MONITORAMENTO DOS FLUXOS DE RADIAÇÃO, ENERGIA, CO2 E VAPOR D’ÁGUA EM SUPERFÍCIES VEGETADAS Magna Soelma Beserra de Moura1 Thieres George Freire da Silva2 Celso Von Randow3 Francinete Francis Lacerda4 Luciana Sandra Bastos de Souza5 Introdução A quantificação das trocas de radiação, energia, CO2 e água em superfícies vegetadas é essencial para o melhor entendimento do funcionamento dos agroecossistemas e para avaliar possíveis mudanças na interação entre estes e a atmosfera, na partição de energia e nos ciclos de água e carbono, decorrente de mudanças ambientais e climáticas. 1 Pesquisadora, Agrometeorologia, Embrapa Semiárido, BR 428, Km 152, CP 23, Zona Rural, CEP: 56302-970, Petrolina, PE. Email:[email protected] 2 Professor Adjunto I, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Serra Talhada, PE. E-mail: [email protected] 3 Pesquisador, Instituto Nacional de Ciências Espaciais, Cachoeira Paulista, SP. E-mail: [email protected] 4 Pesquisador, Instituto Nacional de Ciências Espaciais, Cachoeira Paulista, SP. E-mail: [email protected] 5 Doutoranda, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. E-mail: [email protected] 1 Estudos micrometeorológicos em ecossistemas, onde há grande diversidade biológica, ou em extensas áreas de monocultivos, ou seja, com uma única espécie vegetal, fornecem dados do microclima que podem ser associados a estudos ecológicos e fenológicos para modelagem entre aspectos climáticos e de umidade do solo no desenvolvimento da vegetação; podem ainda ser utilizados na obtenção do potencial de fixação de carbono, por meio da contabilização da produção primária líquida; e, além disso, podem fornecer importantes informações para uso em modelagem climática, resultando em melhorias nos resultados de previsão climática e modelagem futura dos cenários de clima e vegetação. No atual contexto de mudanças climáticas, estudos sobre sequestro de carbono pela vegetação têm sido reportados desde a década de 90 e são dependentes das medidas diretas de fluxos de gás carbônico por meio do método das correlações turbulentas. Grandes programas de pesquisa como Carboeurope e Fluxnet têm dado suporte a estes estudos em todo Globo e fornecido resultados que permitem um melhor entendimento dos fatores que explicam as variações sazonais e interanuais da fixação de carbono e sua relação com a variação temporal das condições meteorológicas, do índice de área foliar, da atividade fisiológica, do ciclo de crescimento e desenvolvimento, da temperatura e umidade do solo. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas no último relatório tem demonstrado evidências científicas que comprovam as alterações no clima, especialmente após o início das atividades industriais. Essas alterações podem provocar efeitos negativos à vida humana, à agricultura e aos ecossistemas. O aumento das concentrações dos gases 2 dióxido de carbono, metano e óxido nitroso na atmosfera atua como uma forçante no aumento da temperatura global, resultando em variações das escalas de precipitação, na elevação do nível dos oceanos e na ocorrência de eventos climáticos extremos (IPCC, 2007). Os principais fluxos de energia, CO2 e água, envolvidos nos processos climáticos, precisam ser monitorados a fim de entender como a vegetação se comporta frente ao clima e assim contribuir para proposição de alternativas aos efeitos das mudanças climáticas nos principais biomas brasileiros. Estes estudos têm sido realizados em áreas da Amazônia, Pantanal, Pampas, Caatinga, florestas de eucalipto, canaviais, arrozais, pastagens, dentre outros agroecossistemas. A demanda evaporativa da atmosfera nos diferentes ambientes influencia nos processos de transporte de calor e vapor que ocorrem no solo e na planta através de subcamadas situadas próximas as superfícies. A evapotranspiração (ET) é um dos principais componentes do ciclo hidrológico, em que a estimativa precisa em escala local e, ou, regional faz-se necessária para a determinação do uso da água nas diferentes áreas de atuação (LAGE et al., 2003). No setor agrícola, é um elemento importante no manejo de irrigação visando à determinação das alocações e melhoria do manejo de água armazenada na superfície e no perfil do solo e a melhoria do planejamento do sistema de irrigação e distribuição do sistema de produção, favorecendo a redução do desperdício de água. Ao mesmo tempo, o conhecimento da evapotranspiração é essencial para o uso sustentável dos recursos hídricos superficiais. Inúmeros são os registros de métodos utilizados na determinação da evapotranspiração das culturas (ETc). Dentre eles, existem aqueles que são mais 3 apropriados para quantificar a evaporação em longos intervalos de tempo, como semana, mês ou estádio de crescimento, como é o caso dos métodos hidrológicos do balanço de água no solo e os lisímetricos, que também utilizam o balanço de massa. Por outro lado, os métodos micrometeorlógicos permitem entender os processos que governam a transferência de energia e massa entre a superficie e a atmosfera, como o método dos vórtices turbulentos, o aerodinâmico e o método do balanço de energia com base na razão de Bowen. Em outros casos, os parâmetros físicos determinados por esses métodos podem ser estimados por meio de modelos. Assim, existem ainda os métodos que utilizam equações matemáticas, geralmente com um número limitado de variáveis de entrada ou apenas aproximações estatísticas, para determinar a evapotranspiração. Entretanto, comumente tem-se utilizado métodos micrometeorológicos visando determinar a evapotranspiração de superfícies vegetadas, que pode ser obtida pela partição da energia disponível (R n – G) entre calor sensível (H) e latente (LE) utilizando o método do balanço de energia, as relações fluxo-gradiente e a transferência de massa, tanto pelo método dos vórtices turbulentos, como por meio do método aerodinâmico, que permite determinar as características de rugosidade da superfície. Esses métodos têm sido amplamente aplicados em culturas, como milho (STEDUTO; HSIAO, 1998), videira (TEIXEIRA et al., 2007), forrageira (SILVA et al., 2005), alfafa (TODD et al., 2000), café (MARIN, 2003; RIGHI, 2004), manga (TEIXEIRA et al., 2008), caatinga (OLIVEIRA et al., 2006; TEIXEIRA, 2010), amazônia (von RANDOW, 2007), cana (CABRAL et al., 2003). No Brasil, estes estudos iniciaram e têm-se 4 destacado sob a liderança do Projeto LBA – Large Scale Biosphere-Atmosphere na Amazônia. Quando se trata de realizar medidas diretas dos fluxos, o método conhecido como correlações turbulentas tem sido o mais aplicado há vários anos, uma vez que o mesmo realiza medidas diretas dos fluxos turbulentos. Dessa forma, este capítulo traz uma abordagem das técnicas, sensores, instalaçõees experimentais e resultados de aplicações do monitoramento dos fluxos de radiação, energia, CO2 e água em superfícies vegetadas, com foco em áreas do Nordeste brasileiro. Aplicações micrometeorológicas A precisão dos cálculos dos valores do fluxo de calor sensível (H) e latente (LE) depende da correta determinação de todos os parâmetros da equação do balanço de energia, que, por outro lado depende da precisão das medidas micrometeorológicas. A partição da energia disponível (Rn – G) em H e LE é um fator crítico na determinação do ciclo hidrológico, no desenvolvimento da camada limite, no tempo, no clima e como indicador de estresse hídrico para as culturas (PEREZ et al., 2008). O rápido crescimento das intervenções antropogênicas em áreas nativas por meio dos processos de desmatamento, queimada e da substituição da vegetação natural, tem chamado atenção para os ecossistemas naturais uma vez que podem influenciar de modo significativo às condições climáticas locais. Uma extensa revisão sobre as relações entre eventos de seca e o ciclo de carbono em ecossistemas foi realizada por van der Molen et al. (2011). Os autores sugerem haver interligação entre o conteúdo de carbono 5 dos sistemas e estratégias para uso de radiação/luz e energia; com estratégias para uso eficiente de água, como controle estomático e resposta ao CO2; com estratégias para alocação de carbono, como reserva de carboidratos associado ao rápido crescimento da vegetação; com estratégias para distribuição radicular, como profundidade, micorrização e taxas de crescimento; e estratégias para regeneração. Para isso, são necessárias pesquisas contínuas, de longa duração, que são realizadas em vários tipos de ecossistemas e agrossistemas, onde são observados temperatura e fluxo de calor no solo (JACOBS et al., 2011); evapotranspiração de mata ciliar (KOCHENDORFER et al., 2011) e de fruteiras (TEIXEIRA, 2008a); fluxo de gás carbônico em floresta (SOGACHEV et al., 2011), em eucalipto (CABRAL et al., 2011) e em cana-de-açúcar (CABRAL et al., 2003). A vegetação e suas propriedades bioquímicas e estruturais são utilizadas como entrada de diversos modelos de interação entre a atmosfera e o uso da terra. A quantidade de folhas verdes de um dossel tem impacto nos componentes do balanço de radiação e em sua absorção, na interceptação de chuva, e atividade fotossintética, dentre outros. Nesse sentido, a área foliar ou o índice de área foliar pode ser utilizado como um dos mais importantes parâmetros para caracterização dessas relações. Em áreas de caatinga, onde a maioria das espécies apresenta comportamento caducifólio, essas relações são muito variáveis e até desconhecidas em função dos poucos estudos realizados nesse bioma voltados para as relações micrometeorológicas e o comportamento da vegetação. Os poucos trabalhos são referentes a curtos períodos, o que não reflete as 6 variações inter e intra anual dos eventos climáticos e seus reflexos na vegetação. O índice de área foliar pode ser obtido por medidas diretas e indiretas. O uso de métodos diretos em áreas de florestas se torna difícil e para isso tem-se utilizado estimativas por meio da interceptação de luz e, ou por dados de sensoriamento remoto. Sprintsin et al. (2011) observaram o índice de área foliar em uma plantação de pinus no semiárido entre os anos de 2001 e 2006 e observaram a dinâmica da área foliar e da fenologia por meio de diferentes métodos de determinação. Os níveis de radiação e os teores de umidade disponíveis