GERENCIAMENTO DO LIXO PLÁSTICO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE
SANTANA
Paixão, Maria de Fátima Mendes e Almeida, Marisa Oliveira de
Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências exatas e Equipe de
Educação Ambiental, Br 116, Km 003, CEP: 44031-460 Tel. 005575 224 8086, 005575224
8105, telefax 005575 224 8085, email: [email protected]
INTRODUÇÃO
Em outubro de 1992 foi criada a Equipe de Educação Ambiental da Universidade
Estadual de Feira de Santana (EEA / UEFS) e implantado o “Projeto Coleta Seletiva e
Reaproveitamento do Lixo Gerado no Campus da UEFS”, que tem como objetivo difundir
técnicas de tratamento do lixo urbano, utilizando a Educação Ambiental como elemento de
sensibilização para participação da comunidade universitária na coleta seletiva da UEFS, e
divulgar a importância de se ter um tratamento adequado para os resíduos sólidos gerados,
chamando a atenção da comunidade local para os problemas ambientais e de saúde causados
pela disposição inadequada do lixo.
Os resíduos provenientes da coleta seletiva tem cada um o seu destino: o papel é
reciclado na oficina artesanal de papel, a fração orgânica sofre o processo de compostagem, e
os outros (vidro, metal e plástico) são armazenados para posterior comercialização.
Na época de implantação do projeto geral, definiu-se que o resíduo plástico
pertenceria a duas categorias: “Plástico Comercial” (embalagens de plástico duro), que possuía
mercado na cidade de Feira de Santana, e “Plástico Aterro” (copos descartáveis de água e
cafezinho, canudos de refrigerante, sacos), sem mercado. O primeiro destinado à venda e o
segundo ao aterro da cidade.
Devido às dificuldades encontradas posteriormente para comercialização do plástico na
região e também ao interesse de se reaproveitar, sempre que possível, todo material reciclável,
teve início em 1995 uma nova linha de pesquisa, dentro do projeto acima citado, para encontrar
uma outra forma para o destino final do resíduo plástico gerado na UEFS.
A questão a ser resolvida foi: o que fazer com o lixo plástico gerado na UEFS?
O destino final dos plásticos usados é algo para ser pensado por todos. Segundo
Usberco (1995) não se pode dizer que os plásticos por serem praticamente inertes sejam
inofensivos, pois já foram registradas mortes de animais por ingestão de películas de plásticos.
OBJETIVOS
O projeto Reciclagem e Reaproveitamento do Lixo Plástico Produzido na UEFS tem os
seguintes objetivos: buscar uma nova forma para o destino do lixo plástico da UEFS; colaborar
na redução do desperdício de materiais recicláveis; contribuir para o crescimento da reciclagem
em nossa região e para a qualificação do pessoal com ela envolvido; desenvolver pesquisas
para auxiliar na resolução dos problemas relacionados com a reciclagem do plástico.
METODOLOGIA
A metodologia empregada passou pelas etapas: caracterização do lixo plástico; visitas
às empresas recicladoras e transformadoras de plástico dentro e fora do estado da Bahia;
pesquisa sobre linhas de reciclagem e transformação do grão reciclado; visitas a Instituições de
Ensino que desenvolvem trabalhos de reciclagem com plásticos; criação de oficinas de
sucatas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para se traçar o perfil do lixo plástico da UEFS foi feita a sua caracterização,
qualitativamente e quantitativamente, entre outubro e dezembro de 1995. Todo material
recolhido para amostragem foi pesado, tanto o plástico comercial quanto o aterro, tendo o
cuidado de separar esse último do restante do lixo aterro. Para identificação do tipo de plástico
encontrado foi usado o teste da chama Wiebeck (1995) e as embalagens que já possuíam o
sistema universal de identificação dos plásticos foram identificadas através desse sistema.
O teste da chama baseia-se no cheiro, cor da chama e fumaça quando o plástico é
queimado. O processo de separação fica bastante facilitado pelo uso do Sistema Universal de
Identificação dos Termoplásticos, mas poucas embalagens dentre as usadas na amostragem
possuíam a identificação.
Segundo Barbosa in Costa (1995) “a coleta e a classificação do lixo plástico são os
pontos de estrangulamento para o desenvolvimento da reciclagem no Brasil”. “Para o leigo
tudo é plástico. ... Se não forem separados antes da moagem, os plásticos provocarão danos
aos equipamentos e perda de qualidade do produto, inviabilizando o processo de reciclagem”.
