A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA MOVELEIRA E SUA IMPORTÂNCIA NO CRESCIMENTO DA REGIÃO NORTE DO ESPÍRITO SANTO Hermes Renato Pessotti Mestrando em Engenharia de Produção – Univila/UNIMEP Professor do Curso de Administração das Faculdades Integradas Norte Capixaba – FANORTE Av. Filogônio Peixoto, s/nº - Bairro Aviso – Linhares – ES e-mail: [email protected] Abstract The objective of this paper is to describe the present evolution stage of the furniture industries in the Linhares furniture production center and its function in the contribution to the development on the north region of the Espirito Santo State. It also concern to the growing process of these industries, where the synergy of this evolution is shown according to its productive activities and with the market that each one is inserted on. From the research involving the industries of the furniture business in case, also denoted the great predominance of small industries, spotted by its great importance to the developing of the furniture business to the city of Linhares. Key words: Industrial evolution, Furniture industry, Espírito Santo. Resumo O presente trabalho tem por objetivo descrever o atual estágio de evolução das indústrias moveleiras do pólo de Linhares e o seu papel na contribuição para o desenvolvimento na região norte do estado do Espírito Santo. Nele é abordado também, o processo de crescimento destas empresas, onde a sinergia desta evolução se apresenta de acordo com as suas atividades produtivas e com o mercado ao qual cada uma está inserida. A partir do estudo envolvendo as empresas do pólo moveleiro em questão, percebeu-se também, uma grande variabilidade de empresas, onde a predominância ainda é de pequenas e micro empresas, que se destacam pela sua elevada importância para o desenvolvimento do próprio setor e para o município de Linhares. Palavras – chave: Evolução industrial, Indústria moveleira, Espírito Santo. Introdução A crescente busca pela competitividade leva as empresas a buscarem o desenvolvimento como forma de sua sustentabilidade no mercado. De acordo com Serrão e Dalcol (2001), no contexto industrial atual, as empresas têm experimentado influências generalizadas oriundas de seu ambiente competitivo e isso tem gerado em muitas delas a necessidade de estarem continuamente considerando e respondendo à dinâmica dos mercados nos quais estão inseridas. No entanto, para poderem competir no mercado globalizado, as empresas apostam no desenvolvimento de seus processos de produção, sua forma de gestão e nas oportunidades de mercado como sendo as suas maiores fontes de sobrevivência. Neste aspecto, Pessotti e Souza (2004) apontam que, de uma forma ainda um pouco tímida, percebe-se que algumas indústrias do pólo moveleiro de Linhares no Espírito Santo, estão buscando tirar proveito da globalização e apostam neste novo mercado como a saída para a sua sobrevivência. Diante disso, estas empresas buscam serem competitivas neste emergente mercado, onde algumas delas estão apresentando elevado desenvolvimento tecnológico e os mais ofertando os mais variados tipos de produtos. No entanto, com a evolução deste setor, a busca pela competitividade se destaca e passa a ser caracterizada como particular e estratégica de cada organização, onde a abertura dos novos mercados e a queda de muitas barreiras comerciais proporcionou, além de diversas oportunidades, a necessidade de modernização e de crescimento dessas empresas. A seguir, apresenta-se como a competitividade pode influenciar no desenvolvimento das empresas. O Fator Competitividade para as Empresas A competitividade entre as empresas cresce a cada dia e uma das necessidades de quem procura ser competitivo é entender o que o termo significa. Assim, “ser competitivo é ter condições de concorrer com um ou mais fabricantes e/ou fornecedores de um produto/serviço em um determinado mercado” (MARTINS; LAUGENI, 2002, p. 09). Da mesma forma, Davis et al (2001, p. 41) destacam que “a competitividade de uma empresa ou de uma UEN – Unidade Estratégica de Negócios – refere-se à sua posição relativa no mercado consumidor, em termos de como ela compete com as outras empresas em seu mercado”. Assim, pode-se destacar que esta condição só é satisfeita se não houver um fornecedor que domine totalmente o mercado. Contudo, Corrêa et al (2001, p. 26) descrevem que “ser competitivo é ser capaz de superar a concorrência naqueles aspectos de desempenho que os nichos de mercado visados mais valorizam”. Apesar