nas superfícies influenciam no crescimento da vegetação, na sua produção de biomassa e, consequentemente, em sua capacidade de fixar carbono. Kato et al. (2004) utilizaram o método das correlações turbulentas para medir as trocas de CO2 entre a atmosfera e ecossistemas alpinos na China, e observaram que há grande potencial para sequestro de carbono pelo ecossistema, além de que existe grande relação entre a absorção de carbono e a disponibilidade de radiação fotossinteticamente ativa mensal. Ainda em ambientes alpinos, Marcolla et al. (2011) realizaram um estudo durante sete anos de medidas de fluxos turbulentos a fim de observar os impactos dos condicionantes climáticos nas resposta do ecossistema. A resposta da vegetação ao meio tem reflexo em sua evapotranspiração. Os estudos de Kume et al. (2011) determinaram a evapotranspiração durante dez anos de pesquisas realizadas em uma floresta tropical e observaram que a baixa variação interanual da precipitação é muito importante para manutenção da evapotranspiração do ecossistema, sendo que a pequena 7 variabilidade dos elementos meteorológicos e a não ocorrência de seca são determinantes para pequena variação interanual da evapotranspiração. A energia disponível é determinante para o cálculo da evapotranspiração. Apesar dos termos advectivos e fotossintéticos do balanço de energia serem negligenciados em seu computo, Moderow et al. (2011) compararam os fluxos de calor sensível e de carbono em três experimentos em área de coníferas e observaram que os fluxos advectivos de calor sensível e CO2 apresentaram comportamento oposto durante a noite, e que se estes forem introduzidos no computo diário do balanço, pode haver aumento ou redução dos fluxos, dependendo do local (superfície) e das características das escalas de medidas. A quantificação dos fluxos de carbono do ecossistema entre a biosfera e a atmosfera para regiões e continentes são de grande importância para a tomada de decisão de políticas climáticas (XIAO et al., 2011). Tradicionalmente, estudos de biomassa e inventário de carbono no solo têm sido utilizados para quantificar a produtividade líquida de um ecossistema (PLE) ao longo de vários anos. A técnica de correlações turbulentas surgiu como uma forma alternativa para avaliar PLE (BALDOCCHI et al., 2001). Estas estimativas são representativas apenas para as proximidades de localização da torre, cujas dimensões variam de metros a quilômetros dependendo da homogeneidade da vegetação (GÖCKEDE et al., 2008). Para analisar o intercambio de carbono terrestre, sobre regiões ou continentes, as medições de fluxo por meio dessa técnica precisam ser extrapoladas para essas grandes áreas (XIAO et al., 2008, 2010). O sensoriamento remoto fornece observações dos ecossistemas com cobertura 8 espacialmente e temporalmente consistentes. Quando combinados, a determinação dos fluxos por meio da técnica de correlações turbulentas e dados de sensoriamento remoto tem-se uma valiosa ferramenta para melhoramento de fluxos de carbono de dimensão regional ou continental (XIAO et al., 2008, 2010). Estudos dessa natureza têm sido amplamente realizados para diversos ecossistemas, porém nenhum foi verificado para a Caatinga, a qual esta inserida em uma região cujas características climáticas e de vegetação são bastante peculiares podendo desta forma apresentar ampla variabilidade intra e interanual dos fluxos de CO2. Aspectos metodológicos Quando se pretende instalar experimentos micrometeorológicos em superfícies vegetadas, os estudos realizados ao longo do período do experimento devem ser direcionados tanto para a área micrometeorológica, como para caracterização das espécies vegetais, descrição do perfil do solo e sua caracterização textural e hidráulica, produção de biomassa, fixação de gás carbônico, acompanhamento fenológico, modelagem climática e produtividade de água. A área experimental deve ter seu clima caracterizado com base em dados históricos medidos em uma estação meteorológica. Assim, deve-se conhecer a classificação climática, bem como os valores médios e os desvios dos elementos climáticos, como da temperatura do ar, umidade relativa do ar, precipitação, brilho solar, radiação solar, evaporação, evapotranspiração e velocidade do vento. Informações nesse sentido podem ser obtidas junto a órgão de pesquisa, aeroportos, órgãos 9 estaduais de clima e recursos hídricos, órgãos federais responsáveis pelo monitoramento climáticos, dentre outros. A vegetação, seja natural ou plantada, deve ser caracterizada. No caso de biomas, onde há maior diversidade de espécies, deve ser realizado um levantamento florístico e fitosociológico, contemplando registro da presença e frequência do indivíduos, bem como informações sobre a altura e diâmetro médio das espécies arbóreas, além de informações sobre sua fenologia. Em se tratando de monocultivos, deve ser realizado registro das datas de ocorrência dos principais eventos fenológicos, assim como a duração de cada fase, e dados relativos a biomassa, área foliar, índice de área foliar, produção, etc. No que se referem às medidas micrometeorológicas, na maioria dos estudos tem-se realizado o cômputo dos fluxos de radiação, energia, vapor d’água e CO2, componentes do balanço de radiação, radiação fotossinteticamente ativa interceptada pela vegetação, temperatura e umidade relativa do ar, precipitação, velocidade e direção do vento, umidade e temperatura no perfil do solo. Para isso são utilizadas torres e suportes micrometeorológicos; sistemas de alimentação com painel solar, reguladores de voltagem e baterias; sensores automáticos para medidas dos elementos do tempo; sistemas de medidas e registros de dados. As necessidades instrumentais dependem dos objetivos do estudo, bem como da disponibilidade de recursos para sua execução. Componentes do balanço de radiação e de energia 10 O Sol é uma gigantesca usina termonuclear, geradora e emissora de energia para o espaço, parte da qual a Terra intercepta. O fluxo radiante emitido pelo Sol atravessa o espaço sideral e alcança a atmosfera terrestre, interagindo com a mesma, onde sofre processos de absorção e difusão, e se constitui na principal fonte de energia para os processos físicos que ocorrem no sistema Terra-Atmosfera. Assim, variações na fonte de energia causam, diretamente, variações em diversos parâmetros, dentre os quais: temperatura, pressão, umidade, entropia e massa específica; e ao mesmo tempo, a superfície terrestre é a principal fonte de transferência para os processos atmosféricos. Quase todo espectro da radiação solar é limitado ao comprimento de onda entre aproximadamente 0,15 m e 4,0 m (99%), sendo mais ou menos 50% desta energia total contida na banda do visível (ROSENBERG et al., 1983). O balanço de radiação em uma determinada superfície é a contabilização líquida entre a energia radiante recebida e refletida pela superfície. O saldo de radiação (Rn), também denominado de radiação líquida, constitui-se da soma algébrica dos balanços de radiação de ondas (Rn_oc) curtas e longas (Rn_ol), considerandose positivos, os fluxos verticais na direção da superfície e negativos quando na direção do espaço (Figura 1). Seu estudo é muito importante, dada sua influência sobre o comportamento de vários elementos meteorológicos e na evapotranspiração das culturas, proporcionando importantes alterações no clima e microclima em diferentes regiões do globo terrestre. 11 Figura 1. Diagrama esquemático dos fluxos de radiação e energia à superfície terrestre. Composição da Figura: Magna Soelma Beserra de Moura O balanço de radiação à superfície é dado pela soma dos fluxos de radiação de ondas curtas e longas, expresso pela equação abaixo: (1) onde: Rn é a radiação líquida; Rg é a radiação de onda curta incidente (radiação global); Rr radiação de onda curta refletida pela superfície; Ra é a radiação de onda longa incidente, ou seja, emitida pela atmosfera e Rs é a radiação de onda longa emitida pela superfície. Na Figura 2 podem ser observadas as curvas para dias típicos sem nebulosidade, dos componentes do balanço de radiação, medidos com radiômetros e pirgeômetros, em uma área cultivada com cana-deaçúcar. Observa-se que a curva da radiação refletida pela superfície segue a curva da radiação incidente de ondas curtas, com valores positivos a partir do nascer do Sol, 12 por volta de 05h45, que atingem um pico por volta do meio dia local (12h00), sendo o valor da radiação incidente na ordem de 1.000,00 W m-2, e da radiação refletida na faixa de 190,00 W m-2. As curvas da radiação ondas longas, tanto atmosférica quanto da superfície sofrem poucas variações ao longo do dia, e apresentam valores da ordem de 350,00 W m-2 e 400,00 W m-2, respectivamente. Figura 2. Componentes do balanço de radiação à superfície (Rg – radiação solar incidente, Rr – radiação refletida, Ra – radiação de ondas longas atmosférica e Rs – radiação de ondas longas da superfície) sobre uma área cultivada com cana-de-açúcar em Juazeiro, BA. 13 Neste sentido, diversos pesquisadores desenvolveram trabalhos a fim de determinar o comportamento e, ou a quantificação da radiação disponível para as trocas termodinâmicas entre a atmosfera, o solo e as culturas. O saldo de radiação é um termo de grande importância e muito significativo em estudos meteorológicos de meso e micro escalas, por constituir a principal fonte de energia para os fluxos turbulentos de calor sensível e de calor latente, ou seja, para o aquecimento da biomassa e para os processos fotossintéticos. Em aplicações hidrológicas e agrícolas, a evaporação pode ser estimada por meio de modelos físicos se o saldo de radiação for conhecido. A fração da radiação solar global (Rg) que atinge uma superfície qualquer e é refletida (Rr) por ela é conhecida como albedo, ou seja, coeficiente de reflexão da superfície para a radiação de ondas curtas (ROSENBERG et al., 1983). O albedo varia de acordo com a superfície e é altamente dependente do ângulo de incidência dos raios solares ou ângulo zenital do Sol, que varia ao longo do dia, apresentando valores mínimos próximos ao meio-dia e máximos no início da manhã e final da tarde, conforme apresentado na Figura 3 para a cana-de-açúcar. Embora para uma determinada superfície o albedo seja variável, via de regra utiliza-se um valor constante. Diversos pesquisadores, entre eles Burman; Pochop (1994) sugerem valores mínimos, máximos e médios para diversas superfícies. Rosenberg et al. (1983) afirmaram que o albedo de ondas curtas para superfícies vegetadas não varia muito e que muitas culturas refletem em torno de 20 a 30% da radiação solar incidente. 