Dinamicidade Agrícola no Estado do Rio de Janeiro: O Caso da Floricultura e da Horticultura Karina Vianna Cardoso Leandro Ribeiro Sâmea Barcelos Introdução A Região Serrana do estado do Rio de Janeiro abrange os municípios de Bom Jardim, Cantagalo, Carmo, Cordeiro, Duas Barras, Macuco, Nova Friburgo, Petrópolis, Santa Maria Madalena, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto, Sumidouro, Teresópolis e Trajano de Morais. Localizada entre as montanhas da serra dos Órgãos, os municípios assemelham-se tanto pelas características físicas como pelo processo de ocupação. Inicialmente desbravada por aventureiros em busca de ouro, é nesta região serrana que, no século XIX, instalaram-se os primeiros imigrantes suíços autorizados por D. João VI para desenvolver colônias de policulturas. Posteriormente, vieram imigrantes alemães italianos, portugueses e assírios (Marafon et al, 2005). Mapa 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro Segundo Marafon et al (2005), a região apresenta uma diferenciação interna marcante, pois alguns municípios alcançaram um desenvolvimento econômico mais expressivo do que outros. Dentre eles, destacam-se os municípios do Alto da Serra (Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo), pois, detiveram maior desenvolvimento em atividades produtivas que as demais terras, pois não dependeram exclusivamente do café, mas sim da nascente industrialização, da vinda de colonos imigrantes e acelerada urbanização (p. 109). Apesar do plantio do café ter se tornado a principal atividade da região, os três municípios citados, por motivos climáticos, desenvolveram outras culturas agrícolas e atividades mais ligadas à indústria. É imprescindível ressaltar que esta é a região do estado que apresenta alguns dos melhores indicadores socioeconômicos. Possui um dinamismo nos setores da indústria, comércio e prestação de serviços, com destaque para a atividade turística que se desenvolve, principalmente, devido ao clima de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, que é frio no inverno e com temperatura amena no verão. Aliados à proximidade com a metrópole carioca, estes fatores contribuíram para a propagação de um fluxo de visitantes em direção à Região Serrana Fluminense. Possui ainda inúmeras práticas agrícolas, concentrando 50% das terras cultivadas de todo o estado, com produção destinada principalmente ao abastecimento da metrópole. Além disso, a pecuária constitui-se como principal atividade do meio rural de alguns municípios e em outros a produção de hortigranjeiros sobressai dentre as demais desenvolvidas. Cabe ressaltar a produção de olerícolas e hortícolas, já tradicionais na região (Marafon et al, 2005). Este trabalho pretende ressaltar que, atualmente, novas e outras já importantes atividades do setor agrícola têm se desenvolvido e se ampliado na Região Serrana Fluminense, como a agricultura orgânica, a hidropônica e a floricultura, detentoras de um potencial de crescimento que tem sido observado e incentivado pelos órgãos fomentadores e a horticultura que já se constitui, há algum tempo, como uma atividade que deixa suas marcas na paisagem. No caso da concentração de atividades no ramo da floricultura na Região Serrana, esta concentra 59,91% da produção do estado, com destaque para os municípios de Nova Friburgo, Bom Jardim e Petrópolis (EMATER/RJ). A floricultura desponta como uma alternativa econômica expressiva, movimentando anualmente no Brasil algo em torno de US$ 1 bilhão, envolvendo mais de cinco mil produtores e de quatro mil lojistas, configurando um mercado que cresce cerca de 20% ao ano. Apresenta, inclusive, a versatilidade de múltiplas formas de exploração e diversidade de cultivo, como sejam: produção de flores de corte, produção de flores e plantas envasadas, produção de folhagens, plantas