MAPEAMENTO DE CONHECIMENTOS ATRAVÉS DE UMA ABORDAGEM POR PROCESSOS COMO ALTERNATIVA PARA A FORMULAÇÃO DE PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO Vinícius C. Cardoso Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Tecnologia, Bloco F, Sala F-117 Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 21.945-970. [email protected] Daniel da Silva Moreto Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Tecnologia, Bloco F, Sala F-117 Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 21.945-970. [email protected] Leandra Ribeiro Oliveira e Silva Universidade Federal do Rio de Janeiro - Centro de Tecnologia, Bloco F, Sala F-117 Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 21.945-970. [email protected] Abstract This article shows a comparative analysis of two alternative methods to define training plans. We’ll try to expose that the traditional method based on functional profiles don’t work so properly as the business processes approach. We believe that mapping the knowledge required for the activities of the business processes and associating them to the positions of the organization is more precise than simply speculate what knowledge is required for each position directly. This belief is supported by the fact that managers normally doesn’t have a structured set of infomations to help them determine what training should be done in order to encrease their subordinates knowledge, they usually does that by feeling, incurring on significant mistakes. The discussions presented below were supported by interviews with Human Resources Departments of three organizations, a telocommunications large company, a energy one and a non profit foundation that manages consulting projects for a University. Keywords: Knowledge Management, Business Processes Engineering and Human Resources 1 Introdução Há tempos os profissionais da área de Recursos Humanos encontram dificuldade para justificar com objetividade, ou seja, de maneira que os stakeholders possam satisfazer seus critérios adotados para análises de custo–benefício de seus investimentos, normalmente financeiros/contabilistas. As imprecisões inerentes às atividades que envolvem o comportamento humano dificultam, por exemplo, a mensuração do retorno sobre o investimento (ROI) de um treinamento porque seus resultados são sempre sujeitos, pelo menos, ao comportamento do aprendiz, na medida em que tanto aprender quanto utilizar os conhecimentos adquiridos serão sempre decisões pessoais, à competência do mestre (se houver), na medida em que tanto seu conhecimento técnico quanto sua habilidade em transmiti-lo serão postos à prova e, por fim, às condições do ambiente de estudo e de trabalho. Por simplificação, acredita-se que as pessoas sempre tenderão a demonstrar sua capacidade intelectual da melhor maneira possível, seja dedicando-se à oportunidade de aprendizado, seja dedicando-se a realização de suas tarefas. Da mesma forma, credita-se à qualidade da proposta do curso e, eventualmente, à reputação do mestre e da escola a qualidade dos ensinamentos, assim como normalmente se despreza a análise da necessidade de realizar transformações nas condições do ambiente para suportar o emprego dos conhecimentos obtidos, a não ser pelas mais óbvias que envolvam aquisição de ativos como máquinas, sistemas etc. Em todos os casos, existem simplificações para que se possa realizar a análise da efetividade do treinamento empreendido, por exemplo, afirma-se que, dadas as condições supracitadas, se o custo total do treinamento foi X, a diferença de desempenho na tarefa (considerando-se que tenha sido positiva) convertida para valores monetários por unidade de tempo foi Y/t, a razão entre eles me diz em quanto tempo o investimento será recuperado, que é uma das formas de se medir o ROI. O problema é que o emprego dos conhecimentos adquiridos sempre estará sujeita a uma série de fatores que muitas vezes não se pode ter controle. Por exemplo, se a implementação de um sistema de informação na empresa for bem sucedida e as pessoas foram bem treinadas na sua utilização, poder-se-ia esperar um bom resultado em termos de desempenho operacional, mas este poderia não melhorar a contento em função de uma motivação diferenciada para fazer o sistema