PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SIMARA MAGALLI FERREIRA DA LUZ A CURA NAS OBRAS DE ALLAN KARDEC São José/SC Junho/2012 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ CURSO DE GRADUAÇÃO BACHARELADO E LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SIMARA MAGALLI FERREIRA DA LUZ Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel e licenciado em Ciências da Religião do Centro Universitário Municipal de São José – USJ. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira São José 2012 Para Fábio, com amor. AGRADECIMENTOS Primeiramente à força que me move e move o universo. Chamado, também, de Deus, YHWH, Javé, Olorum, Brâman, Alá, Monã... Foi por essa energia, que hoje estou aqui... Aos meus pais, que são minha base, a eles eu sei que posso recorrer; Ao meu esposo, por querer fazer parte de minha vida, e ter paciência comigo; À minha irmã pelo companheirismo de sempre, para tudo; Ao meu cunhado pelo incentivo e pela champagne; Aos meus sobrinhos, Vinícius, Nathália, Arthur e Maria Eduarda, por todas as brincadeiras e diálogos transcendentais; À Andreza pela amizade e por discutir comigo assuntos relevantes ao curso; Ao meu irmão, por me ensinar a gostar de ler; À professora Marivone Piana por tornar este curso possível; Ao professor Evandro Oliveira Brito, por toda a ajuda recebida; Ao professor Sérgio Luiz Ferreira pela orientação na elaboração deste trabalho; À professora Isabel Christiani Susunday Berois por sua dedicação, e sensibilidade; Ao professor Élcio Cecchetti por sua luta e determinação; Ao professor Adecir Pozzer pelo empenho; A professora Gisélia Antunes pela atenção; Ao professor Marcelo Oliveira que fazia os alunos não faltarem às sexta feiras; À professora Mirrian Elpo pelas aulas impactantes; À professora Clarice Bianchezzi, pelo comprometimento; Ao professor Felipe Buttelli, pelo entendimento; Ao Coordenador do Curso Diógenes Braga, pelas conquistas adquiridas em prol do curso; Aos meus amigos de curso Andréa, Antônio, Ângela, Edson e Rosi. Por serem sempre presente; Ao colega de curso Valter pela disposição em ser-me útil na elaboração deste trabalho; Aos demais professores e colegas de curso, por todos os debates, entendimentos e desentendimentos, por que esses últimos se tornam às vezes necessários para o crescimento. A todos que de uma forma ou de outra contribuíram ou torceram pela concretização deste momento. Cada um me ensinou, orientou-me, ajudou-me, instigoume, se fez de bom exemplo de uma ou diversas maneiras. Sendo importante para a minha formação enquanto estudante e mais que isso, enquanto ser. A todos me sinto grata. Permanentemente, preso ao presente O homem na redoma de vidro São raros instantes De alívio e deleite Ele descobre o véu Que esconde o desconhecido, O desconhecido E é como uma tomada à distância Uma grande angular É como se nunca estivesse existido dúvida, Existido dúvida Evidentemente a mente é como um baú E homem decide o que nele guardar Mas a razão prevalece, Impõe seus limites E ele se permite esquecer de lembrar, Esquecer de lembrar É como se passasse a vida inteira Eternizando a miragem É como o capuz negro Que cega o falcão selvagem, O falcão selvagem Se na cabeça do homem tem um porão Onde moram o instinto e a repressão (diz aí) O que tem no sótão? O que tem no sótão? O que tem no sótão? Se na cabeça do homem tem um porão Onde moram o instinto e a repressão (diz aí) O que tem no sótão? O que tem no sótão? O que tem no sótão? O que tem no sótão? O que tem no sótão? O que tem no sótão? Olho de Peixe Lenine RESUMO Não é de hoje que se percebe no Brasil a dinâmica entre o Espiritismo Kardecista e a busca de cura a males que atingem o ser humano. Males estes físico, emocional ou espiritual. Os pacientes buscam na medicina alternativa ou complementar resultados não obtidos na medicina convencional. Diante disto, o objetivo de meu estudo foi verificar como o Espiritismo Kardecista concebe a cura, as enfermidades e seus correlacionados. Quais as bases para esse entendimento, com citação nas passagens que legitimam este entendimento. Para isso elaborei uma pesquisa bibliográfica através dos cinco livros alicerce do Espiritismo Kardecista e um sexto atribuído a Allan Kardec após seu falecimento. Os livros são: O Livro dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita; O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores; O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida; O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo; A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo; e por fim: Obras Póstumas. Desta forma li, analisei, tabulei e refleti sobre a presença de passagens que se referem à cura e correlatos nos livros Espiritas Kardecistas. O resultado demonstrou que desde aquela época (1857), data do primeiro livro do Espiritismo Kardecista, já havia uma forte inclinação à essa dinâmica entre a religião e a saúde. Fato esse que se tornou intenso no Brasil, possivelmente, por diversos motivos dos quais os principais são: a carência financeira, carência do ser enquanto pessoa em um momento de fragilidade humana, a crença nesse método alternativo de cura, carência governamental que pouco olha para os seus cidadãos ou a busca de uma saída, seja ela alternativa ou complementar (ou ambos) para a cura do que lhe aflige. Desta forma conclui que o entendimento Kardecista em relação à cura, enfermidades e relacionados se faz presente desde seus primórdios e por isso há uma aproximação entre saúde e religião. Percebe-se essa aproximação nas passagens dos livros obras base do Espiritismo Kardecista onde esta relação religião/saúde se legitima. Palavras-chave: Kardecismo, Cura, Espiritismo, Kardec, Religião. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9 2 PALAVRAS INICIAIS SOBRE O ESPIRITISMO KARDECISTA ........................ 14 2.1 Manifestações Misteriosas na casa da Família Foxx.............................................14 2.2 Allan Kardec: o Codificador do Espiritismo ......................................................... 15 2.3 A Entrada do Espiritismo Kardecista no Brasil .................................................... 17 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 18 3.1 Concepção de Cura, Kardecismo: Ciência ou Religião ........................................ 18 3.2 O Espiritismo Kardecista e as Personalidades em seus Livros Base.....................26 3.3 Chico Xavier ......................................................................................................... 29 3.4 A Cura como Foco da Pesquisa............................................................................. 31 4 ANÁLISE POR LIVRO...............................................................................................37 4.1 Análise do livro: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita .............. 37 4.2 Análise do livro: O Livro dos Médiuns Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores 41 4.3 Análise do livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida. ............................................................................... 44 4.4 Análise do livro: O Céu e o Inferno ou a justiça Divina Segundo o Espiritismo.. 47 4.5 Análise do livro: A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo.. 50 4.6 Análise do livro: Obras Póstumas..........................................................................56 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 62 REFERÊNCIAS .............................................................................................................64 ANEXO 01. .................................................................................................................... 67 ANEXO 02. .................................................................................................................... 68 ANEXO 03......................................................................................................................70 9 1 INTRODUÇÃO Procuro verificar neste trabalho a cura dentro da concepção Espírita, tendo em vista que essa religião tem um lidar diferenciado em relação à questão da cura, enfermidades e processos correlacionados. Essa acepção, às dores da alma remetendo às dores do corpo, sempre me intrigou. Principalmente quando ouvia relatos de pessoas1 que passaram por procedimentos em casas de atendimento Kardecista. E muitas dessas pessoas descreviam maravilhas. Esta hora é um momento de fragilidade do enfermo, e, não raro, faz com que ele busque alternativas de cura, não aceita (ou quase não aceita) na medicina convencional. Como se fosse mais uma chance, alternativa ou, muitas vezes, o complemento do tratamento da medicina convencional. Fiz, inclusive, questão de conhecer uma dessas casas, procurando uma aproximação prática com o fenômeno escolhido por mim como tema de conclusão de curso. Desta forma, pesquisei como o Espiritismo Kardecista concebe a cura das enfermidades e seus relacionados, pontuando o pensamento de Allan Kardec seu codificador. Para isso, baseei-me em cinco obras basilares do Espiritismo Kardecista, que são O livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo, com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese: Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. E para finalizar o livro Obras Póstuma onde li, listei, analisei, tabulei e refleti, buscando o entendimento do Espiritismo Kardecista sobre a cura, dialogando com vários autores consagrados e outros entendidos neste tema. Como utilizei tradução de livros de mesmo ano de edição, para melhor entendimento classifiquei de acordo com a ordem dos surgimentos das primeiras edições França com as letras a, b e c. Acrescidos na referência. Ficando assim: Para os livros de edição de tradução de 1995. - O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita (1857) = a. - O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo (1865) = b - A Gênese os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868) = c Para os livros de edição de tradução de 1996. - O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores (1861)= a 1 Alguns colegas de curso, vizinhos, conhecidos, familiares e amigos. 10 - O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com O Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida (1864) = b O livro Obras Póstumas não foi necessário classificar tendo em vista que a edição utilizada por mim foi do ano de 2005 como nenhum outro utilizado neste trabalho. Na elaboração deste me deparei com constantes complicações. De início, o tema de meu projeto foi A Cura através do Espiritismo Kardecista no qual tinha como objetivo analisar a contribuição dos tratamentos alternativos/complementares de cura no Núcleo Espírita Nosso Lar. Seria uma pesquisa de campo. Naquele momento, eu tinha como ideia ir a campo por acreditar que essa modalidade tornaria meu TCC (Projeto de Conclusão de Curso) mais rico e preciso em informações. Para isso escolhi um Centro Espírita conceituado, localizado na Grande Florianópolis e conhecido nacionalmente que é o referido Núcleo Espírita Nosso Lar com sede em Forquilhinha. Nesta instituição inicie algumas observações exploratórias e primeiros contatos. Minhas visitas foram realizadas aos sábados, onde descobri que o ideal seria em dia de semana, inclusive, para conseguir autorização para a realização da pesquisa. Um primeiro problema tendo em vista a minha falta de horário disponível. Desta forma, em 17 de agosto de 2011 mandei um e-mail (Anexo 01), solicitando informações e autorização aos dirigentes da casa. Tentei dialogar por telefone, devido à minha falta de tempo. Mas, com educação e determinação a secretaria da casa me orientou a procurá-los pessoalmente em dia de semana. O e-mail não foi respondido. Retornei a mandar. Sem sucesso. Até que um colega meu, de curso, comentou que tinha contatos na Direção do Núcleo. Ele Fez, então, a mediação inicial. Segundo ele, os dirigentes do Núcleo estavam dispostos a me receber, mas, gostariam de ter meu projeto de pesquisa em mãos para ficar a par de meus objetivos no Núcleo. Sendo assim, tive que adiar, pois, estava, justamente, em fase de produção do projeto. Não tinha ele em mãos para a análise da Casa. Adiar e não desistir. Isso já era final de novembro de 2011. Tinha a intenção de iniciar as minhas pesquisas, de fato, no início de 2012 a fim de ter tempo hábil para concluir e apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso. Meu orientador, desta forma, passou-me como “deveres” de férias o fichamento das Obras basilares do Espiritismo Kardecista de seu codificador Allan Kardec (os cinco livros base) e mais o Livro As Variedades da Experiência Religiosa – Um Estudo sobre a Natureza Humana de Willian James. No início do mês de fevereiro, ainda durante as férias, recebi a notícia de que meu orientador, Professor Dr. Evandro Oliveira Brito, tinha sofrido um ato de covardia (Anexo 11 02), ficando impossibilitado de me orientar, tendo, inclusive, que se afastar por tempo indeterminado de suas funções na faculdade. Meu próximo orientador, professor Dr. Sérgio Luiz Ferreira, tendo assumido a minha orientação, em primeira conversa, sugeriu-me que fizesse uma pesquisa bibliográfica, tendo em vista o material (leituras e fichamentos) que eu já possuía. No que aceitei com bastante satisfação, pois, tudo, antes, demonstrou que a pesquisa em campo, embora me parecesse mais proveitosa, dependia da vontade e disposição de outros, e demandava um tempo disponível (dia útil) que eu não contava e outros pormenores... Desta forma, minha pesquisa de campo se tornou bibliográfica onde eu dispunha de uma quantidade de material e uma flexibilidade de tempo ideal para o meu cotidiano. Devo, também, descrever as diversas “dores de cabeça” que minha escolha de tema me trouxe, conforme diz Foucault (2011, p. 9), em uma sociedade como a nossa conhecemos, é certo, procedimentos de exclusão. Muitos colegas meus de curso, adeptos da religião de Kardec, não concordavam em vários aspectos que eu comentava em sala sobre o assunto. Como por exemplo, a aproximação do Espiritismo com o Catolicismo, Espiritismo religião ou não, revelações que Kardec afirma em seus livros, enfim... Talvez os olhos de meus colegas fossem olhos apaixonados. Há uma tremenda diferença emocional e prática entre aceitarmos o universo da maneira insípida e descolorida da estoica resignação à necessidade e aceita-lo com a apaixonada felicidade dos santos cristãos. A diferença é tão grande quanto a que existe entre a passividade e a atividade, entre a disposição de ânimo defensiva e a disposição de ânimo agressiva (JAMES, 1935, p. 37). No meu entender, não falei nada de mais há, está escrito, mas, eles (meus colegas) não viam desta forma. O que me causou, em princípio, um sentimento de defesa do meu ponto de análise das obras. Afinal, não li as obras na intenção de falar mal desta ou de qualquer religião e sim, simplesmente, analisá-las. Chegou-se a dizer em sala de aula que eu lia e não entendia, acreditavam que era um problema meu de interpretação. Para mim não, estava escrito, era só ler. Esta frase retirada do primeiro livro Espirita Kardecista, onde a primeira edição francesa é datada de 1857, por exemplo: O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como crença apenas por algumas pessoas? Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos (KARDEC, 1995, p. 372, a). O que se pode interpretar desta, e de outras leituras, o que esta pergunta/reposta afirma é que o Espiritismo como uma “verdade”, segundo esta religião, define-se como uma verdade 12 universal. Desta forma, o Espiritismo, assim como outra e qualquer religião, toma para si um status legitimador, acima de qualquer outra teoria religiosa. Ela se percebe como a evolução da religião, que aconteceria de qualquer maneira, seria apenas uma questão de tempo. A própria definição como terceira e final verdade humana2: sendo a primeira, Moisés; a segunda, Jesus e a terceira, o Espiritismo. Cada uma, de acordo com a época própria da humanidade. Mas, ao explanar o meu entendimento, recebi diversas críticas. Diziam que eu não tinha compreendido o conteúdo, tendo sido aconselhada, por meus colegas, a reler, novamente, as obras. Talvez, os colegas quisessem que eu visse o que eles viam. Eu não vi outra coisa, eu somente vi o que os meus olhos de análise me permitiam ver. Nada mais do que está escrito. Willian James, em As Variedades da Experiência Religiosa: Um Estudo sobre a Natureza Humana, já levantava esta questão do viver a experiência e do analisar a obra de forma menos analítica, sem os olhos da paixão. Sem querer desmerecer, nem mesmo exaltar, apenas analisar. Desta forma como escreveu James: Combinando-o com o nosso juízo existencial, podemos, com efeito, deduzir outro juízo espiritual sobre o valor da Bíblia. Destarte, se a nossa teoria do valor da revelação afirmasse que qualquer livro, para possuí-la, há de ter sido composta, automaticamente ou não, pelo livre capricho do autor, ou que não pode conter nenhum erro científico e histórico nem expressar nenhuma paixão local ou pessoal, a Bíblia, provavelmente, ver-se-ia em má situação em nossas mãos. Mas se, por outro lado, nossa teoria permitir que um livro seja uma revelação, em que pese aos erros e paixões e à deliberada composição humana, bastando que seja um registro verdadeiro das experiências íntimas de grandes almas em luta com as crises do seu destino, o veredito será muito mais favorável. Como vêem os senhores, os fatos existenciais, por si mesmos, são insuficientes para determinar o valor; e os melhores adeptos da crítica superior, nessa conformidade, jamais confundem o problema existencial com o espiritual. Com as mesmas conclusões de fato diante deles, alguns perfilham uma opinião, outros outra, sobre o valor da Bíblia como revelação, de acordo com as diferenças do seu juízo espiritual quanto ao fundamento dos valores. (JAMES, 1935, p. 17). Percebi que analisar religião não é algo muito seguro, no final resolvi calar. Não quero dizer que as experiências de meus colegas nada trazem de valor, não é isso! Concordo com James, são maneiras diferenciadas de olhar o fenômeno. Mas ambos não podem ser desprezados. O olhar científico e o olhar da experiência como fiel. Ambos existem e ambos devem ter seu espaço. A legitimação de fé de meus colegas não pode ser expressada por mim. Para mim o Kardecismo é instrumento de meu objeto de estudo que é a cura no Kardecismo segundo seu codificador. Procuro a isenção, a não emissão de juízos de valor, de modo que 2 “A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, e a terceira não tem indivíduo algum. As duas foram individuais, a terceira coletiva [...]