18 | Mercados | Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 19 de Junho de 2013 19.06.13 O HQ Life quer deixar de estar cotado na bolsa alemã e passar para a praça portuguesa. Pretende gozar de mais visibilidade e tirar partido das participações que já tem em Portugal. O “private equity” já iniciou o processo junto da Euronext Lisbon e pretende estar cotado em Julho no EasyNext, um segmento de mercado onde os requisitos de admissão são mais flexíveis. 20 O “private equity” alemão tem uma capitalização bolsista de cerca de 20 milhões de euros na bolsa de Hamburgo. BOLSA Fundo de capital de risco alemão quer trocar Hamburgo por Lisboa HQ Life deverá transaccionar no EasyNext, um segmento de mercado onde estão já cotadas doze empresas portuguesas de pequena dimensão RAQUEL GODINHO [email protected] AbolsadeLisboapoderáreceber, em breve, uma nova cotada. E ao contrário do que aconteceu com algumas empresas portuguesas, queprocuraramomercadoaccionistaalemão,oHQLifequerfazer o caminho inverso. Este fundo de capital de risco, que investe em “startups”,contandojácomparticipações em Portugal, pretende estrear-senoEasyNext,mercado destinadoacompanhiasdepequenacapitalização. Aideiado presidenteexecutivo,MarkusBeforth, é estrear-se jáemJulho. “Temos planeado manter as acções na Alemanha até ao final de Junho, mas já cancelámos o contrato.Queremosestarcotados emLisboa, talvez naprimeirasemanadeJulho”,disseMarkusBeforth,responsáveldoHQLife,em entrevista ao Negócios , num encontroquedecorreuantesdeuma reunião com os responsáveis da NYSE EuronextLisbon. Contactada, agestorado mercado accionistaportuguêsafirmouque“não comenta potenciais admissões à bolsa”. Fundado em 2003, o HQ Life estreou-senabolsagermânicaem 2011.EmMarçodesteano,tomou a decisão de deixar a bolsa de Hamburgo,ondeestáactualmen- te cotado, depois de a Deutsche Boerseterencerradoumdossegmentos de mercado, o “Open Market”,etertransferidoascerca de mil empresas que aí estavam listadasparabolsasregionais.Esta decisãoestáalevaralgumascotadasaprocuraremmercadosaccionistas noutros países para terem uma maior visibilidade. E é isso que o HQLife vemàprocura. Mas porquê Portugal? “Em Portugal, as empresas são, realmente, bem-vindas no mercado accionista. E aqui não há muitas empresas cotadas”, destacou MarkusBeforth,acreditandoque esse facto pode dar-lhe mais visibilidade. “Este é o País perfeito [paraoHQLife]porquequeremos crescer neste mercado. Por isso, estar no mercado accionistaportuguês é o próximo passo lógico”, acrescentouopresidenteexecutivo do HQ Life que lembra que o fundo de “private equity” já tem participações emPortugal. Quatro “startups” portuguesas Apresença portuguesa no fundo germânico resume-se, por enquanto,aocontrolodototaldocapital daFirst Europayment, uma empresade serviços de consultoria, sedeada na Madeira. Esta é uma das sete participações com queoHQLifeconta,actualmente, sendooobjectivodestefundoale- mãoter,atéaofinaldoano,umtotal de 12 “startups” a funcionar. Destas, em Portugal, estimapassardeumaparaquatroatéaofinal de 2013. Neste momento, estão em estudodoisprojectos,tambémestes naMadeira. Um deles é um novo serviçodeInternet,queestaráno mercadodentrodeduassemanas, parasertestado,revelouoresponsável do “private equity”. Telecomunicações,mediaesaúdesãoos sectoresemqueoHQLifeaposta, sendo aEuropa o mercado natural. Alemanha, Espanha e Portugal são os países escolhidos para procurarnovasideiasquepossam viraserbons negócios. Encerramento de um dos segmentos de mercado da bolsa alemã ditou transferência de cotadas para praças regionais. Muitas estão a sair à procura de visibilidade. Ideias. Empresas, talvez HQ Life pretende vir para Lisboa. Portugal é um dos mercados em que pretende crescer. Vem à procura de boas ideias de negócio. Aideia deste fundo de capital de risco não é o