AS CONDIÇÕES DA PLUVIOMETRIA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE E AS CONSEQÜÊNCIAS DA ESTIAGEM NA PRODUÇÃO DE FEIJÃO NESTE ESTADO Gilmar Bristot Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte Rua Chile, 172, Ribeira, Natal-RN, 59012-250 [email protected] José Ueliton Pinheiro Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte Rua Chile, 172, Ribeira, Natal-RN, 59012-250 [email protected] Maria de Fátima Santos Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte Rua Chile, 172, Ribeira, Natal-RN, 59012-250 [email protected] ABSTRACT The rains that drop in Rio Grande do Norte present a great temporary and space variability of area for area, determining differences so much in the quality as in the duration of the rainy period, doing with that the Regiões Oeste and Central they present a rainy station with smaller when compared duration the Regiões Leste and Agreste. The Região Agreste, same not presenting the largest indexes pluviométricos of the State, is the largest producing of bean. In the analysis done between the bean production and the precipitation, of course in the years in that the rains were below the average, the annual production of bean also presented a great reduction. INTRODUÇÃO A grande dependência das atividades agrícolas com relação as chuvas no nordeste brasileiro vem tornando a precipitação pluviométrica numa das variáveis mais estudada na região, de tal forma que atualmente já são conhecidos alguns dos fatores e fenômenos meteorológicos que controlam as chuvas no Nordeste Brasileiro. Fatores externos à região, como o fenômeno El Niño (Kousky & Cavalcanti, 1987), ocasionam mudanças na circulação geral da atmosfera, de modo a trazer conseqüências que na maioria das vezes se traduzem na ocorrência de estiagem prolongadas no setor semi-árido da região Nordeste do Brasil durante o período chuvoso, dificultando a permanência do homem no campo. Existe uma forte relação entre a produção agrícola e os índices pluviométricos, principalmente quando a produção agrícola de uma região se mantém as custas quase que exclusivamente das chuvas, como é o caso da agricultura de sequeiros na região Nordeste do Brasil. Souza et al.(1999), avaliaram os impactos provocados pelo fenômeno El Niño na produtividade de algumas culturas para o estado de Pernambuco e concluíram que em todos os anos em que houve redução na pluviometria local, havia também uma grande quebra na safra agrícola, gerando desconforto social para as localidades rurais. No Rio Grande do Norte, cerca de 91% do seu território está inserido no polígono da seca, isso quer dizer que o clima predominante neste estado é o semi-árido, que apresenta como característica principal uma irregular distribuição temporal e espacial das chuvas. Devido a isso, o Estado possui um setor primário ainda alicerçado na agricultura de subsistência, fazendo com que a população rural esteja sempre a mercê dos sérios problemas climáticos que constantemente assolam a região e afetam a agricultura. Tanto os baixos valores nos índices pluviométricos, como a irregular distribuição temporal e espacial das chuvas na maior parte do território do Rio Grande do Norte, obrigam a população rural local a utilizarem culturas que melhor se adaptam as condições reinantes, afim de garantir a produção agrícola. Isso acontece na Região Agreste desse estado, onde mesmo com índices pluviométricos relativamente baixos, consegue ser a maior produtora de feijão, pois essa cultura se adapta bem a região, devido principalmente as suas características de ciclo vegetativo relativamente curto (60 a 120 dias), baixa exigência hídrica (300 a 500 mm) e fácil adaptação ao solo da região. 68 Este trabalho tem por objetivos primeiramente de mostrar o comportamento da precipitação anual, dando ênfase ao período chuvoso, nas diversas regiões do Rio Grande do Norte, além de evidenciar a relação entre a produção anual de feijão no Estado com a ocorrência de estiagem na região. Material e Métodos Foram utilizados dados anuais de precipitação média para o Rio Grande do Norte (período de 1962-97) e resultados das safras anuais de feijão para o período compreendidos entre os anos de 1988 a 1997. As informações sobre área plantada e a quantidade produzida foram obtidas junto ao Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEC). Os índices anuais médios de precipitação foram extraídos do Banco de Dados da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN). Condições Normais da precipitação anual nas diferentes regiões do estado do Rio Grande do Norte A precipitação pluviométrica é o principal elemento meteorológico que determina as estações características (úmida e seca) do Estado. Mesmo apresentando uma variabilidade no total e nas distribuições espacial e temporal, de ano para ano, ela determina o sucesso ou o fracasso da agricultura não irrigada. Por isso, o conhecimento das condições médias ou normais dessa variável, e a quantificação da variabilidade e da freqüência de determinados feitos, tornam-se importantes subsídios para o manejo das culturas com o objetivo de otimizar ao máximo o aproveitamento das precipitações. No Rio Grande do Norte, o índice pluviométrico médio anual, fica em torno de 823,6 mm, apresentando uma variação nas diferentes regiões de modo que a maior média anual é observada na região Leste do Estado com 1246,3 mm, e a menor na região central (630,4 mm). Na região Agreste, esse índice é de 639,1mm, e na região Oeste (778,4 mm). A distribuição temporal e espacial média das chuvas ao longo do ano, apresenta uma variação de região para região, tanto na quantidade como no período de ocorrência. Normalmente as chuvas ocorrem primeiramente na região Oeste que possui um período chuvoso concentrado entre os meses de fevereiro a maio, fazendo com que os índices pluviométricos