de conseguirem serem competitivas, as empresas devem também manter essa competitividade e esse é o desejo e o objetivo de toda organização. Desta forma, uma empresa somente consegue sobreviver no mercado se mantiver alguma vantagem competitiva sobre seus concorrentes, onde Martins e Laugeni (2002, p. 09) destacam que: “para ser competitiva, uma empresa deve estabelecer uma estratégia de ação para atuar em mercados locais, regionais ou globais. Quanto maior o raio de sua atuação, tanto maior deverá ser sua capacidade competitiva ou, vale dizer, suas vantagens competitivas”. Para alguns autores, a competitividade como fenômeno relacionado às características de um produto ou de uma empresa e também, referem-se ao seu desempenho, em termos de participação no mercado de uma empresa ou um conjunto de empresas, ou à sua eficiência técnica expressa por indicadores internos como produtividade e práticas da organização do trabalho. Os fatores competitivos atuais afetam as empresas em qualquer nível que elas se encontram. Neste aspecto, para se discutir a competitividade de uma forma generalizada é importante que se apresente a forma de classificação das empresas, pois todas elas se mostram importantes para o desenvolvimento das regiões onde estas estão inseridas. A Classificação das Empresas É consenso na literatura que tanto para as comunidades locais quanto para a economia nacional, as micro, pequenas e médias empresas desempenham um papel fundamental para o seu desenvolvimento, onde correspondem atualmente como as maiores geradoras de empregos e receitas para a nação. Para Pelissari (2002) “as pequenas empresas representam atualmente 90% da economia nacional e correspondem a mais de 4/5 da oferta total de novos empregos”. Esse autor aponta também, que de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE e com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, que levam em consideração o número de pessoas ocupadas, as empresas podem possuir uma classificação diferentes. Para estes órgãos, os critérios oficiais para a classificação das empresas são apontados onde as microempresas se apresentam como aquelas que possuem até 19 empregados para o caso de indústrias e até 09 empregados no caso dos setores de comércio e de serviços, as pequenas empresas se mostram aquelas que possuem de 20 a 99 empregados para o caso de indústrias e entre 10 e 49 empregados no caso dos setores de comércio e de serviços, as médias empresas se caracterizam por possuírem de 100 a 499 empregados para o caso de indústrias e entre 50 a 99 empregados no caso dos setores de comércio e de serviços e as grandes empresas são aquelas que possuem acima de 500 empregados para o caso de indústrias e acima de 100 empregados no caso dos setores de comércio e de serviços. Por sua vez, uma forma mais criteriosa, Kassai (1996) apud Pelissari (2002) apresenta na tabela 01 as principais características de diferenciação entre as pequenas e grandes empresas. Tabela 01 – Principais características de diferenciação entre as pequenas e grandes empresas. Características Adaptabilidade Administração Capacidade de Interpretar e Utilizar Políticas e Dispositivos Legais Capacidade de Utilização de Especialistas Capacitação Profissional Capital Concentração de Recursos Decisão Estrutura Flexibilidade Forma Jurídica Ganhos de Escala Idade Média Níveis Hierárquicos Nº de Funcionários Nº de Produtos Recursos Financeiros Sistemas de Informação Utilização da Tecnologia Grandes Empresas Pequenas Empresas Pequena Profissional Grande Grande Pessoal ou Familiar Pequena Grande Especializada Dissolvido Capital Descentralizada Organizada Pequena Sociedade Anônima Grandes Alta Muitos Grande Grande Abundantes Complexos, Formalizados e Informatizados Alta Pequena Não-especializada Concentrado Trabalho Centralizada Informal Grande Limitada Pequenos Baixa Poucos Pequeno Pequeno (Único) Escassos Simples, Informais e Manuais (Mecanizados) Baixa (Artesanal) Fonte: Kassai (1996, p. 81) apud Pelissari (2002) Quanto à classificação das empresas pelo número de funcionários, vale lembrar que esta é a classificação mais utilizada atualmente no Brasil, principalmente pelos órgãos de financiamento. Existem também, outras formas de classificação das empresas, como o caso do Ministério do Trabalho e do BNDES, porém esta classificação é muito pouco utilizada. Em forma de valores financeiros, Paula (2001) salienta que o novo Estatuto da Micro e Pequena Empresa, de 05 de Outubro de 1999, Capítulo II, Artigo 2º, classifica