Os resultados obtidos nas seis amostragens realizadas são mostrados na Figura 1,
para o “Plástico Comercial” e na Figura 2 para o “Plástico Aterro”. Em média, a UEFS produz
por mês, 7,22 kg de Polipropileno (PP), 17,6 kg de Polietileno (PE), 1 kg de Cloreto de Polivinila
(PVC), dentro da categoria “Plástico Comercial” e 77,4 kg de Poliestireno (PS) dentro da
“Plástico Aterro”.
Com base nesses dados obtivemos a seguinte informação: a quantidade é pequena
para vender para mercados fora da cidade de Feira de Santana, sendo a venda, ou até mesmo
a doação, inviabilizada pelos custos envolvidos com o transporte.
Foram realizadas visitas a algumas empresas em Salvador e Feira de Santana, Bahia,
que reciclam e/ou transformam plásticos, para observar o processamento desse material a
nível industrial. As empresas transformadoras foram escolhidas de modo que todos os
processos de transformação (extrusão, injeção e sopro) dos grãos (reciclados ou virgens)
fossem contemplados. Observou-se que a reciclagem pré-consumo é a mais utilizada na
cidade de Feira de Santana, o que inviabiliza a doação do plástico da UEFS para reciclagem.
O uso do plástico limpo dispensa a etapa de lavagem, que requer o uso de um grande
volume de água e tratamento adequado após o uso, encarecendo o processo. Segundo um
dos micro-empresários visitados em Feira de Santana o
trabalho com reciclagem pósconsumo iria tornar o custo de sua matéria-prima mais baixo, comprava a R$ 0,20 e passaria a
comprar o kg por R$ 0,05. No entanto, por razões financeiras ele não podia introduzir a etapa
de lavagem na sua planta de reciclagem, mantendo-a com a reciclagem pré-consumo.
Fora do Estado da Bahia, na cidade de Guaratinguetá, estado de São Paulo, foi
visitada a planta de reciclagem das “Obras Assistênciais Nossa Senhora da Glória” que produz
a madeira plástica, e a transforma em bancos de jardim, cercas, floreiras e desenvolve
pesquisas para descobrir novos fins para madeira plástica. Segundo o técnico responsável, o
processo ainda tem algumas limitações, tendo sido desenvolvido por ele e sua equipe a
“fórmula” que informa a quantidade de plástico adequada para ser misturada e chegar ao perfil
desejado para a madeira plástica. Isso mostra a importância de se entender tecnicamente da
reciclagem de plástico e que a sobrevivência das plantas depende desse conhecimento. Em
Souza (1995) tem-se que “ ... Muitos empreendimentos não vão além dos seis meses de vida.
Pecam pela inexperiência, pela falta de capital de giro e por não se estruturarem
tecnologicamente para oferecer um produto final padronizado, com qualidade, e livre de
impurezas, .... Para entrar e ser bem sucedido são necessários alguns atributos. O mais
importante é entender tecnicamente de plástico. ... ” .
Além de empresas, foram visitadas também duas Instituições de ensino na área de
ciência dos materiais na tentativa de localizar alguma instituição que já fizesse trabalhos
educacionais nesta área, além do tecnológico, sendo abordado em uma delas o problema da
auto sustentabilidade financeira da reciclagem. Sabe-se que é preciso desonerar a reciclagem
de plástico e que as questões econômicas pesam para o setor, segundo Furtado (1996), o
plástico é o único reciclável taxado e o setor aguarda ações do Estado através de apoios que
eliminem a carga tributária sofrida pelo material e que para o setor crescer além da
desoneração fiscal é preciso também o conhecimento de novas aplicações e tecnologias
desenvolvidas pelos estrangeiros.
Segundo Schwarz (1992), “... a condição hoje decisiva para a reciclagem se impor no
mercado interno, de acordo com os padrões do mundo desenvolvido, é o tratamento dos
resíduos sólidos urbanos. Mantemos aqui um sistema com um século de defasagem, e por
causa dele, o plástico acaba em aterros sanitários na melhor das hipóteses. Em regra, porém,
seu destino é o dos lixões poluentes. Neles o plástico figura como refugo mais visível entre as
matérias-primas de embalagens (o principal produto à mostra). Mais uma vez, acaba com sua
imagem arranhada de forma injusta, ... Para reverter o quadro se impõe uma listagem de
medidas como o exercício da cidadania pelo contribuinte consumidor de plástico e, lógico, a
administração melhorada dos resíduos sólidos urbanos. Feito isso, a chegada a padrões
aceitáveis de qualidade e escala dos reciclados será uma decorrência natural. ..”.
