REPRESENTATIVIDADE DAS PERDAS DE MATERIAIS EMPREGADOS EM ETAPAS DA EXECUÇÃO DE UMA OBRA EM JOÃO PESSOA-PB Ana Cláudia de Sá B. Bezerra Universidade Federal da Paraíba - Deptº de Engenharia de Produção Caixa Postal 1632 - CEP58059-900 - João Pessoa – PB [email protected] Rosana Andréa Coêlho Mergulhão Universidade Federal da Paraíba - Deptº de Engenharia de Produção Caixa Postal 1632 - CEP58059-900 - João Pessoa – PB [email protected] Área Temática: Horizontes da Engenharia de Produção ABSTRACT This paper presents the results of a representativity study of the materials waste, employed in stages from structure, mansory and ceramic revetment, to execution from a building in João Pessoa/PB, and its final cost estimated. It was verified that the materials waste in those stages have significant representativity in the final cost estimated. The cost from those respective wastes, if made a study of three more stages, could implicate in the failing approached the 33,80% of the lucrativity. KEY WORDS: material waste, civil building, material cost. RESUMO Este trabalho apresenta os resultados de um estudo de representatividade de perdas de materiais, utilizados nas etapas de estrutura, alvenaria e revestimento cerâmico, na execução de um edifício residencial em João Pessoa/PB, e da estimativa do seu custo final. Foi verificado que a perda dos materiais utilizados nessas etapas tem uma significativa representatividade no custo final orçado. Se fosse realizado um estudo em mais três etapas construtivas, o custo das perdas poderia implicar numa queda de lucratividade em torno de 33,80%. 1. INTRODUÇÃO Atualmente as empresas do sub-setor edificações se defrontam, por um lado, com uma crescente concorrência e, por outro, com clientes cada vez mais exigentes. Por essa razão, tais empresas são direcionadas para a melhoria da qualidade de seu produto e para a minimização dos custos, no intuito de manterem-se competitivas. Os custos de materiais que entram na elaboração da edificação correspondem a cerca de 60% do custo de produção ( FORMOSO,1986 ). Por essa razão, esse e outros autores apontam como sendo uma das formas mais eficientes de minimização dos custos, a redução das perdas de materiais, as quais tem sido bastante elevadas, dado os valores até então conhecidos. Com isso, evidencia-se a relação direta entre perda de materiais e custo de produção. Tal fato despertou o interesse do grupo de pesquisa da Escola SENAI de Construção Civil em estudar a participação das perdas de materiais no custo final de uma obra em João Pessoa-PB. Este estudo insere-se na proposta de análise das perdas de materiais identificadas com a realização do projeto “Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obra”. Os resultados desse estudo são apresentados neste artigo, cujo objetivo é analisar o custo dos materiais empregados em quantidades superiores àquelas projetadas, relacionando as etapas de execução, na qual foram utilizados, ao custo final orçado da citada obra. 2. PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE PERDA DE MATERIAIS Perda, de acordo com Formoso et al (1996), é ‘...qualquer ineficiência que se reflita no uso de equipamentos, materiais, mão-de-obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias a produção da edificação”. Neste sentido, tanto a quantidade de material empregada indevidamente como a realização de tarefas improdutivas são vistas como custos adicionais e, por esse motivo, não agregam valor à edificação. As perdas de materiais tem sido o enfoque da maioria dos estudos. Skoyles(1976), um desses estudiosos faz as seguintes afirmações, citadas por Costa e Formoso (1998): • As perdas de materiais, em grande parte, são evitáveis; • As perdas de materiais em obras similares, são variáveis; • Essa variação tem como principal influência, o gerenciamento; • As perdas de materiais estão relacionadas com o canteiro e as pessoas que ali trabalham. As perdas de materiais inevitáveis são consideradas, por Wyalt apud Soibelman (1993), perda natural, dada a dificuldade de efetuar o controle de suas causas. As perdas de materiais evitáveis, ou seja, desperdícios, como enfatiza Soibelman , tem suas possibilidades de redução definidas a partir de informações fornecidas pelos indicadores, denominação atribuída a medição de perdas por Formoso (1994). 3. METODOLOGIA Para estudar a representatividade das perdas de materiais no custo final orçado da referida obra, foi desenvolvida uma metodologia que consta das etapas descritas abaixo. 