as microempresas como a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais) e as pequenas empresas como a pessoa jurídica e a firma mercantil individual que, não se enquadra como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 244.000,00 (duzentos e quarenta e quatro mil reais) e igual ou inferior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais). As empresas de um modo geral sejam elas de qualquer porte, possuem formas de diferenciação que vão além das classificações abordadas. Isso fica evidente até mesmo quando são feitas comparações entre localidades diferentes. Nesta abordagem, as indústrias moveleiras de Linhares no Espírito Santo, apresentam os mais variados portes, onde de acordo com os dados do Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares – SINDIMOL (2005) existe atualmente neste pólo cerca de 150 empresas, sendo 01 (uma) grande empresa, 10 (dez) médias e as restantes são classificadas entre pequenas e microempresas. Para se chegar a essa quantidade de empresas, houve durante um determinado período de tempo um processo de evolução para este setor, onde a formação deste pólo de desenvolvimento se caracteriza de grande importância para a região em questão. O Surgimento da Indústria Moveleira no Brasil e a Formação de Pólos Moveleiros A produção de móveis no Brasil surgiu juntamente com o seu descobrimento. Com a chegada dos primeiros colonos europeus, houve a necessidade deste tipo de atividade, pois a maioria deles que aqui desembarcou não tinha móveis e isso proporcionou com que eles buscassem produzir seu próprio mobiliário dando início assim, as primeiras extrações de madeira nativa para utilização neste processo. A abundância de madeira nativa e de boa qualidade fez com que eles não encontrassem dificuldades nesta atividade e que pudessem desenvolver seu próprio mobiliário que era de forma puramente artesanal e para utilização própria. Assim, em princípio, eram produzidos todos os tipos de móveis necessários, onde toda a produção era desenvolvida de forma manual, rústica e com uso de ferramentas pouco apropriadas. Este tipo de produção, tipicamente artesanal, se distendeu durante muitos anos e somente no início do século XX, com o crescimento das principais grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, foi efetivamente iniciado como processo de produção seriada e em larga escala. Este aspecto levou Coutinho et al (2001, p. 14), a descrever que: “[...] no começo do século 20, a cidade de São Paulo e seus municípios limítrofes – Santo André, São Caetano e São Bernardo – assistiram ao surgimento de pequenas marcenarias de artesãos italianos, gerado pelo grande número de fluxo migratório. A indústria moveleira surgia, então, agregada ao primeiro estágio de desenvolvimento da indústria em São Paulo, com a maior parte da produção voltada para o mercado popular em formação”. Nessa mesma época, surgiam também, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, os primeiros pólos moveleiros impulsionados pelos mesmos motivos do surgimento na região de São Paulo. Durante muito tempo as empresas localizadas nestas regiões obtiveram pouco crescimento e trabalhavam em grande parte para atender o mercado sob encomenda e na própria região, onde segundo Delabianca (2002, p. 13), somente a partir da década de 50, ocorreu o surgimento de pólos moveleiros nos estados de São Paulo (Mirassol, Votuporanga e São Paulo), Rio Grande do Sul (Bento Gonçalves), Santa Catarina (São Bento do Sul), Paraná (Arapongas), Minas Gerais (Ubá) e Espírito Santo (Linhares), onde este processo de produção, em virtude da demanda, foi migrando gradativamente do processo artesanal para o processo de produção seriada. Com o crescimento das cidades, o mercado de móveis foi se tornando cada vez mais promissor e algumas regiões do país foram impulsionadas para a formação de pólos moveleiros, onde cada uma apresentava as suas próprias particularidades, apresentando necessidades e características diferentes. Tal fato leva Coutinho et al (2001, p. 15) a ressaltar que “a formação desigual da cultura industrial do setor moveleiro deve ser considerada na elaboração das estratégias de mercado, de modo a possibilitar uma complementaridade interpólos”. Estes autores destacam ainda, que este processo não se trata de uma característica inconveniente para o desenvolvimento do setor, pois a experiência dos pólos mais avançados poderá se articular ao dinamismo verificado nos pólos em desenvolvimento. Como forma de atender o mercado, as