vigorar na organização. Neste caso, poderia ser considerado que a diferença de desempenho supracitada poderia variar e, portanto, não ser passível de determinação a priori para a análise de investimento ou, de outra forma, penalizar a taxa de retorno com um fator associado ao risco da iniciativa. Desta maneira, quanto mais aderente às necessidades de desempenho da organização forem as ações de capacitação, maior será seu retorno (ou pelo menos sua expectativa de retorno) e maior propensão será induzida nos tomadores de decisão para investir nestas atividades. Parece óbvio que, em função da crescente valorização dos trabalhadores do conhecimento (DRUCKER, 1999; DE GEUS, 1998; MACHADO, 2001), é oportuno o estabelecimento de uma política agressiva de treinamento em qualquer empresa e, neste sentido, tornam-se relevantes as ações que possam induzir sua adoção. Este artigo apresenta uma análise comparativa de duas metodologias de elaboração de planos de treinamento e desenvolvimento dos profissionais da organização, uma baseada em análises de competências por função, estado das práticas encontrado na amostra, e outra por processo. Nosso objetivo é demonstrar que a segunda, pela precisão operacional de seu diagnóstico de necessidade de capacitação, é superior em relação a primeira, podendo converter os custos de treinamento mais rapidamente em retorno. Para tanto a metodologia utilizada foi realizar: a revisão bibliográfica dos conceitos associados a Organização e Avaliação do Trabalho, Engenharia de Processos de Negócio e Gestão de Conhecimento; entrevistas com o setor de recursos humanos de três empresas (uma do setor de telecomunicações, uma do setor de energia e uma fundação sem fins lucrativos) para elaboração do método de levantamento das necessidades de treinamento; a análise crítica da metodologia de mapeamento de conhecimento por processo que está em desenvolvimento pelo Grupo de Produção Integrada/COPPE e EPoli/UFRJ e a dedução dos diferenciais teóricos destas propostas metodológicas. 2 Resumo do quadro conceitual Primeiramente, é importante estabelecer as diferenças entre a abordagem funcional e a abordagem por processos. Segundo a literatura consultada sobre estruturas organizacionais (CARSON, 1967; MINTZBERG, 1979 e VASCONCELLOS, 1989), as organizações do tipo funcional propiciam o incremento do conhecimento especializado, na medida em que agrupam os profissionais por especialidade técnica, provocando uma facilidade de diálogo entre pares e conseqüentemente fazendo evoluir a socialização de conhecimentos. No entanto, este tipo de estrutura requer mecanismos de controle lateral que evitem o isolamento das funções e a perda da integridade dos processos de negócio, normalmente transversais a este tipo de organização (RUMMLER et. al., 1995), como ilustra a figura 1. Organização Processos Função A Função B Função C Processo 1 Produtos Processo N Mercado Figura 1: Processos transversais às funções da organização Fonte: RUMMLER et. al., 1995 No início da década de 90, a “onda da reengenharia” fez o conceito de processos ser amplamente discutido sempre com o objetivo de melhorar radicalmente o desempenho da firma, porém com diversas abordagens. Por exemplo, com o intuito de abandonar as práticas obsoletas da organização e instaurar as práticas idealizadas, HAMMER et. al. (1994) vai propor a criação de modelos de processos a partir do zero, sem restrições quanto ao status quo e considerando as ferramentas de trabalho almejadas, como por exemplo, sistemas de informação, bem implementadas, ou seja, funcionando adequadamente. Já em DAVENPORT (1994) há uma proposição mais cautelosa quanto a ruptura com o passado, mas sem reduzir a carga de inovação dos processos. Há também uma maior ênfase da utilização de sistemas de informação como habilitadores do desempenho superior. Uma abordagem mais focada em sistemas ainda é a de SCHEER (1998), que propõe o desenvolvimento e a análise de modelos de processos detalhados em uma ferramenta de modelagem integrada a uma base de dados que seria capaz, conforme o redesenho e o refinamento dos modelos, de gerar especificações do sistema de informação ideal para a situação de processos pretendida. Os avanços nesta área permitiram que a Engenharia de