatino, refere Bianchini (1995). Souza, Campiotto, Freitas (1997) descrevem que a análise do palato duro deve considerar o tamanho e a conformação, pois alguma alteração poderá indicar uma intervenção da forma na função. O palato ogival pode significar a presença de uma respiração oral. Por outro lado, uma mordida cruzada completa determina a presença de uma mastigação ineficiente ou, pelo menos, alterada. Os dados de anatomia devem ser sempre correlacionados aos aspectos da funcionalidade e vice-versa. Pois não há como se descrever a forma sem vislumbrar a condição funcional esperada. Do mesmo modo, não há como se determinar uma disfunção sem que se conheça a forma subjacente e se compreenda até que ponto a segunda é a condição para a existência da primeira. Os dados obtidos durante a avaliação da morfologia (perfil ósseo) e força muscular (tecidos moles) devem ser relacionados ao tipo facial, ao tipo de mordida e de oclusão apresentados. 30 Tão importante quanto a classificação dentoesquelética é a análise da função neuromuscular, pois é através da harmonia na funcionalidade do conjunto que se estabilizam as estruturas estáticas. Estando as estruturas discrepantes, é de se esperar que haja características funcionais adaptativas. Desta maneira, deve-se realizar o exame das funções do sistema estomatognático de respiração, mastigação, deglutição e fala, além de mordida, sorriso e funcionamento das articulações temporomandibulares, concordam Bianchini (1995); Souza, Campiotto, Freitas (1997); Marchesan & Bianchini (1999). As funções devem ser analisadas em separado e seqüencialmente, pois nenhum órgão está determinado para realizar uma só função. Cada função, quando considerada individualmente, será diferente de quando integrada com outras. Quando as funções ocorrem seqüencialmente, a complexidade hierárquica aumenta consideravelmente, acrescentam Marchesan & Bianchini (1999). O objetivo da realização das funções separadamente é verificar como o paciente executa a função que está sendo avaliada, sob comando e isoladamente. Pois, sabe-se que inconscientemente e em seqüência, a função poderá ser realizada de maneiras diferentes daquela realizada isoladamente. Há necessidade de saber quais as possibilidades que cada estrutura tem de fazer a mesma função de ambas as formas. Esta distinção direciona o plano terapêutico. A partir da análise, será possível traçar as exigências dentro das possibilidades do paciente, complementam Marchesan & Bianchini (1999). A avaliação das funções deve ser feita em situação espontânea e iniciada a observação nos relatos da anamnese, afirma Bianchini (1995). 31 A respiração começa a ser avaliada na anamnese quanto ao modo: nasal, oral ou misto; se é viciosa ou patológica, de súplica; quanto ao tipo: se é superior, inferior ou costodiafragmática. Analisa-se a coordenação pneumofonoarticulatória (CPFA) que consiste na utilização de pausas durante o discurso, ritmo fonorrespiratório, dentre outros. Observa-se se é silenciosa ou ruidosa, o que pode indicar a ocorrência de obstrução de vias aéreas superiores, sendo que é possível determinar o nível de obstrução pelo tipo de ruído observado, se mais nasal ou mais faríngeo, de acordo com Souza, Campiotto, Freitas (1997). A permeabilidade das narinas, a simetria do fluxo aéreo de cada narina e o ritmo inspiratório-expiratório também devem ser medidos através do espelho de Glatzel. A classificação de uma respiração como oral deve ser minuciosa, pois o que poderá estar ocorrendo realmente é uma impossibilidade de selamento labial e a causa deste deverá ser questionada. A análise da mastigação deve ser feita preferencialmente com alimentos de consistência sólida, porém macia e razoavelmente resistente. Bianchini (1995) refere-se, como exemplo de alimentos, à maçã e ao pão francês, mas acrescenta que alguns pacientes poderão não conseguir comê-los por limitação dos movimentos mandibulares ou dor nas articulações temporomandibulares, ou mesmo por não gostar. Nestes casos, outros alimentos deverão ser utilizados. Há ainda pacientes que utilizam aparelho ortodôntico fixo e poderão ter dificuldade ou impedimento na incisão dos alimentos pelos dentes, devido à presença dos braquetes, não sendo esta uma alteração, mas um impedimento. Atenção 32 especial