empresas moveleiras, inicialmente eram chamadas de marcenarias e produziam tipicamente por encomenda, sendo que a maioria destas empresas produzia todo o tipo de mobiliário sem especialização alguma. Porém, com o aumento da demanda e a necessidade de se produzir em grandes quantidades, esta foram levadas a migrar gradativamente para o processo de produção em série, no qual algumas empresas conseguiram altos índices de crescimento e produtividade. No que diz respeito à cidade de Linhares no Espírito Santo, Villaschi Filho e Bueno (2000, p. 31) destacam que de forma pioneira, “em 1979 a Movelar passa a produzir móveis em série, mais baratos, para populações de menor renda, especializando-se em dormitórios para atender basicamente os estados do ES, MG e BA”. Assim, como estratégias de mercado, algumas empresas passaram a produzir apenas o tipo de móvel que lhe era mais viável estrategicamente, deixando de atender a produção por pedidos. Com isso, as empresas que foram surgindo posteriormente nesse ramo de atividade, vinham em geral, para suprir uma necessidade de mercado que as empresas atuais não conseguiam ou não era viável economicamente atender e assim, foram se complementando na própria região e formando os chamados pólos moveleiros, que serão apresentados no próximo item. Apresentação dos Principais Pólos Moveleiros do Brasil De acordo com Gorini (2000) a produção moveleira no Brasil é regionalmente concentrada, sendo que os Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná respondem por cerca de 82% da produção nacional. Destes, São Paulo é estado que concentra o maior volume de produção, sendo responsável por 42% do volume produzido, seguido do Rio Grande do Sul com 18% da produção nacional. Desta forma, uma característica das empresas moveleiras é que as mesmas são agrupadas em pólos regionais. Os principais pólos moveleiros do Brasil, bem como as suas características principais podem ser visualizadas na tabela 02. Tabela 02 – Principais pólos moveleiros do Brasil Pólo Estado Nº de Empresas Empregos Principais Mercados Principais Produtos Votuporanga SP 350 7000 Todos os Estados São Bento do Sul e Rio Negrinho Ubá SC 210 8500 MG 153 3150 Arapongas PR 145 5500 Exportação, Paraná, Santa Catarina e São Paulo Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia Todos os Estados Cadeiras, armários, estantes, mesas, dormitórios, salas, estofados e móveis sob encomenda em madeira maciça. Móveis de Pínus, sofás, cozinhas e dormitórios. Bento Gonçalves Linhares e Colatina RS 130 7500 ES 150 4000 Bom Despacho e Martinho Campos Mirassol, Jaci, Bálsamo e Neves Paulista MG 117 2000 SP 80 3000 Lagoa Vermelha RS 60 1800 Tupã SP 54 700 Moveleiro Todos os Estados e Exportação Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais Minas Gerais São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Nordeste Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Nordeste São Paulo Cadeiras, dormitórios, salas, estantes e móveis sob encomenda. Móveis retilíneos, estofados, móveis de escritórios e tubulares. Móveis retilíneos, móveis de pínus e metálicos (tubulares). Móveis retilíneos (dormitórios e salas) e móveis sob encomenda. Cadeiras, dormitórios, salas, estantes e móveis sob encomenda. Cadeiras, dormitórios, salas, estantes e móveis sob encomenda em madeira maciça. Dormitórios, salas, móveis de pínus, estantes e estofados. Mesas, racks, estantes, cômodas e móveis sob encomenda. Fonte: Adaptado a partir de Gorini (2000) Os dados apresentados na tabela 02 mostram que a grande maioria dos móveis produzidos nos principais pólos moveleiros se concentra no segmento de móveis residenciais, sendo que existe uma grande produção especializada voltada para a linha de dormitórios, armários e rack’s. Para Gorini (2000) o segmento de móveis de madeira para residência é o mais importante, com 60% da produção total, seguido pelo mesmo segmento de móveis de madeira para escritórios, com 25% e da produção de móveis institucionais para escolas, consultórios médicos, hospitais, restaurantes, hotéis e similares, com 15%. A formação destes pólos propicia uma série de vantagens para as empresas, pois além de conseguirem adquirir matérias primas em melhores condições de preço, prazo e pelo alto volume adquirido, incentiva a instalação de empresas fornecedoras específicas na própria região, devido ao grande número de empresas potenciais compradoras de um determinado produto. Assim, diversos pólos possuem empresas fornecedoras instaladas nas suas proximidades