. A terceira é o Espiritismo (KARDEC, 1995, 35,c). 13 não haja prejuízos nos meus rumos e conclusões. A autoridade da instituição religiosa aqui trabalhada, a mim não se aplica, pois meu foco é científico (JAMES, 1935, p.266). Mais uma vez, portanto, repito que aos não místicos não corre nenhuma obrigação de recorrer aos estados místicos a uma autoridade superior conferida a eles por uma natureza intrínseca. Desta forma, é nisto que se baseia a minha fundamentação e o meu entendimento, procurando responder meu questionamento inicial. Perpassando por questões que eu considerava relevante para entendimento do meu objetivo e outras pontuais que me chamaram atenção. O capítulo 01 é de introdução à pesquisa e apresenta o tema, problemas, objetivos, os procedimentos iniciais de pesquisa, os problemas enfrentados e a estrutura da pesquisa. No capítulo 02 trago a introdução do Espiritismo desde seu início com as irmãs Foxx, Allan Kardec e a chegada do Espiritismo no Brasil. No capítulo 03 pontuo questões que sempre me chamaram atenção como a concepção de cura, Espiritismo: Ciência ou Religião, depoimentos de personalidades nos livros Espiritas, Chico Xavier e meu foco de pesquisa que é a cura no Kardecismo. No Capítulo 04 trabalho a descrição dos dados coletados na pesquisa bibliográfica e uma breve análise desses e, finalmente, o capítulo 05 é de considerações finais. Fiz desta forma, uma leitura não religiosa da crença, mas, científica. E isso é o que se segue nas páginas seguintes... 14 2 PALAVRAS INICIAIS SOBRE O ESPIRITISMO KARDECISTA Tradicionalmente, os autores afirmam a forte característica entre o Espiritismo Kardecista e as práticas de cura que se fez presente no cenário Brasileiro, diferentemente no imaginado pelo seu codificador Hippolyte Léon Denizard Rivail 3. Aqui no Brasil o Espiritismo Kardecista deixou de lado o seu enfoque cientificista para abraçar, aos moldes adequados, às necessidades nacionais. Em 1857, data do surgimento do Espiritismo na França, a distância cultural, social e política desses dois países foram determinantes para entender como se processou os diferentes enfoques entre sua pátria mãe e o Brasil, país considerado hoje como principal expoente mundial do Espiritismo Kardecista (SANTOS, 2004, p.08). A França em 1857, época do surgimento do Espiritismo Kardecista, já contava com uma sociedade desenvolvida, influenciadora, experiente e pensante. Já tinha passado por revoluções, guerras e ditava teorias filosóficas como o Positivismo de Auguste Comte, base esta que o Espiritismo Kardecista tomou como princípio em sua fundamentação. A Europa, em si, estava em processo de desenvolvimento capitalista, onde a cientificidade era a palavra de ordem. Diferentemente do Brasil que, segundo alguns autores4, somente, começou a ter ares de pátria com a chegada da Família Real Portuguesa ao país em 1808 que veio fugida das tropas de Napoleão Bonaparte, coincidentemente, um imperador Francês. O Brasil de 1857 contava com apenas 35 anos de sua independência e tinha como seu produto principal a exportação do café, sua industrialização era resultante desse comércio. Seus habitantes eram, em sua maioria, índios - primeiros proprietários da terra que não se permitiram serem escravizados pelo homem branco - escravos negros vindos da África para trabalhar como mão de obra escrava e, já nesta época, imigrantes trazidos para substituir a mão de obra escrava que se tornava cada vez mais escassa devido à proibição do tráfico negreiro. A grande massa populacional nacional brasileira não era estimulada ao pensamento crítico. Havia uma educação precária e um povo carente. Em contraposição ao cientificismo europeu contestador, arrisco-me a dizer que o Brasil era um país, praticamente, constituído por analfabetos (não querendo parecer preconceituosa) A carência tendo reflexo na educação. 2.1 Manifestações Misteriosas na Casa da Família Foxx 3 Hippolyte Léon Denizard Rivail – Pedagogo francês conhecido como o pseudônimo de Allan Kardec. Propagador do Espiritismo. 4 Com base no livro 1822 - Laurentino Gomes, 2010. 15 A história do Espiritismo é anterior a Kardec, teve seu início em 1848, em Hydesville nos Estados Unidos com as irmãs Foxx, Katherine e Margaretha e mais tarde Leah. Elas afirmavam que na casa onde foram habitar em Hydesville aconteciam fenômenos inexplicáveis como batidas, passos, arranhões... Logo, procurou-se estabelecer contato com os sons inexplicáveis, atraindo pessoas curiosas, interessadas em desvendar os misteriosos fenômenos ocorridos na casa. Em dado momento, as irmãs Foxx foram acusadas de autoras dos sons. A explicação que se deu aos fenômenos era a manifestação do espírito de um homem morto na casa, cujo corpo se encontrava escondido na adega da casa antes das irmãs Foxx ali habitarem. Na época, não se descobriu o esqueleto do homem, somente em 1904, encontrou-se o tal esqueleto na parede da casa. A história das irmãs Foxx é controversa. Uma hora, as irmãs afirmavam que os fenômenos eram reais, outra hora afirmavam que não passavam de fraude. Colocavam-se, o tempo inteiro, em contradição. Pairava a incerteza sobre tais fenômenos. Fenômenos como esses não eram relatados somente em Hydesville, mas, os de Hydesville foram os mais famosos na história do espiritismo (HEERDT, 2008, p. 192). 2.2 Allan Kardec: o Codificador do Espiritismo Hippolyte-Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, era francês nascido em Lyon em 03 de outubro de 1804, desencarnou (como diz a sua crença) em 31 de março de 1869. De família católica, pedagogo, poliglota, casado, sem filhos, pertencia a uma família de juízes e advogados. Rivail foi convidado por um amigo a visitar às tais “mesas girantes e falantes” que se manifestavam e divertiam a burguesia francesa do século XIX, começando assim a história do Espiritismo Kardecista. A história do Espiritismo de Kardec teve início na França no decorrer dos anos de 1850, através dos fenômenos das “mesas girantes ou falantes”. Uma brincadeira surgida nos salões franceses que atraía os nobres da sociedade francesa. Eram mesinhas redondas sobre as quais pessoas colocavam as mãos e, instantaneamente, começavam a girar, saltar sem que ninguém assumisse tais acontecimentos. Tudo parecia magnético, os fenômenos começaram a ganhar proporções cada vez maiores. 16 Em 1855, Hippolyte Rivail5 foi convidado a conhecer as tais “mesas”. De início Hippolyte Rivail não acreditava nesses fenômenos, achava que todos os acontecimentos eram produzidos pelas pessoas envolvidas na “brincadeira” e não uma possível intervenção espiritual. Mas, logo os fenômenos começaram intrigá-lo. Notou que as respostas emitidas através daqueles objetos inanimados fugiam do conhecimento cultural e social dos que faziam parte do "espetáculo". Foi então, que ele recebeu uma mensagem de um espírito que se identificava como Verdade que dizia que ele seria o codificador de uma nova doutrina (HAMA, 2004, p. 20). Aceitou assim, a tarefa que lhe foi incumbida6. Ora, essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia-se sobre um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçada e reconduzida por um compacto conjunto de práticas como a pedagogia [...] (FOUCAULT, 2011, p. 17). Rivail passa a estudar esses fenômenos. Ficou conhecido como Allan Kardec, o codificador do Espiritismo. Quando, pelo ano de 1855, as manifestações, novas na aparência, das mesas girantes, das pancadas sem causa ostensiva, dos movimentos insólitos de objetos e móveis começaram a prender a atenção pública, determinando mesmo, nos de imaginação aventureira, uma espécie de febre devida à novidade de tais experiências, Allan Kardec, estudando ao mesmo tempo o magnetismo e seus singulares efeitos, acompanhou com maior paciência e clarividência judiciosa as experimentações e as tentativas que então se faziam em Paris. Recolheu-se e pôs em ordem os resultados conseguidos dessa observação e com eles compôs o corpo de doutrina que publicou em 1857, na primeira edição de O Livro dos Espíritos. (KARDEC, 2005, p.27). O Espiritismo tornou-se presença no Brasil, segundo Ortiz (1978), já no ano de 1853, mas, somente, em 1865 com a formação de um grupo em Salvador, tornou-se, verdadeiramente, uma religião. 5 Mais tarde passou a utilizar o pseudônimo de Allan Kardec, atribuído a um nome usado em sua encarnação anterior como druida, como eram chamados os sacerdotes do povo Celta.(HAMA, 2004, p. 21). 6 Allan Kardec foi o codificador do Espiritismo e escritor dos cinco livros bases do Espiritismo. A forma que escreveu os livros foi com o auxilio de seus irmãos que é como o espiritismo costuma classificar desencarnados (mortos), principalmente, do espírito chamado verdade. A influência dos espíritos pode ser percebida nessa passagem (e muitas outras) na página 26, ainda, na introdução do primeiro livro escrito do Espiritismo O Livro dos Espíritos: “Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou mediante evocação. “Podem evocar-se todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros, como os “das personagens mais ilustres, seja qual for a época em que tenham vivido; os de nossos “parentes, amigos, ou inimigos, e obter-se deles, por comunicações escritas ou verbais, “conselhos, informações sobre a situação em que se encontram no Além, sobre o que “pensam a nosso respeito, assim como, as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos. “Os Espíritos são atraídos na razão da simpatia que lhes inspire a natureza moral do “meio que os evoca. Os Espíritos superiores se comprazem nas reuniões sérias, onde “predominam o amor do bem e o desejo sincero, por parte dos que as compõem, de se “instruírem e melhorarem. A presença deles afasta os Espíritos inferiores que, inversamente, “encontram livre acesso e podem obrar com toda a liberdade entre pessoas frívolas ou “impelidas unicamente pela curiosidade e onde quer que existam maus instinto”. (KARDEC, 1995,26, a). 17 2.3 A Entrada do Espiritismo Kardecista no Brasil Segundo Ortiz (1978), a introdução do Espiritismo no Brasil se fez em 1853, mas, somente, em 1865 nasceu um grupo em Salvador/BA. O primeiro movimento espírita organizado (1873) foi a sociedade de Estudos Espíritas do grupo Confúcio, no Rio de Janeiro. No Brasil, a presença do Catolicismo era maciça na sociedade, crença esta estabelecida pela Primeira Constituição (1824) como religião oficial do país, a religião do império. Em contrapartida, a mesma Constituição dava margem para outros credos desde que se fizesse de forma discreta. Beneficiavam-se não somente os espíritas Kardecistas, mas, também, os protestantes que chegaram ao Brasil como mão de obra trabalhadora. Começa assim, a história do Espiritismo Kardecista do Brasil e suas diferenciações em relação a seu berço, a França. José Luiz dos Santos (2004), antropólogo estudioso e escritor do Livro Espiritismo uma religião Brasileira aponta que desde início, o Espiritismo brasileiro já demonstrava essa ênfase curandeirista, assim como afirma, também, (GREENFILD, 1999). No Brasil, além disso, com forte influência de tradições africanas, os espíritos dos mortos se dizem capazes de retornar ao mundo material e interagir com os vivos, sem se reencarnarem, mas apenas se apossando dos corpos dos médiuns. Os médiuns especiais, que recebem espíritos que na vida passada praticavam curas como médicos, cirurgiões ou outros agentes de saúde, são chamados de médiuns curadores. (GREENFILD, 1999, p. 121). Em seu livro, os relatos de tais práticas relacionadas à prática de cura ou busca dela aliada ao Espiritismo Kardecista se faz presente em todo o trajeto da religião7 no país. 7 Vale lembrar que se percebe em muitos discursos de adeptos Espíritas Kardecistas que o Espiritismo Kardecista não é religião e sim uma doutrina. Segundo o dicionário On-line Michaelis em um de seus conceitos Doutrina é conjunto de princípios em que se baseia um sistema religioso, político ou filosófico.Segundo o mesmo dicionário em um de seus conceitos religião é a crença ou doutrina religiosa, sistema dogmático e moral. Dicionário 0n-line Michaelis site: http://michaelis.uol.com.br/ disponível em: 24 de out. de 2011. Kardec em seus livros afirma que mesmo demostrando o seu viés cientificista ele também acreditava que a profissão de fé a sua crença era uma questão de tempo. Que logo mais, todos descobririam a verdadeira fé nos Espíritos, fazendo do Espiritismo kardecista a verdadeira religião de Cristo. Para exemplificar: Na frase constante no Livro A Gênese (1995 c ), páginas 45 e 136 respectivamente, “A moral que os espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão que não há outra melhor” “É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual”. No livro Obras Póstumas (2005 p. 444), A crença no Espiritismo já não será simples aquiescência, muitas vezes parcial, a uma ideia vaga, porém uma adesão motivada, feita com conhecimento de causa e comprovada por um título oficial, deferido ao aderente. Na frase do livro o Evangelho segundo o Espiritismo (1996, b) página 57: “A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outras as do mundo moral”, No livro Obras Póstumas (2005), página 338 “Deixará de haver religião e uma se fará necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador” Enfim, em muitas outras citações encontradas nos livros bases Kardecistas oque facilmente dariam um tema de trabalho de conclusão de curso. 18 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Concepção de Cura, Kardecismo: Ciência ou Religião Cura na perspectiva etimológica 8 quer dizer ação e efeito de cura, tratamento de saúde, restabelecimento, melhora, regeneração... Essa significação pode ser entendida não, somente, como a cura física. Aquela que se prova. Aquela que se vê. A palavra cura não se desenvolve em um único sentido, mas, na plenitude do ser, tanto físico, quanto espiritual, e emocional. De acordo com a teoria Kardequiana, a cura segundo o livro A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o espiritismo se processa da seguinte maneira. [...]o fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispirito, que dele não são se não transformações. Pela identidade de sua natureza, este fluido condensado no perispirito, pode fornecer ao corpo os princípios reparadores. O agente propulsor é o Espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância de seu involtório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula sã a uma malsã. (KARDEC,1995, p.294-295 c) . Essa presença “curandeirista” não perdeu foco. Pelo contrário se fortaleceu ao longo dos anos. Tendo em vista que, atualmente, existem Centros Espíritas dedicados, exclusivamente, a tais práticas, que atendem, inclusivamente, essa demanda de necessidade. Com atendimento a pacientes que buscam apoio para o os diversos males, físico, emocional, espiritual. Ortiz (1978), mostra que no Brasil o Espiritismo tornou-se, verdadeiramente, uma religião que se distancia, de certo modo, do pensamento racionalista de seu codificador Allan Kardec. O primeiro movimento espírita organizado (1873), a sociedade de Estudos Espíritas do Grupo Confúcio, no Rio de Janeiro, teve como palavra de ordem: Sem caridade não existe Verdadeiros Espíritas. O que levava à prática da homeopatia e dos passes para doentes. (ORTIZ, 1978). 8 Cura sf (lat cura) 1 Ação ou efeito de curar. 2 Tratamento da saúde. 3 Restabelecimento da saúde. 4 Emenda, melhora, regeneração. 5 Processo de curar ou secar ao sol ou ao calor do fogo (queijo, chouriço etc.). 6 Constr Molhadela repetida aplicada ao concreto, nas primeiras horas após o lançamento, para facilitar a pega. Dicionário 0n-line Michaelis site: http://michaelis.uol.com.br/ disponível em: 10 de abril de 2012. 19 Diante desta premissa, e a fim de uma aproximação com o meu objeto de pesquisa, visitei alguns Centros Espíritas Kardecistas 9e percebi que esses centros recebem pessoas dos mais variados credos e problemas de toda e qualquer enfermidade. Mas, o que faz tantas pessoas a recorrer a esses locais? Tomei esta informação em um vídeo Institucional disponível na internet do Núcleo Espírita Nosso Lar, no qual, a princípio, pretendia desenvolver este trabalho. Onde, pessoalmente, estive em 17 de setembro de 2011, tendo retornado mais algumas vezes naquele mês e no próximo. Em Nosso Lar, nós trabalhamos deste paciente. Nós tratamos o espírito do paciente. Aquela parte inteligente que ordena a mente e que ordena o corpo. Então os espíritos atuam no corpo físico através desta percepção extra sensorial que nós chamamos de mediunidade. Neste processo existe a captação de informação que o médium procura passar ao paciente, através de passes, através de envolvimento de toques, principalmente, com o seu próprio pensamento positivo, com a sua onda pensante, com o seu magnetismo pessoal e, também, com o magnetismo espiritual, ele consegue então, influenciar o ser doente para levá-lo a um estado de equilíbrio. 10 (INFORMAÇÃO VERBAL) Quando nós não conseguimos nos adaptar à realidade que temos, que somos, que estamos vivendo, nós começamos a ter problemas na compreensão, no entendimento e principalmente no ato de viver. Então começam aparecer certas avarias emocionais, energéticas, espirituais, como depressão, estado alterado de consciência, psicose, comportamento alterado em criança, em jovem em adultos e isto é tratado em Nosso 11 Lar (INFORMAÇÃO VERBAL) . São doenças mentais de uma maneira geral, transtornos obsessivos compulsivos, esquizofrenia, enfermidades tipo, Alzheimer, Parkinson e também algumas doenças. 12 Enfermidades consideradas leves, não críticas, físicas (INFORMAÇÃO VERBAL) . Para Renato Ortiz (1978), o médium Espírita Kardecista, antes de tudo, é um curandeiro. O autor aponta que o principal critério para o recrutamento de novos adeptos Espíritas Kardecistas se dá, justamente, no âmbito da busca pela cura. Sandra Jacqueline Stoll, estudiosa do assunto, ainda, completa do seguinte modo: [...] O Espiritismo se disseminou rapidamente entre os seguimentos populares. Para isso contribuiu a constituição de “centros” espíritas, que hoje se encontram espalhados por todo o país, e o desenvolvimento da atividade doutrinária associada a práticas de cunho assistencial, como a distribuição de roupas e alimentos entre famílias que vivem em favelas e nas ruas. Através destes, deu-se também a criação de 9 Centro Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, Centro Espírita Fé e Caridade ambos em Florianópolis e principalmente Núcleo Espírita Nosso Lar situado em São José. Este último com reconhecimento e visibilidade nacional. 