ocorridos neste período, representem 75,6% do total anual das chuvas que caem nesta região. Tendo um início do período chuvoso um pouco defasado em relação a região Oeste, a região Central, também tem nos meses de fevereiro a maio a concentração das chuvas que respondem por 74,9% do total anual. Nas regiões situadas mais a leste do estado, as região Leste e Agreste, o período chuvoso é mais extenso, concentrando-se entre os meses de fevereiro a julho. Para a região do Agreste as chuvas que ocorrem neste período representam 83,0% do total pluviométrico anual. Para a região Leste, essas chuvas são responsáveis por 86,6% do total anual. Na Figura 1, está a distribuição dos totais normais (período de 1962-1997), de precipitação, dos meses de fevereiro a julho, no estado do Rio Grande do Norte. Esses totais médios variam de 472,1 mm na região Central, até o valor próximo de 1080mm na região leste do Estado. Condições Normais da produção anual de feijão nas diferentes regiões do estado do Rio Grande do Norte Segundo o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEC), no Estado, a cultura do feijão nesses últimos anos vem ocupando áreas com cultivo em praticamente todas as regiões. Essa evolução aconteceu principalmente pela diminuição da área ocupada com o cultivo do algodão a partir do final da década de setenta devido aos problemas de ordem climática, biológica e política, enfrentados pelos agricultores na época (Beltrão, 1996). Em termos de produção anual, Figura 2, a maior produção de feijão ocorre na Região do Agreste, onde a produção fica em média entre 25 a 30 mil toneladas ao ano, enquanto que na Região Leste a produção é a mais baixa do Estado (5 a 9 mil toneladas ao ano). Essa maior produção na Região Agreste, pode ser explicada pelo fato de que nesta região a estação de cultivo em média apresenta uma duração em torno de 150 dias, se concentrando entre os meses de fevereiro a agosto (Bristot, 1999), que quando comparado com as demais regiões do Estado, somente é menor do que a Região Leste. Para o caso da baixa produtividade da região Leste, é explicado pois a principal cultura agrícola explora é a cana de açúcar (IDEC, 1998). 69 Figura 1-Distribuição dos totais normais de precipitação (mm), nos meses de fevereiro a julho de 1962 a 1997. Fonte: EMPARN (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Grande do Norte) Figura 2- Produção Média anual de feijão nas diversas regiões do Rio Grande do Norte 70 RESULTADOS e DISCUSÕES A Relação entre a chuva e a produção de feijão no Rio Grande do Norte 100000 90000 80000 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 250 200 150 100 Ano seco Ano seco Ano seco 50 Área Plantada (x1000ha) Produção (ton) Através da análise da produção anual de feijão e da evolução da área plantada, juntamente com os seus valores médio para o período de 1988 a 1997 que estão plotados na figura 2, é possível ver que nos anos em que a precipitação pluviométrica ficou em torno da normal (1988,1989,1995 e 1996), a produção de feijão, e a área plantada, também ficaram próximas das suas médias para o período, mostrando que as chuvas foi fator determinante da boa produção durante esses anos. Nos anos em que as chuvas ficaram muito abaixo do normal, como foi o caso dos anos de 1990, 1993 e 1997, observou-se que a produção de feijão sempre apresentou uma acentuada queda, o que não foi observado para a área utilizada para o plantio nos anos de 1990 e 1997, que ficou em trono da média. No ano de 1993, ano de El Niño, a utilização da área plantada foi reduzida em virtude de que no ano de 1992, também de El Niño, a área utilizada para o plantio havia sido acima da média, e com uma produção menor do que a produção média do período, isso, associado com as previsão de que o fenômeno El Niño iria continuar atuando durante o ano de 1993, levaram os agricultores a terem maior cautela, diminuindo e muito a área utilizada para o plantio naquele ano. 0 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 anos Área Plantada (X1000ha) Produção (ton) Área Plantada Média Produção Média Chuva (mm) Figura 3- Valores da produção anual de feijão em toneladas e as áreas cultivada para o período entre os anos de 1988 a 1997 no Rio Grande do Norte. 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Anos Chuva (mm) Chuva Média (1962-97) Figura 3- Precipitação anual (mm) para os anos de 1988 a 1997, juntamente com a precipitação média no Rio Grande do Norte. 71 CONCLUSÕES A Região Agreste, mesmo não apresentando os maiores índices pluviométricos anuais do Estado do Rio Grande do Norte, vem sendo constantemente a maior produtora de feijão deste estado. Observa-se claramente no período analisado que nos anos em que a precipitação apresentou valores abaixo da média climatológica, a produção anual de feijão também mostrou uma acentuada queda, explicitando a dependência que existe entre a produção de feijão e as chuvas que caem no Estado do Rio Grande do Norte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELTRÃO, N.E. de M. Informações sobre o algodão no Brasil: Situação atual, problemas, perspectivas e possíveis soluções. Campina Grande: EMBRAPA -CNPA, 1996. 19p. (EMBRAPA - CNPA. Documentos 46). BRISTOT, G. Estimativa da Necessidade de Irrigação Suplementar para algumas culturas no Estado do Rio Grande do Norte. UFPB, Campina Grande. 1999 (Dissertação de Mestrado). SOUZA, I.A. et al. A avaliação dos impactos provocados pelo El Niño em algumas culturas no Estado de Pernambuco. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 11, 1999, Florianópolis - SC. Anais..., Florianópolis, 1999, CD-ROM. IDEC, 1998. Anuário Estatístico do Rio Grande do Norte. KOUSKY, V. E.; CAVALCANTI, I. F. A. Eventos Oscilação Sul-El Niño: Características, Evolução e Anomalias de Precipitação. Rev. Ciência e Cultura, vol. 36, nº 11, 1984. 72