REVISTA SEMESTRAL - JUlHO 2014 - ANO 10 - nº 23
IMPRESSO FECHADO
PODE SER ABERTO PELA ECT
Comunidade Missionária de Villaregia
Ao lado
dos últimos
sumário
03
04
Editorial
06
13
14
16
18
Ao vivo da missão
19
Notícias
23
Agenda
Ao lado dos últimos
As palavras do papa
Os dois santos papas
que contemplaram
as chagas de Jesus!
Mulheres atrás das grades
Projetos de solidariedade
Formação escolar e cristã em Maputo
Na escuta da Palavra
Foi a mim que o fizestes!
Partilhar a fé
“Sinto todos como meus irmãos”
Vida espiritual
São Francisco
e o encontro com o leproso
· Congresso missionário
· Em Maputo, nasce a Fraternidade de
Misericórdia!
· O Evangelho chega à praia
· Disseram sim a Deus
· Chegadas e partidas
Na capa: uma mulher peruana
Pedido de Missas
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Em todas as sedes da CMV, a cada dia,
celebramos a Santa Missa, na qual apresentamos
ao Senhor as intenções de oração que amigos
e benfeitores nos confiam. Se você quiser, pode
fazer um gesto de fé e nos enviar suas intenções:
- como sufrágio por um ente querido;
- por uma intenção pessoal ou de sua família;
- para a celebração de 30 Missas gregorianas.
Sua oferta será uma ajuda concreta para os
missionários e para os irmãos de todas as
missões da CMV. Uma forma de participar da
missão da Igreja, de partilhar o que temos e
somos com quem está precisando de nossa
ajuda.
Entre em contato conosco para mais
informações, nos endereços da contra-capa.
Revista informativa semestral
da Comunidade Missionária
de Villaregia
Direção e Redação: Comunidade Missionária de Villaregia
| Rua Canoas 461, bairro Betânia - CEP 30.580-040 - Belo
Horizonte | MG | Brasil | Telefax: 31 3383 1545 | E-mail:
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Responsável: Ana Paula de Oliveira Soares Pansanato | MG
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O Lutador | 31 3439 8000 | Tiragem: 20.000 exemplares |
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Todos os direitos reservados. Os artigos desta revista podem
ser reproduzidos, desde que sejam citados a fonte e o autor, e
enviada cópia à Redação. Fotos: só com autorização escrita da
Redação.
Colaboração
editorial
Ao lado
dos
últimos
Escolher se colocar
ao lado dos últimos
é se tornar sinal
da proximidade de
Cristo para com quem
sofre situações de
marginalização e
precisa de esperança.
O
homem
vive
dividido:
sabe onde está o bem e,
frequentemente, escolhe o mal; fala
em liberdade e acaba construindo
para si mesmo prisões de rancor e
solidão; deseja a justiça para si, mas
discrimina os outros...
Nem quem crê foge disso! Quantas
vezes já ouvimos dizer que Deus
ama os últimos, os mais pobres, os
marginalizados, os esquecidos por
todos! Mesmo assim, sempre temos
que nos esforçar muito para ver no
olhar apagado do pobre, que nos
pede esmola, o rosto de um amigo.
Que luta interior para ir além daquele semblante e reconhecê-lo como
irmão, imagem do mesmo Jesus!
Frequentemente, não prevalece a
compaixão, mas o medo, a suspeita
ou, pior, a indiferença.
O Evangelho não gasta muitas palavras para nos dizer que Jesus habita
ali mesmo. Atrás das chagas do doente incurável, na raiva da derrota do
preso, na solidão do idoso esquecido
em um asilo. Recordou-o com muita
delicadeza o papa Francisco, falando
aos capelães dos presídios, quando
sublinhou que nenhuma cela é tão
isolada para excluir o Senhor; que
Deus não fica fora das cadeias e o
seu amor materno e paterno chega
em todo lugar, até na cela super lotada, até entre os assassinos que se
encontram em regime de segurança
máxima. A sua presença não exclui o
nosso compromisso, pelo contrário,
torna-o mais urgente ainda, lembrando-nos o dever de tornar o sistema
carcerário mais eficiente, o aparato
penitenciário mais humano. Porque
atrás das grades não estão pessoas
de série B, mas homens e mulheres
animados pela mesma esperança das
pessoas comuns, pelo mesmo desejo
de felicidade, pelo mesmo espírito de
liberdade.
Por fin, como ainda lembrou o papa
Bergoglio, no lugar deles podia estar
qualquer um de nós, porque as fraquezas pertencem a todos e, se nós
não caímos, é porque tivemos mestres
sábios, famílias capazes de nos fazer
crescer, mães que rezaram por nós,
amigos confiáveis com os quais conversamos.
Não é suficiente, então, querer a punição do culpado e seu arrependimento. É preciso acompanhá-lo no
caminho de libertação, oferecer-lhe a
oportunidade do retorno, braços nos
quais se agarrar, ombros para chorar.
É mesmo da nossa fé, que nos faz
reconhecer no presidiário o rosto
sofrido do Cristo, que chega o convite à proximidade, à compreensão,
à oração. Mesmo a nossa identidade
cristã solicita-nos a visitar aqueles
lugares de sofrimento que são as
prisões, para aprender a difícil arte
do perdão, o amor para com quem
parece não merecê-lo, a força para se
doar a quem às vezes não sente nem
a obrigação de agradecer. Os mesmos
defeitos, as mesmas misérias, que
percorrem a vida de quem está fora,
frequentemente refém de uma estéril
auto-suficiência, incapaz de deixar-se
amar, pouco ou nada disposto a agradecer e muito mais disposto a fazer
condenações sem sair do seu lugar
de respeitabilidade.
Na realidade, aprender a olhar com
benevolência quem está na prisão,
chorar, trabalhar com eles é também
um modo para sair das nossas prisões
pessoais, para nos libertar das grades
que construímos para nós mesmos,
dia após dia. Uma prisão interior que
se chama egoísmo, sede de poder, é
a incapacidade de sofrer com o mais
pobre e fraco.
A chave para sair disso encontra-se
no caminho íngreme e estreito da
humildade, na força da escuta, na
disponibilidade de se colocar no último lugar da fila. Quem caminha assim tem mais tempo para levantar os
olhos para o céu, para experimentar
o amor de Deus e sua misericórdia,
única força que liberta, janela que
doa um ar novo, luz que fica acesa
também na noite mais escura, vivida
na escuridão da cela!
3
Sabrina Fusco
as palavras do papa
N
4
o centro deste domingo, que
encerra a Oitava de Páscoa e
que João Paulo II quis dedicar à Divina Misericórdia, encontramos as
chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.
Já as mostrara quando apareceu
pela primeira vez aos Apóstolos, ao
anoitecer do dia depois do sábado,
o dia da Ressurreição. Mas, naquela
noite, Tomé não estava; e quando
os outros lhe disseram que tinham
visto o Senhor, respondeu que, se
não visse e tocasse aquelas feridas,
não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos
discípulos, no Cenáculo, e Tomé também estava presente; dirigindo-Se a
ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero,
aquele homem habituado a verificar
tudo pessoalmente, ajoelhou-se
diante de Jesus e disse: “Meu Senhor
e meu Deus!” (Jo 20, 28).
Se as chagas de Jesus podem ser
escândalo para a fé, são também a
confirmação da fé. Por isso, no corpo
de Cristo ressuscitado, as chagas não
Os dois santos papas
que contemplaram
as chagas de Jesus!
desaparecem, continuam, porque
aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus:
não para crer que Deus existe, mas
sim que Deus é amor, misericórdia,
fidelidade. Ao citar Isaías, São Pedro
escreve aos cristãos: “pelas suas chagas, fostes curados” (1 Pd 2, 24; cf. Is
53, 5).
