UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir das contribuições de Paulo Freire Renata Paschoalino RA: 272078 São Carlos 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO Relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir das contribuições de Paulo Freire Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos, orientado pela Professora Dra. Maria Waldenez de Oliveira. Renata Paschoalino RA: 272078 São Carlos 2009 2 Agradecimentos Ao Daniel e ao Heitor, pelo carinho, apóio e incentivo. À minha mãe Maria José, com carinho. À minha professora orientadora Maria Waldenez de Oliveira, por ter representado uma referência importante durante minha formação universitária. Agradeço gentilmente a Fabiana e a Raquel, que muito contribuíram para a realização deste trabalho. Agradeço à Rosa e a Elenice, pela participação na banca. 3 Resumo Este trabalho teve como objetivo compreender a construção de relações dialógicas entre professor e aluno na sala de aula a partir da teoria da ação dialógica de Paulo Freire. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica de trabalhos que tratam sobre o tema e também entrevistas com duas professoras que tiveram formação e atuam na perspectiva do referencial teórico da dialogicidade de Paulo Freire. Os resultados mostram a dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferece propostas para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. Palavras chaves: relação professor-aluno, sala de aula, diálogo. 4 Sumário Apresentação..................................................................................................... 6 Trajetória da estudante.................................................................................. 6 Quem foi Paulo Freire.................................................................................... 7 Revisão bibliográfica (2007-2008/09)............................................................ 8 Questão da pesquisa e objetivos................................................................. 13 Referencial teórico.................................................................................................. 14 Ação dialógica......................................................................................................... 15 Ação anti-dialógica................................................................................................. 18 Relação professor aluno na sala de aula................................................................. 20 Metodologia...................................................................................................... 24 Análise dos dados............................................................................................... 26 Considerações finais....................................................................................................... 36 Referências bibliográficas.............................................................................................. 38 Anexos................................................................................................................ 40 Resultados da revisão bibliográfica. .............................................................. 41 Modelo de Termo de consentimento das professoras.................................. 44 Roteiro de Entrevista...................................................................................... 45 5 Apresentação Este tema de pesquisa originou-se em experiências que vivenciei durante estágios no curso de Pedagogia em escolas da rede municipal junto às crianças de diferentes faixas etárias, podendo perceber a dificuldade de entendimento, de diálogo e respeito que havia entre elas e seus professores. Essas relações entre professores e alunos se mostravam conflituosas, nas quais ambos eram desrespeitados enquanto seres humanos. Alguns professores verbalizavam que para educar era necessário estabelecer uma prática autoritária, traduzido como falar com as crianças em voz alta, brava, estabelecer uma hierarquia entre eles e os alunos. Alguns profissionais lidavam com os alunos a partir de uma categorização das crianças entre aquelas que já sabiam e eram consideradas capazes de aprender e aquelas que eram excluídas. Ao comentarem sobre estas situações, os professores com os quais pude conversar diziam que muitas crianças tinham “famílias desestruturadas”. Durante uma conversa informal houve o seguinte relato: “fulano é repetente, já foi para o NAI (Núcleo de Atendimento Integrado), a professora do ano passado não alfabetizou, agora não dá mais tempo; tenho que ensinar as outras crianças e ele não vai conseguir aprender mesmo”. Esse quadro me inquietava por se tratar de relações conflituosas e me trazia a questão sobre porque as crianças eram tratadas dessa forma? Seria por serem menos favorecidas economicamente? Buscava interagir considerando o que já havia estudado sobre a dialogicidade de Paulo Freire que traz considerações sobre relações mais humanas, democráticas e dialógicas, podendo perceber a dificuldade de entendimento e compreensão que estava sendo estabelecida na sala de aula. Qual o impacto de uma prática pedagógica que corrobora com a negação do respeito, do diálogo? Quais as conseqüências de uma relação professor-aluno em que há desqualificação, como se algumas, crianças significassem menos que outras. A partir dessas experiências o presente Trabalho de Conclusão de Curso tornouse uma oportunidade para estudar a dialogicidade baseada em Paulo Freire a fim de aprofundar meus estudos acerca da construção de outros tipos de relações que valorizem a humanização das pessoas. A escolha do referencial teórico de Paulo Freire está atrelada às considerações que este autor oferece sobre a ação dialógica durante sua carreira como educador, tornando-se uma referência muito importante, nacional e internacionalmente, pelas suas grandes contribuições à educação em geral. 6 A partir das informações obtidas no site1 do Instituto Paulo Freire torna-se possível expor uma breve apresentação acerca do autor. Paulo Freire nasceu em Recife no dia 19 de setembro de 1921. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltado tanto para a escolarização como para a tomada de consciência crítica da realidade. Publicou várias obras que foram traduzidas e comentadas em vários países. Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores que se alfabetizaram em 45 dias. Suas atividades foram interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou sua prisão. Exilou-se por 14 anos no Chile. Com sua participação, o Chile recebeu uma distinção da UNESCO, por ser um dos países que mais contribuíu para a superação do analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Suíça, cria o IDAC (Instituto de Ação Cultural), que assessora diversos movimentos populares, em vários locais do mundo. Retornando do exílio, Paulo Freire continuou com suas atividades de escritor e debatedor, assumiu cargos em universidades, como também ocupou o cargo de secretário Municipal de Educação da prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina, do Partido dos Trabalhadores (PT). Faleceu em 1997 deixando grandes contribuições para a educação nacional e internacional. 1 Centro de referência Paulo Freire: http://www.paulofreire.org/Crpf/WebHome. 7 Revisão bibliográfica Para buscar informações sobre outros trabalhos científicos que tratam sobre a temática desta pesquisa, foi realizado um breve levantamento acerca da produção científica sobre o tema: “A construção de relações dialógicas na relação professor-aluno na sala de aula”, sobretudo na área da educação. Este estudo recorreu às publicações de 2007 a 2008 disponíveis nas seguintes fontes: RBE - Revista Brasileira de Educação, na ANPED - Associação Nacional de Pesquisa em Educação a partir do Grupo de Trabalho GT/06 de Educação Popular e no Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores e no banco de teses e dissertações vinculado ao IBICT - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia. A busca se orientou pelas seguintes palavras chaves: relação professor-aluno em sala de aula, diálogo/dialogicidade e Paulo Freire, considerando o ensino infantil e as séries iniciais do ensino fundamental na RBE, ANPED e IBICT. Os artigos oferecem elementos para compreender o cotidiano escolar e a partir deles refletir acerca da construção de relações dialógicas na sala de aula. Na Revista Brasileira de Educação, considerando o ano de 2007, encontra-se um total de 39 artigos publicados. Em dois destes, encontra-se o tema relação professoraluno em sala de aula. O primeiro artigo, de Sommer (2007) trata da relação professor aluno visando problematizar conceitos que circulam na escola de ensino fundamental nos últimos anos, a fim de identificar as implicações no ordenamento das salas e na regulação das práticas docentes sendo fundamentado pelo discurso foucaultiano. Fischer (2007) expõe a relação professor-aluno atrelada à mídia, às máquinas de imagens e práticas pedagógicas na prática escolar, visando criar um saber fazer como ferramenta diferenciadora para pensar de outro modo a realidade que vivemos. Um dos artigos analisados refere-se ao diálogo, no qual Souza e Motta (2007) tratam sobre o espaço destinado à oralidade na pedagogia da EJA - Educação de Jovens e Adultos; estudam até que ponto o discurso pedagógico promove ou reprime o diálogo – interação. Nas referências bibliográficas, Paulo Freire aparece em 4 dos 39 artigos analisados e estão em anexo na página 42, que não tratam do tema desta pesquisa. Considerando a RBE referente ao ano de 2008, há 34 artigos disponíveis. Entre os 34 artigos pesquisados, há quatro que tratam sobre relação professor aluno em sala de aula. O primeiro trabalho de Pais (2008) lança a hipótese sobre a violência 8 protagonizada por alguns alunos nas escolas como sendo máscara, dado a ocultar formas de violência a que esses jovens se encontram sujeitos cotidianamente, oferecendo elementos para a reflexão da relação professor-aluno na sala de aula. O artigo de Albuquerque, Morais e Ferreira (2008) trazem contribuições para reflexões acerca da relação professor-aluno por analisar como as práticas de leitura e escrita se concretizam atualmente na sala de aula, tendo como eixo a investigação da fabricação do cotidiano escolar por professoras alfabetizadoras. Silva (2008) investiga a questão da relação do professor-aluno acerca do saber matemático atrelado às práticas educativas e da importância da didática na formação de professores do ensino fundamental de 1º a 4º série. Entre os 34 