Fundação Universidade Federal do Rio Grande, FURG Departamento de Oceanografia Laboratório de Ecologia de Invertebrados Bentônicos C. P. 474, Rio Grande, 96201-900, RS, BRASIL Tel: (0-55) (532) 33-6508, Fax: (0-55) (532) 33- 6508 E-mail: [email protected] ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ASSOCIAÇÕES DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS DOS AMBIENTES ESTUARINOS DO RIO GRANDE DO SUL: UM ESTUDO DE CASO. RESPONSÁVEL: Prof. Dr. Carlos Emílio Bemvenuti. COLABORADOR: MSc. José Souto Rosa-Filho 1. INTRODUÇÃO A Planície Costeira do Rio Grande do Sul estende-se desde os promontórios de Torres no Rio Grande do Sul, ao norte, até La Coronilla, no Uruguai, ao sul, com extensão aproximada de 640 Km (Villwock & Tomazelli 1995). Está inscrita entre os paralelos 29o 12’ e 33o 48’ S e os meridianos de 049o 40’e 53o 30’ W, considerando-se apenas o território brasileiro. Abrange uma superfície de 22.740 Km2 de áreas emersas e 14.260 Km2 de superfícies de lagoas e lagunas, perfazendo um total de 37.000 Km2 (Schwarzbold & Schäfer 1984). Entre os extremos norte e sul do estado ocorrem cinco regiões estuarinas localizadas no Rio Mampituba, no Complexo Lagunar-estuarino Tramandaí-Armazém, na Lagoa do Peixe, na Lagoa dos Patos e no Arroio Chuí. O conhecimento sobre a fauna e flora destes ambientes é bastante heterogêneo, sendo a Lagoa dos Patos a região que conta com o maior número de estudos. Parte dos estudos físico, químicos e biológicos efetuados na área estuarina da Lagoa dos Pastos nos últimos vinte anos, encontram-se sumarizados em dois livros editados por Seeliger et al. (1997, 1998). Nestas duas obras, além da ecologia das principais espécies, da caracterização ambiental e dos principais processos físico-químicos, biológicos e antrópicos condicionantes da estrutura e dinâmica das comunidades biológicas, encontra-se também a listagem das espécies ocorrentes na área estuarina da Lagoa dos Patos e na região marinha adjacente. 1 Uma extensa revisão sobre os ecossistemas costeiros da região sudeste–sul do Brasil contendo nove volumes (FUNDESPA 1994), inclui importantes informações sobre diversos estudos abordando lagunas e lagoas costeiras do Rio Grande do Sul. Nesta série, o Volume I inclui um sumário e recomendações gerais dos coordenadores do projeto, o Volume II aborda a Geologia e Meteorologia, o Volume III as Oceanografias Física e Química, o Volume IV a Oceanografia Biológica-Plâncton, o volume V a Oceanografia Biológica-Necton, o Volume VI a Oceanografia BiológicaBentos, o volume VII as Lagoas Costeiras, Manguesais, Marismas, Dunas e Restingas, o Volume VIII os Mamíferos Marinhos e o Volume IX a Poluição Ambiental. A revisão dos estudos desenvolvidos nos estuários do Rio Grande do Sul mostra duas situações distintas, na qual uma das regiões (Lagoa dos Patos), conta com abundantes informações que encontram-se sumarizadas por especialistas das distintas áreas do conhecimento da física, química, biologia e sedimentologia (FUNDESPA 1994, Seeliger et al. 1997, 1998). Numa segunda situação, existe um menor número de estudos, cuja maioria encontra-se citado e comentado nos nove volumes apresentados pela FUNDESPA (1994). Neste contexto, objetivando não apenas recompilar dados já publicadas, mas sim propiciar novas informações sobre a diversidade, abundância e distribuição da fauna estuarina, propõe-se um estudo de caso voltado para a caracterização da estrutura e dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos e da análise dos seus processos condicionantes, nos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul, com ênfase na Lagoa dos Patos dado ser esta região com o maior número de estudos. 2. O PAPEL DOS MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS NOS AMBIENTES ESTUARINOS Os macroinvertebrados bentônicos, macrozoobentos ou macrofauna bentônica, compreendem um grupo de organismos com tamanhos a partir de 1mm, que apresentam uma relação direta com o fundo, o que resulta numa certa uniformidade de modos de vida, apesar das suas distintas origens filogenéticas (Day et al. 1989). Populações de macroinvertebrados bentônicos, coexistindo e interagindo entre si e com o meio ambiente num determinado hábitat, irão constituir associações de organismos. A estrutura destas associações inclui atributos ou descritores como composição específica, riqueza de espécies, densidade, biomassa, diversidade e as relações tróficas dos organismos que as integram (Levinton 1995). Enquanto que a 2 dinâmica, relaciona-se com a organização temporal dessas associações, em função de flutuações nos recrutamentos, na abundância dos organismos ou da eficiência na recolonização do substrato após perturbações naturais ou artificiais. Uma clara distinção entre o meio marinho de maior profundidade e os ambientes estuarino-lagunares, é a ocorrência, nestes últimos, de uma forte interação entre o meio bentônico e a coluna d’água. A necessidade de caracterizar a estrutura e a dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos de fundos moles e dos processos que as condicionam, mostra-se de grande relevância na medida em que o meio bentônico apresenta um forte efeito estruturador, regulando ou modificando a maioria dos processos físicos, químicos e biológicos em sistemas estuarinos (Day et al. 1989). A análise da estrutura das associações de macroinvertebrados bentônicos, a partir dos seus atributos, tem sido muito útil na elaboração de estudos ecológicos ou diagnósticos ambientais (Warwick 1986), uma vez que os organismos que vivem dentro ou sobre o substrato refletem, com maior precisão, as condições ambientais anteriores ao momento da amostragem, quando comparados com formas que vivem na coluna d’água (Lana 1994). Este fato decorre, principalmente, do modo de vida característico desses organismos junto ao fundo -local de acúmulo de contaminantes- e do predomínio de formas de pouca mobilidade entre os macroinvertebrados bentônicos, o que favorece amplamente a utilização dos mesmos para diagnósticos ou monitoramentos ambientais (UNESCO 1980, Canfield et al. 1994, Clarke & Warwick 1994, Weisberg et al. 1997). A escassez de informações relativas a variabilidade temporal das associações de invertebrados bentônicos pode ser considerada a principal limitação metodológica para a realização de diagnósticos ambientais, uma vez que o desconhecimento das flutuações “naturais” do macrobentos impede a correta discriminação da variabilidade eventualmente induzida por perturbações (Lana 1994). Este problema agrava-se em regiões estuarino-lagunares, que apresentam flutuações das variáveis ambientais com elevada variabilidade e baixo grau de previsibilidade (Kennish 1990), o que caracteriza a maioria destes sistemas como ambientes naturalmente estressados (Wilson & Jeffrey 1994). Estudos direcionados a caracterização e comparação da estrutura e dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos de fundos moles, nos distintos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul, são ainda muito escassos considerando3 se a importância ecológica e econômica desses ambientes. Neste sentido Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a), utilizando metodologia padronizada e amostragens simultâneas, efetuaram a caracterização e comparação das associações de macroinvertebrados bentônicos de fundos moles em distintas unidades de hábitat das regiões estuarinas do Rio Mampituba, Complexo Lagunar Tramandaí-Armazém, Lagoa do Peixe, Lagoa dos Patos e Arroio Chuí. 3. ÁREAS EM ESTUDO 3.1. LAGOA DOS PATOS A Lagoa dos Patos é uma imensa laguna com cerca de 250km de extensão e até 60km de largura, ocupando uma área de aproximadamente 10.360km2 ao longo da planície costeira do Rio Grande do Sul (Fig. 1). A laguna e a barreira arenosa, múltipla e complexa, que a separa do Oceano Atlântico, formam partes de uma ampla planície costeira onde aflora a porção superficial da sequência sedimentar da Bacia de Pelotas (Martins et al. 1989). São areias praiais e eólicas, areias síltico-argilosas lagunares, areias e cascalhos fluviais que ali se acumularam durante o Quaternário sob a forte influência das variações do nível do mar. Enquanto que os sedimentos de fundo são predominantemente lamosos, trazidos pelos rios, depositados entre faixas marginais areno-quartzosas originadas pelo retrabalhamento dos depósitos pleistocênicos e holocênicos que contornam o corpo lagunar. Zonas com misturas texturais em variadas proporções são encontradas entre os dois domínios (Martins et al. 1989). A laguna apresenta um estreitamento em direção ao sul, onde a última célula, que representa cerca de 10% do corpo lagunar, possui características estuarinas. Esta região estende-se a partir de uma linha transversal imaginária entre a Ponta da Feitoria (costa leste) e a Ponta dos Lençóis (costa oeste), até um longo e estreito canal de desembocadura, nos molhes da Barra de Rio Grande (Closs 1965). Extensas enseadas rasas constituem-se em ambientes típicos da região estuarina da Lagoa dos Patos. Estas enseadas apresentam na sua parte superior planos intermareais, que desenvolvem-se nas enseadas estuarinas na ausência de marismas ou estendendo-se após os mesmos. A baixa amplitude das marés astronômicas na região e a forte influência da pluviosidade e da ação dos ventos no nível d’água na região estuarina (Kantin 1983), originam planos intermareais irregularmente inundados que podem permanecer expostos por longos períodos. No intermareal das enseadas é 4 comum o desenvolvimento de extensas áreas de pântanos dominados por gramíneas halófitas emersas. Este tipo de hábitat, conhecido como marisma, tem como espécies dominantes gramíneas halófitas do gen. Spartina, Juncus e Scirpus. A maior parte das enseadas apresentam extensos planos de águas rasas com profundidades menores do que 1,5m. Neste amplo hábitat, além de fundos não vegetados, sazonalmente podem ocorrer densas pradarias da espermatófita Ruppia maritima (Capitoli et al. 1978). No corpo central da região estuarina os fundos infralitorais, que não apresentam colonização por macrófitas, estendem-se desde os planos rasos até cerca de 6m de profundidade, na borda dos canais. Estes últimos, apresentam fundos lodosos e atingem até cerca de 11 m de profundidade no interior do estuário. Enquanto que na desembocadura, onde os canais são muitas vezes dominados por fundos arenososbiodetríticos, ocorrem profundidades superiores a 15m. Cinco importantes rios, Jacuí – Taquari, Caí, Gravataí, Sinos, que integram o complexo Guaíba na parte superior da laguna, são os principais responsáveis pelo aporte de sedimento fino transportado para o corpo lagunar (Martins et al. 1989). Estes autores consideram duas principais fontes para o sedimento mais grosseiro encontrado nas margens. A barreira com o oceano na margem leste, que tem na formação quaternária do Chuí e na ação eólica os principais responsáveis pelo aporte de areia fina. Enquanto que a formação Quaternária do Graxaim e a areia grossa originada das rochas do Precambriano, constituem as principais fontes de sedimento arenoso grosseiro que ocorre na margem continental da laguna. Martins et al. (1989) mencionam que o material em suspensão na coluna da água atinge uma concentração elevada (30 a 70 mg/l) na porção norte da laguna, sob influência do aporte fluvial da região do Guaíba, com uma pluma que estende-se até 32 Km em direção à porção sul. Enquanto que na parte intermediária da laguna, devido a decantação, a concentração do material cai para 15 mg/l, e na zona estuaria verifica-se um incremento do material argiloso com uma concentração de 4 mg/l na superfície e 32 mg/l próximo ao fundo. Em decorrência da pouca amplitude das marés astronômicas (cerca de 40 cm) na região, a ação eólica constitui-se no principal condicionante das enchentes e vazantes na área estuarina. As flutuações de salinidade são essencialmente influenciadas pelas condições meteorológicas, i.e., a intensidade das chuvas e a direção e força dos ventos (Kantin 1983). Durante ou como reflexo de épocas de muita chuva, tal como é freqüente nos meses de inverno e início de primavera, especialmente 5 com a coincidência de ventos do quadrante norte, a salinidade pode apresentar por períodos prolongados, registros em torno de zero em vários pontos da área estuarina. Durante períodos de menor pluviosidade, em geral no verão e início do outono, com um menor nível d´agua, é maior o ingresso de águas de origem marinha ocorrendo um aumento da transparência (de alguns cm para cerca de 1m) e a salinidade atinge valores que freqüentemente ultrapassam 20. A penetração da cunha salina na região estuarina é mais intensa quando esta situação estival coincide com ventos do quadrante sul. Observa-se entretanto, que mais do que uma característica sazonal, as flutuações da salinidade na região estão associados a pluviometria na bacia de drenagem da lagoa dos Patos (Kantin 1983, Bemvenuti 1987a, Bemvenuti et al. 1992). Fenômenos climáticos de periodicidade interanual como os provocados pelo “efeito el niño” alteram a pluviosidade regional, com reflexos na salinidade da região estuarina. Na região estuarina o grau de amplitude, as bruscas flutuações e a baixa previsibilidade das variações de salinidade devem representar um considerável fator de perturbação para a macrofauna bentônica. Mesmo nas enseadas, onde estes efeitos são tamponados pelo maior tempo de residência da água, a salinidade influencia na estruturação das comunidades faunísticas (Bemvenuti 1987 a, b, 1997a). A temperatura apresenta flutuações sazonais bem definidas na região, com características de clima temperado. Com o aumento da temperatura, a partir do final da primavera e o início do verão, ocorre um recrudescimento da atividade reprodutiva da maioria da macrofauna bentônica nas enseadas estuarinas (Bemvenuti 1987b, 1988). Como conseqüência, verifica-se um aumento na abundância e diversidade do macrobentos, acompanhada por um incremento quali-quantitativo na ocorrência e atividade dos macropredadores, o que intensifica as interações biológicas na área em estudo (Bemvenuti, 1983, 1987b). Entre os principais trabalhos efetuados na Lagoa dos Patos, que abordaram as associações de macroinvertebrados, Capítoli et al. (1978), realizaram a caracterização das comunidades bentônicas; Bemvenuti et al. (1978) analisaram a distribuição quantitativa dos principais organismos infralitorais; Bemvenuti (1987b, 1988) avaliou os efeitos da predação na estrutura da comunidade de fundos moles numa enseada rasa; Bemvenuti (1994, 1997a) estudou as interações entre os organismos da infauna; Garcia et al. (1996) e Kapusta & Bemvenuti (1998) analisaram o papel das pradarias de Ruppia maritima sobre associações de crustáceos decápodos; Bemvenuti & Netto (1998) analisaram a distribuição sazonal da macrofauna bentônica ao longo da Lagoa 6 dos Patos e Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a) efetuaram a comparação dos macroinvertebrados bentônicos dos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul. 3.2. RIO MAMPITUBA O Rio Mampituba se localiza no extremo norte da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, demarcando a divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, nas coordenadas 29o 12’ S e 049o 43’ W. Segundo Soares (1995), o Rio Mampituba é considerado um rio de 3a ordem, sendo portanto um rio de pequeno porte. Devido ao grande lançamento de efluentes domésticos in natura, ricos principalmente em coliformes fecais, as águas do rio encontram-se com a sua qualidade grandemente comprometida (Soares 1995.). Buselato & Aguiar (1979) citam que este rio apresenta grande importância para a economia pesqueira do estado. Com exceção do trabalho de Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a), não foram encontradas outras macroinvertebrados bentônicos na região. 7 publicações sobre associações de Fig. 1. Planície costeira do estado do Rio Grande do Sul com destaque para os ambientes estuarinos em estudo. 