São João XXIII e São João Paulo II
tiveram a coragem de contemplar as
feridas de Jesus, tocar as suas mãos
chagadas e o seu lado transpassado.
Não tiveram vergonha da carne de
Cristo, não se escandalizaram com
Ele, com a sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7),
porque em cada pessoa atribulada
viam Jesus. Foram dois homens cora-
Sabrina Fusco
josos, cheios da parresia do Espírito
Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à
Igreja e ao mundo.
Foram sacerdotes, bispos e papas
do século XX. Conheceram as suas
fraquezas, mas não foram vencidos
por elas. Mais forte, neles, era Deus;
mais forte era a fé em Jesus Cristo,
Redentor do homem e Senhor da
história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta
nestas cinco chagas; mais forte era a
proximidade materna de Maria.
Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava “uma esperança viva”, juntamente
com “uma alegria indescritível e irradiante” (1 Pd 1, 3.8). A esperança e
a alegria que Cristo ressuscitado dá
aos seus discípulos, e de que nada
e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas
pelo crisol do despojamento, do ani-
quilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à
náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria
que os dois santos Papas receberam
como dom do Senhor ressuscitado,
tendo-as, por sua vez, doado em
abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, como
nos falam os Atos dos Apóstolos (cf.
2, 42-47). É uma comunidade onde
se vive o essencial do Evangelho, isto
é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.
E esta é a imagem de Igreja que
o Concílio Vaticano II teve diante
de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para
restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a
fisionomia que lhe deram os santos
ao longo dos séculos. Não esqueça-
A assembleia que participou da canonização dos dois papas, durante alguns momentos da celebração.
mos que são precisamente os santos
que levam avante e fazem crescer a
Igreja. Na convocação do Concílio,
João XXIII demonstrou uma delicada
docilidade ao Espírito Santo, deixou-se
conduzir e foi para a Igreja um pastor,
um guia-guiado. Este foi o seu grande
serviço à Igreja; foi o papa da docilidade ao Espírito.
Neste serviço ao Povo de Deus,
João Paulo II foi o papa da família.
Ele mesmo disse uma vez que assim
gostaria de ser lembrado: como o
papa da família. Apraz-me sublinhálo no momento em que estamos a
viver um caminho sinodal sobre a
família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acom-
panha e sustenta do Céu.
Que estes dois novos santos Pastores do Povo de Deus intercedam
pela Igreja, para que, durante estes
dois anos de caminho sinodal, seja
dócil ao Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos com
as chagas de Cristo, a penetrarmos
no mistério da misericórdia divina
que sempre espera, sempre perdoa,
porque sempre ama.
Homilia do Santo Padre Francisco
Canonização dos Santo Papa João
Paulo II e Santo Papa João XXIII, 27
de abril de 2014
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ao vivo da missão
lima - peru
Em Lima, no bairro Chorrillos, localiza-se o presídio feminino Anexo
Chorrillos. Criado em abril de 1992,
para ser prisão de segurança máxima, hoje, a estrutura acolhe também presidiárias que cometeram
delitos comuns.
A sua capacidade máxima é de 288
detentas, mas atualmente são
310.
Além das mulheres, há também
seus filhos, aos quais, por lei, é
permitido ficar com a mãe até
completar três anos de idade. Depois, são confiados aos familiares
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da mulher ou a amigos e, na pior
das hipóteses, aos orfanatos.
Mesmo se uma parte do pessoal da
guarda interna é do sexo feminino, o quadro de funcionários que
trabalham dentro deste presídio
é composto, sobretudo, por homens.
O cárcere está dividido em três
áreas, cada uma destinada a uma
categoria diferente de detentas: a
área A é reservada às condenadas
por crimes políticos, a B às presas
para crimes comuns; por fim, a
área C, considerada de segurança
Mulheres
atrás das grades
máxima, é destinada às reclusas
por crimes graves.
Recebemos a permissão para visitar a área B, para encontrar algumas mulheres, muitas das quais
ainda jovens.
Visitar esses lugares, que antes de
tudo são prisões de dor humana,
é uma oportunidade para escutar suas tristes histórias, cheias
de lágrimas e sofrimentos inimagináveis. É a experiência de proximidade com mulheres frequentemente esquecidas pela sociedade
que, mesmo dentro das celas escu-
ras e super lotadas de uma prisão,
em condições humanamente impossíveis, nutrem sonhos e esperanças de uma vida nova.
Conhecemos pessoas que, mesmo
aqui, começaram uma caminhada
de fé, sustentadas pela proximidade de alguém que, com caridade, soube fazer penetrar, também
entre as grades, a luz da Palavra
de Deus e um pouco de conforto
humano.
Nas páginas que seguem, partilhamos este encontro e algumas
de suas histórias.
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E
ram três da tarde quando
chegamos a Chorrillos, bairro de Lima, em que se encontra o
presídio feminino. Conseguimos
uma permissão especial para entrar
na penitenciária e encontrar algumas presas, que desejam um diálogo
espiritual.
Estacionamos na parte externa
da grande estrutura, circundada por
altos arames farpados. Quando batemos à porta de ferro, responderamnos através de uma pequena janela,
pedindo que nos identificássemos.
Algumas horas
em Chorrillos!
Um mundo escondido atrás
das grades:
mulheres que cumprem
pena, mas sem renunciar
ao sonho de uma vida nova
e livre.
A entrada…
Além do portão, encontramo-nos
dentro de uma espécie de recepção,
onde fomos esperados por dois policiais para os controles preliminares.
Eles nos pediram que exibíssimos
nossa permissão de visita e as identidades. Depois disso, assinamos um
livro de registro, em que especificamos também o nome da Associação
à qual pertencemos e o horário de
entrada.
Ao lado dos nossos nomes, estão
registrados também os das detentas
que pretendemos encontrar e o tipo
de relação que nos une a elas. Colocam-nos um carimbo no braço, tiram
uma foto e nos pedem para depositar as chaves e o celular, que serão
devolvidos na saída. Cada objeto levado para dentro é vistoriado com
muito cuidado; as embalagens dos
alimentos são abertas e controladas.
As nossas bolsas também são passadas pelo detector de metais. São
medidas de segurança máxima, obrigatórias, para permitir a visita!
O grande pátio...
Uma vez passados pelo portão,
encontramo-nos no pátio, uma grande área interna, cercada por altos
muros com arame farpado.
É o espaço da prisão em que
acontece a maior parte da vida.
Uma boa parte é ocupada por fios
em que se pendura a roupa íntima.
Também há grandes pias comuns,
em que as presas lavam suas roupas e a louça. Espalhadas no local,
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A vida é dura. As presas devem
providenciar tudo: desde o material
para a higiene pessoal, até para a
limpeza, os lençóis e os cobertores.
Os alimentos oferecidos pelo
presídio são insuficientes e se limitam ao café da manhã e ao almoço.
As moças completam com fruta e
verdura, adquiridas com o dinheiro que ganham da família, quando
há condições, ou prestando alguns
serviços dentro do presídio − como
lavar roupa, limpar as celas ou os
banheiros, cozinhar − ou ainda, recebido graças à solidariedade de pessoas que conheceram sua situação
e decidiram ajudar.
As celas...
vemos algumas mesas e cadeiras,
cujo número não é suficiente para
as 150 detentas dessa área B, com
capacidade de apenas 100 vagas!
Não existe um refeitório e até as
refeições são feitas nesse pátio, pelas poucas sortudas que conseguem
ocupar uma mesa ou uma cadeira.
As outras devem se contentar com
os corredores das celas, onde quem
conseguiu comprou para si uma cadeira ou uma pequena mesa pessoal
para apoiar suas coisas.