deve ser dada aos relatos dos pacientes com relação ao ritmo de mastigação. Eles costumam relatar se comem muito rápido ou devagar demais, podendo ser indicações para uma disfunção ou característica individual. A deglutição é avaliada no momento da mastigação, com alimentos de consistência sólida, e isolada da mastigação com líquidos e saliva. A avaliação não é um momento único e deve ser posto sempre um questionamento frente à condição encontrada, como no caso do paciente estar com os lábios entre-abertos. O profissional deve questionar se é uma postura habitual ou se, naquele momento, ele estava resfriado ou em crise alérgica. A fala é analisada durante todo o processo de anamnese e exame, observandose as emissões espontâneas dos indivíduos. Pode ser realizada uma avaliação acústica e visual da emissão, através de repetições de sílabas isoladas, palavras e frases, permitindo assim um levantamento das possibilidades articulatórias de cada um dos fonemas da língua. Se ainda persistirem dúvidas, pode-se solicitar ao paciente que leia uma lista de palavras foneticamente balanceada. Deve-se considerar a precisão e amplitude articulatórias, além da produção dos fonemas, especificamente. A voz tem um papel importante, devido à intimidade fisiológica entre as funções de mastigação, deglutição, fala e fonação, pois o “aparelho fonador” engloba as estruturas do sistema estomatognático. Os itens analisados são: qualidade vocal, se é rouco-soprosa, áspera, crepitante, dentre outras; a altura; a intensidade; a ressonância e projeção vocais, também, por serem aspectos relacionados intimamente com o tamanho e configurações das estruturas faciais. 33 Um paciente Classe II, respirador bucal, com postura habitual de dorso de língua elevado, além da diminuição da cavidade nasal e nasofaríngea, muitas vezes apresenta uma fala característica conhecida como “pastosa”. Isto acontece em decorrência da diminuição da precisão articulatória e em função da redução da atividade muscular geral, bem como pela impossibilidade do uso adequado das “caixas de ressonância”, que são boca, nariz, seios paranasais. A ressonância neste casos é, geralmente, hiponasal, que é a rinolalia fechada ou voz anasalada, conhecida como “voz do resfriado”. Com relação às articulações temporomandibulares (ATMs), deve ser realizada a medição da abertura interincisal durante a máxima abertura mandibular, no préoperatório e no pós-operatório, após a retirada do bloqueio intermaxilar rígido (BIM) para que se possa ter parâmetros de comparação, afirma Altmann (1987). A mobilidade da mandíbula no sentido póstero-anterior e lateral também deve ser quantificada. Os pacientes que apresentarem desordens temporomandibulares poderão apresentar como sintomas dor nos músculos da mastigação, na região préauricular e na articulação temporomandibular, além de estalos articulares e dificuldade de abertura bucal, descreve Cabezas (1997). Há grande tensão muscular por contração isométrica sobre os tendões e tecidos da área, desencadeando a referida dor, conclui D’Agostino (1987). Nos casos de encaminhamento no período pós-operatório, a avaliação será distinta. A questão mais importante, nessa fase, será há quanto tempo foi realizada a cirurgia, para se ter parâmetros de em que período evolutivo o mesmo se encontra. 34 Marchesan & Bianchini (1999) ressaltam que, no pós-operatório imediato, a preocupação será com a presença de edema, tempo de bloqueio intermaxilar ao qual foi submetido, de alterações da sensibilidade que podem estar presentes e do próprio procedimento cirúrgico. A reavaliação funcional será feita após a retirada do bloqueio intermaxilar. Nesta, observam-se geralmente adequações funcionais espontâneas e algumas seqüelas imediatas, como déficit de sensibilidade em região mentoniana, dentes e lábio inferior nas osteotomias mandibulares ou em palato duro e dentes superiores nas osteotomias maxilares, descreve Bianchini (1995). O longo período de bloqueio intermaxilar rígido pode promover limitação em abertura de boca, lateralidade e em movimentos protrusivos mandibulares. A musculatura atrofiada bloqueia os movimentos e, se for forçada, poderá desencadear dor. Esta mobilidade, geralmente, é restabelecida gradativamente pelo uso das estruturas e musculatura