Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2013, v. 17, n. 17, p. 94 –99
O INCENTIVO DAS AULAS DE CAMPO NO ENSINO DE GEOCIÊNCIAS
SANTOS, Maria do Carmo Pereira¹
BEZERRA, Hannah Priscilla Alves¹
FIRMINO, Andressa Raiane de Souza1
RODRIGUES, Ana Paula de Castro2
RANGEL, Jane3
Palavras-chave: Ensino. Recursos didáticos. Geociências.
Introdução
O presente trabalho pretende estabelecer um recorte no processo de construção do
conhecimento científico, abordando duas das principais práticas das ciências modernas, o
trabalho de campo e aulas práticas. Evidenciam-se necessidades de adotar práticas extraclasses
como meio de obter êxito no processo de ensino-aprendizagem. O objetivo geral deste trabalho
foi descrever a importância do trabalho de campo e de aulas práticas para alunos do curso de
Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado) e de Licenciatura em Geografia no que
concerne ao entendimento das disciplinas ligadas a Geociências.
Procedimentos Metodológicos
O presente estudo foi de caráter experimental, utilizando questionários com perguntas
abertas e fechadas, realizados com o corpo docente (alunos de graduação em Ciências Biológicas
e Geografia) e discente da Universidade Castelo Branco, no campus de Realengo, Zona Oeste do
município do Rio de Janeiro - RJ. Estes questionários foram aplicados no primeiro semestre de
2013 com objetivo identificar o conhecimento dos alunos em relação a temas das Geociências e
de suas opiniões sobre a importância de aulas práticas e trabalhos de campo. Para o tratamento
dos dados, foi utilizado o software SPSS versão 19.0. Os gráficos foram confeccionados
utilizando-se o software Excel, do Pacote Office 2007.
Análise de dados
A pesquisa foi realizada com três professores da Universidade Castelo Branco que
lecionam as disciplinas ligadas diretamente às Geociências: Geologia, Paleontologia e
1
Acadêmicos PIBIC&T/UCB (Vigência: Out./2012 a Out./2013). Grupo de Pesquisa Popularização das Geociências
nas escolas de ensino básico da Universidade Castelo Branco. Curso de Ciências Biológicas da Universidade
Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Co-Orientador. Grupo de Pesquisa Doutora Ana Paula Rodrigues. Curso de Ciências Biológicas da Universidade
Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Orientador. Grupo de Pesquisa doutora Jane Rangel. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo
Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Biogeografia. A experiência profissional no ensino superior variou de 3 a 21 anos. Através de
pergunta aberta, pode-se observar que as maiores dificuldades encontradas durante esses anos de
prática de ensino foram: 1- Falta de laboratório adequado; 2- Dificuldades em saídas de campo;
3- Falta de interesse em aprender por parte dos alunos; 4- Lidar com a base fraca do ensino
médio. Todos os professores possuíam formação na disciplina que ministravam e também
afirmaram fazer ligação dos temas relacionados às geociências com os fatos da realidade.
Em relação à dificuldade de aprendizagem dos alunos, foram apontados pelos professores
como temas mais difíceis “Planeta Terra” (19%), “Ciclos biogeoquímicos” (19%) e “Universo”
(19%) (Figura 1). A 6ª pergunta do questionário foi “Esta dificuldade é devido à falta de
trabalho de campo?”, e a maioria dos professores acredita que sim (67%).
Figura 1: Resposta a 5ª pergunta do questionário do corpo docente quanto à dificuldade de
aprendizagem dos alunos nos temas das Geociências.
A 7ª pergunta do questionário visou a saber se o professor “Acha importante as aulas de
campo no ensino da geologia no ensino superior?”. Todos responderam sim. A 8ª pergunta era
fechada, contendo três alternativas, sendo questionado quando “as aulas de campo deveriam ser
feitas?”. Todos os professores responderam que as aulas de campo deveriam ser feitas após a
aula teórica. A 9ª pergunta, também fechada, era sobre “como são as aulas de campo?”. Dois
professores responderam que nas aulas de campo os alunos devem fazer observação e
experimentação, e um professor respondeu que devem fazer somente observação. A 10ª pergunta
era sobre “como é a avaliação?”, sendo uma pergunta fechada, com várias alternativas. Dois
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professores responderam que as avaliações do que foi aprendido no trabalho de campo são por
participação e um professor respondeu que era por relatório escrito.
Quanto aos resultados obtidos com o questionário geral passado aos alunos de Geologia,
Biogeografia, Paleontologia e Biologia Geral, pode-se observar primeiramente na figura 2 a
distribuição da idade dos alunos entrevistados. A turma de Biologia Geral foi abordada para
servir como controle negativo, pois são alunos do primeiro período e ainda não fizeram as
matérias ligadas diretamente a Geociências. Além do perfil etário, foi também anotado o sexo
dos alunos participantes da pesquisa, observando-se que a maioria dos alunos era do sexo
feminino (73%). Na 1ª questão foi perguntado se “já teve experiência em aulas de campo?”,
sobre o qual a maioria respondeu que não (79%), não havendo diferenças significativas entre a
experiência de campo de veteranos (62%) e de calouros (65%) (Teste t, p <0,05).
