O
TRABALHO
MULTIDISCIPLINAR
ENTRE
EDUCAÇÃO
PERMANENTE E COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO
HOSPITALAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Cristiane Damasceno de Oliveira1; Alice Lívio Soares Nunes2; Bernardo de França3.
INTRODUÇÃO: As infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS) representam um
grave problema de saúde no país, aumentando a morbi-mortalidade entre os pacientes, e
elevando os custos hospitalares. Dados apontam que a IRAS ocorrem, em média, entre 5 a
17% dos pacientes internados, e é responsável por um aumento médio de 15 dias no tempo de
internação, acarretando uma elevação nos custos assistenciais, em média de 3.000 a 40.000
dólares(1,2). Nos últimos anos, a incidência de infecção hospitalar associada a microrganismos
multirresistentes tem aumentado em todo o mundo. E, a disseminação desses microrganismos
é o que favorece o aumento de infecções e colonização entre os pacientes. Esta disseminação
ocorre como consequência de importantes fatores, tais como o uso excessivo e indiscriminado
de antibióticos e a baixa conformidade da equipe assistencial com as recomendações de
controle de infecção(2). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), dentro de
suas atribuições, desenvolve várias atividades preventivas com o objetivo de aperfeiçoar a
segurança dos pacientes e reduzir os riscos nos serviços de saúde, em todo o território
nacional. Atualmente, há uma série de evidências científicas, diretrizes clínicas e
regulamentações governamentais que fundamentam as ações para a prevenção e o controle da
IRAS que, mesmo não sendo suficientes para sua erradicação, podem contribuir para
reconhecer como e quando ela ocorre e, com isso, gerar ações na prática assistencial . Além
disso, existem evidências que destacam a utilização de programas educativos e a elaboração
de protocolos, construídos de forma multidisciplinar, como uma solução para a redução
dessas taxas(1,3). Com base nisso, o Setor de Educação Permanente (SEP) e a Comissão de
Controle de Infecção (CCIH) se uniram para criação de uma proposta de trabalho
multidisciplinar, que inclui ações educativas em todas as equipes do Hospital a fim de avaliar
o conhecimento e incorporar práticas para redução das taxas de IRAS. OBJETIVO:
Despertar a discussão sobre o impacto da ação conjunta entre o setor de Educação Permanente
e a Comissão de Controle de Infecções Hospitalares, visando o aumento da adesão às práticas
de controle de infecções relacionadas à assistência em saúde. DESCRIÇÃO
METODOLÓGICA: Trata-se de um estudo descritivo a cerca de um relato de experiência
no qual buscamos pontuar o impacto de um projeto de educação no trabalho, desenvolvido
pelo SEP e CCIH do Hospital do Amparo, caracterizado como um hospital de médio porte,
composto por 127 leitos distribuídos entre Unidades de Internação e Centro de Terapia
Intensiva, localizado no bairro Rio Comprido, Rio de Janeiro-RJ. Procurou-se fazer uma
articulação reflexiva entre os preceitos de educação permanente em saúde e no trabalho de
enfermagem com os conceitos de controle de infecções relacionadas à assistência em saúde.
Tal articulação apresenta uma concepção educativa em prol da conscientização e mudança de
comportamento dos trabalhadores dessa instituição, em busca da adesão às ações de
precaução e consequente melhoria na qualidade da assistência prestada. RESULTADOS: A
disseminação de microrganismos ocorre, geralmente, a partir da transmissão pelo contato das
(1) Relatora. Enfermeira. Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências dos Cuidados da Saúde –
EEAAC/UFF. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cidadania e Gerência na Enfermagem
(NECIGEN). Enfermeira da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Centro – Niterói-RJ. CEP
24020 006. E-mail: [email protected]
(2) Enfermeira. Coordenadora da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Integrante do Núcleo de
Pesquisa em Educação e Saúde em Enfermagem (NUPESENF) – UFRJ.
(3) Enfermeiro da CCIH do Hospital do Amparo. Aluno do Mestrado em Ciências da Saúde –
(IFF/FIOCRUZ) e MBA em Gestão em saúde e Controle de Infecção – (INESP).