e este fato proporciona rapidez no atendimento, confiabilidade nos prazos de entrega, melhor qualidade nos serviços prestados e ainda grande redução nos tempos e custos de transporte, proporcionada por uma eficiente logística de distribuição. Todos estes aspectos representam algumas das estratégias utilizadas por essas empresas para poderem competir no mercado. As Estratégias da Indústria Moveleira e as Tecnologias de Produção O setor moveleiro nacional vem apresentando um grande crescimento nos últimos anos e o processo de produção de móveis no Brasil vem evoluindo significativamente. Atualmente, já se possui tecnologia que são comparadas aos níveis internacionais, com qualidade para competir em qualquer parte do mundo. Gorini (2000, p. 11) explica que: “ao longo dos últimos anos, alguns segmentos da indústria brasileira de móveis têm experimentado mudanças significativas em sua base produtiva e uma rapidez muito grande em se ajustar às novas condições de abertura comercial da economia brasileira e de globalização de mercados em nível mundial” Por sua vez, Coutinho et al (2001, p. 15), destacam que “a concorrência do nosso setor moveleiro atual é com o móvel estrangeiro, não mais entre empresários nacionais”, nos levando a crer que a tecnologia utilizada na produção, a mesma matéria-prima e a informação sendo acessível a todas as empresas, não existem mais diferenças significativas no mobiliário brasileiro. Esse fator de similaridade entre os produtos é fortemente ligado à evolução do setor, que cresceu muito na última década e que, com a abertura dos mercados internacionais, as empresas moveleiras se viram obrigadas a crescer e se modernizar, pois da mesma forma que as mesmas passaram a ter capacidade de introduzir seus produtos no mercado externo, as empresas estrangeiras também tiveram acesso ao mercado nacional. Isto fez com que as empresas brasileiras buscassem a modernização de seus processos industriais para poderem competir com essa ameaça do mercado externo. Assim, produzir seus produtos com rapidez, qualidade e baixo custo, se tornou uma questão de sobrevivência para as empresas de móveis brasileiras nos últimos tempos e modernizar foi a tônica das empresas moveleiras nos últimos anos, pois do contrário, estariam fadadas ao insucesso. As mudanças nos mercados, as necessidades dos clientes e a necessidades de maiores volumes de produção e melhores índices de produtividade não proporcionaram outra escolha e a mudança, no contexto atual, passou a ser a única certeza para as empresas que competem em um mercado amplamente globalizado. Rigoni (1998) apud Delabianca (2002) chama atenção para o fato de que o setor moveleiro nacional, embora tendo passado por um período de modernização no início da década de setenta, não privilegiou a competição no mercado internacional. Estimulado pelo crescimento do mercado interno durante este período, o setor buscou direcionar sua produção para o atendimento desta demanda. Com a crise da década de oitenta e a retração do mercado interno, o que naturalmente estimularia a busca pelo mercado internacional, as estratégias de produção viram-se frustradas pelo nível de desatualização tecnológica. Com isso, a única saída foi a modernização dos parques industriais, mediante aquisição de equipamentos de outros países e a formação de profissionais capacitados para gerir o setor, pois as empresas ainda possuíam uma administração tipicamente familiar. Na década de noventa ocorreu uma considerável renovação no parque de máquinas, com a aquisição de equipamentos provenientes, a maior parte, da Itália e Alemanha. Contudo, essa realidade está longe de ser predominante no universo das empresas nacionais, principalmente em virtude da composição do setor ser majoritariamente de pequenas e médias empresas, sendo que as mais modernas geralmente estão mais focadas no comércio internacional (GORINI, 1998). Com efeito, Santos (1999, p. 19) afirma que “a atualização tecnológica tem se mostrado um fator indispensável para se atingir os níveis de produtividade e competitividade exigidos atualmente pelo mercado”. No entanto, o setor moveleiro, assim como diversos outros ramos de atividade produtiva, ainda é caracterizado pela grande quantidade de pequenas e médias empresas, com isso, apenas algumas delas detém alta tecnologia para a produção seriada e isso permite uma grande variabilidade dos produtos ofertados, conforme apresentado na tabela 03. Tabela 03: Os principais pólos moveleiros do Brasil e a tecnologia de