Também o acesso à área das celas
é antecipado por um controle imediato e somente depois o carcereiro abre o cadeado do portão para
deixar-nos entrar. Encontramo-nos
em um corredor comprido onde
estão três telefones públicos e um
banco para sentar. É aqui que as
presas sentam à espera de seu turno
para ligar para os familiares. As filas
são sempre compridas.
Em cada andar, em um dos lados,
encontra-se uma fileira de celas que
ficam de frente para um corredor
detentas devem encontrar um jeito
para providenciar o dinheiro.
A frequencia nos laboratórios é
importante porque permite adquirir a
habilidade manual para fazer pequenos objetos de artesanato. O trabalho
começa às 8h da manhã e termina às
17h. Graças à ajuda de associações humanitárias que prestam serviço dentro
da prisão, estas mulheres podem receber as matérias primas e encontrar os
canais para a venda das suas caixinhas,
brincos, colares, cadernos, objetos diversos.Com o lucro da venda, muitas
delas consegue tornar-se autônomas.
estreito do qual, através de pequenas janelas, é possível ver a área interna.
Nas celas, de seis metros quadrados, há um beliche, uma pequena
pia e um banheiro turco. As pessoas
lavam o rosto e o corpo, ou a roupa,
em pé, no banheiro turco, apenas
com a água fria que sai da torneira.
Para tomar uma espécie de banho
ou enxaguar os cabelos, enche-se
um balde de água que é jogado em
cima do próprio corpo.
A cama é o único espaço à disposição para guardar os pertences pessoais. Não há cadeira, nem um criado
mudo... Algumas montam, ao redor
de sua cama, uma espécie de cortina,
com lençóis ou panos, como se quisessem ganhar um pouco de privacidade.
Nas paredes das celas, estão penduradas ou coladas muitas coisas
que dão cor e expressam os afetos:
pequenos presentes recebidos dos
amigos, os cartões postais, as fotos,
as estrelas coloridas.
Os laboratórios...
É permitido visitar também a área
dos laboratórios, em que acontecem
vários cursos: costura, artesanato,
arte, alfabetização e ensino fundamental, pois a maior parte das presas
não possui uma formação escolar.
Acontece que também esses cursos são pagos e, para se inscrever, as
Na página ao lado, algumas mulheres de Chorrillos enquanto trabalham em um dos
laboratórios da prisão.
Em cima, uma presa sorri feliz no dia do seu casamento. Em baixo, laboratório de
artesanato.
As visitas…
O sábado é o dia dedicado às
visitas masculinas. O dia em que
dezenas de homens ficam na fila
diante da porta para se encontrarem com estas mulheres. Alguns
são pais, outros maridos, outros
apenas companheiros ou namorados. Encontram-se no grande pátio
e trocam notícias. Apenas algumas
delas têm permissão especial para
uma visita íntima.
Alguns maridos são heróis por
esperar que sua mulher cumpra a
pena, e fielmente estão presentes a
esse compromisso semanal. Outros,
com o passar do tempo, se cansam
e acabam com toda ligação. Mas há
também quem, mesmo permanecendo na cadeia, chega a casar-se.
A presa que tem família é favorecida, pois pode receber também
suporte material; mas há muitas,
geralmente estrangeiras, que não
têm ninguém, porque a família está
longe.
“Eu, os meus filhos e também os
sobrinhos estamos sempre próximos dela − confia-nos a mãe de uma
presa. Minha filha precisa sempre de
nós. Há um ano e meio está à espera
de um processo por um crime que
não cometeu, mas o sistema judiciário é lento, os advogados atrasam
e nós não temos dinheiro para pagar”. “Ela precisa de coisas materiais,
− acrescenta uma das irmãs − mas,
sobretudo, precisa do nosso apoio. Às
vezes, não temos nem o dinheiro do
ônibus para chegar até aqui, porém,
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de uma forma ou de outra, tentamos
não faltar à visita. Fazemos isso com
muito sacrifício, mas não podemos
abandoná-la! E com uma lágrima
que corre pelo rosto prossegue: se
tivéssemos dinheiro, conseguiríamos que ela voltasse à liberdade!
Fátima era a alegria da nossa família.
Aqui também todas gostam dela
porque é sempre disponível e pronta
para ajudar quem precisa!”.
… e, apesar de tudo sorriem
A assistência médica é bastante
escassa. Tem-se o direito a uma consulta por semana, mas há carência
de materiais e remédios. A consulta
ginecológica é efetuada eventualmente ou quando solicitada. Se
for necessária a consulta no hospital, a espera pode se de dois a três
meses, até que a ambulância esteja
disponível!
Nestas condições de limitações
variadas é fácil se dar conta que
também a convivência entre as presas não é tão simples. Mas quando
se entra no presídio e se está no
meio delas, a primeira impressão é
de estar em um grupo de amigas.
Senta-se, toma-se o chá que alguma delas preparou, conversa-se,
partilha-se. Surge sua cordialidade,
seu calor humano e, sobretudo, a
forte necessidade de falar e de ser
escutadas.
Essa partilha da intimidade é um
dom impagável! Os sentimentos
nem sempre encontram as palavras
para se expressar e, às vezes, a comunicação é feita à troca de olhares ou
às mãos fechadas.
Todas sabiam que somos missionárias, então, algumas pediram
um diálogo pessoal. Este é o momento mais sagrado, aquele em que se
entra nos seus dramas. Caem máscara e preconceitos, encontramo-nos
diante de mulheres que têm o coração quebrado, geralmente vítimas
de uma história familiar atroz e de
situações de dificuldade econômica
e relacional, que abriram o caminho
para o crime. Mas, apesar de tudo,
estas mulheres são extraordinárias e
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sorriem para a vida. Em condições de
reclusão, tendo limites na liberdade
e nos espaços, de higiene e de saúde,
conseguem transmitir uma dignidade e uma força absolutamente impensáveis. Todas guardam o sentido
dos direitos, sensibilidade e doçura
No Peru, há 68 presídios.
As penitenciárias tên
capacidade máxima
de 31.020 detentos.
Atualmente, o número
dos detentos é de,
aproximadamente,
67.299.
De julho de 2011 até
outubro de 2013, houve
um acréscimo de 38% da
população penal.
Verifica-se uma
superlotação das
estruturas carcerárias
igual a 117%.
As mulheres–
mães dentro das
penitenciárias são 184
com 187 filhos, dos quais
101 são meninos e 86
meninas.
(Fonte: INPE, Instituto
Nacional Penitenciário
peruano)
verdadeiramente altos. Nenhuma
está desesperada.
De suas palavras transparece
a esperança de poder contar com
o futuro e a consciência de que é
possível um relacionamento com
o mundo externo, contando com
as visitas que chegam de fora, mas
também com sua capacidade de
fazer chegar ao externo, de várias
formas, sua própria voz.
A partida...
Quando chegou a hora de ir embora, o coração aperta ao pensar
que quem está visitando sairá, ao
invés, elas ficam lá. Gostaríamos de
ter mais tempo para conversar mais
um pouco, para compreender melhor
e, sobretudo, aliviar, ao menos com
a escuta e a proximidade, aquela
aflição.
O pátio é fechado às 18h, as celas individuais, às 21h. O cadeado é
enorme e o barulho da chave que
o fecha separa-nos definitivamente
daquele mundo. Partimos com a clara consciência de que também quem
errou tem direito a novas oportunidades para se recuperar. Precisa encontrar esperança, portas abertas,
horizontes escancarados sobre o
amanhã.
Às 22h apaga-se a luz até às cinco
ou seis da manhã seguinte, quando
reabrem as celas e o dia recomeça.