10 José Álvaro Farias – Diretor do Núcleo Espírita Nosso Lar em vídeo disponível no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012. 11 José Álvaro Farias – Diretor do Núcleo Espírita Nosso Lar em vídeo disponível no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012. 12 Dr. Airson Stein – Neonatologista atendente do Núcleo Espírita Nosso Lar em disponível no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=hW2D90UVU6I. Disponível ás 00:13 de 06 de maio de 2012. 20 inúmeras instituições filantrópicas, cujas ações estão voltadas, principalmente ao atendimento a doentes, idosos e crianças. Os espíritas também se destacam na prática de cura. Além dos “passes” e da atividade receitista, as chamadas “cirurgias espirituais” consistem uma das formas mais conhecida de divulgação doutrinária. (STOLL, 2003, p. 51). Mas será que essa ênfase na cura observada em solo brasileiro atendia às pretensões do Espiritismo Francês idealizado pelo seu codificador Allan Kardec? Habituando um inter-discurso marcado pela crença prometeica em uma ciência redentora, o espiritismo reconhecia, evidenciando suas afinidades com o positivismo, o papel de uma elite de sábios, capaz de dirigir os destinos da humanidade, acorde com as leis da natureza, apreensíveis pelos cientistas. Daí o autor saudar ao mesmo tempo, a “graciosa igualdade dos homens” e a existência de uma distinção “firmada em seus reais merecimentos” (ISAIA, 2011, p.119). Certo a preocupação de Kardec em se firmar como ciência. Todos os livros base Kardecistas demonstram em diferenciados e constantes momentos. Para exemplificar, sem parecer tedioso, apenas escolhi uma citação de cada livro base do Espiritismo partindo do primeiro livro ao último. O Livro dos Espíritos: Princípios da Doutrina Espírita: Se tal fenômeno se houvesse limitado ao movimento de objetos materiais, poderia explicar-se por uma causa puramente física. Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos da natureza, ou todas as propriedades dos que conhecemos: a eletricidade multiplica diariamente os recursos que proporciona ao homem e parece destinada a iluminar a Ciência como uma nova luz. (KARDEC, 1995, p.17 a). O Livro dos Médiuns: Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores: Só com o tempo e o estudo se adquire o conhecimento de qualquer ciência. Ora, o Espiritismo, que entende com as mais graves questões de filosofia, com todos os ramos da ordem social, que abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é em si mesmo, uma ciência, uma filosofia, que já não pode ser aprendidas em algumas horas como nenhuma outra ciência. (KARDEC, 1996, p. 32, a). O Evangelho Segundo o Espiritismo: O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e aprova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda a ciência com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhes os meios de as combater. Quando a ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos frequentes serão os seus maus êxitos. (KARDEC, 1996, p. 51, b). O Céu e o Inferno – Ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo: Os fenômenos espíritas de nossos dias, mais generalizados e mais bem observados à luz da razão e com auxílio da ciência confirmaram, é certo, a intervenção de 21 inteligência ocultas, porém agindo dentro de leis naturais e revelando por sua ação uma nova força e leis até então desconhecidas. (KARDEC, 1995, p.135, b). A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo: Como meio de elaboração, o Espiritismo procede da mesma forma que as ciências positivas aplicadas o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois deduz–lhes as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; conclui pela existência dos espíritos, quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio, subsequentemente, explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente, exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método, também, só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas. (KARDEC, 1995, p. 20 c). Obras Póstumas: Não há milagres. Assistimos ao alvorecer de uma ciência desconhecida. Quem poderá prever a que consequências conduzirá, no mundo do pensamento, o estudo positivo desta nova psicologia? (KARDEC, 2005, p. 30). Como se pode observar em seus livros havia a preocupação em se firmar como ciência. Talvez influenciado pela época em que vivia (positivismo) Kardec demonstrava uma frequente preocupação de fazer do Espiritismo algo menos místico e mais palpável. Algo provável! Separação historicamente constituída, com certeza. Porque, ainda, nos poetas gregos do século VI, o discurso verdadeiro no sentido forte e valorizado do termo – O discurso verdadeiro pelo qual se tinha respeito e terror, aquele ao qual era preciso submeter-se, porque ele reinava, era o discurso pronunciado por quem de direito e conforme o ritual requerido; era o discurso que pronunciava a justiça e atribuía a cada qual sua parte; era o discurso que, profetizava o futuro, não somente anunciava o que ia passar, mas atribuía para a sua realização, suscitava a adesão dos homens e se tramava assim com o destino. (FOUCAULT, 2011, p. 14-15). Desta forma, seu discurso apenas vem legitimar a pessoa que fala. E a esta pessoa (Allan Kardec) bastava para legitimar as suas ideias. Tem-se por hábito de ver na fecundidade de um autor, na multiplicidade dos comentários, no desenvolvimento de uma disciplina, como recursos infinitos para a criação dos discursos. (FOUCAULT , 2011, p.36). A preocupação de Kardec em firmar o Espiritismo Kardecista como ciência, reflexo de sua época, não como religião, não passa despercebida a autores estudiosos do Espiritismo. 22 Assumindo uma visão evolucionista, o espiritismo pregava o aprimoramento do destino humano. Tanto o homem individual tendia para o aperfeiçoamento contínuo, como a sociedade encaminhando-se, naturalmente, nessa direção. A filiação aos ideais iluministas e o reconhecimento de leis mantenedoras da ordem cósmica, perfeitamente perceptíveis pelo homem, faziam com que o espiritismo encarasse a pesquisa científica como aliada no afã de comprovar a veracidade da revelação divina. Apresentando-se como “terceira revelação” sucessora da mosaica e da cristã, a obra de codificação espírita defendia a pesquisa científica como caminho necessário para o reconhecimento da divindade. (ISAIA, 2011, p. 113). O século XIX é o período onde a crítica, o ceticismo e a experiência se fizeram base para o firmamento de um conhecimento. Kardec é filho do século XIX, Assim como nós somos reflexo de nosso tempo. A época de Kardec foi do secularismo 13, cientificismo, onde a religião já não atendia às necessidades da época. Kardec buscava a libertação da religião. Isso fica claro quando se define como ciência e não religião. Reflexo de seu século. Por isso, ainda hoje, muitos de seus adeptos não conseguem responder, ou respondem, a princípio, de forma negativa à pergunta se o Espiritismo Kardecista é religião ou não. Religião era tudo que Kardec não queria que fosse, mas, algo provável e observável de acordo com seu momento. No século XIX, o método científico sugerido por René Descartes (século XVII) que se pautava na dúvida como método, surge revisado no positivismo de Augusto Comte, tendo o Método Científico encontrado seu ápice nesse século. Para ser ciência era precioso não somente crer, mais experimentar, fundamentar tendo a razão como norteadora. É neste século que surgiram variadas ciências como sociologia, psicologia, antropologia... E as mais variadas áreas de conhecimento. A partir do século XIX, em um saber sociológico, psicológico médico, psiquiátrico: como se a própria palavra da lei não pudesse mais ser autorizada, em nossa sociedade, senão por um discurso de verdade científica (FOUCAULT, 2011, p.19). O século XIX foi, também, marcado pelo secularismo que é onde o Estado toma para si a responsabilidade moralizadora e a religião parte para o campo privado. Onde a fé não é mais determinante na vida e cotidiano do ser, mas, apenas parte de um todo. A certeza do século XIX, como absoluto, somente começa a ser questionado com o surgimento de outras possibilidades como a física quântica e a relatividade de Albert Einstein. Pois a ciência é um mundo de transformação e não estagnação. A relação de atribuição. O autor é, sem dúvida, aquele a quem se pode atribuir o que foi dito ou escrito. Mas a atribuição – Mesmo quando de um autor conhecido – é o resultado de operações complexas e raramente justificadas. A incerteza do opus. (FOUCAULT 2001). 13 Época de afastamento da Igreja, nas esferas públicas, a separação entre Igreja e Estado. 23 Voltando a Kardec e seu tempo entende-se que a preocupação científica experimental toma peso de valor, assim como as determinações de seu século ele (Kardec) procura fundamentar o Espiritismo nos parâmetros base de sua época. O eixo evolucionista dava, então, grande atualidade à proposta Kardecista. De fato, o evolucionismo era o chão comum das principais teorias científicas do século XIX. Apresentava a vida e a humanidade numa sequência de fases e etapas que vinham desde aquela que supunham a mais antiga. (SANTOS, 2004, p.12). O viés positivista, reflexo de influencia de Auguste Comte. O espiritismo, eles argumentam, é baseado na ciência do futuro, uma ciência que nós norte-americanos e europeus ainda não reconhecemos (GREENFIEELD, 1999, p. 123). No Brasil a aproximação mística de acordo com o seu contexto histórico, torna-se evidente. Embora haja discurso de não religião e sim doutrinação. Mas, o que é religião? O mesmo interesse e vitalidade que não se verifica na França, onde e Espiritismo teve origem, mas começou a desaparecer alguns anos depois da morte de Allan Kardec. Apesar disso é ainda à sombra do modelo francês que se pensa a história e as características do Espiritismo no Brasil. As comparações habituais remetem às origens: quando surgiu, em meados do século XIX, a doutrina de Allan Kardec se definia como sendo “antes de tudo uma ciência, embora com consequências morais”. Transladado o Atlântico, passou a predominar a feição mística, conforma análise dos autores que trataram do tema [...] (STOLL, 2003, p.17). O que se entende por ciência? Ciência é a teoria, o método e o objeto. A teoria e o método o Kardecismo atende. A teoria são os livros alicerce do Kardecismo, o Método é a sistematização, a observação dos fenômenos. E o objeto? Não seria a crença, a fé, a experiência? A crença e a fé e a experiência, também, não seriam a mesma base de qualquer instituição religiosa? Então, seria correto dizer que toda e qualquer instituição religiosa poderia ser tomada como ciência. Tendo a crença, a fé e a experiência do fiel como fundamento de sua cientificidade. É utilizarmos de procedimentos que nos permitem conhecer a intencionalidade do ser. Tudo que se manifesta, suas afirmações fundamentadas, a consciência vale como dado e pode ser chamado como objeto. A fenomenologia fundamenta todas as suas afirmações na experiência vivida (em dados). (ALEXANDRE, 2009, p.62). O Espiritismo se declara como a terceira revelação, assim como, Isaia (2011, p. 114) observou em seu texto A Imprevisibilidade do Discurso, essa auto proclamação descrita no Livro Alicerce do Espiritismo a Gênese desta maneira: A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, e a terceira não tem em indivíduo algum. As duas primeiras foram individuais, a terceira coletiva; aí está um caráter essencial de grande importância. Ela é coletiva no sentido 24 de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa alguma; ninguém por consequência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais alta escala [...]. (KARDEC, 1995, p.35, c). Nesta última citação Kardec afirma que o Espiritismo não escolhia idades, classes... Declara-se detentor da verdade, que será abraçada por todos, seria apenas uma questão de tempo. O início do Espiritismo Kardecista já começa elitizado. Em sua história há indícios claros que a ele pertencia somente a classe dominante da sociedade Francesa. Pois era “brincadeira constante em seus salões”. As classes e nações dominantes interpretavam o evolucionismo, a sua maneira, usando-o para justificar a dominação e o colonialismo. A noção de avanço e superioridade, ao longo das escalas de evolução, era muito comum nas teorias sobre a cultura e a sociedade; no espiritismo, então ela é fundamental. (SANTOS, 2004, p. 12). O Espiritismo de Kardec ia ao encontro dos interesses da sociedade abastada Francesa da época, a quem ele pertencia. Tendo em seu conformismo a legitimação de sua posição perante os menos favorecidos. Ou seja, o Espiritismo tem como máxima que todo e qualquer sujeito é responsável por tudo aquilo que produz, desde suas atitudes, riquezas, posições... A situação de toda e qualquer pessoa é determinada por mérito próprio. Excluindo, assim, das classes mais favorecidas da sociedade, a culpa e responsabilidade sobre as mazelas do outro. E, confirmando, sua posição privilegiada perante os demais. No Brasil, o seu início, também não foi diferente, tendo em vista que os livros alicerce do Espiritismo Kardecista eram escritos em Francês. E quem tinha acesso a livros importados escritos em francês no Brasil de 1857? Apenas a elite da sociedade Brasileira. No Brasil, foi forte a influência de autores evolucionistas do século XIX, continuando pelas primeiras décadas do século XX. É notória a presença, na formação da República, dos seguidores do filósofo francês, Auguste Comte (1798-1857), criador do Positivismo e tido como pai da Sociologia (SANTOS, 2004, p.13). Renato Ortiz (1978) cita o “empretecimento”, usando suas palavras, derivado do viés curandeirista do Brasil. O espiritismo adquire, pois, um caráter de consolo dos sofrimentos e moléstias; é sob essa forma lenitiva que ele penetra, como vimos anteriormente, nas classes baixas da sociedade, onde se associa a outras práticas mágicas (ORTIZ, 1978,p.37). Sendo desta forma o país território fértil a religião de Kardec. Stoll (2003), ainda, completa, Outros atribuem á familiaridade da população brasileira com as práticas mediúnicas, especialmente as de origem africana, a ênfase dada pelo Espiritismo ao aspecto 25 taumatúrgico. É o caso de Silvia Damásio, quando afirma que “é compreensível que a medicina mediúnica obtivesse sucesso nesse ambiente tradicionalmente impregnado pela crença nos poderes psíquicos, e/ou sobrenaturais de cura”. O que leva a concluir! O principal fator de expansão do Espiritismo [...] foi a prática da medicina mágica, arraigada na cultura brasileira. (STOLL, 2003, p. 56). Radicalizando um pouco mais, Sidney M. Greenfield, em seu livro: Cirurgias do Além, pesquisa antropológicas sobre curas espirituais, define o Espiritismo Kardecista desta maneira: Quase que imediatamente, a crença na existência e na possibilidade da comunicação com os espíritos dos mortos espalhou-se pela Europa, onde ainda em meados do mesmo século foi codificada num sistema religioso e filosófico pelo professor francês Hippolyte Leon Rivail, que publicou seu trabalho sob o pseudônimo de Alan Kardec. No Brasil, depois da popularização dos escritos codificadores de Kardec, o sistema foi codificado e adaptado para incluir a cura pelos espíritos por um médico, político e empresário brasileiro, Adolfo Bezerra de Menezes. [...] No começo do século XX, quando as repúblicas sul-americanas entraram num processo de urbanização, a variante espírita brasileira, também chamada Kardecismo em homenagem a seu codificador, tornou-se popular entre as classes médias que cresciam rapidamente dentro das cidades que se expandiram com a mesma velocidade. [...] Graças a esta nova ênfase na cura, deixou de ser propriedade exclusiva dos ricos, e tornou-se para a crescente população brasileira uma das tantas alternativas religiosa ao catolicismo. [...] Os espíritas como observei aceitam a medicina moderna. Mas em sua visão ela é limitada em sua capacidade de cura. Como é incapaz de entender, menos ainda de tratar do espírito, a medicina, apesar das boas intenções, é muito limitada. Os médicos, na melhor das hipóteses, são vistos como capazes de tratar dos sintomas que se manifestam no corpo somático, não das causas dos sintomas oriundos do mundo espiritual ou de problemas de inadequação entre os corpos somáticos e fluidos. Estes tratamentos precisam de médiuns-curadores, os únicos capazes de conseguir ajuda do mundo espiritual. (GREENFIELD, 1999, p.30, 31 e 36). Assim, com base nesses autores define-se o Espiritismo Kardecista. Seus entendimentos e aspectos relevantes á religião. 26 3.2 O Espiritismo Kardecista e as Personalidades em seus Livros Base Fato que também me chamou atenção nos livros Kardequianos foram os textos (recebidos em forma de pneumatografia ou psicografia14) atribuídos a grandes e diversas personalidades tais como: Citação 01. Ora, esta exatamente a ideias que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto desejamos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora é que ditamos “O Livro dos Espíritos” Santo Agostinho (KARDEC, 1995, p. 425, a). Comentário: Santo Agostinho foi um padre da Igreja Católica Apostólica Romana, e uma das figuras mais importantes do Cristianismo. Intelectual que dedicou sua vida a propagação de sua fé. Depois de morto escreveria Santo Agostinho para um livro de outra confissão religiosa? Um problema, pois para responder a esta questão ter-se-ia que entrar em contato com o pós-morte e descobrir os trâmites do além. De imediato, percebe-se que é mais uma aproximação com a fé cristã, ou até uma disputa por espaço por se “utilizar” da fala de um Doutor da Igreja Católica. Vale lembrar que o Espiritismo não se considera não cristão. Pelo contrário, há todo um cuidado para se legitimar como cristão e se declara, inclusive, continuação desta. Com diferenciações consideráveis. Como por exemplo: a crença da reencarnação e não na ressurreição. Cristo é um Espírito evoluído que pisou na terra, mas, como irmão e filho de Deus como nós, Cristo é Deus filho para o Cristianismo. No Espiritismo não há propriamente uma hierarquia e pouco ritualizado ao contrário do Cristianismo de modo geral. Essas são apenas algumas diferenças entre o Kardecismo e o Cristianismo. Citação 02. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie á sua personalidade em proveito dos outros, que de ordinário, absolutamente lhe não agradecem. Fénelon. (KARDEC, 1995, p. 42, a). Comentário: Esta fala é atribuída a Fénelon, outro intelectual da Igreja Católica. 14 “A pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem intermediário algum; difere da psicografia, por ser esta a transmissão do pensamento do Espírito, mediante a escrita feita com a mão do médium. (KARDEC, 1996,192)” 27 Citação 03. Infelizmente, não é raro verem-se médiuns que, não contentes com os dons que receberam, aspiram, por amor-próprio, ou ambição, a possuir faculdades excepcionais, capazes de os tornarem notados. Essa pretensão lhe tira a qualidade mais preciosa: a de médiuns seguros. Sócrates (KARDEC, 1996, p. 244, a) Comentário: Pensamento atribuído a Sócrates, pensador Grego considerado o pai do pensamento Ocidental e divisor das águas na Filosofia, antes Sócrates e pós Sócrates. De uma coisa se pode ter certeza, o método utilizado para a transmissão desse pensamento foi a psicografia, pois vivo Sócrates nada escreveu, pelo menos naquela vida em que foi Sócrates. Citação 04. Humanidade! Humanidade! Não mergulhes mais os teus tristes olhares nas profundezas da terra, procurando aí os castigos. Chora, espera, expia e refugia-te na ideia de um Deus intrinsecamente bom, absolutamente poderoso essencialmente justo. Platão (KARDEC, 1995, p. 467, a) Comentário: Fala atribuída a seu discípulo Platão. Citação 05. Assim resistireis aos ataques impotentes do mal, como o rochedo inabalável á vaga furiosa. São Vicente de Paulo (KARDEC, 1996, p. 469, a) Comentário: São Vicente de Paulo, padre católico de grande influência, inclusive nas bases da Igreja Católica. Considerado Santo da Igreja Católica. Citação 06. Espero que esta comunicação produza frutos e desejo que ela possa ajudar os médiuns a se terem em guarda contra o escolho que os fariam naufragar. Esse escolho já o disse, é o orgulho. Joana d’ Arc ( KARDEC, 1996, p. 462, a) Comentário: Joana d’ Arc, camponesa que se tornou soldada Francesa, afirmava ser guiada por vozes. Foi atirada na fogueira, acusada de bruxaria. Joana dentro da Concepção Kardecista é 28 que me parece que viveu mais próximo à teoria Kardecista. Sua história é cercada de fenômenos inexplicáveis. É válido lembrar que Joana morreu cerca de 420 anos antes das teorias de Kardec. Citação 07. Compadecei-vos dos que não ganharam o reino dos céus; ajudai-os com as vossas preces, porquanto a prece aproxima do altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a terra: não o esqueçais. Uma rainha de França. (KARDEC, 1996, p. 69, b) Comentário: Uma rainha da França. Citação 08. Homens e irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do pai, que está no Céu: Senhor!... e poderei entrar no reino dos céus. O Espírito de Verdade. (KARDEC, 1996, p. 23, b) Comentário: Este último á atribuído ao espírito chamado Verdade, espírito este que se revelou a Kardec, demonstrando que ele seria o codificador do espiritismo15. Chico Xavier que foi grande personalidade nacional espírita kardecista, responsável pelo reconhecimento nacional do Espiritismo e por pautar sua vida em prol do próximo. Autor de mais de 418 títulos e mais de 25 milhões de exemplares publicados. Enfrentou processo iniciado em 1937, referente aos direitos autorais da esposa do jornalista, político e escritor Humberto de Campos, que tinha falecido três anos antes, onde Chico Xavier atribuiu ter “recebido” em forma psicografa16. Trata-se das Crônicas de Além Túmulo, que devido ao caso, passou a ter uma projeção de público além do esperado. O final foi favorável a Chico e se deu em 1944, onde o veredito dizia que o Sr Campos não poderia ter adquirido direitos autorias pelo livro, pois o mesmo já se encontrava falecido, sendo que à sua esposa e sucessores nada Chico devia. Mesmo com veredito favorável, Chico passou assinar ás obras de Humberto de Campos como Irmão X17 (SANTOS, 2004, p. 85). Devo admitir que não posso e nem tenho pretensão de afirmar que estas frases atribuídas a grandes personalidades não foram ditadas por elas, especialmente, para os livros 15 Detalhes, no Livro Obras Póstumas (2005, p. 331-332). Ver nota de rodapé da página 26 deste trabalho. 17 Informações deste paragrafo <http://clotildes.tripod.com/chico_xavier.htm> Acessado em 27 de maio de 2012. 16 29 base do Espiritismo Kardecista. Não há como saber. Minha intenção neste quesito não é respondê-la, Não há meios palpáveis para isso. É questão de fé nesta crença. Ou se acredita, ou não se acredita. Assim como não posso refutar, também, não posso ser impedida de analisar, e acreditar ou não, conforme meu entendimento. Enfim, creio que essa vontade de ser verdade, assim apoiada sobre um suporte e uma distribuição institucional, tende a exercer alguma influencia sobre os outros discursos (FOUCAULT, 2011, p. 18). O que de imediato se percebe é a utilização desses e de outros grandes nomes de personalidades cristãs católicas. Não há frases de Lutero, por exemplo, ou Calvino em seus livros (os seis estudados por mim) ou outro seguimento cristão, ou até mesmo não cristão. Tendo em vista, Kardec ser de família Católica, seu enraizamento nesta religião é percebido em seus textos. Quanto às outras personalidades como Sócrates, Platão, a adesão (ou apropriação) desses, traria grande força para o movimento espírita. Em todo caso, uma coisa ao menos deve ser sublinhada; a análise do discurso, assim entendida, não desvenda a universalidade de um sentido; ela mostra à luz do dia o jogo da rarefação imposta, com um poder fundamental de afirmação. (FOUCAULT, 2011, p. 26) No mais, todas essas grandes personalidades citadas, tendo em vista haver muitas outras citações nos livros base, não podem se pronunciar por motivo de falecimento. 3.3 Chico Xavier Falar de Espiritismo Kardecista não se poderia deixar de falar de Chico Xavier. Como Stoll (2003) o nomeou, o Best-Seller do Espiritismo. É interessante saber que Chico Xavier tem sua aproximação com o Espiritismo Kardecista devido à pouca saúde de sua irmã. Stoll, em seu Livro Espiritismo à Brasileira, narra que o primeiro contato que Chico Xavier teve com o Espiritismo Kardecista foi justamente através da enfermidade de sua irmã Maria Xavier18. Ela não respondia ao tratamento da medicina convencional e fez com que seu pai, um católico praticante, buscasse auxílio em um tratamento não convencional. Esse tratamento era contrário, em muitos sentidos, aos ensinamentos de sua Igreja Católica Apostólica Romana, que, no ano de 1927, era quase absoluta no cenário brasileiro. A partir deste momento, Chico Xavier abraçou o Espiritismo Kardecista. 18 Maio 1927, Maria Xavier, uma de suas irmãs, ficou doente. Apresentando quadro de perturbações mentais. O tratamento da medicina convencional não deu conta de atender. Seu pai João Candido, embora católico fervoroso, busca tratamento para sua filha com um casal de “amigos espíritas”. Esses aplicam passes em Maria Xavier que foi levada para um tratamento mais prolongado. Chico Xavier fica então fascinado com o que houve. (STOLL, 2003). 30 Sugerimos em outra parte desse trabalho que o ideal de santidade católica foi o modelo de racionalização ética adotado pelo Espiritismo no Brasil. Modelo que por meio de Chico Xavier se popularizou, consolidando o “estilo brasileiro” de ser espírita. (STOLL, 2003, p. 271). Chico Xavier não ficou famoso como curandeirista como outros médiuns19, embora há relatos que ele, também, exercia a essa função recebendo o médico Bezerra de Menezes, mas sim, como expoente literário do Espiritismo Kardecista no Brasil e no mundo (SANTOS, 2004). Chico nasceu e morreu pobre, dedicou sua vida à intensa atividade mediúnica. De vida e atitudes incontestáveis, Chico atendia em Uberaba, Minas Gerais, a inúmeras pessoas que vinham até ele em busca de auxílio para as suas aflições, principalmente no que se diz respeito a perda de um ente querido. Consolava, e trazia esperança do “além” a quem buscava por isso através da psicografia 20. Até 1989, eram contabilizados 327 títulos de livros do médium Francisco Xavier, alcançando o total de 15 milhões entre os 50 milhões de exemplares de livros espíritas que se calculava tivessem circulando no Brasil até então. Esse total de superava em 3 milhões o número de exemplares dos livros de Allan Kardec, editado no país. Quando de seu falecimento em 2002, estimava-se em 418 o número de seus títulos e em 25 milhões o de exemplares publicados. (SANTOS, 2004, p. 85). Chico Xavier, ícone espírita, hoje é tema de livros, filmes, documentários. Tendo sua vida regida pela assistência ao próximo, conseguiu a simpatia de espíritas e não espíritas ao longo de sua vida. Chico faleceu com 92 anos de parada cardíaca, cumprindo uma promessa que só iria morrer no dia em que o Brasil, estivesse feliz. Morreu no dia 30 de junho de 2002, dia que o Brasil, ganhou o Penta Campeonato de Futebol (SUPERINTERESSANTE, 2010). 19 Dentro desses médiuns Kardecistas famosos por suas práticas curandeiristas posso citar: Antônio Gonçalves da Silva, o batuíra, pessoa humilde que se tornou abastada, que, posteriormente, descobriu o Espiritismo ao qual dedicou seu tempo e seu dinheiro à causa Espirita (mais ou menos 1904) responsável pela divulgação tipográfica Espirita Kardecista, algo muito caro em sua época. Bezerra de Menezes, (por volta de 1886) tido como o mais importante espirita brasileiro, médico de profissão, mas, que afirmava receber através de sua mediunidade auxílio dos espíritos, chegou a presidir a Federação Espirita Brasileira (FEB) causou grande impacto em sua sociedade, pois era um homem de ciência, um médico que se declarou “místico”, assim pode-se dizer. Mirabelli (por volta de 1906) de vida polêmica e cercado de fatos mirabolantes como a sua presença, em dois lugares ao mesmo tempo a uma distância de 90 quilômetros de um lugar ao outro. José Pedro de Freitas, o Arigó ( por volta de 1940) este com reconhecimento nacional, dizia que recebia o, então, médico alemão da primeira guerra mundial Dr. Fritz. Domingos Filgueiras, comandante da guarda da alfândega do Rio de Janeiro, que chegou a atender em uma sala da alfândega. (SANTOS, 2004). 20 Segundo os Espiritas Kardecistas, a psicografia é a faculdade mediúnica, que o médium possui de escrever mensagens, livros e outros ditada por espíritos. 31 3.4 A Cura como Foco da Pesquisa No início de Janeiro de 2012, dei início às minhas leituras para a formação da base teórica do meu Trabalho de Conclusão de Curso. As obras são: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo, com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. E mais, As Variedades da Experiência Religiosa - Um estudo sobre a natureza humana de Willian James. Somando um total de 2.601 páginas (Obras Espíritas 2.262 + As Variedades da Experiência Religiosa = 339 páginas). E por minha conta li, também, o Livro Obras Póstumas, atribuído a Allan Kardec. Em um apanhado de anotações encontradas pós-morte, ou conforme o Espiritismo Kardecista costuma declarar desencarne, somando mais 478 páginas. Terminando com um total de 3.079 páginas, sem contar outros livros, artigos de autores utilizados por mim. Li e fichei os livros solicitados por meu orientador conforme combinado. Devo admitir que os Livros espíritas não são de difícil entendimento, talvez, por Kardec ser um pedagogo por formação e desta forma dominar a arte do ensinar, ele pensou em um tipo de leitura que fosse acessível a diferenciados públicos. Tirando diversos assuntos que ficam sem respostas. Esses assuntos, de acordo com minhas leituras, são devido ao fato de a humanidade não estar preparada para receber. Como poderá o homem ser levado a reformar as suas leis? “Isso ocorre naturalmente, pela força mesma das coisas e da influência das pessoas que o guiam na senda do progresso. Muitas já ele reformou e muitas outras reformará. Espera!” (KARDEC, 1995, p.372, a). (...) encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importa conhecer, hoje que estão aptos a compreendê-las (KARDEC, 1995, p.19, c). Respostas essas que serão respondidas no futuro... As invenções, as descobertas e todo e qualquer tipo de respostas que a humanidade não sabe hoje, está reservado saber, de acordo com o seu desenvolvimento intelectual e moral. Respostas que irão se descortinar aos poucos de tempos em tempos... No mais, os livros são formatados de modo que qualquer pessoa consiga acompanhar o raciocínio do codificador. Decidi pesquisar a frequência sobre a temática da cura nas obras base do 32 Espiritismo Kardecista, sempre buscando dialogar com autores estudiosos do assunto como Sandra Jacqueline Stoll, doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo. Professora que, atualmente, trabalha na Universidade Federal do Paraná onde escreveu e orientou diversos trabalhos sobre o Espiritismo Kardecista, tendo escrito o livro: Espiritismo à Brasileira. José Luiz dos Santos, mestre pela Universidade de Capinas e doutor pela Universidade de Londres, autor do livro Espiritismo: uma religião Brasileira. Sidney M. Greenfield, americano, doutor pela Universidade de Colúmbia, pesquisador de campo com diversas atuações no Brasil, autor de Cirurgias do Além. Perpassando por outros autores consagrados como Renato Ortiz, Levi Strauss, Moacir Scliar e outros. E mais as obras fichadas Espíritas Kardecistas (cinco livros alicerce do Espiritismo Kardecista e mais Obras Póstumas). Ainda fiz a leitura de livros de Chico Xavier, peça chave da literatura Espírita no Brasil. Com esta base e mais outros autores não menos importantes permitiram-me firmar minhas conclusões com base sólida na teorização. O Objetivo foi encontrar um resultado que possibilitou visualizar a temática da cura em suas variadas formas encontradas nas Obras desta religião. Como pesquisei? Primeiro lia a obra, que em média demorava uma semana, onde dividia da seguinte forma: Por exemplo: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita com 494 páginas. Dividia 494 por 7 dias = 70 páginas por dia. Como o livro não tem um formato longo e sim curto. Eram quase 35 páginas por dia, algo possível mesmo com leituras em horário das 19h às 23h. E assim, fiz com todos os livros, menos o livro As Variedades da Experiência Religiosa. Esse por ter uma escrita mais densa e páginas mais longas utilizei duas semanas. No total fiz minhas leituras das obras de Kardec e de As Variedades da Experiência Religiosa – Um estudo sobre a Natureza Humana, de Willian James (última obra de acordo com meu primeiro orientador) em oito semanas. Ficando somente a fundamentação teórica para a leitura posterior. Neste trabalho apenas utilizei algumas citações de cada livro. As citações completas sobre cura de cada obra se encontra no Anexo 03. As obras são formatadas de forma diferenciadas, ficando complicado inclusive a catalogação das mesmas. Onde fiz por assunto. Tive o cuidado de não cortar pensamento. Do início ao fim naquele assunto, considerei como apenas uma citação. Ficando assim: 33 QUADRO: TABULAÇÃO DE DADOS NO QUE SE REFERE À CURA E CORRELATOS NAS OBRAS KADEQUIANAS Obras Ano de Publicação Ano e Edição Nac. utilizada Número de Páginas da tradução pesquisada O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita 1857 1995 76ª “a” 494 Citações que se referem a temática da cura na teoria Kardequiana 21 O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores 1861 1996 62ª “a” 486 12 O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações ás diversas circunstâncias da vida O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo 1864 1996 112ª “b” 435 18 1865 1995 40ª “b” 1995 36ª “c” 425 8 422 23 Obras Póstumas 1890 2005 37ª 478 13 1868 Páginas das citações 76-165-169230/231-251/252252-279- 279- 339341-342-344344/345-370-400421-435-447-469473-479 77/78-78-110-135172-172/173215/216217/218/219-232323-329-391 51-99-101-106112-121-121-157301-306/307-363367-374-474430/431-431-432435 141-146/147-205293-342-381388/389-423 33-199-266-287291-294/295/296304-305-305-307308-311-315/316317-318/319/320320 á 330 331 á 334 372-373 57-81/82/83-83/8484-89/90-101/102114-119-152-153337-342-381 Fonte: Dados da pesquisa (2012) Desta forma desenvolvi meu pensamento com base neste quadro. A fim de responder o meu questionamento proposto. Vale a pena, citar que a primeira obra Espírita Kardecista traduzida no Brasil foi parte da Obra: O Livro dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita, em 1866, por Teles de Menezes. E o primeiro periódico do Espiritismo no Brasil foi Eco de Além-Túmulo, também por Teles de Menezes (SANTOS, 2004). Entre 1873 e 1876, por tradução de Joaquim Carlos Travassos no Rio de janeiro, foi completada a tradução das Obras: O Livros dos Espíritos - Princípios da Doutrina Espírita, O 34 Livro dos Médiuns – Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida, O céu e o Inferno ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo. Atualmente, segundo informações da Federação Espírita Brasileira (FEB) 21, as obras Kardequianas estão nas seguintes numerações de edições nacionais: - O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita - 92 ª edição ano de 2011; - O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores – 80ª edição ano de 2011; - O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida – 130ª edição ano de 2011; - O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo - 60ª edição ano de 2012; - A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo - 52ª edição ano de 2012; E por fim: - Obras Póstumas - 40ª edição ano de 2010. A FEB salienta que além desta edição que eles chamam de 18 cm, que é a que eu usei para a produção deste trabalho dita, como a edição oficial. Também há a produção de edições de 16 e 21cm, além da edição 23 cm do O Livros do Espíritos Princípios da Doutrina Espírita. Todas estas edições possuem numerações de edições próprias de acordo com o tamanho do livro. Isto, também, é um demonstrativo de crescimento da religião, levando em consideração que O Evangelho Segundo o Espiritismo com A explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida obra de maior expressão dentro do Kardecismo, sendo que atual é do ano de 2011 edição número 130ª. Já passou por 18 edições desde a obra trabalhada por mim aqui, a 112ª edição ano de 1996. Talvez isso a ver com a atual legião de céticos, livre pensadores, espiritualistas e afins e observada em nossos tempos. Embora a crença Cristã esteja 21 Inicialmente através de contato telefônico no número (61)2101-6161, e posterior encaminhamento para á edição no número (21)2187-8278 E terminado por e-mail no endereço: [email protected] entre os dias 15 de maio á 01 de junho de 2012. 