II SEMINÁRIO DE AGROECOLOGIA DE PERNAMBUCO 26 a 27 de Abril de 2010 Recife-PE/Brasil Comercialização de Mel e Derivados: A Experiência dos Jovens do Assentamento Santa Agostinha, Caraúbas-RN Robson Luiz Soares Gurgel 1; Felipe Tenório Jalfim 2; Rosane Gurgel 3 1- Contexto A geração de renda e ocupação produtiva sempre aparece como um desafio nos assentamentos e comunidades rurais no território do Sertão do Apodi-RN. A falta de alternativas de renda vem se configurando como o principal desencadeador do êxodo rural entre os jovens neste território. Esse desafio se torna ainda maior quando se busca uma alternativa que não signifique em prejuízo para os jovens em seus estudos, ou mesmo desmotivá-los em relação à dedicação necessária dentro e fora da sala de aula. O Sertão do Apodi é conhecido por oferecer um excelente potencial de florada apícola para a criação de abelhas (Apis melífera). Há uma grande quantidade de espécies vegetais nativas com épocas diferenciadas de floração, capazes de proporcionar uma oferta regular de pólen e néctar para as abelhas. Nesse contexto, os jovens do Assentamento Santa Agostinha, situado no município de Caraúbas, no Sertão do Apodi – RN, após participarem de uma visita de intercâmbio sobre apicultura, decidiram trabalhar com esta atividade já existente no assentamento, mas sob o domínio dos adultos. Os jovens enxergaram nesta atividade uma boa oportunidade de se organizarem em torno de uma atividade prazerosa e criativa, com benefícios ambientais positivos e que lhes proporcionavam geração de renda com pouca exigência de mão de obra. 2- Objetivos Desenvolver nos jovens do assentamento Santa Agostinha a geração de conhecimento sobre todo o ciclo da atividade apícola – da confecção das colmeias até o beneficiamento e comercialização do mel e derivados –, de modo a promover a geração de renda para estes, em harmonia com suas necessidades estudantis e conservando os recursos naturais. 3- Descrição da Experiência Na reunião de planejamento anual (2003) do assentamento, no âmbito do Projeto Dom Hélder Câmara / MDA / FIDA, os jovens elegeram a apicultura como uma atividade a ser desenvolvida pelo seu grupo de interesse. 1 Assessor Técnico da ATOS. Coordenador do Componente de Desenvolvimento Produtivo e Comercialização / Projeto Sertão (PDHC/MDA/ FIDA); 3 Supervisora do PDHC/MDA/FIDA, Território do Sertão do Apodi-RN 2 II SEMINÁRIO DE AGROECOLOGIA DE PERNAMBUCO 26 a 27 de Abril de 2010 Recife-PE/Brasil O primeiro passo foi a realização de uma visita de intercâmbio e posteriormente a implantação de uma Unidade Demonstrativa, que pudesse lhes proporcionar uma vivência prática de aprendizado, reforçado por cursos específicos. O Projeto de Unidade Demonstrativa de Apicultura foi apoiado no ano de 2003 pelo Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC), juntamente com o assessoramento da ATOS (Assessoria, Consultoria e Capacitação Técnica Orientada Sustentável). Esse projeto foi elaborado envolvendo a participação de praticamente todos os jovens da comunidade. Com os bons resultados da Unidade Demonstrativa, os jovens desse assentamento implantaram uma casa do mel com recursos próprios. Posteriormente, com o apoio do PDHC, iniciaram a construção de um entreposto de mel, que ainda está em fase de construção. Pensando em agregar valor ao mel, os jovens também iniciaram a produção artesanal de cosméticos a base de mel. A capacitação para essa etapa contou com o apoio da parceria entre ATOS/FETARN/PDHC. Motivados pela comercialização de produtos com maior valor agregado, vários jovens já acessaram ao crédito do Pronaf jovem, ampliando a capacidade produtiva e de acesso aos mercados. A gestão do projeto é realizada pelo grupo de jovens composto por 24 componentes e se dá com base em regimento interno. Neste o grupo é dividido em 5 subgrupos e cada um deles tem sua função definida. Estes subgrupos estão divididos da seguinte forma: 1) manutenção dos Apiários; 2) higienização, 3) captura de enxame, 4) colheita e beneficiamento e 5) administração e comercialização. O grupo de jovens possui como dinâmica de organização a realização de reunião mensal para avaliação, prestação de contas e encaminhamento das ações e atividades do grupo. Nestes momentos também são definidos os horários e o calendário de trabalho de cada integrante do projeto, objetivando não atrapalhar as atividades escolares dos mesmos. Os técnicos/as da ATOS fazem o acompanhamento técnico destas reuniões e de todo o ciclo da atividade apícola. 4- Resultados O grupo de jovens do PA Santa Agostinha encontrou neste projeto de Apicultura uma atividade produtiva integrada aos agroecossistemas de gestão familiar e às suas necessidades socioeconômicas. Alguns membros do grupo têm um grande domínio no tema do beneficiamento do mel e hoje administram cursos sobre a apicultura, principalmente sobre a produção de cosmético a base de mel, para agricultores assistidos pela EMATERN, SEBRAE e ATOS. II SEMINÁRIO DE AGROECOLOGIA DE PERNAMBUCO 26 a 27 de Abril de 2010 Recife-PE/Brasil A experiência vem proporcionando a permanência do jovem no campo, compatibilizando oferta e tempo para o trabalho, lazer e estudo. Além destes resultados, é importante mencionar que antes da experiência do Projeto de Unidade Demonstrativa, os jovens não participavam das reuniões da associação e nem se preocupavam com os problemas do assentamento. Depois da organização do grupo no Projeto eles já são sócios da associação e alguns fazem parte da diretoria, inclusive atualmente o presidente da associação do assentamento é um jovem. Por outro lado, ainda persistem muitos entraves e desafios para o grupo de jovens, os quais merecem ser aqui destacados: a) entraves fiscais - o mel só pode ser comercializado no município de Caraúbas, pois só tem o Selo de Inspeção Municipal (SIM). A atual busca do grupo é a obtenção do registro no Serviço de Inspeção Federal - SIF, que possibilitará a comercialização do produto em todo o território nacional. O registro no SIF, por sua vez, é um processo extremamente complexo para um grupo de jovens agricultores, com informações pouco claras. Isso, às vezes, desanima membros do grupo, que no geral continua firme na luta pela superação de mais esse desafio; b) pouca capacidade logística para a ocupação de mercados fora do território - o grupo ainda não dispõe de transporte e quando comercializa em eventos como feiras e exposições de produtos da agricultura familiar, seminários, oficinas e outros eventos, os produtos são transportados através do apoio da ATOS; c) Capacidade de produção ainda é insuficiente para atender a demanda; d) Descrença de alguns membros do assentamento com o grupo e com o projeto. Isso é devido a alguns pais de jovens e outros assentados terem desistido em participar em projetos de apicultura, fato que refletiu no comportamento negativo destes em relação ao Projeto dos jovens, levando-os a criar barreiras como: querer vender os equipamentos que pertenciam à associação, não permitir que os jovens colocassem as colmeias em algumas áreas coletivas, etc.