14 Figura 3. Albedo da uma área cultivada com cana-deaçúcar irrigada por gotejamento subsuperficial em Juazeiro, BA. Os resultados obtidos por Idso et al. (1975), mostram que para solo úmido, a variação diurna do albedo exibe uma simetria em torno do meio-dia solar em resposta aos efeitos do ângulo de elevação do Sol, fato este que também pode ser visualizado na Figura 3. Este efeito pode ser atenuado, à medida que o solo perde umidade, tendendo novamente à simetria quando o solo torna-se completamente seco. Oliveira (1998), trabalhando com a cultura do amendoim irrigada no semiárido nordestino, constatou para dias claros e sem irrigação valores de albedo na ordem de 25%, enquanto para dias com irrigação observou-se uma queda brusca do albedo médio, em torno de 9%, por volta do meio dia. Verificou também redução no albedo médio diário à medida que a cultura foi se desenvolvendo e cobrindo totalmente o solo. A superfície terrestre absorve energia do Sol e passa a emitir energia radiante denominada de ―ondas longas‖, no comprimento de onda entre 3 e 80 m (ROSENBERG et al., 1983). O saldo de radiação de ondas 15 longas pode ser determinado por diferença, quando se dispõe de equipamentos que possibilitem medir simultaneamente o saldo de radiação, a radiação global e a radiação refletida. Atualmente, existem aparelhos que permitem a realização do balanço de radiação de ondas longas, bem como a determinação de seus componentes. Entretanto, devido ao elevado preço de aquisição e manutenção dos equipamentos, bem como, de um sistema de aquisição dos dados, diversos pesquisadores têm se dedicado à tarefa de investigar expressões empíricas para estimar a radiação de ondas longas. Tais expressões, não obstante práticas, têm o inconveniente de apresentarem resultados confiáveis, em princípio, apenas nas condições para as quais foram desenvolvidas. Sua utilização em outras regiões, com características diferentes das de origem, pode conduzir a erros grosseiros. Por esse motivo, seu uso deve ser recomendado apenas após serem testadas e ajustadas às condições locais. A radiação na forma de ondas longas emitida pela superfície pode ser calculada por meio da equação 2: (2) na qual é a emissividade da superfície (0,98); a constante de Stefan-Boltzman (5,67.10-8 W m-2 k-4) e Ts a temperatura da superfície em Kelvin. Com isso, sabendose o saldo de radiação, a radiação de onda curta incidente e refletida, que podem ser obtidas por instrumentos, e a radiação de ondas longas emitida pela superfície (Equação 2), procede-se ao cálculo da radiação de ondas longas emitida pela atmosfera por diferença simples. Por outro lado, existem disponíveis os 16 pirgeômetros, que são os radiômetros utilizados para realizar medidas da radiação de ondas longas. O saldo de radiação (Rn) sobre um dossel vegetal representa a quantidade de energia na forma de ondas eletromagnéticas que este dispõe para repartir entre os fluxos de energia necessários aos processos de evapotranspiração, aquecimento do ar e do solo e para fotossíntese. Em outras palavras, a radiação líquida representada pelo saldo de radiação é o resultado das trocas de energia que se estabelecem na atmosfera. O fluxo máximo de uma propriedade, em uma dada direção, é definido como a quantidade dessa propriedade que atravessa uma superfície unitária perpendicular àquela direção na unidade de tempo. Há, essencialmente, quatro tipos de fluxos de energia em uma superfície ideal, conhecidos como saldo de radiação à superfície (Rn), fluxos de calor sensível (H), de calor latente (LE) e de calor do solo (G) (Arya, 1988) (Figura 1). O balanço de energia no sistema solo-plantaatmosfera é constituído dos fluxos verticais de calor latente (LE), de calor sensível (H), do calor no solo (G) e do saldo de radiação (Rn), todos em W m-2, além de fluxos associados à absorção de calor no volume ocupado pela copa (A) e da energia utilizada na fotossíntese (P). Estas duas últimas têm sido negligenciadas no cômputo do balanço de energia, bem como a advecção de calor sensível e de calor latente. Desta forma, o balanço de energia se reduz à seguinte equação: (3) Durante o dia a superfície do solo recebe radiação e vai se aquecendo continuamente, resultando em fluxos 17 de calor para o interior do solo (durante o dia) e para a atmosfera (durante a noite). O fluxo de calor sensível sobre uma superfície é resultante da diferença entre as temperaturas do ar e da superfície. Como a temperatura na camada limite varia continuamente com a altura, próximo à interface, a transferência de calor ocorre por condução molecular. O fluxo de calor sensível geralmente é dirigido para fora da superfície durante o dia quando a superfície é mais quente que o ar, e vice versa durante a noite. Por sua vez, o fluxo de calor latente ou de vapor d’água é resultado da evaporação e, ou evapotranspiração em uma superfície e é dado pelo produto do calor latente de evaporação pela massa de água evaporada. A evaporação ocorre tanto em superfícies líquidas como em solo úmido e superfícies vegetadas, quando o ar não se encontra saturado de vapor. Este processo é mais acentuado durante o dia, devido a maior quantidade de energia disponível que produz aquecimento do ar e consequentemente provoca déficit de pressão de vapor. A superfície é aquecida durante o dia pela radiação de ondas curtas incidente. Durante a noite, com o resfriamento da superfície, ocorre transferência de calor por meio de ondas longas, resultando em gradientes de temperatura entre as camadas de solo mais curtas. Entretanto, os solos apresentam grande heterogeneidade no espaço e nas camadas, necessitando uma representativa amostragem do fluxo de calor no solo, temperatura e umidade relativa do ar. O fluxo de calor no solo (G) é baseado na transferência molecular de calor e é proporcional aos gradientes de temperatura e a condutividade térmica do solo. Em geral, o valor de G é pequeno, podendo variar em um dia ao redor de 50-100 W m-2, de maneira que 18 alguns autores propõem sua estimativa como sendo igual a -0,1 Rn ou 0,3 H (Liebethal; Foken, 2007 e Stull, 1998, citados por Foken, 2008). A determinação do calor armazenado no solo por meio de medidas do gradiente de temperatura e da condutividade térmica torna-se difícil, e por isso, tem sido determinado pela soma do fluxo de calor no solo medido em alguma profundidade, por exemplo, a 10 ou 20 cm por meio de placas de fluxo de calor enterradas nessas profundidades e o calor armazenado na camada entre a superfície do solo e a placa de fluxo, por meio de medidas do perfil de temperatura sobre a placa. Na Figura 4 são apresentadas duas curvas com o comportamento diário do fluxo de calor no solo medidos em dois fluxímetros instalados a 10 cm de profundidade (Figura 4a) e o perfil da temperatura do solo medida a 2 e a 8 cm de profundidade (Figura 4b) em uma área cultivada com cana-de-açúcar. Figura 4. (a) Fluxo de calor no solo medido em dois fluximétros (G1 e G2) a 10 cm de profundidade e, (b) temperatura do solo medida a 2 cm (Tsolo_2cm) e a 8 cm (Tsolo_8cm) de profundidade em uma área cultivada com cana-de-açúcar, em Juazeiro, BA. 19 Pode-se observar na Figura 4a, que o fluxo de calor no solo apresenta pequena variação diurna, passando de um valor mínimo por volta de -10 W m-2 para um máximo de 5-10 W m-2. Ao mesmo tempo, na Figura 4b, a temperatura do solo a 2 cm é mais elevada do que aquela medida a 8 cm de profundidade, sendo a diferença no horário de pico inferior a 2,0 oC. As medidas de fluxo de calor no solo devem ser bem representativas da área de estudo, dessa forma, muita atenção no momento de selecionar o local e a posição do sensores de solo, uma vez que este apresenta grande variabilidade espacial. Os componentes do balanço de energia em um dia típico sem nebulosidade são apresentados na Figura 5, para uma área de vegetação natural de caatinga. Alterações na presença de nuvens resultam em variações nos componentes dos balanços de radiação e de energia, que por sua vez, promovem alterações no comportamento de outros elementos meteorológicos, como temperatura do ar, por exemplo. 20 800 a) 26/06/2000 Densidade de Fluxos (W/m²) 700 600 500 400 300 200 100 0 -100 6 7 8 9 10 11 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 12 13 14 15 16 17 18 H G 800 b) 02/07/2000 Densidade de Fluxos (W/m²) 700 600 500 400 300 200 100 0 -100 6 7 8 Hora Rn LE Figura 5. Comportamento diurno dos componentes do balanço de energia, sobre a cultura da goiabeira (Psidium guajava L.), em Petrolina – PE, durante dias representativos da Fase 1: (a) 21 com nebulosidade e (b) sem nebulosidade. Fonte: Moura, 2005. Segundo Foken (2008), o aumento de 1 grau Kelvin na temperatura média global devido a emissões antropogênicas de gases do feito estufa correspondem a um adicional de energia da ordem de 2 W m-2. Portanto, mudanças nos fluxos de radiação e energia devido as mudanças de uso da terra, podem atuar manipulando o sistema climático. Fluxos de CO2, vapor d’água e balanço de energia pelo método das Covariâncias dos Vórtices Turbulentos Os fluxos de vapor d'água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e de calor sensível (H) têm sido medidos diretamente usando-se o método de correlação de vórtices turbulentos, também conhecido como "eddy covariance technique" (DESJARDINS, 1977). Os fluxos de H2O e CO2 são calculados para intervalos de 30 minutos pela equação: (4) Em que é o valor médio da densidade de fluxo relativo à entidade s (vapor d'água ou dióxido de carbono), é o valor médio da densidade do ar seco e é o produto dos valores instantâneos da variação da velocidade vertical do vento ( ) e da flutuação ( ) da razão de mistura da entidade . 