Figura 2: Perfil etário dos alunos entrevistados.
Na 2ª questão foi perguntado “Você gosta de aulas de geologia?”, e a maioria dos alunos
disse que sim (69%). Comparando-se os veteranos com os calouros, 90,1% dos veteranos
responderam sim, enquanto somente 31,5% dos calouros disseram que sim (Teste T; p< 0,05). A
maioria dos calouros disse que não, o que reflete a ausência da opção “nunca tive” no
questionário e/ou porque nunca teve a experiência da disciplina e por isso não sabe o que ela
aborda.
Na 3ª questão, foi perguntado “Você acha que as aulas práticas são importantes na sua
aprendizagem?, a maioria respondeu sim (99%). E não houve diferença significativa entre
veteranos 89% e calouros 91% (Teste T; p< 0,05), ou seja, há um consenso de que as aulas
práticas são importantes, não importando o período em que o aluno se encontra. Na 4ª questão do
questionário, “Caso você não tivesse aulas práticas, isso prejudicaria a sua aprendizagem?”, a
maioria dos entrevistados acredita que sim (79%). Houve diferença significativa entre veteranos
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e calouros, onde 93,7% dos calouros responderam que sim contra somente 67,8% dos veteranos
(Teste T; p< 0,05).
Na 5ª questão foi perguntado se “Você se matricularia em uma disciplina por ela ter
trabalho de campo?”. Esta pergunta era fechada e continha 2 alternativas (a) somente se a
disciplina fosse obrigatória para meu curso, (b) faria mesmo se fosse uma disciplina eletiva. A
maioria dos estudantes respondeu a opção b (73%). Novamente houve diferenças significativas
entre veteranos (41%) e calouros (67%) (Teste T; p< 0,05).
Na 6ª questão foi perguntado “O que é mais importante?”, e as alternativas para resposta
eram: (a) Aulas práticas somente, (b) Aulas teóricas somente, (c) Mais aulas teóricas do que
práticas, (d) Mais aulas práticas do que teóricas, (e) 50% de aulas práticas e 50% de aulas
teóricas (Ilustração 10). A maioria tanto dos veteranos (86,6%) quanto dos calouros (74,8%) crê
ser importante ter 50% de aulas práticas e 50% de aulas teóricas não sendo estatisticamente
diferente (Teste T;p < 0,05). É importante ressaltar que houve diferença significativa para a
opção de mais aulas práticas do que teóricas, das quais calouros mostraram maior interesse
(25,1%) do que veteranos (7,3%). Outro ponto importante é que nenhum calouro escolheu a
opção c (mais aulas teóricas que práticas), o que demonstra uma diferença de perfil e motivação
dos alunos que estão iniciando a graduação em relação a quem está no final da graduação.
Discussão de Resultados
A formação de profissionais da educação, mais especificamente, vem ganhando papel
central no contexto das reformas educativas ocorridas em nosso país e em outros da América
Latina desde o final da década de 1970. Tem por objetivo “adequar o sistema educacional ao
processo de reestruturação produtiva e aos novos rumos do Estado”. A formação dos
profissionais da educação tem se apresentado como “elemento impulsionador e realizador dessas
reformas, ou como elemento que cria condições para a transformação da própria escola, da
educação e da sociedade” (FREITAS, 1999). Neste contexto, profissionais formados exatamente
na área em que lecionam vêm a melhorar a qualidade do ensino.
Todos os professores afirmam fazer ligação dos temas relacionados a geociências, como
origem do universo, relevo, fenômenos naturais, ciclos biogeoquímicos, meio ambiente e
impactos ambientais, com fatos da realidade. Entretanto, mesmo contextualizando os assuntos,
existem temas como universo, vulcanismo, relevo, planeta Terra, clima, entre outros, que os
professores relataram dificuldade de aprendizagem por parte dos alunos.
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Quando perguntados se essas dificuldades seriam por falta de aulas de campo, dois
professores disseram que sim e 1 disse que não. Pode-se tomar como referência a ideia de que
todo trabalho de campo constitui uma narrativa, selecionada e organizada pelo professor, de
acordo com critérios educacionais e segundo os objetivos pretendidos nas atividades, para levar
os estudantes a estarem mais próximos de uma realidade que deve ser estudada e investigada. A
ênfase em aspectos metodológicos (PRAIA, 1996) é crítica na construção dos estudos da Terra.
As disciplinas devem fornecer a fundamentação teórico-prática de Geociências (GONÇALVES
et al. 2000, GONÇALVES & CARNEIRO 2003, CARNEIRO et al. 2005, CARNEIRO &
GONÇALVES, 2006).