artigos, dois tratam sobre o diálogo: Fleuri (2008) ressalta o diálogo de Freire. O autor retoma conceitos de Michel Foucault para indicar como os processos de resistência podem se configurar como formas de rebeldia ou delinqüências. Trata da construção da democracia na escola e indica, por fim, as propostas pedagógicas de Freire e Freinet para a superação dos dispositivos disciplinares. Junior (2008) traz o estudo acerca do cinema na conquista da América sobre um filme e seus diálogos com a história, referindo ao diálogo, mas não baseado em Freire. Paulo Freire aparece em 5 dos 34 trabalhos considerando as referências bibliográficas que estão anexadas na página 42, já que não tratam sobre o tema desta pesquisa. Pode-se concluir através da pesquisa realizada na Revista Brasileira de Educação durante o ano de 2007 e 2008, que dos 73 artigos analisados, seis tratam da relação professor-aluno na sala de aula e três tratam sobre diálogo. Destes 73 artigos analisados, nove utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Na ANPED, a busca se orientou a partir da reunião anual do Grupo de Trabalho GT/06 de Educação Popular e no Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores. No GT/06 de Educação Popular, na 30º reunião anual de 2007, de 19 artigos analisados, quatro tratam sobre o tema diálogo. Brayner (2007) oferece apresentações de diferentes concepções do diálogo a partir de diferentes autores, entre eles Paulo Freire. Em seguida faz uma breve avaliação pedagógica em torno do diálogo. Kavaya (2007) aborda uma discussão mirando a experiência de Freire com o mundo africano. Refere-se ao ato dialógico na busca de caminhos que levem a tomada de consciência. Neves (2007) expõe uma experiência em uma escola pública rural da cidade do Rio de Janeiro avaliada pelo seu bom 9 desempenho das notas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Aponta questionamentos sobre o ofício docente e conduz reflexões sobre a cultura escolar, nas maneiras de ensinar de seus professores e de aprender de seus alunos visando compreender o cotidiano escolar. Pinheiro (2007) trata da universidade e das camadas populares como sendo um diálogo necessário, sem recorrer às contribuições de Freire. Quatro entre os 19 trabalhos analisados, tratam da relação professor aluno em sala de aula. Oliveira e Santos (2007), oferecem contribuições acerca da cultura amazônica em práticas de educação popular. Neves (2007), que faz uma pesquisa atrelada ao trabalho do professor em um contexto rural. Bedin (2007), que expõe a escola como magia da criação ressaltando as éticas que sustentam a escola pública. Menezes (2007), que levanta questionamentos sobre a interdição que fazem com nossas crianças. Trata sobre o poder sobre as vidas e o discurso que dele nasce. Entre os 19 trabalhos, dez usam Paulo Freire nas referências bibliográficas que estão em anexo na página 43 já que não tratam do tema desta pesquisa. No GT/06 de Educação Popular, na 31º reunião anual de 2008, de 10 artigos analisados, um trata sobre a relação professor-aluno na sala de aula: Silva (2008) parte de uma visão de educação numa perspectiva freireana articulando com o conceito de cidadania. Visa compreender como educadores e educandos se educam para o reconhecimento e respeito das diferenças e potencialidades. Entre os 10 artigos, um trata sobre diálogo: Sampaio (2008) analisa as relações de poder e a possibilidade de diálogo, visando trazer contribuições para a prática pedagógica. Seis entre os 10 artigos analisados, utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas que estão disponíveis em anexo na página 43. Pode-se concluir através da pesquisa realizada na ANPED durante o ano de 2007 e 2008 no GT-06 de Educação Popular, a qual soma-se um total de 29 artigos analisados, temos entre eles, cinco que tratam diálogo. Cinco tratam da relação professor-aluno em sala de aula. Entre os 29 trabalhos, 16 utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. No Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores, a 30º reunião anual de 2007, encontra-se um total de 24 artigos, sendo que 3 tratam o tema relação professor-aluno na sala de aula que foram os seguintes: Araújo (2007) expõe discussões acerca do corpo na condição docente, pelas interações entre docentes e discentes, nos espaços da escola e da sala de aula. Albuquerque (2007) apresenta razões da 10 (im)possibilidade de inovações na prática pedagógica de alfabetização em decorrência da participação dos docentes em formação continuada. Araújo (2007) aponta para uma investigação a fim de tornar evidente o processo do pensamento do professor atrelado a ação pedagógica em sua atuação na sala de aula. Entre os 24 artigos, um trata do diálogo, no qual Miranda (2007) investiga o mal estar do professor frente à criança tida como problema. Ressalta que existe na realidade escolar um conflito produtor do mal estar, o que induz as professoras a aprisionar alguns alunos no estatuto das impossibilidades escolares nomeados pelos professores como os desinteressados, indisciplinados, agressivos e sem limites. A autora indaga sobre as competências destes mestres. Entre os 24 artigos analisados, Paulo Freire aparece em quatro referências bibliográficas que estão em anexo na página 43, porém, não tratam do tema desta pesquisa. No Grupo de Trabalho GT/08 de Formação de Professores, a 31º reunião anual de 2008, encontra-se um total de 18 artigos, sendo que 2 tratam da relação professoraluno na sala de aula, no qual um entre esses dois também se refere ao diálogo: Chaluh (2008) trata do processo de formação na escola de ensino fundamental, colaborando com o trabalho pedagógico de duas professoras em sala de aula. Discute a complexidade do cotidiano escolar. Pensa na formação do outro como desencadeador do processo formativo pautado na importância do diálogo e da alteridade baseada em Bakhtin (1992). Monteiro e Nunes (2008), analisam o trabalho docente em escola do campo em classes multisseriadas. Entre os 18 artigos analisados, dois utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas que estão anexados na página 43 e não tratam do tema desta pesquisa. Vale ressaltar através da pesquisa realizada no GT-08 de Formação de Professores referentes ao ano de 2007 e 2008 as seguintes conclusões: soma-se um total de 42 artigos analisados, quatro tratam da relação professor-aluno na sala de aula. Dois tratam sobre o diálogo. Seis utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Pode-se concluir que o índice de trabalhos que utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas entre os anos de 2007 e 2008 no GT de educação popular é maior que no GT de formação de professores, pois entre os 29 artigos analisado no GT 06, 16 usam Freire nas referências bibliográficas, enquanto no GT de formação de professores Freire aparece em seis trabalhos entre os 42 trabalhos analisados. 11 A pesquisa realizada no banco de teses e dissertações vinculado ao IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia durante os anos de 2007 a 2009 oferece contribuições para o tema desta pesquisa. Sua realização guiou-se por grupos temáticos contendo três palavras chaves em nível de pesquisa avançada que foram as seguintes: Sala de aula (resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino fundamental (resumo). Encontram-se 23 trabalhos disponíveis. Entre eles, quatro tratam sobre sala de aula. Poffo (2007) refere-se à construção de autorias acerca de olhares para os movimentos de produção textual em sala de aula. Wilerich (2007) traz reflexões acerca da autoridade na sala de aula no ensino superior. Machado (2007) oferece contribuições sobre a produção escrita na sala de aula. Pereira (2007) trata sobre a interação na sala de aula a partir de conceitos baseados no letramento e na alfabetização no primeiro ciclo do ensino fundamental. Dois trabalhos tratam sobre a relação professor-aluno: Pacheco (2008) expõe o processo de ensino-aprendizagem de matemática e a relação entre professores e alunos no ensino fundamental. Medeiros (2008) trata sobre a afetividade na prática educativa entre professores e alunos. Entre os 23 trabalhos, 11 artigos utilizam Freire nas referências bibliográficas que estão anexados na página 43 por que não trazem relações com o tema desta pesquisa. Outra pesquisa realizou-se pelas seguintes palavras chaves: Sala de aula (resumo), relação professor-aluno (resumo) e ensino infantil (resumo). Encontram-se dois trabalhos disponíveis sobre a busca e ambos tratam da sala de aula. O primeiro refere-se a uma dissertação de mestrado de Luz (2008). Tal pesquisa versa sobre a relação professor aluno em sala de aula e foi realizada em uma escola particular de Goiás no contexto de duas turmas de jardim de infância. Teve por objetivo obter indicadores das subjetividades envolvidas na relação professor-aluno vinculado ao processo de ensino e aprendizagem como um todo. Tassoni (2008) visa identificar a afetividade na dinâmica interativa da sala de aula, envolvendo alunos em quatro diferentes momentos do processo de escolarização. A intenção é discutir o papel da afetividade neste processo, identificando suas diferentes formas de manifestação, demonstrando o processo de transformação pelo qual ela passa. Fundamenta-se na abordagem histórico-cultural, discutindo a natureza social dos processos psíquicos, o entrelaçamento entre processos afetivos e cognitivos, como também a perspectiva de desenvolvimento que os acompanha. 