XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 DIAGNÓSTICO DA ESTRUTURA DE DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA Isabel Márcia Rodrigues (UTFPR) [email protected] João Carlos Colmenero (UTFPR) [email protected] Este artigo tem como objetivo apresentar um diagnóstico da Distribuição de cerveja, avaliando a estrutura logística das grandes Cervejarias. A análise foi direcionada através do modelo de Rosenbloom (2002). São identificados os níveis de diistribuição do setor, o sistema de transporte, os tipos de distribuição e as variáveis que estruturam o canal. Foi possível constatar através deste estudo a dependência que as Cervejarias têm dos Intermediários para disponibilizar seu produto até o consumidor final. Palavras-chaves: Estrutura Logística, Distribuição, Cerveja. XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 1. Introdução A evolução da Logística trouxe a especialidade em algumas atividades relativas a seu ramo como a distribuição de produtos, que tem sido conceituada por muitas empresas como uma atividade complexa, por exigir muito controle e desenvolvimento de suas operações. Esta caracterização deve-se ao envolvimento de diversas variáveis que cercam o sistema de distribuição e que precisam ser controladas para garantir a eficácia do processo. A extensa dimensão geográfica do Brasil pode se tornar uma barreira para organizações que dependem da distribuição para alavancar suas vendas. Atender a centenas de pontos de venda em diversificadas regiões, depender de intermediários e da estrutura deficitária da malha de transportes são alguns dos entraves para se estruturar os canais de distribuição. O setor cervejeiro convive com esta conjuntura, pois depende de uma ampla rede de distribuição para atingir seus consumidores. Aproximadamente 70 % das vendas do segmento são comercializadas em pequenos estabelecimentos como padarias, mercearias, bares, lanchonetes e casas noturnas. Além destes, há também os supermercados e hipermercados que respondem por 30% do volume e são representados por cerca de 70 mil pontos de vendas (LAFIS, 2008). Neste contexto, o presente artigo apresenta um diagnóstico da estrutura de distribuição das Indústrias Cervejeiras de grande porte. Esta análise consiste na caracterização dos níveis de distribuição do setor, os modais utilizados, tipos e estratégias de distribuição e as variáveis que estruturam o canal. 2. Estrutura logística de distribuição da cerveja De acordo com Rosenbloom (2002), uma estrutura de distribuição é composta pela estratégia de canal e a gestão logística. Primeiramente, desenvolve-se a configuração e operacionalização das metas de distribuição da empresa, que contempla os níveis do canal, objetivos e funções da distribuição, alternativas de estrutura de canal, as variáveis relevantes, a escolha da melhor estrutura de canal e a seleção dos membros do canal. A gestão logística está mais focada em disponibilizar o produto pelos canais de marketing no tempo e local adequado. A estrutura logística da Indústria Cervejeira envolve as atividades relacionadas com a produção da bebida e a distribuição do produto que será a ênfase deste trabalho. A figura 1 ilustra os níveis que compõem o fluxo dos canais de distribuição da cerveja. 2 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Cervejaria Atacadistas Varejistas Varejistas Distribuidores Varejistas Consumidores 4 níveis 3 níveis 4 níveis Figura 1: Níveis da estrutura de Distribuição da cerveja. Fonte: adaptado de Rosenbloom (2002). A seguir serão detalhados os níveis apresentados na figura 1. a) Três níveis: esta estrutura é representada por três fluxos: - Cervejaria > Atacadista > Consumidor Neste canal a Fábrica contrata o transporte e entrega diretamente para o Atacadista que atende o consumidor final através de suas lojas de auto-serviço. Nestas lojas as mercadorias são vendidas em pequenas quantidades, embalagens fechadas ou fracionadas. - Cervejaria > Varejista > Consumidor A Fábrica