Cada dia que passa é, porém, um
dom para quem está aqui, porque
sabe que deu um passo à frente
rumo à liberdade tão sonhada!
Fàtima, 37 anos, presa
há um ano e meio, está à
espera da sentença.
Fátima aguarda com ansiedade
o processo, mas ainda nada. Por que
ela está na cadeia?
Tinha um filho de quatro anos,
Marco, nascido da união com um homem que a deixou. Depois da separação, foi morar com seus pais. Três
meses depois, voltou a viver com o
antigo companheiro, quando aconteceu o desastre.
Um dia, Marco estava passando
mal e de sua pequena cama continuava a se queixar. Fátima afastou-se
de casa para comprar-lhe um suco de
fruta, mas quando voltou encontrou
o filho sem vida. Seu companheiro
tinha fugido depois de tê-lo matado
a chutes, porque estava cansado de
escutá-lo chorar.
A polícia conseguiu achá-lo e
prendê-lo, mas prendeu também
Fátima com a acusação de cumplicidade! Uma mulher destruída, angustiada não somente porque está
cumprindo uma pena que não é
dela, mas, sobretudo, porque, depois
de ter perdido seu filho, não pôde
nem sepultá-lo, nem chorar sobre
seu túmulo.
Qual foi o seu erro? Confiar no
homem que amava.
História das detentas…
Muitas mulheres que
cumprem pena nesse
presídio são pessoas
induzidas ao crime por
dificuldades familiares.
Conscientes dos erros
cometidos, algumas
partilham seu drama de
mulheres e de mães.
Na penitenciária de
Chorrillos há 17 mulheres
grávidas e 59 mães.
As crianças que estão
no cárcere com as mães
até alcançar o terceiro
ano de idade são depois
entregues aos familiares
ou aos orfanatos.
(Fonte: INPE, Instituto
Nacional Penitenciário
peruano)
Camila, 25 anos, deve
cumprir 15 por homicídio.
Ja faz mais de um ano desde que
chegou aqui. Seu crime é grave, mas
foi o desespero a guiá-la Seu companheiro batia nela até sangrar, até
que resolveu deixá-lo. Ele porém,
não aceitou a decisão de Camila e
continuou a atormentá-la, seguindoa e ameaçando-a.
No seu limite, Camila decidiu tirar
a própria vida. Fez isso tomando um
veneno para ratos, que deu também
às suas crianças, porque não queria
ir embora deste mundo e abandonálas com aquele homem tão violento.
Infelizmente, o menino de cinco anos
morreu. O socorro chegou a tempo
para salvar Camila e sua menina mais
nova. Agora, deve cumprir 15 anos
de prisão e sua filha foi entregue a
um orfanato, enquanto ele está em
liberdade. Camila nunca encontrou
a coragem para denunciá-lo e agora
é tarde demais para fazê-lo.
Certamente, sua vida na cadeia
é dura, mas agora não está mais
desesperada. Está trabalhando para
reencontrar confiança em si mesma
e, sobretudo, para conseguir perdoar.
Há pouco tempo, participou de um
curso sobre o perdão proposto
pela Comissão Episcopal de Ação
Social (CEAS). Isso a ajudou a tomar
consciência não apenas do mal
recebido, mas também do que fez
e, por conseguinte, da necessidade
de cumprir um caminho de
reconciliação.
Cada dia, ela luta contra seu sentimento de culpa e contra a dor de
não poder abraçar sua filha, certa de
que desta dor pode aprender algo e
recomeçar a viver!
Na página ao lado, os familiares de Fátima, que moram na periferia da capital.
Ao lado, as mulheres de Chorrillos
durante uma dinâmica de partilha sobre
suas famílias.
11
Isabel,18 anos, há seis
meses presa por narcotráfico.
Isabel provém de uma família pobre da selva peruana. Tinha 12 anos
quando uma senhora de Lima ofereceu aos seus pais a possibilidade
de assumi-la em sua casa para “fazer
um pouco de tudo”, em troca de um
salário que teria dado a eles periodicamente. Os pais, necessitados, aceitaram. Naquela casa, Isabel limpava,
cozinhava, lavava a roupa da família
sem nunca ter um dia de descanso.
Rapidamente, ela perdeu contato com a família. Depois de um
ano conseguiu falar pelo telefone
com a mãe. Foi então que descobriu
que os pais não estavam recebendo
o sálario combinado pelo seu trabalho. Chorou juntamente à mãe
e contou-lhe quanto sofria. Os pais
decidiram buscá-la e trazê-la de volta
para a casa. Mas a viagem para Lima
custou aos pais toda sua poupança
e foram obrigados a ficar na cidade,
porque não possuíam dinheiro para
regressar.
Na cidade, vendendo balas nos
ônibus ou engraxando os sapatos
dos passantes procuravam sobreviver a cada dia. Para eles, pessoas
vindas da selva, era muito difícil encontrar um trabalho digno. Depois
de um tempo, foi diagnosticado
um câncer em sua mãe. Aquilo que
Isabel ganhava não bastava para cobrir as despesas do tratamento. Mergulhada no desespero, encontrou
por um acaso uma senhora que lhe
ofereceu a possibilidade de entregar
pacotinhos. Isabel entendeu logo
que se tratava de droga, mas a vida
de sua mãe estava em jogo e não
pensou duas vezes. Depois de três
meses, surpreendida pela polícia, foi
presa. Encontra-se em Chorrillos, há
mais ou menos seis meses, à espera
do julgamento do processo.
Isabel não consegue ter paz, pensando que lá fora sua mãe está lutando contra um câncer, enquanto ela
não pode fazer nada para ajudá-la.
12
Márcia Lopes, missionária de Piraju (SP), com algumas jovens peruanas.
Milagros, 43 anos,
presa política, deve cumprir
23 anos.
Milagros está aqui desde 1994.
Primeiramente, condenada à prisão
perpétua, mas com a revisão da
pena, imputaram-lhe 23 anos. Depois de ter sido presa, também sofreu torturas e violências. Terminado
um primeiro período de isolamento
total, sem ter a possibilidade de comunicar, nem por carta, lhe foram
concedidas visitas limitadas dos familiares próximos, através da grade
da sala de visitas. Desde então, seu
pai a visita a cada 15 dias.
Mas Milagros, nos anos de detenção, nunca se rendeu, nem se
desesperou. Começou a frequentar
cursos de informática, de pintura e
de língua italiana dentro do presídio
e frequentou, os cursos à distância,
da faculdade de comunicação. Ela
escreveu em versos o drama de
centenas de detentas, conseguindo
desta forma dar voz a todas essas
mulheres.
Graças à ajuda de várias pessoas,
não muito tempo atrás, viu publicada uma coletânea de suas poesias,
que intitulou Feixes de luz. Um hino
àquela luz que, apesar de tudo, penetra entre as grades destas celas e
permite a estas mulheres seguir em
frente.
Quando recebeu uma cópia de
seu livro, segurou-o fortemente,
como se tivesse entre os braços seu
filho. “Sou feliz! – exclama com os
olhos que brilham– Algo de mim
saiu em liberdade, com esta voz que
é tão maior do que eu e de minhas
companheiras, porque o que escrevo
expressa simbolicamente aquilo que
muitas pessoas privadas da liberdade
experimentam”. Milagros está agradecida a todos os que a ajudaram
de muitas formas a diminuir a dor de
estar na prisão. E hoje, com o coração
cheio de satisfação, pode nos doar
seu sorriso, mesmo estando atrás das
grades!