mastigatória, após algumas semanas, afirmam Bianchini (1995); Marchesan & Bianchini (1999). De acordo com Bianchini (1995); Souza, Campiotto, Freitas (1997); Marchesan & Bianchini (1999), em alguns procedimentos cirúrgicos, após osteotomias mandibulares, observa-se persistência do déficit sensitivo desde hipoestesias até perda total da sensibilidade na região mentoniana, dentoalveolar inferior e do lábio inferior. Bianchini (1995) acrescenta que isto pode acontecer em decorrência de alguma lesão traumática do nervo alveolar inferior ou compressão de microterminações nervosas em função do edema, sendo este de rápida recuperação. As alterações caracterizadas por redução ou perda da sensibilidade nestas regiões são normalmente reversíveis, porém podem levar 35 até um período de 18 meses para a recuperação total. A demora no restabelecimento deste déficit de sensibilidade é responsável por dificuldades funcionais no controle muscular, em conter a saliva no vestíbulo bucal, apresentando desta forma sialorréia. É responsável ainda por uma postura labial inadequada, durante a produção dos pontos articulatórios na fala e adaptações incorretas quanto à mastigação e à deglutição, dificultando o controle de ingestão de líquidos. A falta de sensibilidade significa uma grande perda proprioceptiva, dificultando a reorganização funcional, além do desconforto. Desta forma, observa-se a importância da avaliação proprioceptiva. Os dados obtidos através da avaliação irão dar suporte ao plano terapêutico. Após algumas sessões, mostra-se necessário refazê-la, a fim de que novos dados sejam colhidos para dar subsídios a um novo plano terapêutico, o que não significa que durante a terapia o paciente não esteja sendo analisado. 36 TERAPIA FONOAUDIOLÓGICA A partir dos dados retirados da anamnese e avaliação, o plano terapêutico será objetivado, mas percebe-se que, desde o primeiro contato, adaptações estão acontecendo e cabe ao fonoaudiólogo direcioná-las para que contribuam positivamente na evolução. O reposicionamento das bases ósseas irá possibilitar ao fonoaudiólogo auxiliar o restabelecimento das funções estomatognáticas, nos casos em que o equilíbrio não é alcançado espontaneamente. Os limites individuais devem ser levados em consideração, comentam Marchesan & Bianchini (1999). As formas de atuação realizadas para modificações musculares podem ser a mioterapia e a terapia miofuncional. Na mioterapia, ocorre a atuação específica no músculo que se quer modificar, utilizando-se exercícios isotônicos e isométricos. A terapia miofuncional conceituada por Segovia, citada por Souza, Campiotto, Freitas (1997) é o conjunto de procedimentos e técnicas para reeducação de padrões musculares inadequados. D’Agostino, citada por Souza, Campiotto, Freitas (1997) acrescenta que estes padrões são gerados por desequilíbrios musculares, com a eliminação das forças antagônicas que interferem nos padrões normais da mastigação, deglutição e articulação das palavras. Marchesan & Bianchini (1999) especificam que na terapia miofuncional trabalha-se diretamente com as funções, atingindo-se também modificações musculares. A utilização da terapia miofuncional parece ser mais rápida e 37 eficiente, mas exercícios específicos em determinados momentos também são de suma importância. As etapas do trabalho fonoaudiológico dependerão da equipe interdisciplinar, já que o encaminhamento poderá ter sido feito no período pré ou pós-operatório. Este último ainda se divide em período de bloqueio intermaxilar rígido e o período após a retirada do bloqueio. Os pacientes encaminhados no período pré-operatório poderão ser avaliados pelo fonoaudiólogo e também orientados. A orientação prévia será útil para o paciente inclusive durante o bloqueio intermaxilar, sendo estas com relação a dieta alimentar, higiene bucal e relaxamentos da região facial e cervical, geralmente tensionados pelo desconforto do bloqueio, comentam Marchesan & Bianchini (1999). Souza, Campiotto, Freitas (1997) referem-se à importância da explanação ao paciente sobre a fisiologia normal da atividade muscular e funções neurovegatativas. E afirmam que estas informações ajudam o paciente a compreender suas próprias alterações/adaptações funcionais, auxiliando no tratamento fonoaudiológico. Comentam a importância do conhecimento com relação aos aspectos gerais da cirurgia quanto às diferentes técnicas empregadas, tipos de anestesia, presença de dor e/ou edema no pós-operatório e utilização do bloqueio intermaxilar rígido, quando necessário. Consideram que as informações deverão ser dadas conforme o questionamento do paciente. Estes devem trazer suas dúvidas e angústias para as sessões subseqüentes. Isto torna-se possível pelo fato dos encontros com o fonoaudiólogo serem sistemáticos, criando inclusive um maior vínculo entre o terapeuta e o paciente. 