1ª Etapa: Quantificação das perdas Nesta etapa foram desenvolvidos os procedimentos estabelecidos no projeto, citado anteriormente, que são voltados para: a. Caracterização da empresa e da obra e verificação inicial do estoque dos materiais estudados; b. Medição dos serviços e verificação dos recebimentos dos materiais estudados; c. Caracterização dos serviços e dos materiais estudados; d. Verificação final do estoque dos materiais estudados; e. Determinação dos indicadores global e parcial. 2ª Etapa: Quantificação dos custos Esta etapa compreendeu procedimentos estabelecidos pelo grupo de pesquisa da Escola SENAI de Construção Civil, que foram: a. Determinação do custo dos materiais usados em quantidades acima da projetada com base no método de custo unitário; considerado aqui, o produto do preço unitário de mercado pela quantidade em excesso empregada . A escolha desse método se deve a sua simplicidade, pois, tem-se como propósito, fazer um alerta para a questão das perdas de materiais, e não a precisão dos resultados; b. Verificação do custo total dos materiais em excesso para cada etapa de execução estudada a partir da soma dos custos determinados no item anterior; c. Estudo da representatividade de cada etapa no custo final orçado, pela observação do percentual de participação do custo das perdas de cada etapa. Tratou-se de uma pesquisa realizada no período de jun/97 a nov/98, no qual os serviços poderão ser estudados integralmente ou em parte, como exposto no QUADRO 1 QUADRO 1 Número de pavimentos estudados por serviço Serviço Nº total de pavimentos Nº de pavimentos estudados Produção de concreto e Lançamento de concreto 08 04 08 04 Alvenaria 08 08 Revestimento Cerâmico 08 08 produzido em obra Lançamento de concreto usinado 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Como o descrito na metodologia, houve inicialmente a determinação das perdas de materiais, a partir das quais fez-se a avaliação dos custos e sua representatividade no custo final orçado. Na mesma ordem serão apresentados abaixo os resultados, antes, porém, serão apresentados os dados que caracterizam a obra. 4.1 – SOBRE A OBRA A obra foi realizada por uma empresa que atua há vários anos no mercado imobiliário, com atividades de construção e incorporação, tendo participado de alguns programas de treinamento para a qualidade. Trata-se de uma edificação multifamiliar de médio padrão com área construída de 1.808.71m2, composta de 08 pavimentos e cobertura(deck). Sua estrutura é em concreto armado cm vedação em blocos cerâmicos. Os equipamentos utilizados na sua marcação foram: teodolito, esquadro de madeira e nível de mangueira. Para o transporte dispunha-se de um elevador de obra. 4.2 – SOBRE OS INDICADORES DE PERDA Tomando por base o valor de 10% como estimativa usual de perda, pode-se notar que, os indicadores apontam para menores perdas, no caso do concreto usinado e bloco cerâmico ( entre 5 e 8% ) ; e perdas elevadas para os demais materiais, os quais variaram entre 15 e 18%, como demonstra a TABELA 1. TABELA 1 Indicadores de perda dos materiais empregados em etapas da execução de uma obra em João Pessoa - PB Serviço Material Indicador de perda Produção de concreto e Cimento 17,89% Lançamento de concreto Areia 17,91% Produzido em obra Brita 16,39% Lançamento de concreto Concreto Usinado 5,60% Alvenaria Bloco cerâmico 7,42% Revestimento Cerâmico Revestimento Cerâmico 15,55% Fonte: Pesquisa direta Dentre os aspectos observados, aqueles referentes a estocagem podem ter concorrido para tais perdas, a citar: dos materiais agregados ( não ficavam protegidos de chuvas e ventos, não existiam contenções laterais e nem contrapiso ), do bloco cerâmico (não ficava protegido de chuvas e não era paletizados), do revestimento cerâmico e cimento ( condições satisfatórias, exceto por não respeitarem a altura máxima da pilha formada, agravada pela colocação de outros materiais sobre a pilha. Em relação aos serviços, constatou-se que, foi na produção e lançamento de concreto produzido em obra, empregado apenas na execução de pilares, que ocorreram as perdas mais elevadas. Em relação aos aspectos qualitativos citados anteriormente, possivelmente, contribuíram para tal fato: os procedimentos para estocagem dos materiais( não ficavam protegidos de chuvas e ventos, não existiam contenções lateriais e nem contrapiso); e a ocorrência de procedimentos inadequados por ocasião do transporte e descarregamento do concreto; o excesso de manuseio e a não utilização de taliscas para a definição da espessura da laje. Como aspecto quantitativo teve-se, como principal causa, a variação do consumo dos materiais por metro cúbico de concreto, ver TABELA .2 a seguir. Dos demais