produção. Pólos Grande São Paulo (SP) Noroeste Paulista (SP) (Votuporanga e Mirassol) Tecnologia Atualização Heterogênea: Seriados: Alta Tecnologia Sob Encomenda: Artesanal Escritórios: Elevada Complexidade Diferenciada: Rápida (Incremental) Lenta (Cópias) 02 anos (Full Line) Líderes (Móveis Retilíneos e Metálicos): Alta Tecnologia PME’s: Intensivas em Mão-de-Obra Rápida Em Andamento Itatiaia: Alta Tecnologia PME’s: Níveis Inferiores Rápida Ritmo Lento Arapongas (PR) Líderes: Média Capacitação PME’s: Níveis Inferiores Em Andamento Em Andamento Bento Gonçalves (RS) Maior Capacidade Nacional Similar às Empresas Estrangeiras Líderes: Entre Média e Alta Tecnologia PME`s: Níveis Inferiores a Médios Rápida Em Andamento Ubá (MG) Linhares (ES) Fonte: Adaptado a partir de Santos et al (1999, p. 19) Atualmente, muitas dessas empresas ainda trabalham de forma artesanal e com sistemas de produção sob encomenda, pois necessitam de pedidos para produzir, uma vez que a produção para estoque pode ser prejudicial devido ao fato de se trabalhar com as incertezas do mercado e com as dificuldades em se obter uma reserva de capital de giro. A Evolução da Indústria Moveleira no Espírito Santo e a Competitividade do Setor Villaschi Filho e Bueno (2002) descrevem que a indústria de moveleira na região norte do Espírito Santo iniciou-se com o surgimento de grupos populacionais próximos à região de Linhares e Colatina. Esse contingente advindo da região Sul do Estado, buscava terras devolutas para o cultivo do café. Em conjunto com a produção agrícola, também se desenvolvia a produção artesanal de roupas, alimentos e móveis. Assim, as pequenas marcenarias surgiram como produção temporária objetivando a complementação da renda familiar. Outro fator preponderante para o crescimento das empresas, foi a instalação de inúmeras serrarias na região, principalmente em Linhares, com o objetivo de utilizar a madeira que era desmatada em função do avanço do plantio de café e da formação de pastagem para a pecuária. Segundo Villaschi Filho e Bueno (2002, p. 23) o ciclo mata-café-pastagem era facilmente visualizado, onde as matas nativas eram derrubadas para o plantio de café e posteriormente, com a degradação do solo, o mesmo era transformado em pastagens para a criação de gado. Como o café foi perdendo preço no mercado e conseqüentemente, espaço para a pecuária, iniciou-se um novo ciclo: o ciclo mata-pastagem, com retirada de grandes quantidades de madeiras para dar lugar a pecuária extensiva. A retirada da madeira impulsionou o grande avanço da indústria moveleira na região de Linhares que aconteceu no início dos anos 70, com os trabalhos da família Rigoni, que se instalou na cidade e começou a trabalhar com móveis sob encomenda para atender o próprio mercado. Atualmente, esta família é proprietária das três maiores empresas do setor, que são: a Movelar, a Rimo e a Delare, que atuam no ramo de móveis seriados para dormitórios e estofados em geral e essas empresas são, atualmente, responsáveis pela grande maioria dos produtos que são exportados para outros países. No entanto, Pessotti e Souza (2004) descrevem que a fatia de mercado conquistada por essas empresas ainda é muito pequena e a quantidade de produtos que chega ao mercado externo ainda é muito restrita. Como fonte de competitividade, deste o início de seu surgimento, o setor moveleiro sempre se caracterizou como um ramo de atividade onde existem poucas barreiras de entradas, onde a cada ano, a quantidade de empresas varia consideravelmente. Este crescimento deve-se à facilidade de aquisição de matéria-prima, treinamento, baixo custo da mão-de-obra de produção e baixo valor dos equipamentos e, segundo Gorini (1998) apud Villaschi Filho e Bueno (2002, p. 09): “o setor moveleiro nacional é caracterizado pela grande presença de pequenas e médias empresas, tendo a participação de inúmeras informais, em razão das baixas barreiras à entrada, o que dificulta, entre outras coisas, a introdução de normas técnicas que atuariam na padronização dos móveis e de suas partes intermediárias”. De forma contrária, se as barreiras de entradas são poucas, as pressões competitivas são elevadas. Assim, da mesma forma que aumenta o número de empresas, a quantidade de empresas que saem do mercado a cada ano também é muito elevada. Segundo dados do Sindimol (2005), o número de empresas moveleiras na região de Linhares é praticamente estável, pois a quantidade de novas empresas que surgem a cada ano é compensada pelas empresas que