38 Quanto mais informado estiver o paciente, descrevem Souza, Campiotto, Freitas (1997), sobre todo o processo cirúrgico e reabilitador, mais colaborador e seguro e menos ansioso será este paciente. Desta forma, as sessões de fonoterapia se mostrarão mais eficientes, possibilitando ao paciente expressar suas dúvidas devido à alta freqüência dos atendimentos. As sessões nesta fase poderão ser de 1 a 2 vezes por semana, dependendo da fase em que ele se encontre, e a duração destas será de 30 a 45 minutos, variando conforme as necessidades do trabalho miofuncional e tipo de relação paciente-terapeuta estabelecida. Altmann; D’Agostino; Psillakis (1987); Bianchini (1995); Souza, Campiotto, Freitas (1997) descrevem sobre a necessidade de conhecimento por parte do paciente da dieta alimentar. Esta será líquida durante todo o período de bloqueio intermaxilar, necessitando de um equilíbrio nutricional prescrito e devendo ser rica em ferro, proteínas e vitamina C. A alimentação será basicamente de sopas que devem ser variadas, compostas por carnes diversas, legumes, verduras e cereais, liquidificados e peneirados. Sucos, vitaminas, chás e leite são intercalados à alimentação salgada. Os intervalos de alimentação devem ser de 2 em 2 horas. A perda de peso e sensação de cansaço ou tontura nos primeiros dias é comum. Isto ocorre devido à mudança alimentar. O paciente irá se alimentar utilizando copo, colher ou canudo, optando pela forma mais confortável para ele. Souza, Campiotto, Freitas (1997) desaconselham o uso do canudo, considerando inadequada a força nele empregada. A dieta deverá ser administrada em temperatura ambiente, a fim de se evitar edemas. 39 A higiene bucal deve ser freqüente, concordam Altmann; D’Agostino; Psillakis (1987); Bianchini (1995); Souza, Campiotto, Freitas (1997). A escovação deverá ser realizada após qualquer tipo de alimentação para evitar-se o acúmulo de resíduos nas amarrilhas e deverá ser executada com escova de cabeça pequena e macia, de forma cuidadosa, massageando também as gengivas no sentido vertical. A presença de elásticos ortodônticos para contenção poderá dificultar a escovação, bem como o próprio aparelho ortodôntico ou arco de Erich. Quando permitido pelo cirurgião, devem ser realizados bochechos e jatos com seringa, de preferência de 20 ml, com solução antisséptica, como Cepacol, Malvona, dentre outros. A escovação e os jatos são aproveitados para exploração e estimulação proprioceptiva intra-oral. A conscientização e a orientação quanto aos hábitos deve ser realizada antes da cirurgia, afirma Bianchini (1995). A importância do vedamento labial e postura de repouso lingual durante o bloqueio devem ser enfatizados neste processo de conscientização. Não adianta “treinar” esse padrão antes da correção cirúrgica, porque a discrepância esquelética estará presente e levará a compensações. O mesmo deve-se fazer com relação à deglutição. Trabalhar a função deglutória na fase pré-cirúrgica poderá oferecer benefícios ao paciente, como afirmam Altmann; D’Agostino; Psillakis (1987), impedindo que forças anômalas de língua venham a desestabilizar o bloqueio e ofereçam segurança no período logo após a retirada destas. Acrescentam que deglutimos duas vezes por minuto, enquanto acordados, nove vezes por minuto, durante a alimentação e que a língua exerce uma pressão de aproximadamente 1,8 a 2,7 Kg durante a deglutição. Deste modo, neste período, pressões atípicas da língua 40 muito fortes e constantes, somando-se a incompetência labial, podem causar recidivas em poucas semanas. A importância de preparar e tranqüilizar o paciente quanto à possibilidade de perda de sensibilidade temporária, que poderá ocorrer na região mentoniana no caso das