TEMPESTADES SEVERAS SOBRE O RIO DE JANEIRO: TENDÊNCIAS DOS ÚLTIMOS ANOS, CLIMATOLOGIA E ESTUDO DE CASO Rodrigo Carvalho de Sousa, Fabricio Polifke da Silva, Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro /IGEO/ Departamento de Meteorologia, Rio de Janeiro – RJ ([email protected], [email protected], [email protected]) RESUMO: Este trabalho mostra uma análise das tendências climáticas dos índices de instabilidade K e CK, da climatologia do índice K sobre a região Sudeste utilizando os dados das reanálises do NCEP/NCAR no período de 1980-2009 e o estudo de um caso de Tempestade Severa ocorrido sobre o Estado do Rio de Janeiro no dia 12/01/2011 em comparação com os resultados obtidos a partir das tendências e da climatologia verificadas para estes índices. ABSTRACT: This paper shows an analysis of climate trends of the indices of instability K and CK of the index climatology K over the Southeast region using reanalysis data from NCEP / NCAR for the period 1980-2009 and a case study of a severe storm occurred on the state of Rio de Janeiro on 12/01/2011 in comparison with the results obtained from the observed climatology and trends for these indices. Palavras-chave: Tempestades severas, Tendências climatológicas, índices K e CK. INTRODUÇÃO Os sistemas convectivos associados a tempestades severas são responsáveis por enchentes, deslizamentos de encostas, alagamentos e, muitas vezes, até perdas de vidas. Especificamente para o Município do Rio de Janeiro, região circundada por encostas e com significativas bacias hidrográficas passando por seu interior, as previsões de eventos meteorológicos severos são indispensáveis para a segurança e a manutenção da vida da população. Embora a modelagem numérica tenha aumentado a capacidade de prever tais sistemas, ainda é muito difícil a quantificação da precipitação que é uma das principais variáveis causadoras de problemas. Os modelos numéricos conseguem prever com qualidade alguns índices de instabilidade calculados a partir de variáveis básicas da atmosfera, que são indicadores muito precisos da formação e do desenvolvimento de sistemas convectivos intensos. Estudos mostram tendências significativas do aumento destes índices nos últimos anos, logo o conhecimento de limiares climatológicos que os caracterizem se torna de grande importância. O objetivo deste trabalho foi analisar a tendência dos índices K e CK, a climatologia do índice K calculados ao longo dos últimos 30 anos, anos o estabelecimento de limiares climatológicos e uma comparação destes resultados para um caso de tempestade severa ocorrido no Estado do Rio de Janeiro no dia 12 de janeiro de 2011. 2011 METODOLOGIA O índice K é definido como (GEORGE, 1960): K= (T850+Td850) – (T700-Td700) – T500 (°C) Definido pela soma das temperaturas de bulbo seco e ponto de orvalho em 850 hPa, subtraída da depressão do ponto de orvalho em 700 hPa e da temperatura de bulbo seco em 500 hPa, o índice K tende a melhor captar condições favoráveis à ocorrência de tempestades tempesta em ambientes úmidos em toda a troposfera, como é típico de ambientes tropicais (NASCIMENTO, 2005). O índice CK é definido como (LIMA, 2005): ∂u ∂v CK = K * + ∂x ∂y (°C/s) Este índice é calculado a partir do índice K e o cisalhamento horizontal do vento, sendo u e v, a componente zonal e meridional do vento, respectivamente. Quanto mais negativo for o valor resultante deste índice, mais favorável a atmosfera se encontra para o gênese de sistemas convectivos severos. No trabalho de POLIFKE POL DA SILVA et al (2011) foi feita uma avaliação das d tendências dos indicadores de tempestades tempestades severas para algumas capitais do Brasil no período de 1980-2009 para ra os meses de novembro a março. Verificou-se tendências significativas de aumento nos últimos 30 anos do índice de instabilidade K e CK para o Estado do Rio de Janeiro evidenciando que nos últimos anos atmosfera tem se tornado mais favorável ao desenvolvimento de sistemas convectivos nesta região.. A série temporal destes deste índices para o Estado do do Rio de Janeiro pode ser observada na Figura 1. (a) (b) Figura 1 – Série temporal dos Índice K (a) e CK (b) para o Estado do Rio de Janeiro (Fonte: Polifke et al. (2011)). No trabalho de ESCOBAR & ANDRADE (2010) foi realizado um estudo climatológico, no período de 1956-2006, dos índices K e TT de forma que limiares característicos pudessem ser determinados para cada região e para cada época do ano. Nas figuras 2 (a) e 2 (b) são