12 Entre os dois trabalhos encontrados, nenhum dos trabalhos analisados faz referências a Paulo Freire. O próximo grupo temático foi pesquisado a partir das seguintes palavras chaves: Paulo Freire (Resumo), diálogo (resumo) e sala de aula (resumo). Encontram-se sete trabalhos disponíveis. Entre eles, quatro tratam sobre o diálogo: Lomar (2007) em sua dissertação de mestrado estuda o diálogo na prática docente buscando conhecer como o diálogo situado na prática educativa em sala de aula é compreendido por professoras de uma escola pública do município de São Paulo, na qual está sendo implementado um projeto de educação em tempo integral, segundo a perspectiva dialógica de ensino. Gicoreano (2008) faz um estudo acerca da caracterização do diálogo significativo na sala de aula. Santos (2008) salienta o dialogismo e o letramento para perspectivas para a leitura significativa na educação de jovens e adultos. Batista (2008) ressalta a mediação do diálogo e da reflexão na prática do supervisor pedagógico no município de São Bernardo do Campo. Após a revisão bibliográfica, com o estudo na íntegra de artigos, dissertações e teses selecionados que estavam mais relacionados à pesquisa, foi possível identificar que há uma carência de estudos que tratam sobre a relação professor aluno em sala de aula a partir da perspectiva dialógica pautada na perspectiva de Paulo Freire. Considerando um total de 149 trabalhos analisados na RBE, ANPED e IBICT, apenas 42 tratam acerca das palavras chaves vinculadas ao tema desta pesquisa. Um entre os 149 trabalhos analisados refere-se ao tema de construções dialógicas na sala da aula a partir das contribuições de Paulo Freire. O trabalho é de Lomar (2007) que estuda o diálogo na sala de aula em uma escola pública. Frente aos dados encontrados no decorrer da pesquisa, pode-se concluir que Paulo Freire está citado em 49 referências bibliográficas considerado os 149 trabalhos estudados. Cabe ressaltar que os estudos de Paulo Freire oferecem uma aplicabilidade muito grande acerca de diferentes temas, podendo perceber que o autor é muito citado em diferentes trabalhos. Espera-se que este estudo possa contribuir para a reflexão acerca da dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferecer propostas para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. 13 Referencial teórico: Este capítulo tem por finalidade oferecer contribuições teóricas para que se possa compreender a construção do diálogo na relação entre professor e aluno na sala de aula a partir de uma educação problematizadora, que visa à humanização das pessoas, a transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. Compreender como o diálogo pode ser construído na relação professor-aluno na sala de aula implica ressaltar a concepção de educação para Freire. Para o autor (1987), a finalidade da educação está atrelada ao desenvolvimento do processo de humanização das pessoas, que se efetiva através do diálogo, já que este se constitui como elemento fundamental para a humanização. Para Freire (1987) o diálogo torna-se a essência de uma educação humanizadora2 e se constitui como um fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por meio da palavra, a partir de duas dimensões: a ação, para a transformação e não alienação e a reflexão, atrelada à conscientização crítica e não alienante. Assim, a palavra não deve ser um privilégio de poucas pessoas, mas direito de todos os homens e mulheres, já que como diz o autor: “Os homens se fazem pela palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, 1987, p.78). A seguir, haverá a análise de duas possibilidades de relações: a dialógica e a anti-dialógica. 2 Freire (1996) expõe duas viabilidades possíveis de estar no mundo: a humanização e a desumanização como possibilidades do seres humanos, inconclusos e conscientes de sua inconclusão. A Humanização é a vocação inata das pessoas como ser mais, às vezes negada pela injustiça, exploração, opressão e violência dos opressores e a desumanização como a distorção da humanização, não como destino dado, mas como resultado de uma ordem injusta que gera muitas desigualdades. 14 Ação Dialógica Freire (1987, p.93) ressalta o diálogo como “o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo”, Desenvolve uma pedagogia baseada no processo de conscientização crítica da realidade. Para o autor, a essência de uma educação problematizadora, humanista e crítica pode ser construída pelo compromisso entre as pessoas, que se efetiva pelo amor, pela humildade, pela fé nos homens, pela esperança, pelo pensar crítico, pela conscientização crítica da realidade. Dessa forma, Paulo Freire refere-se ao amor: ao próximo, à vida, ao mundo como elemento fundamental para que haja o diálogo, essencialmente realizado na tarefa entre os sujeitos, pautado por uma relação harmoniosa, livre de qualquer tipo de dominação, opressão, injustiça e de manipulação. Trata a humildade para aprender com os outros. Assim, valoriza os saberes escolarizados e não escolarizados de todas as pessoas, já que todas sabem muitas coisas, sendo necessário para isto, romper com valores estereotipados como de superioridade, de dono de verdades e de saberes, que por vezes, se relaciona com as pessoas como ser superior, auto-suficiente, de maneira anti-dialógica, dominadora e opressora. Propõe uma relação horizontal entre companheiros para a pronúncia e transformação do mundo. Trata da necessária fé nos homens, em seu poder de fazer e refazer-se, em sua vocação para ser mais. Por isso salienta o diálogo como uma ferramenta imprescindível nas relações humanas, que atrelada à esperança se pautam em uma eterna busca de restaurar a humanidade esmagada pelas injustiças sociais, econômicas, educativas, entre outras. Significa participar e fazer a própria história como ser histórico, capaz de reconhecer os condicionamentos que estão postos na realidade, buscando transformá-los criticamente. Refere-se ao ser humano - homem e mulher, dialógico, crítico, capaz de fazer, criar, transformar como um poder dos homens, mesmo que por vezes negado em situações concretas. O pensar crítico não aceita a dicotomia mundo/pessoas, pois capta a realidade como processo em constante devenir e não como algo pré-estabelecido. Opõe-se criticamente ao pensar ingênuo que vê o tempo histórico como um peso, pré-dado pelo destino já escrito, pautado na acomodação e adaptação. Já o pensar 15 crítico requer a transformação permanente da realidade para a permanente humanização das pessoas. Frente a isso, Freire (1996) expõe um grande desafio a tarefa humanista e histórica: superar a contradição entre opressor-oprimido, já que muitas vezes, o oprimido tende a hospedar em si a ideologia do opressor, de um dia se parecer com ele, aderir seus costumes, gostos, etc. Ressalta a necessidade de uma conscientização crítica da realidade, na qual o oprimido precisa descobrir-se nessa relação e entender que o opressor é quem mantém essa dicotomia de desumanização, de injustiças e exclusões, sendo necessário superá-las a partir de uma relação humana, dialógica e democrática. Essa conscientização permite colocar em discussão o status quo, abrindo o caminho à expressão das insatisfações sociais, econômicas, culturais, das situações de opressões, etc. A teoria da ação dialógica supõe uma conscientização da realidade para combater o naturalismo que desconhece a historicidade do ser humano como fazedor de sua própria história. Implica a convicção de que a mudança é possível e necessária para a transformação das inúmeras desigualdades que nos cercam. “A construção de relações dialógicas sob os fundamentos da ética universal dos seres humanos, enquanto prática especifica humana implica a conscientização dos seres humanos, para que possam de fato inserir-se no processo histórico como sujeitos fazedores de sua própria história”. (FREIRE, 1996, p10.) Com essa descoberta crítica da realidade torna-se viável reconhecer a desumanização como realidade histórica. “A conscientização é um compromisso histórico (...), implica que os homens assumam seu papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece (...), está baseada na relação consciênciamundo,”. (FREIRE, 1996, p.12) Como salienta Freire (1996, p19) “Só torna viável o homem novo pela superação da contradição entre opressor-oprimido, que significa a libertação de todos”. 16 Dessa forma, uma relação dialógica entre professores e alunos na sala de aula está vinculada à concepção de educação humanizadora que permite a tomada de consciência crítica da realidade como seres históricos. Para Freire, (1996), ser dialógico implica “tornar-se ético para uma verdadeira dialogicidade”, faz parte da natureza humana e supõe uma escolha política entre as pessoas, que unidas, compartilham de um mesmo sonho, de uma mesma utopia, de interesse comum para que juntas possam construir uma sociedade justa e igualitária. Implica a luta pela restauração dos direitos roubados, pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação. Lomar (2007) a partir de seus estudos em Freire salienta que através do diálogo o homem ultrapassa sua condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito crítico frente aos condicionamentos sociais, culturais, econômicos, entre outros, porém, consciente de suas possibilidades enquanto ser histórico, fazedor ativo de seu destino. Assim, a teoria da ação dialógica mostra o papel fundamental do diálogo como elemento norteador para uma educação que visa à humanização das pessoas. Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas pedagógicas de educação popular que desenvolveram na cultura amazônica. Está associada ao contexto social e emerge da expressão oral e escrita dos educandos apontando para a utilização do diálogo e da autonomia do sujeito na perspectiva freireana que norteia a prática alfabetizadora dos educadores. “O diálogo em Paulo Freire está relacionado à autonomia dos sujeitos. Ele tem significação precisamente porque os sujeitos dialógicos não apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o outro. O diálogo, por isso mesmo, não nivela, não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz ao outro. Nem é tática manhosa, envolvente, que um usa para confundir o outro. Implica, ao contrário, um respeito aos sujeitos nele engajados (Oliveira e Santos 2007, p. 118)”. 17 Ação anti-dialógica Para Freire (1996) a teoria da ação anti-dialógica está atrelada à concepção de opressores que negam a humanização e a vocação ontológica de algumas pessoas Ser Mais, mantendo um sistema manutenção de dominação e exploração entre dominadores e dominados. Freire parte da concepção de mundo considerando a existência de uma dicotomia entre opressores e oprimidos, na qual uma minoria, ou seja, os opressores detêm o poder econômico, cultural, social, etc. e também os meios para mantê-los intactos. E os outros, os oprimidos, que se vêem obrigados a se submeterem aos opressores que não valorizam seus trabalhos pagando-lhes misérias. Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, nega o acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida. O autor critica a concepção bancária da educação que considera os educandos meros receptores, sujeitos passivos de suas aprendizagens. Essa realidade doutrina e adapta a realidade como algo dado, pré-determinado que deva permanecer intocado, realizado por uma relação de opressor/oprimido, na qual o aluno torna-se mero objeto de sua aprendizagem, na qual o professor é considerado o detentor do conhecimento e os transfere aos seus alunos como um depósito. O professor, nesta concepção é o detentor da palavra, é aquele que pensa e tudo sabe para depositar nos alunos, os quais devem permanecer calados para tal recepção de informações, que deve escutar docilmente a palavra sem contestar. Esse professor não considera o conhecimento que os alunos trazem de suas experiências já vividas, o que para Freire (1996) é fundamental já que aprendemos muito por meio de nossas vivências, sendo que todas as pessoas, alunos ou professores sabem muitas coisas, diferentes e juntos podem aprofundar maiores conhecimentos. No diálogo, deve-se valorizar os conhecimentos dos educandos, considerar suas visões de mundo e jamais opor-se como dono dos saberes. A educação problematizadora fundamentada pelo diálogo tem por objetivo superar a contradição da relação de opressor-oprimido entre aluno e professor já que é chamado a conhecer e a participar da elaboração dos conhecimentos. Assim, significa que não existe um saber acabado e definitivo, mas construído junto, entre o professor e o aluno. 18 A educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o contexto em que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a libertação consciente e crítica da realidade. Segundo Freire (1983, p79) “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. O autor considera o ser inacabado, que consciente de sua inconclusão busca aprimorar-se para se tornar ser mais. Ser mais, nesta concepção só é possível quando uma pessoa reconhece a outra como ser livre, responsável, ético, esperançoso, capaz de inventar e recriar o cotidiano e não se adaptar a ele, mas se inserindo e intervindo ativamente. 19 Relação professor-aluno em sala de aula Muitos fatores influenciam as relações entre os alunos e o professor no cotidiano da sala de aula. A visão sobre o papel da educação que o professor e os alunos possuem torna-se uma orientação primordial para o trabalho desenvolvido na sala de aula. Para Freire (1987), a educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já que a educação é uma forma de intervenção no mundo. “Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados nem tampouco livres de condicionamentos sociais, econômicos, genéticos, culturais, históricos, de classe, gênero.” (FREIRE, 1996, p.38). Sommer (2007) salienta concepções postas no cotidiano escolar e traz reflexões sobre o papel do professor, como sendo o responsável por organizar o ambiente de aprendizagem, por administrar as aprendizagens dos alunos e garantir a produção da aprendizagem. Para Freire (1996), o papel do professor é de desafiador, capaz de promover a educação como prática de liberdade tem como função combater um naturalismo histórico que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria história. O professor é aquele que possui uma prática progressista que tende a desenvolver junto aos alunos uma capacidade crítica, a curiosidade para perguntar, conhecer, atuar, reconhecer, estimular a insubmissão, a indocilidade. Esse professor caminha por uma direção emancipadora, consciente de constituirse constantemente a partir de uma curiosidade epistemológica3 construída pela superação de sua curiosidade ingênua4, capaz de compreender sua função e o mundo criticamente, visando romper com “verdades” rotuladas socialmente que podem gerar preconceitos, discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os outros, pelo próprio exemplo. 3 Curiosidade epistemológica, para Freire (1996) é quando a curiosidade oriunda do senso comum se reconstrói tornando-se crítica. 4 Curiosidade ingênua, para Freire (1996) são as concepções de mundo oriundas do senso comum. 20 O papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos conhecimentos das experiências que vivenciaram durante a existência. O papel do aluno, nesta perspectiva é assumir-se como ser histórico e social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Cabe reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que representam na luta contra a negação da existência humana. Juntos, professores e alunos podem perceber criticamente as razões que condicionam as situações nas quais se encontram como caminho para decisões, escolhas e intervenções. Juntos, professor e alunos ensinam e aprendem simultaneamente, conhecem o mundo em que vivem criticamente e constroem relações de respeito mútuo, de justiça, constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (Freire, 1996, p.38). A prática educativa na sala de aula está vinculada à afetividade, a alegrias, ao domínio de conscientização acerca dos condicionamentos, assim como de suas possíveis transformações. Outro fator imprescindível é a comunicação dialógica na sala de aula: que implica também no silêncio. Quem tem o que dizer deve saber que não é o único que tem, de forma a sempre incentivar, questionar e desafiar o outro que digam, respondam, participem. Implica disponibilidade para a escuta, com pleno direito de discordar, de se opor, de se posicionar e debater por meio de argumentos. O diálogo não reduz um ao outro, nem se torna um favor que um faz ao outro, ao contrário, implica respeito fundamental dos sujeitos neles engajados. Para Freire (1992), o diálogo, enquanto relação democrática é a possibilidade que dispomos de interagir ao pensar dos outros, para não fenecer no isolamento, já que o diálogo tem significação quando estamos juntos uns com os outros. Durante a pesquisa bibliográfica realizada no IBICT, encontra-se uma tese de Gicoreano (2008) que traz muitas contribuições para entender a relação professor-aluno em sala de aula. O autor expõe as dificuldades que encontrava enquanto professor de física no ensino médio. Relata as dificuldades do dia a dia na sala de aula, como falta de 21 interesse, indisciplina, falta de participação, alto índice de reprovação, etc., levando-o a desenvolver sua tese intitulada “uma caracterização do diálogo significativo na sala de aula”, a fim de trazer contribuições para essa relação dialógica entre professor aluno na sala de aula. Este autor tomou como base uma perspectiva de análise construtivista, fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sóciohistórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do trabalho docente. Identificou em diferentes momentos a construção desse diálogo/não diálogo, as dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao seu trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores externos intervenientes. Gicoreano (2008), a partir de seus estudos sobre o dialógo, propõe a construção de uma nova identidade ao professor na sala de aula: focaliza-o como sendo um alguém em constante construção, alguém que aprende enquanto ensina, já que considera que a docência vai além do diploma da graduação, como um processo continuo e eterno. Precisa torna-se criterioso acerca do conteúdo, do que pretende ensinar, de sua concepção sobre o assunto; deve criar condições para o diálogo, incentivar e valorizar ações para a participação dos alunos. O professor deve estar preparado para lidar com as idéias que trazem seus alunos, coordená-las e ajudá-los na construção de uma linguagem comum, que, no caso, é a da ciência. Para Gicoreano (2008) o aluno também precisa reconstruir seu papel enquanto estudante: o aluno, de receptor e passivo deve passar a ser sujeito ativo e consciente de sua aprendizagem, que interage com seu professor na construção de seu saber. Precisa ir, buscar, perceber e descobrir. Tende a assumir e ter um compromisso com seu aprendizado e acreditar que a escola é importante para sua formação, consciente que aprender demanda muito esforço e dedicação. A compreensão de diálogo adotado pelo autor fundamenta-se nos pensamentos de Paulo Freire e Martin Buber. Segundo estes dois autores, a educação, estando a serviço do processo de humanização, não pode se fazer sem diálogo, já que este consistiria na atitude essencial humanizadora, por meio da qual o homem ultrapassa a condição de objeto e realiza-se plenamente como sujeito. O trabalho de Lomar (2007) indica a necessidade de se aprofundar a concepção de educação dialógica junto a professores, reafirmando seu caráter ao mesmo tempo 22 libertário e calcado em uma autoridade responsável e responsabilizadora em relação aos educandos. O trabalho está inserido num contexto de ensino-aprendizagem onde sobressaem de início a falta de interesse, falta de participação e de motivação, a indisciplina e, principalmente, a aprendizagem insuficiente por parte dos alunos. Participando de um projeto de formação contínua de proposta construtivista há cerca de seis anos, o autor pode acompanhar a evolução das professoras participantes e suas dificuldades na sala de aula. Foi adotada uma perspectiva de análise construtivista, fundamentada nas idéias de Vygotsky sobre o desenvolvimento e a construção sóciohistórica do saber e de Paulo Freire sobre a construção e constituição do saber e do trabalho docente. Assim, o autor identifica em diferentes momentos na construção desse diálogo/não-diálogo, dimensões do trabalho docente: a conduta do professor frente ao seu trabalho, a conduta do professor frente ao aluno, avaliação do ensino e fatores externos intervenientes. Suas conclusões apontam para uma instabilidade no estabelecimento e manutenção do diálogo por parte das professoras, sendo que os fatores sociais e organizacionais a que os protagonistas do processo de ensinoaprendizagem estão sujeitos contribuem de forma decisiva para a manutenção ou a quebra da dialogicidade na sala de aula. Oliveira e Santos (2007) tratam sobre o conceito do diálogo a partir das práticas pedagógicas. O diálogo com os educandos adquire uma dimensão metodológica no trato pedagógico da cultura amazônica. O papel do educador é compartilhar o conhecimento e a cultura de forma interdisciplinar, respeitando os saberes e as manifestações culturais dos educandos. A metodologia utilizada pelos educadores está centrada no diálogo, no incentivo às expressões orais e escritas dos educandos por meio de temas sociais e de interesses dos educandos e, também, por meio de músicas, de dramatizações, poemas, leituras de textos e passeios a pontos turísticos da cidade de Belém. Cabe salientar através dos estudos em Paulo Freire e também das leituras oriundas da revisão bibliográfica que tratam mais especificamente sobre o tema deste trabalho, a contribuição que a construção de relações dialógicas oferecem para obter melhorias na relação professor-aluno na sala de aula, como possibilidades de participação acerca de uma relação mais humanizadora. 