contrata o frete e entrega para o Varejista que disponibiliza o produto para os consumidores em supermercados, hipermercados, lojas de conveniência, bares, mercearias, etc. - Cervejaria > Distribuidor > Consumidor Os Distribuidores são agentes que tem vínculo de exclusividade com a Cervejaria tanto para a venda dos produtos bem como o domínio das regiões em que são autorizados a comercializar a bebida. O consumidor pode comprar a cerveja diretamente no ponto de venda do Distribuidor. Neste canal geralmente a responsabilidade pelo frete é do Distribuidor que agenda data para retirada do produto na fábrica. Estes agentes atuam como Franquias ou Revendas das Cervejarias atendendo também os pequenos estabelecimentos como armazéns, padarias, bares. b) Quatro níveis: esta estrutura é representada por dois fluxos: - Cervejaria > Atacadista > Varejista > Consumidor Neste nível a Fábrica contrata o transporte e entrega diretamente para o Atacadista. O Varejista retira o produto nos depósitos do Atacadista e revende a bebida em suas lojas diretamente para o consumidor. - Cervejaria > Distribuidor > Varejista > Consumidor O Distribuidor retira a cerveja na fábrica com frete de sua responsabilidade e posteriormente revende a bebida para pequenos Varejistas que comercializam o produto para os consumidores locais. 3 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 No setor cervejeiro, os Canais de Distribuição são divididos em três grupos, auto-serviço, tradicional e bar. As organizações de grande porte como os hiper e supermercados são denominados de autoserviço ou key account (clientes chave). Estes são abordados como clientes especiais devido ao poder de compra que possuem e também pela importância da exposição da marca e do produto. As empresas menores, que normalmente não tem consumo do produto no local como mercearias, padarias, armazéns, são chamados de tradicionais. Os estabelecimentos que compõem o canal bar se distinguem por possibilitar o consumo da cerveja no local e compreendem as lanchonetes, restaurantes, casas noturnas e bares. Os canais tradicional e bar são também denominados de ponto-frio. Segundo dados de 2004, aproximadamente 70% do volume das vendas ocorrem nos canais tradicional e bar, e 30% no canal auto-serviço. Em termos de valor de vendas o auto-serviço responde por cerca de 26% e o ponto-frio 74% (LAFIS,2008). Em termos de números de estabelecimentos que comercializam a cerveja, Rosa et al (2006) apresenta 70 mil pontos de venda relacionados ao canal auto-serviço e cerca de 1 milhão de pontos representados pelo canal bar e tradicional. 3. Sistemas de Transporte A estrutura de transportes utilizada na Distribuição da cerveja compreende o modal rodoviário e a cabotagem. De acordo com Fachinello e Nascimento (2008) dependendo do produto a ser transportado, a cabotagem permite uma redução nos custos de transporte de 15% a 50% quando comparado com o modal rodoviário. Em maio de 2006 a FEMSA Cerveja Brasil movimentou cerca de 1880 toneladas da bebida pelo terminal portuário do Pecém no Ceará. A cerveja saiu da fábrica de Pacatuba (CE) e teve como destino a fábrica de Manaus (AM). Neste período a cerveja ocupou o 2º lugar de movimentações de cabotagem no terminal (NETO, 2006). O transporte do produto de Feira de Santana (BA) até Manaus (AM) é outro fluxo de cabotagem utilizado pela FEMSA. O produto é carregado em contêiner tipo dry box (contentor com portas no final) que é transportado até o Porto de Salvador via modal rodoviário. Após descarga no Porto segue via navio até o Porto de Manaus onde é carregado em caminhões. Em seguida o produto é direcionado para os clientes agendados na região de Manaus. Além da cabotagem, a Indústria Cervejeira utiliza também o transporte rodoviário que é o mais empregado no setor. Entre as vantagens que o modal oferece, a flexibilidade é bem explorada pela possibilidade de transportar cargas de pequeno ou médio porte, para distâncias curtas ou longas com entregas