3.3. COMPLEXO LAGUNAR-ESTUARINO TRAMANDAÍ-ARMAZÉM As lagunas de Tramandaí e Armazém se localizam entre os meridianos 050o 07’e 050o 11’ W e entre os paralelos 30o 00’e 30o 05’ S em um terraço lagunar de origem holocênica (Tommazeli 1990). As duas lagoas formam um corpo d’água único, parcialmente separado por um pontal que cresce na direção NW-SW. Na parte norte, o sistema recebe o aporte de água do Rio Tramandaí, que representa o maior tributário do sistema. O Rio Camarão, situado na parte sul da laguna do Armazém, contribui de forma secundária no aporte de água. As lagunas formam um corpo de água com características estuarinas, comunicando-se com o mar através de um canal de 1,5 Km de extensão e 100 m de largura. O complexo possui 18,5 Km2 de área aproximada e 20,2x106 m3 de volume. A profundidade média do sistema é de 1,5 m, registrando-se maiores profundidades (em torno de 5,0 m) na zona do canal (Schwarzbold & Schäfer 1984). Tabajara (1994) identificou 12 ambientes de sedimentação no Complexo Lagunar Estuarino Tramandaí-Armazém, formados a partir do tipo e intensidade do processo deposicional atuante e das características texturais da área fonte. Numa escala mais ampla foram identificadas as fácies de fundo lagunar, fácies de margem lagunar e fácies de canal e margem de embocadura lagunar. Segundo o autor, o processo deposicional mais importante e que controla a evolução geomorfológica lagunar e o desenvolvimento das fácies de margem lagunar SW, são as ondas e correntes induzidas pelos ventos NE, ao retrabalhar os sedimentos arenosos quaternários da bacia lagunar. Enquanto que a hidrodinâmica das massas de águas fluviais e das ondas e correntes de marés, são as responsáveis pelo desenvolvimento das fácies de fundo lagunar. Em relação ao macrobentos do Complexo Lagunar-estuarino TramandaíArmazém, Chomenko (1981) e Chomenko & Shäfer (1984) relacionam variáveis físicas e biológicas com a distribuição de moluscos e Würdig (1988) relacionou características do ambiente com a distribuição de Ostracoda. Na forma de dissertação de mestrado Almada (1998), aborda aspectos da estrutura da associação de macroinvertebrados bentônicos no complexo estuarino lagunar de Tramandaí-Armazém. Rosa-Filho & 8 Bemvenuti (1998a) comparam a macrofauna bentônica de distintos hábitats estuarinos da região com a dos demais estuários do Rio Grande do Sul. 3.4. LAGOA DO PEIXE A Lagoa do Peixe está situada entre as coordenadas 31o26’ - 31o15’S e 051o10’ - 050o55’W, possui uma forma alongada, no sentido norte-sul, e é caracterizada como um corpo d’água semi-fechado. Sua conexão com o oceano Atlântico se dá através de um canal estreito e profundo (1,5 a 2,0 m de profundidade), de duração efêmera (Müller 1989, Truccollo 1993). Nos períodos de estiagem ocorre o fechamento do canal, isolando a lagoa do oceano, situação na qual a comunicação com o mar é mantida artificialmente (Müller op. cit.). A lagoa possui uma extensão aproximada de 31 Km e largura média de 1,5 Km, ocupando uma área total de 50 Km2 (Müller 1989, Truccollo op. cit.). Na maior parte da área lagunar a profundidade varia entre 10 e 60 cm (Resende & Leeunwenberg 1987, Resende 1988). A alta variabilidade das condições meteorológicas, hidrológicas e hidrográficas de curto prazo, segundo Truccollo (1993), é refletida na ausência de sazonalidade das características hidroquímicas da lagoa. Segundo a mesma autora, em relação a salinidade, a área apresenta duas regiões distintas: a porção norte, com dominância de água doce em resposta ao aporte fluvial constante; e a porção centro-sul, sujeita a bruscas variações de salinidade relacionadas às condições meteorológicas e oceanográficas do oceano adjacente e menor aporte fluvial. As águas da lagoa apresentam níveis de oxigênio dissolvido constantemente próximos à saturação, e baixas concentrações de nutrientes e clorofila a, caracterizando o sistema como oligotrófico (Truccollo 1993). Praticamente toda a planície de inundação da lagoa é constituída por banhados, encontrando-se, nestes, tanto vegetação aquática límnica quanto estuarial. As zonas rasas inundadas constantemente apresentam extensas coberturas e tufos de algas (tais como Enteromorpha spp.) (Müller 1989). O sedimento do fundo da Lagoa do Peixe é composto basicamente de areia, embora em algumas zonas seja lamoso. Nos locais onde estão presentes algas, o fundo apresenta uma camada de 2 a 3 cm de matéria orgânica oxidada, abaixo da qual o ambiente é redutor e o sedimento de cor escura e odor forte (Müller 1989). Em relação as associações de macroinvertebrados bentônicos da Lagoa do Peixe, existem levantamentos publicados na forma de monografia por Müller (1989), 9 que lista várias espécies de macroinvertebrados e tece comentários sobre a biologia dos mesmos. Um resumo de Sandro et al. (1995) mostra um levantamento preliminar da composição e distribuição dos Crustacea Decapoda no Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a) caracterizam e comparam as associações de macroinvertebrados bentônicos próximo a desembocadura da laguna com a encontrada nos demais ambientes estuarinos do estado. 3.5. ARROIO CHUÍ O Arroio Chuí localizado no extremo sul do território brasileiro (33o de latitude sul), demarca a divisa entre o Brasil e o Uruguai. Rambo (1956) cita que dos cursos d’água oriundos do próprio litoral, com pouca largura, baixa declividade e areias com pouca porosidade, o mais notável é o Arroio Chuí, com 66 Km de extensão. O mesmo autor cita ainda que o terreno que circunda o arroio é extremamente seco, daí as barrancas ribeirinhas serem desprovidas de vegetação, fazendo com que este arroio assemelhe-se a um canal recentemente cavado na areia. No entanto, Villwock & Tomazelli (1995) citam que este curso d’água se originou a cerca de 120.000 anos A.P. Devido a elevada hidrodinâmica a que está sujeito a desembocadura do Arroio Chuí, suas margens nesta região foram fixadas artificialmente na década de 70. Sobre as associações de macroinvertebrados bentônicos deste arroio, com exceção do trabalho de Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a), nenhuma outra referência foi encontrada. 4. COMPOSIÇÃO E DIVERSIDADE DA MACROFAUNA BENTÔNICA EM REGIÕES ESTUARINAS. As associações de macroinvertebrados bentônicos são entidades biológicas que têm sofrido adaptações aos seus ambientes e apresentam uma estrutura dinâmica que é controlada por fatores abióticos naturais (como as características do substrato, hidrodinâmica, salinidade, temperatura, dentre outros), processos bióticos (como competição, predação e interações adultos-juvenis) e os efeitos introduzidos pelo homem (como o enriquecimento orgânico e a contaminação por compostos tóxicos) (Woodin 1982, Brault & Bourget 1985, Clark et al. 1997); atuando estes fatores em diferentes escalas espaço-temporais (Wolff 1983). Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a) discutem a influência de diversos fatores bióticos e abióticos naturais que estariam influenciando as associações de 10 macroinvertebrados bentônicos em ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul. Estes autores classificam esses efeitos em três níveis: 1) os de efeito global como as características biogeográficas, o clima (precipitação, temperatura e ventos, com suas variações sazonais e inter-anuais); 2) os que atuam ao nível de cada um dos estuários como a gênese, a geomorfologia e a salinidade; 3) e na escala de unidades de hábitat os processos hidrodinâmicos, as características do sedimento, a presença de vegetação macrófita, a competição e a predação. Os resultados obtidos em distintos trabalhos de levantamento que envolveram várias escalas espaço-temporais, tanto na região estuarina da Lagoa dos Patos (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti et al. 1978, Bemvenuti 1987a, b, Bemvenuti et al. 1992, Bemvenuti 1997a, b, Bemvenuti & Netto 1998) como no conjunto de ambientes estuarinos do Rios Grande do Sul (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a), tem mostrado que na escala de unidade de hábitat, a estrutura e a dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos são nitidamente influenciadas pelas variações espaçotemporais dos processos hidrodinâmicos e das características do substrato, bem como, pelos processos bióticos dos quais destacam-se os recrutamentos e o efeito dos predadores. Numa escala mais ampla, abrangendo a região estuarina como um todo, constata-se que a composição e a riqueza específica da macrofauna bentônica na Lagoa dos Patos e nos demais regiões estuarinas do rio Grande dos sul, são especialmente influenciadas pelas características geomorfológicas e pelas condições climáticas regionais. Além da influência destes processos físicos e biológicos naturais, trabalhos em andamento tem mostrado que a contaminação por efluentes provenientes de esgotos domésticos e industriais ou da descarga de contaminantes, também influenciam na estrutura e dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos. O acompanhamento espaço-temporal da macrofauna bentônica na região estuarina tem revelado uma baixa riqueza de espécies com uma composição específica dominada por organismos de origem estuarina (Bemvenuti 1997a). Nos trabalhos efetuados por Capitoli et al. (1978) e Bemvenuti & Netto (1998), que abrangeram distintos hábitats no corpo central do infralitoral, foram encontradas entre 30 e 40spp espécies de macroinvertebrados bentônicos. Trabalhando em dois pontos fixos, situados na Ponta do Retiro no interior da área estuarina e na Ponta dos Pescadores próximo a desembocadura, durante dois anos de coletas bimestrais, Bemvenuti et al. (1992) registraram a coleta de apenas 21 spp. de macroinvertebrados. 11 Capitoli et al. (1978) relacionam um total de 15 espécies de invertebrados bentônicos tipicamente estuarinos, ou seja, organismos residentes que não são encontrados no ambiente marinho adjacente. Entre estes macroinvertebrados, pela ocorrência e dominância em planos de águas rasas (Bemvenuti 1983, 1987b, 1992, Geraldi 1997, Rosa Filho & Bemvenuti 1998a), pradarias de espermatófitas submersas (Asmus 1984, Geraldi 1997) e no corpo central da região estuarina (Bemvenuti et al. 1992, Bemvenuti & Netto 1998) destacam-se: os poliquetas Laeonereis acuta, Nephtys fluviatilis e Heteromastus similis, o tanaidáceo Kalliapseudes schubartii e o pelecípode Erodona mactroides, todos integrantes da infauna. Enquanto que espécies de anfípodes e isópodes epifaunais são abundantes em fundos vegetados, o gastrópode Heleobia australis mostra um amplo predomínio no epistrato e os caranguejos Chasmagnathus granulata e Metasesarma rubripes ocorrem em densas concentrações nos marismas (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti 1987a). Entre os organismos marinhos eurihalinos, integrantes do macrobentos de grande mobilidade, os decápodes Farfantepenaeus paulensis, Callinectes sapidus e Cyrtograpsus angulatus, sazonalmente utilizam as enseadas como locais de criação nos meses de verão. Com a diminuição da temperatura no outono, estas espécies migram para locais de maior profundidade alterando a composição específica da comunidade de águas rasas (Bemvenuti 1987b). O camarão rosa F. paulensis, a espécie de maior importância econômica na região, mostra marcadas flutuações anuais de abundância (Castello 1987). A penetração da pós-larva do camarão no estuário, que ocorre desde setembro-outubro até o mês de dezembro, mostra uma correlação negativa com a precipitação pluviométrica na região, a qual determina uma intensificação das vazantes no estreito canal de desembocadura da laguna (Castello & Moller 1977). As condições oceanográficas locais, que influem na penetração larval, dependem das condições climáticas regionais, as quais são influenciadas por fenômenos físicos de escala mais ampla que influem no regime de chuvas nesta região do Atlântico sul ocidental. Na desembocadura da laguna estão ausentes determinadas espécies marinhas eurihalinas, que são comuns em outros ambientes estuarinos do Atlântico Sul Ocidental (Capítoli et al. 1978). No complexo estuarino-lagunar de Cananéia, por exemplo, Tommasi (1967) menciona a diminuição do número de espécies marinhas em direção ao interior do estuário, porém na área da desembocadura o autor registrou a ocorrência de moluscos dos gêneros Macoma, Tellina e de equinodermas, destacando-se que estas espécies marinhas não são encontrados na área estuarina da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987a). 12 Entre os principais processos que podem estar condicionando a composição e a baixa diversidade do macrobentos na região devem ser considerados a ação do vento, a precipitação pluvial e o longo e estreito canal na desembocadura da laguna, os quais determinam uma intensa hidrodinâmica e marcadas flutuações de salinidade (Bemvenuti 1997a). Estas condições desestabilizam o substrato e, na maior parte do ano, não propiciam a formação de uma região polihalina nem gradientes estáveis de salinidade, o que se reflete numa baixa diversidade da macrofauna bentônica (Bemvenuti et al. 1992, Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). 4. INFLUÊNCIA DA SAZONALIDADE NA ESTRUTURA DAS ASSOCIAÇÕES DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS NA LAGOA DOS PATOS Estudos de ampla escala, que contemplaram amostragens sazonais ao longo do infralitoral e canais na região estuarina, foram realizados durante o Projeto Lagoa dos Patos entre 1988 e 1989. Neste estudo foram efetuadas 191 estações de coleta ao longo de 4 cruzeiros sazonais, que cobriram a Lagoa dos Patos e o Rio Guaíba (Bemvenuti & Netto 1998). Em cada uma das estações de coleta, foram efetuadas amostras replicadas semiquantitativas com uma draga de arrasto com 10 x 40cm de boca e malha com 1,5mm de abertura. Os arrastos tiveram 30 segundos de duração, com a embarcação (Lancha Oc. Larus-FURG) navegando a 1,5 nós. Os resultados destas coletas replicadas foram expressos em valores médios de abundância dos organismos. Todas as estações foram posicionadas segundo a latitude e longitude e foram registrados a profundidade, o tipo de sedimento, a temperatura e a salinidade da água na superfície e no fundo (Bemvenuti & Netto 1998). As estações de coleta, realizadas ao longo da laguna incluindo a área do Rio Guaíba e a região estuarina no extremo sul, foram agrupadas utilizando-se uma análise de classificação multifatorial com a aplicação do índice de dissimilaridade de Bray-Curtis e o agrupamento pelo método de média não ponderada (UPGMA) (Bemvenuti & Netto 1998). Os cruzeiros sazonais registraram a coleta de 40 espécies e um total de 440.113 ind.. O gastrópodos Heleobia asutralis, H. davisi e o pelecípode Erodona mactroides representaram 94% dos macroinvertebrados coletados. Apesar do poliqueta Nephtys fluviatilis representar menos de 1% do total de organimos quantificados, esta espécie ocorreu em 74% das 191 estações de coleta ao longo da laguna (Bemvenuti & Netto 1998). O número de espécies, a abundância média do total de organismos coletados e a representação da porcentagem das cinco 13 espécies dominantes entre os macroinvertebrados em cada uma das regiões da laguna encontram-se na Tabela 1. Em relação a composição especifica dos macroinvertebrados bentônicos, destaca-se o maior número de espécies registrado na região estuarina em comparação com o encontrado nas regiões pré-límninca e límnica da laguna (Tabela 1). O gastrópodo estuarino Heleobia australis, a espécie límnica H. davisi e o pelecípode característico de regiões oligohalinas Erodona mactroides foram dominantes em todas as estações do ano. No verão o tanaidáceo estuarino Kalliapseudes schubartii, foi igualmente abundante. As densidades dos macroinvertebrados bentônicos atingiram valores médios de 1517 inds./amostra no inverno, 1555 inds./amostra na primavera, 2536 inds./amostra no verão e 4444 inds./amostra no outono (Bemvenuti & Netto 1998). A sazonalidade mostrou duas situações bem marcadas no infralitoral da região estuarina. Nos períodos de inverno e primavera uma maior intensidade de chuvas na bacia de drenagem da laguna, refletiu-se na manutenção de salinidades próximas de 0 em todas as estações. Estes baixos valores de salinidade devem ter influenciado na estrutura das associações bentônicas no infralitoral, que mostraram um baixo número de espécies (10spp). A composição específica neste período apresentou um amplo predomínio de organismos de origem estuarina (Bemvenuti & Netto 1998). Uma situação distinta foi registrada durante o verão e o outono, onde o aumento da salinidade na região estuarina (entre 5 e 35 ppm) duplicou o número de espécies (20 spp) alterando a composição específica da macrofauna no infralitoral estuarino com a presença de organismos marinhos na área de influência do canal de acesso. Estes organismos de origem marinha que acompanham a penetração de águas de maior salinidade na laguna são amplamente dominados por crustáceos peracáridos (anfípodes, isópodes, cumáceos) e poliquetas (Bemvenuti 1987a, Bemvenuti et al. 1992, Bemvenuti 1997a, b). Outra alteração na estrutura e dinâmica das associações de macroinvertebrados foi provocada pelo aumento da temperatura no período do verão, que estimula a atividade reprodutiva da maioria dos integrantes da macrofauna bentônica na região e influencia no aumento da abundância dos organismos, em função dos recrutamentos, que estendem-se até o início do outono (Bemvenuti 1987a, b, Bemvenuti 1997a, b). 