23 Metodologia O procedimento metodológico utilizado foi a entrevistas sendo realizadas com duas professoras da rede de ensino publico a partir do referencial teórico de Paulo Freire. A entrevista esteve vinculada a um roteiro estruturado com 25 questões que foram conversadas entre as professoras e a pesquisadora que está em anexo na página 46. O registro da entrevista deu-se pelo uso de um gravador. As entrevistas foram transcritas pela pesquisadora para a análise dos dados tendo como base o referencial teórico de Paulo Freire. As professoras entrevistadas foram as seguintes: uma trabalha junto a uma turma de terceiro ano do ensino fundamental, a outra professora trabalha com educação de jovens e adultos, também equivalente ao primeiro e segundo ano do ensino fundamental. As duas são professoras da rede de ensino de uma escola de periferia da cidade de São Carlos. O critério para a escolha das professoras guiou-se pelas que trabalhassem na perspectiva da teoria da ação dialógica de Paulo Freire na sala de aula. A primeira professora foi indicada por uma colega que trabalha com o referencial teórico de Paulo Freire no NIASE - Núcleo de investigação social e educativa, sendo um grupo de pesquisa vinculado a Universidade Federal de São Carlos que trabalha, entre outros, com a teoria da ação dialógica de Freire. Contatei a professora e expliquei sobre o trabalho que estou desenvolvendo, convidando-a para participar de uma entrevista. A segunda professora entrevistada foi indicada por minha professora orientadora do trabalho de conclusão de curso vinculada ao grupo de pesquisa Praticas Sociais e Processos Educativos, que tem entre outros autores de fundamentação teórica, a do Paulo Freire. A professora entrevistada tem formação no referencial teórico de Paulo Freire e o utiliza em sua dissertação de mestrado e também atualmente em sua pesquisa de doutorado. Para a realização da pesquisa foi utilizado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado em comum acordo entre cada uma das professoras e a pesquisadora. 24 O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido prevê que medidas de proteção e sigilo das informações coletadas, na medida em que as duas professoras terão as informações que as identificam preservadas, sendo utilizados nomes fictícios de Daiana e Janaina. O Termo explicita que as participantes são convidadas e aceitaram participar da pesquisa, com direito a verificar a análise dos dados, a sinalizar se está de acordo ou não, sendo possível modificá-lo. As entrevistas foram realizadas no dia 19.10.2009 com a professora Janaina na escola onde é professora em uma sala que estava disponível com duração de 1:30 minutos e no dia 21.10.2009 com a professora Daiana na Universidade de São Paulo – USP, campus São Carlos, em frente à biblioteca com duração de 1:30 minutos. Após a transcrição das entrevistas, as professoras leram as análises feitas pela pesquisadora e as aceitaram. As duas professoras contribuíram na revisão do texto. 25 Análise dos dados A análise de dados foi feita com base em entrevistas realizadas com duas professoras. Uma delas chamaremos pelo nome fictício de Janaina. Sua formação escolar ocorreu sempre em escola pública desde o ensino fundamental, depois pelo curso de magistério CEFAM - Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério, graduação em Pedagogia e o mestrado. Sua experiência como docente iniciou-se logo que terminou o CEFAM. Durante o primeiro ano da faculdade fez estágio no primeiro e segundo ano do ensino fundamental em uma escola pública de uma escola particular. Durante a graduação, participou de atividades de contação de história na biblioteca da UFSCar - Universidade Federal de São Carlos. Também desenvolveu atividade de tertúlia dialógica. Foi onde começou a conhecer Freire e a buscar relações mais dialógicas. No final do ano de 2005 começou a fazer estágio no NIASE – Núcleo de Investigação Social e Educativa vinculado a UFSCar, onde aprofundou os estudos em Paulo Freire. Em 2007 trabalhou como professora na educação de jovens e adultos. Durante o mestrado trabalha com o tema da diversidade cultural e as práticas de ensino e aprendizagem. Desde o início de 2009, a professora Janaina trabalha com uma turma do terceiro ano de uma escola pública de ensino fundamental. Atualmente é aluna do curso de mestrado da UFSCar. A outra professora entrevistada será identificada pelo nome fictício de Daiana. Sua formação escolar ocorreu sempre em escola pública. Fez o ensino fundamental em uma escola municipal na periferia de São Paulo e o ensino médio em uma escola estadual bem próxima de São Paulo, em Itapecerica da Serra. Fez graduação em pedagogia na UFSCar com formação na área das séries iniciais. Fez curso de mestrado em educação no PPGE/UFSCar. Atualmente é aluna do curso de doutorado da mesma universidade. Suas experiências como docente iniciaram-se na graduação. Desenvolveu um trabalho de extensão realizado em casas noturnas, no qual conversava com prostitutas sobre educação, direitos humanos e direitos da mulher, sendo esse seu primeiro contato com o referencial de educação dialógica para estudar essa temática da prostituição. 26 Daiana trabalhou na escola CAASO – Centro Acadêmico Armando Salles de Oliveira, como professora de educação de jovens e adultos. Também trabalhou como professora de língua portuguesa no cursinho popular chamado Palmares. É professora efetiva de educação de jovens e adultos com uma turma em processo de alfabetização. Atualmente está afastada da atividade docente por estar cursando pós-graduação no curso de doutorado. A partir da análise dos dados da pesquisa é possível ressaltar alguns fatores que possibilitam a construção de relações dialógicas em sala de aula nas relações entre professores e alunos. Um fator importante que favorece a construção de uma prática dialógica na sala de aula está vinculado com a visão que o professor atribui ao papel da educação. Na perspectiva dialógica, segundo Freire (1987), o papel da educação deve estar a serviço da humanização das pessoas, já que a educação é uma forma de intervenção no mundo. O diálogo é a essência dessa educação humanizadora que se constitui como um fenômeno essencialmente humano, realizado pelas pessoas por meio da palavra. Essa educação problematizadora desafia o aluno a compreender criticamente o contexto em que vive, já que a educação possui papel imprescindível para a conscientização crítica da realidade para promover a libertação. A professora Daiana ressalta sua visão de educação como sendo um processo contínuo: “a gente aprende ao longo da vida, a gente tá sempre ensinando e sempre aprendendo, um com o outro. Então as histórias de vidas, as estratégias que eles criam, para decodificar os números, como eles fazem para pegar um ônibus se não sabem ler. Acho que a educação é isso, é a gente aprender com o outro e você (a) se dispor a isso. É o que move o ser humano, desde que a gente nasce”. A visão que o professor atribui ao papel da educação como um processo em constante formação e aprendizagens possibilita compreender a maneira de se relacionar e desenvolver o trabalho em sala de aula junto com os alunos, implicando uma postura dialógica. A análise dos dados explicita que outro fato que se mostra importante para a construção de uma prática dialógica está atrelado à concepção que o professor tem sobre o papel político de ser docente. 27 A professora Daiana relata: “O que me motiva é buscar um pouco dessa idéia da transformação mesmo. Por que é tão difícil a gente tentar transformar o mundo, o país. A gente sempre pensa no macro, né. A gente acaba caindo na idéia da impotência mesmo. Ser professor é uma forma que tenho de tentar buscar essa minha transformação ali, na minha relação com os alunos mesmo. Quando eles começam a ler as primeiras palavras, isso é uma coisa que me motiva. De estar ali e auxiliar o aluno nesse processo de aprendizagem, de descoberta, da palavra, da escrita, dos números. Eu acho que então, ali, no dia a dia da escola, se a gente não consegue transformar o mundo, a gente consegue pelo menos transformar aquele micro. Aquele espaço que a gente tem ali. Se a gente se relaciona com o outro só tentando ensinar, ou, se propondo a aprender, por que isso é fundamental, quando você se coloca para aprender com o outro, você percebe que a relação melhora, se você ta ali só para ensinar, você percebe que o aluno se distancia, também. Estabelecer essas relações de uma forma mais tranqüila é uma coisa que me motiva. Na escola com os alunos do EJA eu tento estabelecer esse vínculo, de conhecer o outro e também se mostrar. Por que você também aprende muito com eles”. A professora Janaina explicita sua visão política de ser educadora: “Acho que é o sentido, gosto muito da profissão, de estar junto com as crianças, de poder trocar experiências, da gente poder construir algumas coisas juntos, poder estudar, rever, e acho que deslumbrar que um dia eles tenham elementos para sair dessa situação social desfavorável. Muitos têm dificuldades para sonhar, pensar o que quer ser quando crescer. É muito complicado pensar que uma criança de 7 e 8 anos não tem perspectiva de vida. Claro, eu acho que sozinhos eles não vão fazer nada… mas posso contribuir de alguma maneira e essa é uma forma como eu me realizo pessoalmente porque é uma profissão que eu gosto, e uma forma de estar ajudando eles, também um papel social que posso cumprir e fazer. Pensando que posso estar facilitando alguns caminhos”. É possível refletir sobre o impacto da ação do professor enquanto mediador do processo de ensino e aprendizagem, consciente de seu papel político responsável por desenvolver uma prática dialógica e esperançosa capaz de promover transformações como forma de intervenção no mundo. Significa optar pela luta (que é fundamental) em exercer seu ofício, seu dever, consciente dos condicionantes sociais, econômicos, etc., mas esperançoso enquanto ser histórico fazedor de sua própria ação. Paulo Freire nos alerta sobre isso: “Nem somos, mulheres e homens, seres simplesmente determinados, nem tampouco livres dos condicionamentos genéticos, culturais, sociais, históricos, de classe, gênero, etc” (1996, p.38). 