Feixes de luz
Rabiscos em um crepúsculo
qualquer revelam esta história
para compreender que esta vida, a
nossa vida, não resulta agradável,
doce, harmoniosa como as histórias
inventadas porque há um sabor de
extravagância e confusão, de loucura
e sonho como a vida de todos aqueles
homens e mulheres amantes da
liberdade que continuam de pé,
apesar do erro, das derrotas e da
traição, a abrir um espaço a estes
feixes de luz”.
Poesia de Milagros, detenta de Chorrillos.
maputo - moçambique
projetos de solidariedade
FORMAÇÃO ESCOLAR E CRISTÃ
N
o índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2013,
Moçambique está entre os quatro países
do continente africano com maior taxa de
incidência de pobreza. Os níveis de escolaridade no país são mínimos, a expectativa
de vida é muito baixa e a riqueza que produz, ainda hoje, é escassa.
A situação escolar da nossa missão é
precária. Há salas com até 80 crianças,
EM MAPUTO
sentadas no chão por falta de carteiras.
Outras crianças assistem às aulas debaixo das árvores. Isso significa que, quando
chove, não há aula. Faltam livros, cadernos
e material escolar. As crianças mais pobres,
por causa dessa situação, não conseguem
acompanhar o ritmo dos professores, portanto, são reprovados mais vezes, vendo
negado um futuro melhor.
CMV implantou um programa
A
de reforço escolar para 150
crianças pobres, no horário alternativo
à escola, em quatro pontos da missão,
com a ajuda de 11 professores.
Os progressos são visíveis já depois
de poucos meses: meninos que
não sabiam ler e escrever, agora
conseguem fazer isso.
A situação de pobreza extrema
atinge também a formação cristã das
crianças da nossa missão. A maioria
delas não tem possibilidade de
comprar a Bíblia e a apostila para a
catequese e precisam de nossa ajuda
para tanto.
Colabore com o desenvolvimento escolar, humano e cristão dessas crianças!
- 1 apostila para a catequese: 5 reais
- 1 Bíblia para a catequese: 15 reais
- Kit de livros para o reforço escolar: 50 reais
Conta bancária para o projeto
“FORMAÇÃO ESCOLAR E CRISTÔ
Banco do Brasil S. A.
Conta: 20309-2
Agência: 4282-X
13
na escuta da Palavra
Foi a mim que o fizestes!
Quando o Filho do homem vier
em sua glória, acompanhado
de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso.
Todos os povos da terra serão
reunidos diante dele, e ele separará uns dos outros, como o
pastor separa as ovelhas dos
cabritos.
E colocará as ovelhas à sua
direita e os cabritos à sua
esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: “Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como
herança o reino que meu Pai
vos preparou desde a criação
do mundo! Pois eu estava com
fome e me destes de comer; eu
estava com sede e me destes
de beber; era estrangeiro, e me
recebestes em casa; eu estava
nu e me vestistes; eu estava
doente e cuidastes de mim;
eu estava na prisão e fostes
me visitar”. Então os justos lhe
perguntarão: “Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te
demos de comer? Com sede e
te demos de beber? Quando foi
que te vimos como estrangeiro
e te recebemos em casa, e sem
roupa e te vestimos? Quando
foi que te vimos doente, ou preso, e fomos te visitar?”. Então o
Rei lhes responderá: “Em verdade eu vos digo, que todas
as vezes que fizestes isso a um
dos menores de meus irmãos,
foi a mim que o fizestes!”
(Mt 25,31-40)
14
O Cristo identifica-se
com cada homem e
considera feito a si
mesmo cada gesto
realizado para com o
menor dos irmãos. Como
você O acolhe?
E
ste trecho marca a conclusão
de toda a atividade pública
de Jesus e prepara a passagem para
a narração da paixão. Ele confirma
e comporta uma mensagem clara e
forte: a caridade é o centro da vida
cristã.
Jesus está circundado pelos discípulos, que estão com ele para escutar
sua palavra e aprender seus ensinamentos. Talvez um pouco como
nós, eles são motivados mais por
preocupações humanas, desejosos
de conquistar os primeiros lugares
e descobrir como se faz para ser os
melhores no seu Reino. O Mestre,
sem deter essas aspirações de seus
corações, procura abri-los para uma
perspectiva diferente que revira todos os critérios de sua lógica humana.
A idéia de um juízo de Deus no fim
da história era conhecida e cultivada no ambiente judaico. Jesus a
propõe de novo, modificando-a na
forma e no conteúdo a tal ponto de
torná-la nova e original.
Quando o Filho do homem vier em
sua glória, acompanhado de todos
os anjos, então se assentará em seu
trono glorioso...
Uma representação grandiosa do
fim dos tempos. Todos os povos
estarão diante do grande soberano,
divididos em dois grupos, colocados
um à sua direita e outro à sua esquerda. A colocação distinta deixa intuir
uma sorte diferente, sendo que, pela
mentalidade hebraica, a direita é o
lado da sorte e da vida, enquanto a
esquerda representa o lado do azar.
A separação em dois grupos logo
cria suspense e desperta a pergunta:
qual critério determina a distinção?
...eu estava com fome e me destes
de comer; eu estava com sede e me
destes de beber...
O que faz a diferença não são, de
fato, os títulos, os cargos humanos, a riqueza ou a pobreza, mas
algo muito mais comprometedor: o
amor concreto para com os últimos,
a ajuda dada a quem se encontra na
necessidade.
Fome, sede, nudez tratam-se de
necessidades corporais às quais é
pedido ir ao encontro e que Jesus,
surpreendendo um pouco a todos,
assume como único critério de avaliação. A caridade, celebrada na vida
através dos mil aspectos da existência comum de cada dia, feita por
gestos simples e compreensíveis
para qualquer pessoa, estabelece a
diferença determinante no juízo.
...todas as vezes que fizestes isso a
um dos menores de meus irmãos,
foi a mim que o fizestes!
Jesus considera feito a si até o menor gesto. Identifica-se com todos
aqueles que sofrem, unindo indissoluvelmente o amor aos homens
e aquele a Deus. No juízo, portanto,
resulta determinante a acolhida ou
a rejeição do homem em que está
presente o Cristo.
Uma verdade absolutamente atual
que ecoa com a mesma força para
você também. Ainda hoje, no mundo, há bilhões de irmãos que têm
fome, que vivem em condições de
pobreza absoluta, que precisam
de alimento, de casa, de roupas.
Muitos mendigos vagam em nossas cidades. São irmãos, são filhos
de Deus, são o mesmo Cristo que
interpela você também e que espera que lhe dê a mão! Como você o
acolhe?
Na página ao lado: uma família peruana.
Em cima, padre Duccio Zeme, italiano,
enquanto celebra com os presos de Belo
Horizonte, Brasil.
À esquerda, mãe com seus filhos em
Yopougon (Costa do Marfim).
15
partilhar a fé
Como nasceu a escolha de se
tornar membro da Pastoral
Carcerária?
Comecei em Ouro Preto (MG),
minha cidade de origem, seguindo
os passos da minha irmã mais velha.
Quando éramos mais novos, sempre
pensávamos com carinho nas pessoas que estavam nos presídios, até
que um dia resolvemos fazer algo
para elas começando, periodicamente, a visitá-las.
Logo que mudei para Belo Horizonte parei de fazer isso, embora
sentisse sempre o desejo de continuar. Dez anos atrás uma missionária
da CMV convidou-me para participar
da Pastoral Carcerária da Arquidiocese, respondendo ao anseio que, há
muito, carregava no coração. Faz,
então, 16 anos que realizo esse serviço. Atualmente, trabalho com um
grupinho de seis pessoas. Somos
três homens e três mulheres.
Minha família me apoia muito
“Sinto
todos
como
meus
irmãos”
Entrevista com o senhor
Antônio, voluntário da
Comunidade de BH,
há mais de 10 anos
membro da Pastoral
Carcerária.
