III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Geoquímica e Integridade Mineralógica de Amostras do Campo de Buracica, Reservatório Potencial para o Armazenamento Geológico de CO2 Lia Weigert Bressan, Rodrigo Sebastian Iglesias, João Marcelo Medina Ketzer (orientador) Programa de Pós Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais, Faculdade de Engenharia, PUCRS, Introdução Desequilíbrios ambientais estão cada vez mais evidentes na sociedade moderna. Estes são causados principalmente pela descarga de gases poluentes na atmosfera. As emissões de dióxido de carbono (CO2), por exemplo, cresceram num ritmo muito rápido desde a Revolução Industrial, quando a produção e o consumo de combustíveis fósseis tornaram-se indispensáveis para o desenvolvimento de máquinas e equipamentos que hoje sustentam o nosso modelo de desenvolvimento econômico. O dióxido de carbono é o gás antropogênico mais importante causador do efeito estufa (Alley et al., 2007);sua concentração na atmosfera cresceu muito desde o período pré-industrial quando esta era de 280 ppm e já em 2005 essa concentração atingiu 379 ppm3. As previsões mais pessimistas evidenciam que as emissões destes gases geradores do efeito estufa causarão um aumento de 4°C na temperatura media da terra até o final do século. Desde a década de 80 os processos naturais de captura de CO2 como as trocas de gasosas que ocorrem durante o ciclo do carbono, conseguiram remover aproximadamente 50% dos gases emitidos pelas ações humanas, porém estes processos, que antes eram suficientes para manter os níveis de CO2 estáveis, não estão mais sendo efetivos, pois a atmosfera assim como os Gráfico 1: Variações dos níveis de CO2 desde 450 mil anos atrás, demonstrando aumento persistente e concomitante dos três índices após 1850. (Hansen. Climate Change 68, 269. 2005) oceanos estão cada vez mais saturados em dióxido de carbono. Algumas alternativas estão sendo desenvolvidas para que os níveis de CO2 na atmosfera sejam reduzidos. Dentre as alternativas mais importantes em termos de capacidade que podem ser citadas o armazenamento oceânico e geológico de carbono (Ketzer, 2006). O armazenamento geológico, foco deste trabalho, tem como princípio devolver o carbono ao III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 subsolo (Davidson et al., 2001), ou seja, o excesso de CO2 emitido pela queima de combustíveis fósseis será injetado em reservatórios geológicos. O carbono será estocado nos poros das rochas destes reservatórios. Basicamente três tipos de reservatórios geológicos constituem candidatos para esta atividade: 1) aqüíferos salinos; 2) camadas de carvão nãomineráveis; e 3) campos maduros ou depletados de petróleo. Campos maduros ou depletados de petróleo são alvos promissores para armazenamento de CO2, porque além de se conseguir estocar grande quantidade de gás, possuem vantagens econômicas porque através da recuperação terciária ou avançada de petróleo (EOR, do inglês Enhanced Oil Recovery), é possível recuperar uma quantidade adicional de óleo retido nos poros. CO2 injetado é dissolvido e desloca o óleo aprisionado nos poros das rochas para fora e parte deste gás passa a ocupar este espaço, permanecendo armazenado com segurança. A parcela de gás que não fica aprisionada e é produzida com o petróleo pode ser re-injetada a fim de recuperar uma parcela ainda maior de óleo naquele campo. A recuperação terciária consegue atingir taxas de 40% de óleo adicional recuperado, uma quantidade bastante superior se considerarmos a recuperação primária e secundária que juntam conseguem recuperar até 35% da quantidade de óleo presente no reservatório. No Brasil, a recuperação terciária ocorre Figura 1: A localização da Bacia do Recôncavo, essencialmente nos campos que compõe a Bacia do sua extensão e os campos petrolíferos que fazem Recôncavo parte dela. (Rocha, P. S et al., 2007) (Fig. 1), com uma área de aproximadamente 10 mil km2 e possuindo 80 campos (Rocha, et al., 2007). Este trabalho versará sobre a análise da integridade mineralógica em reservatórios de petróleo a partir de reações químicas entre CO2 e rocha. Para este estudo, selecionou-se o Campo de Buracica, localizado a noroeste da Bacia do Recôncavo. Este campo é um dos pioneiros em realizar injeções de CO2 a fim de aumentar as taxas de recuperação de óleo. Desde 1991 a PETROBRAS iniciou um projeto de injeções de CO2 imiscível em sete poços deste campo e os resultados obtidos foram o aumento da pressão do reservatório com conseqüente incremento de óleo produzido (Lino, 2005). III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 Metodologia Amostras do Campo de Buracica serão utilizadas para a realização dos experimentos. Amostras de dois poços diferentes serão utilizadas, quatro amostras serão de poços com préinjeções de CO2 e outras quatro amostras de poços já na fase de pós-injeção de CO2, totalizando oito amostras. Neste ultimo foram realizadas injeções com CO2 imiscível por 20 anos a fim de recuperar uma quantidade maior de óleo. Os campos estão numa profundidade entre 500 a 600 m, sob pressão hidrostática e temperaturas em torno de 50ºC. As amostras serão colocadas em autoclaves sob alta pressão e temperatura, juntamente com água (deionizada e salina, com composição similar à do campo) e CO2 em condições supercríticas. O sistema será mantido sob pressão de aproximadamente 150 bar e 100ºC durante um período de 15 dias. Simultaneamente, serão realizadas simulações numéricas destas reações utilizando softwares de modelagem geoquímica e transporte reativo. Simulações deste tipo permitem quantificar as diferentes formas de armazenamento do dióxido de carbono, além de avaliar possíveis riscos de escape e conseqüentes impactos ambientais (Johnson et al., 2004). Análises através do Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) serão realizadas pré- e pósreação, para verificar as alterações mineralógicas decorrentes da interação com o CO2 supercrítico. Análises da água após as reações também serão realizadas para identificar a presença de íons resultantes da dissolução dos minerais da amostra. Discussão O projeto está em fase inicial, portanto não há ainda dados concretos para conclusões mais específicas. Porém, espera-se comprovar a formação de carbonatos através das técnicas utilizadas pela interação rocha/CO2 demonstrando a viabilidade desta técnica. Referências Hansen. Climate Change 68, 269, 2005 J. Davidson, P. Freud, A. Smith. Putting Carbon back into the ground. IEA Greenhouse Gas R&D Programme Report, 2001. J. E. Thomas (org.) Fundamentos da Engenharia do Petróleo. 2ª ed. Iterciência, Rio de Janeiro, 2001. J. M. Ketzer. Redução das emissões de gases causadores do efeito estufa através da captura e armazenamento geológico de CO2 in Carbono: Desenvolvimento Tecnológico, Aplicação e Mercado Global, 2006. Ed. UFPR, Ecoplan. J.W. Johnson., J.J. Nitao, K.G. Knauss. Reactive transport modeling of CO2 in saline aquifers to elucidate fundamental processes, trapping mechanisms and sequestration partitioning. In Geological Storage of Carbon Dioxide. Baines, S.J. & Worden, R.H. (eds). Geological Society, London, Special Publications, 233, 107-128. (2004) P. S. Rocha, A. O. Souza, R. J. Câmara. O futuro da Bacia do Recôncavo, a mais antiga província petrolífera brasileira. Bahia Análise & Dados, 11 (2002) 32-44. R. Alley et al. Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Summary for Policymakers. 2007. U. Lino. Case History a Paradigm: Improvement of na Immiscible Gás- Injection Project in Buracica Field by Water Injection at the Gás/Oil Contact. SPE 94978-PP III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008