de interior e viveiros de produção de mudas, sendo uma vantajosa opção para o estado do Rio de Janeiro que tem condições climáticas favoráveis à produção de uma enorme variedade de espécies de interesse para a floricultura, sem considerar a tradição da cidade do Rio de Janeiro em jardinagem e paisagismo, permitindo a geração de empregos nas regiões onde a atividade é desenvolvida (EMATER/RJ). Os cultivos de flores e as plantas ornamentais, a exemplo da fruticultura e da olericultura, proporcionam rendimentos superiores ao rendimento da agricultura tradicional. Estima-se que cada hectare plantado com flores gere entre três e seis empregos diretos, além de outros tantos em atividades correlatas, enquanto nas culturas tradicionais, essa relação é de um posto de trabalho por hectare. Além disso, cada hectare plantado por flores gera uma renda entre US$ 2 mil e US$ 25 mil, contra menos de US$ 500 das culturas tradicionais (EMATER/RJ). Em 2001, o governo do Estado do Rio de Janeiro criou a Câmara Setorial de Floricultura. Uma de suas atribuições para atingir a meta definida no Parágrafo Único do Art. 1º da Resolução SEAAPI Nº 470, é realizar o diagnóstico da Floricultura no Estado (D. O. 18/01/2001), mobilizando esforços de diferentes organizações direta e indiretamente envolvidas no setor. Esta atividade conta ainda com incentivos do programa estadual Florescer, desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, com objetivo de ampliar o setor produtivo de flores ornamentais do estado do Rio de Janeiro. Este projeto é destinado aos produtores rurais que queiram implantar, ampliar ou renovar lavouras de flores, plantas ornamentais e medicinais, em sistema irrigado e protegido. Apesar do maior marcado da produção ser a região metropolitana, existem duas empresas exportadoras, responsáveis por abastecer o mercado externo. Como marco da relevância deste cultivo, em Nova Friburgo, anualmente, é realizada a Festa da Flor - FriFlor -, uma vez que a cidade é considerada uma das maiores produtoras de flores de corte do Brasil. Trata-se de uma feira organizada pelo Sesc, com intuito de apresentar os mais variados produtos ligados à floricultura e ao paisagismo. Nova Friburgo possui ainda a associação Aflorj (Associação dos Floricultores do Estado do Rio de Janeiro) e a primeira Escola de Flores do país, que está ensinando novas técnicas de floricultura, funcionamento de mercado, suas regras e o que fazer para valorizar mais a produção. Nas folhagens de corte, Nova Friburgo representa 29% da produção da Região Serrana e 7,9% do estado. Ainda segundo a EMATER/RJ, são cerca de 191 produtores de flores em Nova Friburgo e cerca de 90% da produção é vendida no Rio de Janeiro. Horticultura e Floricultura: a expansão de importantes cultivos na economia fluminense A prática da horticultura e da floricultura vem se intensificando em alguns municípios da Região Serrana do estado do Rio de Janeiro, contribuindo para a elevar a participação do setor no PIB do estado. O conjunto de atividades ligadas à produção de hortícolas concentra-se, principalmente, nos municípios de Teresópolis e Petrópolis, além dos municípios de Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Nova Friburgo e Sumidouro, com destaque para o cultivo de hortaliças, legumes e especiarias com vistas a abastecer o núcleo metropolitano (Marafon et al, 2005). O cultivo de flores e plantas ornamentais está marcadamente presente, sobretudo, nos municípios de Nova Friburgo (Vargem Alta), Petrópolis (Caxambu de Cima), Teresópolis, Miguel Pereira, Sumidouro, Bom Jardim (Venda Azul), Rio de Janeiro (Guaratiba, Vargem Grande e Ilha de Guaratiba), Itaboraí, entre outros, sobressaindo-se no contexto estadual, onde as maiores concentrações de unidades de produção estão entre 701 e 1.000 metros de altitude e