serviços, lançamento de concreto usinado, alvenaria e revestimento cerâmico, pode-se citar como possíveis causas: • Lançamento de concreto usinado (lajes e vigas) – não são utilizadas taliscas para a definição da espessura da laje e plano de concretagem; • Alvenaria – não se emprega gabaritos para execução das aberturas previstas para quadros e caixas de instalações, não utilizam escantilhão para a elevação da alvenaria; • Revestimento cerâmico – não é feita a paginação para a melhor execução do serviço, as instalações elétricas e hidráulicas não são testadas anteriormente (ocasionando retrabalho e perdas de materiais para o seu reparo), não empregam espaçadores plásticos entre as peças. Como aspecto quantitativo teve-se, como principal causa, a variação da espessura da laje, no caso do concreto usinado, e o número elevado de peças cortadas para execução dos trinchos, para o serviço de revestimento cerâmico (ver TAB.2). TABELA 2 Indicadores parciais de perda dos materiais empregados em etapas da execução de uma obra em João Pessoa - PB Material Indicador parcial Valor Cimento Areia Var. do consumo/m3 de concreto 22,53% Concreto Usinado Var. espessura da laje 3,90% Bloco cerâmico Percentual de peças cortadas na parede 10,94% Revestimento Cerâmico Percentual de peças cortadas na parede 21,08% Brita Fonte: Pesquisa direta 4.3 – REPRESENTATIVIDADE DAS PERDAS DE MATERIAIS NO CUSTO FINAL ORÇADO Para demonstrar a representatividade de perdas no custo final orçado da obra, tomou-se por referência os seguintes aspectos: • Uma obra de edifício multiresidencial, considerada representativa da região, por apresentar um padrão normal com 03 quartos, elevador, 08 pavimentos com área de 384m 2 cada, com o CUB de R$ 315,00/ m2 , segundo a revista Construção Norte-Nordeste de Jan/99; • Concreto com resistência de 175 kgf/cm2 aos 28 dias ( traço em peso – 1: 3,16: 3,88 – cimento/areia/brita), (Selva,1975,p.11); • Estimativa de consumo dos componentes de concreto armado em estruturas (concreto, formas e aço) baseado nos coeficientes informados por Sampaio (1991,p.235); • Distribuição percentual dos serviços para um edifício residencial de 8 a 12 pavimentos, padrão normal com elevador, conforme dados fornecidos por Balarine(1990,p.154); • Indicadores globais de perda de materiais não estudados nesta obra, mas contemplados no projeto “Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obra” realizado em João Pessoa; • Contribuição do material e da mão-de-obra no custo final orçado, 60% e 40% respectivamente. Tomando-se por base tais aspectos, elaborou-se a TABELA 3 com cálculos efetivos para o estudo de caso em análise, considerando os materiais pesquisados em João Pessoa e o valor orçado de R$ 967.680,00 ( nº pavtos. x CUB x área do pavto. ); e a TABELA 4, com cálculos estimados para a margem de contribuição das perdas de materiais para outros serviços não estudados nesta obra, mas contemplados no projeto “Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obra” realizado em João Pessoa; Como se observa pela TABELA 3, a contribuição das perdas de materiais, no total das três etapas construtivas ( estrutura, alvenaria e revestimento cerâmico) ficou em torno de 1,91% do custo final da obra . Entendendo, por sua vez , que o desperdício de material ocasiona também desperdício de mão-de-obra ( para retirada do entulho, retrabalho,etc. ), estimada em 1,28%, conforme a distribuição das perdas - 60% corresponde a materiais e 40% são devidas a mão-de-obra. Logo, no total de materiais e mão-de-obra, tem-se uma representatividade das perdas de 3,19% no custo final orçado. TABELA 3 Representatividade das perdas dos materiais empregados nas etapas de estrutura, alvenaria e revestimento cerâmico no custo final orçado ( R$ 967.680,00) de uma obra em João Pessoa – PB Etapa Material Construtiva / custo orçado(R$) Valor desperdiçado do material(R$) Por material Por etapa Cimento % Material % MO Total 468,00 Areia Estrutura / 122,00 Brita 121.300,00 * 259,00 Concreto Usinado Bloco cerâmico Margem de contribuição em relação ao custo final orçado de cada etapa 2781,00 0,48 0,32 0,80 1781,00 1781,00 0,31 0,21 0,52 6484,00 6484,00 1,12 0,75 1,87 1,91 1,28 3,19 1932,00 Alvenaria / 24.000,00 Revestimento Cerâmico Revestim. Cerâmico / 41.700,00 Total Nota: * Este valor de R$121.300,00 inclui aço e formas. Fonte: Pesquisa direta Vale ressaltar que, a representatividade das perdas de 3,19% no custo final orçado corresponde apenas a três etapas construtivas. Sabe-se, em geral, que o processo de produção de uma edificação desse tipo compreende 12 etapas, segundo Balarine (1990,p.154); e todas elas, com raras exceções, possuem perdas. Se considerarmos mais três etapas ( revestimento em argamassa , instalações e pintura ) é o suficiente para já ser adicionado um percentual de 3,57% ao custo final orçado, como pode ser verificado na TABELA 4, a seguir. Com isso, o valor total da representatividade das perdas passa de 3,19% para 6,76%. TABELA 4 Representatividade estimada das perdas dos materiais nas etapas de revestimento em argamassa , instalações e pintura no custo final orçado ( R$ 967.680,00) de uma obra em João Pessoa – PB Margem de Etapa contribuição no Perda* % do Custo Final custo final Material Construtiva Argamassa Revestimento em Produzida em obra argamassa Eletrodutos / tubos de PVC Tintas Orçado 5% 18% 0,9% Instalações 10% 15% 1,65% Pintura 6% 17% 1,02% Total Total geral (com as etapas de estrutura, alvenaria e revestimento cerâmico) 3,57% 6,76% Fonte: Pesquisa direta Nota: * Perda mediana citada no relatório do projeto “Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obra”( 1998 ) . As perdas de materiais ocorridas numa obra levam a um custo que, não havendo um controle eficiente, pode pesar no custo final da obra, distanciando o custo realizado do previsto(orçado). Esse custo adicional afeta diretamente o lucro líquido da empresa, uma vez que as unidades residenciais(ou comerciais) são vendidas levando em conta o orçamento previsto. Nestes termos, atentando para o fato de que, na sua maioria, o lucro líquido da empresa, por obra, fica em torno de 20% ( ou seja, valor já descontado todas as obrigações fiscais ) e, que o custo adicional de 3,19%, relativos aos materiais estudados não deve ter sido contabilizado no orçamento inicial, consequentemente, não repassado ao preço de venda, tem-se uma queda da lucratividade do empreendimento de 15,95% ( 3,19% de 20% ). Mas, se levarmos em conta também os serviços de revestimento em argamassa, instalações e pintura, é o suficiente para a queda da lucratividade do empreendimento passar de 15,95% para 33,8% ( 6,76% de 20% ). 5. CONCLUSÕES Da análise dos resultados referente a obra foi possível concluir que o gerenciamento, atividade considerada fundamental para redução das perdas, ainda não é bem estruturada e claramente definida, sem dispor de procedimentos sistematizadas para um controle efetivo dos materiais. Existe apenas uma noção sobre a importância de se reduzir perdas, e está se restringe aos níveis de direção e gerência, sem contar para isso com o envolvimento de todos, algo considerado fundamental na busca dessa redução. Sobre as perdas de materiais determinadas fica claro que, aquelas referentes ao cimento, areia, brita e concreto usinado são as mais preocupantes, quando da realização do serviço de produção e lançamento de concreto. Outro aspecto observado é que várias foram as causas dessas perdas e que estas causas contribuíram de formas diversas; algumas incorreram em grande parte, no caso da variação do consumo dos materiais por m3 de concreto produzido na obra, outras em menor parte, como as condições ainda não tão satisfatórias de estocagem. Do estudo da representatividade das perdas de materiais empregados nas etapas de estrutura, alvenaria e revestimento cerâmico observou-se que, o percentual de 3,19% de participação dos custos dessas ineficiências no custo final orçado da obra em estudo é significativo. Tal fato indica que, este valor será expressivo, quando for considerado todos as etapas. Essas ineficiências, que se refletiram no uso de materiais em quantidades superiores àquelas necessárias a produção da edificação, são vistas como custos adicionais que não agregam valor. Por essa razão necessitam ser o enfoque de um controle mais eficiente a partir de informações fornecidas pelos indicadores e que vise as suas causas. Contudo, o principal fato a destacar é que, as perdas de materiais determinadas, possivelmente, afetaram o lucro líquido da empresa, dada a grande queda na lucratividade verificado a partir da estimativa dos custos adicionais por elas gerados; o que sugere uma reflexão sobre a importância de investir na sua redução. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALARINE, O. F. O. Administração e Finanças para construtores e incorporadores. Rio Grande do Sul: EDIPUCRS,1990. SAMPAIO, F. M. Orçamento e custo de construção. São Paulo: Hermes, 1991. SILVA, G. R. Manual de traços de concreto. São Paulo: s.d. , 1975. ESCOLA SENAI DE CONSTRUÇÃO CIVIL. Relatório do projeto “Alternativas para a redução do desperdício de materiais nos canteiros de obra”. SENAI. a partir desses custos adicionais estimados 1998.