mostradas a climatologia do índice K para verão e inverno. (a) (b) Figura 2 – Climatologia do índice K para a estação de verão (a) e inverno (b). (Fonte: Escobar e Andrade (2010)) Segundo ESCOBAR e ANDRADE (2010) a análise climatológica deste índice ao longo do ano permite observar uma clara variação sazonal devido à forte dependência que tem este índice com a temperatura e umidade do ar, pois este índice leva informação da temperatura em 850, 700 e 500 hPa e da temperatura de ponto de orvalho em 850 e 700 hPa. Observa-se pela figura 2(a) que, para o estado do Rio de Janeiro, a estação de verão, K toma um valor em torno de 28°C, mostrando maiores valores quando comparado com a estação de inverno, em torno de 16°C. Acredita-se que isso se deva ao fato do maior aquecimento pela radiação solar que ocorre na estação de verão e a forte dependência da temperatura no balanço de energia. O que evidencia que uma análise mais crítica do índice K para a estação de verão se torna de grande utilidade como medida de projeções futuras. RESULTADOS Com o objetivo de caracterizar limiares deste índice que possam servir de auxílio para uma análise de sistemas de caráter extremo sobre o Estado do Rio de Janeiro, cálculos de parâmetros estatísticos foram realizados e os resultados podem ser verificados na tabela 1. Tabela 1 – Limiares para tempestades severas para o Estado do Rio de Janeiro K Máximo Mínimo Mediana Média Primeiro Quartil Terceiro Quartil CK 40,55 5,05 27,05 26,31 21,68 31,35 322,92 -657,03 -75,84 0,00 -160,46 3,72 Pode-se observar na Tabela 1 que a média correspondente ao índice K mostrou valores correspondentes ao encontrados pela climatologia para este índice feita por ESCOBAR e ANDRADE (2010). Altos valores positivos de K e altos valores negativos de CK são favoráveis a tempestades severas, logo se verifica através da Tabela 1 que a probabilidade da ocorrência de tempestades severas no Rio de Janeiro é maior quando valores de K estiverem acima do terceiro quartil (acima de 40, 55°C) e quando os valores de CK estiverem abaixo do primeiro quartil (abaixo de -160 °C/s). Sendo assim, uma análise dos índices K e CK para um caso de tempestade severa ocorrido no Estado do Rio de Janeiro no dia 12/01/2011 foi feito em comparação com os resultados dos limiares obtidos no período de 1980-2009 mostrados na Tabela 1. (a) (b) Figuras 3 – Índice K (a) e índice CK (b) para o caso de tempestade severa ocorrida em 12 de janeiro de 2011 no Estado do Rio de Janeiro. CONCLUSÕES Acredita-se que o aumento dos índices K e CK encontrados por POLIFKE DA SILVA et al. (2011) ocorram devido ao aumento rápido da temperatura global nos baixos níveis que tem sido observado ao longo dos últimos anos. Logo, estudos que caracterizem limiares para tempestades severas a partir de dados nos últimos anos como os que foram encontrados na Tabela 1 são de suma importância. Nesta tabela puderam ser encontrados limiares estatísticos para os índices K e CK que caracterizam valores considerados próprios destes índices para tempestades severas. Para uma análise desta tabela, foi feito um estudo de caso de tempestade severa ocorrida no Estado do Rio de Janeiro e verificou-se que para índice K apresentou valores na faixa estabelecida pelo limiar para eventos extremos, em torno de 40°C; (Figura 3 (a)) e para o índice CK apresentou também valores característicos, em torno de -500°C/s (Figura 3(b)), sendo então bem representativos para um caso de tempestade severa como a ocorrida no dia 12/01/2011. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESCOBAR, G.; ANDRADE, K., : Climatologia dos índices K e Total Totals (TT) para o Sul e Sudeste do Brasil. In Anais do XVI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Bélem – Pará. GEORGE, J. J. Weather Forecasting for Aeronautics. Academic Press, 673 pp.,1960. LIMA, D. R. O., 2005: “Diagnóstico de chuvas e previsão meteorológica para a bacia hidrográfica do rio Manso”. Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, RJ, Brasil. NASCIMENTO, E. L., 2005: “Previsão de tempestades severas utilizando-se parâmetros convectivos e modelos de mesoescala: uma estratégia operacional adotável no Brasil?”. Revista Brasileira de Meteorologia, vol. 20 (1), p. 121-140. POLIFKE DA SILVA, F.; JUSTI DA SILVA, M. G. A., e PANISSET, J. S.: Tempestades sobre as regiões Sul e Sudeste do Brasil: Avaliação das Tendeências dos últimos anos in IV Conferência Regional sobre Mudanças Globais, São Paulo – São Paulo (2011).