A proposta de solução para o destino do lixo plástico contempla a aquisição de uma
planta piloto para reciclagem mecânica em pequena escala, o que atende aos interesses da
EEA / UEFS no que diz respeito ao reaproveitamento do material, planta esta que poderá
também ser usada como instrumento de pesquisa.
O funcionamento da planta piloto requererá um aumento na oferta de matéria-prima.
Para tal, será feita uma campanha de estímulo à coleta seletiva nas residências dos alunos,
professores e funcionários da UEFS. Como o plástico usado será pós-consumo, irá requerer
uma lavagem, devendo ser feita também uma campanha de sensibilização com a comunidade
universitária para que o material seja separado e lavado na fonte de geração do resíduo.
Dessa forma, se espera conseguir não só o acréscimo em quantidade mas também ter um
material de qualidade assegurada e que a planta possa ter uma quantidade de matéria–prima
constante.
O material adquirido, no entanto, poderá seguir dois caminhos: a reciclagem ou a
reutilização sanitariamente correta, a depender da necessidade. Quando o material for
destinado a reciclagem, será moído, acondicionado em baias para posterior reciclagem. O
grão reciclado, por sua vez, poderá ser vendido ou transformado em produtos utilizáveis pela
Universidade, o que poderá requerer a aquisição de uma planta de injeção para transformação
dos grãos reciclados. Parcerias com grupos de pesquisa que possam viabilizar sua utilização
para outros fins (como a construção civil, por exemplo) também poderão ser usadas. Segundo
Oliveira (1997), “O plástico é o único material reciclado que dificilmente volta a sua destinação
original. A lata volta a ser lata, o vidro a ser garrafa, mas uma embalagem de plástico
dificilmente volta a ser embalagem... o ciclo da reciclagem do plástico é curto. Ele perde suas
características e em apenas três reaproveitamentos já não vale mais a pena reutiliza-lo pela
grande quantidade de matéria-prima virgem que terá de ser adicionada para que se mantenha
resistência e a elasticidade... ”.
A realização de oficinas de sucata incentiva a reutilização das embalagens e o uso da
criatividade, elementos importantes na descoberta de novos usos para materiais que se
destinam ao lixo quando ainda podem servir para novos fins. Existe também o interesse de
sensibilizar as pessoas para o uso / reuso dos materiais recicláveis, que já tendo “cumprido o
seu papel” na forma atual podem vir a “desempenhar novos papéis” sob outras formas. A
transformação de embalagens em artefatos como brinquedos, enfeites de mesa, entre outros,
através de montagens simples, retornam para uso um material que iria ocupar espaço em
aterros ou em lixões.
Em Oliveira (1997) “... quando se fala de reciclagem e dos enormes benefícios que o
reaproveitamento do lixo traz ao meio ambiente, o assunto ainda parece meio abstrato e
alternativo. Mas o processo se mostra elementar quando se percebe que é dentro da casa de
cada cidadão que começa a melhoria da qualidade de vida e, mais importante, que ela
depende de cada um de nós...”.
Segundo Vidor (1996) “... O plástico pode ser usado também como combustível em
fornos e caldeiras, pois apresenta poder calorífico igual ao do gás natural ou do fuel oil ...”. A
reciclagem mecânica é mais conhecida no Brasil porém o plástico pode também ser reciclado
de duas outras formas: a reciclagem química e a energética. “... a mecânica consiste na
moagem dos resíduos para recuperar a matéria-prima, a química reaproveita os insumos e a
energética, feita pela combustão dos materiais para uso do calor liberado...” Coronado (1996).
Segundo Prestes (1997) “... a reciclagem mecânica sempre é lembrada pelo grande público
como saída para as embalagens contidas no lixo quando o assunto é a valorização ou
reutilização dos plásticos. Antes vista apenas como vantagem comercial, essa valorização
ganhou outro apelo forte: o de solução única e abençoada para nosso complexo de culpa de
ambientalistas consumidores, ciente do papel de poluidores. .... Em países onde se crê que a
tecnologia aeroespacial é a mesma que constrói um incinerador de ponta e calcula um
ecobalanço honesto, foi superada a fase romântica do ambientalismo.... a tendência é o
emprego cada vez mais intenso dos estudos de análise do ciclo de vida para aplicação correta
do gerenciamento integrado do lixo....No plano integrado, a reciclagem mecânica tem seu
papel ... combinada às modalidades energética e química...”