14 Tabela 1. Composição, número de espécies e abundância média da macrofauna bentônica em cada uma das regiões da Lagoa dos Patos. Distribuição e abundância relativa dos cinco principais dominantes nas cinco regiões, segundo Bemvenuti & Netto (1998). Região I Região II Região III Região IV Região V Número de Estações 27 14 56 25 67 Número de espécies 8 13 11 12 30 Abundância média 108 178 1200 739 4867 Heleobia davisi (G) ---45%-- ---70%--- ---62%-- ----------- Oligoqueta 1 ---39%-- ----2%---- Ephemeroptera (I) ----6%--- ------------ Corbicula sp (Pe) ----5%--- ------------ Chironomidae (I) ----2%--- ---0.6%-- Oligoqueta 2 ----------- ------------ Hirudinea ------ ------ Diplodon sp. (Pe) ----------- ----------- Erodona mactroides (Pe) ---25%--- ---30%-- ---69%-- ---4%-- Heleobia parchapei (G) ------------ ----6%--- ---16%-- Cordylophora sp. (H) ------------ ----------- ----2%--- --------- Tanais stanfordi (T) ------------ ----------- ----------- --------- Nephtys fluviatilis (Pl) ----1%---- ---0.5%- ---0.8%- ---0.2%- Paracorophium sp. (A) ------------ Balanus improvisus (Ci) ----1%--- ---12%-- ---0.7%- Leptocheirus sp. (A) ----------- ----------- --------- Heteromastus similis (Pl) ----------- ----------- --------- Pseudosphaeroma sp (Is) ----------- ----------- --------- Dies fluminensis (Is) ----------- --------- Neanthes bruaca (Pl) ----------- --------- Heleobia australis (G) ---93%- Kalliapseudes schubartii (T) ----2%-- Onuphis setosa (Pl) --------- Glycinde multidens (Pl) --------- Glycera americana (Pl) --------- Hemipodus olivieri (Pl) --------- Sigambra grubii (Pl) --------- 15 Região I Região II Região III Região IV Região V Sthenelanella peterseni (Pl) --------- Leptochella serratorbita (Pl) --------- Polynoidae (Pl) --------- Costoanachis sp (G) --------- Tagelus plebeius (Pe) --------- Mactra isabeleana (Pe) --------- Nemertinea --------- Synidotea marplatensis (Is) --------- Ancinus sp (Is) --------- Ampithoe ramondi (A) --------- Bathyporeiapus sp (A) --------- Phoxocephalopsis sp (A) --------- Diastylis sympterigiae (C) --------- G= gastropoda, Pe= pelecípoda, Pl= poliqueta, A= anfípoda, Is= isópoda, C= cumácea, Ci= Cirripédia, I= insecta. 5. VARIAÇÕES INTERANUAIS DA MACROFAUNA BENTÔNICA Encontra-se em andamento (Rosa-Filho & Bemvenuti em preparação) um trabalho que objetiva acompanhar as variações interanuais das associações de macroinvertebrados de fundos moles dos estuários do Rio Grande do Sul dentro e entre hábitats, considerando as características particulares de cada ambiente como o tipo de sedimento, regime hidrodinâmico, e as variações climáticas sazonais e interanuais; utilizando para tal, uma metodologia padronizada com amostragens simultâneas, dando ênfase às interações entre os organismos e as características do substrato e suas modificações induzidas por fatores ambientais naturais e introduzidos por atividades humanas. Neste contexto estão sendo comparadas as associações macrobentônicas de fundos moles nos ambientes estuarinos do Rio Mampituba, Complexo Lagunar-estuarino Tramandaí/Armazém, Lagoa do Peixe, Lagoa dos Patos e Arroio Chuí, considerando como descritores das associações os parâmetros composição específica, densidade, dominância e diversidade. Os trabalhos de campo foram desenvolvidos nos períodos inverno e verão, entre agosto de 1996 e março de 1998. Em cada uma das cinco regiões estuarinas, foram amostrados locais que apresentem características similares, que representaram as unidades de hábitat, possibilitando comparações. 16 Com o objetivo de testar a homogeneidade espacial da estrutura das associações bentônicas, as amostragens foram realizadas em diferentes escalas, caracterizando-se como uma amostragem do tipo hierárquica, onde são considerados diferentes níveis (Oxley 1997). Para o teste da homogeneidade espacial, dentro de cada unidade de hábitat foram formados dois blocos espaçados entre si por 20m, coletando-se oito amostras em cada bloco, com um espaço de 1m entre elas. Assim, foram realizadas amostragens nas seguintes escalas espaciais: pequena escala (dentro de cada bloco e entre blocos), média escala (entre unidades de hábitat) e grande escala (entre estuários). Para a extração das amostras foram utilizados dois tipos de equipamentos, um tubo de PVC de 10cm de diâmetro (com área total de 0,017 m2), até uma profundidade de 20cm no interior do sedimento, e pegador de fundo tipo ‘van-Veen’ (com área de 0,078 m2), com uma profundidade de enterramento de 20cm. Com o objetivo de padronizar o amostrador e o tamanho das amostras, quando se utilizou o pegador de fundo, foram retiradas subamostras nestes, com um ‘corer’ de 10cm de diâmetro até a profundidade de 20cm. Para verificar a existência de padrões de variação espacial e temporal na estrutura das associações de macroinvertebrados, baseado nos dados de densidade (transformada para indivíduos por metro quadrado), riqueza (pela simples contagem do número de espécies presentes), equitatividade (através do índice J de Pielou) e diversidade (utilizando o índice H de Shannon), serão utilizadas análises univariadas e multivariadas, como análises de variância (ANOVA e ANOSIM), análises gráficas (curvas de dominância simples e acumulada), análises de classificação (Cluster, SIMPER) e ordenação (MDS), como proposto por Elliot (1979), Field et al. (1982), Burd et al. (1990), Clarke & Ainsworth (1993), Clarke & Warwick (1994). Os primeiros resultados do trabalho (Rosa-Filho & Bemvenuti em preparação) estão apresentados nas tabelas 2, 3, nas quais é possível observar as marcantes variações na composição específica e na abundância da macrofauna bentônica nos disitntos hábitats e ao longo dos períodos em estudo. Para analisar, mesmo que de modo preliminar, a flutuação interanual da macrofauna bentônica nas distintas unidades de hábitat dos estuários do Rio Grande do Sul é necessário caracterizar as condições climáticas predominantes durante o períod em estudo. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE17 http://www.inpe.gov.br) o fenômeno climático “el niño” 1997/1998 evolui rapidamente desde abril de 1997. Em janeiro de 1997, a situação observada no Oceano Pacífico ainda era de “La Niña” (que é o oposto do “el niño”, ou seja, o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, que vinha sendo observado desde outubro de 1995). Em dezembro de 1997 as anomalias de temperatura da superfície do mar no Pacífico oriental situaram-se entre 3,5oC e 4,5oC acima da média climatológica do mês. A representação da composição específica, número de espécies e densidade média dos macroinvertebrados bentônicos nos distintos hábitats dos estuários em estudo, durante o inverno de 1996 e o verão de 97 encontra-se na tabela 2, enquanto que os dados relativos ao inverno de 1997 e o verão de 98 encontra-se na tabela3. De acordo com as condições climáticas, entre as amostragens de inverno de 1996 e verão de 1997, na Lagoa dos Patos, foram registradas salinidades sempre acima de 10 e precipitações menores do que 100mm. Condições similares, durante o inicio do “el niño”, foram registradas durante o inverno de 1997. Mas um aumento da pluviosidade a partir da primavera culminou com valores de quase 200mm de precipitação e salinidades menores do que 5 no verão de 1998. Estas diferenças ajudam a explicar o menor número de espécies de macroinvertebrados bentônicos no verão de 98 registradas nos estuários de Tramandái e Lagoa dos Patos, os quais foram os mais intensamente amostrados (Rosa-Filho & Bemvenuti em preparação). 18 Tabela 2. Composição e valores médios de densidade do total de macroinvertebrados bentônicos coletados nos distintos hábitats das regiões estuarinas do Rio Grande do Sul no inverno de 1996 e verão de 1997. Inverno de 1996 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX PA X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Lista de Taxa Erodona mactroides Tagelus plebeius Heleobia australis Amphiodia sp. Hyrudinea indet. Oligochaeta indet. Bocardia hamata Spio gaucha Euzonus furciferus Hemipodus olivieri Magelona hiojai Sigalion cirriferum Sigambra grubii Heteromastus similis Capitelidae indet. Laeonereis acuta Neanthes succinea Neanthes bruaca Nephtys fluviatilis Bathyporeiapus sp. Cheus sp. Leptocheirus sp. Mellita mangrovi Parachorophium sp. Phoxocephalopsis zimerii Diastylis simpterigeae Excirolana armata Pseudosphaeroma mourei Munna peterseni Kupellonura sp. Chalichirus mirim Tanais stanfordii X Kalliapseudes schubartii Emerita brasiliensis CH Verão de 1997 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX X X X X X X X X X X X PA X X X CH X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 19 X Lista de Taxa Inverno de 1996 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX PA CH Verão de 1997 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX PA CH Cyrtograpsus angulatus X X Callinectes sapidus X X Chyronomidae indet. X X 1411 1334 5082 7552 8531 1481 1523 4656 2101 3685 Total (ind.m-2) 5 5 1 6 7 20 12 19 7 7 17 8 20 7 Número de Taxa 1 TO = Torres; TR = Complexo Lagunar-estuarino Tramandaí/Armazém; PX = Lagoa do Peixe; PA = Lagoa dos Patos; CH = Arroio Chuí. Salientaram-se as elevadas densidades da macrofauna em alguns dos hábitats de águas rasas próximos as desembocaduras na Lagoa do Peixe (Tab. 2) e Tramandaí (Tab. 3), decorrentes da presença de poliquetas oportunistas de origem marinha. Enquanto que os elevados valores de densidade registrados em Torres deveram-se a expressiva ocorrência do tanaidáceo epifaunal construtor de tubos Tanais stanfordi, que pode ter sido beneficiado pela presença de densas concentrações de turfa no sedimento. A maior diversidade na Lagoa dos Patos, além de ter sido a região estuarina com o maior esforço amostral juntamente com Tramandaí, apresentou também o maior número de hábitats para o macrozoobentos. As distintas condições climáticas, de salinização e das características do substrato influenciaram nas diferenças registradas na composição, número de espécies e densidades da macrofauna bentônica nos hábitats analisados. A posterior aplicação de análises multivariadas do conjunto de dados bióticos e abióticos deverá proporcionar informações mais consistentes sobre os estuários e hábitats em estudo. 20 Tabela 3. Compsição e valores médios de densidade do total de macroinvertebrados bentônicos coletados nos distintos hábitats das regiões estuarinas do Rio Grande do Sul no inverno de 1997 e verão de 1998. Lista de Taxa Erodona mactroides Tagelus plebeius Heleobia australis Amphiodia sp. Hyrudinea indet. Oligochaeta indet. Bocardia hamata Spio gaucha Euzonus furciferus Hemipodus olivieri Magelona hiojai Sigalion cirriferum Sigambra grubii Heteromastus similis Capitelidae indet. Laeonereis acuta Neanthes succinea Neanthes bruaca Nephtys fluviatilis Bathyporeiapus sp. Cheus sp. Leptocheirus sp. Mellita mangrovi Parachorophium sp. Phoxocephalopsis zimerii Diastylis simpterigeae Excirolana armata Pseudosphaeroma mourei Munna peterseni Kupellonura sp. Chalichirus mirim Tanais stanfordii Kalliapseudes schubartii Emerita brasiliensis Inverno de 1997 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX PA X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X CH Verão de 1998 ESTUÁRIOS 1 TO TR PX X X X X X X X X X X X PA X CH X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 21 X X X X X X Inverno de 1997 Verão de 1998 1 ESTUÁRIOS ESTUÁRIOS 1 Lista de Taxa TO TR PX PA CH TO TR PX PA CH Cyrtograpsus angulatus X X X Callinectes sapidus X X X X Chyronomidae indet. X X X X X X 2243 3833 1794 1763 5405 3848 1134 1732 4245 1367 Total (ind.m-2) 0 9 5 0 3 4 12 13 9 20 7 5 12 10 15 9 Número de Taxa 1 TO = Torres; TR = Complexo Lagunar-estuarino Tramandaí/Armazém; PX = Lagoa do Peixe; PA = Lagoa dos Patos; CH = Arroio Chuí. 6. COMPARAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MACROINVERTEBRADOS BENTÔNICOS NAS REGIÕES ESTUARINAS DO RIO GRANDE DO SUL Foi efetuada a comparação de distintas unidades de hábitats nas regiões estuariais da Lagoa dos Patos, Lagoa de Tramandaí e nas barras da Lagoa do Peixe, Arroio Chuí e Rio Mampituba Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Com este objetivo foram amostrados um total de 20 unidades de habitat, com 144 amostras biológicas e 40 de sedimento. A descrição das áreas amostradas encontra-se na tabela 4 e na tabela 5 estão representadas as características do substrato e dos descritores da estrutura das associações de macroinvertebrados bentônicos nos estuários em estudo. Tabela 6 - Descrição dos códigos utilizados nas unidades de hábitat amostradas. Estuários Rio Mampituba Código das unidades Mapra Tramandaí/Armazém Trbar Tramandaí/Armazém Trter Tramandaí/Armazém Tramandaí/Armazém Trcan Trhot Tramandaí/Armazém Tramandaí/Armazém Tramandaí/Armazém Trveg Trnvg Trpon Lagoa do Peixe Estuários Pxveg Código das Descrição Amostras coletadas numa praia próximo a desembocadura Amostras coletadas em água rasa próximo a desembocadura Amostras coletadas em frente ao Terminal da Petrobrás Amostras coletadas no canal de desembocadura Amostras coletadas em água rasa no Hotel dos Engenheiros Amostras coletadas na área vegetada Amostras coletadas na área adjacente à vegetação Amostras coletadas no pontal arenoso que corta as lagoas Amostras coletadas na área vegetada Descrição 22 Lagoa do Peixe Lagoa do Peixe unidades Pxnvg Pxbar Lagoa dos Patos Papra Lagoa dos Patos Lagoa dos Patos Paarr Pagra Lagoa dos Patos Pacoc Lagoa dos Patos Lagoa dos Patos Paveg Panvg Lagoa dos Patos Pamar Arroio Chuí Arroio Chuí Chbar Chpon Amostras coletadas na área adjacente à vegetação Amostras coletadas na borda do canal da desembocadura Amostras coletadas numa praia próximo a desembocadura Amostras coletadas no arroio da 4a Seção da Barra Amostras coletadas na área conhecida como Praia do Graxo Amostras coletadas na área conhecida como Cocuruto Amostras coletadas numa área vegetada Amostras coletadas numa área adjacente à vegetação Amostras coletadas na área conhecida como Marambaia Amostras coletadas na barra do Arroio Chuí Amostras coletadas na ponte da fronteira Brasil/Uruguai Tabela 7 - Características gerais das amostras biológicas e de sedimentos. Unidade Diâmetro % MO Mapra Trbar Trter Trcan Trhot Trveg Trnvg Trpon Pxveg Pxnvg Pxbar Papra Paarr Pagra Pacoc Paveg Panvg Pamar Chbar Chpon 2,424 2,397 2,319 2,988 2,558 2,963 2,977 2,232 2,680 2,653 2,254 3,041 2,471 2,867 2,888 2,806 2,859 2,483 2,496 2,410 1,295 0,195 0,205 0,925 1,105 0,905 0,214 0,091 0,270 0,104 0,301 0,100 0,600 0,990 1,005 0,905 1,000 0,600 0,215 0,100 3 % Finos Densidad S6 H7 J8 0,012 0,021 0,008 2,113 2,099 12,115 7,700 1,992 7,356 4,133 1,487 0,077 0,139 12,585 12,324 14,850 8,680 4,580 0,125 3,268 2,020 0,848 1,627 0,343 0,446 2,036 1,111 1,231 0,131 1,223 0,408 2,123 2,068 0,802 1,649 2,349 1,928 2,209 1,858 0,464 0,870 0,424 0,701 0,216 0,159 0,679 0,478 0,616 0,051 0,435 0,176 0,821 0,737 0,201 0,433 0,679 0,608 0,596 0,662 0,179 42,25 598,50 28,125 1070,50 693,62 2543,25 2345,13 2126,75 34711,25 2368,00 725,38 37,00 537,00 28063,50 18049,25 26175,25 2015,88 1166,50 644,38 1676,00 6 4 5 3 7 8 5 4 6 7 5 5 7 16 15 13 9 11 7 6 1 Unidades definidas na tabela 01.; 2 Diâmetro médio dos grão na escala de Wentworth (1922); Porcentagem de Matéria Orgânica; 4Somatório das frações silte + argila; 5Densidade (ind.m-2); 6S = Número de espécies; 7Diversidade de Shannon-Wiener; 8Equitatividade de Pielou. 