fracionadas ou somente para um único cliente. As Cervejarias também podem optar em utilizar a frota própria, transporte terceirizado ou motoristas autônomos para distribuir o produto. De acordo com Ghisi et al (2004) a Schincariol utiliza o serviço terceirizado da fábrica até o Centro de Distribuição e após a consolidação da carga os produtos são distribuídos para os clientes com caminhões da frota própria. O autor afirma ainda que devido aos custos de 4 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 transporte, a Cervejaria analisa a viabilidade de atendimento de seus clientes avaliando rotas que estejam num raio máximo de 500 km em relação à localização de suas fábricas. Uma das formas que as Indústrias encontraram de reduzir seus custos de transporte e aumentar sua produtividade foi através da otimização das cargas. Em termos gerais, uma carreta tem limite de peso para 26 toneladas e sua medida permite carregar 20 paletes de cerveja. O palete utilizado nas Cervejarias é denominado PBR2 e tem dimensões de 1,05m comprimento por 1,25m de largura e seu peso com produto acabado equivale a 1.250 kg cada. As Cervejarias passaram a carregar as carretas com os paletes invertidos, colocando-os com o lado menor virado para o centro do caminhão e assim conseguiram alocar mais quatro paletes na carga. As indústrias passaram também a utilizar caminhões bi-trens com capacidade para 28 paletes, tri-trens (42 paletes) e rodo-trem (46 paletes). Foram realizadas algumas adaptações nos caminhões com a substituição de peças de ferro por outras de alumínio e redução no tanque de combustível de forma que possibilitaram o aumento na capacidade de transporte. No entanto, um dos fatores que impactam o sistema de transportes do setor é a sazonalidade das vendas. Os volumes mais expressivos de vendas coincidem com os períodos de temperatura mais quente, com as festas de final de ano e carnaval. Nesta circunstância ocorre a falta de caminhões para suprir a demanda do mercado. Mesmo as Transportadoras terceirizadas não conseguem, em muitos casos, dispor da quantidade necessária de veículos para atender as Cervejarias. O abastecimento nesta situação ocorre através da contratação de Transportadoras Spot que geralmente dispõem de caminhões para atendimento dos clientes. Porém, estas contratações geram altos custos para as Cervejarias devido o valor do frete ser muito superior ao praticado pelas terceirizadas. As Spot justificam as tarifas mais elevadas por dispor de caminhões dotados de tecnologia de rastreamento e em ótimo estado de conservação. Além disto, garantem prazos tanto de carregamento quanto de entrega e atendem demandas de última hora. Outra alternativa praticada pelo setor para enfrentar o período de sazonalidade é a contratação de frota cativa. Nesta condição, as Transportadoras terceirizadas buscam motoristas autônomos que possam ficar por um determinado tempo disponíveis para atendimento das Cervejarias. Geralmente os motoristas se deslocam para determinado posto ou depósito e aguardam as cargas para carregamento. O controle destes motoristas é feito pelo horário de chegada, carregamento, saída e retorno da viagem. Além do valor do frete, eles recebem também um incentivo, que equivale ao valor de uma diária ou a adição de um valor fixado pela Cervejaria para cobertura de combustível e pedágios. Esta tática é adotada para garantir que os autônomos não desistam do frete da cerveja em busca de outros fretes que ofereçam melhores valores. 4. Tipos e Estratégias de Distribuição A Indústria Cervejeira utiliza-se da Distribuição Intensiva e Distribuição Seletiva. No primeiro caso a finalidade é ofertar a bebida para o maior número de consumidores possível e com este propósito a cerveja é comercializada em inúmeros estabelecimentos constituídos por Atacadistas e Varejistas. A segunda opção aplica-se nos casos em que a Indústria seleciona algumas empresas e as define como seus representantes em determinadas regiões. Estes são denominados de Distribuidores e tem autorização para comercializar o produto nos locais em que estão sediados. 