Morcillo et al. (1998) acreditam que os trabalhos de campo são especiais no ensino das
ciências naturais, algo aparentemente impossível de suprir com atividades em sala de aula e em
laboratório. Paschoale (1984) destaca o campo como cenário de geração, problematização e
crítica do conhecimento, onde o conflito entre o real e as ideias ocorre com toda a intensidade.
Sem dúvida, os trabalhos de campo em Geociências são imprescindíveis, pois permitem ao aluno
se posicionar perante o saber teórico e a realidade vigente, desmistificando a ciência e
construindo um saber mais próximo do seu cotidiano.
Quando perguntados se os alunos gostavam de ter aulas práticas de Geologia, a maioria
disse que sim e que não tinha oportunidade de fazê-lo. Mas nas duas observações práticas
realizadas neste trabalho, incluindo a visitação ao Museu de Geodiversidade e ao Museu de
Ciências da Terra, a participação dos alunos entrevistados foi baixa. Ou seja, todos alegam gostar
de ter aulas práticas, porém a maioria não participa efetivamente dessas aulas. Isto contradiz os
resultados obtidos pelos questionários, em especial para perguntas que visavam a observar se na
opinião do corpo discente as aulas práticas seriam importantes na aprendizagem e caso não as
tivesse, se isso prejudicaria a aprendizagem. Este fato demanda uma nova pesquisa para
investigar os motivos pelos quais há o interesse, mas há uma baixa participação nestas atividades
práticas considerando-se este público-alvo.
Para cada tipo de excursão, os métodos de ensino e a interdependência professor-aluno
devem ser analisados. Assim, os métodos de ensino são caracterizados como dirigidos,
semidirigidos e não dirigidos (BRUSI, 1992) e a relação professor/aluno pode ser centrada no
professor, centrada no aluno ou de equilíbrio. A condição de equilíbrio entre o docente e o aluno,
embora desejável em alguns casos, sofre deslocamentos para um lado ou outro, dependendo dos
objetivos didáticos pré-estabelecidos. A centralização do processo de ensino-aprendizagem,
desse modo, compõe uma forma válida de classificar as excursões geológicas. Em uma excursão
dirigida, onde o protagonista é o professor, tudo se desenrola segundo as ideias deste e os alunos
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desempenham um papel orientado, no sentido de redescobrir paulatinamente os conceitos e fatos
que o professor pretendia enfatizar desde o início.
Considerações Finais
Conclui-se que os professores tinham formação na disciplina que ministravam a matéria.
Porém a maioria aponta dificuldades no aprendizado dos alunos de graduação nas matérias
relacionadas a geociências e isso pode ocorrer devido a dificuldades para a realização de saídas
de campos e por lidar com a base fraca obtida pelo aluno no ensino médio. As aulas de campo
foram apontadas como fundamentais nas aulas de Geologia, Paleontologia e Biogeografia para a
realização da devida ligação à realidade.
Referências
AMORIM, L.; FRATTOLILLO, A. B. R. 2009. Trabalho de campo e prática de educação
ambiental
e
geográfica.
Disponível
em:
<http://egal2009.easyplanners.info/area03/3196_Nunes_Amorim_Leonardo.pdf. Acesso em 10
mar. 2013.
CAMPOS, D. A. 1997. “O ensino das ciências da Terra”. In: SIMPÓSIO A IMPORTÂNCIA
DA CIÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO NACIONAL, SÃO PAULO. Documentos. São
Paulo: Acad. Bras. Ciências. p. 39-46.(1a. sessão, Educação)
CARNEIRO, C. D. R.; GONÇALVES, P. W.; NEGRÃO, O. B. M.; CUNHA C. A. L. 2007.
“Aprendizagem de campo e experiência docente em Ciência do Sistema Terra na Unicamp”. In:
DGAE/IG/UNICAMP, SIMPÓSIO DE PESQUISA EM ENSINO E HISTÓRIA DE CIÊNCIAS
DA TERRA, 1, E SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE ENSINO DE GEOLOGIA NO BRASIL, 3,
Campinas, 4-8.09.2007, Anais, p. 31-39. (CD-ROM, 069.pdf)
COMPIANI, M. & CARNEIRO, C. (1993). Os papéis didáticos das excursões geológicas.
Enseñanza de las Ciencias de la Tierra, 1 (2).
DOURADO, L. O trabalho de campo na formação inicial de professores de biologia e
geologia: opinião dos estudantes sobre as práticas realizadas. Universidade de Minho Braga,
Portugal.
2001.
Disponível
em:
<http://www.enciga.org/files/boletins/61/o_trabalho_de_campo_na_formacao_professores.pdf.
Acesso em 10 mar. 2013.
FIGUEIREDO, V. & SILVA, G. A importância da aula de campo na prática em geografia.
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