3 A comparação entre as distintas unidades de hábitat de cada um dos estuários, efetuada através de uma análise de agrupamento, revelou a formação de quatro 23 grupos em um nível de 60% de similaridade, ficando a unidade Prainha, da Lagoa dos Patos, não agrupada (Fig. 2) Grupo 1 Das sete unidades de habitat da Lagoa dos Patos, com exceção da Prainha, seis foram reunidas neste grupo. Um total de 21 espécies foram identificadas neste grupo, tendo sido consideradas 16 como características do mesmo: os poliquetas infaunais Heteromastus similis, Laeonereis acuta (comedor de depósito), Nephtys fluviatilis (carnívoro, detritívoro) e Sigambra grubii (carnívoro); os crustáceos epifaunais Cyrtograpsus angulatus, Callinectes danae, Kupellonura spp., Rhithropanopeus harisii, Mellita mangrovi (omnívoro), Synidotea marplatensis (comedor de depósito), Dies fluminensis, Munna peterseni, Tanais stanfordi (raspador), e infaunais Diastylis sp., Kalliapseudes schubartii (suspensívoro-detritívoro) e Pseudosphaeroma mourei (comedor de depósito); e o molusco infaunal suspensívoro Erodona mactroides. Observa-se que 68% das espécies identificadas em todos os estuários foram características deste grupo, com 40% delas exclusivas. Dentro destes taxa exclusivos, estiveram os peracáridos (anfípodes, isópodes, tanaidáceos) e os decápodes (siris, caranguejos e camarões), os quais estiveram praticamente restritos à área vegetada. Dos dez taxa epifaunais identificados, oito foram exclusivos deste grupo, e particularmente da unidade vegetada, dentro da Lagoa dos Patos (Tabela 6). A densidade média da macrofauna bentônica no grupo 1 foi de 12.665 ind.m-2, sendo a mais alta entre os grupos. As unidades localizadas no infralitoral na Praia da Graxo (28.063 ind.m-2) e Cocuruto 26.175 ind.m-2, ambas com 4m de profundidade, e o fundo de Ruppia maritima com 18.049 ind.m-2 no Saco do Arrail, apresentaram as maiores densidades (Tabela 5). Tais valores foram influenciados, principalmente, pela abundância do tanaidáceo Kalliapseudes schübartii no infralitoral e Mellita mangrovi, Munna peterseni e Laeonereis acuta, no fundo de macrófitas Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a). Grupo 2 Este grupo reuniu unidades do estuário do complexo lagunar TramandaíArmazém, Lagoa do Peixe e Arroio Chuí (Fig. 2). Um total de dez espécies foram identificadas neste grupo, sendo características os moluscos Heleobia australis (epifaunal-raspador), os poliquetas Lumbrineris sp. (infaunal-raspador), o Diptera Chirnomidae (infaunal-omnívoro), o bivalve Tagelus plebeius (infaunal-suspensívoro) e 24 um Nemertinea não identificado. Nenhuma espécie de crustáceo apresentou abundância suficiente para ser considerada típica desse grupo (Tabela 6) . A densidade média da macrofauna atingiu 7.071 ind.m2, tendo sido influenciada pela abundância de Heleobia australis na unidade vegetada da Lagoa do Peixe, que correspondeu a 99% dos 34.711 ind.m-2 quantificados nesse local dominado por algas filamentosas do gen. Enteromorpha. Heleobia australis apresentou a densidade mais elevada para uma única espécie entre todas as unidades e estuários em estudo RosaFilho & Bemvenuti 1998a). Fig. 2 Análise de agrupamento utilizando a distância de Bray-Curtis, pelo método UPGMA, em distintas unidades de hábitat de regiões estuarinas do Rio Grande do Sul. Grupo 3 Foi formado por unidades de habitat do Complexo Lagunar Tramandaí-Armazém e Lagoa do Peixe, sendo a maioria localizada próximo a desembocadura dos dois estuários (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Foram identificadas 11 espécies, sendo considerada típica do grupo somente o poliqueta Spio gaucha (Tabela 6). A macrofauna apresentou uma densidade média 25 1414 ind.m-2 , destacando-se a a contribuição uniforme de todas as unidades componentes que apresentaram valores aproximados de densidade (Tabela 5). Grupo 4 Reuniu as unidades Terminal (Tramandaí) e Torres (Rio Mampituba) (Fig. 2). Apenas três espécies foram identificadas neste grupo, nenhuma delas apresentando abundância relativa suficiente (maior que 50%), para ser considerada característica do mesmo (Tabela 6). Juntamente com esta baixa riqueza específica, este grupo apresentou também a menor densidade média da macrofauna bentônica (35 ind.m-2) entre os quatro grupos classificados (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). 26 Tabela 6- Dominância e afinidade das espécies nos grupos formados comparando-se todas as unidades de hábitat dos estuários (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). GRUPOS 2 1 53 2 3 4 Di A D A D A D A GUILDA 4 ESPÉCIES 1 D A Callinectes danae Synidotea marplatensis <1 <1 100 0 100 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Cyrtograpsus angulatus Dies fluminensis Kupellonura spp. Mellita mangrovi Munna peterseni Rhithropanopeus harisii Kalliapseudes schübartii Erodona mactroides Diastylis sp. Tanais stanfordi Laeonereis acuta Pseudosphaeroma mourei Sigambra grubii Nephtys fluviatilis <1 <1 <1 10 10 <1 47 1 <1 <1 13 <1 100 100 100 100 100 100 100 98 91 89 87 75 0 0 0 0 0 0 0 0 0 <1 1 <1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 11 5 24 0 0 0 0 0 0 0 <1 0 0 10 <1 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 7 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 37 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 0 Epifaunal-Carnívoro Epifaunal-Comedor de depósito Epifaunal-Omnívoro Epifaunal-Raspador Epifanal-Raspador Epifaunal-Omnívoro Epifaunal-Raspador Epifaunal-Raspador Infaunal-Suspensívoro Infaunal-Suspensívoro Infaunal-Suspensívoro Epifanal-Raspador Infaunal-Comedo de depósito Infaunal-Carnívoro <1 2 67 64 0 2 0 27 <1 3 33 8 0 25 0 1 0 0 0 0 InfaunalCarnívoro Infaunal-Carnívoro,Detritívoro Heteromastus similis Heleobia australis Chironomidae Tagelus plebeius Nemertinea indet. Lumbrineris sp. Spio gaucha 13 3 0 <1 <1 0 0 56 5 0 21 26 0 0 7 90 <1 <1 <1 <1 0 15 93 68 61 58 50 0 72 7 <1 <1 <1 0 7 42 2 15 4 0 0 0 1 1 27 3 0 0 0 10 0 0 0 0 19 0 1 0 0 0 0 50 0 Infaunal-Comedor de depósito Epifaunal-Raspador Infaunal-Omnívoro Infaunal-Suspensívoro Infaunal Infaunal-Carnívoro Infaunal-Comedor de depósito Bathyporeiapus sp. 0 0 0 0 0 27 1 5 15 16 0 10 00 0 0 0 29 100 Hemipodus olivieri 0 0 0 0 0 0 0 0 5 100 Infaunal-Comedor de depósito Infaunal-Carnívoro Densidade média ind.m –2 12665 7071 1414 35 37 1 Os números sombreados indicam que a espécie foi considerada característica para o grupo; 2 D = Dominância (%); A = Afinidade (%);3 Embora este grupo não tenha se formado de fato, ele está aqui de forma ilustrativa; 4 Segundo bibliografia. 27 6. ASSOCIAÇÕES DE INVERTEBRADOS BENTÔNICOS NOS DISTINTOS HÁBITATS ESTUARINOS. 6.1. MARISMAS As margens das regiões estuarinas numa zona sob influência das marés e/ou inundações, podem apresentar densas concentrações de gramíneas halófitas emersas. Este tipo de ambiente, conhecido como marisma, tem como principal elemento estruturador a presença da gramínea do gen. Spartina (Capitoli et al. 1978). Na Lagoa dos Patos a espécie S. densiflora ocupa os níveis mais elevados da praia com menor grau de umidade, enquanto que no intermareal desenvolve-se S. alterniflora (Capítoli et al. 1978). A presença de canais de maré ou córregos d’água, a declividade ou elevações do solo influem no grau de umidade do substrato, que por sua vez, influencia na distribuição das gramíneas. Estas não mostram uma clara distribuição transversal ao longo da costa, apresentando-se, geralmente, dispostas em forma de manchas no substrato. Além de espécies de Spartina, são também comuns nestes ambientes a presença de Salicornia gaudichaudiana e de espécies do gen. Scirpus, e localizando-se mais para o interior das margens desenvolvem-se extensas áreas dominadas por espécies do gen. Juncus (Bemvenuti 1987a). Em relação aos componentes faunísticos, na parte alta das marismas observa-se o predomínio de insetos, sendo encontrados também um grupo de isópodes terrestres, os Oniscoideos, e o anfípode estuarino Orchestia platensis. Esta espécie é comumente encontrada em locais sombrios, geralmente escondida sob algum tipo de substrato. Capitoli et al. (1977) registraram densidades de até 3.023 ind./m2 de Orchestia platensis abrigados entre a base dos caules de Spartina alterniflora na Lagoa dos Patos. O caranguejo Chasmagnathus granulata é a principal espécie da macrofauna bentônica nas marismas do Rio grande do Sul. Este caranguejo onívoro, em densas concentrações, habita tocas escavadas entre os caules e raízes das halófitas do gen. Spartina. Nas bordas das pequenas barrancas na linha de maré entre as fissuras formadas na base dos caules de Spartina spp., o caranguejo Metasesarma rubripes pode ser encontrado coexistindo com Chasmagnathus granulata na Lagoa dos Patos e na Lagoa do Peixe. Essa espécie, também onívora, de menor tamanho que C. granulata, não constrói tocas vivendo entre as fissuras e cavidades do substrato, sendo inclusive ocasionalmente encontrado nas tocas construídas por Chasmagnathus. Metasesarma rubripes é mais ágil e rápido que C. granulata, fato que aliado ao seu menor tamanho 28 (cerca de 1/3 em exemplares adultos) possibilita maiores facilidades de deslocamento entre as bases de caules, raízes e o labirinto de tocas que aí se localiza (Capitoli et al. 1977). Nas marismas situadas na desembocadura da Lagoa dos Patos , próximos a base do molhe oeste, podem ser encontrados exemplares do caranguejo Uca sp (Bemvenuti 1987a). Existem também registros esporádicos da ocorrência desta espécie em ambientes de marisma próximos ao molhe leste. Este caranguejo, que é comum em marismas nas regiões sudeste sul do Brasil, Uruguai e norte da Argentina (Boschi 1964), é uma espécie rara na região estuarina da Lagoa dos Patos. 6.2. PLANOS DE ÁGUAS RASAS A baixa amplitude das marés astronômicas nos estuários do Rio Grande do Sul determinma uma zona intermareal irregularmente inundada, que encontra-se sob uma forte influência das condições meteorológicas, especialmente, pelas variações no nível da água provocadas pelas enchentes e vazantes. A zona intermareal, geralmente, apresenta poucos metros de extensão, situando-se na parte superior de extensos planos de águas rasas na Lagoa dos Patos, Complexo Tramandaí-Armazém e Lagoa dos Peixe. Nestes planos, que atingem até 1,5m de profundidade, podem ocorrer tanto áreas desprovidos de vegetação macrófita, bem como, a presença de pradarias da espermatófita Ruppia maritima, a qual encontram-se aderidas algas filamentosas dominadas por Enteromorpha spp. Devido as suas características geomorfológicas distintas o Rio Mampituba e o Arroio Chuí não apresentam extensos planos rasos. Nas enseadas estuarinas das lagunas os planos de águas rasas podem apresentar algas filamentosas (Enteromorpha spp., Polisiphonia subtilissima e Rhizoclonium sp.) aderidas a conchas de bivalvos, objetos submersos ou simplesmente assentadas sobre o fundo em locais de reduzida hidrodinâmica. Diatomáceas bentônicas são comuns no epistrato, constituindo-se muitas vezes no principal produtor primário nesses ambientes. 29 6.2.1. EPIFAUNA DE GRANDE MOBILIDADE Os crustáceos decápodes são os integrantes da epifauna de grande mobilidade que ocorrem nos planos de águas rasas das áreas em estudo. Neste grupo predominam os caranguejos Chasmagnathus granulata, Metasesarma rubripes, Cyrtograpsus angulatus, Rhitropanopeus harrissi o siri Callinectes sapidus e os camarões Farfantepenaeus paulensis e Palaemonetes argentinus (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti 1987b, Rosa-Filho & Bemvenuti 1998). Durante o dia é muito difícil observar qualquer um destes organismos nos planos. Neste período, espécimens de C. granulata localizam-se nos marismas, numa zona acima dos planos, entre os caules de Spartina ou ocupando suas tocas no substrato. Os caranguejos C. angulatus e R. harrissi, este último de hábitos essencialmente crípticos, abrigam-se em distintos tipos de estruturas no epistrato. Enquanto que as espécies de maior mobilidade, C. sapidus e F. paulensis, permanecem superficialmente enterradas no sedimento ou, assim como ocorre com P. argentinus, escondidas em hábitats de macrófitas enraizadas. A maior atividade destas espécies, incluindo a alimentação, ocorre no período noturno (Garcia et al. 1996, Kapusta & Bemvenuti 1998). Os juvenis de crustáceos decápodes, entre o final da primavera e o início do outono, utilizam as águas rasas das enseadas como zona de criação. Neste período estas espécies, juntamente com juvenis de peixes das famílias Sciaenidae, Bothidae, Jenynsiidae e Atherinidae, exercem uma severa predação sobre a comunidade bentônica nos planos e mantém a macrofauna bentônica abaixo da capacidade de suporte do sistema nas enseadsa estaurinas da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987b). Ao final do outono, realizando uma migração sazonal característica de decápodes de regiões temperadas (Reise 1985), F. paulensis, C. sapidus e C. angulatus abandonam as águas rasas dos estuários em busca de locais com maior profundidade. 6.2.2. EPIFAUNA SEDENTÁRIA Nos planos de águas rasas das áreas estuarinas da Lagoa dos Patos, Complexo Tramandaí-Armazém e Lagoa dos Peixe, espécimens de crustáceos peracáridos (anfípodes, isópodes, tanaidáceos) e um gastrópode Hydrobiidae, constituem-se nos principais integrantes da epifauna sedentária. Entre estes organismos de pequena mobilidade que vivem sobre o substrato, o gastrópode Heleobia australis é a espécie dominante. Este gastrópode apresenta uma ampla distribuição batimétrica em fundos 30 areno-lodosos de ambientes mixohalinos, ocorrendo desde o limite inferior do intermareal até áreas de canal na Lagoa dos Patos. Esta espécie, que apresenta uma elevada resistência à dessecação (Bemvenuti 1992), pode ser encontrada em altas densidades (até 60.000 ind./m2) em planos rasos (Bemvenuti et al. 1978). Apesar do pequeno tamanho (máximo 5mm) devido a sua abundância esta espécie atinge uma biomassa elevada em ambientes estuarinos. Capítoli & Bemvenuti (1978), por exemplo, registraram 246 g./m2 correspondente a uma densidade de 45.616 ind/m2 na enseada Saco da Mangueira na Lagoa dos Patos. Crustáceos peracáridos epifaunais ocorrem desde o limite inferior do intermareal, estendendo sua distribuição em planos rasos. Neste grupo predominam o tanaidáceo Tanais stanfordi, os anfípodes Melita mangrovi, Ampithoe ramondi, Leptocheirus sp. e os isópodes Dies fluminensis e Munna peterseni. Organismos pequenos e lentos como a maioria dos peracáridos que vivem no epistrato, constituem um grupo de organismos reconhecidamente sensíveis à predação (Virnstein et al. 1984, Reise 1985, Bemvenuti 1987b). De modo que é comum os peracáridos epifaunais apresentarem baixas densidades quando permanecem expostos no epistrato, condição bastante frequente na maior parte dos ambientes rasos não vegetados. Para a epifauna sedentária o aumento na complexidade estrutural do hábitat, pela presença de gramíneas submersas (Orth et al. 1984, Summerson & Peterson 1984) ou de macroalgas (Bemvenuti 1987b), representa uma maior garantia de sobrevivência em planos de águas rasas. 