A partir das observações acima citadas vê-se a necessidade de pensar que a
reciclagem mecânica pode não ser a única solução e que outras possibilidades também podem
ser levadas em consideração, segundo Prestes (1997) ...”no Brasil, o jogo está apenas
começando”. Obviamente, a sustentabilidade e a preservação ambiental para as presentes e
futuras gerações devem ser os fundamentos para a escolha do melhor tratamento para o lixo
plástico.
CONCLUSÕES
Não se pode deixar de reconhecer que um destino final adequado para o plástico, não
só o da UEFS, deve ser encontrado. Pesquisas destinadas a esse fim precisam determinar o
que fazer com o material após um uso consciente do mesmo, com apoio do Estado, dos
produtores e principalmente de toda a população. Segundo Furtado (1996) “ ... Na Alemanha,
as empresas pagam 700 marcos por tonelada de material plástico aos recicladores. Isso
porque por lei são responsabilizadas pelo fim de seus produtos. ...” . ,Segundo Vidor (1996),
“.... Sabe-se também que o plástico embala hoje 78% dos itens da cesta básica consumida
pelos brasileiros, e representam menos de 2% do custo médio das mercadorias. Além disso,
têm a vantagem do peso. Um caminhão carregado de água mineral engarrafada está na
verdade transportando 57% de água propriamente dita; os demais 43% correspondem ao
peso do vidro. Se as garrafas forem de plástico, a água passa a corresponder a 93% do peso.
Se todo o plástico fosse trocado por outros materiais, o volume de lixo recolhido se multiplicaria
por quatro nas grandes cidades, duplicando o custo da coleta...".
É necessário que as Instituições, como as Universidade, intervenham no processo de
reciclagem de plástico, pois nelas existem profissionais que podem assessorar aqueles que
sobrevivem dessa prática de reaproveitamento de materiais e podem orientar as comunidades
para um uso consciente do material, passando as informações com conhecimento de causa,
didática, perseverança e paciência, qualidades essas de grande valia quando se precisa
modificar costumes já arraigados na vida das pessoas.
Precisa-se também de uma legislação que dê responsabilidades a quem produz,
transforma, usa o material transformado (quem embala seus produtos e quem usa o produto
embalado em plástico), incentive quem recicla, apoie quem educa para um uso melhor e
preocupe-se com o meio ambiente, buscando uma reciclagem auto-sustentável e a melhoria
da qualidade de vida.
RECOMENDAÇÕES
Buscar parceria com prefeituras municipais no sentido de se ter plantas de reciclagem,
gerando empregos, recolocando o plástico no mercado, divulgando os conceitos da Educação
Ambiental e colocando as comunidades envolvidas em contato com a problemática dos
resíduos plásticos.
Desenvolver pesquisas com vistas a identificação da melhor forma de reciclagem
(mecânica, química ou energética) para a região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Moderno, ago 1996, p26-33
o
COSTA, Vera R., Tecnologia, Ciência Hoje, N 107 V 18 mar 1995 p10-15
FURTADO, Marcelo R., Aplicações Novas Prometem Dobrar o Uso de Reciclados, Plástico
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OLIVEIRA, Thais de, Lamarco, Virgínia e Avanzi, Silvia. Reciclagem, Claúdia, mai 1997, p 814.
PRESTES, Eduardo. O Segundo Tempo da Reciclagem Mecânica, Plásticos em Revista, set
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SOUZA, Lázaro E. de. Recicladoras de Plástico, Pequenas Empresas Grandes Negócios, ago
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SCHWARZ, Liviu. Uma Cobertura a Ser Descoberta, Plástico em Revista, set 1992, p50.
USBERCO, J. e Salvador, E. , Polímeros – Poluição e Lixo, Química Orgânica, V 3 ed.
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454 – 459.
VIDOR, George, Eco-lógicas, O Globo, mai 1996.
WIEBECK, H. Reciclagem de Plástico e suas Aplicações. In: Congresso Brasileiro de Química
XXXV, Set. 1995.
1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
1
2
3
4
5
6
Em kg
Polipropileno
Polietileno
Cloreto de Polivinila
Fiigura 01 - Caracterização do Plástico Comercial
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Poliestireno
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Filmes
Figura 02 - Caracterização do Plástico Aterro
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