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mãos dos profissionais com os pacientes e pelo contato direto do paciente com material ou
ambiente contaminado. O controle dessa disseminação requer a implementação das medidas
que envolvam a adoção de precaução padrão e as baseadas nas vias de transmissão: gotícula,
aerossóis e contato, além do uso racional de antimicrobiano. Contudo, as instituições
hospitalares e as equipes de saúde nelas inseridas, por vezes, valorizam demasiadamente o
arsenal tecnológico em detrimento de medidas simples que poderiam diminuir a disseminação
desses microrganismos. Por isso, é necessário difundir o conhecimento dos mecanismos de
transmissão e incentivar o comportamento positivo relacionado às diretrizes de isolamento e
precauções propostas pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) (2). Em
diversos estudos viu-se que a baixa adesão à Higienização das Mãos (HM) e a outras formas
de precaução não está diretamente associada ao conhecimento teórico, mas sim a
incorporação desse conhecimento à prática diária dos profissionais. Muitas vezes não sendo
incorporado a prática do profissional em função da falta de motivação, da não concepção do
risco de disseminação de microrganismos, do excesso de atividades/tarefas e da falta de
materiais e /ou deficiência da estrutura física da instituição(2). Por isso devem ser criadas
estratégias educativas que não visem apenas a transmissão de um conhecimento, mas a
mudança do comportamento em busca da melhoria da qualidade na assistência. Com base
nessa concepção de educação no trabalho, o Ministério da Saúde, através da Secretaria da
Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, instituiu a política de educação permanente em
saúde (EPS) em 2003, com a finalidade de melhorar os serviços de saúde oferecidos pela rede
de atenção à saúde no país (4). É importante que os trabalhadores das diferentes áreas da saúde
despertem para a reflexidade e a crítica. Por isso deve existir o serviço de educação
permanente em saúde, que os preparem para atuar efetivamente a partir dos princípios da
integralidade e da interdisciplinaridade e, por conseguinte, lhes proporcionar melhor
qualidade de trabalho e de ações em saúde. Embasados nessas concepções o SEP do Hospital
do Amparo se uniu com a CCIH para criação de um sistema de treinamento no qual são
abordados grupos de no máximo seis pessoas, em que coloca-se em discussão as IRAS,
realiza-se as práticas de precaução de contato e higienização das mãos, incentivando a crítica
e a reflexão sobre a prática do trabalho de cada um. Ainda torna-se imprescindível que esta
educação seja conduzida conforme a realidade da instituição, de acordo com as necessidades
sociais e ancorada nos preceitos da práxis transformadora(5). Na concepção marxista, os
sujeitos são produtos do seu próprio trabalho, porque este produz objetos e relações sociais
com um caráter que pode ser alienante em ambos os casos. Nesta perspectiva, a libertação dos
sujeitos ocorre quando o processo educativo, desenvolvido simultaneamente ao processo de
trabalho, esteja voltado à desalienação dos trabalhadores. Tal desalienação se efetiva a partir
da ação e da reflexão, por meio de uma práxis que permita aos mesmos serem sujeitos de suas
transformações, pois é transformando a si que se transforma a sociedade(5). Desse modo, em
todas as áreas da saúde, inclusive na enfermagem, o processo de educação permanente em
saúde transcende ao aperfeiçoamento técnico, ao possibilitar aos trabalhadores buscarem sua
autonomia, cidadania, bem como resgatar sua multidimensionalidade, a qual poderia
constituir-se como fundamento de desalienação. Logo, este processo educativo pode se
caracterizar como um cuidado dessa instituição com os seus trabalhadores, para garantir uma
qualificação na assistência prestada. CONCLUSÃO: Através dessa estratégia
(1) Relatora. Enfermeira. Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências dos Cuidados da Saúde –
EEAAC/UFF. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cidadania e Gerência na Enfermagem
(NECIGEN). Enfermeira da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Centro – Niterói-RJ. CEP
24020 006. E-mail: [email protected]
(2) Enfermeira. Coordenadora da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Integrante do Núcleo de
Pesquisa em Educação e Saúde em Enfermagem (NUPESENF) – UFRJ.