6.2.3. INFAUNA Os invertebrados infaunais, pelo tipo de vida no interior de fundos não consolidados, são os organismos melhor adaptados para viver em hábitats sob rigorosas características físicas, como é o caso dos planos de águas rasas. Poliquetas, pelecípodes, anfípodes e tanaidáceos pela frequência de ocorrência e abundância constituem os grupos característicos nestes ambientes (Reise 1985). O poliqueta Laeonereis acuta, espécie comumente encontrada em estuários na Argentina, Uruguai e no sul e sudeste do Brasil (Orensanz & Gianuca 1974), é um organismo típico dos planos rasos nos estuários do Rio Grande do Sul Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Este poliqueta comedor de depósito distribui-se desde o intermareal até cerca de 1m de profundidade, alcançando densidades (5127 ind./m2) e biomassa 31 (28,26 g/m2) expressivas na região estuarina da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987a, 1997a). Espécies com as características de L. acuta, que possuem exemplares adultos cavadores profundos e os juvenis na camada superficial do substrato, sofrem uma forte pressão dos predadores durante as fases iniciais de vida (Holland et al. 1980, Bemvenuti 1992). Os adultos deste poliqueta, através da profundidade de escavação no interior do substrato (cerca de 20cm), adquirem um eficiente refúgio contra a predação. Manipulações experimentais de campo mostraram a ocorrência de densos recrutamentos do poliqueta e uma elevada mortalidade dos juvenis no epistrato, fase da vida em que a densidade populacional é controlada pela ação dos predadores sobre os indivíduos recém assentados (Bemvenuti 1992). O tanaidáceo Kalliapseudes schubartii, uma espécie abundante nos planos rasos da região estuarina da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987a, b), não foi encontrado nos demais ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Este tanaidáceo habita fundos arenolodosos onde escava tubos em forma de U, que atingem até 15cm de profundidade no interior do substrato. Num experimento de laboratório, Rosa-Filho & Bemvenuti (1998b) mostraram que exemplares de Kalliapseudes schubartii coletados numa enseada do Complexo Lagunar Tramandaí Armazém mostraram uma profundidade de enterramento significativamente menor do que em sedimentos retirados de uma enseada da área estuarina da Lagoa dos Patos. Experimentos desenvolvidos numa enseada estuarina da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987b, 1992) registraram K. schubartii como a espécie dominante, em áreas sob intensa predação. A frequência com que a espécie integra a dieta de peixes e decápodes (Araújo 1984, Asmus 1984, Bemvenuti 1990, Figueiredo 1996, Gonçalves 1997) e os sucessivos aumentos de densidade do tanaidáceo no interior de gaiolas de exclusão, indicam que K. schubartii encontra-se sob um forte impacto dos predadores nos planos rasos da região (Bemvenuti 1987b, Bemvenuti 1997a). A manutenção de densidades elevadas nestas condições, além de um refúgio para minimizar a predação, exige também uma eficiente renovação dos estoques populacionais. Neste aspecto, o tanaidáceo mostra um comportamento do tipo r-estrategista, no qual uma intensa atividade reprodutiva e a proteção à desova no marsúpio refletem-se em expressivos recrutamentos (Bemvenuti 1987b). Este comportamento aliado ao refúgio proporcionado pelo hábitat subsuperficial, refletem-se na manutenção das elevadas 32 densidades com que a espécie é encontrada nas enseadas estuarinas (Bemvenuti 1983, 1987b, 1997a, Asmus 1984, Geraldi 1997). O pelecípode cavador superficial Erodona mactroides pode ocorrer em abundância nos planos de águas rasas nas enseadas da Lagoa dos Patos, após densos recrutamentos nos meses de verão (Bemvenuti 1997b), mas não foi encontrado nos demais ambientes estuarinos do estado (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Capitoli & Bemvenuti (1978) registraram densidades de 20.300 ind/m2 e biomassa de 216 g./m2 para a espécie na enseada estuarina Saco da Mangueira na Lagoa dos Patos. No início do outono, entretanto, período em que ocorre a maior floculação e consequente deposição de sedimentos finos na porção sul da área estuarina (Calliari 1980), registram-se densas mortalidades de E. mactroides nas enseadas (Bemvenuti et al. 1978). Este fenômeno, associado a imprevisibilidade do sucesso dos recrutamentos do pelecípode na porção sul da laguna, refletem-se na baixa persistência temporal registrada para a espécie nesta região (Bemvenuti 1987a). O pelecípode cavador profundo Tagelus plebeius distribui-se em forma de manchas na parte inferior dos planos rasos nos estuários do Rio Grande do Sul (RosaFilho & Bemvenuti 1998a), mostrando preferência por sedimentos com maior concentração de silte e argila (Capítoli et al. 1978). A profundidade de escavação desta espécie, que ultrapassa os 50cm de profundidade, dificulta estimativas confiáveis da densidade deste pelecípode na região. Os poliquetas Nephtys fluviatilis e Heteromastus similis, de ampla distribuição batimétrica na região estuarina da Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1987a), ocorrem em abundância em águas rasas dos esturios do Rio Grande do Sul (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). A espécie carnívora detritívora N. fluviatilis atinge densidades médias em torno de 1000 ind./m2, enquanto que o comedor de depósito sub-superficial, H. similis, é mais abundante com valores médios ao redor de 5000 ind./m2. na Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1997a). A frequência destas espécies nos conteúdos alimentares de peixes e decápodes nesta região confirmam a importância trófica destas duas espécies de poliquetas (Araujo 1984, Gonçalves 1997, Bemvenuti 1997c). A densidade da infauna é menor em planos rasos com elevada hidrodinâmica, localizados em áreas mais expostas próximos as desembocaduras dos estuários. Nestes ambientes onde predominam fundos arenosos compactados é frequente a ocorrência do isópode Pseudosphaeroma mourei, do anfípode Bathyporeiapus 33 bisetosus e do poliqueta Spio gaucha (Capitoli et al. 1978, Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). A ausência de uma densa cobertura de macrófitas e a ocorrência esporádica da epifauna, com o predomínio de organismos cavadores, causam uma falsa impressão de pobreza faunística nos planos rasos das distintas regiões estuarinas. Este fato não faz justiça a estes locais de alta dinâmica e intensa transferência trófica, onde os macroinvertebrados bentônicos atuam como um importante elo entre o detrito depositado e espécies de peixes e crustáceos, situados nos níveis tróficos superiores do sistema (Bemvenuti 1997c). 6.3. PRADARIAS DE ESPERMATÓFITAS SUBMERSAS Ruppia maritima é a espermatófita submersa mais abundante nas regiões estuarinas do Rio Grande do Sul, desenvolvendo-se nas enseadas rasas onde forma pradarias durante os meses mais quentes do ano. Esta espermatófita, mencionada por Capitoli et al. (1978) como um importante componente do infralitoral raso na Lagoa dos Patos, teve sua autoecologia estudada por Cafruni (1983), sua distribuição e abundância descritas por Mazo (1994) e os principais fatores responsáveis pelo crescimento e produção analisados por Collares (1998) nesta região. Em relação aos estudos sobre a macrofauna bentônica em fundos de R. maritima, Asmus (1984) realizou durante dois anos o acompanhamento mensal dos macroinvertebrados no interior de uma pradaria de R. maritima localizada próximo a Ilha das Pombas, na Lagoa dos Patos. Neste mesmo local, Geraldi (1997) efetuou um experimento de campo para comparar a macrofauna bentônica no interior da pradaria com a de áreas artificialmente desbastadas e a encontrada num fundo sem vegetação adjacente. Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a) compararam a macrofauna bentônica na área vegetada por R. maritima com a de um plano raso adjacente, desprovido de macrófitas enraizadas na desembocadura do arroio Camarão no complexo estarino-lagunar Tramandaí-Armazem. Estes estudos revelaram que a composição faunística e também o número de espécies de macroinvertebrados encontrados na pradaria de R. maritima são similares aos encontrados em planos de águas rasas. No trabalho efetuado por Geraldi (1997) na Lagoa dos Patos, foram registradas 20 spp. de macroinvertebrados bentônicos no interior da pradaria de Ruppia maritima, 19 spp nos locais que sofreram desbaste no interior da pradaria e 19 spp no plano raso não vegetado. A respeito da semelhança entre a composição específica da fauna na pradaria 34 com a dos planos de águas rasas, Asmus (1984) menciona que uma biomassa elevada de Ruppia não constitui fator indispensável para as espécies da associação de macroinvertebrados bentônicos, mas sim, estabeleceria condições favoráveis para uma maior abundância dos organismos nas pradarias. Observa-se que a flutuação espaçotemporal na ocorrência de Ruppia maritima na região, que determina uma baixa previsibilidade de ocorrência de pradarias, não oferece vantagens para organismos estritamente dependentes da presença da espermatófita, mas sim para aquelas espécies capazes de ocupar o novo nicho disponível com o desenvolvimento da vegetação (Bemvenuti 1987 a). Em relação a abundância dos macroinvertebrados bentônicos, os resultados de Geraldi (1997) mostram que os organismos beneficiam-se da presença da pradaria apresentando um maior número de indivíduos no interior dos hábitats vegetados por Ruppia maritima. Entre os organismos que vivem enterrados no sedimento, integrantes da infauna, quatro espécies foram muito abundantes no interior da pradaria, nos tratamentos de desbaste e no plano raso não vegetado: o tanaidáceo Kalliapseudes schubartii e os poliquetas Heteromastus similis, Laeonereis acuta e Nephtys fluviatilis. Entre os organismos de pouca mobilidade que ocorrem sobre o fundo, integrantes da epifauna sedentária, foram dominantes o gastrópode Heleobia australis e entre os crustáceos peracáridos, os isópodes Munna peterseni e Kupellonura sp., o tanaidáceo Tanais stanfordi e os anfípodes Mellita mangrovi, Leptocheirus sp, Ampithoe ramondi e Paracorphium sp. Em relação a macrofauna de maior mobilidade Bemvenuti (1987a, b) e Garcia et al. (1996) mencionam, que nas enseadas estuarinas da Lagoa dos Patos, os juvenis dos camarões Farfantepenaeus paulensis e Palaemonetes argentinus, do siri Callinectes sapidus e do caranguejo Cytograpsus angulatus, são encontrados em maior abundância entre a vegetação macrófita. Tanto os juvenis de decápodes como os integrantes da epifauna sedentária, beneficiam-se da presença da pradaria pelo aumento da oferta de alimento, da disponibilidade e diversidade de hábitat e de proteção contra a predação de peixes, decápodes de maior porte e aves (Bemvenuti 1987a). A análise dos distintos trabalhos envolvendo os macroinvertebrados bentônicos em pradarias de Ruppia maritima na região (Asmus 1984, Garcia et al. 1996, Geraldi 1997), indicaram que a espermatófita e suas algas associadas, especialmente Enteromorpha spp., influenciam na estruturação das associações de macroinvertebrados bentônicos, incluindo os crustáceos decápodes, ao proporcionar: (a) uma maior disponibilidade e diversidade de hábitat para macroinvertebrados bentônicos epifaunais, especialmente 35 anfípodes, isópodes, tanidáceos e juvenis de decápodos; b) uma importante área de alimentação para os macroinvertebrados bentônicos, através da oferta direta de alimento pelas microalgas epífitas que se encontram sobre as folhas da espermatófita e/ou entre as algas filamentosas associadas; c) uma área de criação e proteção para organismos de grande importância ecológica e econômica (poliquetas gastrópodes, anfípodes, isópodes, tanaidáceos e juvenis de caranguejos, siris e camarões), através do complexo de talos, folhas e raízes que limitam o acesso de predadores de grande porte; d) uma abundante fonte alimentar indireta através da formação de detritos, que pela exportação, irão enriquecer áreas adjacentes no estuário ou na região costeira. 6.4. INFRALITORAL Nas enseadas estuarinas da Lagoa dos Patos, dominadas por planos de águas rasas, dificilmente ocorrem profundidades maiores do que 2m. De forma que a maior extensão da região infralitoral, entre a isóbata de 2m e a borda dos canais (entre 5 e 6m de profundidade), encontra-se na parte central do corpo estuarino. No Complexo Estuarino Tramandaí-Armazém o infralitoral atinge até aproximadamente 3m de profundidade, enquanto que nos demais ambientes estuarinos do estado o infralitotal apresenta profundidades inferiores a 2m. Nesta região na porção sul da Lago dos Patos, as condições ambientais são fortemente influenciadas pela salinidade, que pode permanecer por vários meses com registros próximos a zero ou apresentar marcadas flutuações de baixa previsibilidade (Baumgarten & Niencheski 1990, Bemvenuti et al. 1992). Este fato condiciona uma comunidade estruturada a partir de um reduzido número de espécies, cujos dominantes ocorrem em altas densidades e mostram marcadas flutuações espaço-temporais. Verifica-se também, que a ocupação de amplos nichos tróficos e espaciais pela macrofauna bentônica reflete-se numa baixa diversidade de organismos em cada um dos níveis da trama trófica estuarina (Bemvenuti 1997c). O estresse ambiental como o principal estruturador da comunidade bentônica infralitoral (Bemvenuti et al. 1992, Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a), condiciona uma série de padrões para a macrofauna na região estuarina da Lagoa dos Patos. Entre os quais, a migração sob condições adversas, o êxito da proteção à desova, a ocorrência de densas mortalidades e a falta de substrato para a epibiose em fundos moles. O gastrópode estuarino Heleobia australis, por exemplo, caracteriza-se pela ampla distribuição vertical em fundos arenolodosos e pelas marcadas flutuações 36 espaço-temporais na abundância. Esta espécie parece bem adaptada para habitar regiões sob influência marinha e pode migrar caso não encontre uma determinada quantidade de sais para sua osmorregulação (Chomenko & Schafer 1984). Drásticas flutuações na densidade de H. australis no infralitoral estuarino, foram atribuídas à reações de escape durante períodos com salinidade próximo de zero (Bemvenuti et al. 1992). A capacidade de migrar sob condições desfavoráveis permite a esta espécie ocupar áreas periodicamente submetidas a perturbações físicas, nas quais pode beneficiar-se da redução do número de competidores. Nestas condições, H. australis possui a sua disposição um amplo nicho trófico e espacial no epistrato, o que certamente contribui para a ampla distribuição e as elevadas densidades que a espécie atinge no infralitoral da região (Bemvenuti et al. 1992). Este gastrópode é a espécie mais abundante da macrofauna infralitoral, alcançando densidades que ultrapassam 40.000 ind/m2 na Lagoa dos Patos (Bemvenuti et al. 1978). Em valores médios as ocorrências mais expressivas de H. australis encontram-se na enseada Saco do Arraial (27.332 ind./m2) e no corpo central do estuário em frente a Ponta do Retiro (12.927 ind./m2). Na região da desembocadura a espécie ocorre em baixas densidades (1.546 ind./m2), acontecendo o mesmo na porção superior da região estuarina (605 ind./m2) próximo ao limite com a zona pré-límnica da Lagoa dos Patos (Bemvenuti et al. 1978). Outro importante integrante da fauna infralitoral na Lagoa dos Patos, o tanaidáceo Kalliapseudes schubartii, apresenta uma distribuição tipicamente estuarina, alcançando densidades médias próximas a 1000 ind/m2 no parte central da região estuarial (Bemvenuti et al. 1978). Esta espécie ocorre desde o limite inferior do intermareal até a borda dos canais (Fig.4), mostrando preferência por fundos arenolodosos com teores elevados de silte e argila (Capitoli et al. 1978). Nos planos rasos das enseadas estuarinas da Lagoa dos Patos verificou-se que a predação constitui-se num importante estruturador da comunidade bentônica durante os meses de verão. Sob estas condições ambientais K. schubartii ocorre com densidades superiores a 10.000 ind./m2, constituindo-se numa das espécies dominantes na comunidade de fundos moles (Bemvenuti 1997b). Este fato atesta que a proteção