22 O fluxo médio de calor sensível ( calculado com a equação: (5) onde cp ) pode ser é o calor específico do ar seco a pressão constante, é o valor médio, no intervalo de 30 minutos, do produto da variação da velocidade vertical do vento ( ) e da variação da temperatura do ar ( ) em relação aos seus valores médios observados durante o intervalo de 30 minutos. A utilização dessa técnica exige que as medidas sejam realizadas em alta frequência, em taxas que variam de 10 a 20 Hz (FOKEN, 2008). As concentrações de vapor de água e de CO 2 são determinadas por meio de um analisador de gás à infravermelho. A temperatura do ar (T) e o valor da velocidade do vento nas três direções (x, y e z) devem ser medidos imediatamente acima da vegetação por meio de um anemômetro sônico tridimensional instalado sobre a vegetação da área de estudo. Embora esse método seja o único que possibilite medidas diretas de fluxos, apenas há 16 anos, com o avanço da tecnologia, é que tem sido possível obter medidas contínuas de fluxos nos ecossistemas e em áreas agrícolas, sendo que nos últimos quatro anos tem sido amplamente utilizada nas pesquisas científicas. Um exemplo do curso diário dos fluxos turbulentos, incluindo o saldo de radiação e o fluxo de calor no solo, encontra-se na Figura 6. Observam-se os pequenos valores observados no período da noite, ao contrário do que se percebe durante o dia. Poucos minutos após o nascer do Sol, os sinais mudam e os fluxos turbulentos aumentam rapidamente, com os valores máximos ocorrendo logo após o meio dia. O 23 comportamento do fluxo de calor no solo depende muito das características da superfície, bem como da profundidade de instalação do sensor (FOKEN, 2008). Figura 6. Componentes do balanço de energia (Rn – saldo de radiação, G – fluxo de calor no solo, H – fluxo de calor sensível e LE – fluxo de calor latente) para o dia 13 de outubro de 2004 a cada 30 minutos obtidos pelo método das correlações turbulentas em uma área de caatinga. Fonte: Oliveira et al, 2006. Os fluxos de gás carbônico servem como indicativos das taxas líquidas de fotossíntese e respiração das superfícies vegetadas. Para suas análises, pode-se considerar que os valores positivos indicam fluxos de carbono da vegetação para a atmosfera, oriundos de processos respiratórios, e os valores negativos indicam fluxos de carbono da atmosfera para a vegetação, devido à atividade fotossintética. Segundo a Figura 7, os ciclos diurnos do fluxo de CO2 medidos na caatinga durante o mês de março de 2005, que é o mês mais chuvoso no município de Petrolina, PE, a taxa de fotossíntese 24 apresenta valores consideráveis que chegam a ser da ordem de -30 mol m-2s-1, com os valores médios em torno de -9 mol m-2s-1 (OLIVEIRA et al., 2006). Figura 7. Curso diário do fluxo de gás carbônico (F_CO 2) a cada 30 minutos, para os dias do mês de março de 2005, sendo a média representada pela linha, obtido pelo método das correlações turbulentas em uma área de caatinga. Fonte: Oliveira et al., 2006. Características aerodinâmicas e perfil logarítmico do vento As características aerodinâmicas de uma superfície são informações de fundamental importância na aplicação 25 em estudos micrometeorológicos e em parametrizações de modelos globais e de mesoescala (TAKAGI et al., 2003; ZHANG et al., 2004; TSAI; TSUANG et al., 2005), sendo representadas pelo comprimento de rugosidade (zo) e pelo deslocamento do plano zero (d), incorporadas ao perfil logarítmico do vento e determinadas sob condições de neutralidade atmosférica (STUDETO; HSIAO, 1998). O perfil logarítmico do vento, válido para a camada atmosférica inercial, é expresso por: (6) em que, u* = velocidade de fricção, k = constante de Von Karman, z* = limite superior da subcamada atmosférica rugosa, abaixo da camada inercial. Os dados de zo e d podem ser estimados utilizando os valores médios de 30 minutos de velocidade do vento, restritos a condições próximas da neutralidade para satisfazer a lei do perfil do logaritmo do vento (MONTEITH; UNSWORTH, 1990). Para caracterizar as condições de estabilidade atmosférica e, posteriormente, identificar os perfis próximos à neutralidade utiliza-se o número de Richardson (Ri). Assim, a partir de um método interativo da relação linear entre ln(z-d) e uz os valores de zo e d são obtidos até que o coeficiente de determinação seja o maior possível (LYRA et al., 2007; MARIN, 2003; RIGHI, 2004). Técnicas de medidas Segundo Foken (2008), poucos são os registros na literatura de livros relacionados a descrição das técnicas de medidas empregadas em estudos meteorológicos. 26 Dessa forma, a seguir são apresentados os principais sensores empregados nas medidas dos elementos meteorológicos, bem como os sistemas de medidas e armazenamentos de dados e as técnicas empregadas em seu processamento. As informações que são apresentadas a seguir se baseiam no acompanhamento de alguns experimentos de campo sobre micrometeorologia realizados em áreas agrícolas e de vegetação natural, como a caatinga. - Observação meteorológica Uma observação meteorológica é o resultado de uma série de procedimentos realizados a fim de se fazer medições, registros ou determinações de todos os elementos do tempo que representam as condições meteorológicas predominantes de um determinado lugar em um determinado instante, por meio da utilização de instrumentos adequados. A finalidade das observações meteorológicas nos próprios serviços meteorológicos são, dentre outras, gerar informação a respeito da situação e das mudanças de tempo que estão ocorrendo nas diferentes estações meteorológicas, para que os meteorologistas dos centros de previsão possam utilizar estas informações em previsões do tempo e clima; obter dados dos vários elementos do clima para utilização em pesquisas científicas e em estatística meteorológica e climatológica; atuar em conjunto com órgãos internacionais ligados à atividade de pesquisa e previsão do tempo e clima. Dessa forma, as informações apresentadas a seguir se referem às medidas realizadas em experimentos científicos, mas que utilizam sensores e protocolos reconhecidos em nível internacional, a fim de 27 que os resultados destes trabalhos possam ser comparados com outros realizados em quaisquer países. - Medidas da radiação Em geral, os sensores de medir a radiação solar são conhecidos como piranômetros ou radiômetros, e a maioria deles à base de termopilha, que têm em seu interior um compensador de temperatura e uma cúpula dupla para que os raios solares estejam sempre perpendiculares aos sensores. Alguns deles realizam medida da diferença de temperatura entre duas áreas, preta e branca, que recebem radiação. A classificação dos radiômetros leva em consideração o comprimento de onda (ondas curtas, ondas longas) e a qualidade das medidas, com base no elemento sensor. A separação dos comprimentos de onda medidos nos diversos tipos de radiômetros pode ser feita com o uso de filtros sobre o sensor, além disso, células fotoelétricas espectralmente sensíveis podem ser utilizadas para medir a radiação fotossinteticamente ativa (PAR). Em experimentos micrometeorológicos, recomenda-se que os componentes do balanço de radiação sejam obtidos individualmente, por meio de radiômetros e pirgeômetros. O elemento sensor deve ser direcionado para a atmosfera quando forem realizadas medidas de radiação incidente, e ao contrário, direcionados para a superfície, quando forem realizadas medidas da radiação refletida seja nos comprimentos de ondas curtas e, ou ondas longas. Além dos radiômetros, o saldo de radiação pode ser medido por meio de saldo radiômetros, que já contabiliza o balanço de ondas curtas 28 e ondas longas, resultado na medida direta do saldo de radiação à superfície. Saldo radiômetro CNR1 Saldo radiômetro Saldo radiômetro NR-Lite Albedômetro e PAR Linear Radiômetro Eppley com filtro Tubo solarimétrico 29 Radiômetro CM3 – Rr Radiômetro Eppley - Rr Radiômetro Eppley com filtro Pirgeômetro Radiômetro PAR Radiômetro PAR ―pontual‖ Linear Figura 8. Equipamentos utilizados para medir diferentes componentes do balanço de radiação à superfície. Fotos: Magna S. B. Moura. Um dos saldos radiômetros mais utilizados é o CNR1 (Net radiometer - Kipp & Zonen B.V., Delft, Netherlands). Dentre os sensores que medem a radiação fotossinteticamente ativa, destacam-se o LI-190SA (Quantum sensor, Li-cor, Nebraska, USA) e LI-191SA (Line Quantum Sensor Li-cor, Nebraska, USA) que podem ser instalados no topo da torre micrometeorológica, ou também próximo a superfície do solo, a fim de realizar 30 medidas da PAR interceptada pela vegetação. Os sensores de radiação devem ser instalados em um mastro direcionado para o Norte, distante, no mínimo, 4,0 metros da torre, localizado a cerca de 3,0 metros do dossel das plantas. Com estes sensores, podem ser obtidas medidas dos componentes da radiação de onda curta incidente (Rg, W m-2) e refletida (Rr, W m-2), radiação de onda longa incidente (Rai, W m-2) e refletida (Rs, W m-2), saldo de radiação total (Rn, W m-2), saldo de onda curta (Rnoc, W m-2) e de onda longa (Rnol, W m-2) e albedo (α). Além das medidas de densidade de fluxo da radiação fotossinteticamente ativa (DFRFA, μmol m -2 s-1) incidente e refletida da superfície vegetada, e interceptada pela vegetação. - Fluxos de calor sensível, latente e gás carbônico O balanço de energia no sistema solo-plantaatmosfera é constituído pelos fluxos verticais de calor latente (LE), de calor sensível (H), do calor no solo (G) e do saldo de radiação (Rn), todos em W m-2. Os dados de Rn são obtidos por meio de saldo radiômetros, enquanto as medições do fluxo de calor no solo (G) podem ser obtidas por meio de fluxímeros instalados a 0,06 metros de profundidade e em diferentes posições na superfície do solo. Os fluxos LE e H podem ser obtidos pelo método da razão de Bowen e, ou pelo método das covariâncias dos vórtices turbulentos. Para aplicação destes métodos várias exigências devem ser seguidas, cujos detalhes podem ser encontrados em FOKEN (2008). Os equipamentos mais utilizados são apresentados na Figura 9 e constituem basicamente do anemômetro sônico tridimensional e do analisador de gás ao infravermelho IRGA LI-7500. 31 Sônico e Li-cor 7500 em área de caatinga degradada Sônico e Li-cor 7500 em área de caatinga preservada Sônico e higrômetro Krypton Figura 9. Equipamentos utilizados para medir os fluxos da vapor d’água, fluxo de gás carbônico e o vento sônico. Fotos: Magna S. B. Moura. 