5 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 A Distribuição Escalonada é empregada através dos Centros de Distribuição (CD), que conforme Wanke et al (2005), há necessidade de maiores volumes de estoque para a indústria. Além dos CDs, são também utilizados os depósitos dos Distribuidores que normalmente atuam como franquias das indústrias em certas localidades. Em algumas situações onde a indústria tem maior proximidade do mercado consumidor, utiliza-se Distribuição Direta, da Cervejaria até o Atacado ou Varejo. Nestes casos, despendese maior tempo no processamento de pedidos, os ressuprimentos são menos frequentes (WANKE et al, 2005). Há também a necessidade de maior controle pela indústria da consolidação das cargas, controle dos tempos de entrega e domínio sobre as avarias dos produtos. As Cervejarias utilizam as estratégias de empurrar e puxar. O primeiro caso ocorre quando as indústrias direcionam aos Atacadistas, Distribuidores e Varejistas descontos promocionais ou campanhas, para que os mesmos recorram a promoções com o objetivo de gerar demanda pelos produtos do fabricante. No entanto, através de grandes investimentos em publicidade, visando o fortalecimento da marca e consumo da bebida, as indústrias utilizam a estratégia de puxar a demanda através dos consumidores. Assim, os canais de distribuição são abastecidos de acordo com a necessidade e pedidos feitos pelos consumidores nos pontos de venda. De acordo com Ibope (2008), no terceiro trimestre de 2007 os investimentos em publicidade no setor cervejeiro chegaram a R$ 276 milhões, que equivalem a 53% do total gasto em propaganda no setor de bebidas no mesmo período. 5. Variáveis que influenciam a estrutura do setor Segundo Rosenbloom (2002), dentro da avaliação de um Sistema de Distribuição, é necessário considerar as diversas alternativas de estruturas, inclusive as variáveis que influenciam o canal, que se caracterizam por variável de mercado, de produto, da empresa, dos intermediários, ambientais e comportamentais. Neste artigo serão apresentadas as variáveis de mercado, de produto e da empresa. a)Variável de mercado: contempla a geografia, o tamanho e o comportamento do mercado. Quanto à geografia, o Estado de São Paulo detém a maior parte das indústrias com 20 unidades, seguido do Rio de Janeiro que abriga 7 Cervejarias, as demais se dividem entre os outros Estados (SINDICERV, 2007). Devido à vasta extensão territorial as Indústrias necessitam do uso de intermediários (Atacadistas, Varejistas e Distribuidores) para dispor seu produto aos consumidores. De acordo com Rosa et al (2006) a distribuição de toda a produção nacional flui para mais de 1,5 mil revendedores os quais atendem aproximadamente 1 milhão de pontos-devenda. Com relação ao tamanho, uma pesquisa feita em 2008 nas regiões metropolitanas do país, mostra que a segmentação do mercado consumidor corresponde a 60% homens e 40% mulheres. Este percentual equivale a 22 milhões de pessoas conforme IBOPE (2008). As regiões que têm a maior proporção de consumidores são: Salvador com 49%, Curitiba com 44%, Belo Horizonte e Porto Alegre seguem empatadas com 43%. De acordo com Rosa et al (2006), as classes C,D, E, são responsáveis por 70% do consumo. O gráfico 1 apresenta as faixas etárias do consumidor de cerveja que varia entre 13 a 64 anos. 6 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 O incentivo ao consumo da cerveja é feito através de propagandas padronizadas que incluem mulheres, praia e humor. Foram realizados alguns trabalhos que caracterizam o comportamento do consumidor quanto a sua opção de compra e sua preferência. Silva (2008) pesquisou sobre a decisão de escolha do consumidor em diferentes situações de uso, como no cotidiano e em posição de status (festas ou jantares de negócio). Ele concluiu que três fatores são importantes na decisão de compra: o sabor da cerveja, a aceitação social e o menor preço. Constatou também que em situações do dia-a-dia a escolha do consumidor não é alterada quanto a sua marca preferida. No entanto, quando se trata de situação de status, há uma tendência de que o indivíduo priorize marcas mais nobres e caras, as chamadas cervejas premium. 