Embaixo, o Senhor Antônio e sua esposa, Lúcia, no dia do casamento da filha Vanessa
16
nesta pastoral. Minha esposa Lúcia
é uma mulher de grande fé e ela
também é sensível a tudo que eu
vivo na prisão.
Em que consistem suas visitas
nos presídios?
A cada 15 dias, visitamos cerca
de 300 jovens, de 18 a 28 anos, no
CERESP (Centro de Remanejamento
do Sistema Prisional) de Contagem
(MG). É um cárcere transitório, onde
os jovens ficam no máximo dois meses a espera de serem encaminhados
para outras estruturas de reclusão.
Encontramo-los no pátio, em dois
turnos de uma hora e meia, de 8 às
11h. A primeira coisa que fazemos
é oferecer-lhes a nossa escuta. Conversamos bastante com eles, mas,
na verdade, mais ouvimos do que
falamos. Depois do diálogo, vivemos
um momento de espiritualidade: lemos o Evangelho, partilhamos uma
pequena explicação e concluímos
com a oração do Pai Nosso, rezando
de mãos dadas. O canto nunca falta
e fica por conta deles, pois gostam
muito de entoar cânticos de louvor.
Gostaria de mostrar às pessoas
que estão lá dentro o outro lado da
vida e que o que fizeram pode ser
recuperado. Nós não perguntamos
qual crime elas cometeram; isso não
é o que importa. Nós acreditamos,
pela fé em Deus, que não são um
caso perdido, mas têm possibilidade
de se recuperar.
A maioria dos jovens não tem
profissão, é semi-analfabeta e está
presa por droga e por furto. Entraram no mundo do crime, sobretudo,
por causa da desestruturação de
suas famílias. Sempre mais percebo
o quanto é difícil criar um ser humano fora de uma família que tenha valores. Um levantamento da Pastoral
Carcerária, em todo o Brasil, confirma que, também nas outras prisões,
a maior parte dos presos tem baixa
escolaridade, é negra ou parda, não
possuía emprego formal e é usuária
de drogas.
Percebemos que as pessoas que
visitamos gostam de nosso trabalho,
admiram-nos e têm muita consideração e confiança em nos. Falam que
aquele é o único lugar no mundo
onde ninguém gostaria de estar e o
fato de irmos lá para estar com eles,
torna-os muito agradecidos.
Costumamos também entrar
em contato com suas famílias, mandando os recados que eles mesmos
escrevem. Eles nos dão o telefone
de suas casas e nós ligamos dando
notícias para os parentes. Depois
de conseguir o contato, levamos
aos jovens detentos a resposta dos
familiares. A maioria deles tem uma
companheira e filhos. Eles são muito
ligados à família.
Conte-nos um pouco sobre
a estrutura dos cárceres que
visita.
As celas são pequenas, a maior
é de três metros por cinco. Embora,
pela lei brasileira, cada preso tem
que ter na unidade prisional, no
mínimo, seis metros quadrados de
espaço, em cada cela há mais ou
menos 15 pessoas. Nas celas menores, de três metros por três, há menos gente: oito ou nove pessoas. As
celas contêm apenas beliches, um
vaso e um chuveiro de água fria.
Não há porta que ofereça privacidade na hora em que se precisa usar o
banheiro ou em que se quer tomar
banho.
A maioria dos reclusos fica deitada ou sentada na cama, porque não
há espaço para andar dentro da cela,
nem há cadeiras para sentar. Depois
de lavar suas roupas, estendem-nas
nas grades. As refeições também
acontecem dentro da cela. Os alimentos são passados pelas grades.
A superlotação é inconstitucional e causa torturas físicas e psicológicas. O problema é complexo,
porque a população carcerária no
Brasil cresceu quase 30% nos últimos cinco anos. Nos últimos dez
anos, o ritmo de crescimento foi mui-
Embaixo, o senhor Antônio com mais dois membros da pastoral carcerária, na frente
do CERESP, Contagem (BH).
to mais acelerado do que no resto do
mundo: 71,2% contra 8% da média
dos demais países.
No presídio eles não fazem quase nada. Jogam baralho, assistem TV
ou dormem. Duas horas por dia vão
ao pátio para tomar sol. O resto do
tempo ficam nas celas. Vinte e duas
horas dentro da cela sem fazer nada.
Após os primeiros 15 dias de
estadia no presídio, as famílias podem fazer as visitas aos sábados e
domingos e levar algumas coisas
para eles. Tudo passa por uma minuciosa vistoria.
Que mensagem gostaria de
deixar sobre o mundo dos
presídios?
Duas mensagens. Para os jovens
detentos, uma mensagem de fé e
de esperança. Que eles possam reconhecer suas potencialidades de
bem e reconstruir suas vidas com
a ajuda de Deus, que nos mostra o
verdadeiro caminho.
Para todas as outras pessoas, ao
invés, diria que não tenham medo
de se aproximar dessa realidade. Nós
cristãos, de fato, temos que responder ao chamado de Deus que nos diz:
“Eu estava preso e vieste me visitar”
(cf. Mt 25).
A Pastoral Carcerária possibilita
um serviço muito precioso e gratificante. Não precisa ter receio. Tenho
muito prazer de visitar o presídio e
há muitas pessoas que precisam de
nossa ajuda. No ano passado, a população carcerária brasileira era de
548 mil presos, num universo de 190
milhões de pessoas.
A tendência do ser humano é só
condenar: “Errou e tem que pagar”.
Mas, ajudado pela fé, eu sinto todos
como meus irmãos. Sem fé também
minha tendência seria só condenar
e seguiria a sociedade que empurra
para a pena de morte.
O trabalho na pastoral carcerária
ajuda a ter mais condescendência
com as pessoas, a não julgar, a não
ser a favor da pena de morte, a não
querer fazer justiça com as próprias
mãos e a tentar resgatar essas pessoas por meio de nosso convívio com
elas.
17
vida espiritual
São Francisco e o encontro
com o leproso
U
m dia em que ele orava ao Senhor
com todo o fervor, falou-lhe uma
voz: “Francisco, tudo o que tu amaste e
desejaste possuir segundo a carne, tens
agora que o detestar e desprezar, se queres conhecer a minha vontade. Quando o
alcançares, o que outrora te parecia encantador e delicioso, ser-te-á insuportável
e amargo; e no que antes te causava horror, colherás extrema doçura e suavidade
ilimitada”.
Confortado por estas palavras e pela
graça de Deus, Francisco passeava um
dia a cavalo, não longe de Assis, quando
se encontrou com um leproso. Ordinariamente, a vista da lepra causava-lhe calafrios. Nesta ocasião ele fez violência a si
mesmo: desceu do cavalo, ofereceu uma
esmola ao leproso e beijou-lhe a mão; recebido do leproso o beijo da paz, montou
de novo e seguiu o seu caminho. Assim
começou a vencer-se a si mesmo, tendo
chegado, pela misericórdia de Deus, à
vitória perfeita.
Poucos dias depois, tomando consigo
bastante dinheiro, foi ao hospital dos
leprosos. Reunidos todos, deu esmola
a cada um, beijando-lhe a mão; saindo
dali, reconheceu a verdade da promessa divina: o que outrora lhe era amargo,
ou seja, a vista e o contato dos leprosos,
converteu-se em doçura.
De fato, a vista dos leprosos era-lhe antes
tão irritante, que não só não os queria ver
como não consentia em se aproximar do
lugar em que habitavam. E se alguma vez
sucedia passar perto dos seus casebres
ou vê-los, embora a piedade o levasse a
dar-lhes esmola por outra pessoa, desviava sempre a vista e chegava mesmo a
tampar o nariz.