perfazendo 40,53% dos produtores do estado. Estas atividades constituem setores agrícolas em desenvolvimento, responsáveis por apresentarem potenciais a serem explorados na Região Serrana Fluminense. Além disso, seu crescimento em escala nacional é bastante significativo, corroborando o desenvolvimento de projetos destinados a ampliar a produção e a produtividade (Marafon et al, 2005). Consideradas atividades vinculadas ao setor agroindustrial no estado do Rio de Janeiro, assim como a fruticultura em Campos dos Goytacazes e municípios adjacentes, a produção de hortaliças e a floricultura na Região Serrana foram identificadas como núcleos de especialização no setor agroindustrial, apesar de, no estado do Rio de Janeiro, não se constituírem como um Arranjo Produtivo Local, APL, diferentemente de municípios em outros estados brasileiros, como Maracás na Bahia e Recife e Gravatá em Pernambuco (SEBRAE). Contudo, compõem um das sessenta e uma concentrações de atividades econômicas identificadas pelo SEBRA/RJ no estado do Rio de Janeiro. Dentre estas, dezessete se aproximam mais da definição de arranjos produtivos locais, como a fruticultura em Campos dos Goytacazes, o petróleo em Macaé, a moda íntima em Nova Friburgo, o setor metal-mecânico em Piraí e Volta Redonda, entre outras. Ainda que não esteja inserida nesta classificação, a prática da horticultura e da floricultura, enquanto concentrações de atividades econômicas, vem apresentando crescimento significativo na economia fluminense. Os arranjos produtivos locais assumem importância ímpar no processo de reorganização e especialização produtiva e territorial, na medida em que se propõem “a incrementar a competitividade das empresas e o desenvolvimento local” (Lins, 2005). Tais arranjos são compreendidos pelo SEBRAE/RJ como “aglomerações de agentes econômicos, políticos e sociais com foco em conjuntos específicos de atividades econômicas que apresentem vínculos mesmo que incipientes” (Cassiolato e Lastres apud Lins, 2005). Nesta perspectiva, constituem “aglomerações de empresas localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm algum vínculo de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais tais como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa”, buscando, sobremaneira, a competitividade dos micro e pequenos negócios e estimulando o desenvolvimento local (SEBRAE/RJ). A busca pelo maior dinamismo das economias do interior fluminense vem acompanhada de políticas orientadas para setores que se destacam nos principais indicadores sócio-econômicos do estado. Neste sentido, a Quadro 1 pretende analisar as características básicas do APL e das concentrações de atividades no setor agroindustrial. Quadro 1 - Características Básicas do APL e das Concentrações de Atividades no Setor Agroindustrial Atividade - Município Emprego N.º de Remuneração Tam. Médio Remuneração s Estab. (dez. 2001 - R$) (empregos) Média (R$) 1.568 141 746.127,67 11,12 475,85 419 70 125.292,10 5,99 299,03 285 62 86.826,73 4,60 304,66 158 26 63.461,04 6,08 401,65 295 52 70.423,32 5,67 238,72 2.725 351 1.092.131 7,76 400,78 1- Produção de Açúcar - Campos dos Goytacazes 2- Fruticultura Campos dos Goytacazes 3- Hortaliças - Região Serrana 4- Floricultura - Região Serrana 5- Fruticultura - Rio Bonito Total Fonte: SEBRAE (2005) A Quadro 2 demonstra a participação das concentrações identificadas no total do emprego, estabelecimentos e remunerações dos respectivos municípios. Neste caso, os municípios da Região Serrana apresentam uma participação menor do que os demais municípios destacados, o que não exclui, por sua vez, sua relevância para o setor agroindustrial do estado. Quadro 2 - Participação no Total de Emprego, Estabelecimentos e Remunerações nos Respectivos Municípios - APL e Concentrações de Atividades no Setor