9% 0% 19% 13 a 17 anos 18% 19 a 24 anos 26 a 34 anos 36 a 44 anos 46 a 54 anos 29% 56 a 64 anos 25% Gráfico 1: Consumo de cerveja por faixa etária Fonte: IBOPE Mídia, 2008. Urdan e Urdan (2001) investigaram em seu trabalho a preferência de 180 consumidores quanto ao sabor e marca de cerveja. Foram analisadas quatro marcas de cerveja classificadas como A, B, C e D. Antes da degustação 110 pessoas atestaram seu favoritismo pela marca B, no entanto após experimentarem o produto, o resultado mudou ficando a marca C como a preferida de 54 dos consumidores, seguida de resultados muito próximos para as marcas A e B com 48 e 44 votos respectivamente. Os autores constataram que os consumidores são estimulados a ter uma preferência, porém não conseguem distinguir sua marca preferida das demais quando são submetidos a um teste de sabor. Spurry (2001) associa a decisão de compra com a idade dos consumidores. O autor constata em seu estudo que há uma redução da demanda das grandes Cervejarias nos Estados Unidos devido ao número reduzido de população de 20 a 29 que tendem a consumir mais o produto. Os consumidores de 30 a 39 anos, população mais expressiva, tendem a consumir menos devido a preocupações com a saúde. Além disto, este segundo segmento da população é atraído pelas cervejas artesanais, fato que aumentou a demanda das Microcervejarias do país. b) Variável de produto: é constituída por volume e peso, perecibilidade, valor unitário e grau de padronização. A perecibilidade de um produto está relacionada com a sua deterioração física. A cerveja é um composto de origem vegetal é está sujeita a alterações em sua composição físico/química. De acordo com Mattos (2007) pode-se analisar o tempo vida de uma cerveja sob dois aspectos: estabilidade microbiológica e estabilidade sensorial. Quanto à análise microbiológica inclui os processos de pasteurização e flash-pasteurização que garantem à cerveja seis meses de vida na prateleira. Com relação à sensorial, sua avaliação é constituída pela aparência, aroma, sabor, cor e espuma, atributos que são observados pelo consumidor no momento da degustação. 7 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Agentes como: calor, frio, agitação, luz e ar podem provocar mudanças nas características da bebida quando esta for exposta em tempo demasiado a estes elementos. Para garantir a estabilidade do produto por um longo período de tempo é preciso eficiência no processo de produção, envasamento e distribuição (CERVESIA, 2009). Em sua pesquisa Mattos (2007) analisou três elementos, temperatura, agitação e incidência de luz. Através de análises estatísticas concluiu que a temperatura afeta de forma muito significativa a estabilidade sensorial da cerveja, as outras variáveis não. Com base neste resultado menciona sobre a necessidade de rever os processos de envasamento, estocagem e transporte do produto para não haver alteração na qualidade do produto. Quanto ao volume e peso, as Cervejarias normalmente transportam seus produtos de forma paletizada por permitir maior estabilidade à carga. Em geral a cerveja é acondicionada de quatro formas: garrafa 600 ml, latas, long neck e barril (kegs). Os paletes utilizados são os chamados PBR2 que tem dimensões de 1,05m x 1,25 m. A tabela 1 mostra o detalhamento da paletização versus volume e peso. Embalagem Garrafa 600 ml Lata 350 ml Long neck 300 ml Barril 50 l Qt por palete 42 caixas 264 dúzias 84 caixas 8 kegs Lastro 7 caixas 22 dúzias 12 caixas 8 kegs Peso 1040 kg 1210 kg 1190 kg 570 kg Altura 1,90 m 1,63 m 1,72 m 520 mm Tabela 1: Formação da paletização da cerveja Fonte: autores Com relação ao valor unitário e ao grau de padronização, a cerveja é