32 - Perfil logaritmo do vento Para avaliar o perfil logaritmo do vento, no mínimo, três sensores de velocidade de vento (03001-5, R.M. Young, Wind Sentry, Campbell Scientific, Logan, Utah, USA) e três de temperatura e umidade relativa do ar (HMP45C-L, Campbell Scientific, Logan, Utah, USA) precisam ser instalados em diferentes alturas acima do dossel. - Conteúdo de água no solo e precipitação Outras importantes informações que atuam em conjunto com a vegetação e a atmosfera devem ser obtidas por meio do monitoramento do conteúdo de água no perfil do solo e das medidas e registros da precipitação. Para isso, os sítios experimentais devem conter medidas contínuas e automáticas da umidade do solo, que pode ser feita com sensores tipo reflectômetro de umidade (FDR), modelo ENVIROSMART (Sentek Technologies) e ainda com TDR100, além de diversos outros sensores disponíveis. Além disso, um pluviômetro eletrônico deve ser locado no topo da torre micrometeorológica. Caso haja necessidade de se monitorar a interceptação de chuva pela vegetação, uma grande quantidade de pluviômetros deve ser alocada à superfície, próximo ao solo e abaixo da vegetação. - Sistema de medidas, registro e análise dos dados Todos esses equipamentos precisam ser conectados um sistema de registro e armazenamento de dados, conhecidos como datalogger e um multiplexador AM 16x32, programado para fazer medidas tanto em 33 baixa como em alta frequência, gerando dois arquivos que ficam armazenados em um cartão de memória. Esse monitoramento é de grande importância a fim de entender os processos de crescimento e desenvolvimento da vegetação da caatinga em resposta as trocas de energia com a atmosfera e ao conteúdo de água no solo. O processamento dos dados envolve a utilização de softwares específicos, como o Loggernet para conversão dos dados dos cartão de memória em um formato que pode ser utilizados em planilhas eletrônicas, no caso dos dados de baixa frequência, e que podem ser processados no programa Alteddy (http://www.climatexchange.nl/projects/alteddy/ index.htm), para os dados de alta frequência, dentre outros. Considerações finais A quantificação das trocas de radiação, energia, CO2 e água em superfícies vegetadas é essencial para o melhor entendimento do funcionamento dos agroecossistemas e para avaliar possíveis mudanças na interação entre eles e a atmosfera, na partição de energia, e nos ciclos de água e carbono, decorrente de mudanças ambientais e climáticas. O conhecimento das metodologias adotadas, suas aplicações, suas exigências, suas limitações, suas necessidades em termos de sensores e processamento são fundamentais para o sucesso da pesquisa científica. As torres micrometeorológicas (Figura 10) podem ser instaladas em diversos tipos de superfícies vegetadas, a fim de realizar medidas da resposta do ambiente às condições de cobertura do solo. Atualmente, existem 34 duas torres micrometeorológicas instaladas em áreas de caatinga preservada e degradada, a partir das quais estão sendo obtidas informações de possibilitarão um melhor entendimento das relações entre a cobertura da superfície e o ambiente. Além destas, de caráter permanente, existem outras que podem ser consideradas temporárias, para investigação de cultivos agrícolas, como em cana-de-açúcar e uva de vinho. O monitoramento de longo prazo exige manutenção permanente dos equipamentos e atualização constante dos bancos de dados, o que envolve pessoal qualificado e aporte de recursos. Devido a extensão da Caatinga e suas diversas composições, associadas ao clima semiárido, estudos nesse sentido precisam ser realizados em outras áreas, o que deve envolver uma equipe inter e multidisciplinar, ao mesmo tempo em que as mudanças de uso da terra também precisam ser estudas, seja para uso agrícola ou decorrentes de processos de desertificação, dentre outros. 35 Torre micrometeorológica com razão de Bowen e correlações turbulentas em pomar de mangueira Torre micrometeorológica com razão de Bowen e perfil do vento em pomar de mangueira 36 Torre micrometeorológica Torre micrometeorológica com razão de Bowen e sistema de correlações correlações turbulentas em turbulentas em área de canavial caatinga degradada Figura 10. Torres micrometeorológicas. Fotos: Magna S. B. Moura. Bibliografia Consultada 37 ARYA, S. P. Introduction to micrometeorology. North Carolina: Academic Press, 1988. 307 p. BALDOCCHI, D., FALGE, E., GU, L., OLSON, R., HOLLINGER, D., RUNNING, S. 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Nesse sentido, vários organismos internacionais têm apelado aos diversos líderes mundiais e chefes de estado de um modo geral, que sejam desprendidas ações que visem objetivamente a redução imediata das emissões dos GEEs e, ao mesmo tempo, que se fomente o desenvolvimento de tecnologias que busquem extrair da atmosfera quantidades substanciais de CO2 e outros gases promotores do efeito estufa. O processo segundo o qual o C é removido da atmosfera é denominado de sequestro de carbono. A consciência pública sobre o significado e importância do sequestro de carbono tem vindo a aumentar desde o 6 Professor visitante da Universidade Federal de Pernambuco Departamento de Ciências Geográficas. 7 Professora da Universidade Federal de Pernambuco - Departamento de Ciências Geográficas. 8 Unidade Acadêmica de Ciências Atmosférica 9 Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco 46 protocolo de Kyoto. O sequestro de carbono é um processo integrante do ciclo de carbono (figura 1) – um ciclo biogeoquímico onde o C é trocado entre a biosfera, pedosfera, geosfera e hidrosfera da Terra. As principais vias naturais de seqüestro de carbono são: (1) a absorção de dióxido de carbono (CO2) pelos oceanos via processos fisico-químicos ou biológicos ou por difusão simples e (2) fotossíntese pela vegetação terrestre. Meios artificiais de sequestro de carbono são, por exemplo: (1) os aterros sanitários e (2) tecnologias de armazenamento de carbono (SAC) que constituem um meio de aprisionar CO2 de combustíveis fósseis e armazená-lo no mar ou abaixo da superfície da terra. Figura 1. Diagrama representativo do ciclo de carbono. 47 A redução da concentração dos GEEs na atmosfera terrestre pode ocorrer segundo diferentes estratégias. Uma delas consistiria no estabelecimento de políticas públicas que assegurassem a diminuição das emissões dos GEEs. Outra consistiria em extrair, ou sequestrar, da atmosfera o CO2, o que poderia ser alcançado com o aumento das áreas plantadas, a recuperação de áreas degradadas, a proteção das florestas, dentre outras, o que corresponderia em incorporá-lo na biomassa vegetal da biosfera. O processo segundo o qual o C é removido da atmosfera é denominado de sequestro de carbono. Uma questão importante consiste em se avaliar como os diversos biomas estão sequestrando carbono da atmosfera. Embora existam diversos métodos destinados à quantificação do carbono estocado na vegetação, aqueles que empregam o sensoriamento remoto e dados meteorológicos usualmente medidos em superfície, se mostram muito atrativos. Uma das razões reside na sua grande cobertura, custo muito baixo e por não ser destrutivo. No Brasil tem sido empregada em alguns biomas técnica baseada na covariância dos vórtices turbulentos, que reúne instrumentação sofisticada e pessoal com formação específica para operar e tratar da imensa massa de informações requeridas pela técnica. Essa instrumentação é instalada em torres micrometeorológicas com altura que depende fundamentalmente da altura das árvores constituintes do bioma estudado. Tem recebido atenção especial a Amazônia, o Pantanal e algumas áreas de cerradão do estado de São Paulo, além de algumas áreas de vegetação natural e áreas agrícolas do estado do Rio Grande do Sul. O bioma Caatinga, não obstante o grande contingente populacional que abriga, tem uma torre nas 48 imediações da Embrapa Semiárido e, mais recentemente, teve uma segunda torre instalada no estado de Pernambuco. Tais técnicas se enquadram como micrometeorológicas e se destacam dentre aquelas destinadas à identificação das diferentes componentes do balanço de energia. Uma limitação associada à obtenção do carbono sequestrado com técnicas micrometeorológicas é que as mesmas são restritas às condições específicas da área de investigação e o que é mais restritivo ainda, é que deve ser extensa e bastante homogênea. Essas condições não são reunidas em áreas de dimensões variadas e muito heterogêneas, problemas que em geral não são impeditivos quando fundamentadas em imagens orbitais. Para se estimar os diferentes componentes do balanço de energia à superfície com imagens de satélites, alguns algoritmos foram formulados nos últimos anos, destacando-se dentre os mesmos o SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land), que tem sido empregado em diferentes países e já é utilizado em rotina operacional em estados americanos. A Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, a Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, o Instituto de Pesquisas Hidrológicas - IPH da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, a Universidade Estadual Norte Fluminense - UENF, o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE, a Universidade Federal do Ceará - UFC, a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, a Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, a Universidade Federal de Alagoas – UFAL, a Universidade Federal de Sergipe - UFS e dentre outras têm realizado 49 estudos com o SEBAL. Nesse sentido, já foram defendidas diversas dissertações de mestrado e publicados vários resultados em revistas científicas. Atualmente, a UFCG, UFPE e Embrapa – Semiárido inicia estudos em colaboração com a Utah State University, em áreas com cana-de-açúcar irrigada, em virtude do interesse de vários países quanto a sua utilização como biocombustível. Além dos cerca de 20.000 ha atualmente irrigados com cana-de-açúcar no Vale do São Francisco, está projetada a implantação até 2012 de mais 110.000 ha com a referida cultura, o que representará um aumento substancial no carbono absorvido da atmosfera e uso da