Processos de Negócio se firmasse como uma tecnologia de alto potencial para compreender profundamente as operações de qualquer organização, seja porque provê uma abordagem sistêmica de como os insumos básicos da firma são transformados em produtos, seja porque permite associar à seqüência destas atividades todos os recursos que são utilizados e, até mesmo, como estes são utilizados. Dentre estes recursos poderiam estar os conhecimentos necessários à execução de cada atividade, assunto de particular interesse neste texto. A maneira pela qual devem ser providos adequadamente estes conhecimentos é o objetivo prático principal da área de Gestão do Conhecimento como constatam NONAKA et. al. (1995), DAVENPORT et. al. (1998) e QUINN (1997). Apesar de todos discutirem o conhecimento tanto como informações (chamando de conhecimento explícito) quanto a experiência (chamada de conhecimento tácito), percebe-se uma ênfase maior dos autores ocidentais na tecnologia da informação, enquanto que NONAKA (op.cit.) atém-se mais ao fator humano e às condições do ambiente. Na provisão de conhecimentos aos processos da firma é também importante citar o trabalho de SENGE (1995) que procura estabelecer as condições ideais para inserção de uma cultura de aprendizado contínuo na organização através da eliminação de barreiras e do desenvolvimento de disciplinas na organização. No intuito de medir a efetividade e o estoque dos ativos intangíveis da organização, SVEIBY (1997) vai propor uma estrutura de classes que orientam a definição dos indicadores de desempenho a serem monitorados, facilitando o trabalho de gestão destes ativos, inclusive do conhecimento. De posse destes conceitos, nos foi possível estabelecer um relacionamento entre desempenho operacional, processos e conhecimentos que é apresentado na metodologia de mapeamento de conhecimento por processos apresentada a seguir. 3 Metodologia de formulação de programas de capacitação via processos O método apresentado neste trabalho tem como objetivo a elaboração de conteúdos programáticos baseados em unidades de conhecimento que subsidiem a definição dos Planos de Treinamento e Capacitação da empresa. Para tal, o método utiliza uma ferramenta de modelagem de processos a fim de mapear e registrar em base de dados os conhecimentos necessários por processo e os conhecimentos disponíveis na organização. O cruzamento de ambos permite a identificação da discrepância entre as reais necessidades de competência de cada unidade organizacional e a disponibilidade destas nas pessoas que pertencem às mesmas. A partir desta identificação, a organização estará suprida de informações estruturadas e relevantes que servirão de suporte tanto à área de Recursos humanos quanto ao processo de Planejamento Estratégico baseado nas Competências Centrais (PRAHALAD et. al., 1990). Para a realização do levantamento de conhecimentos, é importante que os processos da organização estejam mapeados porque estes contêm tanto as atividades realizadas pela organização, como os cargos ou unidades organizacionais encarregados das mesmas. Atendida esta premissa, pode-se iniciar o levantamento dos conhecimentos necessários às atividades de cada processo através de reuniões com participantes que conheçam profundamente o processo em análise. Como o assunto “conhecimento organizacional” ainda apresenta certa instabilidade conceitual, tem-se o desafio de não deixar a reunião enveredar para discussões filosóficas e subjetivas, que não digam respeito ao mapeamento de conhecimentos propriamente dito e consumam tempo de trabalho, um recurso cada vez mais precioso. Portanto, para tornar as reuniões mais produtivas, a equipe condutora do projeto deve elaborar uma árvore preliminar de conhecimentos para orientar os entrevistados em direção ao objetivo final de mesma mais rapidamente. 