28 Outra questão analisada refere-se à concepção que o professor atribui à função de ser professor, sendo uma consideração relevante na construção de uma prática dialógica na sala de aula. Para Freire (1996) o papel do professor está atrelado à concepção de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar condições para sua construção. Significa reconhecer que juntos, alunos e professores aprendem na sala de aula, já que todos trazem muitos conhecimentos das experiências escolares e não escolares que vivenciaram durante a existência. O papel do professor é de desafiador (Freire, 1996), capaz de promover a educação como prática de liberdade, de combater o naturalismo histórico que desconhece a historicidade do homem como fazedor de sua própria história. O professor é aquele que possui uma prática progressista que tende a desenvolver junto aos alunos uma capacidade crítica, a curiosidade para: perguntar, conhecer, atuar, reconhecer, estimular a insubmissão, a indocilidade. A professora Janaina atribui um significado sobre esta perspectiva de sua visão sobre o papel do professor: “cabe a ele, apresentar, conduzir algumas coisas, como também tentar vincular com o que ela (criança) pensa. Por exemplo, vamos estudar mamífero, e pensar, o que vocês acham que seja? Conhecer o conhecimento das crianças. Não basta dizer se está certo ou errado, mas ver o porquê a criança acha aquilo, ver como está no livro, e no fim fazer uma própria definição do que entendeu, construir juntos o próprio conceito. Para que aprendam, dominem isso e ao mesmo tempo que a gente construa coisas novas. Eles precisam ter domínio do que foi construído historicamente, do domínio do cálculo, da leitura, da escrita… Assim, é um papel político, nas suas escolhas, nas prioridades. De pensar que preciso dar os conteúdos mais pensando na vida em que vivemos, de mundo, de vida”. A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do professor: “O papel do professor é do despertar a motivação no aluno para que esteja sempre buscando aprender e repassar. Na sala do EJA tem muito isso, eles se ajudam, cooperam bastante. Mas na sala de EJA o aluno que sabe sempre quer ensinar o outro. E como na sala tem níveis diferentes, o que tá mais adiantado ajuda o outro. Existe uma cooperação bem forte entre eles. Talvez por terem passado por momentos de preconceitos, exclusão. Acho que o papel do professor é isso, é criar essa cooperação na sala de aula e motivar os alunos pra que eles estejam sempre buscando mais conhecimento”. 29 A visão sobre o papel que o professor tem de sua função favorece a construção de uma prática dialógica, já que o professor se reconhece como parte do processo e não como o detentor do saber. Nesta concepção professor é aquele que faz a mediação para a construção do conhecimento. Nesta perspectiva, tende a combater uma prática autoritária que perpassa pela visão de que tudo sabe pautado pela crença de depositar o conhecimento aos seus alunos, que devem permanecer calados sem contestar. Para Freire (1996), esta realidade é extremamente desumanizadora, pois nega o acesso aos direitos essenciais das pessoas para com a vida. Outro fator preponderante na relação professor e aluno está atrelado à concepção que o professor tem sobre o papel do aluno. Para Freire (1996) o papel do aluno está em assumir-se como ser histórico e social, como ser pensante, comunicante, transformador, criador e realizador de utopias. Capaz de reconhecer-se como ser histórico, cultural consciente das possibilidades que representam na luta contra a negação da existência humana. Na mesma perspectiva a professora Janaina reconhece o papel do aluno como sendo: “Um agente, não é passivo. Ele tem que estar ali o tempo todo. E esse estar ali não é de falar, por que tem crianças que são tímidas, que você vê que elas interagem de uma outra forma. Mas de sentir, de perceber que eles estão ali. Muitos só vão dizer dependendo da postura que a gente tem”. Eu procuro sempre me policiar para tentar compreender que ele é um ser muito amplo, do que ele traz, de suas experiências, da vida dele que podem ajudar na sala de aula. Claro, claro que eu os vejo como estudantes e como companheiros também, por que quando a gente fica junto, senta junto, quando pergunta, a gente percebe que eles sabem muitas coisas, muitas coisas“. A professora Daiana, acrescenta sua visão sobre o papel do aluno: “O papel do aluno é dos dois lados. É também motivar o professor. Porque quando o professor prepara uma aula e chega à sala de aula e percebe que os alunos se envolvem, se motivam, ele também se sente motivado para continuar fazendo isso. Agora, quando o professor chega na sala de aula e os alunos não se envolvem, não participa, ai o professor vai desanimando também. Acho que o papel do professor e do aluno é um motivar o outro. Estarem junto procurando conhecer mais, um com o outro“. 30 O papel do educando nesta perspectiva dialógica é assumir-se como sujeito ativo de sua aprendizagem, consciente da possibilidade de inserir-se no processo histórico e promover transformações. A professora Daiana exemplificou uma situação que vivenciou com um aluno: “Eu sempre tento dar esse apoio, para que eles possam expressar o que eles pensam. Acho que a idéia é fazer com que o aluno participe um pouco mais nas diferentes instituições, que consiga verbalizar seus sentimentos, sua relação dia-a-dia, com a família, com os amigos. Alguns retornam e falam, olha professora, foi bom falar daquele assunto, a minha mulher tava querendo trabalhar e eu achava que não era bom. Mas talvez seja bom sim. Acho que nesse diálogo eles vão conseguindo ver, e a transformação é isso, a gente não transforma o mundo, mas a gente transforma a relação na família, são essas pequenas coisas mesmo. Para além dos conteúdos de português, matemática, ciências, mas todos os conteúdos que a gente trabalha, são uma forma que a gente tem de melhorar o dia-a-dia deles. Por exemplo, muitas alunas que são empregadas domésticas, elas falam, olha professora vindo na escola e conversando a gente consegue até conversar e dialogar com a patroa, que as vezes oprime a empregada.” O papel do aluno, nesta perspectiva, demonstra-se fundamental para a construção de práticas dialógicas na sala de aula. Paulo Freire (1996) ressalta que é possível que, juntos, professor e alunos ensinem e aprendam simultaneamente, conheçam o mundo em que vivem criticamente e construam relações de respeito mútuo, de justiça, constituindo um clima real de disciplina, por relações dialógicas, tornando a sala de aula um desafio interessante e desafiador a todos os envolvidos. Outra questão analisada trata das dificuldades encontradas no cotidiano escolar. A construção de práticas dialógicas é feita diariamente e perpassada por momentos de tensões, dúvidas, já que se trata de um processo em contínua construção. Para a professora Janaina, o mais difícil é a questão da disciplina. “Com as crianças é pensar que agora eu sou o adulto da relação. Eles são muito pela forma que eu me comporto. Eles não são daquele jeito, mas é o jeito que eles estão sendo. Então eu tenho que me policiar, não posso me alterar, tenho que ser o menos contraditória possível. Por mais que eu pense em uma educação libertadora, às vezes eu tenho práticas que estão ligadas às práticas que as minhas professoras tiveram comigo. Então tenho que me desprender disso, é um exercício e quando me dou conta, já estou fazendo isso, e me pego falando e como se elas tivessem que só ficar ouvindo, caladas”. Outro exemplo de dificuldade que a professora Janaina expõe é o seguinte: 31 “Por que você só consegue fazer diálogo com quem quer fazer diálogo. Por exemplo, uma menina achou alguma coisa e o menino dizia que era dele. Ai ela falava que achou no chão e que achado não é roubado. Então, mas achado é quando você não encontrou o dono e ele ta dizendo que é dele e ela não queria devolver. E ela não tinha razão, mas não entendia. Ela disse, mas daqui a pouco você vai querer que eu de minhas coisas para os outros. Mas nossa, eu não disse isso”. As dificuldades encontradas pela professora Daiana estão relacionadas com a questão das faltas: “Os alunos são pessoas com idade acima de 40 anos. E não tem problema de indisciplina. Eles são bem disciplinados, não tem aquela euforia, correria que tem com as crianças. Eles chegam sentam lá e ficam quietinhos. Quando terminam a atividade começam a contar contos da vivência, da infância. Acho que faz parte desse processo de estimular a verbalização, a participação. No geral sai muitas histórias que a gente dá risada. Alguns dizem que já viram o lobisomem, histórias fantásticas. Um começa a falar e o outro complementa e fala o que pensa. Acho que faz parte da aprendizagem deles e minha. Consigo perceber um tema que posso trabalhar a partir dessas histórias”. “Muitos alunos trabalham e muitas vezes eles têm que deixar a escola. Por exemplo, arrumam um bico e voltam depois de três meses. Existe muito essa mobilidade. Isso é uma dificuldade. Outra dificuldade é a diversidade de níveis. Preparar atividade quase que individualmente. O aluno da EJA não tá muito preocupado com o diploma, mas preocupado em aprender a ler e escrever, então, tudo bem, professora, eu já estourei de falta, mas vou continuar vindo”. . A construção de práticas dialógicas entre os professores e alunos na sala de aula é feita no dia a dia, sempre frente a novos desafios e conflitos a serem resolvidos. Para isso, a possibilidade de diálogo contribui significativamente para o entendimento ético entre as pessoas envolvidas. O diálogo tem sua significação não apenas com sua identidade, mas a defendem e aprendem um com o outro. Freire (1992) ressalta que o diálogo por isso mesmo não nivela e não reduz um ao outro. Nem é favor que um faz para o outro, implica, ao contrário, um respeito fundamental dos sujeitos neles envolvidos. A professora Janaina expôs o seguinte ponto de vista: “Então eu saio da classe, eu saio da sala, sabe… No começo eu tentei conversar com eles. Então no começo eu via quando não estava bem, eu entreva na relação e eles respondiam do jeito que eu entrava na relação. Eu me via assim, querendo impor, por que perdia a paciência. Não você vai devolver para o menino, dai as crianças choravam, fazem manha, se 32 joga no chão, perde o controle da situação. Por que são 20 contra 1. Então, normalmente eu saio da sala”. A professora Janaina relata que às vezes é difícil: “Às vezes eu fico muito (tensa). Por exemplo, um menino que está bem atrasado em relação aos outros, ele me olhou e me disse, - to cansado de você, você só pega no meu pé. -Puxa vida, fiquei em casa um tempão, preparando, hoje ele vai sair (dessa situação) e ele me da uma dessa. Acho que nesse momento o mais importante é poder contar com minhas colegas de trabalho, de poder no intervalo sentar e conversar. Tem professores muito mais experientes. Dai elas dizem, não liga, é assim mesmo, ele fez isso pra te provocar. Ele já ta cansado”. Nas práticas dialógicas, as dificuldades serão resolvidas por argumentos e não por relações de opressão. Mesmo frente a situações