proporcionada pela manutenção dos distintos estágios de vida no interior do substrato combinada com uma eficiente renovação dos estoques populacionais, 37 representam uma eficiente estratégia sob situações em que ocorre uma elevada intensidade da predação (Bemvenuti 1987b, 1997b). A maior biomassa entre o zoobentos infralitoral na Lagoa dos Patos é encontrada entre os exemplares do pelecípode Erodona mactroides, que atinge valores médios de 281 g/m2 na parte norte da zona estuarina. Nesta área, onde estão bem representadas todas as classes de tamanho, o pelecípode atinge até 30mm de comprimento e uma densidade média de 461 ind/m2 (Bemvenuti et al. 1978). Nas enseadas localizadas na parte sul do estuário, onde ocorrem as maiores densidades de E. mactroides (média de 3.722 ind/m2), a biomassa atinge somente 105 g/m2 em função do menor tamanho dos exemplares. Nesses locais, a espécie mostra uma expressiva mortalidade e os exemplares dificilmente ultrapassam 13mm de comprimento, tamanho correspondente a 1 ano de vida (Bemvenuti et al. 1978). O cirripédio séssil Balanus improvisus, que vive fixo em substratos consolidados, é outra espécie comum em fundos moles infralitorais na Lagoa dos Patos, onde depende da presença de E. mactroides como substrato. Este pelecípode, cavador superficial, ao deixar exposta a parte superior de suas valvas permite a fixação de B. improvisus. O cirripédio mostra uma elevada concentração larval no plancton (Montu 1980) e assenta densamente sobre objetos submersos nas enseadas e na desembocadura da parte sul do estuário. Nesta área, entretanto, B. improvisus ocorre em baixas densidades em fundos moles (entre 2 e 30 ind/m2), uma vez que nestes locais E. mactroides não atinge tamanho suficiente para suportar a epibiose. Na porção superior da região estuarina as maiores densidades do cirripédio (719 ind/m2) coincidem com a maior biomassa de E. mactroides, correspondendo a maior disponibilidade de substrato para fixação. O registro de até 20 exemplares de B. improvisus sobre uma Erodona, em locais com baixa densidade do pelecípode, evidencia a limitação do espaço para a fixação no infralitoral estuarino (Bemvenuti et al. 1978). Esta limitação decorre, principalmente, da ausência de fundos consolidados ou de outras espécies de invertebrados que possam servir de substrato na região estuarina da Lagoa dos Patos. As espécies de poliquetas infralitorais, amplamente dominadas por Nephtys fluviatilis e Heteromastus similis, mostram densidades bastante homogêneas (entre 200 e 244 ind/m2) ao longo do corpo central estuarino na Lagoa dos Patos (Bemvenuti et al. 1978). Nas enseadas estaurinas, em planos rasos, encontram-se as condições mais favoráveis para poliquetas comedores de depósito como H. similis e Laeonereis acuta, 38 onde os quais podem alcançar densidades superiores a 5.000 ind./m2 (Bemvenuti 1997a). 6.5.CANAIS Canais naturais ou artificiais, com profundidades entre 5m e 18m, ocorrem apenas na Lagoa dos Patos. Nesta região, verifica-se um nítido empobrecimento qualiquantitativo da macrofauna bentônica (Bemvenuti et al. 1978). No interior da zona estuarina, em fundos lamosos, a macrofauna restringe-se a organismos que podem consumir material depositado como o gastrópode Heleobia australis e os poliquetas Nephtys fluviatilis e Heteromastus similis. O gastrópode pode ser muito abundante, atingindo densidades que ultrapassam 40.000 ind./m2 (Capitoli et al. 1978). Nos fundos arenosos-biodetríticos do canal de desembocadura, a comunidade bentônica encontra-se pobremente estruturada apresentando um reduzido número de espécies que ocorre em baixas densidades e uma baixa persistência temporal. Durante períodos de maior penetração de água marinha aumenta o número de espécies pela presença de poliquetas, destacando-se Sigambra grubii, Onuphis setosa, Magelona riojai, Hemipodus olivieri e entre os peracáridos, os isópodes Synidotea marplatensis e Pseudosphaeroma mourei, o cumáceo Dyastilis sympterigiae, e os anfípodes Bathyporeiapus bisetosus e Mellita mangrovi, entre outros. Estas populações apresentam, entretanto, tamanho reduzido, baixas densidades e ocorrência esporádica no canal (Bemvenuti et al. 1992). Os canais naturais ou artificiais na região estuarina da Lagoa dos Patos e, particularmente, os localizados próximos a região da desembocadura, apresentam condições ambientais rigorosas decorrentes da baixa previsibilidade das flutuações de salinidade e da elevada instabilidade do substrato. Estes hábitats podem apresentar uma intensa hidrodinâmica, determinando um tipo de substrato dominado por material biodetrítico com uma elevada instabilidade física, que determinam condições desfavoráveis para a manutenção das associações bentônicas no local (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti et al. 1992, Bemvenuti 1997b). Bemvenuti et al. (1992) registraram que em canais com predomínio de biodetritos as associações bentônicas encontram-se pobremente estruturadas, apresentando um reduzido número de espécies que ocorrem em baixas densidades e com uma baixa persistência temporal. Substratos com estas características encontram-se submetidos a uma intensa ação hidrodinâmica que atuam como fator de instabilidade do fundo, bem como, a presença do biodetrito limita a 39 obtenção de alimento por espécies comedoras de depósito (Levinton 1995). Locais com estas características mostram um nítido empobrecimento quali-quantitativo nas associações de macroinvertebrados bentônicos (Bemvenuti 1997b, Bemvenuti & Netto 1998). 6. 6. INTERAÇÕES ENTRE OS HÁBITATS ESTUARINOS As comunidades bentônicas nos planos de águas rasas, fundos de macrófitas, infralitoral e canais encontram-se interligadas num processo contínuo de dependência e retroalimentação. Nas enseadas, as marismas e pradarias de espermatófitas mostram uma intensa produção e exportação de material detrítico e atuam como locais de proteção e criação de peixes e invertebrados que utilizam o estuário como área de criação. Nos planos rasos não vegetados a ausência de uma densa cobertura de macrófitas e a ocorrência esporádica da epifauna, com o predomínio de organismos cavadores, causam uma falsa impressão de pobreza faunística. Nestes locais, de elevada produção secundária, ocorre uma intensa transferência trófica entre a infauna e os predadores de grande mobilidade (Bemvenuti 1987b). Em águas rasas os macroinvertebrados comedores de depósito tem um importante papel ecológico atuando como o principal elo entre o detrito depositado e os níveis tróficos superiores do sistema, onde encontram-se peixes e crustáceos decápodos de elevada importância econômica. Os fundos sublitorais entre 2 e 6m de profundidade são dominados pelo macrozoobentos suspensívoro e comedor de depósito, que beneficia-se em grande parte do detrito alóctone produzido nas enseadas. A ausência da cobertura de macrófitas ao reduzir a proteção ao zoobentos e facilitar o acesso de predadores, permite que fundos não vegetados funcionem como uma importante área de alimentação para peixes e crustáceos decápodos em estuários (Summerson & Peterson 1984). Também a maior profundidade no infralitoral proporciona um refúgio aos decápodes, que migram para locais mais profundos durante os meses mais frios do ano (Reise 1985, Bemvenuti 1987b). Os canais, apesar de inóspitos para a maioria dos macroinvertebrados bentônicos, constituem-se na principal rota migratória para a maioria das espécies estuarinas e, pela maior profundidade da coluna d’água, mostram-se de grande importância para as formas pelágicas. 40 7. OS EFEITOS DA PREDAÇÃO SOBRE A MACROFAUNA BENTÔNICA NAS ENSEADAS ESTUARINAS Manipulações experimentais de campo num plano de águas rasas numa enseada estuarina da Lagoa dos Patos, foram efetuadas visando testar o efeito dos predadores epifaunais de grande porte (peixes e crustáceos decápodes) sobre a associação de macroinvertebrados bentônicos de fundos moles. Os cercados utilizados para excluir os macropredadores foram construídos com uma área de 0,5m x 0,5m e cobertos com uma malha de 5mm de abertura. Foram utilizados dois tipos de tratamentos: o primeiro, denominado tratamento de exclusão acumulada, constou de um conjunto de 12 cercados instalados todos no início do experimento, os quais eram mensalmente amostrados; no segundo tratamento os cercados foram sendo sucessivamente instalados a cada mês, de modo que no mês seguinte a sua instalação eram tomadas amostras no seu interior. As amostras, em número de cinco por cercado, foram sempre comparadas com o mesmo número de réplicas obtidas no ambiente natural adjacente, que foi utilizado como controle. As coletas foram efetuadas com um tubo extrator de PVC de 10 cm de diâmetro (Bemvenuti 1987b). As amostragens, realizadas no interior dos cercados de exclusão acumulada e de exclusão mensal, revelaram que houve um aumento na densidade da macrofauna bentônica sob condições de exclusão dos predadores de grande mobilidade durante varias etapas do experimento, que teve sete meses de duração. Este resultado indica que a predação por peixes e crustáceos decápodos estaria mantendo as densidades dos macroinvertebrados bentônicos de fundos moles abaixo da capacidade de suporte do sistema (Bemvenuti 1983, 1987b). Evidenciou-se desta forma, que a obtenção de densidades mais elevadas de espécies da infauna e da epifauna sedentária não estariam sendo limitadas por falta de espaço ou de alimento, mas sim, estariam sendo controladas pelo efeito da predação de peixes, siris, camarões e caranguejos, entre outros predadores. O fato dos organismos apresentarem significativos aumentos na densidade no interior de cercos de exclusão, evidencia a importância dos macroinvertebrados bentônicos como fonte de alimento destes predadores de grande porte como peixes (corvinas, linguados, bagres) e crustáceos decápodes (camarões, siris e caranguejos), a maioria espécies de importância comercial na região (Bemvenuti, 1987b). Outra evidência 41 da importância dos macroinvertebrados bentônicos como alimento é a frequência e dominância com que estes organismos são encontrados nas análises de conteúdos alimentares de peixes e decápodes capturados na região estuarina da Lagoa dos Patos (Araújo 1984, Asmus 1984, Bemvenuti 1990, Bemvenuti 1997c, Gonçalves 1997, Kapusta & Bemvenuti 1998). Durante os meses de verão e início de outono na região estuarina, coincidem a maior abundância quali-quantitativa dos macropredadores com as maiores densidades dos macroinvertebrados bentônicos em planos de águas rasas (Bemvenuti 1983, 1987b), em pradarias de Ruppia maritima (Asmus 1984, Geraldi 1997) e no infralitoral estuarino (Bemvenuti 1987a, Bemvenuti et al. 1992). Neste sentido deve ser considerado que a ocorrência de uma espécie com um elevado número de indivíduos, em fundos moles de baixa profundidade, está associada a estratégias de escape à predação, entre as quais, a sua capacidade de enterramento (Virnstein 1979). A eficácia deste refúgio para os organismos da infauna, além do posicionamento no interior do substrato, relaciona-se com o tamanho e grau de mobilidade (Reise 1985, Bemvenuti 1992). A manutenção de elevadas densidades da infauna nas enseadas da região, além de mecanismos de escape à predação, depende também de estratégias reprodutivas para uma eficiente renovação dos estoques populacionais (Bemvenuti 1997a). Os peracáridos epifaunais constituem-se num bom exemplo de como distintas formas de utilização do hábitat e a utilização de eficientes estratégias reprodutivas, refletem-se na manutenção das populações de organismos epifaunais nas enseadas estuarinas da região. Estes peracáridos, representados por espécies de isópodes, anfípodes e tanaidáceos na área em estudo, constituem grupos de organismos reconhecidamente sensíveis à ação de predadores (Virnstein et al. 1984, Bemvenuti 1987b, 1992) e, pelo seu grau de exposição, oferecem um referencial da intensidade da predação em determinadas condições ou épocas do ano (Bemvenuti 1987b). Verificou-se que as maiores densidades de peracáridos nas enseadas da região ocorreram em situações que incluíram a presença de refúgios naturais ou artificiais, relativos a densas concentrações de algas filamentosas ou a proteção no interior de artefatos de exclusão. O maior número de crustáceos no ambiente natural ocorreu nos meses de outono e inverno, refletindo a redução quali-quantitativa dos predadores nas enseadas e a proteção, hábitat e alimento proporcionados pela maior abundância de macroalgas no período (Bemvenuti 1987b). 42 Experimentos de campo revelaram que um nível trófico intermediário entre os predadores epifaunais e a infauna não predadora, representa a melhor forma de expressar as interações tróficas na comunidade de fundos moles na região (Bemvenuti 1992, 1994). Neste nível intermediário, verificou-se que o poliqueta infaunal, carnívorodetritívoro Nephtys fluviatilis e caranguejos de pequeno porte regularam a abundância e a diversidade da infauna não predadora e da epifauna sedentária através da predação e/ou bioperturbação, em estratos bem definidos no substrato (Bemvenuti 1994, 1997a). Ficou bem caracterizado também, o papel trófico dos caranguejos de pequeno porte e do poliqueta da infauna predadora, como importantes elos entre os predadores de topo e o zoobentos consumidor primário em sistemas estuarino-lagunares (Bemvenuti 1997a). Experimentos de manipulação com a exclusão dos predadores de grande porte (Bemvenuti 1987b) ou com organismos da infauna (Bemvenuti 1992), tem evidenciado a importância trófica dos macroinvertebrados bentônicos nas enseadas rasas. Nestes ambientes ocorre uma intensa transferência trófica, a partir do consumo do detrito depositado pelos macroinvertebrados bentônicos da infauna e epifauna sedentária, os quais irão integrar a dieta de consumidores secundários como aves, peixes e crustáceos decápodos. A experiência com manipulações de campo tem mostrado que a manutenção de densidades elevadas de macroinvertebrados em fundos moles, que encontram-se submetidos a um severo consumo por juvenis de peixes e crustáceos decápodos, depende não só da eficiência do escape mas, principalmente, da manutenção de estratégias reprodutivas que garantam um eficiente renovação dos estoques populacionais. Este fato torna-se ainda mais relevante durante os meses de maior temperatura, período no qual os predadores são quali-quantitativamente mais eficientes nas enseadas estuarinas da Lagoa dos Patos. 