3.1 Árvore preliminar de conhecimentos A construção da árvore preliminar de conhecimentos é importante principalmente pelo fato de auxiliar os entrevistados a compreender o que está sendo entendido como uma unidade de conhecimento, além de fornecer um parâmetro para saber até onde vale a pena detalhar cada conhecimento. Ao iniciar a construção da árvore, a equipe do projeto estima os principais conhecimentos necessários para que as atividades sejam realizadas adequadamente. Estes normalmente compõem o primeiro nível da árvore de conhecimento devido ao seu alto estado de agregação. Porém, este nível de agregação não é adequado ainda para o mapeamento porque não permitiria precisão aos programas de treinamento elaborados posteriormente. Para desmembrar estes grandes temas em outros níveis, é feita uma busca temática através de levantamento de currículos acadêmicos, consultas bibliográficas e entrevistas com pessoas de notório saber (p. ex.: profissionais, docentes etc.). Tendo sido elaborada a árvore preliminar, a mesma é apresentada ao principal responsável pelo processo para que ele a analise e a adeqüe conforme sua percepção das necessidades, sugerindo alterações nas unidades de conhecimento e/ou incluindo e eliminando outras. Procedendo desta maneira para todos os processos da empresa pode-se ainda montar a Árvore Global de Conhecimento da Empresa, elaborada pela consolidação das árvores de todos os processos da organização. 3.2 Mapeamento dos conhecimentos de cada atividade do processo e definição das necessidades de cada unidade organizacional Nesta etapa, cada atividade de cada processo é analisada cuidadosamente pelos entrevistados. Os mesmos devem consultar as árvores de conhecimento existentes, a fim de ajudar na identificação de quais unidades de conhecimento são necessárias para a efetiva realização da atividade que está sendo analisada. Caso perceba que existem unidades de conhecimento necessárias à execução da atividade que não estão presentes na árvore, estes devem ser incluídos na mesma e a revisão da árvore global deve ser feita. Caso se esteja trabalhando com diversas árvores locais e uma global, convém antes de incluir outro conhecimento na árvore da área a consulta a árvore global para checar se alguma outra área já não o fez. Como o processo pode contar com a participação de várias unidades organizacionais, após o mapeamento das necessidades de conhecimento para as atividades, deve-se definir a necessidade para cada unidade organizacional em função de sua responsabilidade pelas atividades do processo. Ou seja, se a atividade A precisa dos conhecimentos K1 e K2 e é executada pela unidade X, logo, a unidade X requer os conhecimento K1 e K2. Adicionalmente, pode-se acrescentar níveis de proficiência aos conhecimentos para aumentar a precisão da análise de necessidades de capacitação. 3.3 Mapear Conhecimentos Disponíveis por Pessoa Esta etapa visa identificar o estoque de conhecimentos da organização e, para este fim, são levantados os conhecimentos que cada uma das pessoas que participam do processo ou da unidade organizacional em análise detêm, novamente, pode-se avaliar também a proficiência com que estas pessoas detêm estes conhecimentos. O método a ser utilizado no levantamento depende da velocidade e da precisão que se espera desta etapa, além das ferramentas que a organização possui. Por exemplo, os principais ERPs (Enterprise Resource Planning) disponíveis no mercado dispõem de módulos de RH que permitem o mapeamento de competências, logo, as empresas que fizerem uso dos mesmos, provavelmente, terão maior facilidade para realizar os levantamentos e as análises. Para refinar os resultados deste levantamento, pode-se seguir métodos distintos de avaliação para cada tipo de conhecimento, na medida em que, a depender do conhecimento em questão, a forma de avaliar mais indicada pode variar. Por exemplo, talvez possamos avaliar a proficiência do indivíduo em Matemática, um conhecimento técnico, através de um teste objetivo, mas este não seria possível no caso de Relacionamento Interpessoal, uma habilidade subjetiva que requer métodos mais heterodoxos (e menos objetivos) de avaliação. Para resultados mais rápidos (e menos precisos) pode-se partir para uma auto avaliação através da aplicação de questionário. Para aumentar a precisão deste método, normalmente realiza-se também uma validação do preenchimento junto ao superior hierárquico imediato. Neste caso, o funcionário deve percorrer todos os conhecimentos relacionados no questionário, registrando se ele tem ou não cada um deles e, nos casos positivos, deve dizer seu nível de proficiência para o conhecimento. Após percorrer todo o formulário, o funcionário pode avaliar se tem algum outro conhecimento que não tenha sido contemplado até o momento e que ele considere que pode contribuir em alguma coisa para a organização, inserindo-o na estrutura e fornecendo a informação do nível de proficiência. 