água, que precisará ser aplicada com sustentabilidade. Além das áreas irrigadas, está sendo investigada a adequabilidade do SEBAL em novos biomas: Ilha do Bananal – TO, Bacia do Mogi-Guaçu - SP e áreas do Pantanal Mato Grossense. Nessas áreas o fluxo de calor no solo em geral é muito baixo e uma questão de relevância diz respeito ao fluxo de calor armazenado na copa da vegetação. A obtenção do carbono armazenado pela vegetação em dada área pode ocorrer segundo diferentes técnicas. Uma das mais utilizadas consiste em se empregar a técnica das correlações turbulentas para quantificar o fluxo de CO2 em florestas e outros biomas. Esta técnica goza de grande prestígio pela comunidade científica, mas seu custo e operacionalidade muitas vezes se apresentam como proibitivos para vários grupos de pesquisa. Outra questão que restringe o uso de tal técnica é que a mesma geralmente se aplica a áreas de grande extensão e homogeneidade. Nesse sentido, os métodos que empregam o sensoriamento remoto apresentam a grande vantagem da cobertura espacial, baixo custo e maior operacionalidade. Uma técnica 50 baseada em sensoriamento remoto (e poucos dados complementares de superfície) reúne modelo de radiação fotossinteticamente ativa de Monteith, modelo de eficiência de uso de luz aprimorado por Field e colaboradores, e algoritmo de balanço de energia de Bastiaanssen. Neste capítulo esta técnica que possibilita quantificar o carbono armazenado pela comunidade vegetal de uma dada área, será denominada de Balanço de Carbono – BC. Uma limitação ao emprego dessa técnica, bem como, de todas aquelas que dependem de imagens radiativas da superfície, reside no fato de que a existência de nebulosidade no instante da passagem do satélite impede que o sensor a bordo do mesmo possa medir a radiância das bandas reflectivas e termais, impossibilitando a determinação dos balanços de radiação e de energia e, consequentemente, inviabilizando o balanço de carbono. Quando a pesquisa se apoia apenas no emprego do TM – Landsat 5, com revisita a cada 16 dias, o emprego da técnica fica ainda muito restrito, pois mesmo no Semiárido brasileiro excepcionalmente se dispõe de mais de uma imagem por ano que reúna condições de uso com a técnica. Em outras regiões do Brasil, paradoxalmente, existe um número muito maior de imagens TM por ano. Outro problema a ser enfrentado diz respeito a indisponibilidade de dados meteorológicos que complementam as informações extraídas com as imagens para que se possa aplicar o SEBAL. Nesse sentido, está sendo avaliada a precisão da efetivação do balanço de carbono mediante o emprego de produtos derivados do MODIS, a bordo dos satélites Terra e Aqua com passagens diárias. Nesse sentido, aumentam-se consideravelmente as possibilidades de imagens que reúnam condições de aplicação da técnica. A pesquisa, 51 cuja metodologia se apresenta neste capítulo, tem por principal objetivo quantificar o carbono sequestrado da atmosfera por meio de imagens TM – Landsat 5 e produtos derivados do MODIS – Terra/Aqua. Áreas que estão sendo estudadas: compreendem três grades projetos irrigados no Semiárido brasileiro (19.000 ha de cana-de-açúcar em Juazeiro – BA, grande centro produtor de melão irrigado no Rio Grande do Norte, o perímetro Irrigado São Gonçalo na Paraíba e duas áreas de Cerradão (uma no município de Santa Rita do Passa Quatro – SP e outra na Ilha do Bananal – TO). Dados radiométricos orbitais: para a efetivação dos balanços de radiação, de energia e de carbono, estão sendo utilizadas imagens geradas pelos sensores TM – Landsat 5 e MODIS – Terra/Aqua. O TM opera em sete bandas espectrais (resolução de 30 m nas bandas refletivas e de 120 m na banda termal) e o MODIS em 36 bandas, com resolução variando de 250 m a 1000 m. Algoritmo SEBAL: tem sido amplamente utilizado na obtenção da fração evaporativa e mais notadamente na obtenção da evapotranspiração diária, deriva dos termos ingleses Surface Energy Balance Algorithm for Land. As etapas computacionais destinadas para a obtenção dos componentes do Balanço de Energia - BE e da evapotranspiração são detalhadas abaixo. O primeiro componente do BE que é calculado pelo SEBAL é o saldo de radiação, Rn, que é dado por: em que: α é o albedo da superfície, Rs↓ é a radiação solar 52 incidente, RL↓ é a radiação de onda longa (termal) emitida pela atmosfera na direção da superfície, RL↑ é a radiação de onda longa (termal) emitida pela superfície e ε 0 é a emissividade da superfície. Além de imagens TM estão sendo empregadas imagens MODIS, a bordo dos satélites Terra e Aqua. Para efetivar o balanço de radiação instantâneo com o MODIS para condições de céu com pouca ou nenhuma nebulosidade utiliza-se dos produtos MOD07 (temperatura do ar e do ponto de orvalho em 20 níveis atmosféricos, água precipitável e carga de aerossóis), MOD09GA (dados de reflectância de sete bandas espectrais, com o que se obtém índices de vegetação, albedo e ângulo zenital solar) e MOD11A1 (temperatura da superfície e emissividades). Figura 2 – Fluxograma das etapas computacionais do processamento de obtenção do saldo de radiação à superfície – Rn com TM – Landsat 5 e alguns poucos dados de superfície. Os processos de determinação de cada uma das etapas para imagens TM – Landsat 5 contidas no 53 fluxograma da Figura 2 estão detalhados em Silva et al. (2011) e podem ser facilmente reproduzidos. Recomenda-se que a transmitância atmosférica seja obtida por meio de expressão com precisão maior que aquela que usa apenas dados da altitude de dada pixel da imagem. Nesse sentido, a transmitância atmosférica pode ser alternativamente determinada por modelo que considera o conteúdo de vapor e a turbidez atmosférica, que é conceitualmente mais preciso e que tem sido usado no METRIC, qual seja: sw 0.00146 P W 0.35 0.627 exp 0.075 K t cos hor cos hor 0.4 em que P é a pressão atmosférica (kPa), W a água precipitável (mm), e θhor o ângulo zenital do Sol, referente a uma superfície horizontal. Kt é um coeficiente de turbidez atmosférica 0 < Kt ≤ 1, sendo igual à unidade para atmosfera limpa e Kt = 0,5 para atmosfera extremamente túrbida ou poluída. Índices de vegetação: para os propósitos do Balanço de Radiação são necessários os índices IVDN, IVAS e IAF. O IVAS é um índice de vegetação que visa amenizar os efeitos de ―background‖ do solo e é obtido no cômputo do IAF, que representa a razão entre a área total de todas as folhas contidas em dado pixel, pela área do pixel, será feito mediante equação empírica desenvolvida em Idaho – Estados Unidos. Emissividades: o cálculo da temperatura da superfície – Tsup com imagens TM é feito através da equação de Planck invertida, proposta para um corpo negro, para o qual a emissividade é igual a 1. Como cada pixel não 54 (2) constitui um corpo negro, há necessidade de se estabelecer a sua emissividade no domínio espectral da banda termal - εNB, para fins do cômputo da Ts, bem como no cômputo da radiação de onda longa emitida pela superfície, que nesse caso considerada a emissividade da banda larga ε0 (4 – 100 µm). O cômputo de ambas as emissividades é feito para as imagens TM – Landsat 5 através de equações parametrizadas nos Estados Unidos, enquanto que a determinação da emissividade de cada pixel com dados MOD11A1 combina as emissividades das bandas 31 e 32 do MODIS. Fluxo de Calor no solo: é obtido segundo equação empírica desenvolvida na Holanda, em função da temperatura da superfície - Tsup (ºC), albedo da superfície - α, IVDN e o saldo de radiação - Rn. Fluxo de Calor Sensível: Na Figura 3 está representado o esquema de cômputo de H, que é feita com base na velocidade do vento e temperatura da superfície usando uma calibração interna da diferença da temperatura entre dois níveis próximos à superfície. O SEBAL requer a escolha de dois pixels na cena de estudo, denominados ―pixels âncoras‖, para se determinar a variação de temperatura (dT) entre dois níveis de referência, bem como a resistência aerodinâmica ao transporte de calor rah, pixel a pixel, isto é, para toda a cena. Inicialmente, são colhidas as informações da estação meteorológica local, ou seja, a velocidade do vento u (m s-1) e a altura média da vegetação h presente na mesma, com base nas quais pode-se projetar a velocidade do vento ao nível de 200 m – u200 (blending height), onde se assume que os efeitos da rugosidade da superfície são desprezíveis. Levando-se em conta a hipótese de que u 200 é 55 espacialmente constante, se obtém a velocidade de fricção u* (m s-1), em que zom (m) é obtido em função do IVAS e na sequência se estima a resistência aerodinâmica rah em cada pixel. O passo seguinte se computa da diferença de temperatura próxima à superfície dT ( oC) para cada pixel, a partir dos pixels âncoras (quente e frio). Figura 3 – Fluxograma das etapas computacionais do processo iterativo para a obtenção do fluxo de calor sensível – H. O pixel ―frio‖ deve localizar-se em área com vegetação muito ativa e em condições de ótimo suprimento de água (ou em reservatório de águas profundas), onde se assume que o fluxo de calor sensível é nulo e o fluxo de calor latente é máximo, dado pela diferença entre Rn e G. Dessa forma, a diferença de temperatura do pixel frio é nula. Para o pixel quente 56 considerar-se-á que o fluxo de calor latente é nulo e o fluxo de calor sensível é máximo, sendo dado pela relação Hquente = Rn,quente – Gquente. O valor de H obtido inicialmente para cada pixel, não é adequado e serve apenas com valor inicial de um processo iterativo que visa a cada iteração refiná-lo, considerando efetivamente a condição de estabilidade local. Nesse sentido, o comprimento de Monin-Obukhov L é utilizado para definir as condições de estabilidade da atmosfera e estabelecimento das correções de estabilidade para o transporte de momentum e de calor. Para isto, a velocidade de fricção u* corrigida é dada por: u* u 200 .k 200 ln ψ m(200 m) z0 m (3) em que Ψm é a correção da estabilidade para o transporte de momentum a 200 m. De posse dos valores corrigidos de u*, será computado o valor corrigido da resistência aerodinâmica ao transporte de calor rah (s m-1) através de: ln rah z2 ψ h(z 2 ) ψ h(z1 ) z1 u* .k (4) em que z2 = 2,0 m, z1 = 0,1 m, e Ψh(z2) e Ψh(z1) são as