35 preservada no nome desse livro por exemplo. Não perdendo de vista o discurso Kardecista de não ser uma religião, mas, uma ciência ou filosofia. Para o Espiritismo Kardecista, segundo Heerdt (2008), há três elementos fundamentais na constituição da pessoa humana. São eles: o corpo, a alma e o perispírito. O corpo humano é semelhante ao corpo do animal e ambos são animados pelo mesmo espírito vital. A Alma é o espírito encarnado no corpo. Acaba sendo o local onde o espírito entra para a sua evolução. O perispírito é o laço que une a alma e o corpo, uma espécie de invólucro semi-material. Numerosas observações e fatos irrecusáveis, de que mais tarde falaremos, levaram a consequências de que há no homem três componentes: 1º, a alma, ou espírito, princípio inteligente onde tem sua sede e o senso moral; 2º, o corpo involucro grosseiro, material, de que ele se revestiu temporariamente, em cumprimento de certos desígnios providenciais, 3º, o perispírito, envoltório fluídico, semi material, que serve de ligação entre a alma e o corpo. (KARDEC, 1996, p.77, a). Segundo a concepção Kardecista, a morte destrói o corpo, mas não destrói o perispírito, que acompanha a alma. O homem, que procura nos excessos de todo o gênero o requinte do gozo, colocandose abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade, abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus. (KARDEC, 1995, p. 341, a). Assim, as enfermidades que afetam o homem/mulher podem não ser de todo o mal e constituem um caminho de purificação para a alma. Desta forma, poderíamos nos perguntar por que a busca e oferta de cura em muitos estabelecimentos Espíritas Kardecistas, pois essas enfermidades seriam, muitas vezes, necessárias para a evolução ser humano? Chico Xavier nos responde dizendo que “o homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico” (XAVIER, 1999). Para o Espiritismo Kardecista seria uma negligência para com o corpo e para com a alma não cuidar de ambos, tendo em vista que as enfermidades do corpo são um reflexo das enfermidades da alma. Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contacto? A força magnética pode até chegar até aí, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, por que então os bons Espíritos lhe vêm em auxílio. (KARDEC, 1995, p. 279, a). Os fenômenos de cura, ou métodos alternativos ou complementares como muitos centros 22 22 preferem enfatizar, são citados em todos os livros alicerce do Espiritismo Em pesquisa em campo realizada por mim. 36 Kardecista, mas nem perto com a proporção que tomou no Brasil. Será mesmo esta última afirmação verdadeira? Para saber até que ponto o Espiritismo Kardecista se ocupou da temática da cura recorri aos cinco livros bases do Espiritismo Kardecista e a um sexto atribuído a Kardec depois de seu falecimento. São eles: - O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita - 1857; - O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores -1861; - O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida - 1864; - O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo - 1865; - A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo - 1868; E por fim: - Obras Póstumas - 1890. Listei (Anexo 03.) e analisei a presença de passagens que se referem à cura e correlatos propriamente dita nos livros alicerce do Espiritismo Kardecista e mais, o livro Obras Póstumas. Por que propriamente dita? É que o tema enfermidade/saúde/cura é usado constantemente como exemplo nos livros base Kardecistas. Dá-se com Espírito o que verifica com a criança que por mais precoce que seja, tem de passar pela juventude, antes de chegar à idade da madureza; e também com o enfermo que, para recobrar a saúde, tem que passar pela convalescença. (KARDEC, 1995, p. 130, a). Mas que em nada dizem além de uma comparação para um melhor entendimento do sentido que se quer explanar. Desta forma, preocupei-me em listar as passagens que abordam o tema em si, e não uma comparação apenas. 37 4 ANÁLISE POR LIVRO 4.1 Análise do livro: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita foi o primeiro livro escrito do Allan Kardec e sua equipe no ano de 1857. É em formato de perguntas e respostas, de leitura acessível a qualquer público, tendo como base responder a 1019 questionamentos referentes ao Espiritismo Kardecista. Perguntas que vão desde a explanação sobre a existência de Deus, formação do mundo, do homem, vida e morte, alma, corpo, justiça, reencarnação, inferno, purgatório, paraíso, imortalidade da alma, pluralidade dos mundos, conhecimento de si mesmo... Provavelmente inspirado no Catecismo da Igreja Católica (mais uma aproximação) que é um compêndio sobre fé e moral de mesmo formato, assim apresentado até hoje, como se fosse um manual de consulta rápida. Este livro apresenta a parte filosófica da teoria Kardecista. Esses dois trechos extraídos da introdução do livro deixa clara a intenção de Kardec na estreia da literatura Kardequiana. Vamos resumir, em poucas palavras, os pontos principais da doutrina que nos transmitiram, a fim de mais facilmente respondermos a certas objeções. (KARDEC, 1995, p. 23, a). Este Livro é repositório de seus ensinos. Foi escrito por ordem e mediante ditado de Espíritos superiores, para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, isenta dos preconceitos do espírito do sistema. (KARDEC, 1995, p. 49, a). Como primeiro livro base do Espiritismo Kardecista, muitas perguntas haveriam de povoar a mente de pessoas simpáticas à causa. Esta edição do livro de tradução brasileira nº 76/1995, possui 494 páginas. Seu tradutor foi Guillon Ribeiro, que segundo este livro e outros23 foi diretor da Federação Espírita por 26 anos consecutivos. Informação não clara ao se verificar o sítio eletrônico da Federação Espírita Brasileira (FEB). Há referência ao trabalho de Gullion em vários anos, e até décadas, mas há pausa entre um mandato e outro. Análise das passagens: Passagem 01. 23 Em nota da editora na contracapa da apresentação dos Livros das edições pesquisadas por mim (todos de tradução de Guillon Ribeiro – O único que não aparece referencia a Guillon é o livro O Céu e o Inferno de tradução de Manuel Justiniano Quintão). Os livros são: O livro dos Espíritos, O livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o espiritismo, A Gênese, Obras Póstumas. 38 Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muitas vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição numa palavra: às suas paixões? (KARDEC, 1995, p.169, a). Comentário: Nesta passagem nada de fato quer dizer que não seja a realidade do homem/mulher. Muitos sofrimentos (a maioria) dependem de nós mesmos de nossa própria força de vontade, ou falta dela. Um exemplo disso é ficar esperando as coisas acontecerem sem nada fazer. É esperar ser contemplado em um sorteio sem ao menos comprar o bilhete. As atitudes em relação à saúde segue a mesma linha. Como esperar um coração (órgão) bom, se nada se faz para tornar o funcionamento dele menos trabalhoso. Uma alimentação adequada, a prática de exercícios físicos... Enfim medidas esta que toda e qualquer pessoa tem conhecimento. Falta é, muitas vezes, atitude. Passagem 02. A prece é o meio eficiente para a cura da obsessão? “A prece é em tudo um poderoso auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que limitam a pedir. É pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.”(KARDEC, 1995, p. 251-252, a). Comentário: A obsessão dentro do Espiritismo Kardecista é visto como uma enfermidade. A cura para isso, dentro da concepção Espírita Kardecista, é a mudança intima de ações, atitudes e pensamentos. A prece seria neste caso um remédio ao doente. Empregada no intuito de fazer com que o “espírito” obsessor se afaste pelo motivo de um desalinhamento de vibração. Tendo em vista que para o Espiritismo Kardecista a atração de uma alma (ser vivo) por um espírito (ser morto ou em estado desprendido do corpo, ex. dormindo) só há devido à mesma frequência de pensamentos e ações que se denomina de atração ou vibração. Passagem 03. Têm algumas pessoas, verdadeiramente, o poder de curar pelo simples contato. A força magnética pode chegar até ai, quando secundada pela pureza dos sentimentos e por um ardente desejo de fazer o bem, porque então os bons espíritos lhe vêm em auxílio. Cumpre, porém, desconfiar da maneira pela qual contam as coisas pessoas muito crédulas e muito entusiastas, sempre dispostas a considerar maravilhoso o que 39 há de mais simples e mais natural. Importa desconfiar também das narrativas interesseiras, que costumam fazer os que exploram, em seu proveito, a credulidade alheia. (KARDEC, 1995, p. 279, a). Comentário: Aqui nesta passagem o Espiritismo não legitima somente a sua concepção. Ele não afirma e nem descarta o alcance da cura através de um não espírita. Mas para que isso ocorra, o Espiritismo Kardecista atribui à assistência de um espirito benfeitor que vem em auxílio da pessoa curadora. Ou na sua concepção do médium curador. Ao final alerta as pessoas a quem procurar dando desta forma margem para a sua própria legitimação. Se os santos já não são capazes de fazer este serviço, talvez os espíritos esclarecidos possam? Ou quem sabe, as divindades africanas? O Espirito Santo? Ou nos novos sincréticos pretos velhos e caboclos? Ou outras entidades da umbanda? A variedade de religiões (e de sistema de cura) competindo no mercado urbano brasileiro pode ser vista como oferta de diferentes caminhos para Deus e seu poder absoluto através de seus próprios intermediários cuja cooperação é a garantia por meio de suas práticas rituais. (GREENFIELD, 1999, p. 87). Passagem 04. A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, a higiene pública, que nossos pais não conheceram, é objeto de esclarecida solicitude. (KARDEC, 1995, p. 339, a) Comentário: Um conselho salutar, e não religioso, tendo em vista que a ausência de higiene é a também causa de ausência de saúde. O fato de haver um nome de autor, o fato que se possa dizer “isso foi escrito por tal pessoa” ou “ tal pessoa é o autor disso” indica, que esse discurso não é uma palavra cotidiana, indiferente, uma palavra que se afasta, que flutua e passa, uma palavra imediatamente consumível, mas que se trata de uma palavra que se deve ser recebida de uma certa maneira e que deve, em uma dada cultura, receber um certo status. (FOUCAULT, 2001). Passagem 05. Por que de preferência não trabalham pelo bem de sues semelhantes? Vistam o indigente; consolem o que chora; trabalhem pelo que está enfermo; sofram privações para o alívio dos infelizes e então suas vidas serão úteis e, portanto, agradáveis a Deus. Sofrer alguém voluntariamente, apenas por seu próprio bem, é egoísmo; sofrer pelos outros é caridade: tais os preceitos do Cristo. (KARDEC, 1995, p. 344-345, a). Comentário: 40 Aqui está mais uma vez exposta à aproximação como o Cristianismo que o Kardecismo afirma ser continuação. Tomando como base seus preceitos. Posição esta favorável. Levando em consideração a grande predominância cristã no século XIX na Europa em seu nascimento. E consequentemente maior adesão. Passagem 06. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral. (KARDEC, 1995, p. 370, a). Comentário: Aqui a própria história do mundo. Sabe-se que doenças são muitas vezes reflexos da época (higiene, por exemplo). O próprio avanço da ciência e suas descobertas na cura de males que até pouco tempo dizimava populações. A sociedade burguesa que começava a se firmar elaborava todo um discurso de higienização dos corpos, das casas e dos lugares públicos nos séculos XVIII e XIX e cujo paradigma vem até a atualidade. A epidemiologia utiliza métodos científicos para descrever padrões de saúde, de doenças ou de mortalidade numa população, com base em características de pessoas lugares ou épocas. (LEVIN, 2001, p. 22). Passagem 07. Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela sua educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. (KARDEC, 1995, p. 421, a). Comentário: Para o Espiritismo a cura é devida a uma mudança de atitude, ações e pensamentos. Esta causa primordial dos males do homem e consequentemente de toda a sociedade. Da célula menor para a maior. 41 4.2 Análise do livro: O Livro dos Médiuns Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores O Livro dos Médiuns: Ou Guia dos médiuns e dos Evocadores é a parte prática da teoria Kardecista. Ele abrange todo o gênero de manifestação com os espíritos, e ensina como, segundo o Kardecismo, lidar com o mundo invisível. Foi o segundo livro escrito por Allan Kardec, com data de 1861. O primeiro livro O Livro dos Espíritos cuida da parte filosófica, enquanto o segundo livro: O Livro dos Médiuns cuida da parte prática. E o lidar com todas as manifestações. Formando assim um a continuação do outro. Seu objetivo consiste em indicar os meios de desenvolvimento da faculdade mediúnica, tanto quanto o permitam as disposições de cada um, e, sobretudo, dirigirlhe o emprego de modo útil, quando ela exista. Esse porém, não constitui o fim único a que propusemos. Ninguém, pois se surpreenda de encontrar nele instruções que, à primeira vista, pareçam descabidas; a experiência lhe realçará a utilidade. Quem quer que a estude cuidadosamente melhor compreenderá depois os fatos de que venham a ser testemunha; menos estranha lhe parecerá a linguagem de alguns Espíritos. [...] [...] damos nesta obra a parte prática, para uso dos que queiram ocupar-se com as manifestações, quer para fazerem pessoalmente, quer para se inteirarem dos fenômenos que lhes sejam dados a observar. [...] O Livro dos Médiuns. Destina-se a guiar os que queiram entregar-se á prática das manifestações, dando-lhes conhecimento dos meios próprios para se comunicarem com os Espíritos. (KARDEC, 1996, p. 14,16 e 52, a). Esta edição de tradução brasileira nº 62/1996, possui 486 páginas. Como o primeiro livro, seu tradutor foi Guillon Ribeiro. Análise das Passagens: Passagem 01. A morte é a destruição, ou, antes a desagregação do envoltório grosseiro, do invólucro que a alma abandona. O outro se desliga deste e acompanha a lama que, assim fica sempre com um envoltório. Este último, ainda que fluídico, etéreo, vaporoso, invisível, para nós, em seu estado normal, não deixa de ser matéria, embora até o presente não tenhamos podido assenhorear-nos dela e submetê-la á análise. Esse segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida corpórea; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e pelo qual transmite sua vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo. Para nos servimos de uma comparação material, diremos que é o fio elétrico condutor, que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, em suma, esse agente misterioso, imperceptível, conhecido pelo nome de fluido nervoso, que desempenha tão grande papel na economia orgânica e que ainda não se leva muito em conta nos fenômenos 42 fisiológicos e patológicos. Tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação. Não cabe, aqui, porém, o exame desta questão. Somente faremos notar que no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis. (KARDEC, 1996, p. 77-78, a). Comentário: Uma coisa interessante dentro da concepção Espírita Kardecista, é a preocupação de descrever, passo a passo, como ocorrem os variados fenômenos existentes. Há uma clara preocupação de Kardec com a linguagem utilizada para ser entendido. Percebe-se aqui o pedagogo Kardec escrevendo. Nesta passagem há um reflexo dessa preocupação. Aqui Kardec explica como ocorre o fenômeno da morte de maneira simples acessível a todos. Passagem 02. Tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação. Não cabe aqui, porém, o exame desta questão. (KARDEC, 1996, p. 78, a). Comentário: Para o Espiritismo Kardecista a medicina poderia se beneficiar em muito se tivesse o conhecimento de suas bases teóricas. A medicina moderna é clara, trabalha exclusivamente no nível do corpo físico. Os espíritas respeitam isto e consultam o que chamam de “médicos convencionais” quando sofrem de doenças causadas no plano material que ainda não afetaram o espírito e o perispírito. Mas a medicina moderna, para os espíritas apesar da sua qualidade e progresso constantes, nunca terá capacidade de obter uma cura global, pelo menos até reconhecer o mundo espiritual, as enfermidades cujas causas ai residem, e as técnicas que os espiritas kardecistas aprenderam e recomendam para seu tratamento. (GREENFIELD, 1992, p. 141). Passagem 03. Por que razão certas visões ocorrem com mais frequência quando se está doente? “Elas ocorrem do mesmo modo quando estais em perfeita saúde. Simplesmente, no estado de doença, os laços materiais se afrouxam; a fraqueza do corpo permite maior liberdade ao espírito, que, então, se põe mais facilmente em comunicação com os outros Espíritos.” (KARDEC, 1996, p. 135, a). Comentário: Para o Espiritismo Kardecista, a pessoa quando está doente, está em um estado não pleno do ser, como quando se está sonhando ou sonâmbulo. Os laços que nos prendem à 43 materialidade ficam mais livres, soltos e desta forma mais sucessível a percepções antes não alcançadas em estado normal ativo (acordado) do ser. O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito; é a sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. [...] Médiuns Curadores: Os que tem o poder de curar ou de aliviar o doente, pela só imposição das mãos, ou pela prece. (KARDEC, 1996, p. 215, 232, a). Tratando o seu doente, o xamã oferece a seu auditório um espetáculo. Que espetáculo? Com o risco de generalizar imprudentemente certas observações, diríamos que esse espetáculo é sempre o de repetição pelo xamã, do “chamado”, isto é, a crise inicial que lhe ofereceu a revelação de seu estado. Mas a expressão do espetáculo não se deve enganar: o xamã não se contenta em reproduzir ou representar mimicamente certos acontecimentos; ele os revive efetivamente em toda sua vivacidade, originalidade e violência. E visto que ao termo da sessão, ele retorna ao estado normal, podemos dizer, tomando emprestado da psicanálise em termo essencial, que ele abrangeu. (STRAUSS, 1985, p. 209). Passagem 04. Médiuns receitistas: Têm a especialidade de servirem mais facilmente de interpretes aos Espíritos para as prescrições médicas. Importa não os confundir com os médiuns curadores, visto que absolutamente não fazem mais que transmitir o pensamento do Espírito, sem exercerem por si mesmos influência alguma. Muito comuns. (KARDEC, 1996, p. 239, a). Comentário: Médiuns curadores são diferentes de médiuns receitistas. O primeiro procede quase como um médico convencional o segundo apenas como receitista. Mas ambos, médiuns curadores e médiuns receitistas agem, concomitantemente, com espíritos que habitam outro plano espiritual segundo a teoria Kardecista. Conforme Santos (2004, p. 85), Chico Xavier foi também um médium receitista deixando essa função em segundo plano em atendimento ao seu mentor Espírito Emmanuel, colocando a literatura espírita como sua missão. Atendendo uma gama de estilos literários, sempre com o intuito de fortalecer e embasar o Espiritismo Kardecista. Nos momentos de médium receitista Chico era guiado pelo Espírito de Bezerra de Menezes. O princípio de tudo é o Deus judaico-cristão, criador do mundo a partir do nada. A oposição entre o espírito e a matéria, a primeira distinção, desdobra-se e funda o movimento e o devir do mundo como os espíritas o concebem. Seres materiais habitam o “Mundo Visível”, seres imateriais, o mundo Invisível”. (CAVALCANTI, 2004, p. 16). 