de comprar empresas.Etambém“nãofundamosnovas empresas”, numa primeira fase. Procuram boas ideias, dãolhes todos os meios necessários paraquesejamtestadase,apenas seforembemrecebidaspelomercado, criar efectivamente uma novaempresa. Numafase inicial, oHQLifefinanciaaté10mileuros. “Se aideiaforbem-sucedida, tem a aprovação e financiamento até 250mileuros.Seprecisardemais, procuraremos outro investidor”, realça o presidente executivo do HQLife. Jornal de Negócios | Quarta-Feira, 19 de Junho de 2013 | Mercados | 19 Bruno Simão EasyNext conta já com doze empresas Criado em 1991, sob a designação de mercado sem cotações, em 2009 passou a ser chamado de EasyNext. Trata-se de um sistema de negociação multilateral, tanto de acções como obrigações e “warrants”, que apresenta requisitos de admissão flexíveis. Em Lisboa, estão cotadas 12 empresas no EasyNext: Conduril, Transinsul, Copam, Sopragol, Cipan, Sonagi, S.C. Braga, Oli.Irmão, Fitor, Fenalu, Curia e Litho Formas. Segundo a Euronext Lisbon, no ano passado, foram transaccionados 337 milhões de euros neste sistema de negociação, enquanto em 2013, foram negociados 331 milhões de euros até ao momento. P E R G U N TA S A M A R KU S B E F O R T H PRESIDENTE EXECUTIVO DO HQ LIFE “Em Portugal há muitas ideias, mas não há capital” Qual o interesse do HQ Life em estar cotada na bolsa de Lisboa? Estamoscotadosnabolsaalemã desde 2011. Mas, desde então, o mercadoalemãotemmudadomuito.Actualmente,preferemterempresas muito grandes ou obrigaçõesdeempresas.Nósestamosem Hamburgo.Porisso,decidimosque vamosparaumPaísondeomercado accionista ainda esteja interessado emempresas, mesmo empequenasoumédiasempresas.Decidimoscancelaronossocontratona AlemanhaevirparaPortugal.Além disso, temos já participações em Portugal. O que procuram em Portugal? Osportuguesestêmgrandescapacidades. Queremtrabalhar, têm ideias,mashámenosemprego.Não hácapitalparaideias,osbancosnão estão a financiar. As pessoas vêm aténósedizemquetêmumaideia. Perderam o emprego, mas têm ideias[denegócio]enãotêmapossibilidade de as pôrem prática. Algumasprecisamdemil,doismileuros.Nãoprecisamdeescritório,de carro,apenasqueremtestaraideia. Portugaléumpaísmuitobompara estaretemosumconceitoquequeremos aplicar. Que conceito é esse? É um conceito que chamamos de“leanstartup”.Começamosacomunicar com os clientes e aprendemos com as reacções dos clientes. Talvez só uma pequena parte do produto seja boa. Se assim for, vamos nessa direcção. Normalmente, constrói-se o produto per- feitoe,porisso,as“startups”precisam de um a cinco milhões de euros. Nas “leanstartups”, são precisos 10 a25 mil euros. Este é o pensamento do HQ Life. Não são precisos grandes escritórios ou grandes carros, no início. Quais são os sectores em que pretendem investir? OHQLifeestámuitofocadoem investiremtelecomunicações,mediaesaúde.Nasaúdeaindanãotemos participações, estamos a testar. Agrande parte das nossas participações são em telecomunicações, Internete media. Porquê estes sectores? Omaisimportanteéacapacidadeparatestaraideiamuitodepressa. Actualmente, não háoutrafor- madetestarcomamesmarapidez daInternet.Passamosdaideiapara o mercado em dois dias. E, muitas vezes, funcionae, outras vezes, vemos que o mercado não esperava pornós.Mas,sevamosparaoescritórioeplaneamosdurantemesese não funciona é ainda pior. Se funciona, as nossas empresas têm de terresultadospositivosemseismeses e “cashflow” positivo emdoze. Trata-se de uma abordagem de longo prazo em relação às empresas? Sim. Não queremos vendê-las a curtoprazo.Podeacontecer,eventualmente. Mas, normalmente, queremosmanterasempresas,ganhardinheirocomelas.Queremos quepaguemdividendosaoHQLife. Depois utilizamos o dinheiro em novas “startups”. O HQ Life está muito focado em investir em telecomunicações, media e saúde. MARKUS BEFORTH Presidente executivo do HQ Life