correções de estabilidade para o transporte de calor a 2,0 m e 0,1 m, respectivamente. Obtidos os valores desses 57 parâmetros retorna-se ao cômputo da função da diferença de temperatura, repetindo-se os cálculos mencionados anteriormente até que se obtenha estabilidade nos valores da diferença de temperatura (dT) e da resistência aerodinâmica (Figura 2). Fluxo de calor latente: é obtido pela simples diferença entre o saldo de radiação, o fluxo de calor no solo e o fluxo de calor sensível: LE = Rn – G – H (5) em que LE é o valor do fluxo de calor latente instantâneo, ou seja, seu valor no momento da passagem do satélite e os demais termos já foram definidos. Fração evaporativa: é dada pela razão entre o LE instantâneo em cada pixel e a diferença entre Rn – G, ou seja, FE = LE / (Rn – G), que tem importância destacada no balanço de carbono. Biomassa acumulada total e carbono sequestrado: a determinação da Biomassa Acumulada Total acima do solo – Bio, cujas etapas computacionais são apresentadas a seguir, começando com o cômputo da Radiação Fotossinteticamente Ativa – RFA (MJ m-2 dia-1), segundo expressão: RFA = 048 x Rs,24h, em que Rs,24h representa a radiação solar global diária incidente em MJ m-2. A Radiação Fotossinteticamente Ativa Absorvida Diária - RFAA (MJ m-2) pela vegetação pode ser obtida segundo: RFAA = (0,161+1, 257.IVDN) RFA 58 (6) Enquanto que a biomassa acumulada - Bio (kg ha-1) é estimada por: Bio = 10. (RFAA(t).t) (7) em que: t é o período sobre o qual pretende-se obter o acúmulo de biomassa e ε (g MJ-1) é a eficiência do uso de luz, dada pelo modelo de Field et al. (1995): '.T1 .T2 .FE (8) em que: ε’ é um fator de conversão máximo característico da cultura em condições ambientais ótimas, cujo valor deve ser obtido para as diversas espécies da área de estudo; FE é a fração evaporativa e T 1 e T2 relatam a ordem de crescimento da planta, dados por Bastiaanssen e Ali (2003): 2 T1 = 0,8 + 0, 02Topt 0, 0005Topt T2 1 1 . 1+ exp(0, 2 Topt 10 Tmon ) 1+ exp[0,3( Topt 10 Tmon )] em que: Topt é a temperatura média do ar do mês de máximo IAF ou IVDN (°C) e Tmon é a temperatura média mensal do ar (°C). APLICAÇÃO Resultados preliminares: A técnica de sequestro de carbono aqui apresentada combina modelo de estimativa da RFA absorvida proposto por Monteith (1972), com o 59 (10) (11) modelo de eficiência de luz de Field et al. (1995) e o algoritmo SEBAL. Para o período de 1 a 17 de novembro de 2008, no Perímetro Irrigado São Gonçalo – PISG contabilizou-se 214,6 MJ m-2 de RFA, obtidos ao se multiplicar a radiação solar global diária no mesmo período por 0,48. Considerou-se uma eficiência de uso de luz máxima na área como um todo de 2,5 g MJ-1, empregada em estudos globais. Apresenta-se na Figura 4 a eficiência de uso da luz – EUL - ε (g MJ-1) no dia 1 de novembro de 2008 na área do PISG e vizinhanças. Observa-se que no PISG a EUL situou-se 0,48 e 1,79 g MJ-1. No mês de novembro a radiação solar global diária foi em média de 26 MJ m -2, o que resultaria em 12,5 MJ -2 dia-1 de RFA e uma biomassa acumulada mensal no PISG de 168 a 670 g m-2, ou uma quantidade de carbono sequestrado variando de 0,8 a 3,1 ton ha-1, apenas no mês de novembro no PISG. Com base no IVDN e na FE dos dias 1 e 17 de novembro, obteve-se a estimativa da biomassa seca acumulada e, na sequência, a estimativa do carbono sequestrado – CS (ou carbono acumulado pela vegetação) em cada pixel da cena de estudo. Observa-se que o CS no PISG situou-se entre 57 e 176,0 gr m-2, o que corresponderia a uma variação de 0,57 a 1,76 tonelada de carbono sequestrado por hectare, Figura 5. Nas áreas com medições do fluxo de CO2 estão sendo contabilizadas as quantidades de carbono sequestrado para se avaliar tais resultados com a técnica apresentada neste capítulo. 60 Figura 4 – Eficiência de uso da luz – EUL (gr MJ-1) no dia 1 de novembro de 2008 no Perímetro Irrigado São Gonçalo e vizinhanças Figura 5 – Carbono acumulado (gramas / m2) no período de 1 a 17 de novembro de 2008 no Perímetro Irrigado São Gonçalo – PB Bibliografia consultada 61 ALLEN, R. G.; MORSE, A.; TASUMI, M.; TREZZA, R.; BASTIAANSSEN, W.; WRIGHT, J. L.; KRAMBER, W. Evapotranspiration from a satellite-based surface energy balance for Snake Plain aquifer in Idaho. Presented at the meeting of Unite States Committee on Irrigation, Drainage, and Food Control at San Luis Obispo, CA, 2002. ALLEN, R. G.; PEREIRA, L. S.; RAES, D.; SMITH, M. Crop evapotranspiration - Guidelines for computing crop water requirements - FAO Irrigation and drainage paper 56. Rome-Italy, 1998. ALLEN, R.; TASUMI, M.; TREZZA, R. 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Acesso em: 07 de Julho de 2005. 70 CARACTERIZAÇÃO RADIOMÉTRICA DO IKONOS, ÍNDICES DE PIGMENTOS, DE COBERTURA VEGETAL E CARBONO ORGÂNICO ARBÓREO Josiclêda Domiciano Galvíncio10 Bernardo Barbosa da Silva11 Introdução Na ausência de nuvens, observações com sensoriamento remoto da reflectância solar e do infravermelho termal têm extraordinária utilidade para o monitoramento da biosfera terrestre e dinâmica da vegetação nas diferentes escalas espaço-temporais. Os sinais captados por sensores a bordo de satélites nessas bandas são indiretamente relacionados com parâmetros biofísicos chaves e com propriedades bioquímicas da vegetação que são necessários para avaliar a quantidade de carbono, água e energia na superfície da terra (Houborg et al., 2011). Condições precisas para monitoramento dos fluxos em superfície no âmbito de escalas regionais têm utilidade no planejamento e manejo nos recursos hídricos, previsões de produtividade agrícola e previsão numérica do tempo. Quantidades biofísicas derivadas de imagens com cobertura em faixas do espectro 10 Professora da Universidade Federal de Pernambuco - Departamento de Ciências Geográficas. 11 Professor visitante da Universidade Federal de Pernambuco Departamento de Ciências Geográficas. 71 eletromagnético reflectivo incluem índices de vegetação, albedo e índice de área foliar, que podem ser relacionados com a eficiência de uso da luz por parte da comunidade vegetal e, por conseguinte, constituem elementos valiosos na determinação do carbono assimilado pela vegetação, uso consultivo de água e trocas energéticas entre a superfície e a atmosfera (Bonan, 1995). Ademais, imagens de satélite nas faixas espectrais do verde e vermelho propiciam estimativas do conteúdo de clorofila da folha (Cab), que é um importante indicador das condições fisiológicas das plantas. A clorofila absorve a radiação fotossinteticamente ativa e assim funciona como pigmento vital para a fotossíntese, cuja quantificação se torna importante e, portanto, indispensável no monitoramento da produtividade da vegetação e excepcional para indicar as condições da fisiologia da planta. As vantagens do uso do sensoriamento remoto orbital para monitoramento dos fluxos da superfície terrestre têm sido bem documentadas no Brasil (Silva et al., 2011; Bezerra et al., 2011; Gionco et al., 2010; Santos et al., 2010; Bezerra et al., 2010; Borges et al., 2010; Santos e Silva, 2010; Santos et al., 2008; Bezerra et al., 2008; Silva et al., 2008; Santos et al., 2007; Silva et al., 2006;) e no exterior (Bastiaanssen et al., 1998; Anderson et al., 1997; Anderson et al., 2008; Kustas & Anderson, 2009). A maioria dos modelos de superfície da terra utilizados no mundo e, em especial no Brasil, se utiliza de equações com base principal em índices de vegetação e no IAF (ex. Machado et al., 2011), para estudar a dinâmica da vegetação. Assim, fundamentais controles fisiológicos da vegetação e fluxo que ocorrem à superfície 72 são tratados de forma menos rigorosa (Houborg et al., 2011). Devido a falta de dados de entrada da eficiência fotossinteticamente ativa, em geral, são usualmente atribuídos valores fixos e isso são um complicador para uma precisa representação no espaço e no tempo, principalmente quando se estuda grandes áreas com fração de cobertura da vegetação muito heterogêneas (Gower et al., 1999; Sellers et al., 1996; Wullschleger, 1993). Mesmo que o sensoriamento remoto tenha proporcionado um extraordinário avanço no detalhamento de estudos espaço-temporal, uma representação mais detalhada das condições da vegetação se faz necessário quando se quer determinar com precisão a sazonalidade e magnitude das taxas de sequestro do CO2 (Kosugi et al., 2003; Houborg et al., 2009b; Wilson et al., 2000; Xu & Baldocchi, 2003). Tradicionalmente, o uso de sensoriamento remoto para caracterização e detecção de CO2 tem sido dificultado pela complexidade envolvida em relacionar o sinal do satélite com as caracterisiticas da vegetação da superficie da terra. Não obstante, tem se mostrado muito útil no rastreamento de informações acerca da eficiência fotossinteticamente da vegetação no espaço e no tempo. Modelos de transferência radiativa baseados em leis da física que descrevem a transferência e interação da radiação dentro da coluna atmosférica e dossel fornecem uma explicação da conecção entre variáveis biofisicas da vegetação e o sinal da radiância detectada pelo sensor a bordo do satélite. Correção atmosférica precisa dos dados dos satélites é particularmente importante para a base física ou semi-empírica dos algoritmos, pois os dados de entrada nos algoritmos requerem observações quantitativas precisas da reflectância (Yi et al., 2008). A alta qualidade 73 radiometrica dos atuais sensores dos satélites (Kaufman et al., 1998), os avanços na modelagem de tranferência radiativa atmosférica (Berk et al., 2005; Kotchenova & Vermonte, 2007) e a aprimorada capacidade de descrever as caracteristicas do espalhamento e absorção atmosférica no espaço e no tempo (Holben et al., 2001; Vermonte et al., 2002) tornam possível atualmente fazer uma recuperação remota de características da vegetação com precisão aceitável e viável (Fang & Liang, 2005; Gitelson et al., 2008;Verger et al., 2009; Zhang et al., 2009). O conteúdo de clorofila é cada vez mais reconhecido como uma informação chave para a quantificação do funcionamento fotossintético da vegetação e estudos recentes têm mostrado que as técnicas com base diretamente na Cab têm grande utilidade para estimar o uso da eficiência da luz e, portanto, do fluxo de carbono assimilado pelas plantas (Gitelson et al., 2008; Zhang et al., 2009; Wu et al., 2009; Houborg et al., 2011). O comportamento espectral de reflectância do dossel depende de uma complexa interação de diversos fatores: internos (por exemplo, estrutura da folha, composição bioquímica da folha, e o efeito de backgraund do solo) e externo (por exemplo, geometria do ângulo de visada, estado atmosférico) (Baret, 1991). A avaliação do ambiente através do sensoriamento remoto pode variar significativamente no tempo e no espaço, e de um tipo de cultura para outro. Como consequência, não há uma relação única entre um parâmetro de vegetação e um índice de vegetacão de sua escolha, mas sim uma família de relacionamentos, cada um em função das características do dossel, dos efeitos do fundo do solo e das condições externas (Baret & Guyot, 1991; Colombo . 