8. RELAÇÕES TRÓFICAS NA COMUNIDADE DE FUNDOS MOLES Distintas categorias de produtores primários desempenham um importante papel na base da trama trófica estuarina, fornecendo alimento diretamente para organismos herbívoros e raspadores ou contribuindo para a formação do detrito. A trama trófica em regiões estuarinas compõe-se basicamente da interrelação entre as tramas alimentares de pastagem e de detritos. A trama trófica de detritos, considerada como a mais importante em ambientes estuarinos (Kennish 1990), tem seu primeiro nível formado, principalmente, por gramíneas, macroalgas, cyanobacterias, microalgas bentônicas e 43 epífitas em distintos estágios de decomposição microbiana. A este material deve ser acrescentado ainda cerca de 50% da produção líquida do fitoplâncton, que é colocado a disposição da fauna bentônica como detrito, em decorrência da ineficiência da pressão de pastagem do zooplancton em ambientes estuarinos (Boaden & Seed 1985). Na Lagoa dos Patos, ainda não foram quantificados os fluxos energéticos nas duas tramas tróficas, mas análises de conteúdos alimentares e experimentos de campo e laboratório indicam um papel diferenciado de ambas nos distintos hábitats da região estuarina (Bemvenuti 1997c). O detrito orgânico constitui-se no principal componente da dieta de várias espécies de invertebrados da macro e meiofauna, os quais são responsáveis pelo importante papel que a comunidade bentônica desempenha nos fluxos de energia em regiões estuarinas (Day et al. 1989). Assim como ocorre em outros estuários, as associações da meiofauna em fundos moles da Lagoa dos Patos são dominadas por nemátodos e ostrácodos, seguidas por copépodos harpacticoides e turbelários. Certas espécies de nemátodos que consomem bactérias na camada redutora do sedimento, estabelecem um importante fluxo energético entre esta camada profunda e a camada aeróbica acima. A maioria dos integrantes da meiofauna, entretanto, ingere o detrito na camada superficial do sedimento, local onde são consumidos pela macrofauna comedora de depósito (Coull & Bell, 1979) ou predados seletivamente por crustáceos decápodos e peixes (Castel 1992). Pela sua abundância em fundos areno-lodosos e elevada taxa de renovação populacional, a meiofauna contribui de forma significativa na trama trófica de detritos em ambientes estuarino-lagunares (Day et al. 1989, Castel 1992). Observações em laboratório e a análise de conteúdos alimentares da macrofauna bentônica na Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1983, 1992, Asmus 1984) atestam a diversidade de modos de alimentação dos organismos e a importância do detrito como um item obrigatório na dieta da maioria das espécies e de vários níveis tróficos na região estuarina. No primeiro nível de consumidores, organismos infaunais comedores de depósito como o poliqueta Laeonereis acuta ingerem de forma pouco seletiva o detrito depositado e areia. Enquanto que Heteromastus similis, ingere partículas finas de sedimento juntamente com a matéria orgânica no interior de galerias profundas (> 15cm) (Bemvenuti 1988). O tanaidáceo Kalliapseudes schubartii e o pelecípode Tagelus plebeius, ambos cavadores com preferência por sedimentos finos 44 (Capitoli et al. 1978), atuam como suspensívoros-detritívoros ingerindo microalgas e detritos (Bemvenuti 1997c). A predação do poliqueta carnívoro-detritívoro Nephtys fluviatilis sobre Heteromastus similis, no interior do sedimento, representa um importante elo intermediário entre a infauna não predadora e os macropredadores epifaunais, contribuindo para a transferência deste cavador profundo para os níveis superiores da trama trófica (Bemvenuti 1994). Predadores infaunais frequentemente regulam a abundância de espécies infaunais não predadoras, determinando a ocorrência de múltiplos níveis tróficos na comunidade de fundos moles (Ambrose 1984, Commito & Schrader 1985). Na região estuarina da Lagoa dos Patos, entretanto, a baixa diversidade da infauna reflete-se numa trama trófica abreviada com um menor número de níveis no interior do sedimento (Bemvenuti 1997c). O primeiro nível trófico da epifauna é dominado por Heleobia australis, que alimenta-se sobre o “film” superficial de material depositado no sedimento ou sobre as folhas de macrófitas ingerindo, principalmente, bactérias (Asmus 1984). Entre os peracáridos epifaunais, o tanaidáceo Tanais stanfordii quebra a frústula de diatomáceas bentônicas com seu forte gnatópodo e ingere o conteúdo da célula. Enquanto que o anfípode Mellita mangrovi mostra um comportamento generalista na obtenção do alimento, o qual inclui a ingestão de micro e macroalgas e a captura de copépodos (Asmus 1984). Entre os peixes, no nível de consumidor primário predominam as tainhas do gen. Mugil, que atuam como comedores de depósito ingerindo algas epífitas e detrito (Vieira 1985). Juvenis de espécies de peixes, dominantes na região estuarina, como a corvina Micropogonias furnieri, os bagres Netuma barba e Genidens genidens e os linguados Paralichtys orbignyanus e Achirus garmani, atuam em águas rasas como importantes consumidores secundários de macroinvertebrados bentônicos pertencentes a infauna e epifauna sedentária (Asmus 1984, Araújo 1987, Bemvenuti 1990, Gonçalves 1997). Os integrantes da epifauna sedentária são largamente consumidos por peixes e decápodos (Reise 1985) e, pelo seu grau de exposição, oferecem uma medida da intensidade da predação em determinadas situações ou épocas do ano (Bemvenuti 1987b). Além dos juvenis de peixes, espécies de crustáceos decápodos alimentam-se preferencialmente de invertebrados bentônicos nas suas áreas de criação nas enseadas rasas da região estuarina da Lagoa dos Patos. A reconhecida plasticidade da 45 dieta de invertebrados de grande mobilidade, como os crustáceos decápodos, permite que estas espécies atuem em mais de um nível trófico (Bemvenuti 1997c). Os caranguejos de marisma Chasmagnathus granulata e Metasesarma rubripes, por exemplo, a partir de um elevado consumo de detritos, compartilham o primeiro nível de consumidores com várias espécies da infauna e da epifauna sedentária. Ao mesmo tempo que a predação dos caranguejos sobre a maioria desses invertebrados (Capitoli et al. 1977, Asmus 1984) coloca os decápodos como integrantes do segundo nível de consumidores. Os decápodes Cyrtograpsus angulatus, Farfantepenaeus paulensis e Callinectes sapidus mostram uma marcada variação ontogenética na dieta. Os exemplares recém recrutados nas enseadas, encontrados em abundância em fundos vegetados (Bemvenuti 1983, Asmus 1984, Garcia et al. 1996, Geraldi 1997), alimentam-se do film superficial na vegetação ou no epistrato. Enquanto que os juvenis de C. sapidus e C. angulatus e caranguejos de pequeno porte como Rhithropanopeus harrissi, atuam como consumidores secundários, pois além de macrófitas, detritos e da meiofauna (ostrácodos, nemátodos), consumindo também peracáridos epifaunais e juvenis da infauna (Bemvenuti 1992, Capitoli & Ortega 1993, Kapusta & Bemvenuti 1998). Os juvenis de maior porte ingerem detritos e ampliam o consumo da macrofauna bentônica com a inclusão de exemplares de maior porte, e no caso de C. sapidus, passam a capturar outros decápodos e peixes (Kapusta & Bemvenuti 1998). Os pré-adultos e adultos de crustáceos decápodos adotam uma estratégia alimentar tipicamente oportunista-generalista, caracterizada pelo amplo espectro trófico (Asmus 1984, Kapusta & Bemvenuti 1998) e pela variabilidade em função da disponibilidade espaço temporal dos itens alimentares (Bemvenuti 1987b, 1992). No infralitoral entre 2 e 6 m de profundidade nas áreas expostas do estuário, cresce em importância a cadeia de pastagem. Neste hábitat o aumento da circulação e do volume d'água a disposição do fitoplâncton e do detrito em suspensão, favorecem a ocorrência de um maior número de suspensívoros. No corpo central do estuário, além do comedor de depósito H. australis, são dominantes o supensívoro-detritívoro K. schubartii e os suspensívoros Erodona mactroides e Balanus improvisus (Bemvenuti 1997c) . O pelecípode E. mactroides pela abundância e ampla distribuição na laguna (Bemvenuti & Netto 1998), situa-se como o principal consumidor do fitoplancton entre os invertebrados bentônicos, enquanto que peixes das famílias clupeidae e 46 engraulididae constituem-se em importantes consumidores do zooplâncton. A partir de densos recrutamentos nas enseadas estuarinas durante o verão, os juvenis de E. mactroides ocorrem como itens dominantes na dieta de peixes e crustáceos decápodos que utilizam estas áreas como locais de criação (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti et al. 1978). O importante papel trófico do pelecípode na parte sul do estuário, depende da chegada das larvas que descem com as vazantes da parte norte da laguna, onde localiza-se o estoque genético de E. mactroides (Bemvenuti 1987a). Nesta área, onde estão representadas todas as classes de tamanho do pelecípode, exemplares de E. mactroides com até 30mm atingem a maior biomassa individual entre os invertebrados da infauna no infralitoral (Bemvenuti et al. 1978). Esses exemplares, juntamente com Balanus improvisus, ocorrerão como itens dominantes na dieta dos adultos de Callinectes sapidus e de exemplares de grande porte da corvina Micropogonias furnieri (Gonçalves 1997) e dos bagres Netuma barba, N. planifrons e Genidens genidens (Araújo 1984). As rígidas condições ambientais encontradas na região estuarina da Lagoa dos Patos limitam o número de espécies euryhalinas, de modo que a redução na diversidade geralmente encontrada em ambientes estuarinos (McClusky 1981, Day et al. 1989), mostra-se ainda mais acentuada na laguna (Capitoli et al. 1978, Bemvenuti et al. 1992). Este fato contribui para uma comunidade de fundos moles estruturada a partir da disponibilidade de amplos nichos tróficos, onde um reduzido número de espécies ocorre em abundância em cadeias tróficas abreviadas (Bemvenuti 1997c). 9. TENDÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS, POLÍTICAS PÚBLICAS E PRESSÕES ANTRÓPICAS NA REGIÃO ESTUARINA DA LAGOA DOS PATOS. A Lagoa dos Patos e seus entornos, particularmente o estuário e águas adjacentes, destacam-se pela sua importância ecológica (zona de produção biológica e biodiversidade) e sócio-econômica (atividades portuárias, industriais, agrícolas, pesqueiras e turísticas) (Asmus & Tagliani 1998). Historicamente, as demandas sócioeconômicas tendem a colidir com os interesses de preservação ecológica e o incremento das atividades humanas ameaça a qualidade da Lagoa dos Patos, região estuarina e ambiente costeiro adjacente (Seeliger & Costa 1998). Na década de 80, com o intuito de planejar, manejar e ordenar o processo de desenvolvimento costeiro, o 47 governo brasileiro implementou o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, prevendo ações de macrozoneamento, planejamento e monitoramento (Asmus & Tagliani 1998). Modelos ecológicos tem sido desenvolvidos para a região estuarina representando as fases simulativas e preditivas do manejo ambiental, focalizando os aspectos dinâmicos do estuário e áreas adjacentes, a fim de caracterizar os processos ecológicos, econômicos e sociais dominantes na região. Segundo Asmus & Tagliani (1998) todos estes modelos enfatizam a importância da meteorologia (ventos, precipitação pluviométrica) e hidrodinâmica (circulação) sobre os principais processos ecológicos condicionantes do sistema estuarino. Os esforços de modelagem identificaram, entretanto, que ainda existem lacunas nos conhecimentos disponíveis para a região estuarina da Lagoa dos Patos, que são considerados essenciais para a compreensão dos processos indispensáveis para o manejo presente e futuro da região (Bonilha 1996). A classificação das águas nacionais pelo governo brasileiro, baseado no uso e qualidade, fornece um suporte legal para administrar o uso das águas no estuário da Lagoa dos Patos. No entanto a legislação ambiental ainda não possui a especificidade desejada para estabelecer as bases legais indicadas às etapas do manejo ambiental nos níveis local, estadual e federal. Consequentemente os atuais esforços de manejo ambiental no estuário são ainda limitados por problemas técnicos e legais (Asmus & Tagliani 1998). As áreas hídricas na porção sul da região estuarina foram enquadradas pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Rio Grande do Sul (FEPAM) em 1995, através da Norma Técnica 003/95. As águas da enseada Saco da Mangueira e porção externa do Saco do Arraial, no entorno da cidade de Rio Grande, foram classificadas como águas salobras classe B, consideradas locais de conservação. A parte interna da enseada saco do Arraial como águas salobras classe A, consideradas locais de preservação. Enquanto que toda a região do Canal de Rio Grande, que dá acesso as regiões do Porto Velho, Porto Novo e Superporto receberam a classificação de águas salobras classe C, consideradas locais de uso múltiplo. Observa-se que o enquadramento da parte superior da região estuarina, que localiza-se acima das cidades de Rio Grande e São José do Norte, ainda está para ser concretizado (Baumgarten & Niencheski 1998). 48 A qualidade hidroquímica no entorno da cidade de Rio Grande foram avaliadas por Baumgarten & Niencheski (1998). Neste estudo os autores encontraram 12 áreas hídricas potencialmente comprometidas pela presença de efluentes domésticos e industriais sem tratamento, localizadas tanto ao norte como ao sul da cidade. Nestas áreas comprometidas, Rosa-Filho & Bemvenuti (em preparação) encontraram alterações na estrutura e dinâmica da comunidade bentônica de fundos moles. Além de alterações na diversidade e densidade dos organismos, foram registrados também modificações nos padrões de recrutamento da macrofauna bentônica. Na desembocadura da enseada Saco da Mangueira na localidade denominada Coroa do Boi, onde o principal fonte de esgoto da cidade é lançado sem tratamento, Baumgarten & Niencheski (1998) registraram altas concentrações de amônio, fosfato e baixas concentrações de oxigênio dissolvido, evidenciando a grave situação de contaminação encontrada nessa área. A macrofauna bentônica no local, mostra-se severamente prejudicada apresentando redução na diversidade e densidade dos organismos. Constatou-se que a macrofauna bentônica, nas áreas próximas ao local de lançamento do esgoto, em termos de composição, restringe-se a espécies de poliquetas e oligoquetas (Angonesi & Bemvenuti 1999). A importância da hidrodinâmica sobre a qualidade ambiental na parte sul da região estuarina foi avaliado por Baumgarten & Niencheski (1998). Estes autores efetuaram um estudo considerando a área em duas situações: 1) uma com características de inverno, com regime de vazante e água doce em superfície e de enchente com água salgada no fundo; 2) com características de verão, com regime de enchente sem estratificação salina com predomínio de água salgada. Foram encontradas situações distintas na qual a entrada de água salgada favoreceu a qualidade da água na área do Porto Novo e Super Porto, ficando prejudicada somente a área do Porto Velho localizada no Saco do Arraial. Em situação de predomínio de água doce ocorreu uma piora na qualidade ambiental onde a área menos afetada pela contaminação foi a do Superporto, onde não foram registradas situações preocupantes em relação ao excesso de nutrientes ou de contaminação por metais, em função da elevada hidrodinâmica do canal de acesso a Barra de Rio Grande, que promoveria a diluição e a dispersão dos poluentes aumentando a capacidade depurativa do ambiente (Baumgarten & Niencheski 1998). A introdução de grandes quantidades de sedimentos em suspensão originários do corpo central da laguna, somadas à presença de extensas enseadas rasas 49 apresentando cobertura de pradarias submersas e marismas marginais, propiciam um cenário ideal para o predomínio de processos deposicionais na região estuarina da Lagoa dos Patos (Seeliger & Costa 1998). Nos últimos 150 anos, a porção sul da região estuarina decresceu cerca de 11%, o que enfatiza o caráter deposicional deste ambiente (Calliari 1980). A perda considerável de áreas estuarinas não foi resultado apenas da sedimentação natural, mas também de processos mediados pelo homem (Calliari 1980). Devido a construção dos molhes da Barra de Rio Grande a sedimentação sobre as áreas intermareais, provavelmente, intensificou-se após o ano 1917 na leste do canal. A expansão do Porto de Rio Grande entre 1909-1914 gerou cerca de 8.776.000m 3 de material dragado, que foi utilizado na construção de ilhas e também depositado junto as margens na porção sul da região estuarina (Seeliger & Costa 1998). No estuário inferior, o aterro das áreas rasas intermareais e submareais, para o desenvolvimento portuário, residencial e, mais recentemente, industrial, reduziu ou mesmo destruiu várias áreas de hábitats vitais de pradarias submersas e marismas (Costa et al. 1977). A destruição ou degradação destes hábitats, pelo papel que desempenham como áreas de criação e como base para a cadeia de detritos no estuário (Bemvenuti 1997c), representam uma sensível perda da qualidade ambiental com profundos reflexos na ecologia e economia do sistema estuarino. 