(3) Enfermeiro da CCIH do Hospital do Amparo. Aluno do Mestrado em Ciências da Saúde –
(IFF/FIOCRUZ) e MBA em Gestão em saúde e Controle de Infecção – (INESP).
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multidisciplinar entre o setor da Educação Permanente e a CCIH, é possível avaliar as
dificuldades técnicas ou estruturais encontradas pelos funcionários para realização das
atividades propostas. Isso permite a reavaliação contínua do processo de trabalho e sua
otimização, garantindo a capacitação dos funcionários e consequente melhoria no controle de
infecções. Dessa forma, entende-se a incorporação das técnicas de precauções e de
higienização das mãos como parte do programa de orientações para todos os funcionários
antes de iniciar suas atividades nas unidades, e que deve ser continuamente reforçada. Por isso
a parceria entre SEP e CCIH é de fundamental importância para garantir a adesão às medidas
adotadas para controle de IRAS, construção significativa de conhecimento e autonomia para
promover transformação da realidade institucional. CONTRIBUIÇÕES E IMPLICAÇÕES
PARA ENFERMAGEM: A Educação Permanente ancorada nos preceitos da práxis
transformadora cria estratégias educativas que não visam a transmissão de um conhecimento,
mas a mudança do comportamento dos funcionários, garantindo a melhoria da qualidade na
assistência e mais especificamente no controle de infecções.
REFERÊNCIAS:
(1)
Organização Mundial da Saúde. Guia Para Implementação : Um Guia para a
implantação da estratégia multimodal da OMS para a melhoria da higienização das
mãos a observadores: estratégia multimodal da OMS para a melhoria da higienização
das mãos. Tradução de Sátia Marine – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde;
Agência Nacional de VigilânciaSanitária, 2008.
(2)
OLIVEIRA AC, CARDOSO CS, MASCARENHAS D. Precauções de contato em Unidade
de Terapia Intensiva: fatores facilitadores e dificultadores para adesão dos profissionais. Rev.
esc. enferm. USP. 2010; 44(1).
(3)
JARDIM JM, LACERDA RA, SOARES NJD, NUNES BK. Avaliação das práticas de
prevenção e controle de infecção da corrente sanguínea em um hospital governamental. Rev.
esc. enferm. USP. 2013; 47(1).
(4)
SILVA LAA, FERRAZ F, LINO M, BACKES VMS; SCHMIDT SMS. Educação
permanente em saúde e no trabalho de enfermagem: perspectiva de uma práxis
transformadora. Rev. Gaúcha Enferm. (Online). 2010; 31(3). Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472010000300021
(5)
MONTANHA D, PEDUZZI M . Educação permanente em enfermagem: levantamento de
necessidades e resultados esperados segundo a concepção dos trabalhadores. Rev. esc.
enferm. USP. 2010; 44(3).
DESCRITORES: Educação Continuada; Infecção Hospitalar; Prática Profissional.
ÁREAS TEMÁTICAS: Políticas e práticas de Educação em Enfermagem
(1) Relatora. Enfermeira. Aluna do Mestrado Acadêmico em Ciências dos Cuidados da Saúde –
EEAAC/UFF. Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Cidadania e Gerência na Enfermagem
(NECIGEN). Enfermeira da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Centro – Niterói-RJ. CEP
24020 006. E-mail: [email protected]
(2) Enfermeira. Coordenadora da Educação Permanente do Hospital do Amparo. Integrante do Núcleo de
Pesquisa em Educação e Saúde em Enfermagem (NUPESENF) – UFRJ.
(3) Enfermeiro da CCIH do Hospital do Amparo. Aluno do Mestrado em Ciências da Saúde –
(IFF/FIOCRUZ) e MBA em Gestão em saúde e Controle de Infecção – (INESP).
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o trabalho multidisciplinar entre educação