Agroindustrial Atividade – Município % dos % dos % da Empregos Estabelecimentos Remuneração 3,28% 2,52% 2,91% Petrópolis 0,30% 0,48% 0,14% Teresópolis 0,60% 1,21% 0,36% Petrópolis 0,23% 0,27% 1,12% Teresópolis 0,07% 0,07% 0,06% 0,07% 0,22% 0,03% 0,88% 1,25% 0,49% 1,97% 4,62% 1,04% Açúcar - Campos dos Goytacazes Hortaliças - Região Serrana Floricultura - Região Serrana Nova Friburgo Fruticultura - Campos dos Goytacazes Fruticultura - Rio Bonito Fonte: SEBRAE (2005) No contexto da Região Serrana, devemos salientar que os municípios de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo apresentam os valores referentes ao PIB per capita, a renda per capita e ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) superior aos outros municípios aqui referenciados, conforme nos aponta a Quadro 3. Quadro 3 - Características de Municípios com APL e Concentrações no Setor Agroindustrial PIB - Valores Município absolutos (1.000 R$) Populaçã Valores PIB per Renda per o capita (R$) capita (R$) Petrópolis 2.092.973 286.537 7.304 399,93 Nova Friburgo 1.132.828 173.418 6.532 366,84 791.647 138.081 5.733 366,61 1.736.447 406.989 4.267 247,20 236.042 49.691 4.750 276,19 Teresópolis Campos dos Goytacazes Rio Bonito IDH 0,80 4 0,81 0 0,79 0 0,75 2 0,77 2 Rank IQM 6 25 15 10 33 Fonte: Anuário Estatístico do Rio de Janeiro - CIDE (2002) (base de dados: 2000) No que concerne à produção de hortaliças, foi identificado um núcleo de produtores de hortaliças orgânicas na região do Brejal, no município de Petrópolis, além dos municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, São José do Vale do Rio Preto, contando com o apoio da ABIO - Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro – viabilizado na forma de apoio técnico aos que pretendem implementar sistemas orgânicos de produção em suas propriedades. Neste sentido, os agricultores teriam maiores facilidades de acesso ao mercado, além da certificação de origem orgânica dos produtos comercializados a partir do selo da ABIO, atestando a qualidade dos produtos (SEBRAE/RJ). O cultivo de hortaliças, segundo dados do SEBRAE, conta com 62 estabelecimentos concentrados nos municípios de Petrópolis e Teresópolis, e caracterizados pelo predomínio de pequenas e microempresas, gerando 285 postos de trabalho formais. A hortícola, em sua maioria, abastece o CEASA – RJ1, gerando uma grande intensidade de fluxos destes produtos, caracterizando a rede de comercialização agrícola na qual está inserida a Região Serrana (mapa 1). 1 “O sistema de Centrais de Abastecimento CEASA nasce com o intuito de atuar no mercado como grande entreposto comercial capaz de organizar a comercialização à jusante, isto na produção e à montante, ou seja, na distribuição varejista confeccionando uma simbiose entre produção e comercialização capaz de minimizar os efeitos negativos da intermediação, principalmente no Rio de Janeiro” (Seabra, 2004). Mapa 2: Principal área de abastecimento de hortícolas para o CEASA-RJ Além da baixa remuneração média por empregado, os municípios de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis, núcleos de especialização vinculados a este ramo de atividade, apresentam a concentração de empregados em estabelecimentos de pequeno porte. Esta concentração de atividades possui apenas uma empresa exportadora de pequeno porte, cujos mercados de sementes hortícolas são compostos pelos Estados Unidos, Bolívia e Colômbia. As Quadros 4, 5, 6 e 7 a seguir permitem visualizarmos melhor estes dados. Quadro 4 - Características da Concentração de Atividades - Hortaliças - Região Serrana CNAE - Atividades Emprego N.