3.4 Matriz de discrepância entre o conhecimento disponível e o Plano de Capacitação Depois de levantadas e validadas as necessidades de conhecimento para a execução dos processos e a disponibilidade de conhecimento dentro da organização, deve-se cruzar estas informações e identificar os "gaps" existentes entre "oferta e demanda" de conhecimento. Esta identificação pode ser feita "manualmente", através de planilhas, ou ainda automaticamente, através do uso de sistemas de informação, de forma análoga a explicada no tópico anterior. Através da análise desta matriz, inclusive dos níveis de proficiência necessários para realizar as atividades, é possível descobrir se existem unidades de conhecimento ou níveis de conhecimento que estão aquém do necessário para a realização das atividades. Desta forma, pode-se inferir com precisão qual a demanda por capacitação, aumentando a efetividade da mesma, já que é possível descobrir exatamente em quais unidades de conhecimento cada funcionário precisa ser treinado e quanto ele precisa. Em decorrência, pode-se determinar qual o esforço necessário em termos de tempo e custo. Além disso, dada uma necessidade de conhecimento, através do mapa de conhecimento disponível é possível identificar qual é o funcionário mais indicado a receber o treinamento no momento. Por exemplo, suponhamos que uma atividade requeira um nível X de proficiência em uma unidade de conhecimento para que seja realizada com efetividade e que nenhum funcionário da área responsável pela sua execução tenha esta unidade de conhecimento disponível no nível requerido. Havendo dois funcionários desta área com esta unidade de conhecimento em diferentes níveis disponíveis para o treinamento, será mais barato treinar o funcionário que apresentar o nível de proficiência mais elevado. Se o objetivo da empresa for treinar o menor número de pessoas para incorrer no menor investimento possível em treinamento, esta medida poderia ser adotada. Por outro lado, se a prioridade for a redução de erros na execução da atividade, talvez fosse mais eficiente treinar o funcionário menos qualificado, já que provavelmente é quem mais compromete os resultados. Em outras palavras, podemos dizer que estas discrepâncias representam desnivelamentos entre oferta e demanda de conhecimento e podem indicar falhas na gestão do conhecimento vigente na organização. Os desnivelamentos podem representar tanto a inexistência de conhecimento necessário para as atividades de uma área, o que mostra a necessidade de treinamento ou contratação de RH, como também podem representar a subutilização de conhecimento na organização e, neste caso, deve ser estudada a alocação de pessoal e/ou a distribuição de responsabilidades para buscar melhores arranjos que maximizem a utilização do potencial intelectual dos profissionais. Pode-se ainda, sobre o ponto de vista estratégico, determinar o desenvolvimento de competências por unidade organizacional, pessoas ou processos, de forma que uma meta da empresa seja alcançada. Por exemplo, caso os processos evoluam e requeiram novas competências, após o mapeamento destas necessidades, os "gaps" podem ser rapidamente avaliados e convertidos em treinamentos que antecipem a mudança nos processos, de forma a aumentar a velocidade e reduzir o risco de implementação dessas mudanças. 4 Algumas práticas utilizadas atualmente para a identificação da demanda de competências Ao observar e avaliar algumas das práticas empregadas para a identificação da demanda de competências nas organizações estudadas, não se pôde deixar de notar sua grande variedade e a nítida divisão no que será chamado de práticas de terceiro, segundo e primeiro mundos. As práticas de terceiro mundo se limitam a identificar a demanda de conhecimento através da demanda de serviço. Por exemplo, se numa obra o funcionário responsável por misturar o cimento se demitiu, a empresa trata de procura outro servente, que significa, qualquer um disposto a trabalhar duro por aquele