44 Passagem 05. Poderia um médico, evocando os Espíritos de seus clientes que morreram, obter esclarecimentos sobre o que lhes determinou a morte, sobre as faltas que haja porventura cometido no tratamento deles e adquirir, assim, um acréscimo de experiência? Pode e isso lhe seria muito útil, sobretudo se conseguisse a assistência de Espíritos esclarecidos, que supririam a falta de conhecimentos de certos doentes. Mas, para tal, fora mister que ele fizesse esse estudo de modo sério, assíduo, com um fim humanitário e não como meio de adquirir, sem trabalho, saber e riqueza. (KARDEC, 1996, p. 391, a). Comentário: Aqui um conselho espírita para os médicos, de sua maneira, é uma profissão que poderia em muito se utilizar dos conhecimentos do além túmulo. Desde que não seja de interesse privado. 4.3 Análise do livro: O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida. O Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações às Diversas Circunstâncias da Vida. Este livro aproxima a teoria Kardecista da teoria cristã. Segundo Kardec, (1996, b) o Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa. Até no nome, desse terceiro livro: O Livro O Evangelho Segundo o Espiritismo A Explicação das Máximas Morais do Cristo em CONCORDÂNCIA com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida. Já é indício de uma aproximação cristã. Aproximação esta sempre presente em suas obras. Até pela razão do Espiritismo Kardecista se declarar a continuação do Cristianismo, como já citado anteriormente. Este livro explana sobre os princípios, moral e doutrina do Cristianismo e o Espiritismo, citando passagens do livro cristão e, logo em seguida, fazendo um contraponto com a teoria Kardecista. Fazendo ponte com os pensamentos de filósofos como Sócrates e Platão, que ao meu ver, não parecem dizer muita coisa, tendo em vista que esses dois pensadores em especial são mais ou menos quase cinco séculos antes do Cristianismo, o que dirá do Espiritismo. Se alguma influência houve da filosofia socrático-platônica, ela incidiu sobre ambas as religiões visto a anterioridade daquela sobre estas. Escrito em 1864, esta edição de tradução brasileira é de nº 112/1996, possui 435 páginas, tradutor original Guillon Ribeiro. 45 Quis Deus que a nova revelação chegasse aos homens por mais rápido caminho e mais autêntico. Incumbiu, pois, os Espíritos de levá-la de um polo a outro, manifestando-se por toda a parte, sem conferir a ninguém o privilégio de lhe ouvir a palavra. Um homem pode ser ludibriado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas vêem e ouvem a mesma coisa. (KARDEC, 1996, p. 29, b). Análise da Passagens: Passagem 01. Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem. (KARDEC, 1996, p. 51, b). Comentário: A cura constituiria, pois em tornar pensável uma situação dada inicialmente em termos afetivos, e aceitáveis para o espírito as dores que o corpo se recusa a tolerar. Que a mitologia do xamã não corresponda uma realidade objetiva, não tem importância: a doente acredita nela, e ela é membro de uma sociedade que acredita. (STRAUSS, 1985, p. 208) Aqui recorro a uma narração de Levi-Strauss, sobre uma paciente tratada por um xamã. Nome este que pode ser utilizado aos médiuns curadores. Pois são pontes entre o universo natural e o sobrenatural. O ideal espírita seria desta forma a aliança entre as duas “ciências”, a medicina humana e a medicina espiritual. Dessa forma, se obteria um resultado efetivo nos tratamentos de enfermidades. Pois para o espiritismo, a maior causa dos males são de procedência espiritual. Passagem 02. Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos pois que serão consolados, Jesus aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação leva o padecente a bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura. (KARDEC, 1996, p. 106, b) Comentário: Mais uma passagem de aproximação com o cristianismo notoriamente com o Catolicismo. De desapego ao material, como caminho para Deus. Os livros de Kardec traziam uma aproximação com o cristianismo notadamente, com os valores morais presentes nos Evangelhos. Isso se tornou bem marcado na obra O Evangelho Segundo O espiritismo (SANTOS, 2004, p. 13). Importante perceber a expressão “bem-aventurados”, expressão de uso comum entre as doutrinas cristãs. O próprio nome deste livro faz uma importante ligação entre o Kardecismo e o Cristianismo. O terceiro livro base Kardequiano se chama O Evangelho 46 Segundo o Espiritismo com A Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida. Fazendo uma alusão aos Evangelhos dos quatro evangelistas contidos no segundo testamento da Bíblia Cristã. Evangelho Segundo Mateus, Evangelho Segundo Marcos, Evangelho Segundo Lucas, Evangelho Segundo João. Ainda nesta mesma passagem, Kardec demonstra a enfermidade como caminho para a purificação da alma/espírito. Sendo a enfermidade desta forma a cura dos males do corpo e da alma/espírito de todo o ser. E caminho para Deus. Perguntais se é lícito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão equivale a esta outra: é lícito, aquele que se afoga cuidar de salvar-se? Aquele em que um espinho entrou retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as consequências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não desesperar, se não é bem sucedido; nunca porém, numa negligência que seria mais preguiça do que virtude (KARDEC, 1996, p. 121, b) O Kardecismo vê a doença como possibilidade de purificação dos pecados, não caminho exclusivo e prega a resignação diante dos infortúnios, nada de revolta ou revolução. Para os seguidores da obra de Kardec, a saúde tinha um componente moral e estava ligada à evolução dos espíritos. A doença, como outros sofrimentos, era entendida como expiação de erros passados desta e de outras vidas, e também como provação, oportunidade para a evolução espiritual (SANTOS, 2004, p. 26). A doença/enfermidades é um dos meios de purificação dos pecados. O enfermo deve aceitar a doença. Mas também deve buscar a sua cura ou melhora, diante as possibilidades existentes. Não fazê-lo significa negligência com o corpo e sucessivamente com a alma. Chico Xavier nos responde dizendo que “o homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico” (XAVIER, 1999). Tendo em vista que as enfermidades do corpo são um reflexo das enfermidades da alma. Passagem 03. A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto de seus estudos, feitos, muitas vezes a custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Podem pôr-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam (KARDEC, 1996, p. 367, b). 47 Comentário: Nesta passagem se percebe o conselho espírita para o emprego da mediunidade curativa. A alusão ao Cristianismo é clara. Também mostra como se processa a doação fluídica curadora na concepção Kardequiana. Nesta passagem também aconselha a não cobrança pela prática curativa, amplamente pregada pelos diferentes Espíritas e Centro Espíritas brasileiros24. Não menos certo é que todas essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus e que, se as observássemos pontualmente, seríamos inteiramente ditosos. Se não ultrapassássemos, o limite do necessário, na satisfação das nossas necessidades, não apanharíamos as enfermidades que resultam dos excessos, nem experimentaríamos as vicissitudes que as doenças acarretam. Se puséssemos freio à nossa ambição, não teríamos de temer a ruína; se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos de recear a queda; se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido; se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maldizentes, nem invejosos, nem ciosos, e evitaríamos as disputas e dissensões; se mal a ninguém fizéssemos, não houvéramos de temer as vinganças, etc. (KARDEC, 1996, p. 374, b). Essas ideias tem também outro alvo: o conceito espírita de caridade. O exercício do “amor ao próximo” entendido como instrumento de evolução espiritual perde totalmente sentido no discurso de “auto-ajuda” A eliminação da intermediação social como fonte de relação com o sagrado resulta, como se viu na transformação do bem estar do indivíduo no alvo fundamental desse tipo de discurso. Portanto, ao invés de dirigida para o “outro”, a ação do sagrado volta-se para si: É assim que se faz a evolução; não pelo que se faz ao próximo mas o bem que se faz para si” (STOLL, 2003, p. 265). Aparece aqui a ideia do conselho da caridade, cobrança, doença e cura. 4.4 Análise do livro: O Céu e o Inferno ou a justiça Divina Segundo o Espiritismo O Livro O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, como o próprio título do livro afirma, é uma tentativa de explicar a justiça divina segundo o Espiritismo Kardecista. Este livro é dividido em duas partes, a primeira parte se destina à explicação de temas como anjos, demônios, temor da morte, o nada, o materialismo e toda gama ligada ao não provável. A segunda parte é constituída de depoimentos que segundo o Espiritismo Kardecista são de diversos espíritos que faleceram, ou como o Espiritismo Kardecista afirma que já desencarnaram, suas experiências aqui na terra. Exemplos de espíritos sofredores a 24 Em visitas aos centros Espírita Amor e Humildade do Apóstolo, Fé e Caridade e Nosso Lar, os dois primeiros no Centro de Florianópolis e o último em Forquilhinhas, em São José não há cobranças. O que há é pedidos de doação de mantimentos, produtos de higiene, limpeza, ajuda financeira sempre frisando a destinação que de maneira geral é para o auxilio de despesas dos centros e doação á necessitados. 48 espíritos felizes, de espíritos suicidas a espíritos em condições medianas, de criminosos, sofredores, de toda e qualquer situação. Vivemos, pensamos e operamos eis o que é positivo. E que morremos, não é menos certo. Mas deixando a terra, para onde vamos? Que seremos após a morte? Estaremos melhor ou pior? Existiremos ou não? Ser ou não ser, tal a alternativa para sempre ou para nunca mais; ou tudo ou nada: Viveremos eternamente, ou tudo se aniquilará de vez? É uma tese, essa que se impõem (KARDEC, 1995, p.11, b). É o quarto livro da codificação Kardequiana. Escrito em 1865. Esta edição de tradução brasileira é de nº 40/1995, possui 425 páginas, tradutor original foi Manuel Justiniano Quintão. Análise das passagens Passagem 01. Este não passou de um pobre israelita de Vilna, falecido em maio de 1865. Durante 30 anos mendigou com uma salva nas mãos. Por toda a cidade era bem conhecida aquela voz que dizia: “Lembrai-vos dos pobres, das viúvas e dos órfãos!” Por essa longa peregrinação Slizgol havia juntado 90.000 rublos, não guardando, porém para si um só copeque. Aliviava e curava os enfermos; pagava o ensino de crianças pobres; distribuía aos necessitados a comida que lhe davam (KARDEC, 1995, p. 381, b). Comentário: Uma narrativa de uma viva de doação ao próximo segundo os preceitos Kardecista, e antes mesmo dele um princípio cristão. Vale lembrar que o Kardecismo se declara uma continuação do Cristianismo. Em relação a Jesus Cristo, para os o Cristianismo é visto como filho de Deus. Enquanto o Kardecismo vê Jesus Cristo, como um irmão muito evoluído para os patrões da terra que nela veio para servir de bom exemplo. Cristo foi um médium incomparável. Mandado por Deus à terra, veio ensinar-nos como é que podemos nos aperfeiçoar. Cristo não é nosso salvador. O homem salva-se a sim mesmo, seguindo o caminho de Cristo. Jesus morreu apenas para dar um exemplo de conformidade à vontade divino (WILGES, 2008, p. 119). A prática da cura, ou alívio dela, dentro da caridade é um caminho para a evolução do espírito, Assim como a enfermidade. Neste caso para que ocorra a cura ou melhora do enfermo o médium deve ter predisposição para o ato de curar e não alguma outra mediunidade, como a psicografia por exemplo. A natureza das comunicações guarda sempre relação com a natureza do Espírito e traz o cunho da sua elevação, ou da sua inferioridade, de seu saber, ou de sua ignorância. Mas em igualdade de merecimento, do ponto de vista hierárquico, há nela 49 incontestavelmente uma propensão para se ocupar de uma coisa preferentemente a outra (KARDEC, 1996, p. 227, a). Passagem 02. Os dois doentes que curaste são a prova do que te afirmo, pois, no estado em que estavam, com remédios nada terias conseguido. Quando implorares permissão a Deus para que os bons Espíritos te transmitam fluidos benéficos, se não sentires um estremecimento involuntário, é que a tua prece não foi bastante fervorosa para ser ouvida. É só nestas condições que a prece pode tornar-se valiosa. Nem outra coisa resulta de dizer: “Deus Todo- Poderoso, Pai de bondade e misericórdia infinita, permiti que os bons Espíritos me assistam na cura de.... Tende piedade dele, Senhor; restitui-lhe a saúde, por que, sem vós, eu nada posso fazer. Seja feita a vossa vontade.” Tens feito bem em não desdenhar os humildes; a voz daquele que sofreu resignadamente as misérias desse mundo, é sempre ouvida, e nenhum serviço deixa jamais de ser recompensado. Agora, uma palavra a meu respeito, confirmativa do que acima te disse: O Espiritismo te explica a minha linguagem de Espírito, sem que aliás me seja preciso entrar em minúcias a tal respeito. Outros sim julgo inútil falar-te da minha existência anterior (KARDEC, 1995, p. 388-389, b). Comentário: A prática espírita convencional, desde o tempo de Kardec, manda que os médiunscuradores recebam os espíritos de médicos falecidos e, com os conhecimentos e técnicas que eles trazem do mundo dos espíritos, ajudam a curar os vivos. (GREENFIELD, 1999, p. 65). Ou seja, segundo o Espiritismo Kardecista, pode existir apoio do mundo espiritual desde que haja entrega nos procedimentos. Para ficar mais claro, extraí do Livro dos Médiuns: Ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores a seguinte citação. A magnetização ordinária é um verdadeiro tratamento seguido, regular e metódico; no caso que apreciamos, as coisas se passam de modo inteiramente diverso. Todos os magnetizadores são mais ou menos aptos a curar, desde que saibam conduzir-se convenientemente, ao passo que os médiuns curadores a faculdade é espontânea e alguns até possuem sem jamais terem ouvido falar de magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que é o que constitui a mediunidade, faz-se manifesta, em certas circunstâncias, sobre tudo se considerarmos que a maioria das pessoas que podem, com razão, ser qualificada de médiuns curadores recorre á prece, que é uma verdadeira evocação (KARDEC, 1996, p. 217, a). Passagem 03. “Eu vo-lo digo: antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu expiava a privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios do último século, fiquei cego aos 30 anos, em decorrência de excessos de todo o gênero que, arruinando-me a saúde, enfraqueceram-me o organismo. Note-se que era já isso uma punição por abuso dos dons providenciais de que fora largamente cumulado. Ao invés, porém, de me atribuir a causa original dessa enfermidade, entendi de acusar a Providência na qual, aliás, pouco cria. Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o, acrescentando que, se acaso existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar as criaturas. Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava de 50 mendigar o pão, às feição de tantos outros míseros cegos como eu (KARDEC, 1995, 423, b). Comentário: O motor da trajetória espiritual é a relação que o mundo dos espíritos estabelece como Mundo Visível ao longo de sucessivas encarnações. A encarnação, o Mundo Visível, idealmente identificados à materialidade e a imperfeição, ocupam um lugar decisivo. São a possibilidade de progresso do Espírito. Neles os Espíritos originalmente iguais diferenciam-se, tornam-se mais ou menos imperfeitos, mais ou menos próximos da perfeição. O mundo Visível é o lugar da produção de uma desigualdade justa, pois que fundada no mérito (CAVALCANTI, 2008, p.29). A encarnação é vista como necessária para a evolução do espírito. Como sendo um estágio para o espírito, é o seu campo empírico, no qual não é facultada a passagem e onde necessita a aprovação para ai sim, obter a evolução. Desta forma é o caminho e não um caminho. Todos os espíritos passaram, estão passando ou passarão sem exceção até chegar em um estado puro, através de encarnações sucessivas (de sucesso, mas não necessariamente uma encarnação de sucesso após uma encarnação de sucesso, pode haver estagnação temporária por exemplo). Tornando a criação mais próxima do criador. Nesta passagem sem o sentido da visão foi a maneira dentro da concepção espírita de trazer o espírito para a conscientização de seu papel enquanto criatura. 