também deixam o mercado. Essa alternância de empresas é caracterizada pelo fato de que são, geralmente empresas de pequeno porte e que iniciam suas atividades produtivas com pouco ou nenhum planejamento e que mais tarde, acabam sendo sufocadas pelas maiores. O que chama atenção neste ramo de atividade é a diversidade quanto ao porte e estruturação das empresas, onde as maiores são mais estruturadas e consolidadas, enquanto que as menores buscam espaço copiando os produtos das maiores e tentando buscar competitividade com produtos mais baratos. Por outro lado, uma vantagem competitiva que se apresenta para as pequenas e médias empresas moveleiras, reside no fato de que a flexibilidade nos processos produtivos é muito maior em empresas menores, pois as mesmas geralmente trabalham em forma de célula de manufatura e estão preparadas para produzir qualquer tipo de produto, uma vez que produzem sob encomenda e os seus produtos não são padronizados. A seguir procura-se discutir a relevância destas empresas para o setor e para a região norte do estado do Espírito Santo. A Importância da Indústria Moveleira para a Região de Linhares A questão econômica que envolve as empresas também é relevante quando se analisa o pólo moveleiro de Linhares. De acordo com os dados do Sindimol (2005), existem na região, cerca de 150 empresas atuando nesta atividade, produzindo os mais variados tipos de móveis. Destas empresas, 01 (uma) é de grande porte, 10 (dez) se apresentam como médias e as demais estão divididas entre pequenas e microempresas. Ainda segundo o próprio Sindimol (2005), o pólo moveleiro de Linhares é um dos segmentos mais tradicionais e de maior destaque do Espírito Santo. Além do município de Linhares, este abrange ainda os municípios de Rio Bananal, Sooretama, Jaguaré, Boa Esperança, Pinheiros, Pedro Canário, Mucurici, Montanha e Conceição da Barra. Por sua vez, em nível de Espírito Santo, em conjunto com Vitória e Colatina, o pólo de Linhares é classificado como o 5º maior do Brasil e no ano de 2004 alcançou um faturamento de 520 milhões de reais, contribuindo para o faturamento alcançado no Brasil, que foi de 11,4 bilhões de reais no mesmo ano. Em conjunto, as empresas do pólo de Linhares geram cerca de 4000 (quatro mil) empregos diretos sendo que cerca de 70 a 75% desse pessoal, está alocado em pequenas e médias empresas. Outra consideração importante é que “o total da renda desta atividade para a região de Linhares, corresponde a um percentual de 23 a 24 % da renda total do município” (SINDIMOL, 2005). Apesar de todas as características apresentadas, é nítida a diferença competitiva entre essas empresas, pois ficam evidentes as limitações de cada empresa dentro do seu contexto produtivo, tanto na capacidade de produção quanto nas tecnologias empregadas, enquanto as maiores buscam comercializar e distribuir seus produtos para todo o território nacional e até para o mercado externo, enquanto as menores buscam competir na própria região ou até mesmo na própria localidade. Considerações Finais Procurou-se destacar neste trabalho, a evolução da indústria moveleira no Estado do Espírito Santo, mais precisamente no município de Linhares, onde esta evolução retrata o potencial de crescimento nesta região. Percebe-se também, neste estudo, que a grande maioria das empresas que formam o pólo em discussão são classificadas como empresas de micro e pequeno porte, onde a sua relevância para o setor passa a ser bastante elevado. Nestes termos, não se pode desprezar a importância destas empresas para o setor, pois sem elas, as grandes empresas teriam dificuldades em competir no mercado globalizado, pois elas fazem parte de uma malha competitiva que proporciona suporte para as maiores se destacarem. Esta malha competitiva está diretamente relacionada ao processo de que as menores fazem as grandes crescerem em competitividade, ou como forma de suporte em terceirização ou como forma de ser uma concorrente em potencial. Na verdade, com todas essas considerações apresentadas, quem ganha com todo esse processo é o próprio município de Linhares, pois o crescimento destas empresas alavanca também o crescimento da região, na medida que as mesmas proporcionam grande fonte de renda e ajudam na resolução de problemas sociais do município, criando inúmeras oportunidades de empregos e impulsionado o desenvolvimento sócio-econômico para a região. Referências Bibliográficas CORRÊA, Henrique L.; GIANESI, Irineu G. 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