osteotomias mandibulares e quanto ao edema após a cirurgia e o período de imobilização mandibular é comentada por Bianchini (1995). Os pacientes que têm conhecimento do bloqueio mandibular se mostram mais seguros durante esta fase. Orientar a não forçar a abertura de boca durante a fala no período de bloqueio intermaxilar é comentado por Souza, Campiotto, Freitas (1997). No período logo após a cirurgia, quando o paciente ainda se encontra debilitado e com imobilização mandibular, a atuação fonoaudiológica será inicialmente limitada. Nesta fase, só poderão ser retomadas as orientações quanto à higiene, alimentação, presença de hipocinestesia e edema facial, descrevem Souza, Campiotto, Freitas (1997). Bianchini (1955) acrescenta que, nesta fase inicial, há uma dificuldade adaptativa do paciente em decorrência da mudança brusca da forma e principalmente pelo desconforto causado pela imobilização mandibular. Ressalta ainda a importância de orientá-lo a perceber seu novo espaço intrabucal disponível e redescobrir sua nova aparência. Ainda sobre este tema, Souza, Campiotto, Freitas (1997) consideram que exercícios isotônicos de lábios, língua e bochechas, bem como de propriocepção de postura de língua, principalmente, e lábios, em repouso podem ser realizados. 41 Acrescentam que a mímica facial no período pós-operatório mostra-se reduzida devido ao medo de sentir dor durante a movimentação dos órgãos. A automassagem irá ajudar na redução no edema, especialmente na região de masseteres, acompanhada de alongamento de ombros e pescoço devido à tensão cervical e facial que alguns pacientes desenvolvem. Esta tensão pode ocorrer pelo medo de se movimentar ou pelo desconforto do bloqueio. Após a retirada do bloqueio, ainda se observa pouca mobilidade mandibular. A alimentação deve retornar gradativamente ao normal, passando por pastosa, amassada e com pequenos pedaços até chegar aos sólidos sem alimentos duros, chegando, finalmente, à liberação total, descreve Bianchini (1995). O trabalho do esquema proprioceptivo nessa fase inicial deve ser intenso. A limitação dos movimentos mandibulares é positiva inicialmente, pois auxilia na acomodação do tecidos moles, evitando a busca por movimentos mandibulares estereotipados existentes previamente à cirurgia. A limitação é temporária e reversível espontaneamente e a retomada da alimentação pastosa e sólida gradativa, assim como os movimentos utilizados durante a articulação da fala e a própria exploração pelo paciente, se incumbem de reverter a “atrofia” muscular e restabelecer a amplitude dos movimentos. Mas Souza, Campiotto, Freitas (1997) acreditam que o uso de exercícios isotônicos leves, além de diminuírem o tempo de recuperação das medidas interincisais, ajuda o paciente a lidar com sua ansiedade de recuperação da mobilidade plena da mandíbula. Afirmam ainda que estes exercícios viabilizam uma melhor higienização dos dentes laterais, enfatizando a realização de movimentos verticais, laterais e anteriores da mandíbula. 42 Altmann; D’Agostino; Psillakis (1987) concordam com a necessidade de realização de exercícios para auxiliar na abertura de boca e descrevem que estes devem ser sempre iniciados com o aquecimento prévio que consiste na abertura e fechamento repetidos da mandíbula sem envolver qualquer esforço. Após este, aquecimento prévio, poderá se iniciar a abertura forçada com permanência de até 20 segundos e fechamento lento e, em seguida, o uso de um aparelho que auxilie na abertura de boca. A respiração nasal, postura de repouso, deglutição e articulação da fala devem ser trabalhadas sistematicamente, afirma Bianchini (1995). O treino muscular pode ser necessário, especialmente quando persistem as alterações de tonicidade, utilizando-se exercícios isométricos, buscando o equilíbrio e a simetria. A massagem é utilizada em toda a face. Após o reposicionamento das bases ósseas, o trabalho passa a ser executado como em qualquer paciente com distúrbio miofuncional oral, exceto pelas ressalvas em decorrência das seqüelas possíveis e, principalmente, pela manutenção do esquema proprioceptivo anterior. O trabalho mastigatório deve ser minucioso com relação à utilização do músculo bucinador, orbicular dos lábios e lateralização de língua. A alternância do lado de mastigação e