º de Remuneração Tam. Médio Remuneração s Estab. (dez. 2001 - R$) (empregos) Média (R$) 157 27 48.257,50 5,81 307,37 especiarias hortícolas – 128 35 38.569,23 3,66 301,32 Teresópolis Total 285 62 86.826,73 4,60 304,66 Integradas Hortaliças, legumes e especiarias hortícolas – Petrópolis Hortaliças, legumes e Fonte: SEBRAE (2005) Quadro 5 - Distribuição do Emprego por Faixa de Tamanho - Concentração de Atividades - Hortaliças - Região Serrana Empregos por Faixas de Tamanho CNAE - Atividades Integradas Hortaliças, legumes e especiarias hortícolas – Petrópolis 0 a 19 50,3 % Hortaliças, legumes e especiarias hortícolas – Teresópolis 83,6 % 20 a 100 a Mais de 99 499 500 49,7% 0,0% 0,0% 100% 16,4% 0,0% 0,0% 100% Fonte: SEBRAE (2005) Quadro 6 - Empresas Exportadoras - Hortaliças - Região Serrana Total Número de Valor Exportado (US$ mil) Empresas 2000 2001 2002 1 - 35,9 114,1 1 - 35,9 114,1 Contínua 1 - 35,9 114,1 Exportação Total dos Municípios 90 43.717, 38.589, 7 5 TOTAL PORTE Pequeno FREQÜÊNCIA 22.298,2 Fonte: SEBRAE (2005) Quadro 7 - Principais Destinos das Exportações - Hortaliças - Região Serrana NCM-SH 1209-91 Descrição Exportação (US$ Três Principais Destinos (por Milhões)* ordem de importância) 0,1 EUA, Bolívia e Colômbia Sementes de produtos hortícolas, para semeadura * Média 2000-2002 Fonte: SEBRAE (2005) Concernente ao fornecimento destes produtos, podemos dizer que “os dados sobre o abastecimento de hortaliças caracterizam a zona serrana como aquilo que mais se aproxima de um cinturão verde da metrópole carioca respeitando a estrutura em leque (concentradora) da cidade do Rio de Janeiro como principal mercado consumidor onde converge boa parte da produção do estado do Rio do Janeiro” (Seabra, 2004). No que tange à floricultura brasileira, cabe ressaltar que, desde o final da década de 1980, esta atividade vem passando por rápidas e importantes transformações. Até recentemente, essa atividade estava restrita a poucos estados da federação e voltada apenas para mercados regionais. Atualmente, é praticada em doze estados, possui mercado nacional e busca mercado externo. Apresentando forte crescimento e expansão, o mercado de flores e plantas ornamentais vem registrando nos últimos anos, aumentos significativos, levando muitos estados da federação a investirem neste setor. A floricultura possibilita múltiplas formas de exploração e diversidade de cultivo, tais como: produção de flores de corte, produção de flores e plantas envasadas, produção de folhagens, plantas de interior e viveiros de produção de mudas. Estas múltiplas formas de exploração permitem a geração de um número significativo de empregos nas regiões onde se desenvolve a floricultura. Do total da produção nacional de flores e plantas apenas de 2 a 5% destinam-se ao mercado externo, destacando-se as flores tropicais, e a maior parte da produção ainda é consumida pelo mercado interno (EMATER/RJ). Em âmbito nacional, O Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR), atualmente empreende um esforço através do mapeamento nacional e do diagnóstico internacional de floricultura. O objetivo do programa, denominado Flora Brasilis, é conhecer quem é quem na cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais do país, elaborando um banco de dados sobre o atual estágio de desenvolvimento da floricultura brasileira. Isso permite direcionar as ações para capacitação da mão-de-obra envolvida no processo produtivo, adequar produtos, técnicas de manuseio, acondicionamento e apoio logístico, além de adequar o fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos. Ao mesmo tempo, o diagnóstico internacional visa detectar a demanda do mercado alvo. Além disso, o programa também objetiva implantar a marca Flora Brasilis para a divulgação dos produtos nacionais da floricultura com qualidade dentro dos padrões internacionais de qualidade (EMATER/RJ). A concentração de atividades no ramo da floricultura também foi identificada com um total de 686 produtores rurais no estado com exploração de flores e plantas