11. BIODIVERSIDADE, ENDEMISMO E PERSPECTIVAS DOS ESTUDOS EM REGIÕES ESTUARINAS. As referências sobre a composição específica, diversidade e abundância do macrobentos estuarino na Lagoa dos Patos, já abordadas neste trabalho, indicam um número de espécies bastante reduzido (entre 30 e 40spp) que apresentam flutuações sazonais bem pronunciadas, influenciadas pela penetração de espécies marinhas durante situações de menor pluviosidade. A estes períodos de maior diversidade, que geralmente ocorrem no verão, contrapõem-se condições de maior influência de água doce nos meses de inverno onde a diversidade cai em torno de 50% e a composição específica restringese a infauna residente. Referências históricas efetuadas por Ihering (1885) na região, já mencionavam a baixa diversidade faunística na área estuarina da Lagoa dos Patos. Os resultados publicados por este naturalista no final do século passado, ainda que não tenham sido 50 originados de estudos sistemáticos, representam informações de grande valor sobre a situação faunística-ambiental no final do século, ocasião em que era mínimo o impacto do homem sobre o ecossistema. Os estudos que vêm sendo efetuados nos últimos vinte anos sobre a macrofauna bentônica na área estuarina da Lagoa dos Patos não indicam que a diversidade da macrofauna bentônica tenha diminuído no período. Esta observação refere-se ao ambiente como um todo, entretanto, amostragens específicas sobre determinadas áreas no entorno da cidade de Rio Grande, em locais sob influência de esgotos urbanos (Baumgarten & Niencheski, 1998), tem mostrado um menor número de espécies de macroinvertebrados bentônicos. Neste ambientes, a macrofauna restringe-se a espécies de oligoquetas, poliquetas e ao gastrópode oportunista Heleobia australis (Angonesi & Bemvenuti 1998, Rosa Filho et al. 1998). A comparação entre as características estruturais das associações de macroinvertebrados bentônicos nos distintos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul mostrou um claro agrupamento entre as unidades de hábitat da Lagoa dos Patos (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Verificou-se que as assembléias na Lagoa dos Patos encontram-se estruturadas com um maior número de características particulares (tais como guildas exclusivas, espécies exclusivas, um maior número de espécies e densidades mais elevadas), revelando ser este o estuário mais diverso e com maior abundância de organismos dentre os estudados. Estes resultados foram influenciados pela maior ocorrência na Lagoa dos Patos, de pequenos crustáceos (anfípodes, isópodes, tanaidáceos e juvenis de caranguejos e camarões) que integram guildas de organismos epifaunais raspadores ou onívoros, que ocorreram associados a fundos vegetados nas enseadas estuarinas, onde obtém hábitat, alimento e proteção. Um grande número de fatores têm sido citados como controladores da distribuição espacial e temporal da abundância e da diversidade dos organismos bentônicos em estuários (Wolff 1983, Kennish 1990). Discutindo o efeito destes fatores, Rosa-Filho & Bemvenuti (1998a) observam que as diferenças observadas na estrutura das associações de macroinvertebrados bentônicos de fundos moles das regiões estuarinas do Rio Grande do Sul, tiveram uma forte influência das características individuais de cada um dos estuários. Foi constatado, por exemplo, que a composição específica e a diversidade refletem em muito, as características biogeográficas e geomorfológicas de estuários localizados numa região temperada, mas que apresentam diferenças marcantes em termos de área total, volume, profundidades 51 máximas e mínimas e diversidade de hábitats disponíveis para colonização. Enquanto que a densidade, mostrou-se mais diretamente relacionada com fatores atuando em menor escala, como as características do substrato, a presença de vegetação submersa e às interações biológicas. O pelecípode Erodona mactroides e o tanaidáceo cego Kalliapseudes schubartii, que apresentam uma elevada abundância e importância trófica na Lagoa dos Patos, merecem destaque também como espécies endêmicas de ambientes estuarinos do Atlântico sul ocidental. Apesar da ocorrência de E. mactroides e K. schubartii em estuários do Uruguai, ao sul (Bier 1985), e na região sudeste sul do Brasil, ao norte (FUNDESPA, 1994), no que se refere aos estuários do Rio Grande do Sul, estas espécies foram encontradas unicamente na Lagoa dos Patos (Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a). Neste sentido reafirma-se a necessidade de preservar a qualidade do ambiente estuarino, haja visto que o tanaidáceo é sensível a locais com excesso de contaminação orgânica (Angonesi & Bemevntui 1999) e há indícios de que o pelecípode sofre mortalidades massivas na presença de fortes deposições de finos no substrato (Bemevnuti 1997a). O registro de elevadas densidades da macrofauna bentônica nas enseadas estuarinas do Saco do Arraial e Saco da Mangueira na Lagoa dos Patos (Bemvenuti 1997a, Rosa-Filho & Bemvenuti 1998a), podem estar relacionadas com a eutrofização detectada nestes dois ambientes (Baumgarten & Niencheski 1998). Desde os estudos pioneiros conduzidos por Pearson & Rosenberg (1978), diversos trabalhos relacionados com a macrofauna bentônica de locais contaminados por excesso de matéria orgânica, tem mostrado que nos pontos de despejo de esgotos domésticos ou industriais, que provoquem um forte enriquecimento orgânico do local, os teores de oxigênio são muito baixos e os organismos muito escassos. Próximo a estes locais, entretanto, podem ocorrer densas concentrações de organismos oportunistas de pequeno tamanho que toleram baixos teores de O2, mas exigem níveis elevados de matéria orgânica. Afastando-se deste local em direção a uma zona menos contaminada, podem ocorrer áreas eutrofizadas, na qual a abundância e a biomassa da macrofauna bentônica são mais elevadas do que em locais considerados livres de contaminação. Uma importante ponto de eutrofização do infralitoral estuarino próximo a cidade de Rio Grande é o local denominado Coroa do Boi, que constitui-se no principal efluente urbano, onde o esgoto é lançado “in natura” (Almeida et al. 1993). Em áreas 52 em que ocorre o lançamento de esgotos domésticos e industriais, no entorno da cidade de Rio Grande, estudos de diagnóstico ambiental baseados na estrutura e dinâmica das associações de macroinvertebrados bentônicos, tem comprovado o elevado grau de degradação destes ambientes (Angonesi & Bemvenuti 1999, Rosa Filho & Bemvenuti 1998c). Além do lançamento de esgotos, também as perdas de fertilizantes durante operações de descarga no Porto de Rio Grande, representam fontes adicionais para a eutrofização das enseadas estuarinas. Neste sentido, as águas do Saco da Mangueira apresentam um alto teor de fosfatos, provavelmente, provenientes das industrias de fertilizantes localizadas no seu entorno (Baumgarten & Niencheski 1998). Os efeitos antrópicos em ambientes estuarinos podem a afetar a estrutura e dinâmica das associações bentônicas, a partir da alteração do hábitat dos organismos (Levinton 1995). Estas alterações podem apresentar efeitos agudos, como a destruição dos hábitats pelo aterro de marismas, a ocupação de planos de águas rasas, a erosão ou assoreamento de áreas costeiras ou a dragagem de canais. Outro tipo de impacto desta natureza, pode ocorrer pela fragmentação dos hábitats, quando o ambiente é fragmentado em parcelas, como pode ocorrer com os fundos de macrófitas ou planos de águas rasas. A fragmentação em hábitats menores cria novas “bordas”, que poderão modificar a estrutura da comunidade ao atrair novos colonizadores. Um outro tipo de impacto antrópico, geralmente associado com algum tipo de contaminação crônica, manifesta-se através da degradação dos hábitats, que é talvez a mais comum das formas de desestruturação das comunidades em estuários. O aporte de nutrientes ao aumentar o fitoplancton altera as estreitas associações de macroalgas ou gramínes submersas (Levinton 1995). Também substâncias tóxicas, ou um excessivo aporte de matéria orgânica, ao reduzir os teores de O2, tendem a eliminar determinadas espécies e simplificar a composição específica das comunidades. As atividades humanas nos estuários podem determinar efeitos agudos, os quais são identificados pelas marcadas alterações que causam nas espécies, associações de organismos ou no hábitat. Entretanto, experimentos de recolonização do substrato, mostraram que algumas as espécies dominantes na associação de macroinvertebrados bentônicos, como o poliqueta Laeonereis acuta, apresentam uma rápida capacidade de recolonização (menos de 20 dias) de substratos defaunados na Lagoa dos Patos (Bemevnuti 1997a). Este fato determina cautela na interpretação de eventuais impactos antropogênicos sobre o sistema, pois efeitos agudos sobre o ambiente 53 podem estar sendo mascarados pela rápida capacidade de retorno dos organismos à condições anteriores à perturbação (Bemvenuti 1997a). Um outro tipo de efeito de ação mais sutil, mas não menos nociva, enquadra-se nos denominados efeitos crônicos. Neste sentido a reconhecida resistência do macrobentos estuarino à perturbações ambientais (Boesch 1977, Frontier 1978), também pode mascarar o efeito de agentes contaminantes sobre as comunidades bentônicas. Neste caso uma determinada atividade deletéria, muitas vezes de magnitude relativamente pequena e de difícil percepção, pelo seu efeito contínuo, vai causando uma lenta deterioração da qualidade ambiental até um ponto de difícil recuperação para as comunidades naturais. Neste sentido, estudos voltados para a diagnose e monitoramento da qualidade ambiental são imprescindíveis para um contínuo controle de regiões em que uma forte pressão antrópica pode causar impactos negativos sobre a biodiversidade, como é o caso das regiões estuarinas sob a influência das cidades de Rio Grande, Tramandaí e Torres. Revisando os estudos relacionados com as associações de macroinvertebrados bentônicos e a contaminação de ambientes costeiros na costa sudeste-sul do Brasil, Lana (1994) observou que o atual conhecimento do bentos regional é mais do que insatisfatório, sendo inadequado para o desenvolvimento de atividades de monitoramento, uma vez que praticamente inexistem informações confiáveis e consistentes sobre a densidade, biomassa e variabilidade temporal dos invertebrados bentônicos. Este autor destaca ainda a ausência de dados sobre a variabilidade espaço-temporal da macrofauna bentônica sob condições naturais, ressaltando que este conhecimento é fundamental para a utilização de organismos e/ou assembléias de invertebrados em estudos sobre contaminação ambiental. Em relação a macrofauna bentônica nas regiões estuarinas do Rio Grande do Sul, concentram-se na Lagoa dos Patos, as melhores informações sobre a variabilidade espaço-temporal dos organismos e a estrutura das associações nos distintos hábitats estuarinos. O uso de experimentos de campo, com o teste de hipóteses de nulidade, foram sugeridos por Lana (1994) como forma de qualificar os resultados em trabalhso de contaminação na costa sudeste sul brasileira. A utilização de experimentos de campo tem se mostrado uma importante ferramenta para estudos ecológicos de ambientes aquáticos costeiros (Reise 1985). Nestes estudos, a partir de manipulações experimentais provocadas pelo pesquisador é possível avaliar como espécies ou uma comunidade respondem a determinadas perturbações. Este tipo de estudo tem sido utilizado na área 54 estuarina da Lagoa dos Patos para avaliar o impacto de peixes e decápodes predadores sobre a comunidade bentônica (Bemvenuti 1987), as interações entre os organismos no interior do sedimento e como se processa a recolonização do substrato após sua defaunação artificial (Bemvenuti 1992, 1997a). Para o monitoramento nas área estuarinas do rio Grande dos Sul, além da realização de trabalhos experimentais de campo e laboratório, sugere-se também os denominados experimentos de campo utilizando tratamentos naturais (Levinton 1995). Em abordagens deste tipo, as amostragens abrangem gradientes desde o ponto de descarga dos contaminantes até áreas consideradas não alteradas, que são utilizadas como controles do experimento. Neste sentido, vem sendo efetuado o acompanhamento sazonal da meio e macrofauna bentônica ao longo de gradientes espaciais, a partir de pontos de descarga de contaminantes (esgotos domésticos e industriais) em áreas potencialmente impactadas no entorno da cidade de Rio Grande (Rosa-Filho & Bemvenuti em preparação, Angonesi & Bemvenuti em preparação, Kraemer & Bemvenuti, em preparação). Sugere-se a mesma abordagem para os hábitats estuarinos no Complexo Lagunar Tramandaí-Armazém, sob a influência urbana de Tramandaí e no Rio Mampituba, sob a influência de Torres, cidades que no verão recebem populações de mais de 500.000 habitantes. A análise e comparação dos distintos tipos de hábitats dos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul evidenciam que as associações de macroinvertebrados bentônicos nos planos de águas rasas não vegetados, nos fundos de espermatófitas e macroalgas submersas, no infralioral estuarinos e nos canais encontram-se interligadas num processo contínuo de dependência e retroalimentação (Bemvenuti 1997a). Esta diversidade de hábitats e substratos e as sua interações constituem-se em requisitos fundamentais para a manutenção dos ambientes estuarinos como áreas de criação de espécies de um grande valor ecológico e econômico. Neste contexto, é essencial o monitoramento da meio e macrofauna nas distintas unidades de hábitat que sustentam estas associações de organismos através de estudos multidisciplinares, que façam um acompanhamento da qualidade ambiental, com especial atenção para atividades humanas que possam alterar, fragmentar ou degradar as comunidades ali estabelecidas ou o meio físico. Estes estudos devem ser efetuados, simultaneamente, nos ambientes estuarinos do Rio Grande do Sul a fim de comparar áreas submetidas a distintas pressões antropogênicas. 55 Além das proposições relacionadas com as comunidades ou associações de invertebrados, devem ser estabelecidos procedimentos para o monitoramento ambiental através da utilização de espécies indicadoras. A este respeito Pearson & Rosenberg (1978) observam que determinados grupos como anfípodes seriam mais sensíveis a contaminação por excesso de matéria orgânica, enquanto que pelecípodes teriam uma tolerância intermediária e espécies de poliquetas e oligoquetas teriam maior resistência à contaminação. Propõe-se a eleição de espécies abundantes em locais potencialmente contaminados por despejos de esgotos domésticos e industriais, tais como os poliquetas Laeonereis acuta e Heteromastus similis, para a realização de testes de tolerância a distintos níveis de toxicidade em laboratório. As respostas destas espécies deveriam ser comparadas a de outros invertebrados como anfípodes, isópodes, tanaidáceos, que mostram menor ocorrência em áreas sob contaminação ambiental por esgotos urbanos e industriais (Rosa-Filho & Bemvenuti em preparação, Angonesi & Bemvenuti em preparação). Para a efetivação de estudos de diagnóstico e monitoramento ambiental em ambientes estuarinos recomenda-se a padronização da metodologia e técnicas de amostragem para a obtenção de dados básicos, de modo a permitir a comparação de resultados entre distintas regiões. Neste sentido é recomendável: a identificação dos distintos hábitats que compõem os ecossistemas; a realização de amostragens quantitativas com a padronização dos equipamentos de coleta (“cores”, pegadores de fundo); que as amostragens nestes hábitats sejam efetuadas com a replicação dos pontos de coleta; sejam realizadas coletas simultâneas nos distintos hábitats ou estuários em estudo, de modo a permitir comparações; e a caracterização e hierarquização dos distintos fatores bióticos e abióticos naturais e antrópicos, que podem estar condicionando a estrutura e a dinâmica das associações faunísticas. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMADA, C.CW. 1998. Composição e distribuição da comunidade dos macroinvertebrados bentônicos do estuário de Tramandaí, Rio Grande do Sul, Brasil. Porto Alegre, UFRGS. 100 pp. (Dissertação Mestrado) ALMEIDA, M.T.; M.G.Z. BAUMGARTEN; P.G. KINAS & R. KANTIN. 1984. Estudo da poluição orgânica das águas nas imediações da Cidade do Rio Grande (RS-Brasil). 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