Mas a graça de Deus tornou-o familiar e
amigo dos leprosos, a ponto de, segundo
o testemunha o seu Testamento, ficar de
bom gosto em sua companhia e de servilos com humildade.
Da Lenda dos Três Companheiros
(3Comp 11: FF1407-1408)
18
igreja missionária
E
ntre os dias 26 de novembro
e 1º de dezembro de 2013,
em Maracaibo, na Venezuela, aconteceu o 4° Congresso Americano
Missionário (CAM 4) e o 9º Congresso Missionário Latino-Americano
(Comla 9).
Os 3.500 participantes, vindos de 24
países, uniram os corações ao redor
do tema: “Discípulos missionários
de Jesus Cristo, da América em um
mundo secularizado e pluricultural”. O lema que acompanhou os
dias de reflexão foi: “América Missionária, partilha tua fé”.
O Brasil participou com uma delegação de 140 pessoas representantes dos Conselhos Missionários
Regionais (COMIRE).
Vários países no continente, realizaram congressos nacionais. Nessa perspectiva e em preparação
para o Congresso de Maracaibo, o
Brasil realizou o seu 3º Congresso
Missionário Nacional em julho de
2012, em Palmas (TO).
A mensagem final do CAM 4, lida
em quatro línguas diferentes, apresentou cinco orientações pastorais
que o Congresso assumiu sobre:
Discipulado missionário: “empenhamo-nos a agradecer e a
expressar o melhor que nos pode
acontecer na vida – ter encontrado
Jesus Cristo, fazendo-nos discípu-
Congresso
missionário
los missionários e renovando o
compromisso e a alegria de tornálo conhecido”;
Conversão: conversão eclesial em
todos os níveis, a partir da escuta
da Palavra que nos leve a uma comunhão eclesial que promova uma
pastoral profética que denuncie a
injustiça;
Secularização: desenvolver uma
mudança de atitude e de mentalidade em todas as estruturas humanas; um novo olhar nas relações:
evangelizar com rosto humano, incluindo diálogo e respeito com os
governantes e as sociedades para
Participantes do Congresso Missionário Latino Americano durante um momento de
encontro.
promover e incidir no desenvolvimento humano, no campo e na
cidade em todo o âmbito da vida
política, econômica, social, cultural
e ecológica. Priorizar a formação
em todas as estruturas eclesiais e
sociais para adotar esse espírito
novo de missionário;
Pluriculturalidade: promover a interculturalidade por meio de uma
aproximação respeitosa da diversidade que, iluminada pelo Evangelho, leve-nos a promover ações
pastorais libertadoras, descolonizadoras, com enfoque no direito e
na pertença cultural, revitalizando
o anúncio do Evangelho nas comunidades excluídas, empobrecidas e marginalizadas por meio da
liturgia inculturada, a formação de
agentes pastorais e o compromisso
apostólico com a realidade social,
política, econômica e cultural. Para
que nossos povos indígenas, afros e
culturalmente emergentes tenham
vida e a tenham em abundância;
Missão ad gentes: as Conferências Episcopais, nos próximos
cinco anos, assumam um lugar
de missão e enviem religiosas, religiosos, sacerdotes e leigos. Para
isso devem promover a formação
sobre a missão universal para todos
os agentes de pastoral por meio de
programas de formação. Isso também vai exigir a criação de estruturas econômicas que permitam
enviar e receber missionários.
A expectativa é de que o CAM 4
- Comla 9 ajude no caminho da
conversão pastoral e renovação
missionária.
A cidade de Santa Cruz de La Sierra,
na Bolívia, foi escolhida como sede
do próximo Congresso, em 2018.
19
notícias
a Comunidade de Maputo
N
(Moçambique), desde o começo do ano, começou a tomar
corpo a Fraternidade de Misericórdia. É uma experiência presente, há
tempo, no coração da Comunidade
Missionária de Villaregia e que agora pode se manifestar visivelmente.
De fato, trata-se da escolha de dois
missionários e de uma missionária
de dedicar, de forma constante e
continuada, o próprio tempo e
apostolado para as categorias mais
pobres da missão. Seu compromisso principal é aquele de viver e expressar uma maior proximidade de
misericórdia para com os “pequenos”, os marginalizados e os presos,
estando entre eles.
Padre Antônio Perretta, italiano,
nestes meses começou a pastoral
carcerária em alguns presídios da
capital, com os presos que vivem
em condições quase insuportáveis.
Tendo já amadurecido uma experiência anterior nas prisões de Yopougon (Costa do Marfim), padre
Antônio é um apoio espiritual entre
os presos, mas também uma pre-
Em Maputo, nasce
a Fraternidade de
experiência recémMisericórdia! Uma
nascida,
sença que, concretamente, tenta
assumir suas necessidades mais
evidentes. Ao lado dele, também
padre Fiorenzo Biasibetti e Emanuela Colussi, ambos italianos, trabalham em contato direto com as
famílias mais pobres de uma região
periférica da missão, privilegiando
as visitas nas barracas, os encontros
pela rua, o apoio e a orientação das
pessoas na busca de soluções para
problemas particulares.
Padre Fiorenzo mora habitualmente em uma pequena habitação
que se encontra na igreja de São
Teodósio, de onde é mais simples
alcançar as pessoas que vivem nas
áreas mais pobres. Emanuela reside
na Comunidade e o alcança toda
manhã para desenvolver o mesmo
ministério de amor aos últimos.
Os três missionários se ajudam a
enfrentar problemas e dificuldades
e colaboram reciprocamente no
ministério específico de cada um.
Também agem em colaboração
a Fraternidade de
Misericórdia
inicia na periferia da capital
do Moçambique,
no meio dos pobres.
com o resto da Comunidade, que,
de toda forma, está inserida e realiza um ministério de evangelização
nas áreas mais pobres da periferia
da capital moçambicana
Um dia por semana, os três missionários reunem-se na sede da Comunidade para alguns momentos
de encontro, de oração, de partilha
das diferentes experiências.
Para toda a Comunidade este pequeno começo é motivo de um
novo elã missionário, na consciência de que não faltarão desafios e
problemas, mas também, na certeza de que Deus não deixará faltar
a sua presença de Pai providente
que guia e orienta cada escolha.
Também este broto de vida é dom
para a missão e estímulo para todos
saírem de si mesmos, para se comprometerem em primeira pessoa
com os mais pobres.
20
Como falar
de Deus?
ui a uma das prisões estaduais
F
da cidade de Maputo para
começar o serviço de assistência
espiritual e humanitária aos presos.
A prisão é da época colonial e foi
pensada para 30 presos. Há mais
de 60 deles, em três celas e em um
corredor comprido com um metro
de largura.
prisão que tinha um ar irrespirável
por causa do clima abafado...
Apesar de tudo, o Espírito Santo
atua no coração do homem. Os
presos seguiram-me com muita
atenção enquanto explicava alguns
elementos da missa e durante a
celebração. No final da missa, ensinei-lhes a fazer o sinal da cruz.
Foram muitos os olhares satisfeitos e os olhos cheios de luz pelo
encontro com o Deus de amor, em
uma situação difícil e no limite do
suportável.
Também distribuímos um pedaço
de sabão para cada preso: sinal
tangível daquele Deus amor.
Depois de alguns dias, enquanto
caminhava pela prisão, cumprimentando os presos, um jovem
aproximou-se de mim e me pediu
para conversar.
Estava ocupado nas visitas aos doentes e lhe pedi que esperasse um pouco... mas acabei por atendê-lo uma
hora depois, porque, entre uma coisa
e a outra, o tempo fugiu.