eficiência nas diversas texturas de alimentos, à medida que vão sendo liberados, são relevantes. A antecipação em ampliar a mobilidade mandibular e em inserir alimentos duros precocemente pode resultar em dores e estalos nas articulações temporomandibulares. A seqüela sensitiva, inicialmente, é compensada através do trabalho proprioceptivo e ênfase no controle da saliva e deglutição. Nos casos onde o 43 déficit sensitivo persistir, as adaptações devem ser orientadas para que o paciente utilize as pistas proprioceptivas compensatoriamente, como sugar a saliva e deglutir mais vezes, já que a percepção do acúmulo não é clara. Deve haver, também, cuidado na sucção de líquidos no copo. Apesar de não haver comprometimento motor, o déficit sensitivo em lábio inferior pode dificultar a automatização da articulação dos fonemas fricativos /f/ e /v/, sendo necessário um trabalho articulatório intenso, como comentam Marchesan & Bianchini (1999). Os aspectos emocionais relacionados à auto-estima e ao auto-reconhecimento, afetados pela realização das cirurgias craniofaciais, devem ser abordados e elaborados pelo paciente, com a ajuda do terapeuta, durante todo o processo de reabilitação miofuncional. O conceito de tratamento morfofuncional integrado ultrapassa a dimensão localizada de conferir saúde e estética apenas dentofacial. Tal conceito e se estende, em realidade e por consequência, a lhes proporcionar, também, melhorias em termos de saúde geral, conferindo aos mesmos as melhores condições respiratórias, metabólicas, posturais, inclusive, psicossociais, descrevem Köhler, Köhler, Köhler citados por Souza, Campiotto, Freitas (1997). Nos casos onde o tratamento é iniciado após a liberação do bloqueio, o trabalho fonoaudiológico inicia-se direcionando as adaptações que vão ocorrendo espontaneamente. Nestes casos, pode-se observar também a redução de amplitude de movimentos mandibulares e da força mastigatória. A musculatura deverá ser analisada cuidadosamente devido à possibilidade de edemas. Nesta fase, a evolução é rápida e os padrões funcionais adequados à nova forma são direcionados por meio da sistematização de seu uso, dentro dos limites da 44 recuperação de cada paciente. Podem ser realizados exercícios de mobilidade e tonicidade de língua, mas os de lábios, bochechas e mandíbula devem ser evitados, relatam Marchesan & Bianchini (1999). Alguns pacientes podem ainda ser encaminhados tardiamente, quando ocorre alguma característica de recidiva ou a apresentação de funções atípicas. A situação de recidiva poderá ser observada também com relação aos aspectos ortodônticos e possíveis limitações cirúrgicas, já que nem sempre são de causa unicamente funcional. Quando as situações atípicas são realmente diagnosticadas, estas são consideradas de pior prognóstico, pois este novo padrão inadequado encontrase agora internalizado. Pode haver dificuldades referentes à estabilidade da respiração e vedamento labial, de mastigação, deglutição e articulação da fala, devido à presença de alterações neuromusculares. Há casos também de manutenção de padrões usados anteriormente que não são adequados à nova forma, acrescentam Marchesan & Bianchini (1999). O trabalho deve basear-se no esquema proprioceptivo para que o paciente tenha consciência do reposicionamento das bases ósseas e conseqüente modificação dos espaços funcionais. A partir da percepção de suas novas possibilidades, solicita-se ao paciente a observação e descrição daquilo que consegue executar, tornando possível a escolha direcionada da postura de repouso bucal e funções estomatognáticas. O treino funcional é realizado durante a terapia e orientado a ser utilizado em todas as atividades diárias. 