conflituosas, de dificuldades, o dialogo é a ferramenta que possibilita a busca pelo entendimento, pelo esclarecimento dos pontos de vista, passa por reflexões, que se transformam em novas ações, em novos conhecimentos, em novas formas de resolver as situações do cotidiano. Outro fator relevante para a construção de práticas dialógicas entre professor e alunos na sala de aula está atrelado aos impactos dos condicionantes sociais, econômicos, culturais, entre outros, no cotidiano escolar. A professora Janaina ressalta o impacto dos condicionamentos sociais, econômicos, políticos, entre outros e salienta a necessidade do professor não focar a atenção para essas dificuldades, mas trabalhar no sentido de promover transformações: “Claro que eles passam por muitas dificuldades, mas eu não posso fazer com que isso seja minha maior preocupação. Mas essa minha maior preocupação tem que ser assim, que eu posso ajudar eles a superar isso se eu puder que eles tenham outras possibilidades, por exemplo, se eles tiverem domínio de leitura e escrita, eles podem optar por outras coisas, outros caminhos, outras profissões, outras saídas, do que ficar sem saída né. Por que às vezes a gente cai no discurso assim, a falta de carinho, do cuidado… nisso, não desenvolve outras coisas. Acho que é muito difícil assim, saber, acho que às vezes eles precisam de carinho, sim, que você passe a mão na cabeça, que ele sinta que eu estou do lado dele. E, acho que é importante ele saber dessa questão social mesmo, que eu também venho de uma classe baixa, que eu também passei por muitas dificuldades, que eu consegui superar muitas coisas e que eles também podem, por que às vezes eles não têm uma referencia. Existem médicos que saíram da classe baixa, trazer estudantes da universidade. Dizer que não influencia, influencia, não tem como, eles trazem isso para o cotidiano. Muitas das visões que eles têm, das interpretações que eles têm da coisa vêm do ambiente que eles vivem”. 33 Pela análise dos dados, pode-se perceber que a professora Daiana reconhece os condicionamentos e suas implicações na sala de aula. Atribui importância ao fato de usar esses conhecimentos que eles trazem a partir de suas experiências para a construção de uma prática que os aproxime. “Desde o início eles já contam das histórias deles, das dificuldades que eles passaram. Então você conhece a história deles. Fica mais fácil você estabelecer uma proximidade. E uma coisa que eu acho importante nessa relação é a gente tentar se trazer próximo. Pelo fato de eu também ser migrante, filha de nordestinos, é uma coisa que me aproxima da vivência deles. O que ajuda a relação é buscar esses vínculos que nos aproximam. O que tem na minha experiência que também tem na vida desses alunos, que posso pegar como um fio condutor. Se você coloca muito o aluno como o outro, o aluno é o diferente, isso dificulta um pouco a relação, por que fica muito em pólo, eu tô do lado do professor e ele do lado do aluno. Eu sou daqui e ele é de fora, eu sou branco e ele é negro. Acho que tem que tentar buscar aproximações e não rotular o aluno como muito diferente da gente, por que ai fica difícil procurar essa esta aproximação”. Os condicionamentos trazem implicações em nossa vida cotidiana, porém, a maneira como lidamos com eles podem possibilitar transformações. Freire (1996) trata sobre o conceito de conscientização como possibilidade de abrir caminhos para as insatisfações sociais, da situação de opressão. Nesse sentido, o aluno passa a perceber que não é o culpado pela sua situação de pobreza, de preconceito, de discriminação. Começa a compreender os condicionamentos, porém, consciente de possíveis modificações, com olhares críticos e não mais ingênuos. Outra questão relevante para a construção de relações dialógicas na sala de aula está relacionada com a questão do tempo. A professora Janaina salienta sobre a organização do tempo e sobre o seu impacto na sua prática pedagógica: “Tem tanta coisa para passar, são tantas coisas, que nessa pressa, são tantas as coisas, os conteúdos, que às vezes a gente tenta fazer um caminho mais curto, né….e não é bem por ai. Um caminho que é mais duro, que leva um pouco mais de tempo em cima daquele conteúdo, o resultado é outro”. Traz um exemplo para justificar seu ponto de vista: “Por exemplo, uma coisa que me irritava… eles adoram bater figurinha... -Olha o que é que a gente vai fazer, a gente tem um problema. -Vocês adoram bater figurinha, por mim vocês poderiam, mas a gente tem que cumprir com algumas regras, alguns conteúdos, né. E ai fomos conversando e isso já tinha passado quase uma hora de aula, né. E se você pensar que ainda tem um aluno que não lê e que não 34 escreve corretamente, não produz texto, é muito tempo perdido para quem ta precisando recuperar uma defasagem de aprendizagem. Mas depois da gente conversar muito e a gente fazer combinações, resolveu o problema. Por exemplo, eles já chegam e já vão guardar as figurinhas no armário. Quem não vai almoçar, tudo bem, pode ficar na sala e bater figurinha. Voltou, vai começar a aula, eles abrem o armário e guardam a figurinha. Eles mesmos sabem que se deixar a figurinha na mesa, eles não vão resistir, por exemplo, igual deixar um bombom em cima da mesa, a gente também não vai resistir. Então tem vários acordos que é no diálogo. E é assim, se eu for impor alguma coisa a eles, ai não dá certo mesmo. Então tem que ser na conversa mesmo, eu tento explicar por que estou fazendo aquilo, procurar deixar claro para que eles entendam, né”. A construção de práticas dialógicas são feitas no cotidiano, por isso, trata-se de um processo contínuo realizado dia após dia, no modo de se relacionar, de conversar, de pensar, a prática deve ser coerente com o discurso, sem imposições, sem relações de opressão. Muito rapidamente as pessoas envolvidas podem perceber mudanças que colaboram para as relações na sala de aula. Considerações finais 35 É possível salientar como a fala das professoras Janaina e Daiana estão relacionadas com a teoria da ação dialógica de Paulo Freire. A partir dos dados analisados pode-se concluir sobre alguns fatores que possibilitam práticas dialógicas na sala de aula, realizadas entre o professor e os alunos. Entre eles é importante que o professor conheça e estude sobre a teoria da ação dialógica de Paulo Freire, já que traz contribuições para a prática docente. Entre os fatores que contribuem para a construção de relações dialógicas na sala de aula pode-se ressaltar: • A reflexão do professor sobre o papel da educação, já que na perspectiva da teoria da ação dialógica, o professor caminha por uma direção emancipadora, consciente de constituir-se constantemente, capaz de compreender sua função e o mundo criticamente, visando romper com “verdades” rotuladas socialmente que podem gerar preconceitos, discriminações e estereótipos. Sua postura ética deve ser compatível com suas palavras e práticas na sala de aula, já que aprendemos uns com os outros, pelo próprio exemplo. • A visão sobre o papel do professor e do aluno na sua prática cotidiana, já que essa visão terá conseqüências positivas ou negativas na maneira como se relaciona com o outro. • Outro fato está relacionado com a maneira que encontra para resolver os conflitos e dificuldades do dia a dia na sala de aula, já que na perspectiva dialógica, o diálogo é a ferramenta imprescindível nas relações humanas, que atrelada à esperança pauta-se na eterna busca de restaurar a humanidade esmagada e roubada. • A maneira como o professor lida com os condicionamentos sociais, econômicos, políticos, etc implica em sua prática, já que é capaz de conceber esses condicionamentos como possibilidades para a transformação da realidade. Dessa forma, como afirma a professora Daiana, “os condicionamentos não devem ser percebidos como entrave para o diálogo, como algo que distancia o professor do aluno, pois o professor que almeja dialogar com o aluno, deve buscar uma proximidade, uma maneira de pronunciar o mundo junto”. 36 • Outra questão que interfere nessa construção é a organização do tempo, já que a sala de aula exige muito diálogo, muita troca, respeito, ouvir o outro, argumentar, participar. A construção de relações dialógicas são alternativas viáveis que possibilitam transformar as relações de opressão por relações dialógicas que visam à humanização das pessoas na sala de aula, como alternativa possível para superar dificuldades do cotidiano. Assim, essa construção torna-se um desafio diante do contexto atual em que vivemos, já que muitas relações na sala de aula são construídas por relações de opressão, expressas por diferentes maneiras através de comportamentos, gestos, maneiras de ver o aluno em sala de aula, sobre o papel que o professor atribui acerca da educação, o papel do professor e suas responsabilidades enquanto um educador. O professor junto com seus alunos são os responsáveis por modificar estas relações de opressão no contexto diário da sala de aula, para um bem comum que proporcione uma educação humanizadora. Referências Bibliográficas 37 ALBUQUERQUE, E A S. Inovações e permanências na prática pedagógica: a percepção de alfabetizadoras de porto velho sobre as influências do profa. – UFSC – [email protected]. GT: Formação de Professores / n.08- 2007. ALBUQUERQUE, E. B. C. M., ARTUR, F. BRITO, ANDRÉA, T. As práticas cotidianas de alfabetização: o que fazem as professoras?. Revista Brasileira de Educação. 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Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção leitura). 38 FLEURI, R. M. Rebeldia e democracia na escola. Revista Brasileira de Educação. Dez, 2008 vol.13, no. 39, p.470-482. ISSN 1413-2478. FISCHER, R. M. B. Mídia e educação da mulher: uma discussão teórica sobre modos de enunciar o feminino na TV. Revista Brasileira de Educação., 2001, vol.9, no.2, p.586-599. ISSN 0104-026X. GICOREANO, J. P. Uma caracterização do diálogo significativo na sala de aula. Tese de doutorado da Faculdade de Educação (FE) – Universidade de São Paulo. 06/03/2008. KAVAYA, M. Freire e o ondjango podem dialogar? Reflexões sobre o diálogo de Freire com o ondjango africano / angolano – UFPEL – [email protected]. GT: Educação Popular / n.06 - 2007. LOMAR, T. P. O diálogo na prática docente. PPGE em psicologia da educação. PUCSP. 2007. LUZ, C. L. Formação de professores, subjetividade e relação com crianças de educação infantil. 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Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em educação pela Universidade de Blumenau- FURB- 2007. 