4.5 Análise do livro: A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo O Livro A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo é dividido em três partes, a primeira parte trata da existência de Deus, constituição formação da terra, formação dos seres orgânicos e inorgânicos, constituição do universo, o princípio vital, geração espontânea, cataclismos, etc... A Segunda parte apresenta questões relativas aos milagres de toda ordem e os fluidos, citando os milagres atribuídos a Jesus Cristo, dado seguida a explicação Kardequiana. A terceira e última parte são as narrativas do Evangelho cristão com o olhar Kardequiano, assim com, a segunda parte, mas, com a diferença de não se ater apenas aos milagres de Cristo, mas sim, trazer um desfecho a cinco obras bases do Espiritismo Kardecista. Hoje a humanidade está madura para lançar o olhar a alturas que nunca tentou divisar, a fim de nutre-se de ideias mais amplas e compreender o que antes não compreendia. A geração que desaparece levará consigo seus erros e prejuízos: a geração que surge, retemperada em fonte mais pura, imbuída de ideias mais sãs, imprimirá ao mundo ascensional movimento, no sentido do progresso moral que assinalará a nova fase da evolução humana (KARDEC, 1995, p. 415, c). 51 Neste livro devido às narrativas de milagres atribuídos a Jesus Cristo, o tema cura se faz presente de forma significativa. O paralítico se levantou imediatamente e foi para sua casa. Vendo aquele milagre, o povo se encheu de temor e rendeu graças a Deus, por haver concebido tal poder aos homens (KARDEC, 1995, p. 317, c). É o quinto e último livro da codificação Kardequiana, foi escrito em 1868. Esta edição de tradução brasileira é de nº 36/1995, possui 422 páginas, tradutor original foi Guillon Ribeiro. Análise das passagens Passagem 01. As Próprias curas instantâneas não são mais milagrosas, do que os outros efeitos, dando que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha o papel de agente terapêutico, cujas propriedades não deixam de ser naturais por terem sido ignoradas até agora (KARDEC, 1995, p. 266, c). Comentário: Para que a cura ocorra é necessário do elemento primitivo fluido universal. Presente no ser encarnado ou desencardo. É mediante a transformação que esse opera no períspirito, que a cura se processa. O magnetismo é a produção do fluido do homem. (presente no ser encarnado e descarnado), e de papel fundamental para que haja o processo da cura Por onde o médium curador doa o seu fluido ao ser enfermo. Quanto mais reta for a vida do médium curador, desligado da matéria e possuidor de boas intenções, melhor fluidos ele produzirá. E melhor resultado terá. É importante citar que Médium receitista não é o mesmo que médium curador. Passagem 02. Quando se diz que um médico opera a cura de um doente, por meio de boas palavras, enuncia-se uma verdade absoluta, pois que um pensamento bondoso traz consigo fluidos reparadores que atuam sobre o físico, tanto quanto sobre o moral (KARDEC, 1995, p. 287, c) Comentário: O doente vê chegar o médico com maior satisfação do que aquele que está bem de saúde; ora, os aflitos são os doentes e o consolador é o médico (KARDEC, 1995, p. 35, c). 52 É sabido que trabalhar a autoestima, é fundamental para todo e qualquer ser, enfermo ou não. O enfermo costuma ter uma melhor resposta no seu tratamento. Pode até não trazer a cura, mas trabalha como um aliado, um complemento, aumentado a defesa do sistema imunológico. Desta forma também: As pessoas que assistem regularmente a serviços religiosos apresentam taxas mais baixas de doenças e de mortalidade do que aquelas que não frequentam regularmente esses serviços ou que não os assistem (LEVIN, 2001, p. 19). A maioria das pessoas, em nossa sociedade, quando doentes, busca um médico convencional que age com a medicina científica, oficialmente aceita, porém, cada vez é mais frequente encontrar pacientes que usam da medicina alternativa como um aliado, aí, incluída, a medicina espírita. Esses pacientes diferentes procuram a medicina convencional, muitas vezes, em conjunto com as medicinas alternativas. Há um campo vasto de predileções. Dessa forma, o paciente vai ao que melhor se identifica. Assim, remetendo ao médium, pastor, padre ou benzedeira, a responsabilidade de seu processo de cura e não somente o médico tradicional. Campo vasto ao Espiritismo Kardecista que desde seus primórdios já demostrava inclinação às práticas de medicina alternativa. Esta é uma das passagens presente no primeiro livro de Kardec, O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, datado de 1857, marco do nascimento Espiritismo Kardequiano. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem (KARDEC,1995, p. 421, a ). Vale lembrar a dicotomia entre a ação moral ética que o espiritismo tem com a saúde. Onde as enfermidades podem ter relação direta com as atitudes do ser. Pois, a cura perante o Espiritismo Kardecista acontece em dois âmbitos, o corpo e o espírito. Se não for desta forma, então, não houve a cura total, e sim, parcial. A cura que os médicos convencionais operam, segundo a doutrina kardequiana, é apena da forma corporal e não da espiritual. Passagem 03. Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõese uma força física: a uma causa moral preciso é que se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortificasse o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de 53 trabalhar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre- arbítrio (KARDEC, 1995, p.305, c). Comentário: Assim se explica como ocorre a obsessão. Que são vistas pelos Kardecistas como doenças mentais. A tese apresenta o espiritismo, não apenas como uma doutrina consoladora, mas também com uma “psicoterapia transcendente”, procurando um novo caminho etiológico para a doença mental, fora do materialismo organicista. (ISAIA, 2005, p. 186) Enfermidade esta que pode ser evitada. Tendo em vista que a causa da obsessão é do próprio obsediado (por atração) que permite que o espírito obsessor mantenha o controle sobre si. Pode-se evitar com vigília de ações, pensamentos e atitudes... O fortalecimento da moral do ser, e consequentemente de suas ações sociais, fortificando-se indo de encontro à evolução. Os doentes mentais, que até a idade média eram relativamente tolerados e encarados com religioso respeito e temor pela população – quem ouvia vozes podia ser louco, mas, também, podia ser uma pessoa santa, como Joana D’Arc -, agora são recolhidos em hospícios: ninguém pode ficar fora do processo de produção. No início do Renascimento, a Naus dos Insensatos (Nef. des Fous, Narranschiff) percorre rios europeus, levando os loucos que são expulsos das cidades e dos quais os barqueiros são encarregados de se livrar. No século XVII muda a percepção social da loucura. Predomina agora a visão de Blaise Pascal (1623-1662): pode-se conceber um homem sem as mãos, sem os pés, sem a cabeça até, mas, não sem a razão. O doente mental tornou-se uma criatura exótica. Na Inglaterra, as pessoas visitavam o hospício de Bedlam como quem vai ao zoológico; a entrada custava um penny e dava ao visitante o direito de atiçar os loucos (SCLIAR, 2002, p. 56). A loucura em seu passado era vista como algo indigno de um olhar humano, mas sim acusador. Algo desprezado e até mesmo engraçado25. 25 Lembro-me quando pequena descobri que uma vizinha minha na época tinha uma filha com síndrome de Down. Popularmente na época tida como doença, hoje se tem consciência que a Síndrome de Down como próprio nome indica é uma síndrome decorrente de distúrbio genético causado pelo cromossomo 21, extra, total ou parcial. E não uma doença. Coisa que só descobri muito tempo depois de frequentar a casa dela para ir brincar com seus outros filhos. Causou-me espanto a descoberta. A menina tinha um temperamento calmo e adorava olhar as revistas de moda (eu deveria ter uns 8 anos e ela uns 15 anos) A menina beijava as revistas e dizia que o “galã” da revista ia casar-se com ela. Ela acreditava mesmo em seus sonhos. Ela bem vaidosa e sempre cheirosa. Uma mocinha! Minha vizinha, a mãe da menina não a escondia por maldade, mas, por uma convenção. Pessoas nessas condições eram escondidas da sociedade isto, ainda, nos anos 80. Hoje há uma abertura e conscientização maior e sabe-se que nem mesmo doença é, muitos trabalham, estudam, casam. Enfim, levam uma vida normal. Mesmo havendo alguns preconceitos a serem quebrados. De minha vizinha não tive mais notícia, ela foi morar em outro lugar muito tempo depois, mas, quando saiu da rua, já se percebia um assumir da menina. Não amplamente, mas, parcialmente. Quem sabe hoje, a menina já tenha um papel ativo na sociedade. 54 Durante o século XVIII as emoções eram vistas como expressão do lado animal do ser humano; deviam ser, pois, dominadas. O tratamento dos doentes mentais era verdadeiramente bárbaro: Cabeças raspadas, eles eram sistematicamente submetidos a purga, à êmege, à sangria ou atirados sem aviso à água gelada, procedimentos que tinham por objetivo “chocá-los”, trazendo-os de volta à razão. Na França essa situação foi parcialmente revertida por Philippe Pinel (1745-1826), médico e escritor que advogava uma conduta mais humana para com os loucos. [...] Uma verdadeira revolução psiquiátrica só viria a ocorrer no século XX, com a psicanálise, os novos medicamentos e a instituição do tratamento ambulatorial da doença mental. Quando Sigmud Freud (1856-1939) mostrou que a repressão das emoções, e especificamente das emoções sexuais, pode ser um fator causador da doença mental, estava de fato revertendo as expectativas negativas em relação ao emocional, criadas pelo racionalismo dos séculos XVII e XVIII. (SCLIAR, 2002, p.56, 57) Episódios de obsessão tem por vezes tirar o juízo do obsediado. Causa delicada que exige muito cuidado por se tratar do desequilíbrio do ser. E não somente o ser encarnado, mas também, do ser desencarnado. O ideal é tratar ambos os seres, aconselhado-os para que ambos prossigam no caminho do bem, pois, ambos têm responsabilidade sobre a enfermidade (obsessão). O Kardecismo considera esse problema como (provável) decorrente de circunstâncias de encarnações passadas. Dessa forma, estagnam-se os dois em seu caminho para a evolução. O perdão mútuo, do obsessor ao obsidiado e vice versa, faz-se necessário. O espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais, facilmente, o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Neste fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo, dos que apresentam certa gravidade, quais os de subjugação e possessão. O obsediado e o possesso são pois quase sempre vítimas de uma vingança cujo motivo se encontra em existência anterior e a qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder (KARDEC, 1996, p. 171, b). Passagem 04. São as mais das vezes individuais a obsessão e a possessão; mas, não raro são epidêmicas. Quando sobre uma localidade se lança uma revoada de maus Espíritos, é como se uma tropa de inimigos a invadisse. Pode então ser muito considerável o número dos indivíduos atacados (KARDEC, 1995, p. 308, c). Comentário: Nesta passagem o Espiritismo aponta a obsessão e a possessão como causa de males que não apenas atinge o indivíduo, mas uma localidade por exemplo. Poderia usar como exemplo Sodoma e Gomorra com a diferença que os atos essas cidades não seriam feitos por Deus como na Bíblia Judaico-Cristã. Mas sim por espíritos atraídos pela atmosfera negativa da localidade. Causando ainda mais problemas (como doenças) a população que lá habita. 55 Passagem 05. Apresentam então um possesso cego e mudo e ele o curou, de modo que o possesso começou a falar e a ver: todo o povo ficou admirado preso de admiração e dizia: Não é esse o filho de David? Mas os fariseus, isso ouvindo, diziam: Este homem expulsa os demônios com o auxílio de Belzebu, príncipe dos demônios. Jesus, conhecendo os pensamentos, disse-lhes: Todo reino que se dividir contra si mesmo será arruinado e toda cidade ou casa que se divide contra si mesma não pode subsistir. - Se Satanás expulsa a Satanás, ele está dividido contra si mesmo, como, pois, o seu reino poderá subsistir? E, se é por Belzebu que eu expulso os demônios, por quem os expulsarão vossos filhos? Por isso, eles próprios serão os vossos juízes. - Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é que o reino de Deus veio até vós (KARDEC, 1995, p. 329, c). Comentário: Para o Espiritismo a faculdade de cura, bem como todas as outras, não são privilégio dos médiuns que agem de boa fé. É presente no médium de ideias não tão elevadas. Isso se explica devido ao livre arbítrio do ser. Seus atos serão medidos conforme a sua atuação dentro do que lhe foi dado. Tomando para o ser a responsabilidade sobre os seus atos. 1ª O desenvolvimento da mediunidade guarda relação com o desenvolvimento moral do médiuns? “Não; a faculdade propriamente dita se radica no organismo; independe do moral. O mesmo, porém não se dá com o seu uso, que pode ser bom, ou mau, conforme as qualidades do médium. (KARDEC, 1996, P. 283, a). Passagem 06. A ressurreição de Lázaro, digam o que disserem, de nenhum modo ínfima este princípio. Ele estava, dizem, havia quatro dias no sepulcro; sabe-se porém, que há letargias que duram oito dias e até mais. Acrescentam que já cheirava mal, o que é sinal de decomposição. Esta alegação também nada prova, dado que em certos indivíduos He decomposição parcial do corpo, mesmo antes da morte, havendo em tal caso cheiro de podridão. A morte só se verifica quando são atacados os órgãos essenciais à vida. E quem podia saber que Lázaro já cheirava mal: Foi sua irmã Maria quem o disse. Mas como o sabia ela? Por haver já quatro dias que Lázaro fora enterrado, ela o supunha; nenhuma certeza, entretanto, podia ter. (KARDEC, 1995, p. 334, c). Comentário: Fato interessante é de se notar que mesmo o Kardecismo procura uma legitimação cristã. Salvo em alguns aspectos como, por exemplo, a crença na reencarnação e não na ressurreição. O papel de Jesus Cristo e outros (WILGES, 2008). Para o Espiritismo os milagres atribuídos a Jesus Cristo no que diz respeito à ressurreição nas parábolas presentes do Novo Testamento são passam de apenas uma má interpretação da situação real do ser tido como morto. Para ele (Espiritismo Kardecista) Jesus 56 não ressuscitou nem a outro fez. A ressurreição de Jesus Cristo, o seu corpo ressuscitado não era o seu corpo carnal, mas sim, o seu perispírito. Este estado seria vivenciado pela pessoa depois da morte. Não negam Jesus Cristo como um espírito de missão que veio a terra para ensinar a filosofia de amor ao homem, servindo desta forma como bom exemplo. Mas, enquanto corpo carnal/matéria era como qualquer pessoa. Justifica desta forma (KARDEC, 1995): Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como por exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparentemente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brando no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação á sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior (KARDEC, 1995, p. 353-354, c). Em relação à ressurreição, utiliza-se a parábola de Lázaro. Segundo, o Espiritismo Kardecista não ocorreu ressurreição em Lázaro, nem a qualquer outro ressuscitado, não ocorreu nem mesmo a morte deste. Lázaro estava em um estado de letargia26 que foi desperto por Jesus Cristo que, como tinha o “dom” da cura, facilmente, operou em Lázaro. Quanto à decomposição, esta ocorre em vida de acordo com a circunstância do ser, a necrose por exemplo. Ainda, nesta passagem, a preocupação em desmitificar os milagres atribuídos a Jesus. Há aqui a busca de Kardec de tornar o Espiritismo Kardecista ciência e não religião. 4.6 Análise do livro: Obras Póstumas O Livro Obras Póstumas foi publicado após o falecimento de Allan Kardec, ou o desencarne como a teoria Espirita Kardecista denomina a morte do ser. Começando com um discurso lido em seu sepultamento. 26 sf (gr lethargía) 1 Med Sonolência mórbida. 2 Estado de sono profundo que se observa em várias doenças mentais e principalmente na doença do sono. 3 Estado de vida latente em que caem certos animais, relacionado com as estações ou em conseqüência de uma forte dissecação. 4 Estado de inércia ou indiferença; apatia. 5 Indolência, preguiça. 6 Estado de insensibilidade que constitui um dos passos do chamado transe mediúnico. L. africana ou l. dos negros: doença do sono. Fonte: Dicionário Michaelis disponível no endereço: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=letargia 57 É ainda sob guante dor profunda que nos causou a prematura partida do fundador da Doutrina Espirita, que nos abalançamos a uma tarefa, simples e fácil para suas mãos sábias e experientes, mas, cujo peso e gravidade nos esmagariam, se não contássemos com o auxílio eficaz dos bons Espíritos e com a indulgência dos nossos leitores (KARDEC, 2005, p. 415). Embora atribuído a Kardec o livro não monstra claramente a sua participação ativa27, o que se tem são relatos, escritos, e dados que Kardec deixou. Este livro não faz parte da codificação Espirita Kardecista que são os cinco livros analisados, anteriormente, neste trabalho. Fiz a leitura desta obra com o objetivo de entender toda a concepção kardequiana. Ele está dividido em duas partes, a primeira com temas complementares ao Espiritismo Kardecista, como expiações coletivas, música, manifestações. A segunda parte é destinada a questões mais práticas como a iniciação de Allan Kardec no Espiritismo, constituição da sociedade Espirita, as finanças da sociedade28, estatutos, enfim toda a trajetória dos primórdios do Espiritismo Kardecista. A comissão terá por um de seus primeiros cuidados ocupar-se com as publicações, desde que seja possível, sem esperar que o possa fazer auxílio das rendas. Os fundos a isso destinados não serão, em realidade, mais que um adiantamento, pois que voltarão à caixa, em virtude da venda das obras, cujo produto reverterá ao capital comum. É um negócio de administração (KARDEC, 2005, p. 451). É o sexto livro do Espiritismo Kardecista, foi escrito em 1890. Esta edição de tradução brasileira é de nº 33/2005, possui 478 páginas, o tradutor original foi Guillon Ribeiro. Análise das passagens Passagem 01. É assim que nas curas por imposição das mãos, o Espírito do médium pode atuar por si só, ou com a assistência de outro Espírito; que a inspiração poética ou artística pode ter dupla origem. Mas, do fato de ser difícil fazer-se uma distinção como essa não se segue seja ela impossível. Não raro, a dualidade é evidente e, em todos os casos, quase sempre ressalta de atenta observação (KARDEC, 2005, p. 14). Comentário: Aqui a explicação da participação do espírito do médium que às vezes atuam não somente o corpo como instrumento, mas uma participação efetiva em todo o âmbito. 