Pensei que não o encontraria mais,
mas ele fielmente esperou-me embaixo de uma árvore. Achava que
quisesse falar-me pessoalmente
para me pedir uma ajuda material,
como frequentemente acontece
em uma situação de pobreza como
aquela que se encontra nos presídios. Ao invés, não! O jovem é um
católico que desejava pedir perdão
a Deus pelo erro que o levou para
dentro da cadeia.
Que confissão linda: direta, clara,
simples, com poucas palavras sem
se defender, mas apenas se reconhecendo pecador diante da misericórdia de Deus.
Quando estendi a mão sobre a sua
cabeça para abençoá-lo percebi
que, naquele humilde canto do
mundo, estava descendo o céu
sobre a terra: o perdão do Pai misericordioso que “faz novas todas
as coisas”.
Pe. Antonio Perretta
À esquerda, Sandra Chaves, missionária de Belo Horizonte (MG), com um grupo de
crianças moçambicanas.
Na página ao lado: padre Antonio Perretta, padre Fiorenzo Biasibetti, Emanuela
Colussi, italianos. Embaixo, padre Antonio entre os presos de uma das cadeias de
Maputo (Moçambique).
Dormem dois por cama, divididos
nas três celas, o que significa cerca de 20 em cada uma. Quem não
cabe nas camas, fica no chão. A cela
é de 3 metros de largura por 4 de
comprimento.
Quando cheguei, acolheram-me
com a curiosidade típica de quem
quer entender quem é o outro e o
que deseja fazer. Os católicos são
três, mas quase todos os presos
decidiram participar da celebração
da missa que vivemos depois de
um momento de conhecimento
recíproco e de diálogo.
Como falar de Deus a quem vive
na miséria? Como falar de um Deus
amor a quem luta para sobreviver?
Como celebrar a alegria da fé entre
quatro paredes sujas de uma prisão
da periferia do mundo? Com essas
perguntas na cabeça e no coração,
fiquei umas três horas naquela
21
O Evangelho chega à praia
Os jovens da comunidade de São Paulo, durante a atividade de evangelização.
o primeiro final de semana do
N
ano, a praia da cidade de São
Vicente, na baixada Santista, foi to-
mada pelas ondas da alegria de cerca de 60 jovens, protagonistas de
uma experiência de evangelização
junto com alguns missionários e
missionárias da CMV de São Paulo.
Cantos, danças, teatro e jogos encantaram tantas famílias, surpreendidas na praia pelo anúncio de fé, e
revelaram-se instrumentos simples
e eficazes para anunciar o amor de
um Deus que está perto e cuida de
cada filho.
A acolhida fraterna de Padre Valdeci João dos Santos, pároco da
paróquia São Vicente Mártir, e a intercessão contínua de um grupo de
leigos, reunidos em oração numa
tenda montada na praia, deu aos
jovens a possibilidade e a coragem
de partilhar aquela fé que mudou
suas vidas.
Significativo foi também o encontro
com os moradores de rua, com os
quais os jovens missionários partilharam seu testemunho e uma
refeição. A partilha do alimento, fruto de renuncias pessoais, permitiu
a Deus multiplicar mais uma vez os
“cinco pães e dois peixes”, deixando
todos alegres pela possibilidade de
amar e ser amados.
Primeiros votos
José Luiz Pereira e Giani Aparecida
de Oliveira Pereira celebraram o
primeiros votos, na comunidade de
San Paolo, o dia 26 de outubro
22
Almir Zanforlin Minozi e Maria do Carmo
Gatti Minozi celebraram o primeiros votos,
na comunidade de San Paolo, o dia 26 de
outubro
Chegadas e partidas
Paolo Porcu, no mês
de março, uniu-se
à Comunidade de
Belo Horizonte.
Patrícia Machado Cunha, no mês de fevereiro,
uniu-se à Comunidade de Belo Horizonte.
Alex Sandro da Silva
Bernardo, no dia 22 de
julho, deixará a comunidade
de Belo Horizonte para
alcançar a de São Paulo.
Andreia Luciene Silva despediu-se
da comunidade de Quartu, Itália,
para alcançar os irmãos de Yopougon
(Costa do Marfim).
Fabiana da Silva Barbosa, da Itália
foi para Maputo, Moçambique.
#UPWAY
AGENDA
Três dias
Três dias de espiritualidade,
formação e amizade, para
jovens.
BH: de 17 a 19 de outubro
Jeshuá
Final de semana de
evangelização, para jovens.
BH: 28 a 30 de novembro
SP: 29 a 31 de agosto
Bodas de Caná
Final de semana de
evangelização para casais.
BH: 26 e 27 de julho
1 e 2 de novembro
SP: 8 a 9 de novembro
Emaús
Final de semana de
evangelização para adultos
BH: 20 e 21 de setembro
SP: 15 a 16 de novembro
Formação à afetividade e à
sexualidade
Final de semana de
encontro, para jovens.
BH: 16 e 17 de agosto
Dabar
Final de semana sobre a
Palavra de Deus, para jovens.
SP: 6 e 7 de setembro
Pizza Solidaria
BH: 8 de agosto
23
AJUDE-NOS... A AJUDAR!
UMA ALTERNATIVA AOS PRESENTES TRADICIONAIS
Nas festas de família, você pode suscitar ao seu redor gestos
de partilha. No lugar de ser presenteado com algo tradicional,
você pode sugerir a seus amigos que colaborem com nossos
projetos de solidariedade, como o que se encontra na página
17 desta revista.
UMA PARTILHA QUE NÃO TEM FRONTEIRAS
Se você quiser sustentar as obras de evangelização
e de promoção humana da Comunidade Missionária
de Villaregia, no Brasil e no mundo, contribua com
uma oferta livre, utilizando o boleto bancário em
anexo ou fazendo um depósito nas contas abaixo.
Belo Horizonte - MG
Rua Canoas, 461
Betânia - 30580-040
Telefax: (31) 3383 1545
[email protected]
Ônibus: 5250, 7110, 7120, 22
Para doações:
Banco Bradesco - 237
Agência 2900-9
Conta corrente 3527-0
Embu Guaçu - SP
Rod. José Simões Louro Jr. 3100
Km 34,5 - Itararé - 06900-000
Telefax: (11) 4661 2539
4661 2267
[email protected]
Ônibus: intermunicipal
Embu Guaçu - Vila Louro
Para doações:
Banco Bradesco, Agência 1988-7
Conta corrente 13753-7
Outras informações www.cmv.it
PARA USO DO CORREIO
MUDOU-SE
ENDEREÇO INSUFICIENTE
NÃO EXISTE O Nº INDICADO
FALECIDO
DESCONHECIDO
RECUSADO
AUSENTE
NÃO PROCURADO
OUTROS:_______________________
_____________________________
INFORMAÇÃO PRESTADA PELO
PORTEIRO OU SÍNDICO
REINTEGRADO AO SERVIÇO
POSTAL EM ___/___/___.
DATA:
RUBRICA:
REVISTA SEMESTRAL - JUlHO 2014 - ANO 10 - nº 23
O SEU IMPOSTO DE RENDA GERA SOLIDARIEDADE
Faça uma doação para o Centro de Acolhida Betânia,
em Belo Horizonte, e deduza o valor no seu imposto
de renda. Diariamente, o Centro acolhe 220 crianças e
adolescentes, promovendo a melhoria de suas condições
sociais, humanas e econômicas, assim como de suas
famílias. Pessoas físicas poderão doar e abater até 6% do
imposto de renda, enquanto pessoas jurídicas tributadas
pelo lucro real poderão doar e abater até 1% do imposto
de renda devido. Para colaborar e saber como proceder,
ligue ou escreva para o endereço de Belo Horizonte
abaixo.
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