40 Resultados da revisão bibliográfica Na Revista Brasileira de Educação, considerando o ano de 2007, encontra-se um total de 39 artigos publicados, sendo que nas referências bibliográficas, Paulo Freire aparece em quatro dos 39 artigos analisados. Esses quatro artigos tratam respectivamente sobre um curso de formação de professores oferecidos em uma instituição de ensino em Belém do Pará, no qual Coelho (2007) tem por objetivo compreender qual lugar ocupa a questão racial na formação de professores, visando indicar os modos pelos quais a questão étnico racial se apresenta no sistema educacional do estado do Pará. O artigo de Souza (2007) tem como temática compreender os conhecimentos educacionais construídos nas teses e dissertações que focalizam a educação e/no movimento dos trabalhadores rurais – MST, durante o período de 1987 a 2007. O trabalho de Souza e Motta (2007) trata da oralidade na pedagogia do EJA. E o quarto trabalho de Araújo (2007), no qual a autora estuda os desafios emergentes para a educação on-line. Considerando a RBE referente ao ano de 2008, encontra-se 34 artigos disponíveis. Paulo Freire aparece em cinco dos 34 trabalhos considerando as referências bibliográficas. Entre os cinco estão os seguintes: Santos (2008) versa sobre a transdiciplina em educação baseada em cinco princípios denunciando a insuficiência dos princípios tácitos na estrutura organizacional. Loureiro (2008) faz uma análise no norte de Portugal acerca de um estudo das organizações não governamentais de desenvolvimento local atrelado à prática educacional de adultos. Ferreira (2008) trata das reformas educacionais, a formação e subjetividade dos professores. O trabalho de Fleuri (2008) trata da construção da democracia na escola e indica as propostas pedagógicas de Freire e Freinet para a superação dos dispositivos disciplinares. O artigo de Thiesen (2008) traz o estudo da interdisciplinaridade como movimento articulador no processo de ensino-aprendizagem. ANPED no GT/06 de Educação Popular, na 30º reunião anual de 2007, de 19 artigos analisados dez usam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Entre eles estão: Brayner (2007) diferentes concepções sobre o diálogo a partir de diferentes autores, entre eles, Paulo Freire. Backes (2007) analisa o lugar da cultura no GT de educação popular da ANPED. Kavaya (2007) trata sobre uma experiência de Freire com o mundo africano. Godinho (2007) trata das experiências formais e não formais na trajetória 41 formativa da educação de jovens e adultos na perspectiva da educação popular. Streak (2007) traz em pauta o pensamento de José Marti. Oliveira e Santos (2007) tratam sobre a cultura amazônica em prática pedagógica de educação popular. Moita (2007) faz um estudo sobre os jogos eletrônicos considerando o contexto cultural curricular juvenil de saber de experiência feito. Paula (2007) estuda os dilemas e contradições de projetos de educação não formal com a educação popular acerca de reflexões sobre a prática e os saberes. Batista (2007) traz reflexões acerca da educação no campo junto à realidade camponesa. Zucchetti e Moura (2007) tratam sobre a educação não escolar e a universidade atrelada a necessárias interlocuções para novas questões. No GT/06 de Educação Popular, na 31º reunião anual de 2008, de 10 artigos analisados. Seis entre os 10 artigos analisados, utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Entre eles pode-se destacar: Paiva (2008) traz reflexões acerca de sobrevivências sendo crianças e adolescentes em situações de rua junto a educadores sociais. Pavan (2008) analisa as contribuições de Paulo Freire para a educação popular a partir de uma pesquisa realizada no GT de educação popular na ANPED. Sampaio (2008) discute as relações de poder e as possibilidades de diálogo, visando oferecer contribuições para a prática pedagógica. Paula (2008) estuda sobre a educação popular em uma brinquedoteca hospitalar. Silva (2008) visa compreender como educadores e educando se educam para o reconhecimento e respeito das diferenças e das potencialidades e limites. Brayner (2008) traz reflexões a partir de Hannah Arent por uma educação popular pela recuperação da ação e do senso comum. Entre os 24 artigos analisados no GT-08 de 2007, Paulo Freire aparece em quatro referências bibliográficas: Fontana (2007) analisa a prática da pesquisa e sua relação teórica e prática no curso de Pedagogia. Santos e Mazzilli (2007) fazem reflexões acerca da formação de educadores sem terra de um estudo de caso. Correia, Bonifácio e Nunes (2007) refletem sobre o curso de capacitação de professores de informática como possibilidades de mudança na prática docente. Delboni (2007) trata sobre a formação continuada por áreas curriculares como possibilidades e limites de constituírem-se como comunidades interpretativas. Entre os 18 artigos analisados no GT-08 de 2008, dois utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas. Entre eles, podemos destacar Brasileiro (2008) que versa sobre a autobiografia e a formação docente em Rondônia visando à busca de uma identidade profissional e Monteiro e Nunes (2008) que exploram os modelos formativos 42 e as dificuldades vividas na formação continuada de professores de classes multisseriadas no campo. No IBICT, Urmersbach (2007) traz reflexões sobre a exclusão escolar. Rodrigues (2008) versa sobre os jogos eletrônicos para consumo consciente. Poffo (2007) refere-se à construção de autorias acerca de olhares para os movimentos de produção textual em sala de aula. Wilerich (2007) traz reflexões acerca da autoridade na sala de aula no ensino superior. Machado (2007) oferece contribuições sobre a produção escrita na sala de aula. Barbosa (2007) salienta a educação planetária a partir de reflexões sobre os saberes dos professores de escolas estaduais. Farias (2008) expõe seu trabalho acerca da avaliação de aprendizagem na prática docente de professores de história no ensino fundamental do sistema estadual de ensino. Silva (2009) expõe estudos sobre a prática docente nos cursos pré-vestibulares. Pacheco (2008) expõe o processo de ensino-aprendizagem de matemática e a relação entre professores e alunos no ensino fundamental. Cury (2007) refere-se à mediação docente no ensino da leitura e da escrita no primeiro ano do ensino fundamental. Pereira (2007) trata sobre a interação na sala de aula a partir de conceitos baseados no letramento e na alfabetização no primeiro ciclo do ensino fundamental. Somam-se um total de quatro trabalhos que não tratam especificamente sobre os temas selecionados nesta pesquisa, entre eles pode-se destacar: Albuquerque (2008) traz estudos acerca de propostas do ensino de eletromagnetismo no nível médio. Melo (2008) ressalta a prática do professor de matemática permeada pela utilização da calculadora. Guimarães (2007) trata sobre a representação social dos professores sobre o aprender sobre o uso de tecnologia digital. Andrade (2008) refere-se ao estudo sobre o adoecimento dos professores e as repercussões na prática docente. Cabe salientar que três trabalhos de pesquisa não estavam disponíveis para consulta on-line: Molina (2008), Pereira (2008) e Fumo (2009). Os outros três textos utilizam Paulo Freire nas referências bibliográficas, porém, não tratam especificamente sobre o tema desta pesquisa. São os seguintes: Freitas (2009) refere-se à formação de professores acerca das relações interpessoais a partir de um estudo em São Bernardo do campo. Antonelli (2009) versa sobre os saberes das professoras bem sucedidas. Altenhofen (2008) refere-se a atividades contextualizadas nas aulas de matemática para a formação de cidadãos críticos. Cabe ressaltar que dos sete trabalhos analisados, todos utilizam Paulo Freire nas referências bibliográfica. 43 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 1- Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Contribuições de Paulo Freire: A construção de relações dialógicas entre professoraluno na sala de aula.”. 2- Você foi selecionado/a por conhecer o referencial teórico de Paulo Freire e ser professora do ensino fundamental. Sua participação não é obrigatória. 3- Os objetivos deste estudo são para contribuir para a reflexão acerca da dialogicidade na sala de aula entre professores e alunos e também oferecer propostas para a construção de ações dialógicas que visam à humanização das pessoas, a transformação de relações de opressão em relações democráticas, de diálogo, solidariedade, de amor ao próximo, ao mundo e a vida. 4- Sua participação nesta pesquisa consistirá em fazer uma entrevista com cerca de uma hora a partir de um roteiro de questões para serem refletidas a partir de suas experiências em sala de aula. 5- Você terá direito a esclarecimentos, antes, durante e após a entrevista. 6- Você terá direito de receber uma cópia prévia da análise da entrevista para ver se esta de total acordo, podendo modificá-la se for o caso. 7- A qualquer momento você pode desistir de participar desta pesquisa. 8- As informações obtidas serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Nome e assinatura do pesquisador Endereço e telefone Assinatura do sujeito da pesquisa Local e data 44 Entrevista TCC 1. Quem é o professor? 2. Qual é sua formação? 3. Qual é o tempo que atua? 4. Quais foram às experiências que teve na sua formação básica, na graduação, na pós? 5. Como você vê o aluno na sala de aula? 6. Como o aluno vê você? 7. Como você se move na sala de aula? 8. O que você acha que condiciona a relação professor-aluno? 9. Por que é desse jeito? 10. O que te motiva? Por quê? 11. Quando você se relaciona com seu aluno, qual é sua perspectiva em relação a ele? 12. Como os alunos se comportam com você na sala de aula? 13. E os casos específicos? Como se comportam? 14. Quando você prepara sua aula, o que você leva em consideração? 15. E as avaliações, como você planeja? Como você avalia os alunos? 16. Como você avalia o rendimento do aluno? 17. E o seu rendimento? Como você se avalia? 18. Está tudo bem, mas tem situações que você considera imatura? O que você faz? 19. Quais os momentos de tensões? 20. A utopia te coloca em cheque? 21. Como você supera as dificuldades? 22. Qual é o seu limite? Por que é limite e como você reage para superá-lo? 23. Você tem apóio da escola? De que forma? 24. Como no cotidiano você supera as contradições? 25. Na luta diária, o que é feito? 26. O que a gente pode concluir como sendo sua visão de educação? 27. E sua visão sobre o papel do professor? 28. E o papel do aluno? 29. Por favor, resuma para mim o que significa uma prática educativa? 45 46