27 Tendo em vista, que a teoria Kardecista, se baseia na comunicação entre vivos e mortos. No livro Obras Póstumas (2005, p.451) há uma defesa de Kardec, respondendo a críticas ao uso do dinheiro da sociedade Espirita de Paris. Não estou de defendendo ou não Kardec, mas, acho desnecessária tal explanação a cerca de assunto como este em um livro de doutrinação. Deselegante talvez. Hora, as pessoas adeptas do Espiritismo veem os livros de Kardec, como livro sagrado. Para essas pessoas, os livros de Kardec, são como a Bíblia cristã. Não cabendo ali tais explicações. 28 58 Passagem 02. A ação fluídica, ao demais, é poderosamente secundada pela confiança do doente, e Deus quase sempre lhe recompensa a fé, concedendo-lhe o bom êxito. 54. Somente a superstição pode emprestar qualquer virtude a certas palavras e unicamente Espíritos ignorantes ou mentirosos podem alimentar semelhantes ideias, prescrevendo fórmulas. Pode, entretanto, acontecer que, para pessoas pouco esclarecidas e incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, o uso de uma fórmula de prece ou de determinada prática contribua a lhes infundir confiança. Nesse caso, porém, não é na fórmula que está à eficácia e sim na fé que aumentou com a ideia ligada ao emprego da fórmula (KARDEC, 2005, p. 83). Comentário: Aqui nesta passagem, responsabiliza-se a fé do paciente ao resultado do procedimento. É também uma forma simples de se isentar de resultados não esperados ou até mesmo de um não resultado. A crença é fundamental para o sucesso do procedimento de cura. Para a maior parte das doenças sempre foi difícil estabelecer relações de causa e efeito; é um tipo de raciocínio que depende do grau de desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Privados desses recursos, os povos primitivos explicavam a doença dentro de uma concepção mágica do mundo: o doente é vítima de demônios e espíritos malignos, mobilizado talvez por um inimigo, ou seja, e a patologia como faceta da mitologia (SCLIAR, 2002, p. 14). E se a pessoa tratada no Centro Espírita não tiver fé? Não será digno de alcançar a cura por meio de um tratamento alternativo/complementar ofertado em um Centro Espírita Kardequiano? Seria excluir uma pessoa sem fé? Deste caso, será que o percentual de pessoas que conquistaram a cura é formado por pessoas sem, com pouca fé ou muita fé? A cura desta maneira dependeria mais do paciente do que do médium, do centro ou da técnica empregada? Para o Espírita Kardecista (KARDEC, 1995) Deus não abandona um filho seu. Mas, o caminho neste caso pode tornar-se longo. Quanto à cura, até poderá curar-se sem fé, mas, de maneira geral, como no caso acima, não brevemente. Pois, no caso, o enfermo trabalharia em sentido oposto a vontade de curar-se. Passagem 03. Todos os efeitos do magnetismo, do sonambulismo, do êxtase, da dupla vista, do hipnotismo, da catalepsia, da anestesia, da transmissão do pensamento, a presciência, as curas instantâneas, as possessões, as obsessões, as aparições e transfigurações, etc., que formam a quase totalidade dos milagres do Evangelho, pertencem àquela categoria de fenômenos (KARDEC, 2005, p. 152). Comentário: 59 Como se pôde observar na passagem acima, alguns estados do ser que para o conhecimento geral nada tem a ver com fenômenos transcendental, como o sonambulismo, ganha toda uma ressignificação dentro da concepção Espírita Kardecista. Pode considerar-se o sonambulismo uma variedade da faculdade mediúnica, ou, melhor, são duas ordens de fenômenos que, frequentemente, se acham reunidos. O sonâmbulo age sob influência do seu próprio Espírito; é a sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos. O que ele externa tira-o de si mesmo; suas ideias são, em geral, mais justas do que no estado normal, seus conhecimentos mais dilatados, por que tem livre a alma. Numa palavra, ele vive antecipadamente a vida dos Espíritos (KARDEC, 1996, p. 215, a). Aqui é atribuído algo mágico a um estado do ser, definindo o sonambulismo29 como algo especial. Ou alguém que tem maior facilidade de se comunicar com pessoas já falecidas. Passagem 04. Então, o círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-se-á completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um facho, que é a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também muitos dentre eles gozarão desse estado particular, que é privilégio das grandes almas, como Jesus, e que dá o poder de curar e de operar essas maravilhas chamadas milagres (KARDEC, 2005, p. 381). Comentário: Segundo KARDEC (1996), os espíritas acreditam ter um conhecimento além da medicina convencional. Eles acreditam ser privilegiados porque dentro da sua concepção, enxergam o enfermo em outras dimensões. E os médicos de formação e não adeptos do espiritismo Kardecista? Quando os médicos conhecerem bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão mais doentes do que com as duchas. (KARDEC, 1996, p. 323, a). Se os médicos são mal sucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem. (KARDEC, 1996, p. 51, b). Por isso é que dizemos que estes estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como, aliás, o exigem todas as ciências humanas, continuidade 29 Sonambulismo: 1 Estado ou doença dos sonâmbulos. 2 Fisiol Estado caracterizado pela facilidade de andar e de repetir durante o sono certos movimentos contraídos pelo hábito, sem que de tal fique a menor lembrança ao despertar. S. artificial ou s. magnético ou s. provocado: estado semelhante ao sonambulismo natural, mas devido à ação do hipnotismo e caracterizado por insensibilidade exterior e, às vezes, pela exaltação de certas faculdades.Fonte: Dicionário Michaelis, 2012. 60 e perseverança. Anos são precisos para forma-se um médico medíocre e três quartas partes de vida para chegar-se a ser sábio (KARDEC, 1995, p. 38, a). A oposição da medicina e da psiquiatria nunca levava em consideração as teorias espíritas, mas, somente suas práticas. Para os psiquiatras, de fato eram criticáveis suas sessões religiosas, em geral, associadas ou não a propósitos de cura (SANTOS, 2004, p. 61). Salvo os médicos adeptos ao espiritismo Kardecista (SANTOS, 2004), Bezerra de Menezes30, por exemplo - que inclusive presidiu a Federação Espírita Brasileira por volta de 1886, o que causou grande alvoroço na época - um médico, um homem de ciência, se deixar acreditar em crenças sobrenaturais de um além comunicativo, era algo inusitado. A controvérsia entre médicos e espíritas no Brasil foi estudada entre outros, por Emerson Giumelli, que salienta a forma substantiva da condenação médica ao espiritismo e também uma outra posição, típica do saber jurídico do século XX, Apenas “baixo” espiritismo era criminalizado, enquanto o “alto” espiritismo, praticado por uma elite letrada e familiarizada com o exercício do poder, era tolerado. (ISAIA, 2005, p. 176). Essa visão de “baixo” espiritismo31 ainda, faz-se presente. Não é raro escutarmos pessoas se declarando espírita, mas em seguida, justificando-se que o seu é de Kardec, ou até mesmo de Chico Xavier. No Livro Obras Póstumas (atribuído a Kardec) há menção à necessidade de um médico de formação, auxiliando os serviços sociais que o Espiritismo almejava desde aquela época. 3º Um dispensário destinado às consultas médicas gratuitas e ao tratamento de certas afecções, sob a direção de um médico diplomado; 4º Uma caixa de socorros e de previdência em condições práticas; 5º Um asilo; (KARDEC, 2005, p. 434). Este ideal foi alcançado, pelo menos aqui no Brasil. Atualmente, o Espiritismo conta com renomados médicos e instituições famosas por proporcionarem tratamento alternativo/complementar a uma gama de pacientes, inclusive de outras concepções religiosas. Ali atuam médicos de formação e, também, pessoas que possuem o “dom” da cura por encarnações anteriores segundo o Espiritismo. Desta forma, esta cura se dá por conhecimento de encarnações anteriores. 30 Mais tarde segundo SANTOS (2004) Ele foi um dos três mentores (André Luiz, Emmanuel e Bezerra de Menezes) de Chico Xavier sob a influência de Bezerra de Menezes Chico Xavier atuava como médium receitista, antes da adesão total de Chico a literatura Espirita Kardecista. Bezerra de Menezes vale lembrar também em vida foi um político, médico e empresário influente do sec. XIX no Brasil. Sua adesão causou grande alvoroço em seu meio, o meio da ciência (medicina). 31 Informação verbal de pessoas adeptas do Espiritismo Kardecista, onde ao se declarar Espirita, fazem questão de frisar que é de Allan Kardec, não raro Espiritismo de Chico Xavier, ou, como já ouvi da escritora Espírita, sucesso de vendas em livros de auto ajuda, Zíbia Gaspareto. 61 Quanto aos que tem uma aptidão especial para comunicações científicas, históricas, médicas e outras, fora do alcance de suas especialidades atuais, possuíram, em anterior existência esses conhecimentos, que permanecem neles em estado latente, fazendo parte dos materiais cerebrais de que necessita o espírito que se manifesta; são os elementos que a este abrem caminho para a transmissão de ideias que lhe são próprias, portanto, em tais médiuns encontra ele instrumentos mais inteligentes do que num ignaro (KARDEC, 1996, p. 239, a). É, para estes, uma lembrança retrospectiva do que viram e souberam, quer na erraticidade quer em suas existências anteriores, como alguns têm a intuição das línguas e das ciências de que já foram conhecedores (KARDEC, 1995, p. 363, c). Desta forma, o espiritismo segue hoje com mais variadas obras assistenciais como asilos, hospitais e as mais variadas obras assistenciais. Fortalecendo o desejo de seu codificar e fomentando o interesse e crença de seus adeptos e simpatizantes. 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS O modo de conceber a doença e a cura é visto no Kardecismo como um meio para a evolução do espírito. A doença não é, simplesmente, uma doença do corpo, mas, há toda uma diferenciação permeada por questões éticas e morais evolucionistas, tal como aponta a cosmovisão espírita. Desta maneira, a forma de tratamento, também, é diferenciada. Busca-se tratar a causa da doença na esfera, também, espiritual, tendo em vista que, para os Kardequianos, os males do corpo são reflexos dos males da alma. Mediante esta concepção contam com ajuda de “espíritos protetores” que atendem nos centros espíritas e em Casas de assistência como as visitadas por mim para a complementação da elaboração deste trabalho. Lá tive a oportunidade de me familiarizar com termos, técnicas e vivencias indispensáveis para um conhecimento abrangente do tema desta pesquisa. Fiz uma análise dos cinco livros alicerce do espiritismo Kardecista: O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, O Evangelho Segundo o Espiritismo com a Explicação das Máximas Morais do Cristo em Concordância com o Espiritismo e suas Aplicações ás Diversas Circunstâncias da Vida, O Céu e o Inferno ou a justiça Divina segundo o Espiritismo, A Gênese Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. E mais, Obras Póstumas. Com as leituras, fichamentos, e observações, conclui que o que eu pensava sobre o assunto antes da pesquisa não se confirmou. Os discursos, semelhantes ao meu, de muitos adeptos e não adeptos do espiritismo kardecista, acreditavam que este viés curandeirista somente havia se tornado forte no Brasil, sem fundamentação teórica nas obras de Kardec que embasasse tal crença. Pude perceber que estava errada. Essa aproximação assistencial de cura/enfermidades saúde e correlatos já é presença desde 1857, percebida desde o primeiro livro de Kardec, O Livro dos Espíritos Princípios da Doutrina Espírita, com nada menos que 21 citações, seguindo de maneira variada conforme quadro32 de análise desde trabalho. Nestes trechos de Kardec são apresentadas a sua concepção, relações, causas e soluções aos males do corpo e aos males da alma. É Verdadeira a afirmação que diversos fatores próprios do país, como falta de condição financeira, falha no Sistema Nacional de Saúde, falta de perspectiva na medicina convencional, carência emocional ou mesmo por crença, favoreceram que o Brasil desse ênfase à cura e seus correlatos. Mas, Kardec, desde o primeiro ao último livro base da 32 Página de número 33 desde trabalho. 63 literatura Kardequiana, deixa clara a intenção desta nova concepção de cura e relacionados. Isto não é e nem foi uma “invenção tupiniquim”. Adeptos usam e tomam como base obras alicerces Kardequianas, legitimam-se, atribuem saberes e práticas à cura que se distingue da concepção convencional. Para Foucault (2011) essa legitimação já se dá pelo nome do autor, no caso aqui, Allan Kardec. Isso, por si só, já basta para legitimar as suas ideias e formar base teórica do Espiritismo Kardecista. É como em uma escolha de um livro, pelo nome do autor já se atribui juízo de valor à obra. Onde o nome do autor tem destaque, muitas vezes, na própria capa da obra, onde, nem sempre, se lê o título da obra, mas sim, quem o escreveu. Esta realidade acontece com as obras de Allan Kardec, Chico Xavier e tantos outros escritores espíritas famosos. Voltemos ao tema principal, a temática da cura nas obras de Kardec. Ela se fez presente em todos os livros base do Espiritismo Kardecista, merecendo o devido destaque o livro A Gênese Os Milagres e as predições Segundo o Espiritismo. Nesta obra se encontram o maior número de citações relativas ao assunto, mesmo que essas páginas no caso, sejam narrativas dos milagres de Jesus Cristo descritas na Bíblia Cristã. Em seguida se explicita a explicação dada pelo entendimento Kardecista. Para os Espíritas Kardecistas as curas realizadas por Jesus Cristo são passes33. Jesus Cristo, apenas, estendia suas mãos ao enfermo e com a força de seu espírito, sua fé e determinação curava os enfermos. Para o Espiritismo eram passes esses procedimentos tomados por Cristo. Como vimos, durante o percurso deste trabalho, aconteceu uma aproximação entre Kardec e a Igreja Católica Apostólica Romana, crença de sua infância. Essa influência foi tão forte a ponto de Kardec afirmar que o Espiritismo era a continuação do Cristianismo, como se pode perceber em várias passagens neste trabalho. Por fim, devo admitir que a pesquisa tomou um rumo inesperado desde de seu início. Inclusive nos resultados finais. Espero ter correspondido com o esperado para um trabalho de Conclusão de Curso. A falta de tempo, infelizmente, fez-me recuar de assuntos por mim pensados antes, durante e depois deste trabalho34. Desta forma, dou por encerrado este trabalho. 33 Segundo Xavier (1999) o passe é uma transfusão de energias psíquicas, essa transfusão pode ser utilizada no tratamento de enfermos, ou ser transmitido para pessoas que se dispostas recebê-lo, mesmo estando saudável. Simplificando o passe é uma transmissão fluídica/magnética. 34 O médium João de Deus. Atual médium curador de renome internacional que atua na casa Dom Inácio de Loyola praticando curas espetaculares ao vivo. 64 REFERÊNCIAS ALEXANDRE, Agripa Faria. 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Chico Xavier – A vida e suas Obras. <http://clotildes.tripod.com/chico_xavier.html > Acesso em: 27 maio. 2012. Disponível em: 67 ANEXO 01. Bom dia, meu nome é Simara e sou do curso de Ciências da Religião – USJ. Estou desenvolvendo o meu TCC em cima da temática cura espiritual. E como o Centro de vocês é referência no assunto gostaria de perguntar se tem há possibilidade de eu desenvolver o meu trabalho TCC junto a sua casa? Se puderem me receber, agradeço muito! Respeitosamente, Simara M. F. Luz 68 ANEXO 02. Notícia vinculada no site: http://waves.terra.com.br/surf/noticia/violencia-gratuita-na- ferrugem-(sc)/51276 em: 05 de fevereiro de 2012. Reportagem segue na íntegra. Violência gratuita na Ferrugem (SC) A madrugada da última quinta-feira quase terminou em tragédia para o professor universitário Evandro de Brito, 41, e o amigo Érick Casarini, 39. Moradores da capital catarinense Florianópolis, os dois saíam de uma casa noturna na praia da Ferrugem, Garopaba (SC), quando foram espancados por três rapazes. Amigo de umas das vítimas, o fotógrafo Eduardo Dutra envia um relato com detalhes absolutamente lamentáveis sobre o episódio absurdo daquela noite. Infelizmente somos obrigados a divulgar uma notícia como esta, retrato da pura violência, racismo e descaso com a vida. O episódio aconteceu na noite da última quartafeira, por volta das 5 horas da manhã. Ao que se sabe, Evandro de Brito, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina, uma pessoa de bem, estava apenas se divertindo na praia da Ferrugem. Evandro, que é negro, comia batatas fritas quando um dos agressores chegou e meteu a mão no alimento dele, já com a pretensão de arrumar confusão. Foi o que acabou acontecendo. Amigo de Evandro, Erick Casarin, músico de Florianópolis, outra vítima desta tragédia, chegou para tentar separar o amigo da confusão. Erick começou a apanhar também. Ele comentou depois que apagou já no terceiro golpe e os dois foram espancados ali mesmo e largados no chão. Quando se recuperaram, saíram correndo em direção à Vila da Ferrugem, quando os agressores, não contentes com o que já haviam feito, voltaram de carro para finalizar a história, armados de chaves de rodas e desferiram vários golpes na cabeça e corpos dos dois que já estavam imóveis neste momento. A intenção parecia ser de matar, em um ato de absurda covardia e maldade pura. Largaram os dois desmaiados, que foram encontrados no mesmo local, com vida. Foram hospitalizados em estado grave, mas sem risco de morte. Já se sabe os nomes de dois dos agressores, caras que pegam onda na região. O dono do carro é um tal Edinho, possui um Celta prata, placa de Cidreira (RS). Ele teria levado no veículo os outros dois até o local da agressão. O segundo é conhecido pelos apelidos de Rasta / Natural, tem cabelo rastafari. O terceiro agressor ainda é desconhecido e todos estão foragidos de Garopaba. Foi instaurado inquérito policial na delegacia de Garopaba e o IML (Instituto Médico Legal) fez exame de corpo de delito nos dois para registrar os danos causados. Seguem aqui os telefones das delegacias de Garopaba e Cidreira para eventuais contatos. Delegacia de Garopaba - A/C ALEX - (0xx48) 3254-3190 e Policia Civil de 69 Cidreira (RS) - (0xx51) 3681-1166. Qualquer informação ou fotos dos agressores, por favor entrem em contato com as delegacias, Facebook, meios de comunicação. A princípio, o caso está sendo investigado na delegacia de Garopaba. Agradecemos por todas as orações e pensamentos positivos dedicados aos nossos irmãos, são pessoas de bem, vitimas de agressão, tentativa de homicídio e racismo.