Profissionais investem no bom
português
Por Adriana Fonseca | De São Paulo
Viviane Rodrigues, supervisora de recursos humanos na Klüber, decidiu melhorar o português
para orientar e avaliar os jovens que ingressavam na empresa
Gerente de relacionamento em um grande banco do país, Leonardo Tadeu
Biondo Silva começou, recentemente, um curso de português para brasileiros
na Fisk. Formado em economia e com um MBA concluído há dois anos, Silva
acha complicado comunicar as necessidades da sua área nos relatórios que
envia para outros departamentos da empresa. "Tenho dificuldade com a
escrita e em me fazer entender através de textos", explica o executivo de 25
anos.
Segundo Silva, para conseguir atender bem seus clientes, ele precisa
argumentar por escrito com as equipes de crédito do banco e nem sempre
consegue transmitir suas ideias claramente nos pareceres que apresenta.
O executivo já tinha percebido esse ponto fraco, mas o feedback de seu chefe
em uma avaliação interna foi o pontapé que faltava para ele correr atrás e
aprimorar suas habilidades com a língua portuguesa. "Cheguei a perder uma
promoção por não ter sido bem avaliado nas competências relacionadas à
comunicação", diz ele.
Silva não está sozinho. Ao perceber uma demanda dos profissionais
brasileiros por aperfeiçoamento na língua portuguesa, a rede de escolas Fisk
lançou, em 2010, um programa voltado para esse público. Hoje, dois anos
após o lançamento, os frequentadores do curso de português para brasileiros
já representam 5% dos 500 mil alunos da rede. "O intuito do programa é
atender quem tem competência técnica em sua área de atuação mas tem
dificuldade com a língua portuguesa", afirma Elvio Peralta, diretorsuperintendente da Fundação Fisk.
Peralta conta que, na época do lançamento, o curso não teve muita procura.
Mais conhecida pelo ensino da língua inglesa, a Fisk começou a divulgar o
programa de português entre as pessoas que faziam parte de seu círculo alunos, ex-alunos, moradores dos bairros onde há unidades instaladas e
público em geral. Não deu muito certo. "As pessoas não procuram esse tipo
de curso porque normalmente não sabem de suas limitações", diz o diretor.
Por isso, a rede mudou sua estratégia. Passou a divulgar o novo curso nos
departamentos de recursos humanos das empresas e a desenhar programas
customizados no modelo "in company".
Segundo Peralta, 70% dos alunos do curso de português vêm das empresas,
principalmente de departamentos financeiros e comerciais. A grande
maioria, de acordo com ele, tem nível gerencial. "São pessoas que estão no
início da carreira e começando a ascender profissionalmente", diz. Nessa fase
da vida, os jovens executivos passam a enfrentar situações em que precisam
mostrar suas habilidades com a oratória, seja em reuniões, apresentações ou
em textos de relatórios. É o momento em que os problemas aparecem.
As dificuldades mais comuns entre os alunos do curso de português, de
acordo com Peralta, são a oralidade, escrever sem erros de concordância,
falta de objetividade e clareza. Atualmente, existem 800 empresas
conveniadas com a Fisk, cujos funcionários podem usufruir do curso de
português.
Supervisora de recursos humanos na Klüber Lubrication Brasil, Viviane
Rodrigues percebeu que precisava se aperfeiçoar no português. Ela conta que
passou três anos de sua infância, quando estava no fim do ensino
fundamental, nos Estados Unidos e no Canadá, o que lhe rendeu um bom
domínio da língua inglesa, mas prejudicou a fluência em sua língua materna.
"Eu não me sentia segura ao ter que falar em reuniões e ao avaliar jovens
profissionais que ingressavam na empresa", diz ela.
Na área em que atua, Viviane acompanha o desenvolvimento dos estagiários
e coordena o "pool" de secretárias da empresa. "Muitas vezes preciso corrigir
erros de gramática que eles cometem e orientá-los para que melhorem nesse
aspecto. Como poderia fazer isso sem me sentir segura em relação ao
domínio do português?", diz ela.
Para resolver o problema, Viviane aproveitou o convênio que a empresa onde
trabalhava tinha com a Companhia de Idiomas e fez seis meses de aulas
individuais. A jornada incluía uma hora de aula, duas vezes por semana.
A assistente executiva Katia Cordeiro do Espírito Santo também se viu diante
do desafio de aprimorar suas competências linguísticas. Ela conta que
trabalhou em uma empresa de logística onde assessorava um dos diretores e,
nessa fase, adquiriu muitos vícios de linguagem. "Meu chefe não tinha tempo
e eu precisava passar as informações para ele muito rápido, usando até
abreviações ", conta Katia. A experiência profissional deu à assistente o
hábito de falar sempre com pressa e de usar o gerúndio em excesso.
No emprego seguinte, quando assessorava um executivo do ramo
imobiliário, os hábitos adquiridos no trabalho anterior atrapalharam um
pouco a dinâmica do escritório. Katia conta que precisava conversar com
clientes "top" e seu chefe lhe pediu que fizesse um curso de português para
"dar uma polida" no seu jeito de falar. Foram oito meses de aulas na
Companhia de Idiomas, duas horas por dia, de segunda à sexta-feira. Tudo
pago pelo chefe. No programa, Katia trabalhou oralidade, redação e
capacidade de concisão na escrita.
Rosângela de Fátima Souza, sócia-diretora da Companhia de Idiomas, diz
que o curso de português para brasileiros da escola é construído de acordo
com a necessidade do aluno. "Assim como em um idioma estrangeiro, temos
falantes da língua em diferentes níveis", justifica.
Para desenhar o curso, os professores da escola simulam situações de
trabalho com os alunos e até gravam, em vídeo, apresentações desses
profissionais. O programa é estruturado em cima disso e de alguns testes.
A maior parte dos alunos, segundo Rosângela, já está no mercado de
trabalho. São profissionais que vão desde o nível operacional- como os
garçons da rede Griletto, que fizeram um curso de português para refinar o
idioma falado- até diretores. Quase sempre a contratação do programa é feita
pela área de recursos humanos da empresa. "Os gestores de RH têm
percebido que a falta de uma comunicação oral e escrita adequada gera
ruídos em todas as áreas", diz.
Rosângela afirma que, entre os alunos que ocupam cargos de diretores e
gerentes, a dificuldade mais comum está na clareza da escrita, o que
influencia a compreensão de relatórios. Não cometer erros gramaticais e de
concordância em apresentações também é um desafio constante para esse
público, segundo ela.
Os cursos, segundo Rosângela, são dados em aulas individuais ou em
pequenos grupos- de no máximo cinco alunos. O tempo de estudo varia
muito porque depende das necessidades de cada profissional.
A Lotus Idiomas, rede de escolas com seis unidades em São Paulo, também
desenvolve o curso de português para brasileiros de forma customizada, de
acordo com as particularidades do aluno. Desde a reforma ortográfica da
língua portuguesa em 2009, a procura por programas de redação e gramática
na escola aumentaram, segundo Mari Fernandes, auxiliar de coordenação.
Ela diz que quase a totalidade dos alunos desse tipo de curso tem ensino
superior e está no mercado de trabalho. Os frequentadores mais assíduos são
advogados, engenheiros, médicos e jornalistas. "Esses profissionais precisam
ter um texto correto em e-mails e relatórios", diz Mari. Segundo ela, as aulas
normalmente são focadas nas temáticas do mundo corporativo e há,
inclusive, programas bem específicos, como o de redação jurídica.
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