JORNAL DA associação médica Página 20 • Abril/Maio 2008 CULTURA Alegrar para amenizar o sofrimento Brincadeiras inocentes, mágicas inusitadas e muita vontade de levar um pouco de alegria aos doentes que sofrem nos quartos de hospitais de Belo Horizonte fazem parte da rotina de um grupo de alunos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de um outro grupo formado por estudantes de cursos da área de saúde da Universidade Fumec. Quarenta alunos do curso de medicina da UFMG integram o projeto de ensino, pesquisa e extensão “Abraçarte”. Desde 2001, eles incorporam divertidos palhaços e visitam periodicamente as crianças internadas no Hospital das Clínicas. A idéia é tentar amenizar o sofrimento com brincadeiras alegres. “As crianças ficam internadas muito tempo no Hospital das Clínicas e já se acostumaram com as visitas dos alunos aos sábados”, afirma a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG, Rosa Maria Quadros Nehmy, que divide a coordenação do projeto com o pediatra e gastroenterologista Joaquim Antônio César Mota. Nehmy lembra que a idéia do projeto surgiu durante uma aula de ciências sociais aplicada à saúde, no primeiro período, quando seis alunos demonstraram interesse em desenvolver um projeto semelhante ao que assistiram no filme “Patch Adams: o amor é contagioso” (com Robin Williams e direção de Tom Shadyac, 1998). “O projeto já existe há seis anos e o grupo se apresenta em eventos e também realiza pesquisa de cuidados pré-ativos, em crianças doentes. A gente pesquisa sobre o sofrimento da criança”, afirma. A professora conta que a idéia do projeto “Abraçarte” coincidiu com a implantação do Programa Nacional de Humanização no Hospital das Clínicas da UFMG, em 2000. A tentativa de humanizar o atendimento deu certo e o projeto, além de desenvolver pesquisas e trabalhos científicos conquistou prêmios, publicou artigo na “Revista Médica de Minas Gerais” e, em 2006, foi apresentado no 44º Congresso Brasileiro de Educação Médica e na Jornada Acadêmica de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, onde recebeu menção honrosa. A coordenadora do projeto afirma que o Abraçarte é exclusivo para os alunos do curso de medicina e que os interessados têm que enfrentar uma fila de espera. Antes do ingresso oficial do grupo, o candidato à versão brasileira de “Patch Adams” passa por um período de adaptação e ganha o apelido de “cabide”. O candidato visita as crianças com o grupo e até pode interagir com elas, mas apenas carrega os brinquedos, sem se vestir de palhaço. Durante esse tempo, o futuro integrante do Abraçarte participa de oficinas de interpretação, com os alunos do curso de artes cênicas da UFMG. Lucas Carvalho de Lima Sob a coordenação do pediatra Eduardo Carlos Tavares (à esquerda), estudantes da área de saúde visitam pacientes internados em hospitais de Belo Horizonte “Oficina do Riso” também leva alegria Levar alegria aos doentes também é a tarefa do projeto “Oficina do Riso – Arte no cuidar”, integrado por alunos da Faculdade de Ciência da Saúde da Universidade Fumec. Desde 2006, um grupo de alunos, coordenado pelo professor e pediatra Eduardo Carlos Tavares, visita alguns hospitais da capital e consegue fazer os enfermos sorrirem. Segundo Tavares, o projeto “Oficina do Riso” também surgiu por iniciativa de um grupo de alunos que havia assistido ao filme “Patch Adams: o amor é contagioso”. “Eu já fazia mágicas desde criança e, no consultório, sempre faço algumas brincadeirinhas. Assisti ao filme dos Doutores da Alegria e ao Patch Adams. Um grupo de alunos me procurou e propôs fazer, em hospitais, o mesmo trabalho retratado nos filmes”, conta. No segundo semestre de 2007, depois de participar de várias oficinas com um palhaço e um mágico, o grupo começou a se apresentar na própria faculdade e depois para crianças, idosos e para os garis da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). O sucesso do grupo chegou aos hospitais da Baleia, São Camilo e Vila da Serra, em Belo Horizonte. “Estamos tentando fechar contratos com o Centro Geral de Pediatria e o Hospital Felício Rocho”, afirma o professor, que enfatiza que o trabalho voluntário no projeto é muito importante. O médico lembra que, em uma de suas apresentações, viveu um dos momentos mais emocionantes de sua vida: “Fui fazer mágicas para crianças de um hospital e uma delas estava isolada e não podia assistir à apresentação. Fui ao quarto onde ela estava e consegui fazê-la rir por um momento. Os pais dela também estavam no quarto e começaram a chorar quando viram o sorriso do filho”. “Tive que sair do quarto naquele momento, pois não queria que a criança percebesse que eu também estava chorando”, conta. Palestras motivacionais Unir os mundos da mágica e da medicina fomenta um outro mercado que vem se destacando, sobretudo, em São Paulo. São as palestras motivacionais sobre qualidade de vida em empresas. Além de coordenar o projeto “Oficina do Riso”, o pediatra Eduardo Tavares tem como um de seus objetivos ingressar também nesse novo mercado e seguir os passos do ortopedista e cirurgião Arnóbio Moreira Félix. Também conhecido como mágico Bill Morélix, Félix profere palestras e utiliza recursos da mágica para ilustrar e encantar sua platéia. De acordo com ele, assuntos como liderança, motivação para o trabalho, qualidade de vida, o riso e a saúde e temas médicos como osteoporose, primeiros socorros, além de educação para o trânsito, podem ser trabalhados de maneira lúdica, facilitando o entendimento. Remetente: Associação Médica de Minas Gerais - Av. João Pinheiro, 161 - Centro - CEP 30130-180 - Belo Horizonte - MG