ornamentais, concentrando a atividade em 53 municípios do estado do Rio de Janeiro, com a maioria localizada nos municípios da Região Serrana, consoante já mencionado, como Nova Friburgo, Rio de Janeiro, Bom Jardim e Petrópolis, os quais reúnem a maior área total explorada pela atividade, conforme nos aponta o mapa 2 (EMATER/RJ). Mapa 3: Área total explorada pela floricultura por região administrativa Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003. A Região Serrana apresenta, além do mais elevado percentual de produtores do estado (mapa 3), um significativo percentual de produtores na condição de proprietário, com significativa importância ainda para os produtores parceiros, como veremos mais adiante. O município de Nova Friburgo sobressai como o que concentra o maior percentual de produtores de flores e plantas ornamentais da Região Serrana (mapa 4) (EMATER/RJ). Mapa 4: Distribuição percentual dos produtores por região administrativa Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003. Mapa 5: Número de produtores por município Fonte: Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro – EMATER/RJ, 2002-2003. Assim como no ramo da horticultura, neste caso também se observa o predomínio de pequenas e microempresas com um reduzido número de empregados por estabelecimento. A quase totalidade das unidades de produção encontra-se na faixa de até 4,99 hectares (96,5%), com destaque para a concentração de áreas menores que um hectare (74,49%) e utiliza sistemas de irrigação, destacando-se o uso da aspersão convencional (EMATER/RJ). Os principais municípios produtores de flores de corte concentram-se na Região Serrana, com destaque para Petrópolis e Nova Friburgo. Este tipo de cultivo é seguido pela folhagem de corte, pelas plantas em vaso, pelas plantas de jardim, pelas plantas de forração e pela grama, no que tange à área explorada por tipo de cultivo em hectare. Neste caso, a remuneração média por empregado também é relativamente baixa, assim como no cultivo das hortícolas. Além de os empregos estarem concentrados nos estabelecimentos de menor tamanho, a prática da floricultura conta com duas empresas exportadoras de pequeno porte que abastecem os mercados dos Estados Unidos, da Alemanha e do Japão (SEBRAE/RJ). As Quadros que se seguem buscam clarificar os dados apresentados. Cada vez mais, o crescimento da demanda pelo mercado de flores e plantas ornamentais incentiva a criação de parcerias, a fim de ampliar a produção e estabelecer estratégias de comercialização. Quadro 8 - Distribuição do Emprego por Faixa de Tamanho - Concentração de Atividades - Floricultura - Região Serrana Empregos por Faixas de Tamanho 20 a 100 a Mais de 99 499 500 20,2% 0,0% 0,0% 100% Cultivo de flores e plantas ornamentais - Nova Friburgo 100% 0,0% 0,0% 0,0% 100% CNAE - Atividades Integradas Cultivo de flores e plantas ornamentais - Petrópolis Fonte: SEBRAE (2005) 0 a 19 79,8 % Total Quadro 9 - Empresas Exportadoras - Floricultura - Região Serrana Número de Valor Exportado (US$ mil) Empresas 2000 2001 2002 2 14,8 14,5 17,0 2 14,8 14,5 17,0 Contínua 1 11,4 9,9 11,9 Assídua 1 3,4 4,6 5,1 TOTAL PORTE Pequeno FREQÜÊNCIA Exportação Total dos Municípios 90 43.717, 38.589, 7 5 22.298,2 Fonte: SEBRAE (2005) Quadro 10 - Principais Destinos das Exportações - Floricultura - Região Serrana NCM-SH 0602-90 Descrição Plantas vivas, mudas e micélios de cogumelos Exportação (US$ Três Principais Destinos (por Milhões)* ordem de importância) 0,02 EUA, Alemanha e Portugal * Média 2000-2002 Fonte: SEBRAE (2005) A importância da floricultura no estado do Rio de Janeiro vem sendo comprovada, principalmente, com a realização, pela EMATER/RJ (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro) da 4ª Friflor – Festa da Flor de Nova Friburgo, realizada em 2004. O estado do Rio de Janeiro