74 et al, 2003; Gobron et al, 1997;. Haboudane et al, 2004;. Houborg et al,. 2007a). Modelos baseados nos processos físicos provaram ser uma alternativa promissora para descrever a transferência e interação da radiação dentro do dossel com base em leis físicas e, assim, fornecer uma conexão explícita entre as variáveis biofísicas e da reflectância do dossel. Até o momento, poucos estudos existem usando satélites de alta resolução espacial para estimar o conteúdo de clorofila da planta. Normalmente os satélites de alta resolução espacial são utilizados apenas na forma de visualização dos alvos e com isso efetuar o mapeamento de uso e ocupação do espaço, em especial espaços urbanos. As imagens de alta resoluação espacial possuem custo muito alto e nesse sentido é importante que se procure maximar seu uso. Um dos motivos do pouco uso de imagens de alta resolução espacial para estudos com a parte fisica dos dados da imagem ocorre devido a inexistência ou pouca divulgação dos coeficientes de calibração dos sensores dos satélites de alta resolução espacial, como por exemplo o IKONOS que possui resoluçaõ espacial de quatro metros nas bandas multiespectrais e de um metro na pancromática.. O satélite IKONOS apresenta potencial para caracterização da quantidade de clorofila da vegetação que, por sua vez, pode auxiliar na estimativa do seqüestro de carbono da vegetação. Apesar do potencial desse dado, algumas dificuldades são ainda encontradas no seu uso, uma vez que existem poucos estudos que efetuem as correções radiométricas das imagens do satélite IKONOS. As correções radiométricas das imagens de satélites são de grande importância uma vez que leva em 75 consideração o espectro solar, condições atmosféricas, e reflectância da superficie. Cada uma dessas tarefas requer substancial recursos em termos de equipamentos, pessoal e oportunidade. Assim, este capitulo tem como objetivo apresentar os procedimento para correção radiométrica do sensor do satélite IKONOS e efetuar estimativa dos indices de pigmentos, cobertura vegetal, biomassa e Carbono orgânico arboreo aplicando a uma área de Caatinga no sitio PELD localizado em Petrolina-PE. Calibração radiométrica do satélite IKONOS Radiância A calibração radiométrica dos sensores dos satélites IKONOS pode ser obtida através da equação 1: 10 4 DN L Coef BandaWith (1) em que DNλ é o número digital da banda λ e Coef λ e Bandawith λ são os coeficiente de calibração de cada banda, ver Tabela 1. Tabela 1 - Coeficiente de calibração radiométrica por banda. Comprimento Coeficiente Banda Esunλ de onda (μm) de with (Wm 2 μm 1 ) calibração Banda 1 (0,45 728 71,3 1930,9 – 0,52) 76 Banda 2 (0,510,60) Banda 3 (0,63 – 0,70) Banda 4 (0,76 – 0,85) Pan 727 88,6 1854,8 949 65,8 1556,5 843 95,4 1156,5 161 403 1375,8 Reflectância A reflectância dos alvos podem ser obtidas através da equação 2 que representa o cômputo da reflectância monocromática de cada banda (ρ λi ) , definida como sendo a razão entre o fluxo de radiação refletida e o fluxo de radiação incidente (Allen et al., 2002). Essa equação já foi utilizadas por Galvíncio, 2011, Silva, 2011 Galvincio, 2010, Silva, 2010, Galvincio, 2009,Silva, 2009, Galvincio, 2008, Silva, 2008, Galvincio, 2007, Silva, 2007, Galvincio, 2006, Silva, 2006 e Galvincio, 2005 para imagens do satélite Landsat. L L d 2 (2) ESUN CosZ em que L λ é a radiância espectral de cada banda, ESUN λ é a irradiância solar espectral de cada banda no topo da atmosfera (Wm 2 μm 1 , Tabela 1), Z é o ângulo 2 zenital solar e d é o quadrado da distância média TerraSol (a distância Terra-Sol em dado dia do ano (DSA)), que de acordo com Iqbal (1983), é dada por: 77 d r 1 0,033cos(DSA.2 / 365) (3) em que DSA representa o dia seqüencial do ano e o argumento da função cos está em radianos. O valor médio anual de d r é igual a 1,00 e o mesmo varia entre 0,97 e 1,03, aproximadamente. Quando a área de estudo tem pequena, ou mesmo declividade nula, o cosseno do ângulo de incidência da radiação solar é simplesmente obtido a partir do ângulo de elevação do Sol (E), que se encontra no cabeçalho da imagem, ou seja: cos z cos( E ) 2 (4) em que o argumento do cos está em radiano. Em estudos em que as áreas possuem inclinação considerável, o ângulo de incidência da radiação solar depende da inclinação da superfície e do seu aspecto, isto é, do azimute da normal da superfície. Nesses casos, se faz necessário obter, para a área de estudo, o Modelo de Elevação Digital ou em inglês Digital Elevation Model (DEM), (Silva, 2005). Esses DEMs podem ser obtidos através do site www.cnpm.embrapa.br. Índices de pigmentos Na região do visível a alta absorção da energia radiante ocorre devido a quantidade de pigmentos na 78 folha, principalmente as clorofilas e os carotenóides (Knipling, 1970) e portanto, é possível detectar as mudanças no conteúdo de clorofila pelos cálculos dos índices de vegetação na região do visível. O SIPI é um índice que compara os carotenóides com a clorofila a, PSSR são indicadores da clorofila a e b, esses índices são usados para estimar as mudanças na concentração de carotenóides e clorofila. SIPI ( R800 R445 ) /( R800 R680 ) (5) em que R445,R680 e R800 são refletâncias espectrais em 445, 680 e 800nm, respectivamente. PSSRa R800 / R675 (6) PSSRb R800 / R650 (7) em que R650, R675 e R800 são as reflectancias espectrais em 650, 675 e 800 nm, respectivamente. Red Edge índex R(red edge) ( R670 R780 ) / 2 em que R670 e R780 são os valores das reflectâncias espectrais em 670 e 780 nm, respectivamente. Índices de Vegetação: NDVI, SAVI, IAF e NDWI 79 (8) O Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (Normalized Difference Vegetation Index - NDVI) é obtido através da razão entre a diferença das refletividades do IV-próximo ( mesmas: NDVI em que ρ IV ) e do vermelho ( ρV ), pela soma das ρ IV ρ V ρ IV ρ V (9) ρ IV e ρ V correspondem, respectivamente, as bandas 4 e 3 do IKONOS. O NDVI é um indicador sensível da quantidade e da condição da vegetação verde. Seus valores variam de –1 a +1 e para superfícies com alguma vegetação o NDVI varia de 0 e 1, já para a água e nuvens o NDVI geralmente é menor que zero. O cálculo do Índice de Vegetação Ajustado para os Efeitos do Solo (Soil Adjusted Vegetation Index - SAVI) que é um índice que busca amenizar os efeitos do ―background‖ do solo, pode ser obtido pela expressão (Huete, 1988): SAVI (1 L)(ρ IV ρ V ) (L ρ IV ρ V ) (10) em que L é constante. Alguns valores para L podem ser obtidos em Huete &Warrick, 1990; Accioly et al., 2002 e Boegh et al., 2002. 80 O Índice de Área Foliar (IAF) é definido pela razão entre a área foliar de toda a vegetação por unidade de área utilizada por essa vegetação. O IAF é um indicador da biomassa de cada pixel e pode ser estimado pela seguinte equação empírica obtida por Allen et al. (2002): 0,69 SAVI ln 0,59 IAF 0,91 (11) Segundo Cardozo et al. (2009), o índice de vegetação Normalized Difference Water Index (NDWI), proposto por Gao (1996) é relacionado com o conteúdo de água presente nas folhas. Cardozo et al. (2009) afirmam que este índice se apresenta como uma importante ferramenta em estudos relacionados ao vigor vegetativo. O mesmo é obtido através das bandas do infravermelho próximo e do infravermelho médio (OLIVEIRA, 2010): Estudos mostram que o NDWI está correlacionado com o conteúdo de água do dossel vegetal, indicando mudanças na biomassa e valores oscilantes de umidade nas plantas (Hardisky et al., 1983; Gao, 1996). Esse índice de umidade já foi utilizado por autores como Fensholt & Sandholt (2003) em seus estudos de monitoramento do estresse hídrico em ambiente semiárido no Senegal. 81 Q un atifca çã oda bio m a saeoa cú m u lode carbo norgâ nicoarbóre o Para obtenção da biomassa pode ser utilizada a equação proposta por Watlawick et al., (2006). 6019,0623 – 5098,2223 (NDVI) - 68717,7106banda2 10038,4001banda1 E para obtenção do aúmulo de carbono orgânico pode ser utilizada a equação proposta por Watlawick et al., (2006). 2515,0973 - 1894,4799.(NDVI) - 28855,8915.(banda 2) -14271,6196.(banda 1) APLICAÇÃO A aplicação dos métodos apresentados neste capítulo foi na área de caatinga preservada da Embrapa Tropical Semiarido, onde está localizado o sitio PELD 22 (SerCaatinga) com coordenadas de (09º09 'S latitude e 40º22' W longitude), localizado no município de PetrolinaPE. Foi utilizada uma imagem de satélite do IKONOS obtida no dia 26/08/2008, com azimute 49,7925, elevação 60,79709 e hora da passagem satélite: 13: 13 GMT. O SAVI da área em estudo esteve variando entre apresentou 0,28 a 0,31, Figura 1 e o IAF esteve menor do que 1.5, Figura 2, o PSSR menor do que 1,5 (Figura 3) e o red edge também se apresentou menor do que 1,5, (Figura 4). 82 Figura 1 – SAVI 83 Figura 2 – IAF 84 Figura 3 – PSSR 85 Figura 4 – Red Edge Considerações finais Estudos têm mostrado que a utilização de imagens provenientes do satélite IKONOS para estimativa de biomassa e seqüestro de carbono pode ser promissora uma vez que quantificações da biomassa aérea e carbono 86 possam ser estimados com alta resolução espacial, necessitando para tanto que modelos matemáticos sejam ajustados. Bibliografia consultada Adams, M.L., Philpot, W.D., Norvell, W.A., 1999. Yellowness index: an application of spectral second derivatives to estimate chlorosis of leaves in stressed vegetation. 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