salário ínfimo. Num escritório, se é necessário digitalizar uma série de documentos aloca-se um estagiário ou um assistente administrativo com baixo valor de homem-hora. Essas empresas não avaliam os conhecimentos e competências de seus funcionários, não é feito um mapeamento das competências disponíveis nem necessárias. Nas organizações com práticas ditas de segundo mundo já existe um certo esforço para se identificar a demanda de conhecimento e competência. Essa identificação normalmente é feita pelo gerente de cada setor a cada “impulso” da área de RH solicitando a especificação do treinamento para o próximo orçamento, porém não há sistemática no processo. Nas organizações de primeiro mundo, as práticas são semelhantes às do segundo. A diferença mais fundamental esta normalmente no fato de a alta administração traçar as metas para a empresa e, em função destas, definir um perfil genérico de competências para seus funcionários, como por exemplo, “foco no cliente”, “foco nos resultados”, “proatividade” etc.. Em uma multinacional pesquisada, a matriz envia às filiais as metas da organização periodicamente e as competências (liderança, trato com o cliente etc.) que a organização deve ter / incentivar. Essa metodologia de desdobramento por metas e perfis genéricos ajuda os gerentes a saber a necessidade de conhecimento de seus funcionários e responder mais rapidamente ao setor de RH. As empresas que já tem ações no sentido de identificar necessidades de conhecimento tendem a lidar com um viés, pois têm que apostar que o gerente saiba captar a demanda por conhecimento sem ter métodos ou ferramentas adequadas. Desta forma, segundo especialistas em RH entrevistados, eles normalmente não sabem como fazê-lo de forma eficaz e “chutam”, uns melhor outros pior. É interessante esse fato pois o gerente encarregado de identificar a necessidade de conhecimento para os funcionários do seu setor acaba não captando inclusive a sua própria insuficiência de competência para fazer o diagnóstico de treinamento. 5 Conclusão Neste trabalho procurou-se obter um instrumento de auxílio à gestão de competências, uma vez que até o momento as tomadas de decisão dos gerentes e da área de RH na elaboração de Planos de Treinamento e Capacitação têm sido, na maioria dos casos, um tanto quanto intuitivas e imprecisas. Como já foi apontado, existe uma dificuldade de se avaliar a necessidade de treinamento por pessoa ou por atividade através dos métodos convencionais. A proposta da metodologia de mapeamento de conhecimento por processos evita incorrer em gastos com treinamentos desnecessários, capacitando apenas os funcionários selecionados e com a carga de conhecimento adequada, tornando as ações de capacitação mais eficientes e efetivas. Portanto, o retorno sobre o investimento será melhor estimado e mais rápido. Nesta metodologia, o gerente goza ainda de uma discussão estruturada de processos no pano de fundo, onde o problema de identificação de necessidades de competências pode ser reduzido até o nível das tarefas mais elementares e mais fáceis de analisar sem perda de consistência sistêmica. É possível abordar, por exemplo, somente os gargalos ou somente as atividade de maior valor agregado etc.. Fazendo um benchmarking efetivo das melhores práticas de um determinado processo e mapeando as necessidades de conhecimento para a realização dessas práticas, pode-se planejar a eliminação das discrepâncias através de um Plano de Capacitação em consonância com o projeto de implantação do novo processo, permitindo à empresa alcançar patamares elevados de competitividade em seu mercado de forma consistente. Sendo assim, há fortes indícios de que as abordagens mais estruturadas para definição das ações de capacitação tendem a ganhar força no mundo empresarial, alçando o conhecimento definitivamente como um insumo fundamental à competitividade da firma. Neste contexto, a abordagem por processos como instrumento de gestão de RH, surge com grande potencial de geração de resultados, principalmente se estiver articulada com a estratégia da empresa, o uso adequado da tecnologia da informação e as técnicas de gestão de conhecimento. 6 Bibliografia CARSON, G., Production handbook. 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