produz hoje 7,9 milhões de maços de flores de corte, onde nos 763,66 hectares cultivados por flores, 37% são ocupados por flores de corte. Além dos mais de 2.000 empregos fixos gerados no estado, o setor também gera mais de 800 empregos temporários, sendo a média de quatro a sete empregos por hectare (EMATER/RJ). Com 72 produtores do total de 686 no estado do Rio, o município de Petrópolis é responsável por 36% dessas flores e o município de Friburgo fica com 31% da produção, embora abrigue 33% dos produtores fluminenses, num total de 191. A maior concentração de produtores de flores do estado fica na comunidade de Vargem Alta, em Nova Friburgo (EMATER/RJ). Vale ressaltar a aplicação de mão-de-obra feminina, com destaque para os municípios de Bom Jardim, Miguel Pereira, Nova Friburgo, Sumidouro, Petrópolis, como os maiores empregadores de mulheres na floricultura. Quanto ao emprego de mão-de-obra familiar destacam-se Miguel Pereira, Bom Jardim, Nova Friburgo, Itaguaí, Sumidouro e Petrópolis, como os principais municípios que utilizam mão-de-obra familiar (mapa 5). Mapa 6: Composição percentual e total de empregos gerados por região administrativa Fonte: SEBRAE (2005) Ainda no concernente às relações de trabalho, cinqüenta e oito por cento dos produtores de flores são proprietários das terras cultivadas por flores, 21% são parceiros e 11% arrendatários. A produção destinada à exportação é composta, principalmente de orquídeas, as quais são produzidas em Niterói, Guapimirim e Petrópolis e vendidas para os Estados Unidos, Japão, Argentina, Austrália, entre outros países (EMATER/RJ). O estado do Rio de Janeiro dispõe de oito laboratórios de propagação vegetativa e na Região Serrana temos quatro destas instalações, segundo dados levantados, sobressaindo, inclusive, como uma das maiores detentoras de equipamentos, como motobomba e microtrator. Além disso, a maior parcela dos produtores da região não se utiliza do crédito rural – apenas 15 produtores em Nova Friburgo, 5 em Sumidouro e 4 em Bom Jardim. Enquanto alguns recebem assistência técnica da EMATER, outros poucos recebem assistência técnica particular. Após a colheita, as mercadorias são transportadas através de caminhões baú não refrigerados e veículo utilitário sem ventilação (EMATER/RJ). A prática da floricultura na Região Serrana, contudo, apresenta algumas dificuldades que, muitas vezes, inviabilizam a plena expansão do setor, tais como a falta de espaço apropriado para a comercialização, a insuficiência de crédito rural, a falta de assistência técnica e de infra-estrutura de produção, a pouca disponibilidade de mão-de-obra e o alto preço dos insumos. Os recursos destinados aos produtores são provenientes do Programa Florescer do Governo do Estado (EMATER/RJ). A Secretaria de Estado de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior do Estado do Rio de Janeiro – SEAAPI/RJ – propõe, no contexto das políticas públicas atuais para o rural fluminense, alguns Programas Setoriais ligados às linhas de crédito e investimento do Programa Moeda Verde, implementado no governo de Anthony Garotinho. Dentre eles, o Programa Florescer, implementado a partir do Decreto nº 34.335 de 18 de novembro de 2003, visa o desenvolvimento de flores, plantas ornamentais e plantas medicinais no estado do Rio de Janeiro, a fim de conquistar e solidificar os mercados interno e externo. O programa fornece, no que tange às condições de financiamento do FUNDES, um prazo de pagamento de 60 meses, com juros de 2% ao ano, fixos, capitalizados mensalmente e 20 meses de carência, de acordo com a cultura financiada. Os beneficiados são os produtores rurais e suas associações e cooperativas, com o fim de investimentos e custeio de projetos de implantação, ampliação ou renovação de lavouras de flores, plantas ornamentais e medicinais