Um Retrato da Infra-Estrutura de Transportes no Estado do Ceará Morgana Baratta Monteiro de Melo De acordo com Chopra e Meindl (2003) e de Bowersox e Closs (2001), o transporte significa movimento de estoque (materiais e produtos) de um ponto a outro na cadeia de suprimento, ou seja, é a área operacional da logística que posiciona geograficamente o estoque. O transporte pode ser feito a partir de várias combinações de meios e rotas, cada uma com características particulares de desempenho. Em razão da sua importância fundamental e de facilidade de apuração de seu custo, as escolhas sobre o transporte exercem um forte impacto na responsividade e na eficiência das organizações/empresas. Este artigo busca retratar as condições de infra-estrutura de transportes no Estado do Ceará, pois as organizações/empresas dependem fortemente das condições de infra-estrutura que a sua localidade oferta, pois esta deve caminhar na frente da demanda, para não se tornar fator de interrupção de um novo ciclo de crescimento econômico. O Estado do Ceará recebeu nos últimos anos significativos investimentos na área de transportes: Porto do Pecém, Aeroporto Internacional de Fortaleza, Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), Metrô de Fortaleza (Metrofor), Transnordestina (uma ferrovia que liga o Porto de Suape, no Recife, ao Porto de Pecém, na região metropolitana de Fortaleza) são alguns exemplos e, apesar desta realidade, a infra-estrutura de transportes do Estado está longe de ser considerada preparada para os desafios intrínsecos ao processo de globalização da economia mundial, que exige uma crescente eficiência e custos cadentes no transporte de passageiros e de cargas, de forma a trazer efetivos ganhos de bemestar social e econômico para a população. A orientação dos processos produtivos do Estado, buscando atender a demanda de mercados consumidores, tem feito com que a eficiência do sistema logístico se torne uma condição básica para que se mantenha e aumente a competitividade de todos os setores da economia. A implementação de novas tecnologias, estruturas regulatórias e institucionais práticas administrativas e operacionais, no setor transportes, são indispensáveis para proporcionar margens fundamentais em termos de competitividade. Destaque-se ainda que empresas cearenses são obrigadas a manter excesso de estoque ao longo das cadeias produtivas como forma de se proteger das ineficiências do transporte, conseqüência de atrasos, acidentes e roubos de carga. No Ceará, 76% das cargas que transitam em nossas rodovias, utilizam as rodovias federais que estão em péssimo e inadmissível estado de conservação. Um setor de transportes mais confiável e eficiente poderia diminuir esta deseconomia, liberando recursos extremamente significativos para serem reinvestidos em atividades produtivas. De forma geral, em termos atuais, as demandas de serviços portuários, no Ceará, vêm sendo atendidas com qualidade, eficiência e custos compatíveis com os padrões nacionais e internacionais, tomando em consideração os padrões tecnológicos em uso. A análise desse atendimento poderá ser feita levando-se em conta os três principais grupos de cargas movimentadas pelos terminais cearenses: os granéis líquidos, os granéis sólidos e a carga em contêineres. O Estado do Ceará possui dois portos para o escoamento de sua produção. Um é o porto de Fortaleza ou porto do Mucuripe que desempenha seu papel de destaque entre os portos do Nordeste, servindo de porta de entrada e saída para o comércio. A infra-estrutura do Porto de Fortaleza permite a movimentação dos diferentes tipos de carga: granéis sólidos (grãos, cereais, etc), granéis líquidos (derivados de petróleo), carga geral solta e conteinerizada, além do fluxo de navios de passageiros. O acesso ao Porto do Mucuripe, por terra, pode ser feito pelas rodovias federais BR-116, BR-222 e BR-020 e estaduais CE-040, CE-060 e CE-065. Além disso, um ramal ferroviário liga o Porto à Malha Ferroviária do Nordeste. As linhas ferroviárias do Porto permitem alcanças a plataforma do cais, os pátios e os armazéns (Docas do Ceará, 2010). O segundo porto é o do Pecém, que teve suas operações iniciadas em Março de 2002, e é o porto com o menor tempo de trânsito entre o Brasil, os Estados Unidos e a Europa, média de 7 dias para chegar ao destino, funciona como um dos atrativos para conquistar os armadores e impulsionar as exportações brasileiras. A infra-estrutura do Porto do Pecém permite a movimentação dos diferentes tipos de carga a granéis sólidos e cargas em geral e granéis líquidos e gás liquefeito. O acesso ao Porto, por terra, pode ser feito pelas rodovias federais BR-116 e BR-222 e a estadual CE-422. Hoje no porto, 70% do que é exportado de janeiro a setembro são frutas frescas e castanha de caju (Cearáportos, 2010). O modal rodoviário é o principal sistema de transporte no Brasil, abrangendo 60% das cargas movimentadas no País. A malha rodoviária do Brasil é a segunda maior do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Somente de usuários das estradas, são mais de 1,3 bilhão de pessoas anualmente, representando mais de 95% do transporte de passageiros total do país. O sistema básico de transportes do Ceará é formado por uma rede rodoviária de 52.307 km de rodovias, dos quais: 2.796,3 km são federais; 10.622,1 km estaduais e; 38.886,6 km municipais (CNT, 2007). Acerca da infra-estrutura ferroviária no Estado do Ceará, esta apresenta uma extensão de 1.200 km com bitola de 1,0m e, é composta de dois eixos (linha tronco norte, que liga Fortaleza aos estados do Piauí e Maranhão e linha tronco sul, que liga Fortaleza à Paraíba) além dos ramais do Crato e Mucuripe; o sistema ferroviário cearense é operado pela Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), devendo-se destacar que o Ceará é responsável por 40% do faturamento total da empresa.(CNT, 2007). A rede de aeroportos é constituída pelo aeroporto internacional Pinto Martins em Fortaleza e de outros 55 aeroportos/campos de pouso, entre os quais, 14 homologados. São considerados aeroportos regionais: Cariri (Juazeiro do Norte), Sobral, Iguatu, Camocim, Aracati, Limoeiro, Quixadá e Tauá. Atualmente os produtos de exportação em grandes volumes no Estado que passam pelo modal aéreo, através do terminal de cargas de Fortaleza (localizado junto ao aeroporto internacional Pinto Martins) são: calçados, frutas, flores, tecido, peixe vermelho, artesanato e flores. O terminal de carga de Fortaleza é o único do país a possuir um armazém refrigerado exclusivamente para as flores. A falta de um Plano de Transportes de longo prazo, compatível com as estratégias de desenvolvimento econômico, social e ambiental do Estado, que abranja o setor como um todo, observando-se as peculiaridades e complexidades de cada modalidade de transportes e aspectos logísticos, incluindo as rodovias, ferrovias, o transporte aéreo e marítimo é um erro grave, que tem como conseqüência a alocação deficiente dos escassos recursos disponíveis para o setor, trazendo prejuízos em termos de desenvolvimento econômico, meio-ambiente, segurança e mobilidade.