45 O tratamento fonoaudiológico requer paciência e dedicação por parte do paciente, assim como grande tolerância à frustração, pois estará sempre testando seus limites, na tentativa de realizar ou corrigir posturas e funções que lhe são dificultadas. Cabe ao fonoaudiólogo a capacidade de acolher e apontar os comportamentos agressivos ou deprimidos, conseqüências da frustração, assim como sempre incentivar o paciente e apontar sua melhora, a fim de tornar mais suportável esse caminho de transformação estético-funcional e psicológico ao qual está submetido, analisam Souza, Campiotto, Freitas (1997). O prognóstico do paciente submetido, à cirurgia ortognática é bom, já que a forma é restabelecida e a motivação do paciente é grande. O trabalho fonoaudiológico costuma ser de curta duração e a estabilidade é observada através de retornos esporádicos subseqüentes. A plasticidade do sistema estomatognático garante a adequação funcional orientada, conclui Bianchini (1995). A terapia fonoaudiológica nos casos submetidos à cirurgia ortognática tem como principal aliado o trabalho proprioceptivo, pois só após o paciente perceber sua nova anatomia e funcionalidade se tornará possível a adaptação. O fonoaudiólogo terá que mostrar constantemente as novas possibilidades de execução das funções estomatognáticas e aumentar a auto-estima, do paciente que poderá estar baixa devido ao não reconhecimento de si mesmo. Ao ser alcançado o equilíbrio neuromuscular a que se propõe a atuação fonoaudiológica, as sessões serão esporádicas, só para controle, e o paciente retornará para avaliação da manutenção do padrão adequado até que receba a alta final. 46 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS A preocupação com a estética, que vem aumentando a cada ano, fez com que as pessoas se incomodassem mais com a forma de seu rosto e seu sorriso. Muitos, sem saber ao certo o que não está adequado, percebem, no entanto, que não há uma harmonia. Esta percepção levou muitos indivíduos a procurarem cirurgiões e ortodontistas com a finalidade de conseguirem uma face mais harmônica. Os ortodontistas diagnosticam a ineficácia da simples utilização do aparelho ortodôntico na correção da discrepância entre as arcadas dentárias, constatando a necessidade de intervenção cirúrgica para o reposicionamento das bases ósseas. Estes profissionais realizam o preparo ortodôntico para a cirurgia ortognática e, após a mesma, posicionam os dentes de forma estética e funcional. Mas alguns pacientes não mantinham o reposicionamento ósseo, apresentando recidivas. Através de estudos, foi constatado que estas eram devidas às inadaptações dos tecidos moles e inadequações das funções, demonstrando a necessidade de terapia fonoaudiológica. A atuação fonoaudiológica, através de terapia miofuncional e mioterapia, promove a adequação das funções estomatognáticas e do tônus muscular dos órgãos fonoarticulatórios, sendo estes responsáveis pelo equilíbrio e harmonia de todo sistema estomatognático. A intervenção fonoaudiológica na fase pré-cirúrgica atua na retirada de hábitos parafuncionais, adequação da musculatura e funções, quando possível. Este profissional conscientiza e orienta o paciente com relação à cirurgia, ao período 48 pós-operatório, à higienização bucal, dieta alimentar, relaxamento da região facial e cervical, ao déficit de sensibilidade e às alterações e adaptações funcionais. Quando o paciente é bem informado de todo o processo cirúrgico, mostra-se menos ansioso e mais colaborador e participativo. No período pós-operatório imediato, na presença de bloqueio intermaxilar, a atuação é restrita e são relembradas as orientações a respeito da higienização, alimentação, déficit de sensibilidade na região maxilomandibular, edema e relaxamento. A postura de lábios e língua é trabalhada de forma sistemática nesta fase, sendo efetiva, quando necessária, na fase posterior. No período que se segue, após a retirada do bloqueio, se não houver melhora espontânea, trabalham-se as funções estomatognáticas, as posturas inadequadas, as alterações musculares, a recuperação das medidas interincisais e a mobilidade mandibular. Conclui-se que a atuação fonoaudiológica previne os diversos tipos de recidivas ósseas e dentárias, evitando a persistência de padrões alterados e funções inadequadas; proporcionando um equilíbrio muscular estático e dinâmico pósoperatório. A fonoaudiologia, indubitavelmente, contribui de forma efetiva e definitiva para o pleno êxito do tratamento ortodôntico-cirúrgico. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTMANN, E.B.C. - Avaliação miofuncional nas deformidades maxilomandibulares. In: PSILLAKIS, J.M.; ZANINI, S.A.; MÉLEGA, J.M.; COSTA, E.A.; CRUZ, R.L. - Cirurgia craniomaxilofacial: osteotomias estéticas da face. Rio de Janeiro, Medsi, 1987. p.325-31. 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