em sistema irrigado e protegido. Além disso, os tributos ao setor foram reduzidos, principalmente, quando a produção se destina à exportação de flores de corte. A EMATER/RJ, com o apoio de grupos de pesquisa vinculados ao projeto, bem como com o apoio da PESAGRO-RJ (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro), UENF, UERJ, UFRRJ e UFRJ, fornece a assistência técnica necessária (Silva, 2005). Considerações Finais As considerações acima expostas apontaram para a expansão e para o crescimento de um setor que vem buscando espaço no desenvolvimento da economia estadual e, principalmente, nacional. Para tanto, mostrou-se de importância ímpar a análise do censo realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro – EMATER-Rio, de abril/2002 a julho/2003, o qual apresenta dados relativos a todas as regiões do estado, permitindo o conhecimento da situação atual do setor, a caracterização das áreas e sistemas de produção, níveis tecnológicos adotados e dinâmicas do processo de comercialização, estabelecendo-se um marco para esta atividade produtiva. Deve-se mencionar que, a partir do conhecimento agregado no censo, é possível vislumbrar potencialidades, buscar alternativas para eliminação dos entraves e construir cenários de desenvolvimento sócio-econômico integrados à conservação ambiental. Também foi de extrema relevância a consulta ao material bibliográfico relacionado ao tema, contribuindo, sobremaneira, para o enriquecimento do trabalho. A prática da horticultura e da floricultura, apesar de ainda representarem uma atividade que almeja espaço no território fluminense, já demanda maior atenção por parte do governo estadual, bem como por parte dos órgãos voltados para a pesquisa agropecuária. Neste sentido, muito ainda se pode esperar em termos de dinamismo neste ramo que tende a contribuir para o incremento da produção do estado. A Secretaria Estadual de Agricultura, com o apoio da Câmara Setorial de Floricultura e outras parcerias busca, sobremaneira, a consolidação deste setor como uma das mais importantes fontes de geração de emprego e renda nos municípios do interior do estado do Rio de Janeiro, dinamizando suas economias. Diversos atores trabalham em parceria buscando um ambiente de inovação tecnológica onde interagem o meio acadêmico, o setor empresarial, a comunidade e o setor público visando o desenvolvimento regional, tendo como conseqüência a melhoria das condições de vida da população. Referências Bibliográficas EMATER – Rio (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro). Censo da Floricultura no Estado do Rio de Janeiro. 2002/2003. LINS, Cristina Pereira de Carvalho. Dinâmica Econômico-Espacial Recente no Estado do Rio de Janeiro: Um Foco nos Arranjos Produtivos Locais. Dissertação (Mestrado) / Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais. Rio de Janeiro, 2005. MARAFON, Gláucio José.. [et al]. Regiões de Governo do Estado do Rio de Janeiro: Uma Contribuição Geográfica. Rio de Janeiro: Gramma, 2005. RUA, João. Urbanização em Áreas Rurais no Estado do Rio de Janeiro. In: MARAFON, Gláucio José e RIBEIRO, Marta Foeppel (orgs.). Estudos de Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Infobook Ltda., 2002. SEABRA, Rogério dos Santos. Comercialização Agrícola no Estado do Rio de Janeiro: O Papel do Sistema CEASA – RJ. 72 F. Dissertação (Graduação em Geografia). IGEO – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004. SEBRAE. Disponível na internet. www.sebrae.com.br Data de acesso: agostosetembro/2005. SILVA, Augusto César Pinheiro da. Em busca do rural moderno no estado do Rio de Janeiro: projetos, estratégias e gestão do território, exemplificados no norte e noroeste fluminense. Tese (Doutorado) / Universidade Federal do Rio de Janeiro/PPGG. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.