considerada um bem de consumo e baixo valor agregado, o que permite a Indústria Cervejeira usar da estratégia de preço para posicionar sua marca no mercado. Como conseqüência, as Cervejarias necessitam de diversos intermediários para comercializar seu produto e assim diluir seus custos de distribuição. As grandes Cervejarias são dotadas de alta tecnologia e seus processos produtivos são muito similares o que resulta em um produto padronizado e sem muita diferenciação entre seus concorrentes, exceto pela embalagem e estratégias de marketing. c) Variável empresa: neste artigo será abordado o fator tamanho. De acordo com dados do Sindicerv (2007), houve uma evolução dos pequenos fabricantes que passaram a atuar em maior escala. Em 1995 as indústrias menores produziam cerca de 120 milhões de litros de cerveja. No entanto, com a adoção de estratégias como política de preços baixos e posicionamento da marca para conquistar o consumidor de baixa renda, alavancaram suas vendas, e em 2005 a produção destas fábricas aumentou para 920 milhões de litros, o que promoveu um crescimento no setor. Neste período todo o segmento foi responsável por um faturamento de R$19,1 bilhões. Existem 67 unidades produtivas de médio e grande porte, sendo que 27 destas atuam com a produção mista (cerveja, refrigerante e outros) e as demais têm o foco somente na fabricação de cerveja, conforme mostra a tabela 2. A concentração de vendas está a cargo destas Cervejarias que detém mais de 95% do mercado. 8 XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009 Empresa Cerveja Mista Total AMBEV 13 12 25 FEMSA 7 1 8 SCHINCARIOL 2 8 10 PETRÓPOLIS 2 0 2 BELCO 0 2 2 COLONIA 2 0 2 OUTRAS 14 4 18 Totais 40 27 67 Tabela 2: Unidades produtivas no Brasil Fonte: adaptado de SINDICERV As Microcervejarias respondem por cerca de 0,3% da produção nacional. A maior concentração das fábricas se localiza nas regiões Sul e Sudeste havendo maior incidência em Santa Catarina e Rio Grande do Sul devido à colonização alemã (CERVESIA, 2009). 6. Considerações Finais Neste trabalho foi apresentada uma análise da logística de Distribuição da Indústria Cervejeira que incluiu a caracterização dos níveis do canal, os tipos de distribuição e os modais de transporte que são utilizados pelo setor e também as variáveis que compõem todo o sistema. Atender a vasta dimensão do mercado e os milhares de consumidores são objetivos que exigem das Cervejarias a configuração de uma extensa rede de Distribuição. Os inúmeros intermediários, (Distribuidores, Atacadistas e Varejistas), contribuem para que o produto esteja nos pontos de venda no momento certo. Com a predominância do modal rodoviário no setor, as Cervejarias se especializaram e buscaram a redução dos custos de transporte através da otimização das cargas. Uma vez que o produto tem alto grau de padronização e baixo valor, o fortalecimento da marca e o incentivo ao consumo é feito através da publicidade. Este estudo permitiu verificar a importância de atuar na Distribuição do setor visando às estratégias de canal como forma de alcançar vantagem competitiva no mercado de cerveja. Referências CERVESIA, 2009. M. Reinold. Tecnologia http://www.cervesia.com.br. Acesso: 07/05/2009. em Qualidade e Produtividade. Disponível em FACHINELLO, A.L. & Nascimento, S.P. Cabotagem como alternativa para o transporte de carnes da região Sul para o Norte/Nordeste brasileiro: um estudo de caso. Revista de Economia e Sociologia Rural. Dez, 2008. GHISI, M.A. CONSOLI, M.A. MARCHETTO, R.M. NEVES,M.F. Usos e benefícios de softwares de roteirização na gestão de transportes. VII SEMEAD, 2004. IBOPE- Instituto Brasileiro de Opinião Publica e Estatística. Diante da estabilidade no consumo, setor de bebidas passa a investir mais em publicidade. Disponível em http://www.ibope.com.br. Acesso em 28/10/2008. LAFIS Informação de Valor. Análise Setorial de Cerveja. Índice Analítico. São Paulo, 2008. MATTOS, R.C.F. 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